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Análise do filme : Bem me quer, mal me quer - Psicopatologia II

Dupla: Julie Anne de Sousa e Deysa da Cruz Sales

Psicologia/manhã - Professora Andrea

Podemos observar no filme proposto que o delírio paranoico da personagem


Angélique é o delírio da erotomania que é compatível com o convívio social. A
erotomania é um sintoma da paranoia. A marca do delírio é a certeza inabalável e
podemos observar no filme que Angélique tem a certeza de que tem um
relacionamento amoroso com o médico cardiologista Loic Le Garrec, inclusive, em
algumas cenas, ela cria encontros, viagens e conversas fictícias, mas, que para ela
é uma verdade absoluta e irrevogável: Ela tem um relacionamento com o médico e é
correspondida por ele e vive na certeza de que eles vão se casar, o que é contrário
à realidade. Angélique é uma bela jovem e tem uma promissora carreira artística,
porém, demonstra investir no amor de forma prioritária. Ela só pensa em Loic que é
um homem mais velho e casado, e apaixonado por sua esposa grávida, geralmente
no delírio erotomaníaco a pessoa costuma se “apaixonar” por pessoas com níveis
sociais acima dela, que costumam ser inacessíveis. Até certo momento do filme,
podemos até sermos induzidos a acreditar que Angelique realmente tem um caso
com Louic, porém, é um relacionamento estranho e cheio de desencontros, o que
nos leva a pensar que o médico se aproveita de uma jovem ingênua que se encontra
iludida por Loic. Em diversas cenas, os próprios amigos de Angelique demonstram
também acreditar nesse relacionamento, pois a veemência que Angelique acredita e
investe nesse “amor” nos parece convincente, o que é uma característica do delírio
da erotomania. A frustração da jovem é uma característica principal de pacientes
com esse tipo de delírio paranoico, por não ser uma realidade esse amor vivido por
Angelique ela se frustra com os desencontros (quando ele não vai à viagem à
Florença ou ao jantar promovido por ela, por exemplo) ou quando vê o médico
demonstrando afeto por sua esposa Heloise, e então, se torna agressiva tendo
comportamentos destrutivos durante o filme ( quando ela bate com a lambreta no
veículo de Heloíse fazendo com que ela perca a gravidez ou quando joga um objeto
na cabeça de Loic). No seu raciocínio paranoico, Angélique acredita que ele está
“traindo - a” por causa da certeza delirante que ela tem nesse relacionamento. Em
dado momento do filme a história é recontada e podemos perceber uma realidade
diferente da qual Angélique nos fez acreditar.

A erotomania se constitui portanto em um delírio de ser amado por uma


pessoa comumente de posição social e financeira proeminente, alguém idealizado,
como foi o caso de Angélique e o médico Loic. O indivíduo que sofre desses
sintomas acredita que ele e a pessoa se comunicam secretamente, no filme,
podemos observar o envio constante de bilhetes e presentes misteriosos. A outra
pessoa (Loic) geralmente tem pouco ou nenhum contato com o indivíduo que sofre
dessa patologia (Angélique). Com frequência podemos observar em pacientes
erotomaníacos a crença de que o outro que iniciou essa relação fictícia (acredita que
Loic investiu primeiro nessa relação quando deixou-lhe de presente seu lenço). Por
mais que o objeto de delírio se esforce para negar esse interesse, a erotomania
tende durar por bastante tempo.

É fundamental na erotomania a certeza que o sujeito tem de ser amado. Essa


certeza resulta em uma série de ideias e interpretações delirantes da realidade que
surgem de modo súbito e preciso. Estas ideias delirantes são uma tentativa de
sustentar a própria erotomania: ideias de que há uma colaboração universal a favor
daquele amor; interpretações incessantes de fatos atuais e antigos a partir da
erotomania; ações em direção ao objeto, incluindo viagens e perseguições.

O desenvolvimento do sintoma erotomaníaco acontece em três fases. A


primeira é otimista e se caracteriza pela esperança (pode ser observada logo no
início, quando Angélique envia uma rosa e espera ser correspondida). O sujeito
acredita de forma convicta que é amado e acredita que esse amor é inabalável,
sente-se ainda orgulhosos por isso. A segunda fase já é pessimista e se caracteriza
pelo despeito. O sujeito passa a ter sentimentos ao mesmo tempo de conciliação e
vingança pelo objeto em função deste não corresponder ao que o erotomaníaco
espera (podemos observar nas cenas em que Angélique se vê transtornada de
ciúmes de Loic e sua esposa, tendo vontade de eliminar essa “rival” que os separa e
em fim, ter seu amado em seus braços). A terceira fase se caracteriza pelo rancor
que o sujeito passa a sentir pelo objeto em função da não correspondência às suas
expectativas anteriores. O erotomaníaco é tomado por ódio e passa a fazer falsas
acusações e ameaças de vingança, assim como a se sentir ameaçado e perseguido
pelo objeto (como vemos na cena em que ela arremessa um objeto em Loic, após
ele dizer que irá embora e não irá levá-la com ele).

Por fim, é importante ressaltar algo que aparece muito claro no filme: a
ausência da necessidade por parte do erotomaníaco do sexo em si; Não é o sexo
em si que Angélique busca em Loic, mas apenas ser amada. Prova disso é o
desenvolvimento de todo o seu delírio sem ao menos ter tido algum contato físico
como um beijo ou o próprio sexo.

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