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Índice

Folha de rosto
direito autoral
Capı́tulo 1
Capı́tulo 2
Capı́tulo 3
Capı́tulo 4
capı́tulo 5
Capı́tulo 6
Capı́tulo 7
Capı́tulo 8
Capı́tulo 9
Capı́tulo 10
Capı́tulo 11
Capı́tulo 12
Capı́tulo 13
Capı́tulo 14
Capı́tulo 15
Capı́tulo 16
Capı́tulo 17
Capı́tulo 18
Capı́tulo 19
Capı́tulo 20
Capı́tulo 21
Capı́tulo 22
Capı́tulo 23
Capı́tulo 24
Capı́tulo 25
Epı́logo
Sobre o XP
Sobre o autor
direito autoral

Este livro é um trabalho de icçã o. Nomes, personagens, lugares e


incidentes sã o produto da imaginaçã o do autor ou sã o usados de forma
ictı́cia. Qualquer semelhança com eventos reais, locais ou pessoas,
vivas ou mortas, é coincidê ncia.
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Primeira ediçã o: fevereiro de 2018
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ISBNs: 978-0-316-47357-6 (brochura), 978-0-316-47356-9 (e-book)
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Folha de rosto
direito autoral

Capı́tulo 1
Capı́tulo 2
Capı́tulo 3
Capı́tulo 4
capı́tulo 5
Capı́tulo 6
Capı́tulo 7
Capı́tulo 8
Capı́tulo 9
Capı́tulo 10
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Capı́tulo 23
Capı́tulo 24
Capı́tulo 25
Epı́logo

Sobre o XP
Sobre o autor
1

Eu tenho esse sonho recorrente : sou uma garotinha, sentada com


minha mã e, e ela está cantando para mim. Estamos na praia em um
cobertor velho que ainda guardo no meu armá rio. Eu ouço as ondas
quebrando enquanto a voz da minha mã e sobe e desce. Sinto o calor do
sol na minha pele e o conforto de seus braços ao meu redor.
Quero icar neste momento para sempre.
Quando acordo, sinto falta do sonho. Eu sinto falta do sol. Eu sinto falta
da minha mã e.
Eu quero tanto que esse sonho seja real, mas isso seria impossı́vel
porque minha mã e morreu quando eu tinha seis anos.
E eu nã o posso sair no sol... tipo, de jeito nenhum. Eu tenho uma
condiçã o gené tica rara chamada xeroderma pigmentosum, també m
conhecido como XP, que basicamente signi ica uma sensibilidade severa
à luz solar. Se a luz do sol bater em minha pele, terei câ ncer de pele, e
meu corpo nã o pode reparar o dano, entã o meu cé rebro começa a
falhar - o que pode signi icar perda de audiçã o, di iculdade para andar e
engolir, problemas de movimento, perda de capacidade intelectual.
funçã o e capacidade de fala, convulsõ es e, ah sim, morte.
Bem divertido, certo?
Entã o eu passo meus dias dentro de casa, saindo com meu pai
(verdadeiramente o melhor pai de todos) e Morgan (verdadeiramente o
melhor amigo de todos).
Morgan e eu costumá vamos ingir que eu era como Rapunzel de
Enrolados , escondida na minha torre escura (quarto). Assistimos a esse
ilme umas cem vezes quando foi lançado. Rapunzel inalmente
enlouqueceu e saiu de lá com um cara. Agora que estou mais velha, eu
me relaciono completa e totalmente, garota.
Acho que se há outra coisa que tenho em comum com Rapunzel, é que
vou ter que manter a fé e continuar lutando até ter meu felizes para
sempre. O meu pode nã o estar destinado a durar tanto quanto o de
outras pessoas, mas isso nã o signi ica que será menos incrı́vel.
2

Lá vou eu, divagando novamente . E um há bito que à s vezes me deixa


em apuros. Você vai ver. Por enquanto, deixe-me voltar e começar do
inı́cio.
Oi! Eu sou Katie Price, e acho que olhando de fora – se você pudesse
realmente ver nas minhas janelas, o que você nã o pode, graças à s
persianas solares que bloqueiam toda luz UV de entrar na minha casa –
você pode acho que sou uma garota paté tica e doente que está sempre
olhando pela janela vendo a vida passar. Mas na verdade sou como todo
mundo, com a grande exceçã o da coisa de “nã o pode sair no sol”.
Eu toco guitarra e escrevo letras e poesias e acho que soo incrı́vel
quando canto no chuveiro. Eu amo astronomia e espero ser um
astrofı́sico algum dia. Eu odeio couve de Bruxelas, amo comida chinesa,
acho que os pugs sã o os cã es mais adorá veis do planeta e ico assustado
com aranhas. Meu melhor amigo - vamos encarar, meu ú nico amigo na
vida real alé m do meu pai (ok, isso me fez parecer realmente triste,
certo?) - Morgan, chuta o traseiro e com certeza chutaria seu traseiro se
você nã o concordasse .
E, ah sim, acontece que eu tenho uma enorme queda por um cara
chamado Charlie Reed. Desde que fui banido para esta casa durante o
dia por causa do meu diagnó stico de XP na primeira sé rie, eu o vi
passar pela minha janela a caminho da escola. Com o tempo, ver Charlie
passar tornou-se parte da minha rotina. Junto com consultas mé dicas
constantes, dormir durante o dia e icar acordado a noite toda – que
pelo que ouvi é o horá rio dos sonhos da maioria das crianças da minha
idade – e tocar mú sica. Durante a semana, ele é a ú ltima pessoa que
vejo todas as manhã s antes de dormir e a primeira pessoa que vejo
todas as tardes quando acordo. Enquanto eu durmo minha “noite”, ele
vai para a escola e pratica nataçã o. Ele está vivendo sua vida normal e
perfeita. Ele basicamente cresceu bem na frente dos meus olhos e icou
mais fofo a cada ano. Ele é um veterano agora, alto e esguio com lindos
cabelos soltos e olhos que poderiam derreter um iceberg mais rá pido
que o aquecimento global. A ú nica coisa que está no caminho do nosso
grande caso de amor é ... ele nã o tem ideia de que eu existo.
Quando ele arrastou nossa lata de lixo para fora da rua depois de uma
noite ventosa – depois que literalmente todo mundo passou por ela –
ele nã o sabia que eu estava assistindo. Quando ele parou para ajudar a
Sra. Graham do outro lado da rua com suas compras. Eu vi as pequenas
coisas pensativas que ele faz, mesmo quando ele pensa que ningué m
está por perto para notar.
Nã o é como se eu pudesse simplesmente sair pela minha porta uma
manhã e casualmente esbarrar nele na rua porque entã o eu morreria
fritando. (Nã o se preocupe - nã o aconteceria tã o rá pido. Mas, acredite
em mim, nã o seria bonito.) Eu estaria mentindo se dissesse que nã o
fantasiei sobre um dia fazer um grande gesto, no entanto. Tipo, nã o sei,
bater na janela quando o vejo. Acene para ele entrar em casa (quando
meu pai nã o está olhando, eu acho). Convide-o para cima. (Onde meu
pai nã o vai nos seguir? Ha! Deixe-me sonhar.) Corro meus dedos por
aquele cabelo lindo. Beije-o.
Multar. Nã o vai acontecer. Eu sei.
Vou apenas observá -lo como sempre iz (de uma maneira totalmente
nã o assustadora!) - pelo menos até que a á rvore infelizmente colocada
bloqueie minha visã o - e desejo-lhe boa sorte nas estrelas quando elas
saı́rem hoje à noite. Desejo que ele esteja feliz por se formar no ensino
mé dio hoje e que ele esteja indo para uma vida cheia de emoçã o e
aventura. Que ele consiga tudo o que sempre sonhou. Ele merece. Todos
nó s fazemos. Meu maior desejo (ter uma vida normal – tentando nã o
ser amargo aqui) nunca se tornará realidade, mas espero que o de
Charlie se torne.
Abro meu laptop para assistir a transmissã o ao vivo do que teria sido
minha formatura també m. Isto é , se eu nã o tivesse estudado em casa
desde a primeira sé rie. E um pouco anticlimá tico para mim, visto que já
acumulei cré ditos on-line su icientes para estar no segundo ano da
faculdade neste momento. O que posso dizer? Eu gosto de aprender.
Alé m disso, tenho muito mais tempo disponı́vel do que a maioria das
crianças.
Ainda assim, é a formatura. Um momento decisivo na vida da maioria
das pessoas. Nã o tenho certeza se simboliza algo mais do que o mesmo
velho no meu caso, no entanto. No outono, eu ainda estarei sentado
aqui no meu quarto, tendo aulas online, evitando in initamente o sol em
vez de ir para alguma universidade fabulosa. Suspirar. De alguma forma,
estou me sentindo nostá lgico, no entanto.
Nomes sã o chamados e as crianças sobem ao palco para apertar a mã o
do diretor. Eles saem segurando um diploma recé m-cunhado. Morgan
dirige-se para a câ mera em vez das escadas depois de pegar a dela,
entã o faz uma pose e fala, Sim, vadias! Ela é rapidamente redirecionada
de volta para a ila, mas nã o antes de eu rir tanto que bufo. Eu nã o tinha
certeza se ela realmente iria em frente com isso, mas quando eu já vi
Morgan desistir de um dos meus desa ios?
Espero impacientemente que eles cheguem ao R s. Uau, há muitos Ps
nesta classe (menos este, é claro). E um Q ? Quais sã o as hipó teses?
(Ooh, pobre garota. Eu suponho que Quackenbush nã o era um
sobrenome para colegiais.) Eles estã o inalmente chamando o nome de
Charlie. Mal posso esperar para ver como ele ica digno e bonito em seu
vestido de formatura, como esses olhos sã o fabulosos sob o boné . Assim
que Charlie entra no quadro, meu pai irrompe no meu quarto.
“Katie Price!” ele bomba.
Ele está parado lá com um sorriso bobo no rosto e um pedaço de papel
enrolado na mã o. Nesse ponto, a maioria das garotas provavelmente
gritaria algo como “UGH! Por favor, saia daqui.” Mas sei que ele está
apenas tentando me fazer feliz e me sentir incluı́da, entã o fecho meu
laptop e rio. Ele, é claro, fez um esforço extra; por que nã o deixá -lo se
sentir bem com isso? Nã o é culpa dele que eu esteja sentada na minha
cama agora em vez de atravessar o palco com o resto da minha turma.
Espere, eu retiro isso. E meio que culpa dele . Faça disso metade culpa
dele e metade da minha mã e. Ambos precisavam contribuir com um
gene recessivo mutante para me dar XP. Qualquer que seja. Ele nã o
queria, obviamente.
"O que você está vestindo?"
“Os professores e funcioná rios sempre usam boné e beca, assim como
os alunos”, ele responde, estendendo a parte do chapé u do traje.
Eu pego dele e coloco. Ele me entrega o diploma impresso à mã o que
a irma que agora sou um graduado o icial do ensino mé dio em casa. Há
uma pequena nota de rodapé que reconhece que já tenho vinte e quatro
cré ditos universitá rios em meu nome. Sorrio para meu pai e aperto sua
mã o. Principalmente, e especialmente em momentos como este, eu
gosto do quã o bem ele me conhece. Ele entende o quanto eu valorizo
minhas realizaçõ es acadê micas, já que aprender é uma das poucas
coisas na vida que o sol nã o pode estragar para mim. Papai entende que
pre iro me destacar por meu cé rebro do que por herdar uma doença
que afeta apenas um em um milhã o.
"Entã o, como oradora, suponho que você tenha um discurso
preparado?" ele pergunta.
Eu ajusto meu boné e penso no que posso dizer para comemorar este
dia realmente nã o tã o especial. “Bem, eu de initivamente gostaria de
oferecer um grande agradecimento ao meu diretor,” eu começo.
“Ah, bem, de nada,” meu pai diz, seus olhos brilhando.
“E minha professora de espanhol...”
“De nada.” Ele tira um chapé u imaginá rio.
“E minha professora de inglê s...”
Meu pai dá uma pequena reverê ncia aqui. "Foi um prazer!"
“E a irme novamente que meu professor de giná stica nã o tinha ideia do
que estava fazendo.”
Papai joga a mã o sobre o coraçã o. "Oh, isso é um golpe baixo", exclama.
"Eu ia te dar este cartã o, mas agora..."
Ele o balança perto de mim, entã o o pega de volta quando eu tento
agarrá -lo. Eu dou de ombros como se nã o me importasse. Ele admite a
derrota e o deixa cair suavemente no meu colo, entã o se joga na beirada
da minha cama.
Eu alcanço o envelope grande e tiro um cartã o. E caricatural e brega, e
apresenta uma estrela sorridente usando um boné de formatura.
Brasonado na frente em fonte Cheeseball Comic Sans, diz:
ConGRADuation, Superstar!
Eu reviro os olhos. “Esta é a carta mais idiota que eu já vi.”
"Eu sei", diz ele com um aceno grave. “Fui a trê s lojas para encontrar
um cartã o tã o ruim. Tudo bem, você está pronto para o seu presente?”
"Presente?" Eu nã o estava esperando um presente. “Que presente?”
Meu pai pula e corre para o corredor. Ele volta alguns segundos depois
carregando um estojo de guitarra desgastado com um ú nico laço
vermelho nele.
Eu já sei que por dentro está o instrumento mais lindo que eu já vi, com
um corpo sunburst cor de tartaruga legal e trastes de madrepé rola
embutidos. Eu o pego com cuidado e corro minha mã o ao longo de sua
superfı́cie lisa até um pequeno conjunto de sulcos me parar. Olho para o
local onde meus dedos pararam e vejo as iniciais TJP. As iniciais da
minha mã e.
Olho para o meu pai, e antes que eu possa agradecer, ele diz: "Você
cresceu mais do que o violã o das crianças", apontando para o que está
no canto do meu quarto. “Mas eu sei que este é antigo, entã o se você
quer um mais novo—”
Eu balanço minha cabeça para cortá -lo antes que ele possa terminar o
pensamento maluco. Ter o violã o da mamã e é como ter uma pequena
parte dela sempre comigo. O pensamento preenche um pouquinho do
buraco no meu coraçã o que ela deixou para trá s, aquele que nunca vai
cicatrizar completamente. "Eu amo isso. Tanto."
Eu me levanto para abraçá -lo. Ele me abraça de volta, segurando com
força. Nó s dois provavelmente estamos prestes a explodir em lá grimas.
Eu soltei para tentar me reagrupar. Segue-se um silê ncio constrangedor.
"Tudo bem, bem... tente dormir um pouco", ele inalmente diz, me
dando um beijo na cabeça. “Estou orgulhoso de você , Amendoim.”
Nã o há necessidade de sentir pena de mim sobre minha vida de dormir
durante o dia. E provavelmente a coisa mais normal sobre mim. Eu sei
disso porque há toneladas de pessoas – incluindo crianças da minha
idade – online a noite toda, todas as noites, e de initivamente nã o é
porque elas sã o forçadas a viver uma vida de cabeça para baixo como a
minha.
Encontrei algumas comunidades on-line para pessoas com doenças
raras e, embora nunca encontre nenhuma dessas pessoas na vida real e
todos tenhamos sintomas diferentes e estejamos em está gios diferentes
de nossas doenças, é bom saber que eles está lá fora.
A Internet está cheia de informaçõ es sobre o XP. Eu aprendi sobre uma
pequena vila no Brasil onde uma em cada quarenta pessoas tem XP, o
que é insano para uma condiçã o que geralmente afeta apenas uma em
um milhã o. E na populaçã o Navajo, afeta um em trinta mil. Sobre o que
é isso?
E eu segui cadeias de pessoas nas redes sociais de Morgan – algumas
delas pessoas que eu conhecia. E surpreendentemente fá cil passar uma
hora na toca do coelho da vida de um estranho. Eu persigo seus status
no Facebook e Snapchats e Instagrams e blogs, observando a facilidade
com que eles navegam pelo mundo com FOMO indisfarçá vel. Considero
tentar fazer amizade com aqueles com quem pareço ter mais em
comum; Eu digito comentá rios e as respostas perfeitas para suas
legendas. Mas eu nunca acabo postando nada ou mandando mensagem
para algué m para tentar forjar um novo relacionamento. Porque quã o
decepcionante e estranho seria se a pessoa que eu procurasse reagisse
ao meu XP da mesma forma que as crianças com quem eu costumava ir
para a escola na Purdue Elementary?
Zoe Carmichael tinha sido a pior. Nã o é como se tivé ssemos sido
amigos, mas nã o é ramos inimigos. Quando fui diagnosticada depois de
uma viagem escolar à praia que terminou comigo na sala de
emergê ncia porque minha pele estava muito queimada, ela começou
um boato de que eu era um vampiro, e foi isso. Todo mundo estava com
medo de mim, eles começaram a me chamar de Garota Vampira, e
ningué m alé m de Morgan ainda falava comigo. Charlie tinha acabado de
se mudar para a cidade e se juntou à nossa turma naquele ano. Nó s
nunca conversamos (porque naquela é poca eu era tudo, eca, garotos ),
mas lembro que quando alguns de seus amigos estavam tirando sarro
de mim, ele disse para eles pararem e sorriu para mim se desculpando.
Esse foi meu ú ltimo dia na escola. Depois disso, meu pai me ensinou em
casa. E começamos a tomar sorvete e ir ao cinema em outras cidades
pró ximas apenas para que eu nã o tivesse que suportar crianças como
Zoe (ou Zoe de verdade) olhando e apontando para mim sempre que
nos aventuramos à noite.
E é por isso que eu acho que é melhor icar com quem e o que eu
conheço do que arriscar tentando rami icar a amizade no mundo real.
Eu me recuso a convidar mais valentõ es para a minha vida.
3

