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Transient Recovery Voltage:

A Case Study Applied To Industrial Systems


Henrique Fantoni Primo
Glássio Costa de Miranda Henrique Tassara Calenzani
Energy Departament
Eletrical Engineering Departament Energy Departament
SM&A Sistemas Elétricos Ltda.
Universidade Federal de Minas Gerais SM&A Sistemas Elétricos Ltda.
Belo Horizonte, Brazil
Belo Horizonte, Brazil Belo Horizonte, Brazil
henrique.fantoni@sma-eng.com.br
glassio@ufmg.br henrique.calenzani@sma-eng.com.br
Igor Araújo Camargos
Energy Departament
SM&A Sistemas Elétricos Ltda.
Belo Horizonte, Brazil
igor.camargos@sma-eng.com.br

Abstract—This paper aims to study, calculate and analyze the


characteristics of the transient recovery voltage that appears
across the terminals contacts of a circuit breaker during a fault
interruption, particularly in specific fault conditions such as
terminal faults and short-line-faults. The case under study
consists in the opening, during a terminal fault, of a single circuit
breaker in a 13.8 kV industrial system feeding two critical loads:
a furnace and a capacitor bank. Simulations were conducted
using the ATPDraw 6.0 program, which is a free software. It was
possible to observe the importance of these analysis for the
correct purchase of circuit breakers in order to provide reliability
and safety to electrical systems.

Keywords— Transient; transient recovery voltage; circuit


breakers; transient overvoltage; transient overcurrent

I. INTRODUCÃO
Disjuntores são dispositivos de manobra presentes no Fig. 1. Tensão de Restabelecimento Transitória.
sistema elétrico que, durante seu tempo de vida em operação,
são submetidos a grandes esforços mecânicos e elétricos. Por Para a análise específica deste trabalho, considerou-se um
este motivo, diversos estudos são realizados de forma a sistema elétrico industrial de 13,8kV, com um único disjuntor
verificar a suportabilidade destes equipamentos frente a estes alimentando um forno e um banco de capacitores.
tipos de estresse visando-se ter uma operação segura conforme
o esperado em sua concepção. Como resultado dos modelamentos, após a realização dos
cálculos pelo software, foi obtida a forma de onda e os valores
Estudos aprofundados e específicos são realizados de amplitude da tensão de restabelecimento transitória
continuamente, tendo como exemplo o workshop nacional considerando a aplicação de uma falta terminal no disjuntor em
sobre o tema, realizado pelo CIGRÉ em 2011. estudo. O valor da TRT pôde ser verificado em comparação
Durante a manobra de abertura dos disjuntores, a diferença com a capacidade do disjuntor instalado.
de potencial observada entre seus contatos, conforme forma
exemplo representada na Figura 1, é chamada de tensão de II. TENSÃO DE RESTABELECIMENTO TRANSITÓRIA
restabelecimento transitória, também conhecida como TRT. Os fenômenos transitórios ocorrem devido a uma súbita
Seus valores dependem das características do sistema elétrico e mudança nas condições de um circuito, envolvendo
principalmente dos seus elementos passivos, como os indutores chaveamentos de fechamento e abertura, podendo ocorrer no
e capacitores. sistema elétrico em função de diversas condições, alterações
É necessário o conhecimento da capacidade do disjuntor de controladas ou forçados por falhas. Estes são caracterizados e
suportar esta tensão transitória, de modo a realizar a abertura do classificados pela magnitude, duração e frequência.
circuito corretamente sem ocasionar um restabelecimento Durante a manobra de abertura de um disjuntor para a
indevido do circuito em falta. Restabelecimentos em falta interrupção da corrente de curto-circuito, ocorre a separação
podem ocasionar danos substanciais aos equipamentos que o mecânica dos contatos e a extinção da corrente elétrica no polo
compõem, também podendo se estender aos seus operadores, do disjuntor. Entre estes eventos, permanece a condução de
sendo assim um tópico especial de atenção.

