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ESTUDO DE CASO: OTIMIZAÇÃO DE PROTEÇÕES ELÉTRICAS

DA PEQUENA CENTRAL HIDRELÉTRICA DE ALEGRE

Diego Moulin Sanson

Abstract: This work has as objective to present the results of studies and analysis of
incidents related to electrical protection of PCH Alegre, located in the southern state of
Espírito Santo. The interaction of protection settings with the philosophy of
disconnections decreased the time the unit is turned off and the number of disconnections.
The results obtained serves as subsidy for the improvement operational developments of
electricity generation.
Keywords: Electric protection, protective relaying, hydroelectric generation, energy
production, availability.

Resumo: Este trabalho tem por objetivo apresentar os estudos e resultados de análise de
ocorrências relacionadas à proteção elétrica da PCH Alegre, situada no Sul do Estado do
Espírito Santo. A interação dos ajustes de proteção com a filosofia de desligamentos
diminuiu o tempo da unidade desligada e o número de desligamentos. Os resultados
obtidos servem como subsídios para a melhoria operacional de empreendimentos de
geração de energia elétrica.
Palavras Chaves: Proteção elétrica, relés de proteção, geração hidrelétrica, produção de
energia, disponibilidade.

1 INTRODUÇÃO 2 ESTUDO DE CASO


A PCH Alegre está situada na área urbana da cidade de
A proteção do sistema elétrico passou por grande
Alegre, no Sul do Estado do Espírito Santo e pertence a
transformação em sua tecnologia. Os relés de proteção
eletromecânicos surgiram em 1901 com sua robustez e Energest SA do Grupo EDP.
simplicidade. Os relés de proteção eletrônicos foram
inseridos no mercado em 1930, porém sem aceitação
devido fragilidade e variações com a temperatura. Os
relés digitais que entraram no mercado nos anos 90,
dominam o mercado devido funcionalidades,
supervisões, registros digitais entre outros (Mamede,
2011).

Os projetos de proteções elétricas de centrais


hidrelétricas atuais utilizam relés de proteção digitais.
Com estes relés digitais pode-se habilitar em torno de
25 funcões de proteção para gerador e 20 para
transformador. Com esta variedade de proteções, tende-
se a habilitar diversas funções de proteção que
necessitam de uma criteriosa avaliação nos aspectos de
seletividade, confiabilidade e filosofias de alarmes,
disparos e bloqueio. Figura 1: Localização da bacia do Rio Alegre.
A PCH Alegre por estar em área urbana e conectada em níveis excessivos de fluxo magnético que circulam por
rede de distribuição de 13,2kV, apresentou de 1999 a locais não projetados para isto.
2007 elevado número de desligamentos devido a grande
volume de resíduos no leito do Rio Alegre e devido a
distúrbios no sistema elétrico.

Os equipamentos e sistemas foram sendo substituídos e


modernizados de 2001 a 2007, diminuindo
drasticamente o impacto negativo destes desligamentos.

Os desligamentos por proteção elétrica contribuíram


significamente no impacto negativo, o que despertou a
atenção e a necessidade de avaliação geral para
otimização do projeto de proteção.

Figura 2: A área sombreada representa a faixa de operação


2.1 Proteções elétricas avaliadas contínua (ANSI/IEEE C-50.13, 2005).
A avaliação da proteções elétricas foi realizada através
de referências de relevância para o setor elétrico
Ajustes recomendados (Blackburn, 2007):
conforme relacionado no item 5. Para a melhor
Alarme: 10% acima do valor nominal e tempo de
exposição dos métodos utilizados, a avaliação foi
aproximadamente 1 minuto;
dividida por proteção. Para cada proteção, descreve-se
Disparo: 20% acima do valor nominal e tempo de
o “Resumo teórico” que explica o funcionamento da
aproximadamente 6 segundos.
proteção, “Ajustes recomendados” por diversas
referências, “Ajustes implementados” após os estudos e
Ajustes implementados:
o “Histórico de atuações” que expõe e relaciona a teoria
com a prática. Proteção habilitada em 15/12/2010.
Alarme: 8% acima do valor nominal e tempo de 10
segundos;
24: Sobre-excitação ou V/Hz Disparo: 20% acima do valor nominal e tempo de 6
segundos.
Resumo teórico:
A divisão entre a tensão e frequência de operação deve Histórico de atuações:
ser mantida constante. Na PCH Alegre não há histórico de atuação, porém foi
A relação sendo mantida constante, o fluxo magnético é implementado reajuste devido atuações em outras
mantido constante, conforme equação 2.1 (Reimert, instalações. Em outras PCHs da Energest SA, existe
2006). histórico de atuação:

