O surgimento

da Agricultura
e do Estado
Professor José Knust
Nós chamamos de “Revolução
Neolítica” o processo histórico
de passagem do modo de vida
baseado na caça e na coleta
para o modo de vida baseado
na agricultura e na criação de
animais.

Essa mudança na forma de

como conseguimos nossos
alimentos causou uma série de
transformações em todos os
aspectos de como homens e
mulheres viviam em sociedade.

Essa transformação ocorreu na

fase final da Idade da Pedra,
conhecida como Neolítico.
 O processo de Domesticação de plantas e animais
Nem todos os vegetais e nem todos
os animais são domesticáveis.
Animais que tolerassem a presença
humana, que tivessem sistemas
hierárquicos (o que facilitava o
domínio), que se adaptassem a
dietas mais pobres e que se
reproduzissem muito e
rapidamente, eram mais
propensos à domesticação.
No caso dos vegetais, eram
domesticados aqueles de ciclo
produtivo mais estável.
Além disso, a domesticação causa
um processo de “seleção artificial
de animais e vegetais. Algumas
características se sobressaem
enquanto outras desaparecem por
causa das escolhas feitas pelos
humanos de quais animais cuidar e
quais vegetais cultivar.
 Revolução ou Armadilha?
A invenção da Agricultura como “Revolução”
Durante muito tempo se acreditou que a Agricultura era
um modo de vida obviamente superior à Caça e Coleta.
Assim, sua descoberta pelos seres humanos seria o
simples resultado da busca humana por melhores
maneiras de sustentar sua vida. Grupos de caçadores
procuravam melhores formas de garantir seu alimento e
teriam encontrado isso quando descobriram como
cultivar alimentos.
Pensando na nossa sociedade atual, sem sombra de
dúvidas que todas as descobertas, invenções e avanços
seriam impossíveis sem a existência da agricultura. É
possível dizer que praticamente todos os processos
históricos que se seguiram à invenção da agricultura
(surgimento das cidades, dos Estados, da “Civilização”,
etc.) só foram possíveis por causa desta descoberta. Sem
esta, nosso desenvolvimento histórico teria sido
completamente diferente.
A invenção da Agricultura como “Armadilha”
Contudo, estudos recentes têm mostrado que povos
caçadores e coletores têm acesso a uma variedade maior
de alimentos gastando menos tempo em média para
obtê-los. Além disso, esses povos de caçadores e
coletores são menos vulneráveis a crises de fome,
porque dependem menos de uma única fonte de
nutrientes.
Isso significa que muito provavelmente os primeiros
povos a adotarem a agricultura não melhoraram sua
condição de vida em geral e podem, talvez, ter piorado
suas condições de vida. Por que, então, eles teriam
deixado à caça e a coleta e investido em um modo de
vida mais trabalhoso e menos sustentável?
Provavelmente a opção pela vida baseada na agricultura
não foi uma simples escolha entre diferentes opções,
mas um processo histórico longo impulsionado por
outros fatores para além do cálculo de qual era a melhor
forma de conseguir alimentos.
 Sedentarização e Domesticação
Antigamente se entendia que a sedentarização Antigo modelo de desenvolvimento da agricultura
(isto é, as pessoas viverem fixas em um local)
tinha sido uma consequência da invenção da Busca por Estabilidade
Escassez
Agricultura. Enquanto eram caçadores e Caça e Alimentos
de Invenção da Agri- Alimentar

