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(PARTE 1)
Índice
Ilustração de Capa
Ilustrações Coloridas
Créditos Tradução
Prólogo: Atoleiro, O Aventureiro
Capítulo 01: Carta-Convite
Capítulo 02: Exame de Admissão
Capítulo 03: Primeiro Dia de Escola
História Paralela: Sylphiette (Parte 1)
Capítulo 04: O Começo da Minha Vida Escolar
Capítulo 05: Um Poder Inacessível (Parte 1)
Capítulo 06: Um Poder Inacessível (Parte 2)
Capítulo 07: O Sequestro e o Confinamento das Garotas Feras
(Parte 1)
Capítulo 08: O Sequestro e o Confinamento das Garotas Feras
(Parte 2)
História Paralela: Sylphiette (Parte 2)
Epílogo
Capítulo Extra: Juliette e Boas-Maneiras
Arte dos Personagens
Ilustração de Capa
Ilustrações Coloridas
MUSHOKU TENSEI
- Isekai Ittara Honki Dasu - Vol. 08
Rifujin na Magonote
Ilustrações por Shirotaka
Retirado do site:
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— Não. Agora que fiquei famoso por aqui, estarei indo para o
próximo país em breve.
Ele estava procurando por sua mãe. O Atoleiro sabia muito bem
que encontrar uma única pessoa em um mundo tão vasto, cinco
anos após o Incidente de Deslocamento, seria um desafio difícil.
Então escolheu fazer um nome para si mesmo em todos os lugares
que fosse, meticulosamente vasculhando seus arredores enquanto
trabalhava de um país para outro, na esperança de que, se ficasse
famoso o suficiente, poderia ser sua mãe quem o encontraria.
— Certo.
Eles não estavam ali para matar ursos. Seu alvo era um Wyrm
Vermelho, e como havia tão poucos deles, não podiam desperdiçar
sua energia lutando contra outros monstros. Ainda assim, quando as
roupas de alguém pegavam fogo, não tinha escolhas a não ser
parar, se jogar no chão e rolar.
— Certo!
— Atoleiro!
— Tá!
— Agora!
— Gah…!
Ele correu na direção oposta de seus companheiros. Se o inimigo
estava focado nele, então era seu dever usar isso para dar tempo a
seus camaradas para fugirem.
— Parece que não foi só conversa fiada quando você disse que
viajou pelo Continente Demônio.
— Sempre pensei que você fosse forte, mas não posso acreditar
que realmente derrotou aquela coisa!
— Não seja tolo… Além disso, não posso carregar tudo sozinho
e, se deixarmos aqui, atrairá outros monstros. Peguem o que
puderem e vamos queimar o resto. Não queremos que ele se
transforme em um dragão zumbi.
Com isso, a missão que deveria ter sido uma viagem de ida e
volta de sete dias foi concluída em um único dia. A parte do Atoleiro
no saque – escamas, ossos e até carne do Wyrm Vermelho – foi
vendida por uma pequena fortuna. Ele voltou para a pousada com
uma bolsa cheia de moedas, comeu uma refeição mais modesta do
que normalmente fazia no café da manhã e então se retirou para
seu quarto, onde o homem fiel deu graças a seu Deus por ter
sobrevivido com segurança durante o dia. Esse ritual pareceria
peculiar aos não iniciados, mas era importante para ele.
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Bam!
— Pensei que você estava mais ao leste — disse ela, com seus
lindos olhos fixos em mim. Por alguma razão, havia baba
escorrendo de sua boca. Ela a lambeu.
— Qual é o problema?
— Nossa empregada.
— Hã? Não, não é. Ora, ora, por que está perguntando sobre
isso? — falei. Oops. Comecei até a falar como ela.
Bem, tanto faz, não importava; eu não tinha intenção de sair com
ninguém, de novo, tão cedo assim.
— Boas notícias?
Foi nesse dia que soube que o paradeiro de Zenith havia sido
confirmado.
Capítulo 01:
Carta-Convite
Uma semana depois de descobrir onde Zenith estava, eu ainda
continuava na pousada em Basherant. Ela aparentemente estava na
Cidade Labirinto de Rapan, em algum lugar no centro do Continente
Begaritt, e por mais que eu quisesse partir de imediato, isso ficava
longe. Não fazia ideia de quantos meses demoraria para fazer a
viagem a pé. Poderia demorar até mais de um ano.
— Só estou te provocando.
— Huff… huff…
Fiz tudo o que pude para consertar o problema. Soldat tinha até
me levado com ele para o distrito da luz vermelha, onde meu
coração bateu forte enquanto uma mulher me atendia. No final das
contas, foi um fracasso. Minha tulipa não floresceu, em vez disso,
caiu em silêncio. Além do mais… não, vamos parar por aí.
— Ah!
— Ah.
— Não, não é o que você pensa, Soldat. Ela com certeza não é
minha mulher. Além disso, você sabe que o meu não está em
condições de funcionamento, não sabe?
— Ah, é, é mesmo, uh… então, foi mal por esfregar sal em suas
feridas. Eu não queria fazer isso. Além do mais, você me ajudou a
conseguir muito dinheiro há pouco tempo.
— Sim, foi muito bom — disse ele, seu rosto derretendo em uma
expressão de felicidade.
— Ah, sério…
Ah, bem… não é problema meu. Eu não iria enfiar meu nariz
onde não era chamado, igual fiz nos últimos dois anos. Não fiz nada
para despertar a ira de ninguém e não comecei nenhuma briga. Em
outras palavras…
— Senhorita Elinalise.
— Claro.
— Ei, o que foi isso? — Com base em sua expressão, Soldat não
fazia ideia do que estávamos falando.
