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ARTIGO DE Dall´Agnol CM, Resta DG, Zanatta E, Schrank G, Maffacciolli R.

O trabalho com grupos co-


ATUALIZAÇÃO mo instância de aprendizagem em saúde. Revista Gaúcha de Enfermagem 2007;28(1):21-6. 21

O TRABALHO COM GRUPOS COMO INSTÂNCIA DE


APRENDIZAGEM EM SAÚDEa

Clarice Maria DALL’AGNOLb


Darielli Gindri RESTAc
Elisangela ZANATTAc
Guisela SCHRANKc
Rosana MAFFACCIOLLIc

RESUMO

Este artigo nos remete a pensar sobre práticas de grupo como tática para promover o aprendizado no âm-
bito da educação em saúde, além de traçar algumas reflexões acerca do conceito de grupo e suas implicações na
aprendizagem. A discussão recai sobre um tipo de assistência no sentido de desenvolver estratégias de educação
em saúde, gerando a participação, trocas de experiências e promovendo mudanças positivas no cotidiano viven-
cial das pessoas envolvidas. Sendo assim, os grupos representam uma alternativa assistencial que necessita ser
agregada ao cotidiano profissional, buscando romper com perspectivas unidimensionais de atenção à saúde.

Descritores: Prática de grupo. Educação em saúde. Aprendizagem.

RESUMEN

Este artículo nos lleva a pensar sobre prácticas de grupo como tácticas para promover el aprendizaje
en el ámbito de la educación en salud. Se plantean algunas reflexiones acerca del concepto de grupo y sus
implicaciones en el aprendizaje. La discusión recae sobre un tipo de asistencia en el sentido de desarrollar
estrategias de educación en salud, generando la participación, los intercambios de experiencias y la promo-
ción de cambios positivos en el día a día de la vivencia de los participantes. De este modo, los grupos represen-
tan una alternativa asistencial que necesita añadirse a la práctica cotidiana profesional buscando romper con
perspectivas unidimensionales de atención a la salud.

Descriptores: Práctica de grupo. Educación en salud. Aprendizaje.


Título: El trabajo con grupos como instancia de aprendizaje en el ámbito de la salud.

ABSTRACT

This article discusses group practice as a tactic to promote learning in health education, and the concept
of group and its implications on learning. What type of care is needed to develop health education strategies
that will generate participation, exchange of experiences, and promote positive changes in the daily life of those
involved. It is proposed that groups are a care alternative that needs to be included in the professional daily
life, aiming at changing one-dimensional views of health care.

Descriptors: Group practice. Health education. Learning.


Title: Group work to promote learning in health.

a
Desenvolvido na disciplina “Grupo Operativo: dinâmica e fundamentos teóricos” do Programa de Pós-Graduação em Enfermagem da
Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS).
b
Enfermeira. Doutora em Enfermagem. Professora Adjunta da Escola de Enfermagem da UFRGS.
c
Enfermeira. Mestranda do Programa de Pós-Graduação em Enfermagem da UFRGS.

Dall´Agnol CM, Resta DG, Zanatta E, Schrank G, Maffacciolli R. Dall´Agnol CM, Resta DG, Zanatta E, Schrank G, Maffacciolli R.
El trabajo con grupos como instancia de aprendizaje en el ámbito Group work to promote learning in health [abstract]. Revista Gaúcha
de la salud [resumen]. Revista Gaúcha de Enfermagem 2007;28(1):21. de Enfermagem 2007;28(1):21.
Dall´Agnol CM, Resta DG, Zanatta E, Schrank G, Maffacciolli R. O trabalho com grupos co-
22 mo instância de aprendizagem em saúde. Revista Gaúcha de Enfermagem 2007;28(1):21-6.