Acordo da minha “noite” de sono com um tumulto do lado de fora da


minha janela: buzinas de carro estridentes, crianças gritando,
comemorando geral. Esta parte eu sei que poderia participar - se
Morgan realmente gostasse de algué m em nossa turma de formandos.
O que ela nã o faz. E se Morgan nã o vai a qualquer festa que esteja
acontecendo agora, isso signi ica que eu també m nã o vou.
COMO IMAGINO UMA FESTA ESCOLAR SEM MORGAN Iria
Zoe Carmichael (que Morgan diz que ainda é uma garota malvada):
Quem é você ?
Eu: eu... hum...
Minion de Zoe: Você está mesmo em nossa classe?
Eu: Bem, você vê , eu meio que tive que estudar em casa… circunstâ ncias
atenuantes… mas eu teria me formado na Purdue High hoje de outra
forma…
Zoe (estudando-me cuidadosamente): Oh, espere, nã o, eu me lembro.
Você é a Garota Vampira, certo?
Minion de Zoe (gritando a cabeça): Aaaaah.
*A festa inteira ica em silê ncio. Todos agarram seus pescoços para nã o
serem mordidos por mim. Eu me esgueiro para casa e afogo minhas
má goas em comida chinesa para viagem com meu pai.*
E... cena.
Entã o nã o posso ir sem Morgan. E ela é teimosa como qualquer coisa
sobre nã o “confraternizar com as garotas esnobes e garotos rabugentos
na multidã o popular do PHS, especialmente aquela puta da virilha
lamejante Zoe Carmichael”. Mesmo que eu nã o ache que terı́amos o
melhor momento de todos se estivé ssemos comemorando com nossa
classe hoje à noite, provavelmente poderı́amos evitar Zoe e sua equipe
e sair com as pessoas legais em vez disso. Tem que haver pelo menos
alguns, certo?
Há uma mú sica de uma cantora e compositora australiana chamada
Courtney Barnett que eu sinto que resume toda a minha existê ncia no
que diz respeito a festas: “Quero sair, mas quero icar em casa”.
COMO IMAGINO QUE SERIA UMA FESTA ESCOLAR COM MORGAN
Zé : Quem é você ?
Eu: eu... hum...
Morgan: Ela é minha melhor amiga, e ela é mais gostosa do que você
jamais será .
Minion de Zoe: Você está mesmo em nossa classe?
Eu: Bem, você vê , eu meio que tinha—
Morgan (cobrindo minha boca com a mã o antes que eu possa dizer
mais alguma coisa): Você abandonou tantas aulas que mal se
formou. Quem é você para falar?
Zoe (estudando-me cuidadosamente): Oh, espere, nã o, eu me lembro.
Você é a Garota Vampira, certo?
Morgan (antes que eu possa tentar me defender): Isso mesmo. Diga
mais alguma coisa e ela fará de você um morto-vivo para sempre.
*Nó s vamos jogar beer pong e eu o icialmente conheço Charlie Reed e
nos apaixonamos loucamente e meu pai nunca descobre que eu fui a
uma festa em vez de ir ao Morgan's assistir Net lix como eu disse que
era.*
Suspiro e jogo as cobertas da minha cama. Meus olhos pousam no meu
novo violã o e decido ir até a estaçã o de trem para experimentá -lo.
Sozinho. Só eu, eu e eu. Se eu conseguir que meu pai concorde com meu
plano, isso é .
Espero que ele perceba o quanto eu preciso da minha independê ncia
agora. Anos passando com meu pai em lugares que as crianças
costumam frequentar com os amigos — o cinema, o shopping, a pista
de boliche, o fro-yo joint — nã o ajudam muito a dissipar a impressã o de
que ter XP de alguma forma me torna uma pessoa superestranha. Eu sei
que papai faz tudo ao seu alcance para me dar uma vida normal e eu
aprecio isso, mas seus esforços nã o mudam o fato de que a maneira que
eu tenho que viver nã o é agora e nunca será normal. Como quando ele
assiste a um ilme diferente no mesmo complexo de cinema para que eu
nã o seja a garota perdedora que saiu com o pai no sá bado à noite?
També m nã o é normal. Porque quem vai ao cinema sozinho no sá bado à
noite? Certo. Ningué m alé m de um perdedor superestranho – e eu. Que
as pessoas geralmente assumiriam que sã o uma e a mesma.
Esta noite eu só quero ser Katie, a garota normal que nã o tem uma
doença rara e cujo pai nã o a segue nervosamente o tempo todo.
Eu jogo meu cabelo em um coque bagunçado, pego a maleta e desço as
escadas. Procuro meu pai na cova. Ele nã o está lá . Eu tento a cozinha em
seguida; talvez ele esteja fazendo um lanche. Nã o. Só resta um lugar.
Vou ao porã o e vejo o brilho revelador vindo de debaixo da porta da
câ mara escura. eu bato.
“Entra!” Papai chama de dentro.
Quando abro a porta, sou atingido por quã o agridoce é a vibraçã o aqui.
As paredes estã o cobertas de capas de revistas que ele fotografou em
locais exó ticos. Há uma vila pobre na India. Uma geleira á rtica
erguendo-se de um mar cinzento e agitado. Uma savana tranquila na
Africa pontuada por uma girafa solitá ria. Vislumbres de uma vida que já
foi e nã o é mais. Isso me deixa orgulhoso de todas as coisas que meu pai
costumava fazer e ser, e triste por ele nã o ir mais a lugar algum por
causa da minha “condiçã o”. Orgulhoso que meu pai é tã o talentoso, e
triste que ele está desperdiçando isso nesta cidade nada.
Ele tem um monte de fotos mais recentes penduradas em um varal.
Alé m de algumas paisagens, há uma tonelada de mim. Fotos sinceras,
aquelas para as quais ele me atormentou para posar, e agora as ú ltimas
de hoje cedo: eu tocando o violã o da mamã e. A maioria dos outros me
envergonha, mas eu meio que gosto de como pareço lá .
"Essa é uma boa", eu digo.
Ele aponta para mim pairando acima da linda guitarra. “Essa parte é
meio estranha, no entanto.”
Eu de brincadeira dou um soco no braço dele. Ele ri e se esquiva. Sou
grata por seu humor relaxado; será mais fá cil convencê -lo a me deixar
sair sozinha esta noite. Nã o é que eu me importe que ele sempre
encontre uma desculpa para ir junto. Mas como vou conseguir um
feedback honesto sobre minhas mú sicas com meu pai ao meu lado?
“Qualquer idiota pode tirar uma boa foto de um assunto tã o bonito”, diz
ele.
Reviro os olhos e vou até uma das minhas fotos favoritas dele, um
grupo de garotas paquistanesas em uniformes escolares do lado de fora
de um pré dio desgastado. "Agora este é um belo assunto", eu digo,
virando-me para encará -lo. “Como nã o perder?”
“Todas aquelas viagens?” Meu pai zomba. “Foi miserá vel.”
Ele se move elegantemente pela sala. Ele faz com que tirar e
desenvolver ó timas fotos pareça fá cil. Mas eu sei melhor. Ele nã o se
tornou um dos fotojornalistas mais procurados do mundo por ser um
hack. Ele percebe minha expressã o, aquela que diz: Vamos, agora. Você
não pode esperar que eu acredite nisso .
"Estou falando sé rio", ele insiste, acenando para a foto que estou na
frente. “Naquela viagem, algué m roubou minhas malas e acabei usando
a mesma roupa por uma semana. Tive que dormir no chã o do meu guia,
sem colchã o, sem cobertor. Estava tã o frio que iquei ali a noite toda
esperando o sol nascer.”
Ele está cheio disso. Claro que ele sente falta dessa vida. Quem nã o
gostaria? Eu daria qualquer coisa para poder ir a qualquer lugar do
mundo a qualquer hora que quisesse e ver tudo que provavelmente
nunca verei.
“Eu pre iro dormir na minha pró pria cama e ensinar idiotas mais jovens
a sair e se sujar”, conclui.
“Você é um pé ssimo mentiroso,” digo a ele.
Ele me dá um olhar, como se estivesse prestes a divulgar algo mais do
que a fachada sempre feliz e sempre positiva que ele sempre coloca
para mim, mas entã o ele parece pensar melhor. Nada a ganhar abrindo
aquela lata de minhocas em particular, eu acho, mas pela primeira vez
eu adoraria ter uma conversa aberta e honesta sobre como o XP mudou
quase tudo em nossas vidas. Eu sou a razã o pela qual ele nã o pode mais
seguir seus sonhos, e nó s dois sabemos disso.
"Entã o, como vai?" ele pergunta em vez disso.
Eu respiro fundo e entã o solto um luxo rá pido de palavras. Acho que
dessa forma ele tem menos chance de conseguir uma palavra, o que se
traduz em menos chance de ele dizer nã o. "Eu queria saber se eu
poderia ir jogar meu novo presente de formatura na estaçã o de trem
hoje à noite?"
Sai assim: Eu fui ola minha n é o que está em cima ?
Eu adiciono um sorriso enorme no inal, destinado a transmitir: eu sou
um graduado do ensino médio competente e con iante agora (com vinte e
quatro créditos universitários!). Sou totalmente capaz de caminhar meia
milha pela estrada e tocar meu violão para qualquer viajante noturno
que esteja por perto. Que provavelmente será ninguém, mas ainda assim.
Já veri iquei, e Fred, o gerente da estação, estará lá, e vocês se conhecem
desde que eram crianças, então estarei seguro, prometo. POR FAVOR, NÃO
SUGERIR QUE VEM COMIGO.
O rosto do meu pai cai como um su lê arruinado, e ele bate no reló gio.
Sinceramente, nã o sei que tipo de resultado horrı́vel ele está
imaginando que pode acontecer comigo se eu me aventurar fora sem
ele – provavelmente já assistimos muitos ilmes de terror ao longo dos
anos e sua mente está sobrecarregada – mas nossa cidadezinha
sonolenta tem, tipo, uma taxa de criminalidade de zero por cento. Eu
vou icar bem. Eu sei que ele nã o quer concordar, mas ele nã o consegue
encontrar uma boa razã o para negar meu pedido ainda. Entã o ele está
parando. “Já sã o dez horas. Por que Morgan nã o pode vir? Ou você pode
simplesmente tocar para mim aqui.”
Embora tocar para o meu maior fã seja legal – o que quer que eu tenha
tocado é sempre A MELHOR COISA QUE ELE JA OUVIU ou AQUELA VAI
DIRETO AO NUMERO UM – eu sinto que nã o só tenho que tocar para
mais de uma pessoa para melhorar, mas eu també m tenho que tocar
para pessoas que sã o um pouquinho menos tendenciosas em pensar
que eu sou a pró xima Taylor Swift só que muito, muito melhor.
TBH, eu só quero fugir desta casa por um tempo, e meu pai també m. A
febre da cabana que tenho que lutar diariamente está com força total
no momento.
"Ela está ocupada com sua famı́lia", digo a ele, usando minha voz mais
doce possı́vel. XP me ensinou muita paciê ncia. Eu sei melhor do que
tentar en iar o que eu quero goela abaixo do meu pai. Esse tipo de tá tica
nunca funciona com ele; argumentos ló gicos e bem elaborados sim. “E
eu amo tocar para você , mas preciso expandir meu pú blico. Minha
pá gina de fã s tem exatamente trê s curtidas agora – você , Dr. Fleming e
Morgan. Eu tenho que fazer um trabalho melhor de me colocar lá fora. E
me formei hoje; nã o é a tradiçã o americana estender meu toque de
recolher?”
Ele está em silê ncio. Ainda nã o convencido. Na melhor das hipó teses,
ele provavelmente está prestes a pegar suas chaves e dizer que vai me
levar até lá e Oh, enquanto estou aqui, deixe-me ouvir uma música , que
entã o se transformará em meu set inteiro.
Eu preciso dar a volta por cima. “Fred estará lá , e ele cuidará de mim.
Alé m disso, eu tenho este novo estojo de guitarra incrı́vel projetado
para ser deixado aberto para pegar moedas e notas de dó lar, que eu sei
que você nã o teria me dado se você mesmo nã o quisesse que eu fosse
tocar…”
Meu pai franze a testa. Eu sei que ele quer me proteger. Faça isso me
proteger demais . Mas odeio ser tratada como uma criatura frá gil que
pode cair morta toda vez que sai de casa.
“Vou estender seu toque de recolher por uma hora. O que signi ica
meia-noite...”
"OBRIGADA!" Eu grito antes que ele possa mudar de ideia. “Obrigado,
obrigado, você é o melhor pai do mundo, obrigado—”
Agora vem as eliminató rias, mas estou acostumado com esse tipo de
coisa. Eu aceno com a cabeça gravemente enquanto ele de ine as regras
para o meu desmaio solo para o mundo, mesmo que eu nã o esteja
realmente ouvindo. Eu nã o preciso. Ele diz a mesma coisa todas as
vezes.
“Me mande uma mensagem a cada hora, ou eu nã o vou simplesmente
ligar para Fred; Na verdade, vou até lá e será tã o embaraçoso que se
tornará uma lenda urbana sobre por que as crianças devem cumprir o
toque de recolher.”
Pego minha guitarra e vou para a porta antes que ele possa injetar um
dispositivo de rastreamento em meu braço.
"A cada hora, Katie", ele me lembra antes que eu possa escapar.
Dou-lhe um grande sorriso por cima do ombro quando estou saindo.
"Vos amo!"
Eu saio. O ar frio da noite enche meus pulmõ es. Faz dois dias (bem,
noites) desde que me aventurei pela varanda da frente. Eu expiro e olho
para as estrelas. Eles piscam de volta para mim, como se achassem que
algo má gico está prestes a acontecer.
Meu pai está na porta me observando. "Amo você mais."
"Nã o é possivel!" Eu digo a ele, e vou embora.
4

Fred está onde sempre o encontro, sentado em seu pequeno escritó rio
na bilheteria da estaçã o de trem. Ele é um dos amigos mais antigos do
pai, tanto pelo tempo que se conhecem quanto pela idade cronoló gica.
Eles eram vizinhos na é poca, quando Fred era babá do papai. Ele tem
ó timas histó rias sobre como meu pai era um pouco chato quando
criança.
Aceno para Fred para chamar sua atençã o. "Ei-o, Fred."
Ele olha para cima, seu cabelo prateado brilhando ao luar. "O graduado!
Eu estava me perguntando se você iria aparecer hoje à noite.
Eu gesticulo para a plataforma vazia. “E decepcionar todos os meus
fã s?”
Fred ri com apreço, embora essa tenha sido nossa piada nos ú ltimos
anos. Entã o ele espia meu incrı́vel instrumento antigo e novo, que é
de initivamente diferente do que eu normalmente tenho comigo. Seu
rosto expressivo registra tanto prazer e surpresa que ele basicamente
se transforma em um emoji de olhos de coraçã o ao vivo.
“E uma guitarra nova?”
Eu acaricio orgulhosamente e aceno. “Era da minha mã e,” digo a ele, e
seus olhos suavizam. Entã o eu me viro para encontrar meu lugar.
Depois de um ú ltimo desejo para a estrela mais brilhante desta noite de
que algo realmente emocionante aconteça pela primeira vez, abro o
estojo do meu violã o.
Eu começo uma das minhas composiçõ es mais recentes – uma mú sica
chamada “Waiting for the Sun” – enquanto duas pessoas cansadas e
com aparê ncia atordoada descem do trem. A melodia é lenta e
profunda, e praticamente combina com o ritmo deles. O primeiro cara
parece bê bado e quase cai em cima de mim antes de tropeçar no local
onde estou jogando. A outra é uma senhora em um terninho vermelho
severo que de initivamente nã o está bê bada. Ela passa por mim sem
sequer fazer contato visual.
E entã o ningué m por uma boa meia hora. Continuo tocando e cantando
como se fosse a atraçã o principal do Carnegie Hall. Finalmente, outro
trem chega à estaçã o. Uma garota que eu suspeito que pode ser um dos
muitos lacaios de Zoe sai, me olha com curiosidade, e entã o joga um
saco meio comido de Skittles na caixa.
"Muito obrigado", eu chamo atrá s dela enquanto ela se afasta.
Ela olha por cima do ombro e me dá um pequeno encolher de ombros e
muito mais atitude. Qualquer que seja. Eu nã o sou desistente. Eu me
lanço em outro original.
Um cara hipster de trinta e poucos anos com barba de lenhador aparece
no topo da escada e doa algumas moedas para a minha mala. Nã o dá
nem para alimentar o parquı́metro, entã o ainda bem que andei até aqui.
Papai ainda nã o acha que estou “pronta” para minha licença. Eu me
pergunto se ele está com medo de que eu simplesmente vá para o pô r
do sol se eu tiver um jeito. Quem sabe, talvez eu puxasse uma Rapunzel.
Mas eu realmente nã o tenho para onde ir, entã o nã o me incomodo em
lutar com ele nessa.
Justo quando eu acho que vai ser uma noite totalmente tı́pica de
lentidã o, um garotinho com cara de anjo puxa a mã o de sua mã e,
fazendo os dois pararem bem na minha frente. Está claro que o garoto
deveria estar em casa na cama, mas ele parece encantado com a minha
mú sica. Ele está cavando completamente e nã o vai se mover até que eu
termine. Entã o ele bate palmas.
"Qual o seu nome?" Eu pergunto enquanto os aplausos desaparecem
em silê ncio. Pena que ele é muito jovem para estar no Facebook, ou
tenho certeza que teria minha quarta curtida o icial na minha pá gina de
fã s.
"Tommy", diz ele. “Vou pegar o trem noturno.”
"Isso é muito legal", digo a ele.
Ele fecha as mã os em pequenos punhos gorduchos e os en ia nos
quadris. “Você vai pegar um trem?”
Eu balanço minha cabeça e sorrio. "Nã o. Estou apenas jogando aqui”.
"Por que você está jogando tã o tarde?" ele pergunta. E tenho que
admitir, é uma pergunta vá lida. Haveria muito mais pessoas para me
ignorar e me dar sacos de Skittles meio comidos durante a hora do rush
da manhã . Garoto esperto, esse. Eu decido dar a ele diretamente.
“Porque eu nã o posso sair no sol.”
Ele aperta os olhos para mim, avaliando as coisas. Ele rapidamente
chega à mesma conclusã o que todas as outras crianças chegaram
quando eu tinha a idade dele. "Entã o você é um vampiro?"
Eu ri. Provavelmente seria mais fá cil ser um vampiro porque minha
expectativa de vida seria sé culos mais longa e eu nã o sentiria tanta
pressã o para fazer algo enorme e arrasador apenas para provar que
estava aqui pelo tempo limitado que tenho. "Eu desejo. Isso seria muito
mais legal. Mas é mais como uma alergia muito ruim.”
Ele concorda. “Sou alé rgico a morangos. Meu nariz ica escorrendo e eu
tenho urticá ria.”
"Isso é uma merda", eu digo a ele, olhando para sua mã e. Espero que ela
nã o esteja brava com minha linguagem levemente ruim. Mas ela está
olhando para o telefone, os dedos voando por todo o teclado. Estou
limpo; Acho que ela nem me ouviu.
“O que acontece com você se estiver no sol?” Tommy pergunta.
Eu enrugo meu rosto e dou de ombros. Eu certamente nã o quero
assustar o garoto dizendo a ele que eu estaria completamente frito se
eu saı́sse com ele por muito tempo. Ou dar-lhe uma palestra sobre as
feias realidades do câ ncer de pele. Eu inalmente vou com um vago
“Pior que urticá ria”.
Tommy acena com a cabeça novamente. Ele parece bastante
impressionado. Bem, ele ainda nã o viu nada.
“Você sabia que eu tenho uma mú sica sobre você e suas alergias?”
Sua boca se abre quando começo a improvisar uma cantiga rá pida e
boba, inventando as palavras enquanto prossigo.
“Iiiiiiiiiiiii se Tommy come morangos, seu nariz ica escorrendo, Tommy é
meu amigo de alergia! Se eu for ao sol, isso signi icará meu im; graças a
Deus tenho Tommy como meu amigo alérgico!”
Tommy ri.
“Se você acha que foi bom, espere até ouvir o refrã o,” digo a ele, e
começo a falar.
“Doo-da-doo-da-doo-ACHOO! Doo-da-doo-da-doo-ACHOO! Tommy é meu
amigo de alergia.
Ele está sorrindo de orelha a orelha enquanto sua mã e o leva embora.
Ele se vira e acena adeus, o grande sorriso ainda lá . Nã o há como
algué m gostar mais de mim esta noite do que aquele carinha. Entã o
agora é provavelmente um bom momento para experimentar uma das
minhas mú sicas mais recentes. Dessa forma, posso ver onde precisa de
ajustes sem que ningué m perceba se (quando) eu estraguei tudo.
Abro meu caderno de con iança – cheio de letras e acordes de mú sicas
que escrevi, e basicamente meu outro melhor amigo, ao lado de Morgan
– e viro para a pá gina onde rabisquei minhas ú ltimas. Respiro fundo e
vou. Depois de um falso começo, eu vou novamente e tudo está
funcionando. Minha voz tece atravé s da mú sica e eu me perco
totalmente no momento. Por enquanto, nã o importa que eu esteja
cantando só para mim mesmo, que eu tenha essa doença podre, e que
eu nã o esteja em uma festa de formatura louca e louca como eu deveria
estar agora.
Quando olho para cima dos trastes do meu violã o, é como se o
apocalipse tivesse acontecido, porque a vida nunca mais será a mesma.
Charlie Freaking Reed está bem na minha frente. Observando-me como
se ele estivesse realmente interessado. Ouvindo uma mú sica que é
basicamente sobre ele, para ser honesto.
Eu entro no modo total spaz e grito: “Oh meu Deus!”
"Oi", diz ele, rindo da minha reaçã o exagerada.
E isso: oi. Sim, talvez nã o a linha mais original. Mas nã o faz a menor
diferença; Ainda estou completamente perturbada e admirada por ser
realmente ele aqui em pessoa depois de observá -lo de longe por tanto
tempo. Meu pulso começa a acelerar tã o rá pido que estou convencida
de que vou desmaiar. Eu pulo e tento en iar minha guitarra de volta no
estojo. O saco de Skittles cai no chã o.
O plano é fugir o mais rá pido que puder. Eu tenho absolutamente zero
experiê ncia em falar com o cara mais gostoso do planeta. Faça isso com
qualquer cara mais velho que Tommy, meu superfã nú mero um, nã o
importa seu nı́vel de atratividade. Vou falar com Charlie Reed outra
hora, quando meu cé rebro nã o estiver uma bagunça embaralhada e em
pâ nico.
"Ei, eu nã o queria te assustar", diz Charlie, entregando o doce de volta
para mim. Nossos dedos se tocam. Uma onda de energia formigante
percorre meu braço.
A adrenalina de lutar ou fugir correndo em minhas veias recua o
su iciente para meu cé rebro registrar que preciso relaxar. "O que?!
Hum. Isso é ... nã o. Eu aberraçã o? Nunca. Eu nã o sou uma aberraçã o.
Quero dizer, eu nunca enlouqueço.”
Nã o tenho certeza de qual idioma estou tentando falar, mas
de initivamente nã o é o inglê s. Nã o era assim que eu imaginava que nos
encontrarı́amos. Que fracasso completo e é pico. Meu instinto é ir
embora porque isso faz sentido. Finalmente ter a chance de sair com o
garoto incrı́vel que você tem babado nos ú ltimos dez anos? Recuse-se a
falar com ele. Movimento suave!
Para meu horror, Charlie ainda está falando comigo. "Ei onde você está
indo?"
"Casa", digo a ele. “Eu tenho que chegar em casa.”
Nã o é mentira. Meu pai provavelmente está em Find My iPhone,
rastreando o pontinho que sou eu. Na verdade, ele provavelmente
esteve me rastreando o tempo todo que estive na estaçã o de trem. Eu
nã o deixaria passar por ele pedir a Fred para transmitir todo o meu set
no Facebook Live para que ele possa me ver cantar e me monitorar
tudo ao mesmo tempo.
Charlie inclina a cabeça e me dá um olhar curioso. Eu diria que ele
parece o cachorrinho mais adorá vel de todos os tempos, mas ele é mais
fofo do que o pug mais fofo, algo que eu nem sabia que era possı́vel.
"Onde você vive?" ele pergunta. "Você nã o vai para Purdue High."
Ainda nã o consigo fechar o trinco do meu caso. Minha primeira
impressã o ruim está se transformando em uma segunda e terceira
impressã o piores. Eu tento me apressar.
"Nã o. Nã o, nã o, nã o. Escola secundá ria diferente,” eu balbucio. Disse-te
que era um mau há bito. “Mas é noite de formatura e meu pai está muito
preocupado, entã o…”
O estojo da guitarra está inalmente bem fechado. Minha fuga é
iminente. Talvez um dia Charlie esqueça o quã o idiota eu agi esta noite
e podemos começar do zero sem toda a palavra morti icante vô mito da
minha parte.
Mas entã o o estojo se destrava novamente quando me levanto. Meu
amado presente de formatura começa a cair no chã o. A guitarra da
minha mã e está prestes a ser quebrada em pedaços.
Charlie pega no ú ltimo segundo. Ele o coloca suavemente de volta
dentro do estojo e o fecha com força. Entã o ele pega os Skittles pela
segunda vez e me devolve a caixa e o doce.
Seus olhos encaram os meus até que eu tenha certeza de que nã o sou
mais uma massa só lida. Eu me transformo em uma espé cie de pessoa
de poça que precisará ser limpa mais tarde. Se minha vida fosse um
ilme, nó s de initivamente começarı́amos a nos beijar agora e, tipo,
fogos de artifı́cio disparariam ao fundo.
Mas nã o é , entã o Charlie apenas diz: “Eu, uh, me formei hoje també m”.
Eu mesmo nã o vou responder, eu sei! Eu assisti no meu computador do
meu quarto estranhamente escuro!
Pena que o que eu realmente digo é ainda pior.
“Bem, con-GRADUAÇAO!” Entã o eu estremeço e murmuro novamente:
"Oh meu Deus".
Charlie racha. “Essa é , tipo, a piada mais idiota que eu já ouvi.”
Eu realmente tenho que desistir agora e sair daqui. “Sim, sou eu. Um
idiota. Eu tenho que ir."
"Qual é a sua pressa?" ele pergunta, mantendo o passo comigo.
Digo a primeira coisa que me vem à cabeça. "Hum, é o meu gato."
Só para icar claro: agora nã o tenho um gato, nem nunca tive um gato.
Se meu pai permitisse, eu teria um cachorro. Um pug chamado Tug
McPuggerson. Mas papai diz que nã o é justo manter um cachorrinho
en iado em casa o dia todo, e ele está preocupado com os raios UV que
me atingiriam toda vez que eu tivesse que deixar o cara adorá vel sair.
Entã o nã o vá lá .
"Seu gato." Charlie sorri para mim, como se pudesse ver direto no meu
cé rebro mentiroso.
“Sim,” eu continuo, sem se intimidar com a estupidez do que estou
dizendo. "Morreu."
Sua testa franze-se adoravelmente enquanto um olhar perplexo cruza
seu rosto. "Entã o você nã o está realmente com pressa , entã o..."
"Nã o, eu estou, eu tenho que... planejar o funeral... para o gato que
morreu", eu gaguejo.
Estou sem esperança.
Entã o eu faço outra pausa para isso. Recuso-me a dizer algo mais
ridı́culo do que o que já saiu da minha boca. E desta vez eu inalmente
consegui largar o garoto dos meus sonhos.
Eu o ouço chamando atrá s de mim. "Espere... qual é o seu nome?"
Eu nã o respondo. Se ele descobrir, eu nunca vou poder negar que eu era
a garota maluca falando sobre seu falso gato morto na primeira vez que
o conheci. Entã o eu apenas continuo.
E só depois que estou em segurança em casa, exagerei com meu pai
sobre como eu o matei completamente na estaçã o de trem e estou bem
arrumada na minha cama que os arrependimentos começam a vir
rá pido e furioso. Como eu poderia ter desperdiçado minha chance com
Charlie Reed tã o completamente?
Bem-vindo à noite mais embaraçosa da minha vida.
5