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Elinalise era uma guerreira de rank S. Uma vez fomos para uma
missão de eliminação juntos e, como esperado, ela era boa –
embora não fosse párea para Ruijerd, mesmo sendo um pouco
injusto compará-la a ele. Ela tinha uma beleza régia, élfica, com
cabelos dourados radiantes e magníficos cachos longos. Seu
comportamento suave e sua maneira distinta com as palavras
acariciavam os egos dos homens; ao fitá-los diretamente nos olhos
e tocá-los com pequenas carícias, ela os desarmava sem nem
mesmo tentar qualquer coisa. Sua destreza no quarto também era
claramente impressionante, porque quase todos os homens que
passavam uma noite com ela ficavam completamente exaustos no
dia seguinte.
Dito isso, ela não ignorava ou desprezava as outras mulheres.
Desempenhava o papel de irmã mais velha para as garotas mais
novas, dando-lhes conselhos sobre relacionamentos, ensinando-as
a atrair os homens e protegendo-as em combate. Ela nunca tentou
seduzir um homem que já tinha uma parceira. Se ignorasse os seus
seios pequenos, era perfeita.
— Opa. Eu tenho que dizer, sinto muito por isso… gosto tanto do
nosso tempo juntos que receber dinheiro por isso parece meio…
Certo…?
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Jenius Halphas,
— Não vou sair para pegar garotas, então você não precisa vir
comigo.
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Já passava do meio-dia e não havia muitos aventureiros por
perto. Soldat e o resto do Líder Escalonado também não estavam
por perto. Apesar de serem ursos, os Ursos Esplendorosos não
hibernavam no inverno, e os pedidos de eliminação apareciam aos
montes.
— Hein?
— Como pode ver pelo meu sobrenome, sou de uma das famílias
mais nobres do ramo Asurano.
— H-hein…?
— Ah… foi mal, não devia ter perguntado, todo mundo tem seus
motivos.
Eu o deixei desconfortável. Queria me esquecer de Eris, mas
cada vez que algo assim acontecia, eu era atingido pelas memórias.
Com certeza já estava na hora de seguir em frente. Eris superou as
coisas bem rápido. Provavelmente já havia se esquecido de mim há
muito tempo. Não fazia sentido se apegar a esses sentimentos. Foi
tão fácil acabar com meus sentimentos por Sara, então por que não
conseguia esquecer de Eris?
Por que essa mulher era tão popular? Bem, de qualquer forma,
tomei uma decisão sobre a Universidade. Era uma proposta
atraente, mas ia deixar a minha matrícula para depois.
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— É, já faz um tempo.
Sim. Nunca imaginei que até a Roxy estaria procurando por ela.
— Você não acha? Depois que a Eris sumiu, você passou por
todos aqueles problemas para ficar com aquela garota, Sara, e
então suas regiões inferiores não entraram em campo. Sua magia
pode ter melhorado um pouco, mas nos últimos anos chegou em um
beco sem saída. A sua esgrima também não melhorou muito,
mesmo praticando todos os dias. A única coisa que realmente ficou
mais forte foi o seu corpo, mas é disso que você quer se gabar?
— É, é algo do tipo.
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Então ali estava eu, na cama com uma bela mulher mais velha
que não se importava com castidade, e ainda assim meu garotinho
continuava firmemente deitado. Eu estava insanamente excitado,
mas não houve qualquer arrepio na minha espinha, nenhuma
reação lá embaixo.
— Hmmm…
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— Todos… obrigado por tudo que fizeram por mim até agora.
— O quê?
— Bem, então, vou ver esse tal senhor Jenius em pessoa. O que
você vai fazer, Senhorita Elinalise?
— Também vou.
— Por quê…? — Achei que ela iria a algum lugar como a Guilda
dos Aventureiros para farejar um homem.
— Sem problemas. Isso pode ser uma surpresa para você, mas
tenho muito dinheiro, sabe — disse ela, dando um tapa na bolsa de
moedas. Aquilo continha não apenas moedas desta região, como
também mais de cinco moedas de ouro asurano. Eu também sabia
que ela tinha uma série de cristais mágicos em sua mochila – lindos
cristais, em forma de orbe, grandes o suficiente para caber na palma
da minha mão. Cada um devia custar pelo menos dez moedas de
ouro asurano. Me perguntei onde ela pôs as mãos naquelas coisas,
mas Elinalise era uma aventureira que normalmente mergulhava em
labirintos. Talvez já os tivesse há algum tempo, carregando-os no
lugar de dinheiro.
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A Universidade de Magia de Ranoa ocupava um vasto terreno, o
campus era repleto de enormes edifícios de tijolos, incluindo um no
centro que parecia com um castelo. Para um olho destreinado,
poderia parecer uma fortaleza. Isso me lembrou da Universidade
Tsukuba na Prefeitura de Ibaraki, embora eu só tivesse a visto em
fotos.
— Não sei.
— Obrigado.
— Está?
— Mentirosa.
— Uff — exalei.
— E você é?
— Uhum…
Ele deu a ela um olhar que dizia: Quem diabos é você e o que
está fazendo aqui? mas Elinalise parecia totalmente imperturbável.
Jenius encolheu os ombros e fez um gesto para que nos
sentássemos.
— Nunca imaginei que você chegaria até nós tão rápido — disse
ele.
Para você é Senhorita Roxy, seu punk! Gritei por dentro, embora
tenha ficado quieto.
— Não foi isso que eu quis dizer, embora ela também tenha me
recomendado esta escola.
— Entendo.
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— Impressionante.
— Eu não iria tão longe a ponto de dizer que está doente. É mais
como… se estivesse sofrendo com uma maldição ou coisa assim.
— Entendo, então você veio aqui para pesquisar como remover
uma maldição? Isso é louvável.
