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A IMPORTÂNCIA DAS ATRIBUIÇÕES DO VIGILANTE

AS TAREFAS DO COTIDIANO

O vigilante, profissional especializado e fundamental para a área de

Segurança Privada, exerce no cotidiano do seu trabalho uma gama de atividades

divididas basicamente em quatro segmentos: vigilância patrimonial, transporte de

valores, escolta armada e segurança pessoal. Obviamente, dependendo do

segmento em que atue, deverá desenvolver atribuições bastante específicas, mas,

conforme a particularização de objetivos do professor Paulo Roberto Aguiar

Portella1, as principais atividades corriqueiras desenvolvidas pelo vigilante são as

seguintes:

a) Implementar e fiscalizar a obediência ao sistema de controle e identificação

do pessoal;

b) Observar e patrulhar perímetros designados, áreas, estruturas e atividades

do interesse da segurança;

c) Apreender pessoas ou veículos que tenham entrado sem autorização nas

áreas de segurança;

d) Fiscalizar determinados depósitos, salas ou edifícios do interesse da

segurança, particularmente fora do horário de expediente normal, visando verificar

se estão corretamente protegidos e em ordem;

e) Executar serviços essenciais de escolta;

f) Implementar e fiscalizar a obediência ao sistema estabelecido de controle

sobre circulação de documentos e materiais de interesse da segurança nas áreas

controladas;
g) Responder aos sinais de alarme de proteção ou outras indicações de

atividade suspeita;

h) Agir conforme necessário em situações que afetem a segurança, inclusive

em acidentes, incêndios, desordem interna, tentativas de espionagem, sabotagem

ou outros atos criminosos;

i) Comunicar ao supervisor, como dever prescrito de rotina, as condições de

trabalho e conforme necessário, em todas as circunstâncias anormais;

j) Proteger geralmente dados, materiais e equipamentos contra acesso não

autorizado, perda, furto ou dano.

Note-se que a maioria das atribuições que o vigilante deve desempenhar no

decorrer da sua rotina de trabalho demanda a necessidade de conhecimentos

razoáveis para o manuseio de armamento e equipamentos dos mais diversos, como

rádios de comunicação para se comunicar com a base de operações, GPS. Para

seguir as rotas das viaturas em transporte de valores e escolta armada, operação de

portais de raio X, detectores de metais e centrais de monitoramento eletrônico,

dentre outros.

Com efeito, o conhecimento necessário para manusear e operar todos esses

meios decorre de sua formação e qualificação profissional, que se dá nas escolas de

formação de vigilantes credenciadas pela Polícia Federal, órgão que controla e

fiscaliza o setor de Segurança Privada. Entretanto, conforme já comentado, sabe

que a legislação vigente exige apenas a 4ª série do ensino fundamental para os

candidatos a curso de formação de vigilante. O que conforme opinião dos próprios

vigilantes e demais profissionais que atuam no setor (diretores de escolas de

formação, instrutores, empresários e agentes públicos do órgão fiscalizador), é


incompatível com o real grau de escolaridade que esse profissional necessita para

desempenhar de forma eficiente suas atividades laborativas.

A RESPONSABILIDADE DO PORTE DE ARMA DE FOGO

A legislação que regulamenta a atividade de Segurança Privada concede a

prerrogativa do porte de arma de fogo ao vigilante quando em serviço no exercício

da atividade profissional, conforme descrito no Artigo 22 da Lei 7.102/83:

Art. 22 — Será permitido ao vigilante, quando em serviço, portar revólver

calibre 32 ou 38 e utilizar cassetete de madeira ou de borracha.

Parágrafo único — Os vigilantes, quando empenhados em transporte de

valores, poderão também utilizar espingarda de uso permitido, de calibre 12, 16 ou

20, de fabricação nacional.

Decorrente de um mandamento legal, temos que o vigilante, assim como os

demais agentes da Segurança Pública, pode usar a arma de fogo, todavia somente

quando em serviço.

Nota-se a preocupação do legislador em conceder o abrigo da lei ao porte da

arma de fogo ao vigilante, por entender que esse profissional por exercer atividades

de segurança, ainda que no âmbito privado, está exposto aos riscos inerentes às

suas atribuições, notadamente aquelas que visam preservar vidas e patrimônios.