Morgan passa para obter todas as informaçõ es na manhã seguinte


antes de eu ir dormir. Eu já mandei uma mensagem para ela com a visã o
geral da minha troca com Charlie – o que é bastante embaraçoso – mas
agora ela quer os detalhes sujos direto da boca do dono do gato morto.
"Um gato?" ela grita, fazendo uma cara horrorizada para mim.
Eu gemo e empurro um travesseiro sobre minha cabeça. Talvez se eu
me enterrar aqui por tempo su iciente, eu acorde mais tarde e descubra
que tudo nã o passou de um sonho horrı́vel.
funeral de gato !” Morgan gagueja, rindo tanto agora que quase cai da
cadeira em que está girando.
“Pare de dizer isso em voz alta!” Eu grito debaixo do travesseiro. Nã o
tem como isso se tornar apenas um pesadelo se ela continuar repetindo
todas as coisas idiotas que eu disse ontem à noite.
Morgan se levanta, atravessa o quarto e se joga na cama ao meu lado.
Nã o consigo ver nada disso, mas sei que ela está lá pelas ondas de riso
sacudindo o colchã o. Ela coloca a mã o no meu ombro. “Está tudo bem,
Katie. Na verdade, ouvi dizer que animais de estimaçã o mortos sã o
afrodisı́acos.”
Eu me sento e tiro o travesseiro do meu rosto. “O que eu deveria dizer?”
"Qualquer outra coisa", ela me diz. “Literalmente, qualquer outra
combinaçã o de palavras no idioma inglê s.”
Eu sei que a histó ria do gato era ridı́cula e sem graça, mas posso pensar
em algumas frases que teriam sido piores. "Sé rio? Tipo 'Ei, eu sou Katie,
eu tenho observado você da minha janela todos os dias nos ú ltimos dez
anos'?”
"Quero dizer, eu nã o começaria com isso..."
Cruzo os braços e dou-lhe um olhar duro. “Ok, que tal isso, entã o. 'Você
pode me lembrar da Purdue Elementary, onde todos se referiam a mim
como Vampire Girl.'”
Morgan revira os olhos para mim. “Ningué m se lembra disso!”
Suspiro e soco meu travesseiro. “Sempre quis falar com ele e sempre
quis vê -lo na vida real e entã o inalmente consegui e congelei. Meu
corpo me traiu. Você me traiu!" Eu grito, olhando para mim mesma com
desgosto.
"Você vai compensar na pró xima vez", diz Morgan, sua voz suavizando.
Ela nã o está mais rindo de mim. Ela sabe o quanto a noite passada
poderia ter signi icado para mim, e como me sinto mal por estragar
tudo.
Eu dou a ela um olhar. “Você viu meu tweet.” Estou me referindo ao que
iz ontem à noite depois que cheguei em casa: Ugh. Nunca mais sai.
Quero dizer.
"Katie, isso é realmente uma coisa boa, você vai ver", diz Morgan. “Agora
você sabe que pode sair e interagir com pessoas da nossa idade e nem
todo mundo é um valentã o malvado. Você é muito simpá tico. Mesmo
quando você diz coisas idiotas sobre seu gato morto para o cara mais
gostoso da escola.”
“Pare de me lembrar!” Eu digo, batendo na minha testa com a palma da
mã o. Eu realmente acho que vou chorar agora. “Alé m disso, toda a noite
passada provou que sou completamente inepto socialmente depois de
icar preso em casa todos esses anos. Eu me recuso a me envergonhar
assim novamente.”
Morgan dá um tapinha no meu joelho. “Entã o você está um pouco
enferrujado. Mais uma razã o para voltar lá . Quem sabe que coisa
excitante pode acontecer da pró xima vez?”
“Nã o haverá uma pró xima vez,” resmungo. "Pelo menos nã o com
Charlie."
“Você nã o sabe disso...”
Eu a paro antes que ela possa me dar quaisquer razõ es falsas de por
que as coisas podem dar certo no futuro. "Sim. Esse foi o meu tiro. Eu
nunca vou vê -lo novamente. E eu sei disso porque nunca mais vou sair
de casa. Meu pai vai icar tã o aliviado!”
"Vamos agora", diz Morgan. "Você realmente nã o quer dizer isso."
Cruzo os braços sobre o peito. "Sim eu quero."
Ela para de tentar me convencer de que sou tudo menos um fracasso
total com os meninos e a vida do lado de fora em geral, e começa a rolar
pelo telefone. Seu queixo cai e ela olha para mim com olhos de pires.
“Você já deu uma olhada na Querida Gabby hoje?”
Meu coraçã o muda em alta velocidade. Isso só pode signi icar uma
coisa. Escrevi uma pergunta para nosso colunista de conselhos favorito
meses atrá s, pensei em enviá -la todos os dias, mas recusei até que um
momento de fraqueza – para nã o mencionar a solidã o aguda – me fez
tarde da noite algumas semanas atrá s. Eu nunca pensei que realmente
receberia uma resposta, entã o nã o tenho ideia de como lidar com a
notı́cia de que meus pensamentos assustadoramente honestos e
embaraçosamente reveladores estã o lá em um fó rum pú blico para
qualquer um ler. Eu vou direto para a negaçã o.
"Nã o", murmuro, lutando contra a vontade de arrancar o telefone das
mã os de Morgan para avaliar o dano. “Eu realmente nã o sigo mais a
Querida Gabby.”
Morgan fecha a boca e me dá sua melhor cara atrevida. “Entã o você está
me dizendo que não escreveu esta carta? E aquela outra garota
aleató ria com uma condiçã o que soa como XP que soa exatamente como
você ?
Eu me recuso a olhar nos olhos dela e injo estar totalmente absorto em
pegar felpudos do meu cobertor de bebê .
"Multar. Isso totalmente nã o é você ,” ela diz, e começa a ler as palavras
que eu já sei. Meu coraçã o está martelando contra minha caixa torá cica
agora como se estivesse tentando pular e fugir dessa situaçã o
morti icante. “ Querida Gabby, Primeiro, a má notícia: tenho uma doença
com risco de vida em que meu corpo não consegue lidar com os raios UV.
Agora a boa notícia: além de virar dia e noite — se não posso sair ao sol,
posso aproveitar as estrelas —, vivo uma vida normal na maior parte do
tempo. Eu toco guitarra, saio com minha melhor amiga, arraso na escola
(estou me formando com nota 4.0 e agora estou fazendo aulas na
faculdade) e tenho um ótimo relacionamento com meu pai.
“A única coisa que falta é aquela pessoa especial – eu não sou diferente de
ninguém quando se trata de querer encontrar uma conexão profunda e
mágica. Mas, exceto namorar um vampiro que tem séculos de idade para
mim, que cara seria capaz de lidar com as horas estranhas que eu
mantenho? Sem mencionar o fato de que nunca poderíamos ir de férias
na praia juntos?
“Apesar de tudo o que tenho contra mim, há alguém que eu gostaria de
conhecer melhor. Ele não tem ideia de que eu existo, mas eu o observo à
distância há anos e sempre fui atraído pelo que parece ser sua gentileza e
bom humor. Ele também é ridiculamente fofo.
“Então, Gabby, seja direto: devo desistir da ideia de amor, especi icamente
com esse garoto? Ou fazer um grande gesto para chamar sua atenção e
esperar que ele esteja tranquilo com meu mau funcionamento genético?
Assinado, sem sol, mas não sem esperança .”
Morgan olha para trá s de seu telefone. Estou corando da cabeça aos pé s.
Eu balanço minha cabeça furiosamente. "Nã o. Nã o nã o nã o. Eu nã o."
"Entã o, acho que isso també m signi ica que você nã o tem interesse na
resposta da Querida Gabby, hein?" Morgan diz, um pequeno sorriso
brincando em seus lá bios.
Eu ainda estou tentando jogar com calma. Eu nem sei por quê .
Claramente esta carta foi escrita por mim. "Quero dizer, se você acha
que é bom, eu vou ler", murmuro. “Se você realmente quer que eu faça
isso. Eu acho."
Ela sorri. “Você nã o vai gostar de como Querida Gabby totalmente, cem
por cento concorda com o meu conselho para você . Ah, quero dizer,
aquela outra garota com XP que está vivendo uma vida paralela à sua.
Você tem que... quero dizer , ela tem que voltar lá e tentar de novo com
Charlie.
“Querida Gabby nã o disse isso!” Pego o telefone de Morgan. Ela me
deixa tê -lo. Eu começo a ler.
Caro Sem Sol,
Há um ditado não tão famoso que um amigo nascido em Nova Jersey uma
vez me passou: todo mundo tem seu sanduíche de merda. A única
diferença é que algumas pessoas não estão dispostas a falar sobre isso.
Acredite em mim quando digo que todo mundo entra em um
relacionamento com bagagem, e quero dizer todo mundo. Depressão,
disfunção, dívida, dúvida, você escolhe. Acontece que você tem células que
não conseguem processar o sol e o forçam a ser noturno. E daí? Isso é
muito pior do que o sanduíche de merda de qualquer outra pessoa?
Você pode não ser capaz de encontrá-lo para uma tarde de minigolfe, mas
o namoro geralmente acontece à noite, de qualquer maneira. O que
signi ica que você não está fora da disputa como parceiro em potencial -
nem de longe, abóbora.
Além disso, parece-me que você está colocando a carroça na frente dos
bois aqui. Você já está supondo que esse cara – que você disse parece ser
cheio de grandes qualidades – certamente o rejeitaria por causa de uma
circunstância além do seu controle. Lembre-se, embora você possa não
estar fora de casa durante o dia, ele certamente sai à noite. Então, por
que não se colocar em algum lugar que ele possa estar e dar a ele uma
chance de provar que você está errado? Inicie uma conversa. Veja onde
isso leva. Seja casual, legal, calmo, sereno. Permita-se ser surpreendido.
Vou deixá-lo com este pensamento. Na verdade, é um desa io. Não deixe
que este aspecto de sua vida — que não o de ine, devo acrescentar — o
impeça de perseguir seus sonhos mais loucos. Tente colocar um pouco
mais de fé em si mesmo e em seus semelhantes, e em nossa capacidade
in inita de amar e perdoar uns aos outros, apesar de nossas de iciências.
Quanto a este menino, eu digo vá em frente. Na verdade, vá para tudo o
que você quer nesta vida. Espero que você consiga tudo o que sonha e
muito mais.
Amor,
Gabby
Ignoro a parte de nã o deixar que esse aspecto da minha vida me de ina
(porque quando você tem uma doença rara como XP, nã o há como fugir
dela - mas Gabby nã o poderia saber disso) e tento deixar o conselho
só lido afundar mas tudo em que consigo pensar é em como me sinto
vulnerá vel e exposta. Rezo para que Zoe Carmichael e sua equipe nã o
sigam Dear Gabby. Eu odiaria pensar o quanto mais eles seriam capazes
de me torturar com esse tipo de conhecimento.
“A necessidade de ter mais fé em si mesmo e nas outras pessoas, e
nossa capacidade in inita de amar e perdoar as falhas uns dos outros, é
ó timo, certo?” Morgan diz quando eu lhe devolvo o telefone. “Eu quase
chorei, e você sabe o quanto é preciso para me emocionar.”
"Pessoalmente, eu gostei da analogia do sanduı́che de cocô ", eu digo
com um pequeno sorriso. A querida Gabby realmente é a melhor. Ela é
inteligente e honesta, e sempre fala direto, mesmo quando você nã o
quer exatamente ouvir. “E ainda a irmo que nã o escrevi isso.”
Morgan me revira os olhos para o pró ximo sé culo. "Claro", diz ela.
“Sabe, nã o te mataria falar com ele novamente. Você poderia, tipo, tirar
uma foto engraçada de um de seus bichos de pelú cia em uma caixa e
dizer que pode sair agora que o funeral acabou ou algo assim.”
q p g q g
Eu balanço minha cabeça. “Nem mesmo uma chance.”
“Mas ele foi tã o legal com você ,” Morgan protesta. “Ele gostou da sua
mú sica. E sua voz. E você ."
Eu penso sobre isso e chego à conclusã o de que Morgan nã o está
completamente errado. Charlie foi muito legal comigo, apesar de todo o
meu constrangimento. Ele ouviu minha mú sica e pareceu realmente
apreciá -la. Ele ainda queria falar comigo mesmo depois que eu comecei
a inventar mentiras insanas para icar longe dele. Ele é o cara perfeito...
e é por isso que ele nã o precisa de mim e dos meus problemas em sua
vida, concluo rapidamente. "Charlie Reed e eu nã o estamos nas cartas",
digo a ela.
Morgan sai da minha cama e pega meu violã o, entã o o entrega para
mim. “Sabe qual seria uma ó tima maneira de gastar seu tempo em vez
de ser tã o teimoso? Escreva uma mú sica sobre a noite passada. Isso é o
que Taylor Swift faz! Ela tem interaçõ es estranhas com garotos e depois
escreve mú sicas incrı́veis sobre eles.”
Entã o, talvez haja um lado bom para essa situaçã o morti icante, a inal.
Todo mundo sabe que o coraçã o partido é uma grande fonte de
inspiraçã o artı́stica.
“Ah, você quer dizer assim?” Pego minha guitarra de Morgan e começo a
improvisar.
“Sou uma pessoa louca e patética, não sei porque,
não conseguia nem olhá-lo nos olhos,
Eu engasguei, estraguei tudo, senti que vou vomitar,
Eu sou o maior idiota do mundo inteiro…”
“Hummm. Eu continuaria trabalhando nisso,” Morgan me diz.
Eu ando até o meu estojo de guitarra, uma nova ideia para uma mú sica
se formando na minha cabeça. Eu vou escrever uma mú sica country
chamada “My Fake Dead Cat (Wants You to Come to His Funeral)”, que
vou dedicar a Charlie Reed e ele vai ouvir no rá dio e rir e achar minha
estranheza adorá vel e vamos recomeçar. Mas há apenas um problema:
meu livro de letras nã o está onde deveria estar.
“Oh meu Deus, meu caderno!” Eu suspiro, meu coraçã o batendo em
pâ nico total. “Acho que deixei na estaçã o. Todas as mú sicas que eu já
escrevi estã o lá ! Você pode ir buscá -la?”
“Eu faria, mas meu periquito morreu, e eu tenho que sentar shiva para
ele…”
Eu bato na coxa dela. "Seriamente. Por favor."
Ela ri. "E claro. Vou buscá -lo esta tarde.”

Assim que Morgan decola, eu volto a chafurdar em arrependimentos do


que poderia ter sido. Maldito seja, Charlie Reed. Se você tivesse sido
uma decepçã o total, eu nã o me importaria com o quã o idiota eu iz de
mim mesmo na sua frente na noite passada.
Infelizmente, você foi ainda mais incrı́vel do que eu imaginava.
6

Duas coisas desconcertantes acontecem mais tarde naquele dia.