— Ah… hm? As, s-sim! — Fitz tentou dizer algo, mas eu já tinha
terminado a minha apresentação. Afinal, a primeira pessoa a se
apresentar era a vencedora! Sua boca continuava abrindo e
fechando, mas, finalmente, ele conseguiu dizer: — Fitz. Prazer.
Sua voz estava um pouco estranha e alta; parecia que ainda não
havia chegado à puberdade. Definitivamente mais jovem do que eu,
mas um veterano ainda era um veterano. Com medo de deixar uma
má impressão, decidi mostrar alguma deferência.
— Uh… sim.
— Então…
— Atrapalhar Magia!
E fogo!
— …!
Nenhum de nós disse nada. Seu olhar ficou cada vez mais
intenso. Tive a sensação, de alguma forma, de que realmente tinha
estragado tudo. Aqueles reunidos em torno do outro círculo mágico
também se viraram para olhar na minha direção. Jenius estava com
os olhos arregalados. Elinalise bocejou.
Fitz balançou a cabeça. Acho que não. Isso não devia ser tão
conhecido, embora eu achasse particularmente útil em batalhas com
outros magos… Pensando bem, nos dois anos em que estive me
aventurando, nunca vi ninguém usando tal magia, fora Orsted.
— Hein?
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— Se colocar meia-calça até nas coxas vai ficar tudo bem, não
vai?
— Entendo. Eu devia esperar isso de você, Rudeus. Você é um
gênio. — Ela seguiu o meu conselho e dobrou a saia igual uma
colegial. Em seguida, moveu a cintura até que sua calcinha
extravagante ficasse quase visível.
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Não, não era isso… Era por causa de como foi hilário vê-lo
tentando freneticamente manter a peruca em sua cabeça.
Não cantamos o hino escolar. Para começar, não havia nem hino
escolar, apesar de o país ter sua própria música.
— Mestreeeee!
— É? Fico feliz em ver que Vossa Majestade está indo tão bem.
Assim que as coisas se acalmarem, vamos fazer uma estatueta
juntos.
Isso foi legal. Me fez lembrar dos alunos dos anos anteriores no
meu ensino fundamental, que se agarraram a mim da mesma forma
enquanto eu me gabava por ter montado meu computador sozinho.
— Zanoba, então.
— Sim, Mestre.
Ela disse “mew”! Isso era algo que eu associava à tribo Doldia. E
Eris… não, não vamos por esse caminho.
— Objetivo, eh? Nada mal, mew. Sou Linia Dedoldia, quinto ano,
mew. Embora você possa não saber apenas de olhar para mim, na
verdade sou filha de Gyes, o Guerreiro Chefe da Vila Doldia da
Grande Floresta. Em algum momento, vou herdar a posição de
Chefe da Vila, então é melhor começar a me servir agora mesmo,
mew!
Eu disse:
— Isso fede.
— Porra.
— Ei.
— Senhorita Eris…
Isso me abalou. Ele encontrou Eris nos últimos dois anos? Sem
chances… ela estava na Universidade?!
Ele olhou para mim sem responder. Essa era uma pergunta
ruim? Ah, será que ele era uma das pessoas que ela socou no
passado? Sinto muito, realmente sinto, peço desculpas por ela,
pensei comigo mesmo.
Senti que iria chorar. Então realmente foi o sexo que a afastou de
mim. Se eu fosse maior, então… Pensando bem, também senti uma
vibração parecida pela maneira como Sara olhou para mim. Seu
rosto dizia: “Ah, nossa, você é menor do que pensei que seria.”
— Parado!
— Eh?
— Nunca te vi antes. Você é novo por aqui? Por que não está na
aula?
— Ah!
— Só um pouco de pesquisa.
— O Incidente de Deslocamento.
— Sim. Demorei três anos para voltar para casa. Toda minha
família já foi encontrada, mas ainda há uma pessoa que está
perdida. Esta parece ser uma boa oportunidade para fazer algumas
pesquisas.
Eu não tinha certeza do que era tão “incrível”, já que ainda não
tinha descoberto nada. Talvez ele tivesse reconhecido o meu poder
após nossa simulação de batalha no outro dia. Bem, tanto faz.
— Ah, claro. Você deveria ler um livro escrito por Animus sobre
teletransporte, chamado Uma Consideração Exploratória sobre
Teletransportação em Labirintos. Isso não é ficção criativa, mas é
fácil de ler.
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— Urgh…
Abaixei a minha cabeça. Então ele sabia do meu teste com Fitz.
Fitz não parecia zangado com o que aconteceu, mas seus
companheiros talvez estivessem chateados em seu lugar.
— Acho que sim, hein? Por essa conversa, parece que sim.
— Se elas estão fazendo algo que você não gosta, por favor me
diga. Posso não ter muito poder, mas vou ajudar.
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— Hm?
Algo caiu. Era branco, mas não era neve. Por instinto, agarrei
aquilo.
— Ooh.
Hã?
O grito da aluna não veio de cima, mas sim de trás de mim. Em
pânico, me virei para encontrar uma pessoa gritando e apontando o
dedo para mim. Isto é um equívoco!
— Hmph!
Ela me puxou pelo braço. Tentei resistir, mas tudo que fiz foi
deixar algumas marcas de derrapagem no chão. Nesse ritmo, seria
arrastado para algum lugar e levaria uma surra indescritivelmente
horrível, e tudo por causa de uma falsa acusação. Deveria correr?
Mesmo sem ter feito nada de errado? Mas correr seria como
declarar a minha culpa…
Não, eu tinha que manter minha posição. Não fiz nada de errado.
— Lorde Fitz!
— Não acabei de dizer que ele não fez nada de errado? Basta.