coletores, as pessoas precisavam sempre ir em Coleta Vida

Alimentos
Agricultura cultura Vida
Nômade Sedentária
busca de alimentos. A Agricultura teria sido
inventada em momentos e lugares onde
faltaram alimentos aos caçadores e coletores – e Novo modelo de desenvolvimento da agricultura 1
por isso eles inventaram a agricultura e depois
disso passaram a viver de maneira sedentária. Busca por Estabilidade Aumento
Alimentos Alimentar Invenção populacional
Caça e Fartura de
Alimentos da Agri-
Coleta Vida Vida Complexidade
Hoje se sabe que em vários lugares onde a Nômade Sedentária
cultura Social
Agricultura foi inventada havia, pelo contrário,
abundância de alimentos. Uma abundância tão
Escassez de alimentos? Aumento do excedente?
grande que permitia que mesmo sendo
caçadores e coletores, algumas populações Novo modelo de desenvolvimento da agricultura 2
conseguissem viver de maneira sedentária. Pelo
menos em alguns lugares, foi a vida sedentária Busca por Aumento
Invenção Desenvol-
que levou à invenção da Agricultura, e não o Caça e Alimentos Vida Semi- vimento da populacional
da Agri-
contrário. Em outros lugares, o cultivo surgiu de Coleta Vida
cultura
nômade Agri- Complexidade
Nômade Cultura Social
maneira complementar à vida de caça e coleta e
apenas depois de milênios deu lugar a
sedentarização completa.
 Quando e onde isso aconteceu?
Estudos identificaram alguns dos centros principais e Centros principais
secundários onde surgiram os principais cultivos humanos:
É difícil para a Arqueologia precisar Mesoamérica Crescente Fértil Ásia central e
quando isso ocorreu em cada lugar. O Milho e Abóbora Trigo e Cevada oriental
indício usado são sementes e ossos de Cabra, Ovelha e Boi Arroz e Milheto
animais encontrados em sítios Porcos e Galinhas
arqueológicos. Quando apresentam
certas características típicas do
processo de domesticação, eles são
prova que ali já havia Agricultura e
Pastoreio. Contudo, o início do
processo é difícil de ser identificado,
porque essas características ainda
não estavam desenvolvidas.

Sabemos, de toda forma, que entre 10

mil e 5 mil anos atrás a domesticação
Andes e Amazônia África Ocidental, Nova Guiné
de vegetais e animais visando a Batata e Mandioca Sahel e Etiópia Taro e Banana
Lhamas e Alpacas Sorgo e Inhame
alimentação surgiu de maneira
independente em várias regiões do
mundo.
Centros secundários
 O crescente Fértil
O Crescente fértil é uma região do Oriente Médio. Durante muito tempo
acreditou-se que ali teria sido o local de origem da agricultura (para
onde teria se espalhado para o resto do mundo). Hoje sabemos que
pessoas em outras regiões inventaram o cultivo de maneira
independente, mas a importância dessa região continua muito grande.
Foi nessa região que as três diferentes espécies de trigo que são
cultivadas até hoje foram domesticadas pela primeira vez.
Natufianos
Por volta de 12 mil anos atrás um
Göbleki Tepe
povo conhecido por Natufianos Por volta de 12 mil anos atrás o
começou a viver de maneira grande templo de Göbleki Tepe foi
sedentária no Levante. Eles construído. Esta é a construção de
desenvolveram ferramentas de grande porte mais antiga que se
pedra especiais para a coleta de conhece no mundo.
trigo, além de muitas outras. A origem de uma das espécies de
Essa experiência de vida sedentária trigo domesticado é uma
e de coleta desses alimentos foi o montanha próxima ao templo. Por
que deu início ao desenvolvimento isso, estudiosos acreditam que a
das técnicas e dos conhecimentos construção do templo estimulou a
necessários à agricultura. invenção da agricultura para
alimentar os construtores do
templo.
 Ásia central e Oriental
Os diferentes locais onde houve desenvolvimento da
domesticação na Ásia oriental e central parece ter seguido
uma história parecida com a do Crescente Fértil. Povos que se
tornaram sedentários pelo acesso a recursos abundantes de
Bacia do Rio Amarelo: alimento começaram, aos poucos, a desenvolver técnicas de
Área de domesticação cultivo de algumas plantas que, em um momento posterior,
do Milheto foram a base do desenvolvimento da agricultura na região.