1 INTRODUÇÃO valorização e identificação, já que muitas pessoas


buscam por meio das discussões e experiências
A motivação em realizar essa reflexão re- coletivas um amparo para seus problemas de saú-
cai sobre um pressuposto: práticas de grupo cons- de. Além disso, pode favorecer a escuta e, na me-
tituem táticas para promover o aprendizado no dida em que se dispõe de vários olhares acer-
âmbito da educação e da saúde. Constata-se que ca de uma mesma problemática, a capacidade re-
ações de saúde dirigidas a coletivos de pacien- solutiva mutuamente se reforça(4).
tes, nomeados de grupos, acontecem em muitos Quanto mais se estuda a realidade de vida
serviços de saúde, apesar de compreender um ce- da população, mais se conclui que o saber popular
nário pouco explorado em termos de análise cien- deve ser valorizado, conquanto expressa as estra-
tífica. tégias de sobrevivência das pessoas, fazendo emer-
Trata-se de ações que promovem o desen- gir diversidades sobre as quais se pode melhor
volvimento das pessoas, potencializando conheci- conduzir o processo terapêutico. Nas reflexões
mentos que as possibilitam cuidar de sua saúde de aqui apresentadas, considera-se a potencialidade
forma contextualizada com as necessidades que de estar face-a-face com o(s) outro(s), ainda mais
enfrentam. O que se defende é uma práxis pautada quando emanada em situações de interlocução
no diálogo coletivo e na troca de saberes, cientes grupal.
de que a opção por este caminho é, hoje, um desa- Dessa forma, o convívio que se estabelece
fio no cotidiano dos profissionais, em saúde(1). Po- entre usuários e os profissionais dos serviços de
rém, essa investida é compensadora, pois quan- saúde é uma oportunidade ímpar de implementar
to mais se busca intercambiar os saberes científi- práticas de cuidado que se aproximem da realida-
co e popular, mais se aproxima da (re)construção de das pessoas, visando a implementação de uma
de práticas que contribuem para superar mode- assistência mais humanizada. Atividades grupais
los individualistas e fragmentados de assistência. encontrariam ressonância para a operacionaliza-
Tal direcionamento converge para uma visão ção de tais práticas ao proporcionar uma ambiên-
mais holística do ser humano, na medida em que cia de mútuo aprendizado e crescimento para os
privilegia a interface entre o conhecimento cien- integrantes(5).
tífico e o senso comum, levando em conta valo- Em termos de política e gestão, no contex-
res, interesses e entendimentos próprios de cada to brasileiro, a educação em saúde vem sendo
indivíduo(2). bastante divulgada como uma alternativa para
No cotidiano dos serviços de saúde, as equi- promovê-la, sensibilizando os indivíduos para o
pes planejam e implementam as atividades de gru- autocuidado e, principalmente, para a busca da
po de acordo com as diferentes modalidades e te- autonomia; decidindo, assim, curso de suas vidas.
máticas de intervenção terapêutica definida pa- Mais precisamente, após os movimentos da nova
ra a população a ser atingida. Constituía-se a diver- saúde pública e da promoção da saúde, nas dé-
sidade de abordagens para grupos dirigidos, por cadas de 70 a 80, é que surgiram discursos pauta-
exemplo, a mulheres, idosos, cuidadores (de crian- dos na necessidade de englobar mutuamente pro-
ças, de pessoas acamadas), grupo de hipertensos fissionais, ambientes, e usuários dos serviços de
e diabéticos, entre outros. Assim, opta-se por de- saúde com vistas a redirecionar as práticas as-
nominar atividades de grupo, por entender que sistenciais(6). Faz-se emergente, então, estabele-
abrangem a totalidade de abordagens realizadas cer debates acerca de como implementar, eficaz-
com esse direcionamento e, também, por se tra- mente, a educação em saúde, no sentido de mul-
tar de uma tipologia entre as demais atividades tidimensionar a assistência através de práticas di-
assistenciais nos serviços. As mobilizações, nesta ferenciadas e que realmente estejam em conso-
perspectiva, convergem para o desenvolvimento nância com os preceitos estabelecidos pelas polí-
da sensibilidade, experiência e crescimento pes- ticas públicas de saúde adotadas no país.
soal, assim como para o encontro de pessoas que Mobilizadas nessa conjetura, propomos uma
vivenciam situações semelhantes e que objetivam discussão acerca de como as práticas de grupo
ampliar seus horizontes de aprendizagem(3). A vi- contribuem para promover o aprendizado no âm-
vência em grupo possibilita o senso de inclusão, bito da educação em saúde, desencadeando al-
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gumas reflexões a respeito do conceito de gru- indivíduos por sua própria saúde. Além disso, a
po e suas implicações para a aprendizagem. E, valorização desta prática é pontuada, na área da
a partir de algumas considerações sobre edu- saúde, pela grande procura das pessoas que
cação em saúde, será relatada a experiência de objetivam reunirem-se e participar de discussões
uma das autoras no trabalho com grupos, que elu- em prol de um objetivo comum.
cida como a educação em saúde pode se apro- Dessa forma, os grupos representam uma
ximar dos seus ideais, quando trabalhada sob a opção no modo de assistir em saúde, no sentido
óptica grupal. Tal descrição imprime nesse arti- de redefinir os papéis dos sujeitos envolvidos no
go o caráter de relato de experiência onde se con- cuidado, deixando de considerá-los somente co-
sidera que essa tendência ressignifica o que já mo agentes passivos desse processo. Aliás, faz-
sabemos e julgamos como o óbvio. Pensa-se, por- se mister reagir a modelos em que subjaz a pre-
tanto, que a sistematização de uma experiên- missa da passividade, devendo-se incluir na pau-
cia pode resultar em uma contribuição válida(7). ta das discussões questionamentos acerca das
A educação em saúde é uma estratégia com pretensas efetividades e resolutividade, anuncia-
amplo potencial de incluir os indivíduos como co- das por modelos de assistência que desconside-
adjuvantes do processo de cuidar em saúde para ram os indivíduos como seres únicos, com suas