Agora solte a mão dele.
— S-senhor… Fitz?
— Lorde Fitz, vou deixar isso passar. Mas você aí! É melhor
nunca mais mostrar sua cara no dormitório feminino em uma hora
dessas! Da próxima vez que te ver, não vou mostrar misericórdia! —
A mulher corpulenta cuspiu essas palavras antes de voltar para a
janela da qual havia saltado. As outras garotas também zombaram
de mim enquanto desapareciam. Em um instante, foram todas
embora.
Afinal, por que diabos um garoto como ele estava lavando roupas
íntimas no dormitório feminino? Eu queria perguntar algo assim…
mas ele era o guarda-costas capaz e altamente confiável da
Princesa, então devia possuir algum tipo de permissão especial. Ele
parecia um homem honesto. E era confiável, jovem e seus óculos o
faziam parecer ainda mais elegante.
A razão pela qual ele estava tão frenético me acertou. Fitz devia
ter pensado que elas se machucariam se eu liberasse o meu poder.
Então agiu para garantir a segurança delas… mas mesmo assim,
senti compaixão em suas ações. Se isso fosse um mangá shoujo,
seria nesse momento que nossa história de amor começaria.
— Ainda assim, aquilo tudo veio do nada. O que ela quis dizer?
— perguntei.
— Eu não sabia.
— Isso é segredo.
— Mm… Aaah…
Troquei meu pijama por roupas que serviam para se mover com
facilidade; um top marrom-claro e calças, feitas de material macio.
Nada sexy. Antes de sair, coloquei um chapéu gigante que cobria
completamente o meu cabelo e orelhas.
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Correr fazia parte da minha rotina matinal diária. Era algo que eu
fazia desde que Rudy e eu nos separamos. Correr era importante.
Eu não tinha entendido isso logo após ele partir, mas passei a
entender. Poder continuar correndo quando estava no limite,
convencida de que não poderia ir mais longe, tornava-se a diferença
entre a vida e a morte. Não importa o quão bom alguém seja em
magia ou esgrima, no final, o mais importante era a resistência.
— Huff… huff…
Um dos meus objetivos para o início de cada dia era continuar
correndo na Cidade Mágica de Sharia até não aguentar mais. Ao
fazer isso, não apenas me familiarizava com a disposição da cidade,
como também aprendia os meus limites físicos. Ninguém havia me
ensinado isso, mas era algo que pensei que Rudy faria se estivesse
no meu lugar.
— Sylphie… dia.
— Uff…
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— Sylphie, Sylphie!
— Você está forte como sempre, Mestre Frict. Se não for muito
incômodo, se importaria em me dar alguns conselhos?
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— Entendido.
Pelo visto ela não tinha planejado nada de demais para o dia. Às
vezes, tirávamos um dia para relaxar após uma grande discussão
em grupo, embora esses dias fossem poucos e raros, dependendo
inteiramente dos caprichos da Princesa. Bem, chamar isso de
capricho não era completamente correto – era algo que ela decidia
após levar nossos estados mentais em consideração.
— Não, isso só é algo que aprendi com uma garota com quem
saí no outro dia. Algumas delas são bem informadas.
— Ah, então é até aqui que isso leva. Com certeza é um atalho
— disse a Assistente, surpresa ao sairmos do beco. Nosso destino,
a loja de roupas, estava diante de nossos olhos.
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Depois do jantar voltei para o meu quarto. Quando deu a hora de
dormir, olhei para a roupa de baixo estendida acima da minha cama.
Um sutiã e uma calcinha combinando.
— Hmm…
— Você precisa ter uma roupa íntima mais sexy, Sylphie, para se
sentir confiante e assumir o controle quando chegar a hora certa —
disse ela. Talvez tivesse me escutado resmungando comigo mesma
durante a manhã. Ainda assim, o que diabos quis dizer com “quando
chegar a hora certa”?
— Rudy, hein?
Talvez eu quisesse me dar bem com ele. Era graças a ele que
minha vida estava como estava. Queria ser amiga dele e retribuir o
favor – não, não era exatamente isso. Não era só isso. Esses
sentimentos com certeza não eram derivados só de gratidão. Eu
provavelmente… sim, acho que queria mesmo…
—…
Meu rosto esquentou quando cheguei a uma conclusão.
Mergulhei na cama como se estivesse tentando me livrar dela e
abracei o cobertor. Me enrolei em forma de bola, resistindo à
vontade de rolar para lá e para cá.
— O que eu faço…?
Voltei para a biblioteca assim que a aula acabou. Lá, passei meu
tempo pesquisando o teletransporte até ficar escuro do lado de fora.
Eu, tecnicamente, procurei em toda a literatura, mas como resultado
da magia de teletransporte ser rotulada como uma arte proibida, não
havia nada detalhado. O livro sobre o qual Mestre Fitz havia me
falado, Uma Consideração Exploratória sobre Teletransportação em
Labirintos, poderia ser a informação escrita mais extensa dentre as
disponíveis.
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— Ah, uh, não sei nem o que dizer… — Lembrei da lista dos
falecidos no Campo de Refugiados; das centenas de nomes que
constavam nela. Passaram-se cinco anos desde o desastre. A
chance de sobrevivência para os desaparecidos era basicamente
zero. Eu tinha certeza de que o conhecido do Mestre Fitz e qualquer
outra pessoa que ainda estivesse desaparecida provavelmente já
estava morta. Eu fui um dos sortudos, já que minha família inteira
ainda estava viva.
— Uh, um… ei, Rudeus. Queria falar sobre uma coisa com você.
— Fitz de repente começou a coçar a parte de trás da orelha
enquanto olhava para o próprio colo e murmurava.
