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Trabalho de Clínica Psicanalítica

Grupo: Clara Helena, Daniela Monteiro, Jaqueline Mulelos, Larissa Alves,


Mariana de Rezende, Milena Angélica, Noel Novais.

Filme: Bem me quer mal me quer - 2002

Sinopse do filme: Angélique é uma artista plástica que desenvolve uma paixão
desmedida pelo médico Loïc. A despeito de tudo o que seus amigos lhe dizem e de
diversos acontecimentos que provam o contrário, Angélique persiste na ideia de que
Loïc também a ama, transformando o que de início parecia ser um desencontro
amoroso em uma perigosa obsessão.

Histórico de Angélique: Uma moça que se descreve como "sozinha" e que "não
tem ninguém" e que busca no Outro tudo o que lhe falta, idealizando-o. "Já dizia
Freud (1980, p.105) em seu artigo de 1914, "Sobre o Narcisismo: uma introdução" A
necessidade das mulheres, não se acha na direção de amar, mas de serem
amadas." Angélique busca ser amada por alguém, custe o que custar.

Do que consiste a Paranoia de tipo Erotomania?

● Consiste na convicção delirante de um sujeito de que outra pessoa está


secretamente apaixonada por ele.

● Vivem uma ilusão delirante de ser amado;

● O objeto amado não pode ser feliz sem ela, por isso o protege e vigia mas
também se sente vigiado por ele;

● Delírios sistematizados, organizados, elaboração delirante, bem articulados.


Não são delírios bizarros e sem sentido, por isso enganam muito facilmente.

● Sentimento de posse do seu amor, pensamento de "se eu não posso tê-lo,


ninguém mais pode". É uma paranoia baseada na raiva disfarçada de amor.

Síndrome de Clérambault
● A Paranoia Erótica, ou "Síndrome de Clérambault", foi primeiramente
descrita pelo psiquiatra francês Gaëtan Gatian De Clérambault (1872-1934) e
se desenvolve, segundo ele, em três fases clássicas.

● No filme essas três fases são muito bem delimitadas. No início do filme,
percebemos a fase da esperança em que Angélique acredita piamente que
seu amor é correspondido.

● Porém, à medida que o filme avança ela se vê confrontada com a destruição


da esperança (fase do despeito), isto é, a devastação do mundo interno.

"A reação maníaca se instala numa busca desesperada de algo que


possibilite retomar o Amor do Outro, o equilíbrio da certeza; e leva
Angelique à exaustão e à falta total de recursos. Só lhe resta a mortificação
para salvar-se desse gozo mortífero da alienação ao Outro, que não só não
a ama mas, ainda, dela goza."

● Por fim, Angélique se vê na fase do rancor, em que tenta matar Joic.

Quando começam seus delírios?

● Seus delírios são direcionados ao seu vizinho, Loïc, um médico cardiologista


casado com uma advogada. Possível hipótese: O médico tratar do coração e
Angélique sofrer de uma doença do "coração".

● Tudo começa quando Loïc descobre a gravidez de sua mulher e corre para
casa para presenteá-la com um buquê de rosas. No caminho, ele encontra
Angélique e lhe oferece um dos botões do buquê. A partir disso, a moça
atribui um significado imediato em que o médico estaria apaixonado por ela
(delírio paranoico).

● A princípio, os telespectadores não percebem que Angélique está delirando,


somente no meio do filme que é mostrado o outro lado da história.

O que acontece quando seus delírios são confrontados com a realidade?

● Ao final do filme, quando Loïc confronta Angélique dizendo que não a ama e
nunca a amou, ela entra em um estado de fúria e o acerta com uma escultura,
tentando matá-lo. Com isso, ela é encaminhada para uma clínica psiquiátrica
onde recebe tratamento.
● Isso nos mostra como tratando de pacientes psicóticos não podemos
simplesmente confrontá-los com a realidade e desfazer seus delírios, pois
isso causa tremendo sofrimento mental e desestruturação psíquica.

● Isso nos diz muito sobre o desfecho de Angélique, pois ela "engana" seu
médico dizendo que finalmente entendeu que o que ela criou foi uma fantasia,
mas na verdade ela continua presa em sua percepção delirante.

Sofrimento por detrás da erotomania: "Embora o meu amor seja insano, a minha
razão alivia a dor intensa do meu coração, dizendo-lhe para ser paciente e nunca
perder a esperança." (Uma erotomaníaca internada há mais de 50 anos) - Trecho
dito no final do filme

Explicação do título do filme

Frase do artigo "Bem-me-quer, malmequer - erotomania" de


Barbieri:

O Professor Sérgio Nogueira, no site Dicas de Português, a propósito do


uso do hífen nas expressões Bem-me-quer e Malmequer, ensina que: "Por
incrível que possa parecer, aqueles que se querem bem andam separados
por hífen, e aqueles que não se querem bem andam juntinhos. O certo é
bem-me-quer e malmequer. Acredite se quiser." Certamente acreditamos.
Enquanto analistas como podemos duvidar da língua?

Caso Schreber

● Caso estudado por Freud pelas memórias deixadas pelo próprio paciente
(Memórias de um doente dos nervos, Daniel Paul Schreber).

● Schreber resolve escrever sobre sua doença de forma argumentativa a fim


de deixar o sanatório.

● Relação com o pai: excessivamente pedagógica com os filhos (o pai buscava


ensinar a manter a postura, não se masturbar e etc).
● Schreber se forma em direito e se torna um eminente jurista com uma carreira
bem rápida e é eleito para a corte de apelação de Baixa Saxônia (cargo mais
elevado).

