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Revisão sistemática | Systematic review

Local de inserção de mini-implantes extra-alveolares no buccal


shelf – revisão sistemática
Extra-alveolar mini-implants insertion site in the buccal shelf – systematic
review
Marcus Vinicius Neiva Nunes do Rego1
Cristiano Alvarenga Sousa2
Verônica Sousa Pinto2
Pio Thiago Fortes3

Resumo
O presente estudo teve como objetivo avaliar, por meio de uma revisão sistemática da li-
teratura, a melhor área anatômica para instalação de mini-implantes extra-alveolares na man-
díbula, região do buccal shelf. A pesquisa foi realizada nas bases de dados PUBMED, SCOPUS,
WEB OF SCIENCE e COCHRANE LIBRARY, de setembro de 2019 a março de 2020. A estratégia
de busca incluiu termos relativos a mini-implantes extra-alveolares, ancoragem esquelética
e espessura da cortical óssea mandibular e resultou em 18585 títulos/resumos, sendo nove
artigos lidos integralmente. Foram selecionados cinco artigos para avaliação metodológica,
após aplicação dos critérios de inclusão e exclusão. Todos os estudos foram retrospectivos
e a maioria com nível de evidência moderado. Os resultados revelaram uma alta taxa de su-
cesso dos mini-implantes extra-alveolares (em torno de 90%) e, quanto à região anatômica,
a área correspondendo à distal do segundo molar apresentou maior espessura da cortical e
largura óssea. No entanto quanto mais distal ao segundo molar, maior a proximidade do ner-
vo alveolar inferior. Foram observadas variações individuais, mas faltam evidências científicas
em relação às possíveis variáveis de interferência tais como tipo de má oclusão, padrão de
crescimento, tipo racial, idade e gênero. Conclui-se que os mini-implantes extra-alveolares na
região do buccal shelf são recursos eficientes de ancoragem e o local mais adequado para a
instalação foi a região vestibular aos segundos molares, a uma distância de 4mm a 8mm da
junção cemento esmalte, com um ângulo de 700 a 900 com o plano oclusal mandibular.
Descritores: Procedimentos de ancoragem ortodôntica, mandíbula, revisão sistemática.

Abstract
The present study aimed to evaluate, through a systematic review of the literature, the
best anatomical area for the installation of extra-alveolar mini-implants in the mandible, buc-
cal shelf region. The research was conducted in the PUBMED, SCOPUS and WEB OF SCIENCE
databases and COCHRANE LIBRARY from September 2019 to March 2020. The search strat-
egy included terms related to extra-alveolar mini-implants, skeletal anchorage and thickness of
the mandibular bone cortex and resulted in 18585 titles/abstracts of which nine articles were
read in full. Five articles were selected for methodological evaluation after the application of
the inclusion and exclusion criteria. All the studies were retrospective and most of them with a
moderate level of evidence. The results revealed a high success rate of the extra-alveolar mini-
implants (around 90%), and in relation to the anatomical region, the area corresponding to
the distal of the second molar presented greater cortical thickness and bone width. However,
the more distal to the second molar, the greater the proximity of the inferior alveolar nerve.

1
Mestre e Doutor em Ortodontia, Pós-Doutor em Ortodontia – UFRJ, Departamento de Ortodontia – Centro Universitário Uninovafapi/PI.
2
Graduação em Odontologia – Centro Universitário Uninovafapi/PI.
3
Especialista em Ortodontia – Centro Universitário Uninovafapi/PI.

E-mail do autor: marcus_rego@yahoo.com.br


Recebido para publicação: 09/09/2019
Aprovado para publicação: 01/07/2020

Como citar este artigo:


Rego MVNN, Sousa CA, Pinto VS, Fortes PT. Local de inserção de mini-implantes extra-alveolares no buccal shelf - revisão sistemática. Orthod. Sci.
Pract. 2022; 15(57):95-102.
DOI: 10.24077/2022;1557-185112

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Individual variations were observed, but scientific evidence is lacking regarding the possible
interference variables, such as malocclusion type, growth pattern, racial type, age and gender
It was concluded that extra-alveolar mini-implants in the buccal shelf region are efficient an-
choring resources and the most appropriate place for the installation was the vestibular region
to the second molars, at a distance of 4mm to 8mm from the cementoenamel junction, with
angulation ranging from 70 to 90 degrees in relation to the mandibular occlusal plane.
Descriptors: Orthodontic anchorage procedures, mandible, systematic review.