Inclinei a cabeça.
— Sim, eu também.
Então era isso. Ainda assim, baseado no que ele estava dizendo,
Mestre Fitz era bastante forte. Ele derrotou Linia e Pursena, que
haviam derrotado Zanoba. Ei, espera aí. Isso significava que eu era
o mais forte desde que derrotei o Mestre Fitz, certo?
— Mas tenho certeza de que você vai ficar bem — disse Fitz.
— Tudo bem, obrigado por hoje. Fico ansioso pela nossa próxima
conversa.
— Amanhã não tenho tempo livre, mas vou dar uma passada
pela biblioteca — disse Fitz, antes de caminhar em direção ao
dormitório feminino. Ele tinha entrada livre naquele palácio cheio de
mulheres. A única razão pela qual não senti inveja foi,
provavelmente, por ainda conseguir me lembrar daquele terror
musculoso de outrora.
Ou talvez, apenas talvez, pudesse usar minha conexão com o
Mestre Fitz para me infiltrar naquele palácio, e essa seria a chave
para alcançar meu objetivo final nesta escola. No momento, ainda
não conseguia ver o significado por trás do conselho do Deus
Homem.
— Mm, eu tenho uma razão para isso, mas não posso te dizer.
Foi mal.
— Está tudo bem. — Eu queria ver como seu rosto parecia sem
eles, mas não tinha intenção de forçá-lo a mostrar o que estava
escondendo. — De qualquer forma, em que andar do dormitório
você mora? — perguntei. — Nunca vi você no horário das refeições.
— Uh, eu sei cozinhar, mas… o que isso tem a ver com qualquer
coisa? — Ele não entendeu a minha piada. E ainda assim riu,
embora eu não tivesse certeza do que estava achando engraçado.
Isso mesmo, o homem misterioso, Fitz, estava rindo.
Amor. Sim, ele amava estatuetas. Era muito parcial com elas.
Havia, por exemplo, uma estátua de bronze de uma mulher nua em
seu quarto. Uma estátua de uma silhueta esguia e ligeiramente
lustrosa de uma mulher que chegou a comprar por impulso quando
a viu no mercado. Quando visitei o quarto de Zanoba pela primeira
vez, foi apenas para vê-lo também totalmente nu, com os braços em
volta da estátua – a culpa foi minha por não ter batido. Ele correu
para vestir as roupas e se curvou para mim, se desculpando por me
mostrar algo tão feio.
— Sim, Mestre!
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Havia dois motivos para isso. Um era que não podia usar magia
não verbal, e o outro era que sua capacidade total de mana não
chegava nem perto da necessária.
Para ser sincero, havia muito pouca gente neste mundo que
poderia usar magia não verbal. Os únicos que conheci foram
Orsted, Fitz e Sylphie. Houve outro exemplo nesta escola, um
professor que podia usar magia do vento sem encantamentos, mas
ele tinha morrido no ano anterior.
Eu não tinha percebido, já que fazia isso desde a infância, mas a
magia não verbal era uma técnica de alto nível. Parando para
pensar, nem Eris nem Ghislaine foram capazes de usá-la com
sucesso. Fazia sentido que alguém como Zanoba, que tinha
acabado de começar a aprender magia, não pudesse fazer isso.
O que fiz com ele? Refleti sobre minhas ações e pedi desculpas.
— Sinto muito.
— Cinzele isso.
Cinzelamento. Esse era o método mais primitivo, mais confiável,
mas também o mais difícil. Precisaria cinzelar a argila para formar
cada parte. Isso tornaria a criação de estatuetas possível até
mesmo para alguém sem mana. O único problema era que não
tínhamos ferramentas de cinzelamento, mas deveríamos ser
capazes de encontrá-las procurando por itens mágicos no mercado.
Eu já tinha até visto, em algum lugar, uma faca que poderia cortar
pedras como se fossem feitas de manteiga.
Ele não era muito hábil com as pontas de seus dedos. Isso era
graças ao poder com o qual nasceu – sua força sobrenatural. Isso
mesmo – sua “bênção” estava atrapalhando. Ele poderia se conter o
suficiente para não quebrar as coisas, mas essa era a extensão do
seu controle. Fazer um trabalho delicado, como cinzelar cada parte
com uma precisão cuidadosa, era difícil para ele.
Zanoba trabalhava duro, dia após dia, com seus olhos ficando
até mesmo vermelho-brilhantes enquanto o fazia. Sua paixão era
genuína. Ele era tão dedicado a criar estatuetas que não dormiu e
trabalhou até a beira da morte. Nada saiu conforme o planejado e
teve que refazer seu trabalho inúmeras vezes. Cada vez que isso
acontecia, chorava, gritava e emitia outros ruídos estranhos.
Finalmente, terminou – uma estatueta que ele mesmo criou, do
zero. Com certeza não era uma obra de arte. Era amadora e
aqueles de meu mundo teriam rolado de tanto rir ou feito memes
dela. Mas eu sabia que isso era uma representação de sua paixão,
então definitivamente não iria rir. No entanto, mesmo sem meu
escárnio, o próprio Zanoba sabia que estava malfeita.
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Achei o fato dele tentar imitar o que viu na mesma hora incrível.
Sua magia, entretanto, não tinha assumido a forma esperada. No
final, ele soltou um suspiro cansado e desistiu.
— Esta não é uma técnica que uma pessoa normal pode imitar
— concluiu Mestre Fitz.
— Mas seus dedos não são hábeis o suficiente para fazer isso —
concluiu Mestre Fitz. Ele cantarolou e colocou a mão no queixo
enquanto pensava. Ele tinha o hábito de fazer isso quando estava
pensando em alguma coisa. Os óculos de sol o faziam parecer
excepcionalmente elegante naquela pose.