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corrente através do arco elétrico até o momento da passagem da
corrente pelo zero.
A tensão de restabelecimento transitória é um fenômeno
que ocorre entre os contatos de disjuntores a partir de uma
solicitação de manobra. Imediatamente após o instante de
abertura, existe uma solicitação de tensão atuante sobre o canal
ionizado que tenta estabelecer a corrente no disjuntor. O
mecanismo de extinção deste equipamento busca impedir esta
reignição do circuito, atuando para desionizar o meio dielétrico.
Esta tensão pode ser obtida com a diferença das tensões
fase-terra entre os terminais do disjuntor, apresentando uma
forma de onda de tensão com uma ou duas envoltórias. São
calculadas a partir de programas computacionais, sendo os
pontos principais o tempo de retardo, os picos de tensão e seus
respectivos tempos e as taxas de crescimento. A Figura 2
apresenta uma envoltória da TRT a dois parâmetros, sendo Uc
o pico de tensão, t2 o tempo que ocorre o pico de tensão e
TCTRT a sua taxa de crescimento. Representou-se uma
envoltória de dois parâmetros, recomendada na norma IEC
62271 [1], para disjuntores utilizados em sistemas com tensões
inferiores à 100 kV.

Fig. 3. Diagrama Unifilar da Configuração Proposta.

O caso considerado para a simulação consistiu-se na


aplicação de uma falta terminal com o disjuntor DJ-1
realizando uma manobra de abertura com os demais disjuntores
(DJ-2, DJ-3 e DJ-4) ligados (circuitos fechados).
O estudo de caso foi focado no disjuntor DJ-1 pois este
equipamento havia sido substituído pela equipe de manutenção
da planta. Além disso, uma vez que este disjuntor foi utilizado
para a alimentação de um forno a arco elétrico e um banco de
Fig. 2. Envoltória TRT de dois parâmetros. capacitores, dois componentes críticos conforme informado na
norma IEC 62271 [2], se fez necessária uma análise da TRT
Para um bom dimensionamento e uma correta operação do específica para este componente.
disjuntor, as capacidades definidas na sua concepção devem ser
superiores aos parâmetros calculados, com a envoltória do Modelou-se no programa ATDraw uma fonte de tensão
equipamento com valores superiores à TRT calculada, com trifásica de 13,8kV e sua impedância equivalente (a partir do
atenção especial aos valores do pico de tensão e da taxa de transformador T1), a carga (forno), os bancos de capacitores
crescimento. Para análise destas capacidades pode-se ter como (BC 01 e BC 02) e os disjuntores (DJ-1 e DJ-2).
base a norma IEC 62271 [1] ou a norma IEEE Std C37.011 [2]. Por ser um sistema compacto, com curtas distâncias entre o
painel de alimentação e os equipamentos, os efeitos dos cabos
III. MODELAMENTO DO SISTEMA foram desconsiderados.
O sistema elétrico em estudo faz parte de uma planta O sistema completo modelado é apresentado Figura 4.
industrial, alimentado a partir de um transformador abaixador
de 60/80MVA 138-13,8kV, com um único disjuntor (DJ-1) Os modelos utilizados e as ferramentas de cálculo, para
alimentando um forno (S1) e um banco de capacitores (BC 01). cada um dos elementos modelados, seguem detalhadas nos
O sistema completo, de forma simplificada, pode ser visto na próximos itens.
Figura 3.

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considerando seu transformador, a partir do modelo
SATTRAFO, conforme Table III e Figura 5.
Este modelo foi utilizado pois tem como dado de entrada as
tensões, a impedância, a curva de saturação do núcleo e as
propriedades magnéticas do transformador, sendo estas
informações obtidas através do ensaio do fabricante.

Fig. 4. Diagrama Unifilar da Configuração Proposta.