Introdução
Atualmente, os mini-implantes extra-alveolares bém quanto à possibilidade de variações anatômicas
são utilizados como um método alternativo para anco- na mandíbula, associadas ao padrão crescimento, tipo
ragem absoluta. Tais ferramentas ortodônticas alcan- racial, gênero, idade e diferentes tipos de má oclusão10.
çaram uma ampla utilização, devido a apresentarem No intuito de aumentar a precisão do local de inserção
eficiência na ancoragem esquelética, boa estabilidade, dos mini-implantes, pode-se utilizar a tomografia com-
com baixas taxas de falha e menor risco de lesão radi- putadorizada de feixe cônico (TCFC), que disponibiliza
cular, fatores que favorecem uma enorme aceitabilida- uma imagem tridimensional e de alta resolução da es-
de por parte dos pacientes. Os locais mais utilizados trutura dentária e osso adjacente11,12.
para colocação desses dispositivos de ancoragem são a Sendo assim, diante da ampla utilização dos mini-
crista infrazigomática na maxila e a plataforma mandi- -implantes extra-alveolares na região do buccal shelf,
bular (buccal shelf)1,2,3. torna-se relevante realizar uma revisão sistemática da
Define-se como buccal shelf a área localizada na literatura desses dispositivos de ancoragem, como tam-
região posterior do corpo da mandíbula, vestibular às bém elucidar qual a melhor área anatômica de instala-
raízes dos primeiros e segundos molares e anterior à li- ção e as possíveis variáveis de interferência, no intuito
nha oblíqua externa4. Essa região é utilizada como local de evitar intercorrências e aumentar o índice de suces-
de eleição para colocação de mini-implantes extra- so do tratamento.
alveolares na mandíbula, devido a sua permissibilidade
na liberdade dos movimentos ortodônticos, uma vez Metodologia
que a posição do mini-implante, aliada à abundância
Utilizou-se para a presente revisão sistemática as
do osso mandibular impossibilita um possível desloca-
orientações e diretrizes determinadas pelo Preferred
mento do parafuso ou interferência das raízes dentá-
Reporting Items for Systematic and Meta-Analysis: The
rias. Sendo assim, o uso de mini-implantes nessa área,
PRISMA Statement13. Foi elaborado o formato PICO
por permitir a distalização de todo o arco inferior, se-
(Tabela 1), como ferramenta de auxílio na busca de
ria uma alternativa para otimizar o tratamento da má
dados, além de colaborar na aplicação dos critérios de
oclusão de Classe III, evitando-se extrações, uso de
inclusão e exclusão.
elásticos de Classe III ou outros tratamentos compen-
satórios4,5,6,7,.
A estabilidade primária é um dos pontos-chave
Tabela 1 – Formato PICO utilizado no presente estudo.
para o sucesso dos mini-implantes. Dentre os fatores
que podem interferir na estabilidade, pode-se destacar Pacientes a serem tratados com mini-
População
a densidade óssea, a espessura e a profundidade da -implantes extra-alveolares
cortical, as características do tecido mole (mucosa al- Escolha do local de instalação por
Intervenção
veolar ou gengiva inserida, espessura do tecido e proxi- meio de tomografia computadorizada
midade de bridas) e a proximidade de estruturas anatô- Avaliação de diferentes áreas da re-
micas, como raízes, nervos, seios/cavidades nasais4,8,9. Comparação
gião posterior da mandíbula
Quando comparados aos tradicionais mini-implantes
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Outcome = Espessuras ósseas diferentes de acordo