— Sim, aquela pessoa tinha algo que queria fazer sozinha, mas
não tinha as habilidades ou técnicas necessárias — comentou
Mestre Fitz.
— Aha.
— Sim, de nada.
Por que me senti tão abalado quando vi aquele sorriso? Isso era
um mistério. Um mistério do já misterioso homem conhecido como
Fitz.
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— Ah, sério?
— Sim, então, um, já que não tenho nada para fazer, estava
pensando em ir na cidade, mas realmente não tenho nenhum lugar
em particular para ir, ou quaisquer amigos, então acabaria
sozinho…
Brincadeira.
Capítulo 06:
Um Poder Inacessível (Parte 2)
— Prazer em conhecer. Eu sou, um, Fitz.
— N-não, você não tem que ser tão, um… formal. Você é um
membro da família real, então, por favor, não faça cerimônia. —
Mestre Fitz acenou freneticamente com as mãos enquanto se
posicionava atrás de mim.
— Vamos entrar.
— Hm, há muitas lojas por aqui. Mestre, para onde devemos ir?
— perguntou Zanoba.
— Eu nunca fiz isso antes. Primeiro vamos dar uma olhada por
aí.
— Uh, um, uau… eles realmente estão todos nus. — Fitz estava
olhando para as lojas com os olhos arregalados de surpresa. Seu
rosto estava brilhando de tão vermelho. Segui seu olhar em direção
de um grupo de escravos magros e musculosos, provavelmente
guerreiros. A guerreira no meio deles era particularmente… bem-
dotada. Qualquer um pensaria que um par de melões daquele
atrapalharia no combate, mas eu já sabia, ao assistir Ghislaine
lutando, que isso não fazia diferença.
— V-você tem certeza disso? Ei, espera, isso significa que você
tem experiência… — Ele parecia subitamente abatido.
— Sério? Acho que ele deve ser uma pessoa muito importante.
— Afinal, o Mestre Fitz era o guarda-costas de uma princesa, então
seu mestre poderia ser um mago da corte ou algo assim.
Por que meu coração pareceu bater mais forte quando vi o seu
sorriso? Claro, eu poderia desmaiar por causa de garotos bonitos da
ficção, mas não era gay. Talvez isso fosse o meu corpo tomando
medidas drásticas em sua busca pela recuperação.
— Rudeus…
— Sim senhor!
— Não precisa ser uma anã. Se for hábil com as mãos, já vai
servir.
— Já vendemos os dois.
— Onde?
— Por aqui.
— Rudeus…
— Como você pode ver, ela é uma anã. Seis anos de idade,
então realmente não tem nenhuma habilidade para se mencionar.
Ambos os seus pais eram anões. Seu pai era ferreiro e sua mãe
trabalhava com joias. Ela deve ter as mãos hábeis que você deseja,
assumindo que herdou a habilidade deles, mas a única língua que
fala é a língua do Deus Fera. Não achamos que poderíamos vendê-
la, então sua saúde também não está nas melhores condições. Se a
quiser, podemos te dar um desconto.
Mestre Fitz olhou para mim igual a uma criança que encontra um
cachorrinho abandonado e quer levá-lo para casa. A garota atendia
aos nossos critérios… mas aqueles olhos realmente me
incomodaram.
—…
—…
— Um…
Ela apenas olhou para mim com aqueles olhos vazios, sem
oferecer uma única palavra em resposta. O subordinado de Febrito
estendeu a mão para o chicote que descansava em sua cintura,
mas o detive com minha mão.
Parando para pensar, ainda não era tarde demais para mudar as
coisas. Mas em vez disso, me afundei ainda mais no desespero,
optei por me isolar por completo, perdendo ainda mais as
esperanças. Eu queria morrer.
—…
—…
—…
✦✦✦✦✦✦✦
Levamos a criança a uma área de lavagem na beira do mercado
de escravos para dar banho nela e depois fomos ao Distrito do
Comércio para comprar roupas e outras coisas necessárias. Por fim
fomos a uma cafeteria refinada – não era um lugar ao qual eu teria
ido por conta própria, mas foi o Mestre Fitz quem escolheu. Ele se
encaixou perfeitamente bem no lugar, enquanto Zanoba ficava
imperturbável, assim como esperado da realeza. A garota que
tínhamos acabado de comprar estava totalmente focada em engolir
a comida, tornando-me a única pessoa que se sentia desconfortável
em um ambiente tão luxuoso.
— Nome?
— Um “nome oficial”?
— Então vai ser Julias — disse ele, sem qualquer sinal de que
havia feito qualquer consideração.
— Ela vai ficar no meu quarto, não vai? Então deve ter um nome
com o qual eu sinta alguma conexão.
— Julie…?
— Juliette.
Por que, então, essas garotas estavam tão longe de casa para
estudar em uma terra tão distante? Porque o príncipe (Gyes) e a
princesa (Ghislaine) da geração anterior bagunçaram tudo e, como
eles, Linia e Pursena não eram muito inteligentes. O Líder Tribal
Gustav ordenou que fossem estudar em uma terra longínqua na
esperança de que encontrassem sabedoria, talvez pensando que
estar em um lugar onde não poderiam exercer sua autoridade lhes
ensinaria o significado disso.
✦✦✦✦✦✦✦
Finalmente, falei:
Tremi pelo que, a princípio, pensei ser medo, mas logo percebi
que era alegria.
— Sim, Mestre!
✦✦✦✦✦✦✦
Imperdoável.
— S-sim?
— Certo!
— Mas, desta vez, será duas contra dois. Em uma partida mais
igualitária, você, Zanoba, não deve ter problemas para acompanhá-
las, já que é uma Criança Abençoada.
