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Felipe Terra Bastos

Introdução ao Teste Ponta a Ponta

Resumo:
Este documento tem como objetivo apresentar os procedimentos para realizar
o teste ponta a ponta (end to end testing) através de uma mala de teste
OMICRON com sincronização via GPS. Duas opções de teste serão
demonstradas aqui; uma através do state sequencer e outra através do
Advanced TransPlay.

Introdução:
Sistemas de proteção de alta e extra alta tensão são de extrema importância o
correto funcionamento do sistema elétrico. Para se obter uma maior
confiabilidade dos sistemas de transmissão são utilizados diversos esquemas
como: dois conjuntos de proteção atuando independentemente, teleproteção e
controles diversos. Para validar o correto funcionamento e interação entre os
diversos sistemas que atuam na transmissão é necessário realizar o teste
ponta a ponta. A principal função do teste e verificar se as proteções de
distância e teleproteção estão trabalhando de maneira coordenada e precisa.

Objetivo:
O objetivo do presente é introduzir de maneira clara e sucinta os
procedimentos para realização do teste ponto a ponto. Estes procedimentos
serão divididos em:

- montagem do arranjo para o teste


- sincronização com o GPS
- teste via arquivo contrade
- teste via state sequencer

Equipamentos:
Os materiais necessários para realização dos testes foram os seguintes:

- Antena CMOMICRON
- RDP ou IED com função de ocilografia.
- Mala OMICRON
GPS:

GPS é um instrumento geralmente utilizado para localização de posição, porém


por causa da alta precisão dos relógios dos satélites pode ser utilizado para
sincronização de tempo entre dois pontos.

Teste Ponta a Ponta


Em suma o teste ponta a ponta e realizado através de um trigger externo
provindo do GPS. Para se realizar de maneira adequada o teste, é necessário
o conhecimento dos ajustes das unidades de proteção que são obtidos através
dos estudos de proteção.

Figura 1 – Esquemático do teste ponta a ponta

O teste ponta a ponta e um teste fundamental para verificar:

- A coordenação entre os relés de distancia dos extremos da linha.


- O alcance das proteções de distancia Zona 1, 2, 3, 4.
- Verificar se os esquemas de teleproteção estão operando adequadamente.
- Se os pontos de proteção estão sendo enviados para o supervisório de
maneira correta e sincronizada.
- Esquemas de religamento.
Para realização do teste ponta a ponta é necessário dois GPS e duas malas
OMICRONS com licença advanced; Um GPS e uma mala para cada ponta. Em
alguns, casos não é necessário dois engenheiros para realizar este teste. O
teste pode ser comandado através de um computador mestre e um remoto na
outra subestação.

O teste e composto pela seguinte ordem cronológica: Pré-falta, Falta e pós


falta. Na condição de pré-falta considera-se que o sistema em condições
operativas normais, podendo ser adotado os valores nominais do sistema. O
estado de falta e quando o sistema sofre alguma perturbação capaz de
sensibilizar as funções de proteção. O estado pós falta e quando as unidades
de proteção já atuaram e os disjuntores dos extremos da linha foram abertos e
a falta foi isolada.

Para validação das funções de distancia e sinais de teleproteção, devem ser


aplicadas faltas em todas as zonas de proteção. Deve-se observar no
supervisório se os pontos estão subindo de maneira adequada e com
temporização correta. Uma prática conveniente é a de alternar a aplicação da
falta entre os extremos da linha.

Existem dois métodos para realização deste teste:

- O método mais simples e através do state sequencer


- O método mais complexo porém com mais opções de simulação e através de
um arquivo comtrade.

State Sequencer
Neste método será utilizada a função State Sequencer do programa Universal
Test.

Figura 2 – State Sequencer


O primeiro passo e configurar o GPS. Click no símbolo da antena GPS
configuration.

Figura 3 - CMGPS

O GPS buscará um satélite para sincronização. A sincronização pode levar


algum tempo. Quando no campo “Estado do CMGPS” aparecer a mensagem
bloqueado (bloqued) significa que o GPS está sincronizado.

Quando o GPS não encontrar nenhum satélite significa que o sinal recebido
pela antena está sendo muito atenuado. Para realizar a sincronização, busque
um local descoberto.

O campo “Dados do pulso” é onde são ajustados a hora e data do pulso e


intervalo entre os pulsos (Pulse Time e Pulse Date). Não é recomendado a
utilização de intervalos inferiores à um minuto, pois o período para os demais
ajustes pode ser demasiadamente curto.

O GPS segue como referência de horário o meridiano de Greenwich. O fuso


horário seguido na maior parte do território brasileiro é – 3 horas (Brasília).

