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Fichamento Texto 08

ESPINDOLA, Haruf Salmen; GUIMARÃES, Diego Jeangregório Martins. História Ambiental


dos Desastres: uma agenda necessária [Debate]. Revista Tempo e Argumento, Florianópolis, v.
11, n. 26, p. 560-573, jan./abr. 2019.

O texto de Haruf Espindola ressalta a História Ambiental como um vasto campo de


pesquisa interdisciplinar, que extrai sua substância de diversas fontes, desde documentos
escritos até a observação atenta da paisagem. De acordo com Worster (1991), a História
Ambiental surge com compromissos políticos robustos, visando aprofundar a compreensão da
intricada relação entre os seres humanos e o meio ambiente. Nessa perspectiva, Cronon (1992)
destaca que os historiadores ambientais podem abordar essa temática de maneiras diversas,
moldando narrativas históricas que variam desde perspectivas trágicas até otimistas.

Historicamente, eventos catastróficos, como a Peste Negra no século XIV, sempre


encontraram espaço na historiografia. No entanto, a História Ambiental introduz uma
perspectiva mais abrangente, considerando não apenas os desastres naturais, mas também os
impactos das atividades econômicas no ambiente e na vida humana, como poluição, ameaças
nucleares e vazamentos industriais. Um exemplo notável é a obra de Worster (1982) sobre as
tempestades de poeira nas planícies centrais dos EUA na década de 1930, conhecidas como
Dust Bowl.

Recentemente, a História Ambiental trouxe à tona o debate acerca do Antropoceno


(Ellis, 2010), uma nova era geológica marcada pelo "conflito coletivo da humanidade com o
planeta", iniciado na Revolução Industrial e intensificado após a Segunda Guerra Mundial. O
texto destaca a mudança climática como um tema crescente na agenda da História Ambiental,
com enfoque específico nas inundações urbanas. Além disso, argumenta que a História
Ambiental deve confrontar os desastres socioambientais provocados pela atividade humana,
revisitar a historiografia pós-Revolução Industrial e analisar criticamente a ideia de progresso
predominante no século XIX.

A discussão se volta para a necessidade premente de uma história dos desastres


ocasionados pela disrupção dos sistemas sociotécnicos associados aos sistemas naturais,
fazendo menção a eventos como o rompimento da barragem de rejeitos no Canadá em 2014 e
o desastre de Val di Stava na Itália em 1985. O autor ressalta a falta de atenção dada pelos
historiadores que se concentram na ideia de desenvolvimento aos eventos que deram errado,
provocando desastres ao longo dos últimos 100 anos.

O texto avança, abordando o desastre da Vale em Brumadinho, Minas Gerais, em janeiro


de 2019, destacando a intensa cobertura midiática nacional e internacional. Veículos de
comunicação como The New York Times, Le Monde, BBC e El País dedicaram amplo espaço
a notícias, reportagens especiais, artigos de opinião e entrevistas sobre o evento. A imprensa
brasileira, representada por jornais como Folha de São Paulo e Estado de Minas, manteve uma
cobertura diária abrangente, acompanhando os acontecimentos em tempo real.

A análise se aprofunda ao examinar diferentes facetas do desastre, como as implicações


econômicas relacionadas ao impacto da mineração na economia do país, nas bolsas de valores
e nos pronunciamentos de líderes políticos. Também são exploradas questões técnicas, como a
segurança das barragens de rejeitos, evidenciando o modelo de armazenamento de rejeitos com
barragens a montante. O texto destaca a rápida aprovação de uma lei estadual em Minas Gerais
proibindo esse método após o desastre, ressaltando a semelhança com propostas rejeitadas
anteriormente.

A discussão se estende para as ações imediatas tomadas pela Vale após o desastre,
destacando a repercussão negativa das declarações do presidente da empresa, Fabio
Schvartsman. A imprensa internacional também noticia a movimentação econômica e
financeira destinada às famílias das vítimas, contrastando com a articulação política da empresa
para minimizar as medidas sancionatórias. O autor observa a entrada de outros eventos trágicos,
como o incêndio no alojamento do Flamengo, que ocuparam espaço na mídia e diminuíram a
cobertura do desastre da barragem.

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