interradiculares introduzidos na literatura por Kanomi
Resultados com os locais analisados
(1997)8, os dispositivos extra-alveolares praticamente
eliminariam o risco de lesão às raízes dos dentes. Hipótese Existe diferença na espessura óssea na
Embora a região do buccal shelf venha sendo uti- Nula região do buccal shelf
lizada como rotina para colocação de mini-implantes
extra-alveolares na mandíbula, dúvidas ainda per-
sistem em relação à melhor área para colocação dos A pesquisa foi realizada nas bases de dados PUB-
parafusos, se na região dos primeiros molares, entre MED, SCOPUS, WEB OF SCIENCE e COCHRANE LIBRA-
os primeiros e os segundos molares ou na região dos RY de setembro 2019 a março de 2020, sem restri-
segundos molares4,5,6,8. Existem questionamentos tam- ção de idioma ou ano de publicação. A estratégia de

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busca incluiu termos relativos a mini-implantes extra- 1ª etapa. O processo de seleção foi dirigido por dois
-alveolares, ancoragem esquelética e espessura da cor- pesquisadores e as discordâncias existentes entre esses
tical óssea mandibular. Os termos de pesquisa foram foram resolvidas através de uma reunião de consenso
adaptados para uso com outras bases bibliográficas em com um terceiro avaliador. As referências dos artigos
combinação com filtros específicos de banco de dados. selecionados foram revistas manualmente, com o pro-
Os artigos que apareceram em mais de um banco de pósito de estender a busca de artigos potencialmente
dados foram considerados apenas uma vez. relevantes, que poderiam não ter sido incluídos nas ba-
A análise dos artigos seguiu o critério de inclusão: ses de dados.
avaliação da espessura óssea na região do buccal shelf Após a seleção, os artigos incluídos foram avalia-
através de tomografia computadorizada. Já os critérios dos quanto à qualidade metodológica de acordo com
de exclusão foram: avaliação de espessura óssea ex- a lista baseada no CONSORT14, quando aplicável, e mo-
clusivamente na maxila e perdas ósseas e dentárias na dificada pelos revisores. Os artigos foram classificados
região de molares inferiores. como: alta (≥ 13), moderada (< 13 e ≥ 9) e baixa (< 9)
A seleção dos estudos foi realizada então em duas qualidade metodológica. Os dados foram extraídos dos
etapas: 1ª etapa - leitura dos títulos e resumos; 2ª artigos por dois revisores separadamente e posterior-
etapa - leitura na íntegra dos artigos selecionados na mente confrontados (Tabela 2).

Tabela 2 – Avaliação da qualidade metodológica com base no CONSORT14.


Características de qualidade metodológica avaliadas nos estudos incluídos Pontuação
A Descrição dos objetivos do estudo 1
Desenho do estudo (retrospectivo = 0 ponto; prospectivo = 1 ponto; prospectivo
B 2
randomizado = 2 pontos)
C Descrição dos critérios de inclusão e exclusão da amostra 1
D Intervenção claramente descrita 1
E Medidas para avaliar os resultados descritos 1
F Determinação do tamanho da amostra (cálculo amostral) 1
G Descrição dos métodos de análise estatística 1
H Descrição demográficas da amostra - idade, gênero e etnia 1
Descrição da amostra (condição periodontal, locais de avaliação, perdas dentárias,
I 3
padrão esquelético)
J Descrição do tempo de tratamento e acompanhamento (1 ponto cada) 2
K Descrição de limitações, vieses e imprecisão do estudo 1
L Calibração do operador 1

Rego MVNN, Sousa CA, Pinto VS, Fortes PT.