Sob essa perspectiva, verifica-se que os níveis de violência e criminalidade se

mostram cada vez mais elevados, o que enseja o aumento crescente de pessoas e

empresas interessadas em contratar vigilância armada para a sua proteção e de seu

patrimônio.
Por outra parte, o fato do vigilante portar arma de fogo no seu posto de

serviço cria naturalmente uma situação de maximização de risco, visto que diante da

crescente onda de violência, não são raros os casos de vigilantes impulsionados a

reagir à ação de criminosos que tomam de assalto as áreas que protegem. Na

maioria das vezes locais de grande circulação de pessoas, como agências

bancárias, lojas e shopping centers. Nesses casos é comum a troca de tiros entre

vigilantes e bandidos, expondo pessoas que se encontrem nas proximidades ao

risco de serem atingidas.

Quando isso ocorre, normalmente o vigilante é envolvido em situação

sensível, pois muitas vezes é indiciado e processado por eventuais lesões corporais

ou mortes que não provocou, mas que, em razão do seu dever de ofício de agir,

criou um risco iminente às pessoas que ali se encontravam naquele momento.

Dessa forma, o porte de arma funcional potencializa o grau de

responsabilidade do vigilante. Então, para se resguardar de eventual imputação

criminal quando de uma situação de confronto, deve agir com extremo autocontrole

e bom senso, conduta essa que não é fácil manter nessas circunstâncias.

Portanto, além do preparo técnico necessário ao vigilante para desempenhar

suas atividades, deve este também possuir habilidades subjetivas como

discernimento e bom senso para agir racionalmente em situações críticas e evitar

consequências desastrosas.

A VISÃO DOS EMPRESÁRIOS DA SEGURANÇA PRIVADA

O vigilante, segundo a ótica dos empresários do setor, constitui-se no

elemento fundamental do sistema da Segurança Privada, pois sem a participação


desse profissional a Segurança Privada se tornaria inviável. Ainda que se saiba que

essa atividade tem se valido cada vez mais de todo um aparato tecnológico de

sistemas e equipamentos que vem facilitar o trabalho do vigilante e em algumas

situações, até substituí-lo, por exemplo, nos postos onde há monitoramento remoto

por câmeras.

Corroborando essa situação, verifica-se que o segmento da segurança

eletrônica, um parceiro coadjuvante da Segurança Privada, tem se mostrado um

mercado muito promissor e disponibiliza os mais sofisticados recursos tecnológicos

para os empresários que lidam com segurança no Brasil.

Dados da Associação Brasileiras das Empresas de Sistemas Eletrônicos de

Segurança (ABESE) mostram que o setor cresceu em média 10% nos últimos seis

anos no Brasil. Os clientes corporativos ainda são maioria, com 85% do consumo no

país. Com faturamento de R$4,62 bilhões em 2013, registrando uma taxa de

crescimento de 10% em relação ao ano anterior, os números do mercado de

sistemas eletrônicos de segurança refletem o aumento da demanda de produtos e

serviços. O setor deverá manter seu crescimento nos próximos anos, devido à

ampliação do uso das tecnologias pela classe média brasileira, bem como a

utilização das tecnologias de sistemas eletrônicos de segurança pelos serviços

públicos1.

Por outro lado, os dados apontam que o número de vigilantes no Brasil tem

crescido de forma muito acentuada, mesmo se considerando apenas os

profissionais regularmente formados e cadastrados, já que se sabe que também há

um número extraordinário de vigilantes não regularizados que exercem a atividade

clandestinamente.
Conforme os registros da CGCSP — Coordenação Geral de Controle da

Segurança Privada, órgão da Polícia Federal que controla e regula as atividades de

Segurança Privada no Brasil, existem atualmente 559.242 vigilantes cadastrados.

Esse verdadeiro “exército” da Segurança Privada reflete a importância do

vigilante para o setor, o que denota a sua imprescindibilidade para as empresas,

pois sabemos que o elemento humano ainda tem a primazia na quase totalidade das

atividades laborais, e na área da Segurança Privada com mais propriedade ainda. Já

que o vigilante acaba realizando um serviço de segurança privada que muitas vezes

preenche uma lacuna que não é suprida pela Segurança Pública.

O Recrutamento e a Seleção

Assim como em qualquer área do setor de serviços, o processo de

recrutamento e seleção dos candidatos a cargo de vigilante se dá baseado no

currículo profissional do pretendente, onde se avaliam aspectos genéricos comuns a

qualquer profissão. Há outros bens específicos que, em face de exigências legais,

são inerentes a categoria profissional do vigilante, já que se trata de um profissional

especializado da área de segurança, que tem a prerrogativa do porte de arma de

fogo quando em serviço e que, mesmo no âmbito privado, tem o dever de prevenir e

reprimir os ilícitos penais.