De maneira geral, a modelagem dos componentes foi


realizada com foco na análise de TRT, seguindo as diretrizes e Fig. 5. Modelamento do Forno.
recomendações da norma IEEE Std C37.011 [2].
• Fonte do sistema
TABLE III. DADOS DOS TRANSFORMADORES DOS FORNOS.
Modelou-se a alimentação do sistema como uma fonte de Transformador Forno S1
tensão trifásica a partir do modelo AC Source (1&3), com Potência (MVA) 30,262
amplitude de 14,4kV RMS entre fases e frequência 60 Hz,
Tensão AT (kV) 13,2
conforme Table I.
Tensão BT (kV) 0,196
Z (%) 17,67
TABLE I. DADOS DA FONTE DE TENSÃO.
Fonte do Sistema (AC Source 1&3) A Figura 6 apresenta os dados da curva de saturação do
Amplitude 14400 V RMS L-L transformador.
Frequência 60 Hz
Ângulo 0 graus
Partida -1 segundos
Parada 100 segundos

Utilizou-se os valores das correntes de curto-circuito


trifásico na Barra A de 13,8kV, calculados conforme métodos e
orientações da norma IEC 60909 [3], para o modelamento da
impedância equivalente da fonte. Utilizou-se o modelo RLC 3-
ph, com valores conforme Table II.

TABLE II. DADOS DA IMPEDÂNCIA EQUIVALENTE DA FONTE.


Impedância da Fonte (RLC 3-ph)
R_1 / R_2 / R_3 0,07 Ω
Fig. 6. Características da Curva de Saturação.
L_1 / L_2 / L_3 0,862 Ω
C_1 / C_2 / C_3 0 µF • Bancos de Capacitores
Considerou-se a conexão Duplo-estrela Isolada para os
• Carga bancos de capacitores analisados neste trabalho, sendo duas
Modelou-se a carga (forno a arco elétrico) alimentada pela unidades capacitivas totalizando 12,7MVAr, conforme Table
Barra S1 de 13,8kV como uma carga RL de saturação, IV.

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TABLE IV. DADOS DOS BANCOS DE CAPACITORES. Desta forma, considerou-se os menores valores de
kVAr Vn Potência capacitâncias típicas para os disjuntores e transformadores,
TAG Conexões conforme tabelas B.7 e B.9 da norma IEEE C37.011 [2],
(Vn) (kV) (MVAr)
BC-01 11,192 13,8 Dupla Estrela 12,7 resultando no maior valor de TRT.
BC-02 11,192 13,8 Dupla Estrela 12,7
IV. ANÁLISE DAS SIMULAÇÕES
Modelou-se as unidades dos bancos como elementos Considerou-se nas simulações apenas um cenário para
lineares a partir do modelo Capacitor, conforme Figura 7. análise da tensão fase-terra nos terminais do disjuntor DJ-1,
alimentando o transformador do forno S1 e o banco de
capacitores BC 01, durante a abertura de uma falta terminal.
Foi admitido um tempo máximo de eliminação da falta de
200ms.
• Resultados Obtidos
A partir da desenergização do disjuntor DJ-1, na ocorrência
Fig. 7. Modelamento das Unidades Capacitivas. de um curto-circuito trifásico, foi obtida a seguinte forma de
onda de tensão no terminal do disjuntor (Fase B), apresentada
Modelou-se os reatores de inrush dos bancos como na Figura 10.
elementos lineares a partir do modelo Inductor, conforme
Figura 8.

Fig. 8. Modelamento dos Reatores.

• Disjuntores
Fig. 10. Forma de Onda de Tensão (TRT) no DJ-1 (Fase B).
Os disjuntores foram modelados, de forma trifásica, a partir
do modelo SWIT_3XT, conforme Figura 9. Foi considerada a Podemos observar na Figura 10 que enquanto o disjuntor
abertura simultânea das três fases, no ponto mais crítico da está fechado (tempo entre 0 e 200ms), não existe diferença de
tensão da fase A. potencial fase-terra entre seus terminais.
A partir do momento de abertura do disjuntor, em torno de
200ms, ocorre abruptamente um grande aumento de tensão
entre os terminais. O valor de pico calculado foi de
aproximadamente 31kV, sendo 38kV RMS fase-fase, em torno
de 2,7pu.