PCH São João: No primeiro mês de operação em 2007,


(2.1) atuou a proteção devido aumento de tensão gerada.
Realizado reajuste pois a proteção estava atuando antes
do limitador do regulador de tensão.
Sendo:
PCH Francisco Gros: Durante comissionamento em
: Máximo fluxo magnético; 2009, atuou a proteção devido diminuição da rotação no
processo de parada sem diminuir a tensão do gerador.
ERMS: Tensão RMS gerada; Neste caso o ajuste de proteção foi mantido e a correção
foi efetuada no processo de parada.
N: Número de espiras do gerador;

f: Frequência em Hz.
32: Potencia reversa ou motorização
A tensão assumindo níveis elevados ou a frequência
Resumo teórico:
diminuindo com a tensão sendo mantida, a proteção
O fenômeno de motorização tem como causa a redução
atua evitando danos aos equipamentos envolvidos. A
de fluxo de água na turbina. A proteção evita a
diferença desta proteção com a sobretensão (59) é o
cavitação na turbina. A potência necessária para
vínculo com a rotação, ou seja, em processos de partida
motorização de um gerador varia normalmente entre
e parada de geradores ou falha na medição de tensão,
0,3 a 2% da potência nominal ativa do gerador
pode ocorrer geração de tensão com baixa rotação. Esta
(Mamede, 2011).
proteção evita danos na ponte retificadora do sistema de
regulação de tensão e danos no rotor do gerador por
Ajustes recomendados (Mamede, 2011): Os ajustes das zonas 1 e 2 terão o mesmo offset de
Disparo: 1 a 5% de potência reversa em relação a X’d/2 (1/2 da reatância transitória direta do gerador). O
nominal e tempo de aproximadamente 2 segundos. diâmetro da zona 1 é ajustado em geral em 0,7.Xd
Ajustes implementados: (70% da reatância síncrona direta) ou em 1pu de Xd.
Disparo: 5% de potência reversa em relação a nominal Esta unidade deve ser ajustada entre 30 a 60 ciclos para
e tempo de 5 segundos. se evitar operações indevidas.

Histórico de atuações: O diâmetro da zona 2 é ajustado no valor de Xd e terá


sensibilidade de detectar perda de excitação em toda
Na PCH Alegre e PCH Viçosa atuaram a proteção
faixa de carga da unidade. O ajuste de tempo deve ficar
devido a obstrução das grades da tomada de água da
em 2 vezes o tempo que o regulador necessita para
turbina. Com baixa vazão na turbina, o gerador passa a
retornar a unidade para as condições operativas
absorver potência ativa.
normais. O tempo de 5 segundos é o mais usual para
PCH São João: No primeiro mês de operação em 2007, esse tipo de solução.
atuou a proteção no processo de parada normal. O
sistema de controle comandou a redução de vazão da O cálculo da impedância para atuação da proteção é
turbina, porém não enviou o comando de abrir o realizado da seguinte forma:
disjuntor da unidade.

PCH Francisco Gros: Durante partida passo a passo, (2.2)


após o sincronismo da unidade com o sistema elétrico,
caso não seja acionado o comando de abrir distribuidor Onde:
da turbina para aumentar vazão de água, a unidade
motoriza e desliga por proteção. Zloe = Impedância secundária fase-fase;
VAB = Tensão entre as fases A e B;
IA = Corrente na fase A;
40: Perda de excitação IB = Corrente na fase B;
Mloe < θloe = Fasor da impedância secundária.
Resumo teórico:

A perda de excitação ocorre quando há abertura do


circuito de campo, sendo causado por falha no O termo secundário é utilizado devido a necessidade de
regulador de tensão, perda de tensão CA na entrada do transformar o cálculo da impedância para valores
regulador de tensão, falha no contator de campo ou secundários dos TCs e TPs, conforme formula abaixo:
falha nas escovas de carbono.

Durante a perda de excitação, o estator absorve uma (2.3)


corrente elevada que pode alcançar cerca de 5 vezes a
sua corrente nominal em menos de 1 segundo. Essa Zsecondary = Impedância no secundário;
corrente tem grande componente reativa e é a causa do Zprimary = Impedância no primário;
sobreaquecimento do estator. O rotor aquece devido ao CTratio = Relação do TC;
desequilíbrio magnético que ocorre (Mamede, 2011). VTratio = Relação do TP.