Resultados
Após a busca nas bases de dados foram identifica- não utilizaram TCFC. O resumo do processo de seleção
dos 18585 artigos PUBMED – 7332, SCOPUS – 6623, está descrito na Figura 1.
WEB OF SCIENCE – 4630, COCHRANE LIBRARY - 479). Dos artigos selecionados, todos foram estudos
Excluindo-se as duplicatas, restaram 14367 artigos, clínicos retrospectivos e tiveram qualidade de alta4 a
sendo excluídos 14358 após a leitura do título e resu- moderada5,10,15,16. A maior parte dos artigos apresen-
mos. Sendo assim, 9 foram lidos integralmente e após tou deficiência no cálculo amostral e na descrição dos
a aplicação dos critérios de elegibilidade, 5 restaram critérios de inclusão e exclusão (Tabela 3).
para avaliação qualitativa do risco de viés. Quatro ar- As informações quanto ao autor, ano, desenho do
tigos foram excluídos após leitura completa, pois não estudo, amostra, objetivo, método de avaliação, análi-
realizaram mensurações na região do buccal shelf ou se estatística e conclusão estão descritos na Tabela 4.

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Figura 1 – Diagrama de Fluxo PRISMA.

Identificação Registros identificados em pesquisa


Registros adicionais identificados
nos bancos de dados
através de outras fontes (n =0)
(n = 18585)

Duplicações removidas
Triagem

(n =4218)

Registros Selecionados Registros excluídos


(n =14367) (n =14358)
Elegibilidade

Artigos com texto completo avaliados


Artigos completos excluídos
para elegibilidade
(n =4)
(n =9)
Inclusão

Estudos incluídos na síntese qualitativa


(n = 5)

Tabela 3 – Avaliação da qualidade dos métodos avaliados nos artigos selecionados.


Autor A B C D E F G H I J K L Pontos Qualidade
Chang et al (2016) 5
1 0 0,5 1 1 0 1 0,5 3 1 1 0 10 Moderada
Nucera et al (2017) 4
1 0 1 1 1 1 1 1 3 1 1 1 13 Alta
Elshebiny et al (2018) 10
1 0 0,5 1 1 0 1 1 3 0 1 1 10,5 Moderada
Parinyachaiphun et al
1 0 1 1 1 0 1 1 3 1 1 1 12 Moderada
(2018)15
Liu et al (2019)16 1 0 1 1 1 0 1 1 2,5 2 1 1 12,5 Moderada

Tabela 4 – Dados obtidos dos artigos incluídos no presente estudo.


Desenho Análise
Autor Amostra Objetivo Método de Avaliação Conclusão
do Estudo Estatística
Retrospec- 12 Avaliar, por Imagens TCFC obtidas de 12 Teste T A área de maior
tivo pacientes meio de TCFC, pacientes asiáticos tratados espessura para
a anatomia do com mini-implantes bilaterais instalação dos
buccal shelf em (n = 24). As regiões avaliadas mini-implantes
pacientes com foram: mesial, meio e distal extra-alveolares na
Chang et al (2016)5

má oclusão de dos primeiros molares e me- mandíbula (buccal


Classe III sial, meio e distal dos segun- shelf) foi entre
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dos molares os primeiros e


segundos molares,
aproximadamente
5 mm-7 mm abaixo
da crista óssea,
com ângulo de
inserção de 700 a
900 com o plano
oclusal mandibular
(continua)

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Tabela 4 – Dados obtidos dos artigos incluídos no presente estudo (continuação).

Desenho Análise
Autor Amostra Objetivo Método de Avaliação Conclusão
do Estudo Estatística
Retrospec- 15 Analisar a espes- A espessura da cortical e a Teste O local com carac-
tivo homens e sura da cortical largura óssea vestibular foram Shapiro- terísticas anatômi-
15 e a largura óssea avaliadas em imagens de TCFC Wilk e Teste cas mais favorável
Nucera et al (2017)4

mulheres para determinar de 30 indivíduos adultos (ida- de Levene para inserção dos
os locais mais de média de 30,9 ± 7,0 anos), mini-implantes
adequados para de 6mm a 11mm da junção correspondeu à raiz
inserção dos cemento esmalte distal do segundo
mini-implantes molar, à 4mm de
na mandíbula distância da junção
cemento esmalte

