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[DES]
INTEG
POR GARDÊNIA FERNANDES COLETO
RADA:
INFLAMAÇÕES ARTÍSTICAS PARA
UMA DANÇA COLETIVA.
IMAGEM: JU BRAINER
editorial[resumo]
Em consonância com reflexões feministas acerca da neutralidade científica, bem
como, do reconhecimento de outras formas discursivas como construtoras de
conhecimento, investigo uma escrita fragmentar na tentativa de produzir um
texto dançante. A consulta ao baralho Jogos de Criação CORPOLUMEN
(Daniela GUIMARÃES, 2017) fornece elementos para rupturas com a linearidade
textual, redirecionando impulsos para buscar movimentos em palavras e
evidenciar a complexidade de significações constantes da poesia/dança.
Questiono [des]razões para o [des]valor do fazer dança e encontro pistas na
violência de gênero. Agressões sofridas por outras incorporam-se em minhas
palavras/moveres para denunciar abusos. Dançar é “coisa de mulherzinha”?
34
Foto: Ju Brainer
35
Corpo[a] à vista:
causas[os] para o
[des]valor do conhecer
“feminino[a]”*
[...]a poesia não é um luxo. Ela é uma necessidade vital. Ela define a
qualidade da luz dentro da qual formulamos nossas esperanças e sonhos
em direção à sobrevivência e mudança [...]
Audre (LORDE, 1984, p.3)
TEMPO ESGOTADO.
O Temporizador ressoa.
A carta havia proposto o tempo de três minutos e
trinta segundos para a ação.
Outros questionamentos insurgem...
da temática
UM EN é um ba ralho que surge a partir
RPOL das obras Só não me
“Jogos de Criação CO rioso e imprevisível
tás tic o, mi ste
do universo oníric o, fan de caminhos
e so nh am os ?. Fu nc iona como sugestão
o qu Tarot, este baralho foi
acorde antes e Com maiores do Jogo de
no s arc an os
de criação. Inspirad o e a qualidade (de
: a tem ática , a composição, o tempo
dividido em 4 núcle os sozinho ou
em ind ica çõ es para o improvisar
movimento); que
oferec Acesso em: 15 out
C. f.: htt ps ://w ww .co rpolumen.com/acoes.
coletivamente.”
2019.
*Artigo no prelo para publicação no livro CORPOLUMEN - VOLUME 1, organizado por Daniela Guimarães e Clara Trigo. 36
Como jogar com as [o]pressões temporais
na.da contemporaneidade?
Retiro nova carta em busca de respirações
dançantes para a escrita...
“Temática: surpreender a si mesmo – descubra
surpresas em sua movimentação”
Rodopio
Dou voltas
Mas a surpresa se torna difícil
Sinopse da obra disponível no instagram @casarosadabarris. Acesso em 13 out
Monotemática?
Relações de poder cravadas em [m]eu sexo
tomam [m]eu mover-pensar.
Busco em minhas memórias surpresas em
questões OutrAs.
Assisto ao espetáculo À VISTA
O Capital surge como possibilidade...
“À Vista... um serviço de acompanhantes, um
cartão de crédito, um movimento econômico
político criativo, uma dama de companhia, um
block buster com suas empresárias, vaqueiras,
heroínas, mães, truqueiras, curandeiras y À Vista. Foto: Jo
ão Rafael Neto
closeiras.”
Ao chegar à Casa Rosada Barris, a bilheteira
explica que o valor de cada apresentação será
ajustado após negociação com os artistas.
Aguardo.
“Boa noite, cheguem aqui”, uma voz,
2019.
37
Aos poucos
as artistas ficam de pé
Continua o
jogo
Conquistas?
Disputas
pelo meu sentir?
Jingles embalados pelo estalar dos dedos que desejo consumir...
Em fila
Os produtos
se exibem
Qualidades
Propagandas
Enganosas
Enganosas?
Abordagens
diretas
Falam sobre
números
Cadastro de
Pessoa Física
Lucros
Débito
Contas do
Ativo
Crédito
Investimentos
o
no artistar
l Net
afa
e Contas do
oãoR
:J passivo
agem
.Im Passiva,
ista
ÀV escuto.
Passiva???
Escuta.
Surpresa...
Choro[a]
eSCORROOO!!!