Teoria do relé de proteção da PCH Alegre (GE Multilin


489, 2004):
Ajustes recomendados:
A proteção do tipo impedância tem dois elementos Ajuste da Zona 1
denominados de zona 1 e zona 2, conforme Figura 3. Diâmetro Z1 = 0,7.Xd
Offset = X´d/2
Tempo = 30 a 60 ciclos.

Ajuste da Zona 2
Diâmetro Z2 = Xd
Offset = X´d/2
Tempo = 5s

Figura 3: Diagrama de impedância.


Ajustes implementados:

Figura 4: Decomposição de sistema desequilibrado.

Utilizando teoria de componentes simétricas e


desenvolvimentos matemáticos, obtêm-se as equações
das 3 sequências, sendo I0: Sequência Zero, I1:
Sequência Positiva e I2: Sequência Negativa.

(2.4)
Ajuste da Zona 1
Xd = 1,17pu x (4,162 / 2,57) x (80/36,17) = 17,42 ohm
(2.5)
(secundário).
X’d = 0,18 x (4,162 / 2,57) x (80/36,17) = 2,68 ohm
(secundário). (2.6)
Diâmetro Z1 = 0,7.Xd = 12,20 ohm.
Offset = (X´d/2) = 1,34 ohm.
Tempo = 30 ciclos (0,5s).
A corrente I2: Sequência Negativa obtida neste cálculo,
Ajuste da Zona 2 representa a componente Ia2. Para o cálculo das outras
Diâmetro Z2 = Xd = 17,42 ohm. componentes (Ib2 e Ic2), basta aplicar o multiplicador
Offset = (X´d/2) = 1,34 ohm. “a” que equivale a 1∠120°, ou seja, Ib2 = a.Ia2 e Ic2 =
Tempo = 5s. a2.Ia2 (SEL University 2006).

Exemplo:
Histórico de atuações: Correntes medidas pelo relé de proteção:
Proteção que atua com mais frequência pois envolve
vários equipamentos: Ia: 100∠0° A, Ib: 115∠-120° A e Ic: 115∠120° A.
PCH Alegre: Em operação em 2012, houve defeito no
contator de campo e consequente abertura, retirando Cálculo de I2:
tensão de excitação.
PCH Fruteiras: Em operação, houve defeito no contator I2 = 1/3 (Ia + a2.Ib + a.Ic)
de campo e consequente abertura, retirando tensão de
excitação. Houve também defeito no sistema de I2 = 1/3 [100∠0° + (1∠120°)2.(115∠-120°) +
controle do regulador de tensão, desligando o mesmo e (1∠120°).115∠120°)]
atuando a proteção.
PCH Viçosa: Em operação, houve defeito no sistema de I2 = 1/3 [100∠0° + 115∠120° + 115∠-120°]
controle do regulador de tensão, desligando o mesmo e
I2 = 1/3 [15∠180°]
atuando a proteção.
∠180° A
I2 = 5∠

46: Sequência negativa ou carga desbalanceada


Resumo teórico: Ou seja, 15% de sobrecorrente em duas fases, se atinge
Em caso de curto-circuito desequilibrado haverá o nível máximo de sequência negativa aceitável.
circulação de componente de sequência negativa de
corrente. Um sistema desequilibrado é composto por 3 Existem limites de corrente de sequência negativa (I2)
sistemas equilibrados de sequência zero, sequência para cada tipo de máquina, conforme norma ANSI
positiva e sequência negativa. C50.13. Estes limites são definidos em função de
constante K=(I2)2.t , sendo I2: Sequência Negativa e t: 50/51: Sobrecorrente instantânea e temporizada
Tempo de atraso do disparo. Geradores de pólos Resumo teórico (SEL University, 2006):
salientes com enrolamento de compensação suportam Proteção com princípio mais simples que consiste em
até 10% de corrente de sequência negativa de forma medir a corrente do objeto protegido, comparar com
contínua. A partir de 10% provocam aquecimento no valores ajustados nos relés de proteção e gerar alarme
rotor. Para este mesmo tipo de gerador o fator K é de no ou disparo se o valor medido for maior que o valor
máximo 40. Os pontos mais afetados são as bobinas de ajustado. Por outro lado exige avaliação criteriosa de
amortecimento e as cabeças dos pólos. Já foram coordenação pois envolve por exemplo o gerador,
registradas temperaturas acima de 480ºC para corrente transformador, linha, fusíveis, religadores, entre outros.
de sequência negativa de 12% durante uma hora. Foi
registrado também que correntes até 8% não causam Sobrecorrente Instantânea (50):
danos definitivos (Mamede 2011). A partir da corrente ajustada no relé de proteção (Iins), o
tempo de atuação é de baixo valor e constante (tins).
Proteção voltada para distúrbio de grande monta no
Ajustes recomendados (Mamede, 2011): sistema elétrico e que devem ser eliminados
Alarme: até 10% de corrente de sequência negativa. rapidamente.
Disparo: até 20% de corrente de sequência negativa e K
menor que 40.