Retrospec- 12 Determinar a As medidas foram feitas em Teste de Em pacientes bran-


tivo homens e espessura da TCFC de 30 pacientes brancos Shapiro-Wilk, cos, o local de elei-
18 cortical e largura com idade média de 14,5 anos Correlação ção para colocação
mulheres da plataforma ± 2 anos) Interclasse, do mini-implante é
Elshebiny et al (2018)10

mandibular Teste T, a região vestibular


em pacientes ANOVA do segundo molar,
brancos, bem de 4mm a 8mm
como a proximi- da junção cemento
dade do nervo esmalte, sendo que
alveolar inferior quanto mais distal,
dos locais de maior a proximi-
inserção dos dade com o nervo
mini-implantes alveolar inferior

Retrospec- 20 Comparar a Nas TCFC de 40 pacientes Índice de Entre os indivíduos


tivo pacientes inclinação e a (média de idade: 24,75 anos) Correlação hiperdivergentes e
hiperdiver- espessura do foram avaliadas: inclinação Intraclasse, normodivergentes
Parinyachaiphun et al (2018)15

gentes e buccal shelf do buccal shelf, espessura da Kolmogorov com má oclusão


20 entre pacien- cortical óssea, distância da raiz -Smirnov, Classe III, não
pacientes tes Classe III do molar ANOVA foram encontradas
hipodiver- hiperdivergentes diferenças para
gentes e normodiver- a inclinação e a
gentes espessura do osso
cortical no buccal
shelf. A superfície
mesial do segundo
molar inferior seria
o local de inserção
mais seguro.

Retrospec- 50 Analisar a Nas TCFC de 80 pacientes Índice de O local de eleição


Rego MVNN, Sousa CA, Pinto VS, Fortes PT.

tivo mulheres espessura óssea entre 18 a 37a foram realiza- Correlação para instalação
e na região do das mensurações da espessura Intraclasse, no mini-implante
Liu et al (2019)16

30 buccal shelf óssea na região buccal shelf Teste T extra-alveolar na


homens e a distância nos seguintes locais: entre o pareado, região do buccal
interradicular, segundo pré-molar e o primei- Kruskall- shelf foi entre o
bem como a ro molar, entre as raízes mesial Wallis primeiro e o segun-
relação entre o e distal do primeiro molar, do molar
mini-parafuso e entre o primeiro e segundo
o nervo alveolar molar e entre as raízes mesial
inferior e distal do segundo molar