Primeiro, eu pego meu pai se esgueirando de volta para casa depois de
ir ver meu mé dico XP sem mim. Novamente. Esta nã o é a primeira vez
que acontece.
"Pai!" Eu grito, esfregando os olhos e sentando na cama quando ouço
seus passos sorrateiros e rangidos no patamar do lado de fora do meu
quarto. O reló gio marca seis da tarde . A consulta com meu mé dico XP era
à s quatro. Deverı́amos ir juntos. WTF?
“Você desligou meu alarme?”
Ele abaixa a cabeça. “Você parecia tã o tranquilo dormindo lá , e eu
pensei que você provavelmente estava cansado demais de tocar na
estaçã o ontem à noite, entã o tomei a decisã o executiva de deixá -lo
dormir...”
"E mais como se você nã o pudesse lidar comigo saindo durante o dia,
mesmo sabendo como tomar as devidas precauçõ es", eu digo,
levantando uma sobrancelha e dando-lhe um olhar acusador. "Sem
mencionar que você odeia quando o Dr. Fleming me diz diretamente."
Ele me dá um encolher de ombros impotente. “Ela é tã o pessimista!
Você nã o precisa ouvir mensagens negativas, nã o quando tudo está
indo tã o bem em sua vida.”
Que vida? Eu penso. Mas esse é o tipo de coisa que eu nunca diria ao
meu pai.
Eu bato na beirada da minha cama. Ele olha para ele um pouco, entã o
relutantemente se senta. Ele parece um garotinho que foi pego com a
mã o no pote de biscoitos.
— Entã o o que ela disse? Eu exijo.
"Nada realmente. Queria saber se houve alguma alteraçã o na sua
funçã o motora ou se você foi exposto ao sol. Claro que eu disse nã o.”
Eu rolo meu pulso para ele, tipo, eu sei que há mais, agora com isso . “E o
estudo da Universidade de Washington?”
Um grande sorriso se planta no rosto do meu pai. “Está chegando! A
qualquer momento!"
Eu sei o que isso signi ica, mesmo porque já aconteceu tantas vezes
antes. As pessoas nã o estã o exatamente se reunindo para inanciar
pesquisas para uma doença que afeta apenas uma em um milhã o de
pessoas. Este teste de drogas provavelmente já icou sem dinheiro e,
portanto, nem chegará à fase dois, que é quando eu teria a
oportunidade de me inscrever para fazer parte dele. Ou se por algum
milagre o estudo realmente receber mais inanciamento, seria ainda
mais um milagre se eu fosse escolhido para participar dele. A futilidade
de viver com uma doença que ningué m se importa – ou mesmo sabe –
me faz querer gritar. Mas isso seria ainda mais fú til. E um ciclo
interminá vel de futilidade com o qual estou lidando aqui.
“Nã o se preocupe, nã o estou prendendo a respiraçã o,” digo ao meu pai.
E entã o, porque quero tirar aquele sorriso falso do rosto dele, digo:
“Tenho certeza de que o Dr. Fleming també m lembrou a você que
qualquer exposiçã o ao sol será a minha morte e que crianças com meu
tipo de XP raramente viver depois dos vinte, estou certo?
O rosto do papai cai. "Claro que nã o", ele protesta. “E se ela o izesse, eu
certamente nã o ouviria. Talvez você tenha uma doença que afeta uma
em um milhã o, Katie, mas você realmente é uma em um milhã o.
Nenhuma dessas estatı́sticas se aplica a você . Nó s vamos vencer essa
coisa. Juntos."
"Certo", eu digo. Mas nada muda quando se trata de XP. Nã o há sequer
um raio de esperança. Sem novos tratamentos. Apenas “ ique longe do
sol até que a doença de alguma forma inalmente o pegue”. Eu sou um
prisioneiro do meu có digo gené tico, que é uma merda total e
completamente.
"Katie, me prometa que você nunca vai perder a esperança", diz ele, sua
voz embargada de emoçã o.
Olho para cima e vejo papai lutando para manter a compostura. Eu
gostaria que pudé ssemos falar sobre quã o pouco tempo me resta
estatisticamente e tudo o que quero realizar durante isso. Crie um
plano de jogo para a qualidade de vida, sabendo que a quantidade é
algo sobre o qual nã o temos muito controle. Mas ele simplesmente nã o
parece capaz disso. Eu me pergunto, nã o pela primeira vez, como minha
mã e teria lidado com tudo isso. Desde que ela morreu alguns meses
antes de eu ser diagnosticada, nunca saberei, o que signi ica que
sempre vou me perguntar. Ela teria sido melhor em encarar os fatos?
També m nã o gosto de pensar nisso. Minha data de validade, isso é . Ou
como morrer pode ser. Mas eu faço à s vezes. Claro que eu faço.
Geralmente tarde da noite, quando está mais escuro do que escuro e eu
sou o ú nico acordado – em minha casa, no meu quarteirã o, na cidade –
me pergunto se a morte é de alguma forma semelhante e tã o solitá ria.
Tipo, apenas você , no escuro, acordado e consciente. Espero
sinceramente que nã o, porque isso seria desnecessariamente cruel.
Como viver minha mesma vida novamente, apenas por toda a
eternidade.
Entã o forço um sorriso no rosto e digo: “Você sabe que eu nunca faria
isso, pai. Somos lutadores. Eu nã o estou indo a lugar nenhum."
Ele tenta sorrir de volta para mim, mas a cor ainda está drenada de seu
rosto, entã o eu acrescento: “Vamos lá . Você nã o poderia se livrar de
mim se tentasse.”
"Bom, porque eu nã o acho que poderia sobreviver a isso", diz ele
enquanto se levanta para sair. E há aquela honestidade que eu disse que
queria. Isso parte meu coraçã o junto com o do meu pai.

Estou atualizando as ú ltimas postagens em um dos fó runs de doenças


raras quando Morgan me envia um texto. Peguei o notebook, mas tive
que correr para o trabalho. Deixei na bilheteria. Eu suspiro. E tã o
Morgan nã o ter tempo su iciente para fazer as duas coisas. Eu tenho
uma teoria nã o comprovada de que ela tem um TDAH enorme, com
todas as voltas que ela faz na cadeira da escrivaninha do meu quarto –
aquela garota nunca ica parada – e sua absoluta incapacidade de
chegar a tempo para qualquer coisa. Ela a irma que estou totalmente
fora da base e que ela é apenas uma pessoa super-energé tica que tenta
amontoar muitas atividades em poucas horas. Nó s concordamos em
discordar sobre isso.
Ainda assim, estou aliviado por nã o ter perdido basicamente uma vida
inteira de composiçõ es, e apesar de todos os meus resmungos dentro
da minha cabeça, na verdade nã o é uma coisa ruim que eu mesmo
tenha que pegar o caderno. Eu preciso dar um passeio e limpar minha
cabeça. O ar fresco pode curar quase tudo, até mesmo ser a causa da
profunda tristeza de seu pai e estragar tudo ao conhecer o cara dos
seus sonhos.
Eu coloco um moletom grande do Seattle SuperSonics (o agora extinto
time de basquete pelo qual meu pai era obcecado na é poca), um par de
jeans velhos e surrados e meu Converse preto. No andar de baixo,
encontro meu pai trabalhando simultaneamente em seu laptop -
provavelmente digitando notas no ú ltimo projeto que ele atribuiu a
seus alunos - gritando no jogo dos Mariners na TV e comendo um
sanduı́che tã o cheio de carne que tem pelo menos sete centı́metros de
altura.
“Vou correr até a estaçã o para pegar meu notebook. Deixei lá ontem à
noite. Fred tem isso.”
Papai mal olha para mim, ele está tã o absorto em seu sanduı́che. “Me
mande uma mensagem quando chegar lá , tome cuidado e volte para
casa. Amo você ,” ele diz com a boca cheia de presunto e queijo. Claro,
uma viagem rá pida de ida e volta é algo que ele pode lidar, mas
qualquer passeio que tenha a possibilidade de que eu possa realmente
me divertir um pouco o torna um caso perdido.
"Te amo mais", eu digo a ele. E mesmo que eu ique frustrada com ele,
estou falando sé rio.
Ele engole em um grande gole e, antes de dar outra mordida, responde:
“Nã o é possı́vel”.

Enquanto eu saio para a varanda e fecho a porta atrá s de mim, eu


brevemente me deixo me perguntar onde Charlie está agora, o que ele
está fazendo e com quem, antes de eu silenciosamente começar a me
repreender novamente pelo desastre do funeral do gato morto. . Nã o
importa o que Charlie está fazendo, porque certamente nã o vamos sair
tã o cedo.
Subo as escadas até a plataforma do trem e sigo para o balcã o de
passagens. Fred nã o está em seu lugar habitual. Entã o eu espio ao virar
da esquina, pensando que ele pode ter deixado meu caderno no banco
que ica na frente de onde eu normalmente instalo.
Estou certo sobre essa ú ltima parte, pelo menos: meu notebook está no
banco. Sentado nas mã os de Charlie Reed. Ele está folheando como se
fosse uma revista de fofocas inú til que já é notı́cia velha.
Nã o sei o que é pior: eu balbuciando como uma idiota quando
inalmente conheço o cara, ou ele manipulando o que equivale aos
meus pensamentos mais ı́ntimos. Estou mais humilhado do que nunca.
Só preciso descobrir como recuperar o caderno sem que ele saiba que
estou aqui, e seguirei meu caminho.
Corro atrá s de uma parede e ligo para Morgan no trabalho.
"Ajuda!" Eu sussurro no minuto em que ela atende.
“Olá , Purdue Creamery,” ela trila. "Como está indo seu segundo
encontro com Charlie?"
"Espere o que?" Eu digo, minha boca caindo aberta. — Como você sabia
que ele estava aqui?
"Eu dei a ele o seu caderno por segurança", diz ela, como se isso fosse
uma coisa perfeitamente normal de se fazer.
“Eu vou te matar, Morgan! Como você pode fazer isto comigo? Eu estou
em um moletom tamanho XL SuperSonics! Eu nem escovei meu
cabelo!”
Morgan apenas ri. “Katie, eu nã o sei como te dizer isso, mas... você é
super gostosa. Eu nã o posso nem ver você agora e eu sei que você está
linda.”
"Esse nã o é o caso real", eu assobio. “E se você pudesse me ver, você
concordaria.”
“Katie, espere um segundo,” ela diz, e entã o eu a ouço praticamente
gritar, “Com licença! Nã o vê que estou ao telefone?
Eu realmente espero que ela nã o esteja falando com algué m tentando
pedir um cone; Morgan precisa do dinheiro extra de trabalhar na
sorveteria para a faculdade. Ser demitida seria realmente um problema.
Nã o há muitos outros lugares para trabalhar na cidade, e aqui é
pequeno o su iciente para que todos saibam que ela nã o deixou seu
ú ltimo emprego por vontade pró pria.
"Por favor, me diga que nã o era um cliente", eu digo quando ela está de
volta na linha.
“Ah, foi”, diz ela. “Um cliente, e depois aquele nerd irritante com quem
trabalho, Garver. Ele me faz oito bilhõ es de perguntas por noite. O que
você gosta de fazer para se divertir, Morgan? Qual é o seu sabor favorito
de sorvete, Morgan? Quantos irmãos você tem, Morgan? Qual é o seu
programa de TV favorito, Morgan? Eu juro, ele é como uma criança com
todos os seus latidos.
“Isso se chama estar interessado em sua vida.” Deixe para ela odiar
qualquer cara que mostre um interesse honesto por ela. Morgan tende a
gostar de bad boys que só falam sobre si mesmos. “Isso se chama
conversa.”
"Chama-se cem por cento irritante", ela me corrige. “E agora, quanto a
Charlie, seja você mesma, Katie. Ele é um cara legal. E ele gosta de você ,
eu posso dizer. Apenas me prometa que tentará nã o divagar, ok?
Até agora eu já aceitei o fato de que falar com ele é praticamente minha
ú nica opçã o se eu quiser ver meu caderno novamente. Eu suspiro. “Só
se você tentar ser legal com esse Garver. Sinto muito por ele."
"Nojento, nã o", ela bufa. “Me ligue depois.”
Ela desliga antes que eu possa dizer mais alguma coisa.
Sem outra escolha, respiro fundo e começo a caminhar até Charlie.
Estou quase na frente dele quando ele olha para cima e me vê . Sou
recompensada com o maior e mais acolhedor sorriso que já vi. Ele tem
esses lá bios perfeitos - nã o muito macios, nã o muito inos - que
parecem que nunca foram rachados em sua vida. Seus dentes sã o
perfeitamente retos e brancos. Seus olhos sã o tã o calorosos e amigá veis
que me fazem sentir como se estivesse me afogando em um oceano de
bondade. Estou tã o deslumbrada que até esqueço por um segundo que
estou brava por ele ter invadido meu espaço pessoal.
"Você é real", diz ele. "Eu pensei que poderia ter sonhado com você ou
algo assim."
“Você estava no está gio REM do sono?” Eu digo. Ele parece inseguro de
como responder à minha piada sem graça, entã o eu vou em frente.
"Estou brincando. Quer dizer, eu sei que você nã o estava porque eu falei
com você e você estava acordado. Mas é quando os sonhos acontecem,
porque sua atividade cerebral é alta e seus olhos estã o realmente se
movendo o tempo todo atrá s de suas pá lpebras, o que é tã o estranho
que parece uma má quina de escrever ou algo assim…”
Eu paro, percebendo que iz isso de novo. Charlie está sorrindo para
mim. Nã o de uma forma mesquinha. Apenas, tipo, legal. Divertido.
"De qualquer forma, obrigado por tomar conta do meu caderno", digo a
ele, tentando pegá -lo.
Mas ele está segurando com muita força. Fica em sua posse. “Ainda nã o
sei seu nome.”
“E Katie.” Acho que essa é a senha secreta, porque ele entrega meu
caderno. Eu escaneio as pá ginas para ter certeza de que nada mudou.
Parece bom, mas eu só tenho que perguntar. "Ei, você realmente nã o
leu, nã o é ?"
"Talvez um pouco…"
Agora estou morti icada e brava de novo. Talvez as garotas da Purdue
High o deixem se safar de qualquer coisa só porque ele é fofo, mas nã o é
assim que eu entro. "Você está brincando comigo?"
"O que?" Seus olhos estã o arregalados, como se ele estivesse realmente
surpreso que eu nã o queira que ele saiba o que está no meu diá rio.
"Você nã o pode simplesmente ler as coisas das pessoas", digo a ele,
segurando o livro como prova. “Isso é como meu diá rio, você sabe. Esse
é o seu movimento? Você faz aquela coisa de sorrir, e só porque você é
bonito, você acha que pode se safar invadindo a privacidade das
pessoas?
Charlie sorri aquele sorriso encantador novamente. “Você me acha
bonito?”
A vergonha queima minhas bochechas e meus ouvidos. Estou corando
tanto que estou praticamente suando. Espero que o fato de ser noite
torne isso menos ó bvio.
Charlie levanta as mã os. “Ei, a invasã o de privacidade foi mı́nima e
necessá ria. Você saiu tã o rá pido, e eu só queria ver a quem pertencia.
Eu ico em silê ncio. Eu nã o vou deixá -lo ir tã o fá cil.
"Eu gosto que você escreva as coisas à mã o", acrescenta ele
suavemente. “E antiquado. E legal."
E assim, estou, tipo, totalmente apaixonada por ele novamente. Eu nã o
posso evitar. Minha paixã o maior nã o é pá reo para minha raiva menor.
Um pequeno sorriso curva meus lá bios. “Bem, obrigado. Por nã o invadir
muito, eu acho.”
Considero que talvez Morgan e Dear Gabby estivessem certos. Talvez eu
precise dar a Charlie – e outras pessoas da minha idade – uma chance
de me surpreender. A inal, esta noite foi relativamente tranquila. Eu me
viro para sair, orgulhosa de mim mesma por lidar tã o bem com a
situaçã o sem toda a conversa sobre funerais de gatos mortos desta vez.
“Outro gato morreu?” ele chama atrá s de mim enquanto eu vou.
Eu rio e me viro. “Nã o, estou apenas indo para casa.”
“Posso andar com você ?”
"Sim, eu acho que sim." Estou tonta de felicidade por dentro, mas nã o
quero agir nem de longe tã o entusiasmada quanto estou me sentindo.
Algo me diz que Charlie Reed nunca teve que trabalhar muito para
conseguir uma garota, e eu preciso que ele saiba que eu sou diferente.
Nã o por causa do XP, quero dizer, mas apenas porque eu sou eu. “Tudo
bem, tudo bem.”
Caminhamos lentamente pelo meio da estrada. Nã o há carros por perto
para se preocupar, entã o estamos apenas vagando e batendo papo.
Tudo está quieto, e nossos passos ecoam nas casas sonolentas pelas
quais passamos. E legal. Confortá vel.
“Entã o você estudou em casa?” Charlie repete depois que eu digo a ele.
“Isso é selvagem.”
Penso em todas aquelas noites em que meu pai me treinou na tabela
perió dica, ou nas constelaçõ es, ou nas conjugaçõ es latinas. A avaliaçã o
de Charlie sobre o ensino em casa é tã o equivocada que chega a ser
risı́vel. “Foi meio que exatamente o oposto de selvagem,” digo a ele.
Entã o acrescento: “Meu pai é muito protetor”, embora a essa altura eu
ache que isso deve estar bem claro.
Charlie olha para a esquerda, para a direita, para o cé u, depois para
mim. "Ele nã o está , tipo, nos observando agora, está ?"
“Ah, totalmente. Ele tem um drone em cima de nó s, com certeza.”
Ele ri. E entã o eu rio, principalmente porque estou surpresa por tê-lo
feito rir. Quem diria que minha vida poderia ir das profundezas dos
lixõ es a esse tipo de alta incrı́vel em um perı́odo de vinte e quatro
horas?
"Entã o eu meio que preciso saber... o que você achou?" Eu pergunto.
“Do seu pai nos seguindo com um drone? E meio exagerado, você nã o
acha?”
Eu rachei de novo. “Quero dizer, o que você achou das mú sicas. Que
você leu. Sem minha permissã o.”
Ele dá de ombros. “Eu nã o sei, realmente. Você nã o pode ler uma
mú sica. Eu teria que ouvi-los.”
Eu paro de andar. Estamos quase na minha casa, e dez dó lares dizem
que meu pai está parado na sala alternadamente olhando para seu
aplicativo Find My iPhone e pela janela da frente, esperando que eu
volte pela porta. A ú ltima coisa que quero fazer é explicar quem é
Charlie e por que estou aqui com ele.
“Esta é a sua casa?” ele pergunta, apontando para o que está bem na
nossa frente.
Eu gesticulo alé m de onde ele pensa que está , um quarteirã o mais
acima na colina. “Nã o, é aquele. Mas meu pai tem o sono bem leve e
pre iro nã o acordá -lo.
Charlie olha para onde eu moro. “Eu nã o posso acreditar que nunca nos
conhecemos antes. Eu provavelmente passei pela sua casa como todos
os dias a caminho do treino.”
"Prá tica?" Eu pergunto, embora, é claro, eu saiba a que ele está se
referindo. Como eu poderia nã o saber? Ele sempre tinha aquela
mochila do Purdue Penguins, sua prancha e todos os tipos de
equipamentos de nataçã o en iados debaixo de um braço enquanto
passava. Sem mencionar o fato de que seu nome estava no jornal local
todas as semanas quando ele quebrava recordes nos ú ltimos encontros
durante a temporada.
“Sim, eu costumava ser um nadador competitivo.” E assim, a faı́sca
adorá vel em seus olhos se extingue.
"Costumava ser?"
Outro encolher de ombros. “Histó ria para outro dia.”
Eu mudo de marcha, esperando que ele volte a ser o Sr. Happy-Go-
Lucky novamente. “E estranho, certo? Que você conhece minha casa.”
"Claro." Charlie ainda parece triste. O feitiço entre nó s está quebrado.
Talvez da pró xima vez - se houver uma pró xima vez - nó s a
recuperamos. Por enquanto, acho que deveria simplesmente
desaparecer de novo.
“Bem, eu tenho que ir. Obrigado por me levar para casa,” digo a ele.
Subo apenas dois degraus quando Charlie diz talvez as dez melhores
palavras da lı́ngua inglesa.
“Ei, Cá tia. Você talvez gostaria de fazer algo algum dia?”
Eu giro de volta. “Juntos, você quer dizer?”
Charlie ri, de volta ao seu estado normal de relaxamento. “Nã o, eu quis
dizer em geral, sozinho, na vida. Claro que eu quis dizer nó s, juntos.”
Eu me preocupo sobre como vou explicar minhas circunstâ ncias
atenuantes para Charlie, e se meu pai concordaria em me deixar sair
com ele, e se eu poderia manter minhas divagaçõ es ao mı́nimo, mesmo
que ele o izesse. Mas entã o eu percebo, este é Charlie Reed. Garoto dos
sonhos. Eu tenho que tentar. Para Morgan e Dear Gabby, mas
especialmente para mim.
“Eu… estou muito ocupado durante o dia. Estou realmente livre apenas
à noite,” digo a ele, pulando todas as partes complicadas.
"Eu posso ser livre à noite", diz ele com um adorá vel encolher de
ombros.
“Coloque seu nú mero aqui, entã o,” eu digo, voltando até ele e folheando
meu caderno para encontrar um lugar para ele que nã o esteja cheio de
rabiscos e letras e acordes. E entã o eu vejo. Ele já imprimiu seu nome
ordenadamente na primeira pá gina em branco disponı́vel. Seus dı́gitos
estã o bem ao lado dele.
Eu paro. “Ooooooh. Ah, isso foi tranquilo.”
Charlie me dá outro sorriso de derreter o coraçã o. “Mais um dos meus
movimentos. Eu sou antiquado.”
E entã o icamos ali sorrindo um para o outro. Depois de um tempo, ica
meio estranho que nenhum de nó s está fazendo um movimento para
sair. Entã o me despeço de verdade desta vez e corro colina acima até
minha casa.
Eu tenho um encontro! Com Charlie Reed! Eu me viro para acenar boa
noite para ele e descubro que ele ainda está lá , me observando e
sorrindo. Em vez de me sentir envergonhada desta vez, me sinto toda
quente e quentinha. Como um fogo foi aceso dentro de mim.
Eu. Charlie Reed me convidou para sair.
Isso é tudo novo – gostar de um Charlie real de verdade e nã o apenas a
invençã o dele do lado de fora da minha janela, e ele possivelmente
gostando de mim de volta. E meio assustador. De um jeito bom.
Acho que gosto.
7