Bacia do Yangtze: A Cultura Hoa Binh

Área de domesticação
do Arroz Entre 10 e 2 mil anos atrás se
desenvolveu no sudeste
asiático uma cultura baseada
na caça, coleta e pesca.
Existem alguns indícios de
As principais áreas de domesticação nessa área do que depois de algum tempo,
mundo foram os vales dos principais rios chineses. Ao os hoabinhianos começaram
sul, nas regiões mais quentes e em áreas alagáveis, se a cultivar algumas das
desenvolveu o cultivo de arroz, que depois se espalhou plantas que antes eles
por vários regiões da Ásia subtropical coletavam.
África subsaariana e a Nova Guiné
África subsaaariana
Durante muito tempo se acreditou
que a agricultura teria chegado na
África por influência de migrantes
do Crescente Fértil. Porém, hoje
sabemos que plantas específicas da
África subsaariana foram
domesticadas nessa região de
maneira independente. Ainda se
sabe pouco sobre os primeiros
agricultores africanos, mas eles já
existiam desde pelo menos 7 mil
anos atrás (com o cultivo do
inhame). O milheto e o sorgo foram
domesticado nos milênios seguintes.

Nova Guiné
Outra região que desenvolveu de
maneira independente o cultivo foi a
Nova Guiné. Há pelo menos 7 mil
anos o taro é cultivado nas
montanhas dessa ilha da Oceania.
 Transição demográfica do Neolítico
Ainda que, na média, a agricultura do Neolítico demande mais Estimativa da densidade
populacional na Europa
trabalho para a produção do mínimo necessário para Ocidental durante o
subsistência do que a caça e a coleta, na soma total ela tem uma Neolítico.
capacidade maior de produção. Somado à vida sedentária, mais
favorável à criação de filhos pequenos, esse fato permitiu e
mesmo estimulou o aumento da taxa de natalidade humana. As
mulheres começaram a ter mais filhos do que tinham durante o
Paleolítico.
Ao mesmo tempo, contudo, o aumento da densidade
populacional (que facilitava a transmissão de doenças) assim
como o aumento do número de conflitos (causado pela disputa
de territórios, acentuada pelo sedentarismo) aumentou
bastante a taxa de mortalidade.

Esse fato mudou o regime demográfico humano. Em

momentos de difusão de doenças e crises na colheita,
a população de certas regiões podia sofrer graves
quedas. Ao mesmo tempo, em momentos melhores,
com boas colheitas e ausência de epidemias, a
população crescia. Ao longo dos milênios, a
incorporação de mais terras à agricultura acabou por
impulsionar um grande aumento populacional.
Como consequência na longa
duração do desenvolvimento da
agricultura, da sedentarização e do
aumento populacional, surgiram
aquilo que chamamos de
sociedades complexas. Esse
processo foi chamado de
Revolução Urbana por alguns por
estar ligado ao surgimento das
primeiras cidades do mundo.

Nesse processo, cresce a divisão do

trabalho, o que leva ao surgimento
de uma classe dominante que
consome os excedentes produzidos
pelos agricultores. O comércio de
longa distância, a escrita, a
arquitetura mais monumental,
entre outras coisas, também surge
nesse momento.
 Aldeias e Cidades
Uma consequência imediata do desenvolvimento da
agricultura e do aumento populacional foi o surgimento
de grandes conglomerados de habitações de
agricultores. Uma grande quantidade de pessoas
vivendo próximas, tecendo relações entre elas, muitas
vezes se ajudando entre si, outras vezes entrando em
conflito, determinou a formação de estruturas políticas
cada vez mais complexas.
Com a divisão social do trabalho social se tornando
cada vez mais complexa, muitas vezes uma parte da
população de uma região conseguiu controlar recursos
importantes (alimentos, matérias-primas, força militar,
poder religioso) e passou a dominar o resto da
população de sua região. Assim surgiram as primeiras
sociedades complexas, com estruturas hierárquicas.
Jericó (Cisjordânia)
Por volta de 9.000 a.C., o local onde mais tarde existiria a
cidade de Jericó já era habitado. Não sabemos, contudo, se já
era um grande assentamento, porque o estrato que
corresponde a esse período está sob as ruínas da grande
cidade posterior e não pode ser escavado totalmente. Contudo,
sabemos que por volta de 7.000 a.C. já existia uma grande
cidade, fortificada por um espesso muro, onde habitavam 2
mil pessoas.
Escavação do sítio
de Tell es-Sultan
(identificado como a
Jericó histórica)