Nesse aspecto, o primeiro requisito diz respeito à idade mínima do candidato

que, segundo a lei1, é de vinte e um anos. Note-se que já aqui o vigilante sofre uma

diferenciação em relação aos empregados em geral, que podem trabalhar

profissionalmente já a partir dos dezoito anos.


Outro requisito é que tenha sido aprovado em curso de formação de vigilante

realizado por empresa de curso de formação devidamente autorizada. Ressalte-se

que esse requisito é fundamental para o candidato a um posto de vigilante, pois,

além de atender a uma exigência legal, é o instrumento que forma e capacita o

candidato a exercer a profissão de vigilante de maneira formal.

Por último, vale enfatizar que todo candidato a curso de formação de vigilante

deve ter idoneidade comprovada mediante a apresentação de certidões negativas

de antecedentes criminais de todas as esferas da Justiça. Essa exigência se justifica

pela própria condição do cargo de vigilante, onde o mesmo desempenha atividades

de segurança visando à preservação das pessoas e do patrimônio, inclusive

podendo portar arma de fogo para tal finalidade. Esses são requisitos específicos

para o candidato ao cargo de vigilante, portanto, exigidos obrigatoriamente por todas

as empresas de Segurança Privada.

Já quanto ao grau de escolaridade, esse se constitui num ponto discrepante,

pois, apesar da lei exigir tão somente a 4ª série do ensino fundamental, nenhuma

empresa de Segurança Privada contrata vigilante que detenha esse grau de

escolaridade. Conforme pesquisas realizadas e que deram embasamento ao

presente trabalho científico, quando interpelados sobre essa questão, todos os

pesquisados foram unânimes em afirmar que exigem pelo menos o ensino

fundamental completo e que inclusive a maioria dos candidatos possui o ensino

médio.

Essa situação fática só vem mostrar que o mercado de trabalho atual exige

profissionais com um nível de escolaridade cada vez mais elevado e que a

legislação que regula o setor de Segurança Privada encontra-se ultrapassada e

precisa ser reformulada para se adequar a essa nova realidade. O próprio mercado
de trabalho nesse segmento já denota que mudanças precisam ser efetuadas, de

modo a que o vigilante tenha condições de competitividade e obtenha colocação na

sua área.

A evolução tecnológica e os novos desafios

A logística da Segurança Privada é hoje, de longe, muito diferente daquela

praticada nos idos da década de setenta, quando do princípio dessa atividade no

Brasil.

Àquela época, as incipientes empresas de Segurança Privada não

dispunham dos recursos tecnológicos ofertados em abundância ao setor como se

constata na atualidade e as tarefas realizadas pelo vigilante também não

demandavam a necessidade desses dispositivos. O fato é que, por conta do grande

desenvolvimento na indústria de equipamentos eletrônicos com o advento da era da

tecnologia da informação e comunicações, o mercado foi invadido pelos mais

diversos equipamentos e sistemas destinados especialmente à área de segurança

que, com o passar do tempo foi se tornando mais diversificada e complexa.

Essa constatação se dá ao se analisar a taxa de crescimento no setor, pois

segundo dados da Associação Brasileira das Empresas de Sistemas Eletrônicos de

Segurança (ABESE), houve um crescimento médio de 10% nos últimos seis anos no

Brasil.

É evidente que para se operar toda essa diversidade de equipamentos e

sistemas, necessária se torna a adequada qualificação dos profissionais das

empresas de Segurança Privada, no caso os vigilantes, que constituem a mão de

obra fundamental desse segmento.


Proposta de mudança na legislação

O fato da legislação que regulamenta o setor de Segurança Privada

encontrar-se obsoleta diante da realidade desse importante segmento de serviço no

Brasil é questão inconteste, mormente no tocante à exigência do grau de

escolaridade exigido do profissional vigilante, que se limita ao ínfimo patamar da 4ª

série do ensino fundamental, qualificação esta já completamente insuficiente para

atender às exigências desse mercado.

Nesse sentido, com vistas a corrigir essa distorção legislativa, encontra-se

em tramitação no Congresso Nacional o Projeto de Lei nº 4.238/2012, de autoria do

senador Marcelo Crivella (PRB/RJ), denominado Estatuto da Segurança Privada,

que tem como objetivo regular a organização e funcionamento da Segurança

Privada e da Segurança das Instituições Financeiras no Brasil. Dentre as mudanças

que propõe ao setor e que interessam, destaca-se a que prevê a exigência do

ensino fundamental completo para os candidatos a curso de formação de vigilante.