Morgan irrompe no meu quarto na tarde seguinte, bem quando estou


me levantando. "DIZER. EU. TUDO."
Eu, é claro, já mandei uma mensagem para ela sobre o que aconteceu,
mas ela quer ouvir da minha boca. Ela se esparrama na minha cama
enquanto eu tento acertar todas as palavras e as expressõ es de Charlie.
Descrevo a forma como a lua dançava entre nó s enquanto
caminhá vamos para casa, como ele me pediu em namoro e como seu
nome e nú mero já estavam no meu caderno, entã o deve ter sido
premeditado, nã o apenas um capricho ou, pior, um erro. Ela está
sorrindo para mim e eu estou sorrindo para ela e me sinto estú pida,
mas estupidamente feliz també m.
“Isso é tã o româ ntico que me enoja,” ela diz quando eu termino.
Suspiro e coloco a mã o sobre meu coraçã o. Está batendo mais rá pido
que o normal, mesmo um dia depois. "Eu sei. Foi perfeito."
Morgan se senta e pega minhas mã os. “Entã o ele foi legal sobre o seu
XP, hein? Eu tinha um pressentimento sobre ele. Eu sabia que ele nã o
seria um idiota sobre isso. Essa é a ú nica razã o pela qual eu o deixei
devolver seu caderno, eu juro. Eu nunca o deixaria colocar suas patas
sujas de outra forma.”
Começo a roer uma unha. Estou tentando ser casual e evitar contar a
verdade, mas Morgan me conhece muito bem.
"Nã o. Katie, vamos agora,” ela geme. “Você nã o contou a ele? Você , tipo,
acha que ele nã o vai descobrir quando você começar a derreter na
frente dele como a Bruxa Malvada do Oeste? Os meninos sã o burros,
mas nã o tão burros.”
Eu estremeço. “Nã o apareceu”.
"O que você quer dizer, nã o apareceu?" Morgan grita.
Eu coloco a mã o sobre sua boca. Papai de initivamente nã o precisa
saber que eu (a) gosto de um garoto que (b) me pediu para sair com ele
depois que (c) deixei de contar a ele sobre minha pé ssima condiçã o
mé dica. Ela mostra a lı́ngua e começa a lamber minha mã o até que eu a
solte de seu rosto.
“Quero dizer,” eu digo em um sussurro, esperando que ela entenda a
dica para diminuir o tom aqui, “ele nã o me perguntou se eu tinha um
distú rbio gené tico onde a luz do sol vai me matar e eu nã o disse que
sim. ”
Morgan começa a dizer mais alguma coisa, mas eu pulo de volta antes
que ela possa começar a me incomodar novamente.
"Escute-me. Quando as pessoas descobrem que você está doente, você
deixa de ser uma pessoa e se torna, tipo, uma causa. E isso estraga
tudo.”
Pela primeira vez em sua vida, Morgan nã o consegue pensar em um
retorno rá pido. Ela apenas me cutuca com o pé . Eu entendo que ela
quer dizer, Cara, eu sei. É uma merda. Eu dou a ela um pequeno sorriso
porque eu sei que ela sabe, pelo menos o melhor que ela pode. Ela vê o
quanto eu luto por nã o ser capaz de fazer as coisas que eu quero fazer.
Mas nó s també m sabemos que nã o há nada que nenhum de nó s possa
fazer sobre isso.
“Eu prometo que vou dizer a ele. Da pró xima vez que o vir, está bem?
Nã o que eu saiba quando isso será …”
“Ah, eu tenho,” Morgan me diz, pulando da minha cama. “Você conhece o
cara chato que trabalha comigo na sorveteria?”
“O nerd que você odeia? Quem també m está claramente apaixonado por
você ?”
"Eca, você vai parar de dizer isso?" ela protesta. “E, sim, Garver. Seus
pais estã o fora da cidade e ele está dando uma festa hoje à noite e ele
me disse para trazer amigos. Entã o eu vou trazer você , e você vai trazer
Charlie.”
Esta noite? Eu nã o estou tã o preparado para isso. Preciso de algum
tempo para encontrar a roupa certa, talvez cortar o cabelo e, nã o sei,
comprar maquiagem e descobrir como aplicá -la, já que geralmente nã o
vou a nenhum lugar que exija um rosto chique e tenha zero pista por
onde começar.
"O que? Nã o nã o nã o. Eu nã o posso... isso nã o... nã o tenho que esperar
que ele me ligue ou algo assim?
"Totalmente." Morgan assente. “E entã o seu escudeiro enviará uma nota
via pombo perguntando se você gostaria de fundir seus reinos. O que é
isso, a Inglaterra do sé culo XVIII? Você é uma mulher gostosa, jovem e
durona no comando de sua pró pria vida, e você manda uma mensagem
para ele sempre que quiser!
Ela me joga meu telefone. “Basta ter con iança. Dê a ele os fatos.”
Eu olho para o telefone. Minha mente está tã o vazia quanto a tela. Nã o
tenho como fazer isso.
"Se você nã o mandar uma mensagem para ele, eu vou", adverte Morgan.
Eu sei que ela vai cumprir a ameaça, entã o começo a digitar. Eu vou com
a primeira coisa que consigo pensar, sem editar ou me questionar. Ei,
meu amigo está dando uma festa hoje à noite se você quiser vir. Eu
apertei enviar antes que eu pudesse me acovardar.
“Mas jogue um pouco duro para conseguir”, diz Morgan no minuto em
que minha mensagem dispara na estratosfera.
Multar. Eu digito um pouco mais. Eu não me importo se você vem ou
não. Mandar. Lá . Tudo melhor.
“E certi ique-se de que ele saiba que nã o é a ú nica razã o pela qual você
está indo,” ela continua.
Tenho muitos amigos , acrescento rapidamente. Nossa, por que isso tem
que ser tã o complicado?
Morgan pega meu telefone e lê minha obra-prima. Ela geme.
"O que?"
“Lembra do gato morto?”
Eu concordo.
"Isso é o mesmo", ela me diz.
"Nã o, nã o é !" Eu grito.
“Ele vai pensar que você nã o só nã o gosta dele, mas você realmente o
odeia”, Morgan me diz.
“Corrija, entã o!”
Antes que ela possa começar a limpar minha bagunça, meu telefone
vibra. Morgan olha para ele e depois volta para mim. Ela está sorrindo.
"Deixa para lá . Bem jogado, meu amigo. Bem jogado."
"O que?" Estou mais confuso do que nunca. “Eu realmente nã o entendo
como isso funciona.”
Ela segura meu telefone para que eu possa ler a tela. Aı́ está a resposta
de Charlie. Estou dentro.
Eu nã o consigo parar de sorrir. Nã o sei como funcionou ou por que, mas
funcionou. "Agora temos que convencer meu pai a realmente me deixar
ir", eu sussurro, apontando o polegar para a minha porta fechada.
“Deixe comigo,” Morgan diz, e sai correndo do meu quarto para falar
com ele.
Eu a alcanço bem a tempo de ouvi-lo dizer: “Nã o acho que seja uma boa
ideia, Morgan. Nã o conheço os pais, nã o sabemos que tipo de festa é ,
Katie nem conhece essas crianças.”
Ele está correndo pela cozinha, esvaziando a má quina de lavar louça,
guardando os pratos, arrumando a gaveta dos talheres, tudo menos
fazendo contato visual.
“Eu conheço Garver!” Morgan protesta. “Eu trabalho com ele. Ele é um
goober completo. Esta vai ser uma festa tranquila, segura e amiga dos
pais.”
Meu pai interrompe o trabalho por um segundo, um sorriso iluminando
seu rosto anteriormente preocupado. “Isso soa tã o chato! Que tal eu
pedir chinê s e colocar no Net lix—”
"Pai!" eu latido. Sai mais duro do que eu pretendia. O rosto do meu pai
se contorce. Nã o suporto como toda a sua existê ncia parece depender
de me proteger das coisas mais benignas do planeta. Tenho dezoito
anos, nã o sou uma criança que pode cair em uma mesa de centro de
vidro ou cair escada abaixo se for deixada por conta pró pria por muito
tempo. O sol nã o vai me pegar. Posso ir a uma festa nerd sem causar um
desastre. Eu preciso que ele entenda isso.
“Eu sou um bom garoto. Você sabe que eu nã o vou fazer nenhuma
loucura,” eu continuo, mais gentilmente desta vez. “Mas se eu icar aqui
por mais uma noite ouvindo todos os outros vivendo suas vidas do lado
de fora da minha janela, posso enlouquecer .”
Minha voz falha e eu tenho que me beliscar para nã o começar a chorar.
Eu normalmente trabalho muito duro para nã o sentir pena de mim
mesma e ser grata pelo que eu tenho, mas agora que eu tenho um
gostinho de “normal”, é como se nã o houvesse mais volta. Eu preciso
mais do que apenas as quatro paredes do meu quarto e meu violã o para
ser feliz. Eu preciso de uma vida real.
"Por favor, por favor, deixe-me sentir normal." Nã o estou acima de
implorar para conseguir o que quero, que é passar mais tempo com
Charlie Reed. “Vou mandar uma mensagem a cada hora. E amanhã
podemos pedir muito lo mein e fazer uma maratona de ilmes.
Meu pai suspira e abre a boca. Tenho certeza de que há alguma outra
desculpa esfarrapada, mas bem-intencionada na ponta da lı́ngua dele
sobre por que eu nã o deveria ir. Eu antecipo jogando meus braços em
volta dele e dando-lhe um grande abraço de urso.
"Obrigada! Obrigada! Você é o melhor pai do mundo!”
"Se você está dizendo isso, entã o de initivamente estou tomando a
decisã o errada", ele murmura.
Ainda assim, ele nã o diz nã o. Entã o eu pego a mã o de Morgan e
corremos para o meu quarto antes que ele mude de ideia. Meu telefone
vibra ao longo do caminho.
"Ok, Charlie diz que vai nos encontrar no Garver's à s oito", digo a
Morgan.
Ela suspira. “Temos que nos preparar!”
Eu veri ico meu reló gio. “Temos trê s horas.”
“Oh meu Deus, já estamos atrasados!”
Esta é uma mudança estranha de eventos, já que Morgan é a pessoa de
menor manutençã o do mundo. Normalmente, ela usa jeans e uma
camiseta casual, depois coloca um gorro de tricô na cabeça e voilà ! Ela
está fora da porta.
“Quem é você e o que você fez com meu melhor amigo?”
"Cara. Você está se encontrando com o cara que você cobiçou por uma
dé cada—”
Eu levanto minhas sobrancelhas. “Di icilmente acho que estava
cobiçando ele quando tinha oito anos; isso nem é um pensamento que
crianças de oito anos tê m—”
“Semâ ntica,” ela diz com um aceno de sua mã o. “Você está icando com
um cara que você ama há mais de dez anos—”
“Quem disse alguma coisa sobre icar? Eu literalmente tenho zero
experiê ncia nesse departamento. E nã o é como se eu fosse de
absolutamente nada para positivamente tudo só porque meu pai
inalmente está me deixando ir a uma festa!”
“Eu nã o estava insinuando que você tem que fazer qualquer coisa que
nã o queira fazer”, diz Morgan. “Embora eu ache que seria um
desperdı́cio total para uma garota linda como você ter que morrer
virgem—”
“OH MEU DEUS, MORGAN!” Eu sussurro-grito. “Nã o vou perder a
virgindade com um cara com quem falei exatamente duas vezes na vida.
E obrigado pelo voto de con iança, mas també m nã o pretendo morrer
tã o cedo.”
Um momento constrangedor passa. Temos muito isso porque, embora
basicamente contemos tudo um ao outro, deixamos muito por dizer.
"Olha, tudo o que estou dizendo é que esta noite é um grande negó cio",
ela me diz. “Isso é , tipo, o que você sempre sonhou. Você acabou de
dizer isso ao seu pai – você pode ser normal pela primeira vez. Mas
acontece que acho que você esperou demais para se contentar com o
normal. Esta noite vai ser fantá stica para os fã s, e você també m.”
"Isso é ? Eu sou?"
Ela acena. "Sim. Sem dú vida."
Morgan caminha até o meu armá rio e começa a vasculhá -lo. Ela nã o tem
muito com o que trabalhar. Honestamente, na maioria dos dias eu me
sento de legging e moletom, porque por que nã o icar confortá vel se
você nã o vai a lugar nenhum?
“Esta é a soma total de suas roupas?” ela chama de dentro, sua voz
ecoando nas paredes.
"Sim, a menos que você conte os dois vestidos que eu pedi quando eu
pensei que meu pai ia me deixar ir ao show com você em Seattle, mas
entã o ele disse nã o porque terı́amos que sair antes do sol se pô r." diga a
ela. “Eu continuo esquecendo de pedir a ele para mandá -los de volta.
Provavelmente pensando que ele mudaria de ideia.”
Morgan coloca a cabeça para fora do armá rio. "Onde eles estã o?" ela
exige. “E por que você precisa de dois? Planejando uma mudança de
guarda-roupa para que os paparazzi nã o o peguem usando a mesma
coisa por mais de uma hora em sua estré ia em Seattle?
Eu ri. “Eu ia escolher o que parecia melhor e devolver o outro. Mas nã o
precisei escolher nenhum e esqueci de devolver os dois.”
Eu pego a caixa debaixo da minha cama e entrego para ela. Ela primeiro
puxa um macacã o preto super body-con com tiras nas costas. Eu nã o sei
como eu pensei que meu pai me deixaria sair de casa usando isso, tã o
bom que se tornou um ponto discutı́vel. Em seguida, ela segura um
doce vestido de renda mar im. Ainda é curto e sexy, mas de uma
maneira muito mais elegante e elegante.
Morgan me joga a roupa doce. "Se você está tã o desesperado para
manter sua virgindade, eu iria com este."
Verdade: E uma ó tima escolha para o que eu planejei, que é fazer
Charlie Reed se apaixonar loucamente por mim. Eu entro no banheiro.
Tirando minha combinaçã o usual de legging e camiseta, entro no
vestido e fecho o zı́per.
Eu me olho no espelho, esperando de alguma forma ter me
transformado em uma supermodelo arrebatadora. Nã o. Eu pareço
praticamente a mesma de sempre, só que com uma roupa bonita.
Desajeitado.
Eu saio para mostrar Morgan, estremecendo. "Eu me sinto tã o idiota.
Como se eu fosse uma criança que invadiu o armá rio da minha mã e.”
Morgan inclina a cabeça e me dá um longo olhar. “E absolutamente
perfeito.”
"Como você pode dizer aquilo?" Eu protesto. “E simplesmente o velho
eu com um embrulho extravagante.”
“ Psshhhh . Encontrar a roupa certa é apenas a primeira parte da
preparaçã o”, diz ela. “Ainda temos que fazer seu cabelo e maquiagem.
Quando eu terminar, você nem vai se reconhecer.”
E engraçado, porque, como eu disse, Morgan é a garota dura e tomboy
consumada na maneira como ela se veste e age, mas quem diria que ela
tinha tanto jeito para contornos e delineador alado e creme BB e kits de
lá bios e qualquer outra coisa? (Faço muitas compras online tarde da
noite. Nã o consigo imaginar que sou a ú nica...) Ela aplica tudo no meu
rosto como se fosse uma maquiadora pro issional.
Num minuto, pareço um animal esquisito de zooló gico com listras de
cores diferentes nas bochechas e na testa; no pró ximo, tudo está
misturado e eu pareço insanamente natural, mas també m muito mais
polida do que quando saio da cama pela manhã .
Eu encaro um pouco mais o trabalho de maquiagem de especialista. E
realmente impressionante. "Eu nã o entendo como você fez isso."

Morgan desce as escadas primeiro, comigo seguindo seus calcanhares


desta vez. Meu pai está de pé no vestı́bulo olhando para nó s. Sua boca
se abre. Espero que isso signi ique que você está bonita , nã o volte para
o seu quarto e esfregue a maquiagem, mocinha.
“Posso apresentar Katherine Price de Washington,” Morgan anuncia
como se estivé ssemos fazendo nossa estreia na sociedade em algum
baile chique.
Meu pai ainda nã o diz nada.
“Isso parece bobo?” Eu pergunto. “Porque eu posso ir me trocar.”
Meu pai limpa a garganta. “Você está incrı́vel, Amendoim,” ele
inalmente diz, com um pouco de di iculdade em sua voz. “Você é uma
beleza. Assim como sua mã e.”
Eu sorrio. E exatamente a coisa certa a me dizer. A coisa exata que eu
precisava ouvir neste momento. Ele nos observa enquanto corremos
para fora da casa. Eu me viro e lhe dou um sorriso enorme. Eu vou icar
bem.
Eu realmente sei disso. Pela expressã o em seu rosto, acho que até meu
pai acredita dessa vez. Agarro a mã o de Morgan e nos afasto da vista
antes que ele mude de ideia.
8