● Após ser eleito a esse cargo mais elevado Schreber tem um episódio em
que está entre o sono e a vigília em que acorda e pensa “ah como seria
bom ser copulado com uma mulher” (pensamento intrusivo, ou seja, não
reconhece como um pensamento dele mesmo, se questiona sobre quem pôs
esse pensamento nele). Ele pensa que está ficando doente e passa por uma
primeira internação, sendo cuidado pelo psiquiatra Flechsig.

● Passa por uma melhora, volta às suas atividades normais, mas em seguida
tem uma segunda recaída. É quando escreve seu livro para tentar provar
que sua doença não impede o seu funcionamento cognitivo em busca de ser
readmitido no trabalho.

● Nessa segunda recaída, Schreber relata que Deus se cativou pelo seu
corpo e envia conexões, através de raios divinos, se instalando em todo seu
corpo. Schreber usa essa conexão para explicar os diversos fenômenos que
ocorrem com ele, como a interrupção da frase, onde ele esquece o restante
da fala que iria dizer e alega ser Deus que está interrompendo seu
pensamento. Outro fenômeno são os pássaros falantes em que ele pensa
que os pássaros estão se comunicando com ele e também em suas
dificuldades de ir ao banheiro, em que ele diz que Deus controla sua
possibilidade de evacuação.

● Por fim, Schreber, ao se observar no espelho, percebe que seu corpo está
nascendo seios e está se transformando em uma mulher (emasculação).

● Schreber conclui que Deus tem uma volúpia por seu corpo, quer que ele se
transforme em uma mulher para copular com ele e então dar origem a uma
nova raça.

● Posteriormente Schreber entende que essa vontade de Deus é na verdade


uma espécie de salvação da humanidade, pois, no fundo, os homens que
vemos são "homens feitos às pressas". Ou seja, para Schreber o mundo
está deixando de ser mundo, as coisas que vemos são apenas para enganar
a sua percepção da realidade.

Importância do caso para a Psicanálise

● Este caso foi muito importante para Freud perceber como a psicanálise pode
oferecer uma compreensão sobre o processo psicótico.

● A partir do estudo do caso Schreber Freud argumenta que existe um período


na constituição do sujeito entre o autoerotismo e o amor do objeto, que
seria o conceito de Narcisismo.

● Freud conclui que a primeira experiência de internação convocou


fantasias homossexuais ligadas a influência que seu psiquiatra exerceu
sobre ele. E, como uma defesa para suas fantasias, Schreber estabelece
uma negação muito intensa - o delírio paranoico.

● "Eu, homem, amo outro homem" - Schreber busca negar diferentes


elementos dessa frase. Schreber se vê envolvido em uma fantasia de
sedução por seu próprio pai - fantasia homosexual que é despertada pelo
contato próximo com seu psiquiatra. E, como uma solução para essa fantasia,
Schreber substitui sua figura paterna por Deus e entende estar se
transformando em uma mulher.

Conclusão: O delírio é uma tentativa de reinvestimento no outro, uma


tentativa de reconstrução do mundo e de estabilizar o caos provocado
pelo encontro com uma realidade insuportável.

CONCLUSÃO DO TRABALHO

No caso de Schreber, Lacan denomina o fenômeno como "empuxo à mulher",


porque quando o sujeito nega a castração, ele não consegue atribuir um
significado fálico à falta do Outro (não consegue simbolizar, valorar). Isso
significa, que o sujeito psicótico não consegue lidar com o real do Outro,
aquilo que é inominável e inassimilável do simbólico (aquilo que resta). Por
essa razão, Schreber se institui como a “Mulher de Deus”, a fim de se
proteger de um real que lhe invade, podemos dizer, que ele (Schreber) coloca
o objeto (a) no bolso e constrói seu delírio na tentativa de evitar o confronto
com aquilo que lhe escapa.

No entanto, quando esse Outro não o ama, como Angelique descobre. O


sujeito psicótico percebe o real de forma desprovida de simbolismo (já que
não está dentro da linguagem), mas o gozo lhe apresenta em seu corpo de
uma forma que o invade. Sendo assim, isso permite afirmar que o sujeito
psicótico se enamora por aquilo que é inassimilável no Outro. Isso sendo, o
Eros para a psicose se encontra onde não há significante ou palavra, ele se
entrelaça na ausência da fala (ausência de simbolismo), e deposita seu
supremo amor.

REFERÊNCIAS

BARBIERI, Cibele Prado. Bem-me-quer, malmequer: A erotomania. Revista Cógito


13, Salvador, n. 14, p. 73-75, 2013.

Bem me quer, mal me quer. Direção: Laetitia Colombani. Produção: Laetitia


Colombani. Intérprete: Audrey Tautou, Samuel Le Bihan, Isabelle Carré. França: [s.
n.], 2003. Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=0NLYbugQkwQ. Acesso
em: 31 out. 2023

Freud, Sigmund, 1856-1939. Observações psicanalíticas sobre um caso de paranoia


relatado em autobiografia : (“O caso Schreber”) : artigos sobre técnica e outros
textos (1911-1913) / Sigmund Freud ; tradução e notas Paulo César de Souza. —
São Paulo : Companhia das Letras, 2010.

O CASO Schreber. Direção: Christian Dunker. São Paulo: [s. n.], 2018. Disponível
em: https://www.youtube.com/watch?v=WUdVoli3PmI. Acesso em: 31 out. 2023.

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