tomar decisão sobre os aspectos que melhorem sua idéias, culturas; enfim, com seus julgamentos do
qualidade de vida. A aprendizagem é visualizada que lhes parece ser bom ou ruim para a própria
como inerente ao processo e necessária para que saúde.
esses indivíduos possam apreender as possibilida- As dinâmicas de grupo não se configuram em
des de escolha coerentes com seu contexto. Abor- atividades inéditas nos serviços de saúde. Con-
dagens grupais representariam a oportunidade de tudo, de acordo com as experiências das auto-
discutir assuntos de interesse da coletividade em ras, pode-se inferir que coexistem duas tendên-
grupo, consolidando discussões e reflexões que cias de considerar essas atividades por parte dos
poderiam repercutir positivamente nas condições profissionais: uma, que direciona atendimentos in-
de vida dos participantes, no momento em que dividualizados em forma de agrupamento, na me-
todos assumem papéis importantes para o cres- dida em que se reúnem pessoas para facilitar e
cimento e desenvolvimento grupal. concentrar algumas orientações individuais e, ou-
tra, que não apenas soma individualidades, mas
2 OS GRUPOS E AS IMPLICAÇÕES NA que se reporta a uma referência grupal singular,
APRENDIZAGEM de individualidades compartilhadas(4), na busca
por melhores estratégias de cuidado. É com base
O ser humano participa de vários grupos em nesta última perspectiva que se concebe o grupo
virtude das situações próprias do desenvolvimen- como um potente instrumento para exercer edu-
to humano como na infância, na adolescência, na cação em saúde e promover a aprendizagem par-
idade adulta entre outras diferentes etapas da vi- ticipativa.
da. A convivência constante com outras pessoas, Ter consciência desse potencial, no entan-
nas distintas circunstâncias da vida, proporciona to, exige que os profissionais da área da saúde
a busca por uma identidade grupal, social e o es- estejam preparados para lidar com situações inu-
tabelecimento da própria identidade individual. sitadas, reconhecendo que, em grupo, depara-se
Os seres humanos participam de vários grupos com redes de afetos, de valores e crenças que se
durante sua existência e, ao longo dessas experi- cruzam constantemente em múltiplas combina-
ências, incorporam aprendizados importantes que ções. A comunicação com o(s) outro(s) gera uma
contribuem para o delineamento da personalida- dinâmica que é perpassada pela descoberta de
de, influenciando escolhas e o aprimoramento pes- afinidades, mas também por receios, terreno fér-
soal(8). til para a expressão dos mais diversos mecanis-
A alternativa de trabalhar com estratégias mos de defesa. A dinâmica vai depender da na-
de educação em saúde, vinculadas a dinâmicas tureza da tarefa e fundamentalmente da compo-
grupais, prevê um cenário com promissoras con- sição dos sujeitos, mediante experiências diver-
quistas para o cuidado e a responsabilização dos sas. Por isso a bagagem de cada pessoa contri-
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bui para a configuração de um grupo e não de ou- dem construir propostas resolutivas do ponto de
tro. Esta condição, a priori, caracteriza um grupo vista da multidimensionalidade das situações de
como peculiar, único e irrepetível(9). vida.
A literatura acerca das dinâmicas de grupo
e processo grupal nos remete a resgatar a obra 3 GRUPOS: uma estratégia para implementar
de Pichón-Rivière, eminente psicanalista argen- práticas em que se valoriza a diversidade
tino, precursor do método de grupos operati-
vos. Esse estudioso estabelece uma diferencia- No momento em que, no campo da saúde,
ção importante entre grupo e agrupamento de pes- despontam novas concepções e perspectivas que
soas. Para que o grupo se constitua como tal, faz- reconhecem o ser humano na sua plena cidada-
se necessário que os participantes estejam movi- nia, sendo compreendido a partir de sua integra-
dos por interesses comuns e se reúnam em tor- lidade e singularidade, faz-se necessário superar
no de uma tarefa específica, numa constância de as abordagens convencionais de assistência de
tempo e espaço. No cumprimento e desenvolvi- saúde. A proposição é conceber esta última como
mento dessas tarefas – negociadas – deixam de ser um ato educativo, consciente e emancipatório que
um agrupamento de indivíduos para, cada um, as- envolve usuário/profissional em uma relação de
sumir sua parcela de compromisso enquanto par- compromisso com a transformação sua e do ou-
ticipante de um grupo que se mobiliza em busca de tro, bem como do contexto onde vivem, trabalham
um objetivo comum(10). Neste prisma, evidencia-se e se relacionam(13).
uma das modalidades de grupo operativo, que é Os grupos representam uma concepção as-
o de ensino-aprendizagem, o qual tem por pres- sistencial diferenciada. Ao trabalhar diante des-
suposto básico “aprender a aprender”(8:76). sa perspectiva, como uma estratégia para fazer
Aprender em grupo significa que, na ação educação em saúde, precisamos estar conscien-
educativa, não estamos preocupados apenas com tes de que os mesmos se efetivam em ambientes
o produto da aprendizagem; mas, também, com de troca onde os componentes devem ser partici-
o processo que possibilitou a mudança dos parti- pantes ativos nas várias etapas do processo. É
cipantes. É uma ação que contribui na prepara- preciso rever esses aspectos e prevenir a pas-
ção do sujeito para a vida, rejeitando a simples sividade do educando, evitando que se torne um
transmissão de “conversas de saber”(11:29). Apren- depositário do educador. O educando, nessa con-
dizagem, nessa perspectiva, é a capacidade de cepção, não interage, não socializa suas experiên-
compreensão e de ação transformadora de uma cias e conhecimentos em favor do desenvolvimen-
realidade(11). to grupal. Contrariamente a enfoques tradicionais,
A aprendizagem no grupo se dá por meio um processo educativo genuíno consiste na edu-
do processo interativo e da comunicação que se cação problematizadora, na medida em que bus-
estabelece entre os participantes, portanto, em ca o desenvolvimento da consciência crítica dos