Em torno destes grupos poderosos se aglomeravam

pessoas que atuavam como artesãos, comerciantes,
auxiliares, entre outros. Assim surgiram as primeiras Reconstrução hipotética de Jericó
cidades. Eventualmente, os poderosos de uma região
formaram exércitos poderosos o bastante para dominar
outras regiões, formando os primeiros Impérios.
 Aldeias e Cidades
Uma consequência imediata do desenvolvimento da Çatalhüyük (Turquia)
agricultura e do aumento populacional foi o surgimento
de grandes conglomerados de habitações de Por volta de 6700 a.C. surgiu na atual Turquia um grande
agricultores. Uma grande quantidade de pessoas assentamento conhecido atualmente como Çatalhüyük (não
vivendo próximas, tecendo relações entre elas, muitas sabemos o nome que seus moradores dava a essa enorme
vezes se ajudando entre si, outras vezes entrando em aldeia). O assentamento era bastante complexo, possui
conflito, determinou a formação de estruturas políticas vestígios de rituais e cultos bastante refinados e chegou a ter 5
cada vez mais complexas. mil habitantes. Existe um debate, contudo, se esta já é uma
cidade ou se é uma grande aldeia, porque não existem muitos
Com a divisão social do trabalho social se tornando vestígios de uma divisão social do trabalho muito complexa.
cada vez mais complexa, muitas vezes uma parte da Escavação de
população de uma região conseguiu controlar recursos Çatalhüyük
importantes (alimentos, matérias-primas, força militar,
poder religioso) e passou a dominar o resto da
população de sua região. Assim surgiram as primeiras
sociedades complexas, com estruturas hierárquicas.
Reconstrução hipotética de Çatalhüyük
Em torno destes grupos poderosos se aglomeravam
pessoas que atuavam como artesãos, comerciantes,
auxiliares, entre outros. Assim surgiram as primeiras
cidades. Eventualmente, os poderosos de uma região
formaram exércitos poderosos o bastante para dominar
outras regiões, formando os primeiros Impérios.
 Aldeias e Cidades
Uma consequência imediata do desenvolvimento da Uruk (Iraque)
agricultura e do aumento populacional foi o surgimento
de grandes conglomerados de habitações de Entre 4.000Reconstrução
a.C e 3.200 hipotética
a.C., UrukdeseUruk
transformou de uma
agricultores. Uma grande quantidade de pessoas pequena aldeia de agricultores em uma grande cidade, com
vivendo próximas, tecendo relações entre elas, muitas uma classe dominante que governava a cidade controlando um
vezes se ajudando entre si, outras vezes entrando em corpo administrativo (burocracia) e militar (exército). Estima-
conflito, determinou a formação de estruturas políticas se sua população em 45 mil pessoas no final desse período.
cada vez mais complexas. Com o tempo, a elite de Uruk começou a controlar aldeias
outras cidades na região, dando início a um pequeno Império.
Com a divisão social do trabalho social se tornando Escavações
cada vez mais complexa, muitas vezes uma parte da em Uruk
população de uma região conseguiu controlar recursos
importantes (alimentos, matérias-primas, força militar,
poder religioso) e passou a dominar o resto da
população de sua região. Assim surgiram as primeiras
sociedades complexas, com estruturas hierárquicas.