A casa de Garver não fica longe da minha. Mesmo andando devagar,


planejando com Morgan como eu deveria jogar as coisas com Charlie
esta noite, chegamos lá em dez minutos. O antigo vitoriano tem uma
varanda frontal completa com um balanço que parece perfeito para
aproveitar os dias ensolarados enquanto observa o mundo passar. Eu
adoraria desfrutar desse tipo de prazer simples. Me deixa meio louco
pensar que as pessoas que podem muitas vezes nã o o fazem.
Garver aparece na porta sem que tenhamos que bater. Ele é de estatura
e peso mé dios, e tem longos cabelos escuros e encaracolados, um rosto
de menino bonitinho e zero espinhas. Nã o há nenhuma grande
geekness nele que eu possa detectar, alé m de talvez sua camiseta POR
QUE ESTOU AQUI . Ele certamente nã o é tã o idiota quanto Morgan sempre
a irma.
Os olhos de Garver se iluminam quando ele a vê . "Você veio!" ele grita.
"Nã o soe tã o animado", diz ela. “Ou eu posso mudar de ideia.”
Eu pressiono meu pé em cima de seus dedos. Seja legal. Ela tira o sapato
debaixo do meu sem reconhecer minha mensagem silenciosa.
“Alguma chance de você ou seu amigo gostoso saberem como tirar
cerveja de um barril?”
Morgan passa por Garver, me arrastando atrá s dela. Ela para na
cozinha. Dois amigos de Garver - um com um corte de tigela e usando
uma gravata borboleta, o outro com sobrancelhas do Sr. Spock e calças
cor de mostarda - estã o tentando abrir a coisa com uma faca de jantar.
Morgan olha para Garver incré dulo. "Você nã o recebeu uma torneira?"
Ele dá de ombros, palmas para cima. “Eu nã o sabia que eram coisas
separadas! Por que eles me venderiam um barril de cerveja que eu nã o
tinha acesso?”
Morgan gira pela cozinha, depois espia a sala de estar. Seu rosto cai e
ela murmura Desculpe por mim. Ela está horrorizada, e ela nem está
tentando esconder isso.
“Garver, que diabos?! Esta é realmente uma festa mansa, segura e amiga
dos pais!”
Garver aponta para a mesa da cozinha. Nela estã o alguns galõ es de
sorvete, uma lata de chantilly, alguns granulados e uma garrafa
esguichada de Magic Shell. “As festas mansas tê m barras de sundae ?”
Morgan dá um tapa nele. Eu vejo os amigos dele – que pela aparê ncia
deles provavelmente serã o cientistas de foguetes de verdade algum dia
– ter zero sorte em liberar a cerveja do barril. Tipo, eles provavelmente
descobrirã o como povoar Marte, mas nã o podem tirar cerveja de um
barril. O pensamento me faz rir alto.
“Isso é tã o legal!” Eu grito.
“Nã o dê ouvidos a ela,” Morgan diz a Garver enquanto ela agarra meu
braço e começa a me arrastar para longe. “Ela nunca foi a uma festa
antes, entã o ela nã o percebe o quã o terrı́vel é essa situaçã o. Estamos
fora daqui.”
Garver corre na nossa frente e corta Morgan antes que ela possa sair
pela porta da frente. "Você está indo?! Mas eu iz uma coisa enorme de
chili.”
Morgan revira os olhos para ele. “Chili nã o é comida de festa!”
Há uma batida na porta. Alı́vio está escrito em todo o rosto de Garver.
"Você vê ? A festa está apenas começando.” Ele veri ica quem é pelo olho
má gico. "Espere. Uau. O que Charlie Reed está fazendo aqui?
Antes que eu possa dizer que o convidei, Garver abre a porta. Ele dá as
boas-vindas a Charlie, dá um tapinha nas costas dele como um velho
amigo e o conduz para dentro.
Charlie olha para alé m dele e nossos olhos se encontram. Uau. Estamos
totalmente presos um ao outro. Nada mais parece importar. Todos os
outros deixam de existir.
"Uau", ele sussurra. "Oi."
Algo sobre o olhar em seu rosto me faz pensar que Morgan merece uma
grande gorjeta pela minha reforma. Ela está me cutucando com o
cotovelo e sorrindo para nó s sorrindo um para o outro. Eu sei o que ela
quer dizer. E difı́cil perder o quanto estamos vibrando.
"Oi", eu digo de volta.
Olhar para Charlie é como olhar direto para o sol – e todos nó s sabemos
o quã o perigoso isso seria para mim – entã o eu tenho que me afastar.
Olho para a cozinha, onde o Sr. Spock Sobrancelhas decidiu que é uma
ó tima ideia colocar um rolo de massa no barril. Claro, ele ricocheteia no
cano – aquela coisa deve ser feita de, tipo, titâ nio – e o atinge bem no
rosto. E ainda nã o há cerveja. Contusõ es provavelmente, mas sem
cerveja.
Estou momentaneamente grata por nã o ser uma grande briga onde eu
també m teria que lidar com falar com pessoas que realmente sabem
como bater um barril e nã o servem sundaes e chili como comida de
festa. Seguro, manso e amigo dos pais é tudo o que posso lidar neste
momento em particular.
Em seguida, os caras pegam um martelo, algum tipo de espigã o e um
rolo de ita adesiva. Eles alinham os itens aleató rios no balcã o como
instrumentos cirú rgicos. Eu suspiro. Vai demorar um pouco.
“Talvez devê ssemos sentar na varanda enquanto esses caras resolvem
isso?” Eu sugiro.
Charlie me segue para fora e se senta ao meu lado no banco de balanço,
e nó s lutuamos suavemente para frente e para trá s. Estou olhando para
o cé u. Ele está olhando para mim.
"Você está incrı́vel", diz ele.
"E tudo Morgan", eu digo a ele com um aceno de minha mã o, tentando
espantar o elogio e todo o rubor embaraçoso que o acompanha.
Ele balança a cabeça. "Nã o."
Estou prestes a protestar novamente quando Garver irrompe na
varanda. Ele está segurando duas tigelas de chili. Nã o quero ferir os
sentimentos dele, mas també m nã o quero ter bafo de pimenta perto de
Charlie.
"Para você , bom senhor", diz Garver, entregando um para cada um de
nó s. — E para você , mademoiselle.
“Oh, muito obrigado, mas eu nã o posso. Eu sou... alé rgica,” digo a ele.
“Eu sou alé rgico ao seu gato morto, mas isso nã o me impede de sair
com você , certo? Experimente, você vai gostar,” Charlie diz com uma
piscadela.
Ele dá uma mordida, engole e dá um sinal de positivo para Garver.
“Prateleira de cima, amigo.”
Garver tenta novamente entregar a tigela para mim, mas eu levanto
minhas mã os. "Nã o. Obrigado. Sé rio."
"Tem certeza que?" ele pergunta.
Eu aceno, entã o ele começa a comer. Charlie faz uma careta, se inclina e
sussurra: “Sá bia decisã o. Tem gosto de bunda.”
Ainda estou rindo da avaliaçã o de Charlie quando Morgan sai. Garver
para de engolir para olhar para ela. Um pedaço de carne balança
precariamente em seu queixo.
“Eu realmente pensei que terı́amos uma participaçã o maior”, comenta
Garver. “Mas mais cerveja e chili para nó s, certo?”
Um dos amigos de Garver coloca a cabeça para fora da porta da frente e
diz: “Eu disse para você nã o enfrentar uma lı́der de torcida!”
“Que lı́der de torcida?” Morgan pergunta.
"A loira malvada com o grande Cadillac", diz Garver com a boca cheia de
comida.
“Zoe Carmichael?” Morgan grita.
Graças a Deus estamos aqui e não lá , eu acho.
"Sim. Zoé .” Garver assente. “Ela també m está dando uma festa. Deve ter
prejudicado nossa participaçã o.”
“Devemos ir lá ?” Charlie sugere.
Adrenalina dispara pelo meu corpo. Nã o há chance de eu ir à festa de
Zoe. Mas també m nã o há chance de eu não ir se é para onde Charlie está
indo. Que enigma.
Os ombros de Garver caem. Qualquer um pode ver como é importante
para ele impressionar Morgan. O que ele nã o é , mas pelo menos ele está
tentando. Se todos sairmos, nã o é mais uma possibilidade. "Uau. Você
vai desistir de mim, brah?
“Ningué m está socorrendo. Eu apenas pensei que poderı́amos mudar
toda essa cena para a casa dela.” Charlie olha para mim para avaliar
minha reaçã o.
Eu evito seu olhar e olho para Morgan como se fosse o que eu deveria
fazer agora? Ela olha para mim e balança a cabeça. Olho de volta para
Charlie e sacudo o meu.
“Você sabe como eu te disse que meu pai é superestrito? Bem, eu nã o
posso ir a lugar nenhum a nã o ser onde eu disse que estaria ou icarei
de castigo durante todo o verã o.”
"Você nã o poderia, tipo, mandar uma mensagem para ele e dizer que
seus planos mudaram?" Charlie pergunta.
Eu dou de ombros. “Nã o é assim que funciona com meu pai. Como eu te
disse, ele é muito superprotetor.
"Deixe-me levá -lo para casa e podemos explicar a ele juntos", ele
oferece.
Cabeça mais enfá tica balançando de mim. Meu pai nem sabe que
Charlie existe. A ú ltima coisa que quero fazer é explicar quem ele é ,
como nos conhecemos, e que agora queremos bater uma fú ria juntos.
"Ok, entã o, icar aqui é ", diz Charlie, e ele nem parece bravo com isso.

Depois de meia hora, o barril ainda está inexplorado, o chili foi comido
e todos nó s demolimos sundaes do elaborado bar de sundae de Garver.
Charlie e eu icamos olhando um para o outro, a conversa se esvaindo
para nada. Estou desesperada para nã o deixar meu primeiro encontro
de verdade com ele ser o ú ltimo. E se esta noite icar mais sonolenta,
tenho certeza de que é uma possibilidade distinta.
"Vamos embora," eu deixo escapar de repente. “Para a outra parte. O
que meu pai nã o sabe nã o vai machucá -lo.”
Morgan me dá um olhar como Você perdeu completamente a cabeça? Eu
estremeço. Tempos desesperadores requerem medidas
desesperadoras.
"Ok, legal", diz ela, dando-me o globo ocular peludo. “Deixe-me pegar
meu passaporte, porque Zoe Carmichael é Sataná s e sua casa é
provavelmente o portal para o inferno.”
Garver solta uma risada.
“Cala a boca, Garver, isso nã o foi nem uma boa piada,” ela diz, tentando
agir como se ela nã o amasse que ele apreciasse totalmente seu humor.
“E, Katie, você percebe que estamos falando de Zoe Carmichael aqui?
Você sabe, a garota que basicamente arruinou—”
Eu a interrompo antes que ela possa dizer “sua vida” ou pronunciar as
palavras “Garota Vampira”. "Tenho certeza que vai icar tudo bem", eu
digo rapidamente.
“Zoe é inofensiva,” Charlie assegura a nó s dois. “Ela é como um
mosquito com um carro muito caro.”
Morgan agarra meu braço e me puxa para fora do balanço. "Nó s
voltaremos em um segundo, pessoal", diz ela, e me arrasta para dentro
de casa.
Eu sigo, olhando por cima do ombro para Charlie enquanto nos
afastamos. Ele tem um olhar totalmente confuso em seu rosto. Eu dou
de ombros como se eu também não soubesse .
“Você nã o precisa ir à casa de Zoe só porque acha que é isso que Charlie
quer fazer,” ela diz quando entramos.
"Eu sei que." Eu olho para os meus pé s e os arrasto um pouco. “Eu meio
que quero ver como é uma festa do ensino mé dio de verdade. Sem
ofensa para Garver. Ele é legal. O sorvete estava bom. Mas até eu acho
meio chato aqui. Esta festa é apenas um pouco mais emocionante do
que assistir Net lix com meu pai.”
Morgan agarra meu queixo e me perfura com um olhar intenso. "Você
tem certeza?"
Eu aceno, segurando suas mã os nas minhas e respirando fundo. "Tenho
certeza. A querida Gabby me inspirou. Nã o posso deixar o XP me
segurar mais.”
Morgan suspira e coloca as mã os nos quadris. “Você é tã o cheio de
merda.”
“Eu nã o vou se você nã o for,” eu acrescento.
"Você é uma merda, Katie", diz ela.
"Eu nã o estou tentando", eu digo a ela. “Eu nã o posso evitar. Descobri
que gosto de ser normal. Desculpe."
Morgan me dá um olhar exasperado e sai para a varanda. Eu a sigo lá
atrá s.
"Entã o?" Charlie pergunta quando nos vê .
"Ainda indeciso", diz Morgan. “Quero dizer, Garver fez uma propagaçã o
tã o boa…”
Garver ica de pé . “Hum, Charlie e eu discutimos isso, e achamos que é
do nosso interesse mudar essa coisa para outro local.”
“Você nã o precisa ingir, Garver,” Morgan diz a ele. “Se você preferir que
iquemos aqui, estamos todos para baixo. Seriamente."
Garver balança a cabeça. “Nã o, honestamente. Vamos rolar.”
Morgan ainda nã o parece convencido.
Charlie começa a cantar, “Mor-gan. Morgan. Morgan.”
Garver e eu pegamos uma batida depois, entã o agora somos um coro de
encorajamento. “MOR-GAN! MOR-GAN! MOR-GAN!”
"Tudo bem", ela inalmente admite. “Mas nã o venha chorar para mim
quando Zoe condenar todos você s a uma existê ncia de fogo e enxofre
eternos.”
Todos nó s torcemos. Eu jogo meus braços ao redor dela.
"Você é a melhor amiga que algué m poderia pedir", eu sussurro em seu
ouvido.
"Eu honestamente espero que você nã o viva para se arrepender disso",
ela sussurra de volta. “Mas saiba que eu estarei lá mesmo se você izer
isso. Para derrubar qualquer um que se atreva a mexer com você - e
també m para lhe dizer que eu avisei.
E uma coisa tã o clá ssica de Morgan dizer. Eu me afasto e sorrio para ela.
"Entendi."
Garver assobia e grita para seus amigos: “Vamos, rapazes! Estamos nos
mobilizando!”

Antes que eu tenha mais tempo para reconsiderar minha decisã o


impulsiva, paramos em uma enorme mansã o à beira-mar. Há um
Escalade branco brilhante estacionado na entrada. Sua placa de licença
lê 2LIT4U. Tem que ser de Zoe. Claramente, ela nã o mudou nem um
pouco. Estou realmente começando a ter dú vidas, mas é tarde demais
para voltar agora.
Charlie facilmente tira o barril do baú do amigo de Garver e o coloca no
chã o. Os caras olham para ele como se ele fosse o Super-Homem, já que
foram precisos os trê s para colocá -lo no porta-malas, e eles começaram
a rola-lo desajeitadamente em direçã o à casa impressionante, que está
zumbindo com mú sica alta e pessoas ainda mais altas. Quanto mais nos
aproximamos da porta da frente, mais devagar eles rolam até que tudo
esteja totalmente parado.
Garver limpa a garganta nervosamente. “Isso pode nã o ser uma boa
ideia”, diz ele. “Nó s nunca falamos com Zoe.”
"Eu tenho", diz Morgan. "E você nã o está perdendo nada, exceto um
pincel com o mal."
"Relaxe, rapazes", diz o amigo de Garver com o corte tigela e gravata
borboleta. “Conversei com Zoe na semana passada.”
"Você quer dizer quando ela quase bateu em você com seu SUV e te
chamou de babaca?" Garver pergunta, sua boca aberta como se nem ele
pudesse acreditar o quã o sem noçã o seu amigo é . “Isso nã o é uma
conversa real.”
"E sim!" Protestos de corte de tigela e gravata borboleta. “Eu disse
'Desculpe' para ela. Foi um vai-e-vem. Está vamos conversando”.
“Vai icar tudo bem,” Charlie os assegura. "Vamos fazer isso."
Sua mã o alcança a minha. Eu pego e começamos a subir as escadas para
a porta da frente. Todos nó s icamos na varanda enquanto Charlie pega
a pesada aldrava de latã o com uma cabeça de leã o gigante esculpida
nela e dá algumas batidas altas na porta. Com minha mã o na de Charlie,
me sinto segura e cuidada, como se nada de ruim pudesse acontecer.
Mesmo se estivé ssemos realmente nos aproximando dos portõ es do
inferno, acho que iria com ele.
9

Quando Zoe aparece na porta , as lembranças de todas as vezes que ela


me deu merda me atingem com força, e eu tenho que morder o lá bio
para nã o ofegar em voz alta. Ela está exatamente como eu me lembro,
só que, claro, a idade progrediu e ainda mais bonita.
Seus olhos passam por mim como se eu nã o existisse, iluminando
quando ela vê Charlie. Uma estranha pontada de ciú me me atinge, o que
é estú pido, porque nã o é como se eu tivesse qualquer direito sobre ele.
Este é o nosso primeiro encontro – pelo que sei, també m pode ser o
nosso ú ltimo.
"Eu estava pensando onde você estava!" ela exclama com uma voz doce
que provavelmente nã o é a que ela usa regularmente. Ela está agarrada
ao braço de Charlie como se estivessem no Titanic e ele está afundando.
“Ei,” ele responde, cuidadosamente removendo seu braço do dela. “Sim,
desculpe o atraso. Está vamos pregando no Garver's.
Zoe franze o nariz enquanto avalia com quem Charlie acabou de admitir
sair em vez dela: eu, uma garota que ela provavelmente pensa que
nunca viu na vida; Morgan, que a encara de volta, pronta para arrancar
seus olhos se ela izer o menor comentá rio rude; e trê s garotos que ela
nunca daria uma segunda olhada. “Desculpe, quem sã o essas pessoas?”
"Meus amigos", diz Charlie com um encolher de ombros. Zoe paira na
porta, seu rosto registrando algo pró ximo ao desgosto. Ela parece estar
pronta para bater a porta na nossa cara quando Charlie acrescenta:
“Nó s trouxemos um barril”.
Garver vai levantá -lo como prova; ele mal se move. Entã o ele e seus
amigos tentam juntos e inalmente conseguem a coisa até a cintura.
Zoe faz uma careta, mas inalmente se afasta para nos deixar entrar. Eu
expiro uma respiraçã o longa e lenta. Crise evitada, pelo menos por
enquanto. Ela parece nã o ter ideia de que eu sou na verdade a Garota
Vampira que ela torturou anos atrá s.
Garver e seus amigos de alguma forma conseguem levar o barril para a
cozinha, e eu ouço um grito alto. A brigada geek agora sã o os heró is da
cerveja, bem-vindos para icar enquanto puderem manter a festa.
Sigo Charlie até a sala de estar. As crianças estã o amontoadas em todos
os cantos, bebendo em copos plá sticos vermelhos, rindo, lertando,
gritando umas com as outras por causa da mú sica, derramando bebidas
por todo o que tenho certeza que sã o sofá s e tapetes caros.
E como uma cena de um daqueles ilmes de John Hughes dos anos 80
que eu assisti vá rias vezes com meu pai. Pela primeira vez, estou
realmente fazendo o que todo mundo da minha idade está fazendo. E
incrivelmente brega e clichê e maravilhoso.
Charlie está cumprimentando as pessoas enquanto fazemos nosso
caminho para o meio das coisas. Todos parecem conhecê -lo e amá -lo. E
se eles estã o se perguntando quem a garota misteriosa está atrá s,
ningué m diz nada sobre isso.
A excitaçã o se transforma em ansiedade quando estamos no meio da
festa. Meus pensamentos começam a correr. Eu sou tã o ignorante sobre
como devo lidar com essas pessoas e suas inevitá veis perguntas sobre
onde eu estive escondido todos esses anos.
Charlie parece sentir o quã o desconfortá vel eu estou de repente e
coloca uma mã o gentil na parte inferior das minhas costas. Eu relaxo e
meu cé rebro para de seu zumbido louco. Morgan, que nunca perde
absolutamente nada, vê o que está acontecendo.
“Eu vou... dar uma volta. Ou alguma coisa. Longe de você s dois,” ela diz.
Entã o ela se inclina, me dá um abraço e sussurra em meu ouvido:
“Estou orgulhosa de você por ser tã o corajosa – foram necessá rios
cojones gigantescos para vir a esta festa. E para reiterar o que eu te
disse ontem: ele gosta muito de você . Mas lembre-se, se você precisar
de alguma coisa, acenda as luzes e eu vou queimar este lugar.”
Morgan vai embora, pegando um copo vermelho de um cara aleató rio e
tomando um gole enquanto toma. Eu me pergunto se nã o há outra
opçã o alé m de cerveja aqui, que só o cheiro me faz engasgar, e se eu
deveria tentar a sorte bebendo um pouco. A ú nica vez que bebi antes foi
na casa de Morgan. Os pais dela saı́ram, e decidimos tomar shots de
crè me de menthe, que é um licor estranho com sabor de menta. Acabei
vomitando, e desde entã o nã o consigo comer a antiga torta de
gafanhoto da mã e dela. Aparentemente, o crè me de menthe é o
ingrediente secreto que o torna tã o gostoso. Faça que costumava ter um
gosto tã o bom.
Eu olho para Charlie. Ele me encara de volta. Caminhamos em direçã o a
uma mesa montada como um bar. A timidez toma conta de mim como
um tsunami.
"Morgan é hilá rio", Charlie está dizendo por cima do ombro. “Há quanto
tempo você s sã o amigos?”
"Deus, desde que me lembro", eu respondo. “Quero dizer, isso nã o é
verdade. Lembro-me de algumas coisas de antes. Como memó rias
confusas de ser uma criança e comer um bloco inteiro de papel
enquanto dizia à minha boneca que era uma coisa muito, muito ruim de
se fazer. Acabou no pronto-socorro para aquele. També m o tempo em
que eu estava indo para The Powerpuff Girls enquanto minha mã e
estava preparando o jantar para mim e eu tinha um sapato de boneca
Barbie de salto alto en iado no meu nariz. Essa foi minha segunda
viagem ao pronto-socorro. Aaaaaaand eu estou balbuciando
novamente. Desculpe. Eu balbucio quando estou nervoso.”
“Entã o eu notei.” Charlie sorri e me entrega algo rosa e frutado em um
copo. Eu tomo um gole. Tem um sabor jilhã o de vezes melhor do que o
crè me de menthe.
"Por que você está nervoso?"
Eu dou a ele a versã o simpli icada. “Eu nã o conheço ningué m.”
“Bem, eu conheço todos esses idiotas, e você nã o tem nada para icar
nervoso,” ele me diz.
"Vamos agora", eu digo. “Você nã o pode conhecer todo mundo .”
Charlie olha ao redor da sala antes de apontar discretamente para um
garoto alto, alto, de rosto vermelho, fazendo shots. “Vê aquele cara?”
Eu concordo.
“Ele inge que é um atleta idiota, mas está em todas as aulas de AP. Ele
vai para Yale, mas quer que todos pensem que ele é um idiota.”
Yale. Ele quer que as pessoas pensem que ele não vai lá ? "Isso é idiota",
eu digo. “Quero dizer, é Ivy League. O melhor dos melhores. Eu estaria
vestindo o moletom para a escola todos os dias. Eu adoraria ir para lá .”
"Você deveria, entã o", diz Charlie. "Como eles podem deixar passar o
orador da sua escola solo estrita em casa?"
Eu me inclino para ele ligeiramente. Eu amo o quã o quente, mas
in lexı́vel, ele se sente. Suave mas forte. E uma bela combinaçã o.
“E... complicado,” eu começo, pensando por um milé simo de segundo
em dizer a ele como a faculdade nem é uma possibilidade por causa do
meu XP. Estou pensando em fazer uma piada sobre isso, dizendo que
talvez eu pudesse ir para a escola noturna. Mas entã o algo me diz para
nã o estragar o que está se tornando uma grande noite. Há tempo
su iciente para a realidade mais tarde.
Eu aceno para uma garota em um vestido super justo e decotado.
"Entã o e ela?"
“Usou capacete na escola até a dé cima sé rie, claramente tentando
compensar o tempo perdido”, diz ele, entã o acena para um menino
baixo e cheio de acne. — Fez xixi nas calças na excursã o da sexta sé rie.
E aquela garota ali, ela tem um problema com remé dios controlados.
Agora veja aquele cara? Ele tem os dedos mais longos que eu já vi. Ele
també m é um dos dez melhores violoncelistas do estado. Ele é legal."
Charlie está dizendo essas coisas como se nã o fosse grande coisa, mas o
tempo todo eu estou pensando em duas coisas: (1) Eu perdi tanto , e (2)
As pessoas nunca realmente sobrevivem ao passado . Haverá sempre e
para sempre a abreviaçã o Garota do Capacete e Garoto da Calça
Wetpants, e as crianças que se formaram nesta classe saberã o
imediatamente quem é , mesmo em sua quinquagé sima reuniã o. Decido
adiar inde inidamente a conversa que me revelará como a Garota
Vampira.
Um cara pula nas costas de Charlie do nada. Charlie ica assustado e
enrijece como se estivesse pronto para derrubar. Entã o um olhar de
reconhecimento cruza seu rosto e ele sorri em vez disso.
"Ele voltou!" o cara grita. “Charlie está de volta! Por que você nã o jogou
com a gente? Tivemos-"
O amigo de Charlie me nota ali e para de falar. Outro cara vem em nossa
direçã o tentando carregar muitas bebidas em poucas mã os.
“Uau, quem é esse?” o primeiro cara diz.
“Owen, Wes, conheçam Katie,” Charlie diz, gesticulando para cada
garoto enquanto ele faz as apresentaçõ es para que eu possa diferenciá -
los.
Wes beija minha mã o com os lá bios molhados de cerveja. “Katie, você é
uma maga. Ensine-nos seus caminhos”, diz ele, me dando uma profunda
reverê ncia.
Eu olho para Charlie, entã o de volta para Wes. "O que você quer dizer?"
“Signi ica que você tem esse cara para vir a uma festa e fazer um
recurso de sorriso. Nosso menino nã o parece tã o bem há muito tempo,”
Owen diz, jogando um braço em volta de Charlie.
Todos começamos a conversar e rir como velhos amigos, e isso nã o
parece nem um pouco estranho. Mas meu conforto social recé m-
descoberto voa para longe quando Zoe se aproxima. Claro, ela
imediatamente começa a se apaixonar por Charlie. "Estou com tanta
sede", ela murmura, olhando para cima e batendo seus cı́lios de penas
falsas para ele. Eu realmente nã o entendo como ela simplesmente nã o
voa para longe. “Traga-me uma bebida?”
Charlie se solta de seu aperto e se aproxima de mim. “Eu nã o posso
agora; Eu tenho que dar a Katie o tour da festa.
Zoe se planta na nossa frente para que nã o possamos nos mexer.
“Katie,” ela diz, me olhando com descon iança. "Como é que eu nunca vi
você por aı́ antes?"
"Eu-" eu começo a dizer, mas Charlie pula antes que eu possa começar a
formular algum tipo de mentira.
"Ela está no programa de proteçã o a testemunhas", diz ele com um
charme descontraı́do. “Se ela te dissesse isso, ela teria que te matar.”
Zoe dá uma risadinha falsa, mas ela ainda está me olhando. "Pensando
bem, você realmente parece familiar", diz ela. “Já nos conhecemos em
algum lugar antes?”
Eu balanço minha cabeça. “Acho que nã o.”
Ela dá um passo para o lado, seus lá bios pressionados juntos. "Vai vir
para mim, nã o se preocupe", diz ela.
Zoe olha para nó s enquanto Charlie estende a mã o para mim. Eu levo.
Espero que ele nã o possa sentir o quã o instá vel o encontro com Zoe me
deixou.
"Preparar?" ele pergunta.
Eu sigo atrá s dele, deixando Zoe sozinha e com raiva. Eu olho para ela
por cima do ombro enquanto subimos a grande escadaria, e ela ainda
está me encarando como se desejasse que eu me auto-combustasse.
Tenho certeza que ela provavelmente icaria emocionada em saber que
é uma possibilidade real no meu caso.
10