razão da troca e interação de saberes e experi- indivíduos(14).
ências fundamentadas na estrutura cultural de Para melhor elucidar essas idéias e reforçar
cada membro do grupo. Alicerçar a assistência a concepção do grupo como uma estratégia pro-
nas práticas de ensino-aprendizagem, proporcio- pulsora da aprendizagem na educação em saú-
nadas pelos grupos, é aproveitar esse potencial de, evoca-se uma situação com grupos de hiper-
em prol da melhoria de qualidade de vida. O tra- tensos em uma unidade do Programa de Saúde
balho em saúde, privilegiando o enfoque grupal, da Família (PSF), vivenciada por uma das auto-
mostra-se congruente com as implementações que ras no trabalho.
se precisam conquistar. O contato com essa te- Em uma certa ocasião, constatava-se que
mática, por parte dos profissionais em saúde, pos- a equipe responsável pela coordenação do gru-
sibilita sair da rotina e do conhecido para pro- po detinha a autoridade e costumava decidir so-
curar novas formas de interpretação e interven- bre tudo: a temática, a forma de abordagem, dia
ção da realidade(12). É preciso ter em mente que, e horário dos encontros, sempre se dirigindo aos
em tal processo, alguns aspectos extrapolam a componentes de forma a ditar regras e realizan-
dimensão biológica e, dessa forma, é que se po- do uma transmissão vertical de conhecimentos.
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Ao longo dos encontros, verificava-se que ha- mento de saberes. Pode-se dizer que, a partir de
via pouca adesão dos participantes e que os mes- então, a educação bancária cedeu lugar a um pro-
mos buscavam o grupo como uma maneira de cesso de co-gestão de coletivos(15), em prol do cui-
ter acesso a medicamentos, não havendo, assim, dado humanizado. No caso relatado, viu-se que as
um envolvimento salutar com a experiência. melhores decisões, pelo menos as mais acerta-
Após um longo período de encontros frus- das, emergiram da roda de discussão em que os
trados, a equipe percebeu que o jeito que vinha atores estavam diretamente envolvidos.
conduzindo e implementando educação em saú- Assim, pode-se remeter a outro aspecto im-
de não era adequada, os objetivos não estavam portante da experiência no trabalho com gru-
sendo atingidos e, portanto, o grupo teve de ser pos, quando foi constatado que as pessoas que
reestruturado. A partir daquele momento, marca- se envolvem são indivíduos que se estruturam,
do pelo desconforto, adotou-se uma outra dinâ- em sua maioria, a partir da realidade local de vi-
mica, estimulando os integrantes a se tornarem da. Tal aspecto é importante para planejar as es-
participantes ativos em todas as etapas, desde a tratégias assistenciais, a fim de que correspon-
escolha das temáticas até a efetivação dos obje- dam às necessidades relacionadas à saúde da co-
tivos propostos. Alguns dos participantes até bus- munidade que, em geral, convive com as mesmas
cavam informações para complementar as ativi- condições de vida. Dessa forma, haveria um maior
dades e faziam contribuições de acordo com suas engajamento das pessoas na medida em que criam
experiências. parcerias entre as instituições e a comunidade na
Além disso, em conjunto, o grupo discutia construção de ações implicadas com a aprendiza-
como ajudar aqueles que não conseguiam aderir gem e o crescimento grupal.
ao tratamento (dietas, caminhadas). Houve uma
redistribuição de papéis e cada componente, en- 4 CONSIDERAÇÕES FINAIS
tão, passou a ter responsabilidades específicas,
não só nos momentos de encontro do grupo, mas Partimos da convicção de que a estrutura
também fora dele. Um bom exemplo disso foi grupal possa ser um instrumento de facilitação do
quando o grupo decidiu que se reuniria três ve- processo de ensino e aprendizagem entre profis-
zes por semana, em dias e horários combinados, sionais de saúde e indivíduos, capaz de desembo-
para realizar, e um local pré-determinado, cami- car em importantes estratégias para desencadear
nhadas, sendo que todos os participantes com- uma educação em saúde que privilegia a contex-
prometiam-se em convidar as pessoas que ain- tualização e a co-participação dos envolvidos. Uma
da não haviam se engajado em tais atividades. visão que considere os determinantes das condi-
Daquele momento em diante, mudanças co- ções de vida, saúde e doença: condições de alimen-
meçaram a ser percebidas e estavam diretamen- tação, habitação, educação, renda, meio-ambiente,
te relacionadas à nova forma de condução dos trabalho, transporte, emprego, lazer, liberdade e
trabalhos no grupo, principalmente em razão das acesso a serviços de saúde e uma visão de educa-
tomadas de decisões compartilhadas. Os integran- ção que considere esse processo em um sistema
tes passaram a sentir-se valorizados e, conseqüen- igualitário, onde o aprendiz contribui para que o
temente, motivados ao decidirem por temáticas e educador se conheça e reconheça nos outros a
atividades que fossem ao encontro das suas reais capacidade de autogestão, tanto individual quan-
necessidades. Com a reestruturação da dinâmica, to coletiva.
o grupo tornou-se mais atrativo e, por conseguin- A possibilidade de construir perspectivas de
te, mais resolutivo. mudanças, que possam ser promissoras, no sen-
O objetivo, nessa experiência, foi criar es- tido do aprendizado para a vida das pessoas en-
tratégias grupais para a melhoria da qualidade de volvidas no processo grupal é uma fonte gerado-
vida dos participantes, deixando de enfocar somen- ra da participação nestes momentos de trocas e
te a atenção curativa. Ao reconduzir o poder da discussão. Num grupo, o aprendizado vai ser sem-
equipe de coordenação, a mesma adotou uma ou- pre o pilar por onde circulam muitos saberes que
tra postura, tendo melhorado a comunicação, es- podem representar, individualmente, conhecimen-
timulando a troca, a negociação e o compartilha- tos adequados ou nem tanto, mas que giram em
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26 mo instância de aprendizagem em saúde. Revista Gaúcha de Enfermagem 2007;28(1):21-6.