Essa é uma aspiração dos próprios operadores da Segurança Privada, que

entendem que o mercado de segurança não tem mais espaço para um profissional

de baixa escolaridade. Posto que os avanços tecnológicos nessa área são uma

constante, necessitando de vigilantes que tenham conhecimentos básicos de

informática para operar equipamentos e sistemas, como também que possuam um

razoável grau de discernimento para tratar das relações interpessoais. Já que na

maioria das vezes no cotidiano do seu trabalho tem que tratar com o público.

O projeto já foi votado e aprovado em segunda fase na Câmara dos

Deputados em 29/11/2016, todavia como houve votação de destaques e isso


ocasionou modificação no seu texto, a matéria retornará ao Senado Federal para

nova discussão e votação, antes de seguir à sanção presidencial.

Destaque-se do referido projeto de lei, no caso o inciso I do parágrafo 1º do

Artigo 28, conforme transcrição:

§1º São requisitos específicos para o exercício da atividade de vigilante:

I — ter concluído todas as etapas do ensino fundamental.

Veja-se que essa mudança trata especificamente da exigência de um novo

grau de escolaridade para o exercício da atividade de vigilante, o ensino

fundamental completo, em substituição ao antigo requisito da 4ª série do ensino

fundamental previsto na vigente Lei 7.102/83.

1 – Câmara dos Deputados. Redação final do Substitutivo da Câmara dos

Deputados ao Projeto de Lei 4.238-B de 2012 do Senado Federal. Disponível em:

<http://www2. camara.leg.br/camaranoticias/noticias/SEGURANÇA/520349-

CAMARA-APROVA-PROJETO-DO-ESTATUTO-DA-SEGURANÇA PRIVADA>.

REFERÊNCIAS

BRASIL. Decreto nº 89.056, de 24 de novembro de 1983. Regulamenta a Lei nº


7.102, de 20 de junho de 1983, que dispõe sobre segurança para estabelecimentos
financeiros, estabelece normas para constituição e funcionamento das empresas
particulares que exploram serviços de vigilância e de transporte de valores e dá
outras providências. Disponível em: <
http://www2.camara.leg.br/legin/fed/decret/1980-1987/decreto-89056-24novembro-
1983-439196-publicacaooriginal-1-pe.html>. Acesso em: 28 jul. 2017.
______. Lei nº 7.102, de 20 de junho de 1983. Dispõe sobre segurança para
estabelecimentos financeiros, estabelece normas para constituição e funcionamento
das empresas particulares que exploram serviços de vigilância e de transporte de
valores, e dá outras providências. Disponível em:
<http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L7102.htm>. Acesso em: 28 jul. 2017.
______. Portaria 3.233/2012-DG/DGP. Dispõe sobre as normas relacionadas às
atividades de Segurança Privada. Disponível em:< http://www.pf.gov.br/servicos-
pf/segurancaprivada/legislacao-normas-e-
orientacoes/portarias/Portaria%20n3233.12.DG-DPF.pdf/view>. Acesso em: 28 jul.
2017.
______. Projeto de Lei 4.238/2012. Estabelece o Estatuto da Segurança Privada,
normas para o exercício das atividades, constituição e funcionamento das empresas
privadas que exploram os serviços de segurança, planos de segurança de
estabelecimentos financeiros, e dá outras providências. Disponível
em:<http://www.camara.gov.br/proposicoesWeb
/fichadetramitacao?idProposicao=552197>. Acesso em: 28 jul. 2017.
CERDEIRA, Mauro Tavares. Segurança Privada no Brasil. Monografia apresentada
no Curso de Pós-Graduação em Políticas e Estratégia do NAIPPE da Universidade
de São Paulo: USP, 2004.
GLOBALSEG. Tecnologia a Favor da Segurança. Disponível em: <http:// www
.global seg mg. com.br/tecnologia-a-favor-da-seguranca-2/>. Acesso em: 03 jul.
2017.
POLÍCIA FEDERAL. GESP – Gestão Eletrônica de Segurança Privada. Disponível
em: <www.pf.gov.br/serviços-pf/seguranca-privada/sistemas/gesp>. Acesso em: 26
jul. 2017.
PORTELA, Paulo Roberto Aguiar. Gestão de Segurança – História, prevenção e
sistemas de proteção. Rio de Janeiro: Editora Universidade Estácio de Sá, 2005.
REVISTA FENAVIST. LEI Nº 7.102: 25 anos de controle federal da Segurança
Privada. Disponível em: <http://www.fenavist.com.br/static/media/revistas/2008-
12.pdf>. Acesso em 09 jul.2017.

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