Ajustes implementados:
Alarme: 4% de corrente de sequência negativa e tempo
até 5s.

Disparo: 8% de corrente de sequência negativa e K: 25.

Histórico de atuações:
Na PCH Alegre não há histórico de atuação. Em outra Figura 5: Função de sobrecorrente instantânea 50
PCH da Energest SA, existe histórico de atuação:
PCH Fruteiras: Curto circuito entre fase-fase na SE
Sobrecorrente temporizada (51) – Tempo inverso:
Fruteiras devido ave que tocou na linha. Este curto
Esta função segue uma curva de tempo inverso para
circuito desequilibrou as correntes e aumentou a
atuação do disparo de sobrecorrente, ou seja, quanto
componente de sequência negativa, desligando a
maior for a corrente, menor o tempo para atuação do
unidade.
disparo.
No caso da PCH Alegre, a curva utilizada é a
extremamente inversa (extremely inverse) da norma
47: Sequência de Fase ANSI. Representação da curva na equação 2.7.
Resumo teórico (GE Multilin 489, 2004):
Proteção com o objetivo de detectar inversão de fase de (2.7)
tensão que pode ocorrer após intervenção de
manutenção na unidade geradora. A sequência de fase Onde:
da unidade é calcula pelo relé de proteção a partir das T : Tempo de atuação do disparo;
tensões trifásicas medidas pelos transformadores de M : Multiplicador ou dial;
potencial (TPs). Esta proteção é habilitada a partir de I : Corrente;
50% da tensão nominal, evitando desta forma a I pickup: Set-point de corrente de referência;
sequência do processo de excitação do gerador de A, B, C, D, E: Constantes (A=0,0399, B=0,2294,
forma equivocada. C=0,5, D=3,0094, E=0,7222) para a referida curva
extremamente inversa.
Ajustes recomendados:
Esta proteção é apenas habilitada e não permite ajuste.
Monitora sequência de fase a partir de 50% da tensão
nominal e tempo de atuação de 0,2s.

Ajustes implementados:
Proteção habilitada. Monitora sequência de fase a partir
de 50% da tensão nominal e tempo de atuação de 0,2s.

Histórico de atuações:
Na PCH Alegre não há histórico de atuação. Proteção
habilitada com intuito de aumentar confiabilidade da Figura 6: Função de sobrecorrente temporizada (51) – tempo
proteção principalmente após manutenções. inverso
Sobrecorrente temporizada (51) – Tempo definido: 50/51N: Sobrecorrente instantânea e temporizada de
A atuação do disparo ocorre com uma sobrecorrente neutro
definida e após certo tempo definido. Esta proteção
deve sempre estar coordenada com as proteções por Resumo teórico (Domingues, 2003):
sobrecorrente de tempo inverso (51) e sobrecorrente Também conhecido como relé de sobrecorrente de
instantânea (50). sequência zero, o esquema mais utilizado deste relé é
mostrado na Figura 8.
O elemento pode ser protegido por esta configuração da
Ajustes recomendados: Figura 8 por medição que é conhecida como
sobrecorrente de terra ou pode ser protegido pela soma
Alarme: não indicado.
matemática dentro do relé de proteção que é conhecido
Disparo (Mamede, 2011):
como sobrecorrente de neutro. A teoria exposta a seguir
Sobrecarga:
está relacionada as duas formas similares de proteção.
2 vezes a corrente nominal e no máximo de 20s de
atraso de atuação.
Curto Circuito:
Tempo inverso (51): Pickup de 10 a 20% acima da
corrente nominal.
Instantâneo (50): 4 a 6 vezes a corrente nominal e
atraso menor que 1,5 ciclos (1 ciclo = 1/60 s).

