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Revolta da vacina

A Revolta da Vacina foi um motim popular que aconteceu na cidade do Rio


Janeiro nos dias de 10 a 16 de novembro de 1904. A revolta se deu durante o
surto de varíola, por Oswaldo Cruz ter conseguido motivar o governo a enviar
ao Congresso um projeto para tornar obrigatória a vacinação em todo o Brasil,
lei esta, que foi regulamentada em 9 de novembro do mesmo ano.
A população não aguentava mais ter suas casas invadidas e serem forçados a
tomar a injeção da vacina, além de suas casas correrem o risco de demolição
caso existisse alguma ameaça sanitária, então, o povo se uniu e foi protestar
nas ruas. Houve confronto com a polícia, tiros, gritos, vaiadas, interrupção de
trânsito, estabelecimentos e casas de espetáculos fechadas, bondes
assaltados, bondes queimados, árvores derrubadas, edifícios deteriorados. O
conflito terminou com uma repressão violenta da polícia contra os
manifestantes, que causou mortes e prisões, sendo assim, uma revolta contra
o autoritarismo do governo.
Sem dúvidas, as opiniões sobre a vacinação foram muito divergentes,
enquanto alguns eram contra, inventando malefícios sofre a vacina, outros
entendiam que a única saída para aquele surto era a vacinação.
O Estadão de 28 de setembro de 1904 publicou o discurso de Barata Ribeiro
no Senado contra a vacinação: “Ao que parece, o governo tem o propósito de
alimentar a epidemia desprezando a profilaxia afim de obrigar o povo a
estender o braço à lanceta homicida. Queria que o Sr. Rodrigues Alves saísse
da mudez de seu palácio e viesse para o meio da população escutar os seus
lamentos. Ele coraria também vendo tanta desgraça (...)”. A solução proposta
pelo mesmo, era a abertura de mais leis de crédito para construção de
hospitais.
A oposição divulgou inverdades sobre a vacina, afirmando que a mesma
causava doenças como gangrenas, epilepsia, meningite, tuberculose e sífilis.
As falsas histórias trouxeram novamente à circulação uma absurda teoria -
nascida nos primórdios da criação da vacina, um processo de imunização
baseado na inoculação da benigna varíola bovina desenvolvido pelo médico
inglês Edward Jenner, em 1796. Ela dizia que quem tomasse a vacina poderia
experimentar o surgimento de características de um bovino, o crescimento de
um chifre, casco ou pelagem do animal.
Em contra partida, um artigo foi publicado na capa do jornal de 17 de julho de
1904, o Estadão tratou da situação de miséria em que se encontrava a saúde
no Rio e criticou os políticos que eram contra à vacina:
“Acima de tudo os princípios. Que importa que a peste dizime? Que importa
que o mal recrudesça devastadoramente se a "escola" contraria aos meios de
que dispõe a ciência para atenuar a sua intensidade? Abram-se covas às
dezenas, cavem-se fundas valas para a miséria, mas salve-se o princípio,
respeite-se a palavra d'Aquele que legislou sobre tudo (…) A varíola grassa de
modo pavoroso - o hospital de S. Sebastião regurgita, não há mais um leito e
os carros da assistência não param recolhendo nos bairros pobres as vítimas
da terrível moléstia.”

Em meio às discussões, a revista O Malho, fundada em 1902, chegou a


publicar no editorial de 2 de julho de 1904 uma recomendação que dizia: “Esta
República precisa é de vacina, incluindo as de ouro e ... juízo”. Essa revista
que tinha como o foco a política e humor, usava charges em suas ilustrações,
onde é possível observar que Oswaldo Cruz era chamado de “Napoleão da
Seringa e Lanceta”.
Hoje sabemos que a vacinação é de suma importância para a saúde de todos,
já que temos a tecnologia e a medicina avançadas, por isso não devemos
cometer anacronismo histórico ao pensarmos que a população nesse período
era “burra” ou “boba” por acreditar em inverdades que para nós, hoje, é óbvia.
A vacinação realmente precisava acontecer, porém o autoritarismo e a
violência do governo foram desnecessários, apenas causou revolta na
população. O povo deveria ter sido informado sobre a doença, suas formas de
contágio e sobre a vacina, para então, fornecer a vacina de forma com que
cada um escolhesse se queria tomar.
A imprensa e o jornalismo possuem um papel fundamental até os dias atuais,
levando as notícias de forma honesta e verdadeira, deixando a população
informada dos fatos ocorridos. Nesse período, as notícias eram relatadas
juntamente com a opinião do autor, discordando ou concordando com o relato.
Infelizmente, nesse período não havia televisão, internet e rádio, fazendo com
que os jornais circulassem apenas aos que sabiam ler, e eles divulgavam aos
demais em esquinas e cafés.

https://acervo.estadao.com.br/noticias/acervo,politizacao-e-desinformacao-
insuflaram-revolta-da-vacina-em-1904,70003483614,0.htm
https://portal.fiocruz.br/noticia/revolta-da-vacina-2
http://www.multirio.rj.gov.br/index.php/estude/historia-do-brasil/rio-de-janeiro/
66-o-rio-de-janeiro-como-distrito-federal-vitrine-cartao-postal-e-palco-da-
politica-nacional/2917-a-revolta-da-vacina#:~:text=Rio%20de%20Janeiro
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