TABLE V. RESULTADOS DA SIMULAÇÃO.


Vpico Vrms Vrms
TCTRT
Fase-terra Fase-fase Fase-fase
(kV/µs)
(kV) (kV) (p.u.)
30,897 37,841 2,742 0,15

Após o primeiro pico, a tensão diminui sua amplitude


Fig. 9. Modelamento do Disjuntor DJ-1. continuamente, em alta frequência, até chegar no próximo
regime permanente. Esta simulação consegue demonstrar
• Capacitâncias Parasitas claramente a forma típica de onda transitória da TRT.
No cálculo da TRT, é extremamente importante que as A partir da forma de onda apresentada na Figura 10, é
capacitâncias dos equipamentos do sistema sejam consideradas, possível se obter os parâmetros de taxa de crescimento e o
uma vez que estas capacitâncias atenuam os valores da TRT. tempo relacionado com o pico de tensão para comparação com
os limites do disjuntor definido em sua fabricação.

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Os valores de tensão suportáveis pelo disjuntor devem ser V. CONCLUSÃO
superiores aos valores de TRT calculados, conforme Mediante os resultados obtidos a partir das simulações
apresentado na Figura 11, para não ocorrer reignição indevida realizadas, foi possível observar as solicitações transitórias de
do circuito na tentativa de abertura de faltas no sistema. tensão as quais os disjuntores podem ser submetidos devido às
manobras de fechamento e abertura do sistema elétrico.
As formas de onda obtidas na simulação mostram
claramente a tensão transitória que surge nos terminais dos
disjuntores durante a abertura de um circuito. Esta tensão deve
ser analisada, principalmente, em casos de faltas terminais ou
quilométricas e na interrupção de correntes capacitivas ou
pequenas correntes indutivas.
Uma vez que os valores calculados ficaram próximos dos
valores normativos, recomendou-se que fosse utilizado um
disjuntor de classe de tensão superior (24 kV), prática bastante
comum em sistemas elétricos com valores de TRT elevados.
Também é importante ressaltar que os componentes
passivos influenciam a forma e comportamento das tensões
calculadas, mostrando o destaque da correta modelagem dos
componentes do sistema em análise.
Pode-se concluir que para o dimensionamento e compra de
um disjuntor de média ou alta tensão é essencial a realização de
uma análise específica da tensão de restabelecimento transitória
a partir de simulações digitais do sistema elétrico em questão.
Deverão ser utilizadas as recomendações, práticas de
Fig. 11. Forma de Onda de Tensão (TRT). modelamento e parâmetros apresentados neste artigo, para
análise das curvas de TRT calculadas em relação à curva de
Consultando a tabela 1 da norma IEC 62271 [1], para um suportabilidade de disjuntores fornecida pelo fabricante.
disjuntor típico de 17,5 kV, o equipamento deve suportar,
durante uma falta terminal, um pico de tensão de 30 kV e uma
taxa de crescimento de 0,42 kV/µs. REFERENCES
[1] IEC 62271 – 2008; “High-Voltage Switchgear and Controlgear – Part
Comparando estes valores com os calculados e 100: Alternating-Current Circuit-Breakers”.
apresentados na Table V, observa-se que o pico de tensão está [2] IEEE Std C37.011 – 2011, “IEEE Guide for the Application of Transient
próximo ao apresentado na norma e com a taxa crescimento Recovery Voltage for AC High-Voltage Circuit Breakers
inferior ao valor normativo. [3] IEC 60909-2016, “Short-circuit Currents In Tree-Phase A.C. Systems”.

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