Ajustes implementados:
Alarme: não se aplica.
Disparo:
Sobrecarga:
1,5 vezes a corrente nominal e 3s de atraso de atuação.
Curto Circuito: Figura 8: Relé de neutro.
Tempo inverso (51): Pickup de 12% da corrente
nominal. As correntes trifásicas primárias formam através do TC
Instantâneo (50): 4 vezes a corrente nominal e atraso um replica de correntes trifásicas no secundário.
menor que 1,2 ciclos. Aplicando-se a lei de Kirchhoff no nó entre os relés de
fase A, B e C e relé de neutro RN, tem-se:

(2.8)

A soma das correntes corresponde somente à sequência


zero:

(2.9)

Os 3 TC's em paralelo, formam um filtro onde só


passam as componentes de sequência zero. Portanto, o
traço cheio da Figura 8 corresponde a uma réplica da
terra, ou seja, por este circuito passa somente sequência
Figura 7: Curva de disparo da proteção de sobrecorrente no zero do sistema já referida ao circuito secundário dos
gerador em verde e a coordenação do trafo em vermelho. TC´s.
No sistema as correntes que geram componentes de
sequência zero são:
Histórico de atuações: • curto-circuito monofásico - terra;
Na PCH Alegre atua a proteção de sobrecorrente • curto-circuito bifásico - terra;
devido a distúrbios no sistema elétrico. Para diminuir o • cargas desequilibradas aterradas;
impacto relacionado ao desligamento, foi realizado • abertura de fase de sistemas aterrados.
interação entre o sistema de proteção e o sistema de
controle. Quando esta proteção atua, o sistema não Nota-se que nestes tipos de defeito, as correntes
bloqueia, conectando a unidade ao sistema elétrico de secundárias do curto-circuito passam pelos relés de fase
forma automática e rápida. é de neutro. Portanto, a utilização do relé de neutro
produziu um avanço na proteção quanto a sensibilidade
para atuar em curtos-circuitos de baixa intensidade que
envolvem a terra. No sistema de distribuição, por
exemplo, os curtos-circuitos monofásicos a terra são,
em uma grande maioria, de baixa intensidade, de onde a
proteção com relé de sequência zero nos religadores, O valor de 90% em relação a corrente nominal foi
produziu uma grande melhoria na qualidade da aplicado para possibilitar seletividade com a
proteção. distribuidora conforme Figura 10.

A corrente adequada de ajuste do relé de neutro deve Curvas Verdes: Atuais 51N e 51G da PCH Alegre;
satisfazer as inequações (2.10) e (2.11). Curva Vermelha: 51N do ALE 04;
Curvas Azul: Propostas 51N e 51G da PCH Alegre.

(2.10)

A corrente de curto circuito monofásico mínima no


final do trecho protegido é a calculada em:
• Carga leve no sistema de potência;
• Carga leve com uma impedância de contato do
sistema de distribuição.
Em geral a inequação (2.10) não é levada em
consideração, porque a corrente de ajuste do re1é de
neutro deve estar contida na faixa de 10% a 45% da
corrente nominal do circuito, como mostra a expressão
(2.11):
Figura 10: Curva de disparo da proteção de sobrecorrente de
(2.11) neutro e terra.