"E isso", diz Charlie, acendendo as luzes em mais uma sala. Este é
empilhado do chã o ao teto com livros de capa dura com aparê ncia
antiga. “E a biblioteca.”
“Ooooooh.” Olho em volta com inveja indisfarçá vel. “Eu literalmente
viveria aqui se esta fosse a minha casa.”
Charlie ri. “Aposto que Zoe nunca pô s os pé s aqui, especialmente para
nã o ler.”
Seu conhecimento aparentemente vasto de seus gostos e desgostos,
para nã o mencionar a planta de sua casa, me inquieta. Meu estô mago se
revira de preocupaçã o e medo. Eu me pergunto que tipo de
relacionamento Charlie e Zoe tiveram ou tê m e como ele poderia gostar
de uma garota como ela quando ele també m parece gostar de mim. Zoe
e eu nã o poderı́amos ser mais diferentes em todos os sentidos
possı́veis.
Eu engulo em seco e me viro para Charlie. "Você parece conhecer Zoe
muito bem", eu digo, tentando soar casual, mas me sentindo longe
disso. “E pelo que pude dizer na sala de estar, ela parece sentir que tem
algum tipo de direito sobre você . Entã o, qual é o problema com você s
dois?”
Charlie levanta as mã os como se estivesse tentando desviar a pergunta
de volta para mim. “Uau, de onde veio isso?”
Eu dou de ombros. “Só estou dizendo que você está me dando um tour
pela casa dela como se morasse aqui. Ela me olha como se quisesse
arrancar minha cabeça porque estou com você . Eu só quero ter certeza
de que nã o estou me metendo no meio de nada.”
Charlie pega minhas mã os nas dele e me olha diretamente nos olhos.
“Nã o há nada para se meter, eu prometo.”
Eu olho de volta para ele, faminta por mais explicaçõ es. Há mais do que
nada aqui. E algo de initivo, ou pelo menos foi em algum momento. Eu
levanto uma sobrancelha como uma pergunta nã o dita.
"Tudo bem, nó s costumá vamos icar de vez em quando", ele inalmente
admite. “Quando eu ainda era o Sr. Big Shot Nadador. Mas nã o é algo de
que me orgulhe ou queira repetir ou algo assim.”
Eu concordo. Eu aprecio sua honestidade, embora eu realmente nã o
queira saber que seus lá bios tocaram os dela. Vou ter di iculdade em
tirar essa imagem mental da minha cabeça. O pensamento daqueles
dois juntos me faz estremecer.
"Você está com frio?" ele diz, percebendo. “Você pode usar meu
moletom se quiser.”
“Nã o, eu estou bem,” digo a ele.
“E quanto a nó s? Estamos bem agora?” ele pergunta.
Eu penso sobre isso por um segundo. "Sim. Estamos todos bem.”
Charlie desliga a luz e me leva de volta para o longo corredor. "Você está
a im de um jogo de beer pong?"
“Eu nunca joguei,” eu admito. "Mas claro. Mesmo que eu odeie cerveja.”
E assim, a tensã o sobre Zoe se dissipa. "Eu vou te mostrar como", diz
ele. “Na verdade, eu até bebo a cerveja que você deve, se quiser.”
"Parece ó timo", eu digo a ele.
Voltamos para a sala e assistimos ao jogo já em andamento. Pelo que
posso dizer, o beer pong consiste em pessoas que se revezam jogando
uma bolinha branca em copos vermelhos dispostos em um triâ ngulo em
cada extremidade de uma mesa e depois bebendo a cerveja neles até
acabar tudo.
Nã o estou nem um pouco esperançosa de que serei boa nisso, mas se
Charlie estiver disposto a beber, icarei mais do que feliz em tentar. Os
jogadores jogam a bola e chug. Chug e lance. Eventualmente, esse jogo
termina e Charlie e eu enfrentamos os vencedores.
Ele pega a bola e imita o movimento de arremesso para mim. “Apenas
seja gentil e faça um bom arco nisso”, diz ele. “E um jogo de inesse, nã o
de força bruta. Vá em frente. Você tem isso.”
Ele me entrega a bola. eu tiro. Um lampejo de branco se curva no ar,
entã o cai na xı́cara com um pequeno e decisivo plop. Eu olho para
Charlie com surpresa. Ele me cumprimenta. O cara do outro lado da
mesa dá um gole, depois toma uma dose. Faz falta.
"Vá de novo", Charlie me incentiva.
A bola dois dos meus acertos. Depois trê s, quatro, cinco e assim por
diante. Eu nã o posso perder. A outra equipe quase nã o afunda em
nossos copos. Claramente, eles vã o icar muito tontos e Charlie vai icar
basicamente só brio.
“Ela é uma tra icante! Ela é uma fera! De onde ela veio?!" Charlie grita
quando eu faço o lance inal.
Eu nã o consigo parar de sorrir. Depois de anos sendo um fracasso em
todos os esportes que tentei - eu estava falando sé rio sobre meu pai ser
um pé ssimo professor de giná stica - inalmente encontrei um em que
sou boa. Cerveja pong. Pena que nã o posso contar nada ao papai sobre
minhas novas proezas atlé ticas. Acho que ele adoraria o fato de que eu
inalmente consegui jogar um esporte de equipe depois de todos esses
anos, e ganhei o status de estrela nisso, nada menos.
Morgan, que está assistindo minha rá pida ascensã o ao hall da fama do
lado de fora, nos desa ia para o pró ximo jogo.
“Apenas espere,” Morgan fala mal do outro lado da mesa. “Eu tenho uma
arma secreta no meu time, també m. Ele pode nã o saber como bater em
um barril, mas ele de initivamente sabe como afundar uma bola de
pingue-pongue.”
Ela dá um tapa nas costas de Garver, tentando estimulá -lo. Garver
arremessa e afunda em sua primeira tentativa. Ele se vira e joga os
braços em torno de Morgan, pulando para cima e para baixo e
abraçando-a. Ela nã o corresponde exatamente ao entusiasmo dele. Ela
tira os membros do pescoço dele, coloca um pouco de espaço entre eles
e, em vez disso, dá um soco nele.
"Na sua cara!" Garver grita do outro lado da mesa para mim. “Beba,
Katie!”
"Eu entendi", diz Charlie enquanto ele se aproxima e pega o copo. “Sou
um homem de palavra.”
Miro novamente e acerto a bola como o pro issional experiente que sou
agora. Eu estou em um rolo total. Eu nã o poderia perder se eu tentasse.
Garver engole.
Sua sorte acaba no pró ximo lance. A bola quica na borda de um copo,
desliza para o chã o e rola para debaixo do sofá . Garver se ajoelha e vai
buscá -lo.
"Cara!" Morgan reclama com sua bunda, que está basicamente saindo
de suas calças enquanto ele se sente embaixo do sofá . “Você me
prometeu que era bom nesse jogo!”
"Estou bem", ele responde, reaparecendo e entregando a bola para
mim. Ele puxa as calças para cima. A bunda dele desaparece. “Só nã o
tã o bom quanto Katie.”
E a minha vez novamente. Eu bati seus copos repetidamente. Eles
perdem mais bolas do que afundam. Eu sentiria pena de nossos
oponentes, exceto que estou me divertindo demais. Acho que gosto de
festas. Nã o, espere, tenho certeza.
Em pouco tempo, a vitó ria é nossa. Novamente. Garver aperta a mã o de
Charlie, me faz um sinal de paz, toma um gole inal e limpa a espuma
restante de seus lá bios. A cerveja aparentemente lhe deu coragem
extra, porque ele se vira para Morgan e sorri para ela. "Você quer
dançar?"
Morgan faz uma careta e lhe dá um olhar mortal. "Garver, o que diabos
faz você pensar que eu gostaria de dançar com você ?"
Eu dou a ela um olhar. Ela revira os olhos para mim. Seja legal , eu
murmuro para ela.
"Tudo bem", diz ela com um suspiro. “Vamos acabar logo com isso.”
O rosto de Garver se ilumina novamente e ele pega Morgan pela mã o.
Eles cruzam a multidã o e se juntam ao mosh pit de crianças dançando
pela sala de estar. Eu me pergunto se Morgan está pensando o que
estou pensando agora: nós dois perdemos muita diversão sem ir a festas
todos esses anos.
Enquanto estou ocupado assistindo Morgan mal se mover e Garver
pular como um idiota total, de repente tenho a sensaçã o de que as
pessoas estã o me observando . Eu espio Zoe no canto sussurrando para
algumas outras garotas que eu reconheço da escola primá ria. Eu tenho
di iculdade em sacudir a sensaçã o de que eles estã o em cima de mim.
Mas, novamente, talvez eles estejam apenas se perguntando quem eu
sou e de onde eu vim; talvez alguns deles, como Zoe, sintam como se
Charlie fosse propriedade deles e nã o gostem que ele esteja com
algué m de fora de seu cı́rculo; ou talvez eu esteja apenas imaginando
coisas. E difı́cil dizer.
“Sou eu ou todo mundo está olhando para nó s?” Eu inalmente
pergunto a ele, acenando para Zoe e sua equipe o mais discretamente
que posso.
"Eles nã o estã o olhando para nó s", diz ele. “Eles estã o olhando para
você .”
Ele está olhando para mim també m, agora.
Lá se vai aquele calor intenso em minhas bochechas novamente. “Isto é
como eu imaginei todos os bailes do ensino mé dio que eu nunca fui,” eu
digo, e provavelmente é bem perto: Zoe planejando vingança enquanto
eu converso com o cara mais fofo da classe, e ela fazendo algo hediondo
quando eu vou para a escola. dançar com ele, como aquela cena em
Carrie quando ela derramou sangue de porco em cima dela no baile.
"Bem, nã o é a mesma coisa", Charlie responde com uma risada fá cil. Ele
nã o parece nem um pouco preocupado com aquelas garotas, entã o eu
tento nã o icar també m. “Em um baile do ensino mé dio, todas as
garotas icavam de um lado da sala e todos os caras do outro e ningué m
tocava.”
Tomo um gole lento da minha bebida rosa e olho para Charlie por cima
do copo. “Oh, eu tenho certeza que você dançou com um monte de
garotas nos bailes do ensino mé dio. Como Zoe e todos os seus amigos
lá .
"Bem, talvez. Embora eu nã o chamaria exatamente de dança,” ele me
diz. “Era mais como a rotina do ensino mé dio.”
"Eca", eu digo. Eu nã o quero nem pensar em nenhum desses zumbis
estú pidos se esfregando em Charlie. Eles nã o merecem um grande cara
como ele. “Tenho certeza de que nã o quero saber como era.”
"Na verdade, eu acho que é algo que você nã o pode perder", diz ele,
pegando a bebida da minha mã o e colocando-a na mesa mais pró xima.
“Vamos preencher algumas dessas lacunas em sua educaçã o escolar em
casa.”
Charlie me leva para a pista de dança e me gira. Entã o ele me traz tã o
perto que quase nã o há espaço entre nó s. Esqueço tudo sobre qualquer
possı́vel derramamento de sangue de porco que Zoe possa estar
tramando.
Eu coloquei minhas mã os nos ombros de Charlie. Ele coloca a mã o na
parte inferior das minhas costas e começa a balançar os quadris de um
lado para o outro como um pê ndulo. Eu sigo seus movimentos.
Desatamos a rir.
“Isso é o que você estava perdendo!” Charlie canta.
"Isso é horrı́vel", eu digo a ele, mesmo que nã o seja, nã o realmente. A
dança real pode nã o ser tã o boa. Mas estar tã o perto de Charlie Reed
de initivamente é .
“Esse movimento realmente funcionou para mim!” ele protesta. "Você
nã o gosta?"
"Eu estava esperando por muito mais rodopiando", digo a ele. Ei, na
verdade estou lertando. Na verdade está funcionando! Milagres
existem.
Charlie me gira lentamente. Eu faço um total de 360 graus sem cair. E
possı́vel que eu até pareça graciosa. Ele me puxa de volta e me segura
perto.
Meu coraçã o está pulando no meu peito. Eu sinto sua batida de volta na
minha em resposta. Estamos dançando devagar em um mar de pessoas
pogo e eu nem me importo se parecemos bobos por ser tã o antiquados.
Eu nunca me senti tã o perfeitamente conectado com algué m ou alguma
coisa na minha vida, exceto talvez minha mú sica. Zoe e seus amigos
deixam de existir em minha mente.
Charlie olha para mim, depois para meus lá bios. Oh meu Deus , ele está
prestes a me beijar. Ele se inclina. Eu inalo. Fechar meus olhos. Espere.
E... Garver joga seus braços em volta de nossos pescoços. O momento
está perdido. Eu abro meus olhos de volta.
“ESTA E A MELHOR NOITE DA MINHA VIDA!” Garver grita, apontando
para Morgan. Ele está suado e tem bafo de cerveja e parece
positivamente feliz. “ELA SO ME BEIJOU!”
Eu olho para o meu BFF. Ela balança a cabeça um enfá tico nã o. Mas ela
está fazendo aquela coisa que sempre faz quando mente, enrolando
uma mecha de cabelo no dedo. Entã o talvez sim?
"Se você disser isso de novo, eu vou te matar!" ela berra. Garver sorri e
corre de volta para ela.
Morgan ainda está olhando para ele, e eu me preocupo por um segundo
que ela realmente vá socá -lo. Mas entã o ele começa a dançar em volta
dela novamente e ela começa a rir. Ela assiste suas travessuras por um
refrã o ou dois, mas depois de um tempo, é como se ela nã o pudesse
mais se conter. Ela começa a dançar junto com ele. Garver parece que
está no cé u.
Eu me volto para Charlie. Ele se inclina para mim novamente. Aı́ vem
aquele beijo. Aquele que eu esperei toda a minha vida. Finalmente. Eu
quero me lembrar de cada detalhe deste momento para sempre e
sempre.
Exceto no ú ltimo segundo, eu ouço a voz de Zoe no meu ouvido ao invé s
de sentir os lá bios de Charlie nos meus. “Acho que inalmente descobri
de onde te conheço,” ela diz, me dando um sorriso malicioso. "Você nã o
estava por acaso na classe da Srta. Eslinger na primeira sé rie, estava?"
A verdade é que sim. Nó s dois está vamos nessa classe. Ela deve saber
que sou eu, Vampire Girl. Eu me recuso a deixá -la me fazer admitir isso,
no entanto. Vou contar a Charlie sobre meu XP quando estiver pronto,
nã o porque Zoe Freaking Carmichael está me intimidando para isso.
Balanço a cabeça e nã o digo nada. Nã o posso. Estou preocupado que
minha voz traia o quanto estou pirando por dentro.
"Huh", diz ela, dando-me um olhar ainda mais atento. "Isso é engraçado.
Porque você se parece com essa pobre garotinha daquela classe que
costumá vamos chamar de Garota Vampira. Ela icou doente e nunca
mais voltou para a escola. Esqueci o nome dela.”
Antes que eu possa pensar em uma saı́da para isso, Charlie revira os
olhos para Zoe, entã o se vira para mim e ri. “Entã o é por isso que você
icou olhando meu pescoço na pista de dança. E aqui eu pensei que era
porque você estava tã o a im de mim.”
"O que posso dizer? Você é muito irresistı́vel, especialmente para nó s
vampiros. Mesmo no meu estado de semipâ nico, nã o posso deixar de
notar que o pescoço dele parece incrı́vel. Cheira bem, também , eu acho.
Zoe abre a boca para dizer mais alguma coisa. Mas entã o seus olhos
registram o braço de Charlie sobre meu ombro e minha mã o en iada em
seu bolso traseiro. Ela se afasta sem outra palavra. Eu posso
praticamente ver o vapor saindo de suas orelhas.
"O que diabos foi isso?" Charlie diz.
Eu dou de ombros. “Sua ex-namorada é estranha.”
“Ela nunca foi minha namorada!” ele protesta antes de perceber meu
sorriso largo. "Oh. Você está me provocando, hein?”
Eu ri. "Talvez um pouco."
Ele começa a se inclinar para mim novamente. Prendo a respiraçã o
novamente. Feche meus olhos novamente. Espere novamente. Ainda
sem beijo.
Desta vez, seus lá bios pousam ao lado da minha orelha. “Você quer ir a
algum lugar?” ele sussurra.
Abro os olhos, sorrio para ele e aceno. Como se houvesse alguma
resposta, mas sim. Eu iria para a lua com Charlie Reed agora mesmo se
ele me pedisse. Saı́mos da festa para fazer nossa pró pria festa.
11