Como números
podem me fazer chorar?
Como números
podem nos fazer chorar?
Enquanto ela
segura um bebê nos braços, ATIVOS X PASSIVOS escancaram os [des]valores da
dança...
O que me/nos
sobra?
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Espelhos de/em uma vida-artista
Em 2013,
danço um trabalho solo chamado Dor de Pierrot: 80 aos pedaços
Misturo meusdesejos aos que me antecederam nas lutas por valores...
Anos 80/2000
Dizem:
Artista? Kkkkk
*As referências não possuem numeração de página, pois são recortes de jornais e entrevistas encontrados
na exposição PRESENTE PASSADO MOVIMENTO: a dança de 80 pelo olhar do Recordança.(2013) 39
sã o p ara
n
Suspe v o ze s.
v ir o u trAs
ou tré gua
ro um a
Su g i
u r a para
na leit
PaUsA! escuta
d
de
io s d o
episó is tó rias
o d ca st "H
p u v ido"
do o
ao pé
Imagem da obra Dor de Pierrot(1980). Disponibilizada pelo Acervo Recordança
40
Dor de Pierrot: 80 aos pedaços. Foto: Ju Brainer.
Retorno
Qual meu
valor hoje?
Desdobro
minha dança e não sou paga
À VISTA
Medidas
Números
Negociações
[M]eu corpo
à venda
Aquisição
Contrapartida
Patrimônio
Pública
Privada
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À Vista. Imagem: João Rafael Neto
Quais as
[des]razões para meu [des]valor?
Suponho....
“Dança é coisa de mulherzinha”
Ele[a]
escuta desde menino[a]
Feminizada?
42
Espetáculo O Anjo Azul (1980). Imagem disponibilizada pelo Acervo Recordança
Que[m] dança? 43
*A referências não possue numeração de página- Fonte: exposição PRESENTE PASSADO MOVIMENTO: a dança de 80 pelo olhar do Recordança.(2013)
Burguesa
Começo a pensar sobre a possibilidade de não existência da dança...
Sobreviva
Embaralho tempo
Numero
s P par r:
agu a o
erno ncia , le
...2020, 1979, 1984, 2013, 1990, 1998, 2014, 2003, 2009, 2011, 2016...
o
, Sã
Cad ciê res
Busco registros no agora
ial. o da sabe
Encontro o edital de seleção para o Mestrado Acadêmico em Dança do Programa de Pós-
parcquestã de
graduação da Universidade Federal da Bahia (PPGDANÇA - UFBA)
o
pec os: a truçã
Ufa!
a
tiva
gio eres lo nte n
Área: artes
c
. 5, o pr a. Sab prese
Subárea: dança
da
Parcial
e
Pau inismo Y, Do ialidad
Defendo [m]eu existir
199 vilé
nn
i
fem AWA parc
Dançar também é conhecer
5.
Vibro[a]
lo, n e
HAR re a
Passo os olhos por todo o edital e chego ao último tópico...
Sob
44
Dor de Pierrot: 80 aos pedaços. Foto: Ju Brainer
Transdisciplinas?
Ou sobreposição de saberes? Busca de legitimidade por saberes constituídos?
Filósofa
Desconfio
novamente de minha existência/dança.
Artista?kkkkk
Confesso:
No início de minhas reflexões sobre um/a corpo/escrita fragmento/a, busco inspirações em
filósofos/deuses para legitimar desejos de insdisciplinas.
FOUCAULT
(1988,1987, 1993, 1994)
DE[us]LEUZE?
As sedutoras
conexões rizomáticas (DELEUZE e GUATARRI, 1995) em um pulsante corpo sem órgãos
vibram minhas danças/palavras durante a escrita do Trabalho de Conclusão de
Curso, realizado no ano de 2015/2016, na Universidade Federal de Pernambuco, com o título
[DES]INTEGRADO: fragmentos de um percurso corporal.
Agora, reconheço aprendizados, mas questiono hegemonias tendentes a encobrir saberes subalternizados.
Há Deus?
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Adeus.