Nota-se que o ajuste da corrente do re1é de neutro é


menor que a corrente nominal do elemento protegido. O Histórico de atuações:
valor depende do sistema e1étrico local e também de PCH Alegre: Proteções 50/51N atuaram várias vezes
erros inerentes dos TCs. A Figura 9 mostra a zona do durante os anos conforme indicado na Figura 17. Todas
ajuste da corrente do relé de neutro. atuações foram devido a descargas atmosféricas durante
período chuvoso. Com a seletividade descrita nos
“Ajustes Implementados” não houve mais atuação
destas proteções. A tendência é atuar em casos em que
a fuga para terra seja entre o disjuntor de alta tensão da
PCH e o religador da distribuidora. Em caso de novos
Figura 9: Zona de ajuste do relé de neutro. distúrbios de maior duração na distribuidora, o
religador abrirá e a PCH será desligada por subtensão.
Próximo a geração a corrente está mais equilibrada, e PCH São João: Alguns desligamentos também devido
não se permite um desequilíbrio para não danificar o descarga atmosférica na linha de 69kV. Efetuado
gerador síncrono. Na distribuição, sendo fim de linha, melhoria na seletividade para evitar desligamento.
ou seja, praticamente circuitos terminais estão
distribuídas as cargas trifásicas e monofásicas, o 59: Sobretensão
desequilíbrio é maior, necessitando maior folga no
ajuste de corrente do re1é de neutro. Resumo teórico (SIEMENS SIPROTEC®4 7UM62,
2001):
Ajustes recomendados: A proteção de sobretensão tem como objetivo proteger
Alarme: não indicado. a unidade geradora de efeitos relacionados a aumentos
Disparo (Domingues, 2003): inadmissíveis de tensão. As sobretensões podem ser
Instantâneo (50): não indicado. causadas pela operação manual incorreta do sistema de
Tempo inverso (51N): Pickup de 10 a 45% da corrente excitação, defeito de operação do regulador de tensão
nominal. O tempo depende do multiplicador ou dial da automático ou sobretensão devido a condição adversa
curva que está relacionado ao sistema em estudo. de operação do sistema elétrico como por exemplo
operação em ilha.
Ajustes implementados:
Alarme: não indicado.
Disparo: Ajustes recomendados:
Instantâneo (50): 4 vezes a corrente nominal do Alarme: Não indicado.
transformador com tempo de 0,5s. Disparo (Blackburn, 2007):
Tempo inverso (51N): Pickup de 90% da corrente Sobretensão de 10% com tempo de 30min;
nominal. Multiplicador ou dial da curva: 3. Sobretensão de 15% com tempo de 5min;
Sobretensão de 25% com tempo de 60s.
Ajustes implementados: Ajustes implementados:
Sub-frequência:
Valores sensíveis em relação aos ajustes recomendados Alarme: 59,5Hz em 5s.
com intenção de proteger a unidade de forma mais Disparo: 59Hz em 60s. 58,5Hz em 10s.
adequada. Todas as atuações nas instalações foram Sobrefrequência:
corretas. Alarme: 60,5Hz em 5s.
Disparo: 60,5Hz em 60s. 62Hz em 30s.

Histórico de atuações:
Na PCH Alegre não há histórico de atuação. Em outras
PCHs da Energest SA, existe histórico de atuação:

PCH Fruteiras: Em 2010 houve atuação de sub-


frequência devido abertura de uma das interligações do
ES com o sistema elétrico.

PCHs Francisco Gros e São João: Quando há falta de


referência de tensão na subestação, as unidades
unidades entram em processo de “rejeição de carga” e
aceleram até a atuação do sobre-frequência.
Figura 11: Curva de disparo da proteção de sobretensão.