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Discussão
A seleção do local de instalação dos mini-implantes ser questionada devido ao fato de a amostra ser pe-
extra-alveolares é comumente indicada por meio de quena e envolver somente a má oclusão de Classe III,
uma série de fatores, tais como: espessura da cortical, além da ausência de informações quanto ao gênero,
densidade e largura óssea, que podem variar de acordo faixa etária dos pacientes e sensibilidade do método.
com as características indiviudais de cada paciente e Partindo-se da premissa de que a região do buc-
tipo de ancoragem desejada, se direta ou indireta4,10. cal shelf pode apresentar variações anatômicas, in-
Em relação à estabilidade dos mini-implantes ex- clusive com alguma influência da faixa etária, Nucera
tra-alveolares na mandíbula, existe somente um estu- et al (2017)4 realizaram um estudo com 30 pacientes
do6 que avaliou esse aspecto em 1680 mini-implantes adultos de origem caucasiana, com idade entre 20 a
colocados na região do buccal shelf, entre o primei- 41 anos e determinaram que o local com característi-
ro e segundo molar, com uma distância de 5mm da cas anatômicas mais favorável para inserção dos mini-
junção cemento esmalte. Os resultados evidenciaram -implantes correspondeu à raiz distal do segundo mo-
uma taxa de estabilidade, em torno de 93% após a lar, a 4mm de distância da junção cemento esmalte.
finalização da mecânica, com pequena predisposição Caso a colocação seja mais para mesial em relação ao
à fratura. Esse índice de sucesso é um pouco superior segundo molar, a inserção deverá ser mais apical em
ao de outros estudos que avaliaram a estabilidade de relação à junção cemento esmalte. Os autores ressal-
mini-implantes interradiculares, nos quais o índice de taram, ainda, que variações anatômicas na região do
perda foi igual ou superior a 10%17,18,19,20,21,22. buccal shelf entre primeiro e segundos molares foram
Diante da ausência de revisões sistemáticas ava- observadas, sugerindo a realização de uma avaliação
liando o melhor local para inserção para mini-implan- individual com auxílio da TCFC previamente à instala-
tes extra-alveolares na mandíbula, desenvolveu-se o ção do mini-implante, com a finalidade de reduzir um
presente estudo. Com base nos critérios de inclusão excessivo torque de inserção, além de propiciar ade-
e exclusão, foram selecionados cinco artigos para aná- quada estabilidade primária. Uma limitação do estudo
lise dos dados e discussão. Após avaliação metodoló- seria a ausência de descrição do tipo de má oclusão,
gica, esses foram classificados em estudos de alta4 e padrão esquelético dos pacientes e análise estratificada
moderada5,10,15 qualidade. Um ponto a ressaltar foi a entre os gêneros.
ausência de estudos prospectivos, além das limitações Em seu estudo com pacientes brancos, Elshebiny
relativas ao cálculo amostral, destacando-se o estudo et al (2018)10 verificaram três aspectos relativos à mor-
de Chang et al (2016)5, que utilizou apenas 12 pacien- fologia da região do buccal shelf, como a espessura da
tes asiáticos com má oclusão de Classe III. cortical, largura óssea e proximidade do nervo alveo-
O estudo de Elshebiny et al (2018)10 indicou que lar inferior. Os achados tornaram evidente que quanto
a alta taxa de sucesso da inserção dos mini-implantes mais próximo à distal do segundo molar e mais inferior
extra-alveolares está relacionada à estabilidade primá- em relação à junção cemento esmalte, maior a largura
ria desses, especificamente na plataforma mandibular óssea. Embora com variações individuais, a região do
(buccal shelf), devido à adequada espessura da corti- primeiro molar não evidenciou ter lagura óssea compa-
cal e à liberdade dos movimentos ortodônticos, princi- tível para inserção dos mini-implantes extra-alveolares.
palmente, em pacientes com má oclusão de Classe III. Em relação à espessura da cortical, os resultados foram
Além disso, a região do buccal shelf proporciona uma semelhantes, visto que se observou um aumento da es-
inserção de mini-implantes extra-alveolares com maio- pessura ao nível da cúspide distovestibular dos segun-
res diâmetros, sem interferência da inclinação axial dos dos molares, quando camparadas a mensurações mais
molares e com baixo risco de comprometer as raízes mesiais. Entretando vale ressaltar que quanto mais dis-
adjacentes (Chang et al, 2015)6. tal em relação ao segundo molar, maior à proximidade
O primeiro estudo que avaliou a anatomia do lo- do nervo alveolar inferior. Outro aspecto relevante a
cal de inserção dos mini-implantes extra-alveolares na ser destacado foi que na população branca as aréas
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mandíbula foi o de Chang et al (2016)5. De acordo com ósseas de inserção foram menores que nos estudos
os seus resultados, o melhor local para inserção seria conduzidos em população asiática5,6, provavelmente
entre os primeiros e segundos molares, aproximada- devido ao padrão facial asiático ser mais braquicefá-
mente 5mm-7mm abaixo da crista óssea, com ângulo lico. Novamente faltaram informações relativas às di-
de inserção de 300. Esse ângulo de inserção aumentaria ferenças entre os gêneros, tipo de má oclusão, padrão
o contato mecânico e, consequentemente, melhoraria esquelético, além do fato da amostra ser restrita a pa-
a estabilidade primária23. Os autores relataram que a cientes adolesentes.
distância, com margem de segurança adequada entre A influência do padrão de crescimento na anatomia
o mini-implante extra-alveolar e a raiz seria em torno da região do buccal shelf foi avaliada em 40 pacientes,
de 1,7mm. Contudo a precisão desses resultados pode com má oclusão de Classe III, categorizados em dois