torno do assunto que levou a inserção neste pro- 6 Organização Pan-Americana da Saúde. Declara-
cesso. Assim, os aprendizados podem ser terapêu- ção de Jacarta [página na Internet]. Brasília (DF);
ticos e também simbolizar aprimoramento para a 2004 [citado 2007 mar 9]. Disponível em: http://www.
vida, como o exercício do respeito e da valoriza- opas.org.br/coletiva/uploadArq/Jacarta.pdf.
ção de cada um.
7 Tobar F, Yalour MR. Como fazer teses em saúde
Enfim, pode-se salientar que promover saú-
pública: conselhos e idéias para formular projetos e
de por meio de ações educativas é, de fato, um de- redigir teses e informes de pesquisa. Rio de Janeiro:
safio que vem se materializando por meio das Fiocruz; 2001.
práticas de grupo. São estratégias que precisam
ser incorporadas ao cotidiano profissional com 8 Zimerman DE, Osório LC. Como trabalhamos com
mais seriedade na medida em que representa um grupos. Porto Alegre: Artmed; 1997.
revés aos modelos unidimensionais de atenção à
saúde pautados na excessiva medicalização e que 9 Dall’Agnol CM, Martini AC. Reuniões de trabalho:
vem, consubstancialmente, demonstrando a falta de mais do que uma ferramenta administrativa, um pro-
cesso educativo. Texto & Contexto: Enfermagem 2003;
resolutividade para com os danos à saúde.
12(12):89-96.
REFERÊNCIAS 10 Pichon-Rivière E. O processo grupal. 6ª ed. São
Paulo: Martins Fontes; 1998.
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saúde. 3ª ed. ampl. São Paulo: Hucitec; 1997. 11 Gayotto MLC. Liderança: aprenda a mudar em gru-
po. 2ª ed. Petrópolis: Vozes; 1997.
2 Vasconcelos EM. Educação popular em saúde e o
SUS: encantos, desencantos e resistência. In: Anais 12 Munari DM, Fernandes CNS. Coordenar grupos:
do I° Encontro Catarinense de Educação Popular e reflexão à luz das Diretrizes Curriculares Nacionais
Saúde; 1997 nov; Florianópolis, Brasil. Florianópo- do Curso de Graduação em Enfermagem. Revista
lis: Nepeps/Mover; 1998. p. 14-49. Gaúcha de Enfermagem 2004;25(1):26-32.