Partida
Encontro
outrAs
Uno-me aos argumentos feministas para mover/pensar novas potências:
A objetividade não pode ter a ver com a visão fixa quando o tema de que trata é
a história do mundo.[...] Estou argumentando a favor de políticas e
epistemologias de alocação, posicionamento e situação nas quais parcialidade e
não universalidade é a condição de ser ouvido nas propostas a fazer de
conhecimento racional. São propostas a respeito da vida das pessoas; a visão
desde um corpo, sempre um corpo complexo, contraditório, estruturante e
estruturado, versus a visão de cima, de lugar nenhum, do simplismo. Só o truque
de deus é proibido. [...] O feminismo ama outra ciência: a ciência e a política da
interpretação, da tradução, do gaguejar e do parcialmente compreendido. O
feminismo tem a ver com as ciências dos sujeitos múltiplos com (pelo menos)
visão dupla Donna(HARAWAY, 1995, p.30)
Cacofônica
Estilhaço
imagens
evoco possibilidades [in]significantes
As desintegrações iniciadas pela busca de dissoluções da supremacia da
cabeça/razão percorrem
Agora
uma corpa dançante
Vísceras,
pele,
ossos,
musculaturas engajadas em revoluções espiraladas
Dança/o.
46
47
#meuamigosecreto- o diretor
#meuamigosecreto me olha como pai,
Me ensina os passos da dança,
Me conduz à “excelência técnica”,
Dirige
2015, a hastag #meuamigosecreto ganhou visibilidade nas redes sociais.
Presença
Cuida de meus gestos a todo tempo
Com seu olhar zeloso,
Preciso.
Meu dia se torna dança
Do início ao fim
Sua voz ressoa em minhas ações
Não consigo realizar movimento algum sem que seus ensinamentos se façam
Presentes.
Tomo um copo d’água
E sua voz está lá
Varro a casa
E sua voz está lá
Passo pano
E sua voz está lá
Bato claras em neve
E sua voz está lá
Abro a porta
E sua voz está lá
Caminho
E ainda
escuto
Transo, sua voz estala.
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Estala
Click
Gatilho
De repente
Percebo
Tardia?
Retardada?
Abusada?
Outro dia
ele falou:
"Adoro as manifestações feministas. Adoro feministas! Adoro ver uns peitinhos! Eu sou
homem,
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Pede para que eu puxe uma carroça... com todos do elenco em cima
60Kg
carregam 900Kg
Força?
Virilidade?
Tortura?
Burra!!!
Penso sobre culpa.
A carroça ganhou um cachê maior que o meu.
#meuamigosecreto- o militar
#meuamigosecreto chega por trás,
pega em [m]eu pescoço,
me cumprimenta com cordialidade.
O que quer(o) dizer com isso?
Desde quando as mãos dele no pescoço dela refletem amabilidade?
Violências correntes nas sutilezas cotidianas
Entrelinhas discursivas nas relações dançantes de poder
Separadas por muros conceituais é difícil não apelar aos binarismos.
Homem Heterossexual Branco/Mulher(es) múltiplas sexualidades cores
Ele mostra orgulhoso suas costelas sangrando
Fraturas causadas pela “histeria dela(s)”.
Furor
Uterino
Ousara(m) quebrar os ossos/estruturas do “Deus pai todo poderoso, criador do céu e da terra”
Credo
O que quer(o) dizer com isso?
Reflexos defensivos construídos por antepassadas repelem os dedos que me tocam
[Im]posição
De
Pó
Si
To
Reproduzo.
Não!
Parto
Parteira(s)
do conhecer não reconhecido
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Por vergonha
Temor
Tremor
[Des]conhecido(a)
da razão
Um sorriso ameniza o contragolpe
Violenta
Sub
Verto(a)
De quem são essas mãos que desejam controlar minha cabeça?
e
Apaga(o)[m]eu corpo s d
e nto e à il
vim nt s
O que quer(o) dizer com isso r mo fre o Bra
po am d
-Já fui militar 8, st te
e 201 /proteesiden
Outro(a) dia me d am pr
o ano testavgora,
o
Fala a n pr , a
criad que ão do
Falo tag s leiç
Has lhere tura/e
Penetra mu ndida .
ca lenão
Ação #e
Escuto a voz de um médico que orienta a cura para #elenão
“Você não fala, mas você tem que falar. Você é o falo! E você não fala porque ela não lhe acolhe.