Histórico de atuações: 87: Diferencial de corrente

Na PCH Alegre não há histórico de atuação. Em outra Resumo teórico (SIEMENS SIPROTEC®4 7UM62,
PCH da Energest SA, existe histórico de atuação: 2001):
PCH Viçosa: Esta proteção atuou algumas vezes em
Sistemas de proteção diferencial operam de acordo com
2009 devido a defeito do regulador de tensão em modo
o princípio de comparação de corrente e são dessa
automático. A excitação instável durante implicava em
forma também conhecidos como sistemas de proteção
níveis elevados de tensão.
de balanço de corrente. Eles se utilizam do fato de que
em um objeto protegido sem falta, a corrente que deixa
o objeto é a mesma que nele entra (corrente Ip,
81: Sub/sobre-frequência pontilhada na Figura 12).
Resumo teórico (SIEMENS SIPROTEC®4 7UM62, Qualquer diferença de corrente medida é uma indicação
2001): de que há uma fuga de corrente em algum lugar da zona
A função de proteção de frequência detecta altas ou protegida entre os TCs. Os enrolamentos secundários
baixas frequências anormais do gerador quando o dos transformadores de corrente TC1 e TC2 da Figura
mesmo está conectado ao sistema elétrico. Uma 12, que têm a mesma relação de transformação, podem
diminuição na frequência do sistema ocorre quando o estar então conectados, formando um circuito fechado.
sistema experimenta um aumento na demanda real de Se agora um novo elemento M for conectado no ponto
potência ou quando ocorrem defeitos no controle de de balanço elétrico, ele revela a diferença de corrente.
frequência. A proteção de diminuição de frequência é Sob condições sem perturbação (por exemplo, operação
também usada para geradores que durante um certo sob-carga) nenhuma corrente flui no elemento de
tempo funcionam numa rede isolada. Um aumento na medição M. No evento de uma falta no objeto
frequência do sistema ocorre por exemplo, quando protegido, a corrente de soma Ip1+Ip2 flui no lado
grandes cargas são removidas do sistema ou em primário. As correntes no lado secundário I1 e I2 fluem
defeitos do controle da frequência. como soma de corrente I1+I2 através do elemento de
medição M. Como resultado, o circuito simples
mostrado na Figura 12 assegura um disparo confiável
Ajustes recomendados:
da proteção se a corrente de falta fluindo na zona
Sub-frequência (Reimert, 2006): protegida (limitada pelo transformador de corrente)
Alarme: não indicado. durante uma falta for suficientemente alta para o
Disparo: Vários estágios tais como: 58,8Hz em 8min. elemento de medição M responder.
58Hz em 60s. 57,5Hz em 20s. 57Hz em 2,5s. 56,7Hz
em 1s. Quando uma falta externa causa correntes elevadas
Sobrefrequência (Mamede, 2011): fluírem através da zona protegida, diferenças nas
Alarme: não indicado. características magnéticas dos transformadores de
Disparo: 62Hz em 2s. corrente TC1 e TC2 sob condições de saturação podem
ocasionar uma corrente significativa fluir através do
elemento M, o que pode causar disparo indevido. Para
prevenir a proteção de tal operação indevida, é imposta
uma corrente de restrição. A corrente de restrição é a Ajustes recomendados:
média aritmética de valores absolutos: Alarme: Não se aplica.
I Restrição = |IA|+ |IAN| (2.12) Disparo: Os valores são calculados de acordo com as
características das unidades geradoras, do sistema
2
elétrico e dos TCs. Segue abaixo valores usuais.
A corrente diferencial é derivada da corrente de Pickup: 10 a 25% (ANSI/IEEE Std 242, 1986).
frequência fundamental e produz grandeza de efeito de Slope: 20 a 50%. (Mason, 1956).
disparo e a corrente de restrição age contra esse efeito Tempo: 0 a 1 ciclo.
para evitar operações indevidas.
Ajustes e ações implementadas:
Antes da modificação dos parâmetros de proteção
diferencial, foi retirada a interligação do regulador de
tensão da malha de proteção diferencial.
Detectado também que os TCs da proteção diferencial
eram do tipo medição em vez de proteção. Realizado
avaliação, especificação, aquisição e instalação dos TCs
de proteção adequados.

Figura 12: Configuração didática de diferencial monofásico. Alarme: Não se aplica.


Os relés digitais tratam a proteção de forma matemática. Disparo:
Pickup: 15%
Slope 1: 20%, Slope 2: 40%.
Tempo: 1 ciclo.
Teoria matemática do relé digital da PCH Alegre (GE
Multilin 489, 2004):

Figura 14: Proteções implementadas em vermelho.

Figura 13: Proteção diferencial do relé GE SR489 aplicado na


Histórico de atuações:
PCH Alegre.
Nas PCH Alegre, Fruteiras e Jucu houveram atuações
pelo mesmo motivo. São projetos do mesmo fornecedor
Teoria do relé SR 489 da Ge Fanuc, considerando a e com o mesmo erro: Instalação de TCs de medição em
Fase A: vez de TCs de proteção. Com isto para faltas externa,
A proteção diferencial atua quando: os TCs de medição saturavam e atuavam a proteção
I Diferencial > K x I Restrição (2.13) indevidamente. Os estudos e implementações foram
realizadas, sendo instalados TCs adequados. Após a
Onde: _ __ instalação dos novos TCs não houve mais atuação desta
I Diferencial = IA - IAN (2.14) proteção.
IA = Corrente no TC fase A, lado dos terminais do
gerador; PCH Viçosa: Em 2009 houveram atuações devido a
IAN = Corrente no TC fase A, lado do neutro do sobrecorrente no regulador de tensão durante processo
gerador; de partida. O regulador de tensão está dentro da malha
I Restrição = |IA|+ |IAN| (2.15) de proteção diferencial.
2 PCH São João: Em 2010 houve atuação devido a falha
K = Característica slope em percentual. de montagem em terminal do secundário do TC da
Onde: unidade 1 no lado do fechamento de neutro. No
K = 1 para I Restrição < 2 x TC; momento da partida, esta falha implicou na não
K = 2 para I Restrição > 2 x TC; circulação de corrente em 1 dos TCs atuando a proteção
TC = Corrente nominal do Transformador de Corrente. diferencial.
Obs.: A proteção para as fases B e C operam da mesma
maneira.
2.2 Filosofias de desligamentos 3 RESULTADOS
Os estudos desenvolvidos em busca de eliminar
A filosofia dos desligamentos tem como objetivo
atuações indevidas de proteção elétrica da PCH Alegre,
otimizar a proteção, a operação e a manutenção da
implicaram em resultados satisfatórios, com diminuição
unidade geradora. Alarmes ajustados adequadamente,
de horas de desligamentos em 92% e do número de
possibilitam a interação da operação e também da
desligamentos em 71%.
manutenção de forma antecipada, evitando
desligamentos desnecessários. Após o último estudo e ajuste realizado em 09/03/2011
O desligamento da unidade pode ser com bloqueio ou nas proteções de 51G/51N: Sobrecorrente temporizada
sem bloqueio. O projeto original prevê todos de terra e neutro, não houve desligamento da unidade
desligamentos com bloqueio, porém definiu-se após geradora da PCH Alegre por proteção elétrica.
avaliação que quando os desligamentos fossem
relacionados ao sistema elétrico, não se bloquearia. Esta Proteções elétricas indicadas na Figura 17: 24: Sobre-
medida possibilita o retorno a operação da unidade de excitação ou V/Hz, 32: Potencia reversa ou
forma rápida e automática. motorização, 40: Perda de excitação, 46: Sequência
A Figura 15 representa os locais das anormalidade de negativa ou carga desbalanceada, 47: Sequência de
acordo com cada proteção. As proteções que estão Fase, 50: Sobrecorrente instantânea, 51: Sobrecorrente
relacionadas ao sistema elétrico (System), foram temporizada, 50G: Sobrecorrente instantânea de neutro
classificadas como proteções que não necessitam de medida, 51G: Sobrecorrente temporizada de neutro
bloqueio na Figura 16. medida, 50N: Sobrecorrente instantânea de neutro
calculada, 51N: Sobrecorrente temporizada de neutro
calculada, 59: Sobretensão, 81U: Sub-frequência, 81O:
Sobre-frequência e 87: Diferencial de corrente.