— Zanoba.
✦✦✦✦✦✦✦
Linia deu uma longa olhada em Zanoba, que estava parado atrás
de mim. Então soltou um único suspiro.
— Hmph.
Em resposta ao desdém de Zanoba, uma veia azul pulsou na
testa de Linia.
— Ora, seu! Não gosto da sua atitude, mew. Parece que você
quer que quebremos aquela outra estatueta que você tem, mew.
— Novato! Não fique tão cheio de si, mew! Vou ser legal e deixar
isso passar, já que você é conhecido do meu avô, mas continue
latindo assim e eu vou te destruir!
— Mew?!
— Shah!
— Gyah?!
E, claro, essas não eram coisas que Eris sabia desde o início.
Foram coisas que aprendeu lutando comigo. Mas também havia
Paul, que encontrara uma maneira semelhante de lidar com meus
ataques, mesmo na primeira vez em que os viu. Um espadachim de
nível Avançado com enorme experiência em batalha poderia
facilmente evitar algo como o meu atoleiro. Quero dizer, nem
mesmo as feras selvagens iriam – na verdade, o retardatário foi
pego em meu atoleiro.
— Mrggh?!
— Mmm! Mmm!
— S-seu Deus?
— Mm!
—…
— V-você entendeu mal! Quem pisou nela foi a Linia. Eu disse para
ela parar.
— Mm?!
— S-se você fizer algo estranho conosco, meu pai e meu avô vão
atrás da sua cabeça, mew! Eles são os dois guerreiros mais fortes
da Grande Floresta, então… ah… — Linia parou um pouco,
parecendo lembrar que eu também conhecia Gyes e Gustav. Isso
me fez lembrar de minha punição na Grande Floresta.
— N-não, nós faremos o que você quiser, então tudo menos isso,
por favor, mew!
— Isso aí que ela disse, mew! Você pode fazer o que quiser
comigo… gwah?!
Mas isso não era verdade… As peças estavam todas lá, e a parte
mais importante, o cajado, estava completamente intacto. Minhas
habilidades também melhoraram desde que a criei. Agora podia
fazer estatuetas mais detalhadas, sem quaisquer linhas perceptíveis
por onde os segmentos se juntavam.
Espera.
Não! O problema não era esse! O problema era que essas duas não
tinham escrúpulos e destruíram algo que era precioso para outra
pessoa. Se eu acabasse lhes mostrando bondade neste momento,
com certeza voltariam a fazer a mesma coisa! Mas agora que havia
me acalmado, não conseguia pensar em nenhuma forma
satisfatoriamente diabólica de punição.
*******
— O quê?! Sério?
— Sim. Então, se eu contar para eles que dei uma lição naquelas
duas por estarem vadiando na escola, tenho certeza de que vão
entender.
É claro que sei disso. Eu sabia muito bem que alguns limites não
deveriam ser ultrapassados. “Vira-lata” era um termo carinhoso meu
e da Fera Sagrada.
Pensei que ele poderia me dizer para apenas soltar as duas, mas
sua raiva parecia ser alimentada pelo fato de que elas tiveram como
alvo alguém que ele conhecia. Considerando suas ações no
mercado de escravos, Mestre Fitz podia ser uma pessoa com um
forte senso de justiça.
*******
— Sim senhor!
— Woof!
*******
Assim que terminamos, minha raiva tinha se dissipado quase por
completo.
— Porra.
— Esta tinta especial é usada por uma certa tribo para modelar
os seus corpos — explicou o Mestre Fitz. — Se eu entoar o
encantamento correto, as marcas se tornarão permanentes. Mesmo
a água jamais irá removê-las. Se fizerem algo, usarei o
encantamento e vocês ficarão com isso nos seus rostos para
sempre!
Ele ria enquanto falava. Quase como uma criança que foi bem-
sucedida ao pregar uma peça em alguém. Isso era incrivelmente
cativante.
*******
O Mestre Fitz ficou no meu quarto por um tempo. Ele estava por
algum motivo inquieto, parecia incapaz de se acalmar. Vagava sem
rumo, parando só quando encontrou algo peculiar e resolveu me
perguntar a respeito.
— Vá em frente.
Não – ele disse que havia uma razão para usá-los. Poderia, por
exemplo, ter um complexo de aparência. Vamos deixar isso pra lá,
pensei. Eu não queria que ele me odiasse.
— Ver o quê?
— Meu rosto.
Aí, viu. O rosto dele. Por que não pensei nisso antes? Parecia
até que estava esperando que ele me mostrasse outra coisa. Ele
era um homem, então o que é que eu iria querer ver? Que parte
dele que eu queria que ele me mostrasse?
— Eu quero ver.
Eu estava errado. Pelo visto, eram ordens reais. Bem, isso fazia
sentido. Com que tipo de bobagem eu estava sonhando?
*******
Nesse meio tempo, tive que ver enquanto Rudy e Pursena saíam
para assistir a uma aula de magia de cura. Por que tinha que ser a
Pursena? Rudy gostava de garotas como ela? Sua relação com a
família Notos lhe fazia ter preferência por seios grandes? Os seios
fartos de Pursena podiam ser vistos mesmo de longe. Todas as
mulheres fera eram bem dotadas, incluindo Linia, mas Pursena era
excepcional.
— Qual é o problema?
— Não posso?
— Hein?
— Você manteve sentimentos tão fortes por ele, por esse tempo
todo, mas é como se ele nem lembrasse de você.
— Bem… mas, quer dizer, eu não disse o meu nome para ele.
— Sim?
— Algo de errado?
— Sylphie.
