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Comida como Cultura

“Comida é cultura quando preparada, porque, uma vez adquiridos os produtos


base da sua alimentação, o homem os transforma mediante o uso do fogo e de
uma elaborada tecnologia que se exprime nas práticas da cozinha.”

Fabricar a Própria Comida

Natureza e Cultura

Com a necessidade de uma maior quantidade de alimentos, a caça e coleta


não estava sendo o suficiente, foram surgindo sociedades agricultoras e
pastoreias, assim eles tinham maior domínio sobre a quantidade de comida
necessária e não dependiam somente do que a natureza disponibilizava. E
com a domesticação das plantas e dos animais o homem se tornou dono do
mundo natural, não tendo total dependência da forma na qual vivia. Porém,
para a caça e a coleta também era necessário algum tipo de domínio sobre as
técnicas, uma cultura.

A expansão da agricultura se deu pela expansão de povos para outros


territórios, assim se expandiu a agricultura para a Asia centro-oriental, América
e a Europa. A expansão da agricultura se deu pela necessidade do
crescimento demográfico, onde a caça e a coleta não estavam sendo o
suficiente para suprir a necessidade daquele povo.

Entre as plantas que eram cultivadas naquela época, os cereais receberam


maior atenção e valorização. Fazendo maior difusão em determinadas regiões,
o trigo teve maior aceitabilidade na região mediterrânea, o sorgo no continente
africano, o arroz na Asia e o milho na América.

E é nesse contexto que as primeiras sociedades agrícolas, estimuladas pelo


ciclo natural e as estações do ano, elaboram a ideia de um homem que
constrói a comida artificialmente, ou seja, uma comida que não existe na
natureza. Na região mediterrânea, é o pão que desenvolve essa função
simbólica e nutricional, o pão não existe na natureza, somente os homens
sabem fazê-lo.
Natureza também é Cultura

Nas sociedades agrícolas, os principais mitos de fertilidade e rituais que os


acompanham têm com protagonistas os cereais e as estações do ano. O mito
de Perséfone, filha de Deméter deusa da terra e da agricultura, representa a
trajetória da semente do trigo, enterrada durante a estação fria até que renasça
com o início da primavera. Outras plantas, em outras regiões também tem o
mesmo papel dentro da cultura do lugar, o arroz é protagonista de muitos
contos e lendas asiáticos, para os antigos povos da América é o milho que abre
espaço dentro da mitologia.

Nas sociedades de caçados também existiam mitos sobre os animais, onde


seus ossos devem ser recolhidos para que fossem enterrados junto com a
pele, acreditando que a alma retornaria intacta e os faria renascer.

Na Idade Média europeia, a relação entre o cultivo/pastoreio e caça/coleta


começa a mudar. Até então representando duas civilizações diversas, que
desprezavam uma a outra, se mesclaram com a invasão dos bárbaros no
império.

Jogar com o Tempo

As sociedades tradicionais devem começar a aprender a trabalhar com o


tempo, ou seja, com a sazonalidade dos alimentos, com o ritmo de crescimento
das plantas e dos animais. Saber lidar com o ritmo de vida e crescimento dos
produtos da natureza foi uma exigência primária dos homens, porém ao
mesmo tempo eles tinham o objetivo de controlar e modificar o tempo natural
desses produtos.

O Éden, o paraíso na terra de acordo com a Bíblia, vivia em uma eterna


primavera, permitindo aos homens sempre alimentos frescos e com
abundância. A ciência e técnica sempre estiveram em busca desse mesmo
resultado, tentado manipular o tempo. Com o objetivo de diversificar e
diferenciar as espécies para fazê-las produzir pelo maior tempo possível no
decorrer do ano, visando superar os limites “naturais” de reprodução das
plantas.
Outro objetivo é elaborar técnicas de conservação para produtos vegetais e
animais para poder utilizá-los além do seu ciclo natural. Assim surgiram várias
técnicas de conservação de alimentos, sendo uma delas a desidratação feita
com o calor do sol, com fumaça ou com sal, o sal foi o mais utilizado por conta
do sabor agregado ao alimento e a garantia da conservação.

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