No rodapé da Figura 17, indica-se nos respectivos anos


de 2005 a 2011, as intervenções de estudos e ajustes
realizados nas proteções elétricas da unidade geradora.

Figura 15: Classificação das funções de proteção de geradores


conforme indicação da ANSI/IEEE Std 242, 1986.

Figura 16: Filosofia de alarme e desligamentos


implementados.Modificações em 15/12/10 destacadas em Figura 17: Horas indisponíveis e número de desligamentos da
verde. unidade geradora da PCH Alegre por proteção elétrica de
2007 a 2011.
4 CONCLUSÕES
Os resultados satisfatórios indicam diminuição drástica
de desligamentos indevidos, o que ressalta a
importância da otimização das proteções elétricas.

O processo contínuo de avaliação e estudos


proporcionou uma instalação mais confiável, protegida
e eficiente.

O método de aplicação de otimização, seu


aprofundamento em conjunto com o alcance de bons
resultados servem como subsídios para a melhoria
operacional de empreendimentos de geração de energia
elétrica.

5 REFERÊNCIAS
[1] ANSI/IEEE Std 242 (1986). Recommended Practice
for Protection and Coordination of Industrial
and Commercial Power Systems.

[2] ANSI/IEEE C-50.13 (2005). American National


Standard for Cylindrical Rotor Synchronous
Generators.

[3] Blackburn, J. Lewis e Domin, T. J. (2007).


Protective Relaying: Principles and
Applications. CRC Press, Florida.

[4] Reimert, Donald (2006). Protective Relaying for


Power Generation Systems. CRC Press, Florida.

[5] Mason, C. Russell (1956). The Art & Science of


Protective Relaying. 346p. GE, Ontario, Canadá.

[6] Mamede Filho, João e Daniel Ribeiro Mamede


(2011). Proteção de Sistemas Elétricos de
Potência, 605p. LTC, Rio de Janeiro.

[7] Domingues, Elenilton Teodoro (2003). Proteção de


Sistemas Elétricos, 105p. Associação de Ensino
e Cultura Piodécimo, Aracaju-SE.

[8] GE Multilin 489 (2004). Generator Management


Relay – Instruction Manual. 232p. GE Multilin,
Ontario, Canadá.

[9] SIEMENS SIPROTEC®4 7UM62 (2001).


SIPROTEC® 4 Relé de Proteção Multifunção de
Gerador,Motor e Transformador 7UM62 –
Order-no.: C53000-G1176-C149-1. 466p. LZF
Fürth-Bislohe, Alemanha.

[10] SEL University (2006). Introdução a Proteção de


Sistemas Elétricos-P3. SEL University.

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