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CICERA ÂNGELA ALVES LEITE

Documentário: A loucura entre nós

O que significa ser normal? O documentário A loucura entre nós retrata


a realidade das histórias dos corredores de um hospital psiquiátrico, as quais
nos faz questionar sobre o que é loucura.

A loucura entre nós retrata o dia a dia do hospital psiquiátrico Juliano


Moreira, em Salvador- BA. Nota-se nas cenas a linha tênue entre loucura e
sanidade mental. O enredo gira em torno de duas mulheres, Leonor e
Elisângela, com vivências e comportamentos diferentes, além de outros
depoimentos e cenas.

Logo no início das cenas Elisângela é apresentada em surto sendo


internada naquele local que ela já conhecia, com o passar tempo é perceptível
que o tratamento está surtindo efeito e a cliente apresenta uma melhora
significativa no processo. Já Leonor, outra personagem central, aparenta ser
uma mulher com contribuição de serviço significativa naquele lugar, com um
discurso aparentemente equilibrado e demonstra inteligência impressionante.
Contudo, ao longo da narrativa é perceptível que ela passa por alguns surtos,
episódios de tristeza, euforia, angústia, dentre outros. O destino das suas
mulheres se encontraram e terminaram de forma distintos Elisângela
claramente consegue retomar o convívio em sociedade e segue com o
tratamento adequado, Leonor não consegue seguir a vida com seu fardo de ser
“impedida de ser” como ela mesma relata e decide “saltar para a morte”.

A história das duas mulheres e dos demais clientes retratadas no


documentário não se faz diferente da realidade de inúmeras pessoas que
sofrem com problemas mentais. Uma vez que o documentário mostra através
das câmeras e depoimentos o enorme descaso, preconceitos, limitações sócias
e até mesmo falta de amor e uma enorme carga de vergonha por parte dos
familiares.

É importante destacar o trabalho desenvolvido pela ONG ao fazer uso


da arte como parte do tratamento e reinserção no meio social. Outro ponto que
chama atenção é vínculo admirável criado entre os clientes, tendo em vista que
eles compartilham de realidades análogas. Ver as situações retratadas no
documentário causa certa tristeza, pois deixa visível a maneira como parte da
população trata seres humanos como descartáveis e segregam do meio por
causa da falta de saúde mental. Leonor diz que “a sociedade é uma miséria”.
Os pacientes querem ser vistos, querem ser notados e veem as câmeras como
uma chance.

Dessa forma, fica claro o quanto o ser humano é egoísta e fecha os


olhos para a realidade das minorias, sobretudo para os considerados “loucos”.
Nessa perspectiva, uma das frases mais marcantes do depoimento de Leonor
foi a seguinte: “Eu não sou louca, mas a sociedade diz que sim”, essa
declaração faz lembrar de inúmeras pessoas que são vistas como loucas pelo
simples fato estar em sofrimento psicológico. São episódios como esses que
fazem com que o estigma associado a doenças mentais estejam enraizados,
dificultando o trabalho dos profissionais da saúde e dos clientes. Tendo em
vista tudo que foi discutido fica a reflexão, o que nos define como “normais” e o
que nos faz julgar os “loucos”?

Loucos

Falar de loucos é falar de sábios!


Posto que, loucos veem além da visão…
Sentem nos lábios a essência da vida
E discordam, sem pedir permissão.

Loucos… Precisamos destes loucos


Para virar a mesa, jogar o jogo bruto,
Mudar o mundo, as regras, não aos poucos,
Mas mudar abruptamente, num espaço curto.

No caos que se encontra nosso País no momento,


Atravessando duramente tanto descontentamento,
Para mudar, hoje, ser louco é a única solução.
Somente um louco, poderia revolucionar a nação.

Um louco que sonhando seja capaz de o mundo mudar…


Que vivendo seja na terra, no ar ou no mar, ouse…
Crie, invente, faça seu pensamento ecoar, vibrar…
Sem medos, sem tabus, um louco essencial capaz de amar.

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(Avany Morais)

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