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subgrupos (hiperdivergentes e normodivergentes), de mole na região deve também ser um fator considerado.
acordo com o ângulo formado entre o planos palatino De acordo com as informações obtidas do pre-
e mandibular15. Os resultados não evidenciaram dife- sente estudo, permanecem ainda dúvidas com relação
renças na inclinação e na espessura da cortical entre às possíveis variações anatômicas na região do buccal
os pacientes, bem como na distância da cortical óssea shelf, de acordo com os diferentes tipos de má oclu-
para a raiz do molar. A superfície mesial do segundo são, padrão de crescimento craniofacial, gênero, faixa
molar foi considerada a área de eleição para instala- etária ou tipo racial, o que sugere a necessidade da
ção do mini-implante extra-alveolar, com um aumento realização de estudos clínicos com amostras mais sig-
do nível vertical e do ângulo de inserção. As limitações nificativas para elucidar tais questionamentos. Mesmo
envolveram o tamanho da amostra e a não inclusão de sabendo da propalada alta taxa de sucesso dos mini-
pacientes Classe III hipodivergentes. -implantes extra-alvelares, essa é baseada em somente
O estudo com a maior amostra de pacientes foi re- um único artigo6, o que suscita dúvida da replicação
alizado por Liu et al (2019)16, no qual 80 pacientes sem desses achados em outras amostras. O melhor local de
distinção de padrão esquelético, tiveram a região do inserção parece ser a região vestibular aos segundos
buccal shelf mensurada por meio de TCFC. Os resulta- molares, indo da interproximal entre primeiro e segun-
dos sugeriram que o local de eleição para a instalação do molar até o meio do segundo molar, de 4mm a
dos mini-implantes extra-alveolares deveria ser entre os 8mm da junção cemento esmalte. No entanto se torna
primeiros e segundos molares, não só pela espessura necessária uma avaliação individual, com o auxílio da
óssea, mas pela facilidade de acesso e ângulo de inser- TCFC previamente à inserção dos mini-implantes extra-
ção, quando comparada à uma instalação mais distal. -alveolares (Figura 2), no intuito de evitar intercorrên-
Os autores ainda destacaram que a espessura de tecido cias ou insucesso a longo prazo.

A B

Rego MVNN, Sousa CA, Pinto VS, Fortes PT.

C D
Figura 2 (A-D) – Planejamento individualizado para inserção de mini-implantes na região do buccal shelf. A) Vista sagital. B) Vista
coronal. C) Vista Axial. D) Visão 3D lado esquerdo.

Conclusões
De acordo com a metodologia e os resultados do destacando-se os seguintes aspectos:
presente estudo confirmou-se a hipótese nula da di- - O local mais adequado para a instalação na re-
ferença na espessura óssea na região do buccal shelf, gião do buccal shelf em relação à espessura da cortical

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e largura óssea foi a região vestibular aos segundos 15. Parinyachaiphun S, Petdachai S, Chuenchompoonut V. Con-
siderations for placement of mandibular buccal shelf ortho-
molares, a uma distância de 4mm a 8mm da junção
dontic anchoring screw in Class III hyperdivergent and nor-
cemento esmalte, com ângulo de inserção de aproxi- modivergent subjects – a cone beam computed tomography
madamente 700 a 900 com o plano oclusal mandibular, study. Orthod. waves. 2018; 286:1-13.
16. Liu H, Wu X, Tan J, Li X. Safe regions of miniscrew implan-
sendo que quanto mais distal, maior a proximidade do
tation for distalization of mandibular dentition with CBCT.
nervo alveolar inferior; Prog. orthod. 2019; 20:45.
- Variações anatômicas individuais foram observa- 17. Chen YJ, Chang HH, Huang CY, Hung HC, Lai EHH, Yao
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das na região do buccal shelf, no entanto faltam evi-
fferent orthodontic skeletal anchorage systems. Clin. oral
dências científicas em relação às possíveis variáveis de implants res. 2007; 18:768-775.
interferência, tais como: tipo de má oclusão, padrão de 18. Kuroda S, Yamada K, Deguchi T, Hashimoto T, Kyung HM,
Takano-Yamamoto T. Root proximity is a major factor for
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screw failure in orthodontic anchorage. Am. j. orthod. den-
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