3 Munari DB, Rodrigues ARF. Enfermagem e grupos. 13 Colomé CM, Landerdahl MC, Olivo VF. Diretrizes
Goiânia: AB; 1997. pedagógicas na formação em saúde: buscando uma
relação educador/educando de cunho transforma-
4 Dall’Agnol CM, Ciampone MHT. Grupos focais como dor. Texto & Contexto: Enfermagem 1999;8(1):166-
estratégia metodológica em pesquisas na enfermagem. 73.
Revista Gaúcha de Enfermagem 1999;20(1):5-25.
14 Freire P. Pedagogia do oprimido. 17ª ed. Rio de Ja-
5 Silva DGV, Francioni FF, Natividade MSL, Azave- neiro: Paz e Terra; 1987.
do M, Sandoval RCB, Di’Lourenzo VM. Grupos como
possibilidade para desenvolver educação em saúde. 15 Campos GWS. Saúde paidéia. São Paulo: Hucitec;
Texto & Contexto: Enfermagem 2003;12(12):97-103. 2003.

Endereço da autora/Author´s address: Recebido em: 17/03/2006


Clarice Maria Dall´Agnol Aprovado em: 18/10/2006
Rua São Manoel, 963
96.620-110, Porto Alegre, RS.
E-mail: clarice@adufrgs.ufrgs.br

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