Você [o médico aponta para #mariellepresente] tem que acolher porque você é o cesto”
Biologismo
Essencialismo ato da
ós assassinrrido no
Fixa ap , oco
criada Franco
Hastag ora Marielle 14 de
Lugar veread Janeiro, em
Científico(a) Rio de de 2018.
março
Falo cuspindo neutralidades enquanto me/nos fode
[m]eu corpo conhece essa HIStória de heróis/deuses da iluminação...
Agora
Disseco
Exponho as costelas do obstetra que negou meu conhecer
Parteira de [m]eu corpo
Métodos de [r]existência encarnados em um cotidiano de violências abafadas por séculos.
TEMPO
ESGOTADO. Alerta temporizador
Cf: MARTINS, Ana Paula Vosne. A ciência dos partos: visões do corpo feminino na constituição da obstetrícia científica no século
XIX. Rev. Estud. Fem. [online]. 2005, vol.13, n.3, pp.645-666. ISSN 0104-026X. http://dx.doi.org/10.1590/S0104-
026X2005000300011.
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O tempo para realizar essa escrita acabou.
Inconclusa
Continuo coletando informações sobre #meuamigosecreto
Até quando seremos cúmplices?
Até quando sufoco por esse segredo?
Recordo
“Que tiranias vocês engolem cada dia e tentam torná-las suas, até asfixiar-se e morrer por elas, sempre em
silêncio?” Audre (LORDE, 1977)*
Cumplicidades de uma dança que se repete.
Ainda temos muito[s] para revelar.
*Sem numeração de página. Fonte: Web. Disponível em: http://www.geledes.org.br/a-transformacao-do-silencio-em-linguageme-acao/. Acesso em: 20 out 2018..
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REFERÊNCIAS
COUTINHO, Valdi. Bernot e seu apelo em torno da dança em PE. Diário de Pernambuco, Cena Aberta,
1979. In: RECORDANÇA. Presente Passado Movimento: a dança de 80 pelo olhar do RecorDança. 2013.
DELEUZE, Gilles; GUATTARI, Félix. Introdução: rizoma. In: Mil platôs, v. 1, 1995. Disponível em:
https://rizoma.milharal.org/files/2012/11/Rizoma-Deleuze_Guattari.pdf. Acesso em: 15 dez 2015.
HARAWAY, Donna. Manifesto Ciborgue: Ciência, tecnologia e feminismo-socialista no final do século XX.
In. Tadeu, T.(Org.) Antropologia do ciborgue: as vertigens do pós-humano. Belo Horizonte: Autêntica, 2009.
Pp 33-118.
HARAWAY, Donna. Saberes localizados: a questão da ciência para o feminismo e o privilégio da
perspectiva parcial. Cadernos Pagu, São Paulo, n. 5, p. 07-42, 1995.
LORDE, Audre. A transformação do silêncio em linguagem e ação. Comunicação oral no painel
“Lésbicas e literatura” da Associação de Línguas Modernas em 1977 . Disponível em:
http://www.geledes.org.br/a-transformacao-do-silencio-em-linguageme-acao/. Acesso em: 20 out 2018.
LORDE, Audre. La Hermana, La Extrajera: artículos y conferencias. 1984. Disponível em:
https://glefas.org/download/biblioteca/feminismo-antirracismo/Audre-Lorde.-La-hermana-la-extranjera.pdf.
Acesso em: 10 mai 2019.
MARTINS, Ana Paula Vosne. A ciência dos partos: visões do corpo feminino na constituição da obstetrícia
científica no século XIX. Rev. Estud. Fem. [online]. 2005, vol.13, n.3, pp.645-666. ISSN 0104-026X.
http://dx.doi.org/10.1590/S0104-026X2005000300011.
NARVAZ, M. G.; KOLLER, S. H. Metodologias feministas e estudos de gênero: articulando pesquisa,
clínica e política. Psicologia em Estudo. [online]. 2006, vol. 11, n. 3, pp. 647-654. Disponível em:
<http://dx.doi.org/10.1590/S1413-73722006000300021>. Acesso em: 10 set 2019.
RECORDANÇA. A Dança [e a] política em Recife nos anos 80. In: Presente Passado Movimento: a dança
de 80 pelo olhar do RecorDança. 2013.
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@coletivacoletivacoletivaco
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