Após serem inseridos o Pulse Time e Pulse Date deve-se voltar a tela inicial do
State Sequencer. 3 estados devem ser adicionados.
Figura 4 – State sequencer configurado

Depois de adicionar os estados click no estado de pré-falta e depois em “vista


em detalhes”.

Figura 5 – Trigger 1

Marque a opção trigger externo.

Volte na tela inicial do State Sequencer e click em iniciar/continuar teste


(resume).

Quando o tempo de pulso ajustado na configuração do GPS for atingido um


disparo será realizado.
Neste momento deve-se conferir se os pontos subiram adequadamente no
supervisório.

O procedimento deve ser seguido até que todas as zonas sejam validadas.

Simulação através do Advanced TransPlay

A simulação através do advanced transplay é muito mais flexível e precisa. As


grandezas analógicas aplicadas no relé podem ser obtidas mediante a software
de simulação de transitórios eletromecânicos ou via um registro de
perturbação.

Para simulação dos transitórios eletromecânicos são utilizados programas


como: EMTP, ATP, PSCAD. Através desses programas e possível simular
diversas perturbações. As simulações geram um arquivo no formato
COMTRADE contendo as respostas dinâmicas de corrente e tensão nas fases
para cada pertubação.

Para iniciar a modelagem via ATP deve se obter os dados das barras vizinhas
a LT de interesse (mais de 2 barras a montante). As demais barras devem ser
equivalentadas, via equivalente de Tevenhin, por exemplo. Para se fazer o
equivalente é necessário conhecer os dados do modelo (transformadores,
linhas, geradores, cargas e etc), as potencias de curto-circuito, tempos de
simulação, passo da simulação e tempo total de simulação.

Com os dados completos simula-se 3 casos: pré-falta, falta e pós falta. As


faltas são divididas em grupos. O grupo 1 e composto por faltas internas a linha
(10%, 50% e 90% do comprimento total da LT), com a variação do ângulo das
faltas e tendo a carga pesada como referencia. O grupo 2 e composta pelas
faltas externas a linha e tem como objetivo verificar se os sistemas de proteção
estão devidamente parametrizados. O grupo 3 é composto pelas faltas de alta
resistência e seu objetivo principal e avaliar os esquemas de religamento.

Uma outra forma de obter um arquivo COMTRADE é através de um registro de


perturbações, no qual são armazenadas faltas reais. O registro pode ser obtido
via registradores das próprias unidades de proteção (que possuem essa
função) ou via RDP (registrador de perturbações). Em alguns projetos e comum
utilizar os dois registradores para se aumentar a confiabilidade.
Abaixo um exemplo de um arquivo CONTRADE:

Figura 6 – Exemplo de arquivo de ocilografia

Com as simulações em mãos e possível emular as ocilografias através do


ADVANCED TRANSPLAY utilizando um único RDP a fim de validar o
sincronismo.

Procedimento para Emular o arquivo COMTRADE

Abra o programa TEST-UNIVERSE e entre no aplicativo ADVANCED


TRANSPLAY.

Figura 7 – Advanced Transplay


De maneira idêntica a simulação via STATE SEQUENCER configure o GPS e
selecione a opção de trigger externo.

Figura 8 – Trigger 2

Abra o arquivo COMTRADE.

Click em Iniciar/ Continuar Teste.

O arquivo COMTRADE será então emulado.

Conclusão
É de fundamental importância verificar a interoperabilidade dos sistemas de
proteção e controle. Um teste fundamental neste processo e o teste ponta –
ponta, que se mostra capaz de testar as funções de distância, teleproteção e
seu sincronismo. Dois métodos foram apresentados sendo que o mais
completo é via ADVANCED TRANSPLAY. O arquivo COMTRADE necessário
pode ser obtido via falta real ou via software de simulação de transitórios
eletromecânicos

Bibliografia
[1] - Companhia Energética de Minas Gerais – CEMIG, “Testes em Sistemas
de Proteção de Linhas de Transmissão Dotadas de
Esquemas de Teleproteção, Utilizando Testadores Digitais Sincronizados
por Satélite”, VII Seminário Técnico de Proteção e Controle, Rio de Janeiro –
RJ,
Junho de 2003.
[2] - Peter Meinhardt, OMICRON electronics GmbH, “Improved Possibilities for
Testing of Line Differential Protection”, International Protection Testing
Symposium.

[3] - M. Kezunovic, B. Perunicic, “Automated Transmission Line Fault Analysis


Using Synchronized Samples at Two Ends”, IEEE Transaction on Power
System, Vol. 11, No. 1, February 1996

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