— Sim? — Olhei para ela. Quando o fiz, ela sorriu. Não foi um
sorriso falso igual ao de uma boneca, mas sim um aliviado, do tipo
que eu só via uma ou duas vezes por ano. Não, não via com tanta
frequência. Quando foi que vi ela sorrir daquele jeito pela última
vez?
— Urgh…
Eu não queria isso. Por que não?
— Urgh…
Mas dizer que isso não era agradável seria mentira. Na minha
vida anterior, fui um recluso. Frequentei o ensino fundamental, mas
o médio não e, obviamente, nunca fui para uma universidade. Este
lugar tinha comidas que eu nunca provei no fundamental. Também
possuía uma grande variedade de aulas sobre assuntos de meu
interesse.
De fato, foi a primeira vez em muito tempo que fui para a escola,
e eu poderia estar apenas sentindo a nostalgia e a novidade nisso.
O brilho poderia diminuir com o tempo – mas eu poderia dar um jeito
quando a hora chegasse. Não precisaria de um diploma para
sobreviver neste mundo. Não havia razão para me forçar a ficar
estudando por mais tempo do que quisesse.
Eu sabia que não poderia agradar a todos, mas não gostava dela
tendo medo de mim. Decidi tomar um cuidado extremo para me
abster de repreendê-la durante nossas aulas e afagar sua cabeça,
elogiá-la e dar alguns doces sempre que ela fizesse as coisas
certas.
— Dia.
Ter garotas ao meu redor era, mais do que tudo, bom. Elas eram
um colírio para os olhos, ainda mais em comparação com Zanoba.
Como um bônus adicional, os outros delinquentes começaram a
manter distância de mim desde que Linia e Pursena começaram a
agir dessa forma, e eu achava isso ótimo.
— Você vai ter que pedir isso para outra pessoa. O meu está
atualmente fora de serviço.
✦✦✦✦✦✦✦
— Por favor, não vá. Há muito mais que eu quero que você me
ensine!
O Deus Ogro, líder da Tribo Ogro, disse apenas uma coisa a ele:
— Tome cuidado.
— Fwahahaha! Só espere!
Ele abriu caminho para o oeste. Um país ficou surpreso com sua
invasão repentina e lançou uma magia de nível Avançado contra
ele. Outro lhe preparou uma homenagem. Ele ignorou tudo e seguiu
em frente, indo mais para o oeste. Cruzou montanhas e vales a uma
velocidade que ultrapassava a da rede de informações dos
humanos. No momento em que cada país descobriu o que ele
queria, o homem já havia cruzado suas fronteiras e partido. Mais e
mais para o oeste, seguiu em uma velocidade vertiginosa. Seu
destino era o Reino Ranoa.
Capítulo Extra:
Juliette e Boas-Maneiras
Era meio-dia de um dia normal e Zanoba, Julie e eu estávamos
comendo fora do refeitório. Chamamos um pouco de atenção ao nos
sentarmos lá, em nossas cadeiras um pouco desconfortáveis feitas
com magia de terra, mas comer do lado de fora, ao sol, se tornara
uma espécie de tendência nos últimos tempos. Outras pessoas
começaram a seguir o nosso exemplo e a fazer o mesmo,
principalmente dentre aqueles que comiam no primeiro andar do
refeitório. A pequena multidão também tendia a ser um pouco mal-
educada, ignorando o uso de talheres e comendo com a boca ou
com as mãos. Não era como se Zanoba ou eu nos importássemos,
mas Julie poderia começar a imitar isso caso continuasse vendo tal
comportamento…
— Bem, eu sei.
— Você está dizendo isso porque ela é uma escrava? Não foi
você, Mestre, quem decidiu que não devemos tratá-la como uma
escrava?
— Uma coisa não tem nada a ver com a outra. Isso… como devo
explicar? Se abrirmos mãos sempre que houver algo que ela não
queira fazer, Julie não se esforçará quando se tratar de situações
nas quais terá que fazer algo que não queira.
Olhei para Julie, que estava olhando para as cenouras igual uma
estudante do jardim de infância que ficou de castigo na frente do
prato. Sua expressão parecia dizer que ela estava sendo punida
sem qualquer razão.
Bem, eu talvez estivesse mesmo sendo muito duro. Quando era
aventureiro, conheci muitas pessoas que comiam com as mãos.
Isso até mesmo fazia parte da cultura de algumas tribos do
Continente Demônio. Murchei um pouco ao lembrar disso. Talvez eu
só estivesse preso aos costumes da minha vida anterior e usando
isso para justificar os atos como coisas irracionais. E no meu antigo
mundo também existiam culturas nas quais comiam com as mãos.
Alimentos como caranguejo, batata frita, cachorro-quente e outras
coisas… Talvez eu estivesse pensando demais no assunto.
— Se você insistir que ela deve aprender isso, então também vou
ensiná-la, mas considerando o quanto isso é irrelevante para a
criação de estatuetas, prefiro que não o façamos.
— Ah-ha.
— Ah!
— Você pode ser nosso chefe, mas isso não significa que pode
desperdiçar carne assim. Se vai jogar fora porque está cheio, então,
em vez disso, dê para mim. — Pursena estava com uma cara
zangada, mas o bacon devia estar delicioso, já que sua cauda
balançava igual a hélice de um helicóptero.
— Não sei quanto a isso, mew, tem certeza? Se você o irritar, ele
não pode parar de fazer estatuetas para você, mew?
— Mew?
— Mas com carne é diferente. E você não pode falar nada, já que
deixou aquelas uvas passas no prato.
— C-certo.
— Um show esplêndido!
— Agora ela não terá medo quando tiver que fazer isso da
próxima vez, mew.
[←1]
Meus agradecimentos ao grupo Tsundoku Traduções.
[←2]
Impotência sexual.