Em torno destes grupos poderosos se aglomeravam

pessoas que atuavam como artesãos, comerciantes,
auxiliares, entre outros. Assim surgiram as primeiras
cidades. Eventualmente, os poderosos de uma região
formaram exércitos poderosos o bastante para dominar
outras regiões, formando os primeiros Impérios.
 Aldeias e Cidades
Uma consequência imediata do desenvolvimento da
Ainda que populacional
o CrescentefoiFértil tenha Caral (Peru)
agricultura e do aumento o surgimento
de grandes sido o local onde de
conglomerados essehabitações
processo de de Foi ocupada entre 2600 e 1800
complexificação social e urbanização
agricultores. Uma grande quantidade de pessoas a.C.. Calcula-se uma população de
começou
vivendo próximas, mais
tecendo cedo eentre
relações teve elas,
maismuitas
força 3 mil habitantes. Aqui foram
nesseentre
vezes se ajudando período, não vezes
si, outras foi sóentrando
lá que eleem escavadas pirâmides e templos. É
conflito, determinou a formação de estruturas políticas a cidade mais antiga dos Andes.
ocorreu.
cada vez mais complexas.
San Lorenzo (México)
Com a divisão social do trabalho social se tornando Foi a principal cidade dos Olmecas, a primeira
cada vez mais complexa, muitas vezes uma parte da grande civilização conhecida a ocupar a
população de uma região conseguiu controlar recursos Mesoamérica. Entre 1200 e 900 a.C. Chegou a ter 5
importantes (alimentos, matérias-primas, força militar, mil habitantes, aos quais se somavam mais 7 mil da
poder religioso) e passou a dominar o resto da área ao redor da cidade.
população de sua região. Assim surgiram as primeiras
sociedades complexas, com estruturas hierárquicas.
Harappa e Mohenjo-daro (Paquistão)
Em torno destes grupos poderosos se aglomeravam Trata-se das duas cidades mais
pessoas que atuavam como artesãos, comerciantes, importantes dos Harappianos, a mais
auxiliares, entre outros. Assim surgiram as primeiras antiga civilização conhecida a se
cidades. Eventualmente, os poderosos de uma região desenvolver na importante região do
formaram exércitos poderosos o bastante para dominar vale do rio Indo.
outras regiões, formando os primeiros Impérios.
 Invenção dos vasos de cerâmica
A fabricação de objetos de cerâmica havia se desenvolvido Cerâmica Jomon
(Japão, 10-8 mil a.C.)
ao longo do Paleolítico superior. Contudo, foi no Neolítico
que o principal uso da cerâmica ao longo da história, fazer
vasilhames, foi desenvolvido.

Os vasos de cerâmica são pesado e frágeis demais para

serem úteis a povos nômades, mas depois da
sedentarização, eles passaram a ser extremamente úteis:
armazenam líquidos e grãos de maneira eficiente, são Cerâmica Micênica
extremamente duradouras e podem ser utilizadas para (Chipre, 1300-1200 a.C.)
levar alimentos ao fogo. Cerâmica de Chavin
(Peru, 900-400 a.C.)
Para os arqueólogos, os vasos de cerâmica são
importantíssimos: como são extremamente duráveis,
escavações arqueológicas costumam encontrar muitos
vasos. As diferentes formas, pinturas e materiais utilizados
servem de pista para identificar as origens de um vãos, as
transformações culturais dos povos que o fizeram e a
circulação de produtos entre diferentes locais por onde
esses vasos foram encontrados.
Cerâmica Machiayao
(China, 3500 a.C.)
Necrópole de Varna, Bulgária.
Cerca de 4600 a.C.
Mais antigo uso do ouro como
adereço que se conhece
Invenção do trabalho com metais
Por volta do 5º milênio a.C., alguns povos começaram a utilizar cobre
para fazer alguns objetos de luxo, sobretudo joias. No início, o
trabalho com esse metal era bastante rudimentar. Apenas depois da
invenção da metalurgia propriamente dita (isto é, o conjunto de
técnicas de aquecer o metal para obter o metal puro do mineral e
conseguir molda-lo sem quebra-lo), que o uso do cobre se difundiu.
Por volta do 4º milênio a.C. o Crescente Fértil conheceu grande
expansão do uso do cobre.

O passo seguinte no desenvolvimento da metalurgia foi a invenção da

liga de cobre com estanho (ou arsênico) para fazer o Bronze, que se
tornou o metal mais difundido nessa região entre o final do 4º milênio Difusão do Cobre e do Bronze a
a.C. e o final do 2º. Nessa época, a tecnologia de fundição do ferro, que partir do Oriente Médio e os Balcãs.
antes era visto como metal precioso, se desenvolve e este se torna o
metal predominante na região.

A tecnologia desenvolvida nessa região se difundiu por várias regiões

do mundo, como a Europa, e a Ásia Central. Outras regiões, contudo,
desenvolveram de maneira independente suas tecnologias de trabalho
com metais. No Extremo Oriente da Ásia, entre os 4º e 2º milênios a.C.
o trabalho com bronze foi desenvolvido. Nos Andes, América do Sul, o
trabalho com cobre e ouro se desenvolveu entre o final do 2º milênio
a.C. e o início do 1º. Espadas de Bronze (Romênia, 1700 a.C.)
 As trocas e o comércio
Os arqueólogos encontram já em sítios
arqueológicos do Paleolítico a presença de Rotas de comércio no início da Idade
objetos (conchas, lâminas de obsidiana, do Bronze na região do Mediterrâneo
pedras preciosas) a muitos quilômetros de
distância de sua origem. Como os povos
desse período eram nômades, é possível
que um grupo em deslocamento tenha
levado consigo esses objetos.
Contudo, a presença dessas “importações”
em sítios de povos sedentários do Neolítico
mostra a existência de rotas de troca e
comércio desses produtos.
Não sabemos como funcionavam essas
trocas, mas elas deviam seguir os seguintes
modelos:
Reciprocidade Redistribuição Comércio
Formas de “Troca de presentes” Um poder central coleta Intercâmbio no qual uma
circulação entre grupos diferentes a produção de vários parte obtém um produto
de produtos: para fortalecer os laços lugares e depois as em troca de alguma forma
de aliança entre eles. redistribui seguindo de moeda que seja aceita
suas hierarquias. para obtenção de outros
produtos.
 Os primeiros Estados e Impérios
Egeu Anatólia
Minóicos e Micênicos Hititas
América Central 1300 a.C.
2000 e 1300 a.C. Vale do Indo
Em vários lugares do mundo Olmecas
o aumento da complexidade 1200 a.C. Harappianos
social, da formação de 2600 a.C.
hierarquias sociais e de
organizações políticas levou Vale do Nilo
ao surgimento dos Estados. Egito e Kush
Vale do Rio Amaralo
3100 e 1000 a.C. China, Dinastia Xia
Alguns desses Estados se Mesopotâmia 2000 a.C.
tornaram muito poderosos, Suméria, Acádia e Babilônia
controlando a produção de 3500, 2400 e 1800 a.C.
muitas aldeias e cidades,
concentrando recursos e Altiplano Andino
poder militar. Assim se Chavin
formaram os primeiros 900 a.C.
grandes Impérios da história
em vários lugares do mundo.
 A invenção da escrita
Escrita Cuneiforme
usada na Mesopotâmia
O aumento da complexidade social tornou cada vez maior o número de nos tempos sumérios e
informações gerenciadas pelos grupos humanos. Existem dois limites acadianos
fundamentais para o gerenciamento dessas informações: a capacidade
cerebral humana tem um certo limite e as informações precisam ser
transmitidas entre as gerações para se manterem acessíveis ao longo do
tempo.
A transmissão oral não dá conta de uma quantidade muito grande de
informações. Frente a isso, surgiu pela primeira vez na Suméria em
3200 a.C. e depois em outros lugares sistemas de escrita, capazes de
armazenar materialmente uma grande quantidade de informações. Por
isso, os primeiros textos escritos da história são simples contabilidades
realizadas por administradores ligados aos primeiros Estados.
De maneira independente, a escrita foi inventada na China por volta de
1200 a.C. e na América central entre 1000 e 500 a.C.. Uma possível
escrita hindu de 3200 a.C. ainda não foi decifrada e não sabemos se é Pedra de Roseta, com
um sistema de escrita de fato. Em outros lugares, ela provavelmente inscrições em Hieroglifos
chegou como adaptação de sistemas adquiridos pelo contato com povos egípcios, demótico e grego
estrangeiros. antigo. Foi undamental
para decifrarmos o código
da escrita egípcia.
 O desenvolvimento da Literatura
Sabe-se que desde muito tempo diversos grupos
humanos possuíam formas de poesia e narração
de histórias de maneira oral. Contudo, a fixação
dessas histórias na forma escrita, dando origem
ao que chamamos de Literatura, demorou ainda
muito tempo para acontecer.
As narrativas mais antigas que se conhece a
terem sido fixadas de forma escrita são:
• A epopeia de Gilgamesh (Suméria, 2000 a.C.)
• O livro dos Mortos (Egito, 1800 a.C.)
• Rigveda (Vale do Indo, 1700 a.C.)
• Pentateuco (Palestina, 1000 a.C.)
• Ilíada e Odisseia (Homero, Grécia, 800 a.C.)
O uso da escrita para difundir narrativas e ideias
vai ter um papel fundamental nas
transformações da história da humanidade. O
texto escrito aumentava em muito a capacidade
de certas ideias se propagarem não só por
diversas regiões, mas também no tempo.,
mantendo-se por séculos e mesmo milênios.
Homero, o poeta grego que teria escrito as duas primeiras
obras da literatura grega (Ilíada e Odisseia) foi tratado por
séculos pelos europeus como o inventor da Literatura. Hoje há
muitas dúvidas sobre se de fato existiu um Homero – o mais
provável é que essas histórias tenham sido elaboradas por
poetas que as transmitiram ao longo de séculos até que aos
poucos elas tenham sido postas no papel. Esse é o caso mais
provável de todas as obras literárias mais antigas que
conhecemos.
Os dois escritores mais antigos de que temos notícia são:
Ptahhotep (Egito, c.2400 a.C.)
Fazia parte da burocracia do Faraó
e escreveu um livro com uma série
de ensinamentos de como se
comportar corretamente.
Enheduanna (Ur, c.2250 a.C.)
Foi uma sacerdotisa, filha de um
rei de Ur, e escreveu 42 hinos para
diferentes templos de cidades
sumérias.
 O fim da Pré-História e a
aurora das “Civilizações”
O aumento da população humana, o desenvolvimento de relações sociais
mais complexas, o desenvolvimento tecnológico, o surgimento das cidades e
das grandes construções e a invenção da escrita fizeram surgir em alguns
lugares do mundo formas de vida muito mais elaborada e cheia de variáveis.
As grandes construções e a escrita tinham ainda uma segunda consequência:
restavam como herança de uma geração para outra, fazendo com que as
ideias de um tempo restassem por muito mais tempo influenciando as
gerações futuras. A tudo isso se acostumou dar o nome de “Civilização”.

O surgimento da Civilização sempre foi considerado um marco na História

Humana. Certamente, nossas vidas seriam completamente diferentes hoje se
os processos históricos que ocorreram no final da Pré-História fossem
outros. Todas as transformações que desencadearam o surgimento do nosso
mundo dependem da existência da agricultura, das cidade, da escritas, etc..

De toda forma, hoje os estudiosos contestam a ideia de que a vida na

“Civilização” seja necessariamente melhor do que a vida na “Barbárie” dos
povos pré-históricos. A verdade é que isso depende de inúmeros fatores,
como em qual sociedade você vive e, especialmente, a que grupo social você
pertence nessa sociedade. Se por um lado, a “Civilização” resolveu muitos
problemas do mundo pré-histórico, por outro lado ela criou outros Cidade do México nos dias atuais.
problemas que antes não existiam.