O bom de uma cidade pequena é que você pode chegar a qualquer lugar
que quiser com bastante rapidez, mesmo que esteja a pé : a estaçã o de
trem, a sorveteria onde Morgan e Garver trabalham, a escola (se você
frequenta uma fora do seu quarto, isto é ), e, neste caso, a marina. Eu
tenho que concordar com Charlie – é de initivamente o lugar mais
româ ntico de toda Purdue.
A lua brilha na á gua enquanto caminhamos ao longo do cais de mã os
dadas. Os barcos balançam ao vento. As velas ressoam contra os
mastros. Estrelas brilham no alto.
Charlie aponta para um dos barcos. Está hasteando uma bandeira azul
com o icô nico CAL escrito em letras douradas. “Curiosidade: eu deveria
ir para Berkeley com uma bolsa de nataçã o”, ele me diz.
Aqui está apenas a abertura que eu estava esperando. Agora posso
dizer, Curiosidade: na verdade, sou aquela pobre garotinha de quem Zoe
estava falando antes…
Mas entã o eu olho em seus olhos e vejo que ele já parece estar chateado
o su iciente sem eu acrescentar nada. Entã o, em vez disso, eu digo:
“Deveria? Como você nã o vai mais?”
"Nã o", diz ele. “Eu tive que fazer uma cirurgia e eles nã o sabiam se eu
conseguiria nadar novamente. E nenhuma bolsa de estudos signi ica
que nã o há Berkeley.”
Olho para o meu re lexo ondulando na á gua e me lembro da frase da
Querida Gabby sobre todo mundo ter seu pró prio sanduı́che de cocô .
Acontece que ela está certa. Até Charlie Reed, o indivı́duo de aparê ncia
mais perfeita do mundo, aparentemente tem um. “Você nã o conseguiu
um empré stimo ou algo assim?” Eu pergunto.
Ele dá de ombros. “Tecnicamente, eu acho, mas o negó cio do meu pai
anda meio instá vel ultimamente e eu nã o queria colocá -lo sob essa
pressã o. Alé m disso, nadar era, tipo, minha vida inteira. Eu ainda estou
tentando descobrir quem eu sou sem ele. Entã o, desperdiçar o dinheiro
dos meus pais quando eu nem sei no que quero me formar parecia
muito egoı́sta.”
“Uau, eu realmente sinto muito em ouvir isso.” E triste que Charlie
tenha perdido sua bolsa de estudos, mas ainda mais triste que ele
parece pensar que nã o é digno de uma educaçã o universitá ria sem
nadar. "Como isso aconteceu? Quero dizer, como você se machucou?”
Continuamos andando e ele nã o responde por um bom minuto. Começo
a pensar que ele nã o me ouviu, mas entã o ele inalmente diz: “Um
acidente esquisito. Eu caı́ de uma escada e…”
Ele para de andar enquanto se afasta. Entã o ele se vira para mim,
respira fundo e começa de novo. “Na verdade, isso nã o é verdade. Isso é
apenas o que eu digo a todos. Eu estava bê bado na casa de Owen e ele
apostou comigo que eu nã o poderia pular do telhado na piscina e eu
cortei a borda e sou um idiota.”
“Uau” é tudo o que posso dizer em primeiro lugar. A versã o de Charlie
que faria algo tã o imprudente nã o se encaixa com a que eu imaginei
todos esses anos, ou com a que estou conhecendo agora.
“Entã o, você é um grande idiota” é o que sai da minha boca em seguida,
porque aparentemente eu nã o quero ser beijada pelo cara com quem
sonhei por anos. Eu digo isso gentilmente, no entanto, mesmo quando
eu balanço minha cabeça em desaprovaçã o a nó s dois – ele por ser um
idiota e eu por també m ser um idiota. Ele está rindo, entã o acho que
nã o arruinei completamente minhas chances. "Obrigado por me dizer a
verdade", eu digo.
“Obrigado por me chamar de idiota.” Ele sorri para mim. “Sabe qual é a
pior parte? Eu nem queria beber naquela noite. Foi tã o estú pido, eu nã o
quero ser esse cara, sabe?
“Entã o nã o ique,” digo a ele.
Eu sei pelo jeito que ele está agindo que ele normalmente nã o deixa as
pessoas verem esse lado dele – a parte vulnerá vel onde ele nã o é o rei
da festa, o rei da escola, o rei da piscina. Provavelmente é mais fá cil
comigo, algué m que nã o faz parte de toda aquela cena. Ainda assim,
estou lisonjeado que ele con ie em mim com suas “coisas”.
O que me faz pensar: eu provavelmente deveria compartilhar minhas
coisas com ele também . E ele acabou de me dar outra abertura perfeita.
Mas entã o Charlie quebra o silê ncio antes que eu tenha a chance.
“Eu amo isso aqui embaixo. Especialmente quando ningué m está por
perto. E o melhor à noite”, diz ele.
Decido oferecer-lhe algo diferente do meu diagnó stico. Ainda é pessoal
e pró ximo ao meu coraçã o, mas nã o altera tanto a vida quanto divulgar
minha condiçã o mé dica. “Lembro-me de minha mã e me levando aqui
quando eu era pequeno.”
"Oh sé rio?" Charlie parece educadamente interessado. Ele
provavelmente nã o está preparado para o que vou dizer a seguir.
“Sim, eu tenho essa memó ria vı́vida dela me deixando sentar em seu
colo e me mostrando onde colocar meus dedos nas cordas da guitarra.”
Eu respiro enquanto a imagem mental passa por mim com força total.
Como posso sentir tanta falta de algué m que se foi há tanto tempo e que
eu tive por tã o pouco tempo para começar? Toco o mostrador do
reló gio que estou usando, aquele que era da minha mã e. Isso sempre
me faz sentir mais perto dela. Imagino que ela esteja em algum lugar
entre as estrelas agora, a anos-luz de distâ ncia, cuidando de mim e me
mantendo a salvo.
“Isso era dela, na verdade,” eu acrescento. “Passei tantos dias olhando
para este reló gio na mã o dela, esperando um dia poder jogar como ela.
Ela morreu quando eu tinha seis anos. Acidente de carro.”
Charlie ica em silê ncio. Espero nã o tê -lo assustado, que ele nã o pense
que estou muito dani icada para me envolver. Porque ele ainda nem
sabe sobre os danos causados pelo sol. Eu sou muito central de danos.
"Uau, eu... eu sinto muito", ele inalmente diz. “Aqui estou falando de
uma lesã o que foi tudo culpa minha. Eu realmente sou um grande
idiota.”
Eu balanço minha cabeça e sorrio para ele. "Nem mesmo. Está bem. Eu
prometo. E bom fazer uma nova memó ria aqui.”
“Ei,” ele diz, pegando minha mã o. "Deixe-me fazer as pazes com você ."
Eu o sigo pelo cais até pararmos na frente de um iate lindo e reluzente.
E como nada que eu já vi antes, exceto possivelmente na TV, como
talvez em um episó dio de fé rias das Kardashians. Ele sobe a bordo e me
oferece uma mã o para cima. Eu me junto a ele no convé s.
"Isso é seu?" Eu pergunto, meus olhos tã o arregalados quanto a lua
cheia. Eu nã o entendo. Achei que ele disse que os negó cios do pai dele
eram precá rios. Este iate deve ter custado milhõ es.
"Nã o meu", ele responde, limpando essa parte pelo menos. “Mas estou
ajudando a cuidar disso para o verã o. E meu trabalho. Entã o agora você
sabe o que me manté m ocupado durante o dia. Sua vez."
Eu vou para a piada fá cil, que nã o é nem uma piada. “Você ainda nã o
adivinhou? Na verdade, sou aquela garotinha vampira que Zoe estava
falando antes.
Eu me pergunto se devo deixar claro que na verdade nã o estou
brincando. Basta deixar tudo em aberto. Antes que seja tarde demais e
eu esteja investindo demais e dar a notı́cia tem o potencial de partir
meu coraçã o.
"Eu tive um pressentimento", diz Charlie. Tenho certeza de que ele nã o
tem ideia de que estou tã o sé rio quanto um ataque cardı́aco e, no
ú ltimo minuto, decido nã o corrigi-lo, pelo menos nã o ainda. Talvez
amanhã . Nã o essa noite. “Mas que diabos. Vou me arriscar com você de
qualquer maneira.
Ele me leva em um passeio pelo barco, apontando diferentes partes
dele à medida que avançamos. “Este barco é um Jespersen. Vela mestra
reforçada com Kevlar. O deck é de teca birmanesa com incrustaçõ es de
bambu.”
Eu toco cada um dos componentes enquanto ele me fala sobre eles. Eles
cheiram a classe e riqueza. “Nada disso signi ica nada para mim, mas é
tã o bonito!” eu exclamo. — Como você sabe tanto sobre barcos?
Charlie passa um braço em volta do meu ombro, e eu me aconchego
nele. “Lembra daquela bolsa de estudos?”
Eu concordo. A luz das estrelas e da lua faz parecer que ele tem uma
auré ola. Como se ele fosse meu anjo pessoal.
“Bem, eles sã o meio relacionados”, explica ele. “O cara que é dono deste
barco – o Sr. Jones — é um ex-aluno de Cal. Nadei lá como eu deveria.
Uma vez que ele descobriu sobre minha bolsa de estudos, ele meio que
me colocou sob suas asas e me ensinou tudo o que há para saber.”
"Isso é bom", murmuro. “Ter algué m acreditando tanto em você .
Especialmente algué m fora de sua famı́lia.”
Charlie respira fundo e solta o ar lentamente. "Sim. Mas també m é
muito pior decepcionar algué m assim. Pelo menos sua famı́lia tem que
perdoá -lo. Eu meio que sinto que o Sr. Jones nã o olhou para mim da
mesma forma desde o acidente. Ainda bem que ele ainda con ia em
mim o su iciente para fazer esse trabalho.
"Tenho certeza que ele nã o acha que você é uma decepçã o"
Charlie interrompe antes que eu possa terminar o pensamento. “Nã o,
ele de initivamente faz. Mas está tudo bem, realmente. Se nã o posso
mais estar na á gua, pelo menos gosto de saber que estarei nela
regularmente. Este barco é o ú nico lugar em que posso realmente
pensar hoje em dia.”
Envolvo meus dedos nos de Charlie. “O que você pensa quando está
aqui?”
Ele olha para a lua. "Nã o sei. O que vou fazer agora que o futuro que eu
deveria ter nã o vai acontecer. Onde eu quero ir. Quem eu quero ser. Você
sabe, pequenas coisas como essa.”
Eu ri baixinho. “Eu entendo completamente e totalmente. Eu penso
sobre esse tipo de coisa o tempo todo.”
Ele olha para mim, surpreso. "Você faz?"
Eu sorrio para ele. "Sim. Mais do que você pode imaginar."
“Huh,” ele diz, digerindo aquela informaçã o. "Você sabe o que? Um dia
desses teremos que navegar pela baı́a, ver o sol se pô r…”
"Isso soa perfeito", eu digo, e soa. Pena que é apenas uma fantasia que
nunca pode acontecer. Por enquanto, poré m, estou feliz em me deleitar
com o irreal “algum dia”.
Os olhos de Charlie encontram os meus novamente. E como se estivesse
em um lindo barco, o cé u noturno atrá s de nó s, a á gua nos balançando
suavemente, nã o é incrı́vel o su iciente, ele se inclina e me beija. De
verdade desta vez.
E pura magia, entã o tudo o que eu sempre esperei que fosse, eu nã o
posso nem me mover ou pensar ou respirar por um segundo. Mas entã o
o instinto entra em açã o e eu sinto tudo, tudo. Minhas terminaçõ es
nervosas formigam, meu cé rebro está pegando fogo, meu coraçã o está
perdido.
Eu envolvo meus braços ao redor de seu pescoço. Ele me puxa ainda
mais perto. O beijo continua indo e indo.
E talvez nunca tivesse terminado, ou pelo menos nã o tã o cedo, mas o
alarme no meu reló gio nos interrompe. Repica como sinos de igreja.
Saltamos para trá s um do outro.
Eu aperto o botã o de desligar e balanço a cabeça. Por que, oh, por que
eu tenho um toque de recolher tã o cedo? Eu quase nunca saio; você
pensaria que meu pai poderia me deixar ter algumas horas extras
quando eu realmente faço.
"Você precisa chegar em casa?" Charlie pergunta.
Eu inclino minha testa contra seu peito. Eu posso ouvir seu batimento
cardı́aco, claro e forte. Parece casa. “As vezes eu odeio este reló gio,” digo
a ele mesmo sabendo que nã o é culpa do reló gio que eu tenho um pai
superprotetor, uma mã e que já o usou, mas nã o pode mais, e uma
doença rara que signi ica que eu nã o posso mais ir naquele cruzeiro ao
pô r do sol com Charlie.
Voltamos para a caminhonete de Charlie de mã os dadas. Ele abre a
porta para mim, e enquanto eu o vejo caminhar ao seu lado, decido que
Real Life Charlie é ainda melhor do que Daydream Charlie.

Charlie para o caminhã o a um quarteirã o da minha casa.


"O que você está fazendo?"
— Você disse que seu pai tinha sono leve.
“E bom que você se lembre.” Nã o posso suportar que esta noite perfeita
termine, entã o tento estender a conversa. “Entã o, quando você está no
barco pensando em tudo isso, você já teve alguma boa opçã o para o
pró ximo ano? Agora que você nã o vai para Berkeley, quero dizer?
Charlie acena com a cabeça, um sorriso rastejando em seu rosto. “Bem,
antes de mais nada, vou comprar um caminhã o novo.”
Minhas sobrancelhas se juntam. Eu estava esperando ouvir talvez uma
viagem de serviço voluntá rio, aulas de faculdades comunitá rias, um
está gio. Em vez disso, ele me deu um caminhã o. Isso nã o é um plano; é
uma coisa. "Por que? Esse é legal.” E uma daquelas antigas — parece
que já pertenceu a um fazendeiro. Eu amo isso.
"Ah, nã o, o novo vai ser muito melhor", explica ele, seus olhos se
iluminando com o mero pensamento disso. “Terá uma cabine estendida
com kits de elevaçã o, aros cromados, acabamento fosco.”
"Parece incrı́vel", eu digo. "E caro." Eu nã o acrescento: E você é muito
melhor do que apenas querer um caminhão. Você deve chegar mais alto.
Você tem tanto potencial.
"Como eu disse antes, você nã o é o ú nico que está realmente ocupado
durante o dia", ele responde com um encolher de ombros. “Estou
arrebentando, entã o devo ter dinheiro su iciente para isso até o inal do
verã o. E entã o, quero dizer, nã o tenho nenhum plano especı́ ico. Talvez
eu use minhas belas rodas novas para dirigir cross-country. Eu estive
em uma piscina toda a minha vida, entã o nã o consegui ver muito mais.”
Eu concordo. Eu conheço o sentimento. Eu nunca estive em nenhum
lugar fora de Purdue.
"O que você está fazendo-"
Eu cortei Charlie antes que ele pudesse ser muito especı́ ico em seu
questionamento. Nã o quero mais ter que mentir para ele, mesmo por
omissã o. Nã o depois que ele foi tã o honesto comigo sobre sua vida.
"Eu? Eu nã o estou fazendo nada. Quer dizer, eu nã o vou a lugar
nenhum.” Eu sei que estou falando muito rá pido e meio que em cı́rculos.
Espero que ele nã o perceba. “Vou fazer minhas aulas on-line na
faculdade, mas basicamente estarei… aqui .”
Charlie ri. “Isso parece ó timo, mas eu ia perguntar o que você vai fazer
amanhã .”
Eu recorro à explicaçã o fá cil. "Oh. Nó s iremos. Estou ocupado durante o
dia, mas estou livre amanhã à noite.”
"Entã o eu estarei aqui", ele me diz.
Eu me inclino e lhe dou um beijo rá pido na bochecha. Entã o eu saio e
começo a correr em direçã o a minha casa. Mas algo acontece antes de
eu chegar lá . Chame isso de minha consciê ncia, ou Grilo Falante, ou um
anjo no meu ombro. Seja o que for, me dá uma mensagem urgente: Ele
merece a verdade.
Entã o eu me viro, caminho de volta e encontro Charlie ainda sentado
onde o deixei. Eu respiro fundo. "Eu preciso te contar uma coisa."
E eu quase faço isso desta vez. Honestamente eu faço. Mas entã o eu vejo
seu rosto, tã o sé rio e aberto. Ele olha para mim como se eu fosse a
garota totalmente normal que eu gostaria de ser. E eu simplesmente
nã o consigo dizer as palavras.
"Eu nunca tive um gato", digo a ele em vez disso.
Charlie ri. “Nada de merda.”
12

Os eventos da noite me deixam sonhadora, lutuando e inspirada. Passo


o resto da noite compondo uma nova mú sica – “Love Rocks” – que
honestamente acredito ser a melhor coisa que já escrevi. E complexo,
cheio de nuances e profundo, uma esté tica pela qual sempre me
esforço, mas nã o consegui até agora. Ou pelo menos espero ter. Eu
adormeço com um sorriso enorme no rosto assim que o sol está
começando a nascer.
Morgan aparece depois do jantar. Estamos na minha cama quando pego
meu violã o e começo a dedilhar. Eu valorizo a opiniã o dela acima da de
qualquer outra pessoa, entã o quero ouvir o que ela pensa da minha
nova mú sica.
Estou cantando com todo o meu coraçã o, realmente me envolvendo
nisso. Mas quando olho para cima para ver se Morgan está sentindo
isso junto comigo, percebo que ela está em algum lugar na terra do la-
la. Ela está sorrindo para o telefone, os dedos voando pelo teclado.
Eu paro no meio da mú sica e largo o violã o. "Pra quem você está
digitando?"
Ela olha para cima, estremece, entã o joga o telefone sob o edredom. "O
que? Ningué m. Desculpe!"
“Morrrgannn,” eu digo, alongando as sı́labas em uma tentativa de soar
ameaçadora.
Ela dá de ombros e murmura algo incoerente.
"O que?"
Mais murmú rios.
“Nã o consigo ouvir uma palavra do que você está dizendo. Você pode
falar mais alto?"
“GARVER,” ela inalmente grita. “FIQUEI COM GARVER.”
Começo a sorrir e nã o consigo parar.
"Fechar. Para cima,” Morgan rosna.
“Eu nã o disse nada!” Eu digo, sorrindo ainda mais.
“Feche.”
Eu rachei completamente. “Eu nã o disse uma palavra!”
Morgan ica vermelha como beterraba e puxa o cobertor sobre a cabeça.
Atravé s dele, eu ouço: “Ele é meio fofo, certo?”
"Ele é muito fofo", eu asseguro a ela. "E doce. E ele obviamente tem bom
gosto, porque ele está apaixonado por você . Eu até gostei do chili dele.”
“Nó s dois sabemos que a ú ltima parte é uma mentira. O chili era vil,”
Morgan diz, sua voz ainda abafada.
"Bem, tudo o que eu disse era verdade."
Por mais que eu esteja amando o fato de Morgan estar dando uma
chance a Garver, també m estou me preocupando sobre como meu pai
vai reagir ao fato de eu ter um encontro. Especialmente com um garoto
que nã o tem ideia do meu XP. Papai vai insistir em conhecer Charlie
imediatamente. E quando ele izer isso, ele de initivamente vai deixar o
gato sair do saco. E entã o a data – para nã o mencionar qualquer
relacionamento para o qual possamos estar indo – será arruinada.
Charlie Reed já tem o su iciente em seu prato sem adicionar eu e minha
doença esquisita a ele. Eu nã o posso lidar com parar esta coisa em suas
trilhas antes que ela tenha a chance de realmente começar.
Um plano está se formando na minha cabeça e preciso da ajuda de
Morgan para executá -lo. Eu decido, já que fui tã o bem-sucedida em agir
como uma adolescente normal ontem à noite – olá , beer pong e beijos
roubados em um barco que nã o pertence a nenhum de nó s beijadores –
eu deveria continuar hoje e mentir sobre meu futuro paradeiro.
"Posso dizer que estou em sua casa esta noite?" Eu pergunto a Morgan.
"Vou encontrar Charlie mais tarde."
Morgan joga o cobertor de sua cabeça e se senta. "Você está me pedindo
para ajudá -la a mentir para seu pai para que você possa passar um
tempo com um cara?" Eu juro, ela está sufocando as lá grimas, e Morgan
nunca chora se puder evitar. “Nunca estive tã o orgulhoso.”
“Sabe o que é estranho?” Eu digo, sorrindo de volta para ela. “Estou
meio orgulhoso de mim també m.”
"Vai. Vá fazer isso agora,” ela me incentiva, me empurrando para fora da
cama com o pé . “Antes que você perca a coragem.”
Respiro fundo e desço as escadas. Encontro meu pai no sofá da sala
examinando portfó lios de fotogra ia. Eu me sinto estranha e estranha,
como se ele pudesse ver diretamente no meu cé rebro e já conhecesse
meu plano.
"Em que você está trabalhando?" Eu pergunto. E um abridor decente.
"Papé is de classi icaçã o", diz ele enquanto segura uma foto de um
pá ssaro voando para a luz. Parece muito bom para mim. Eu daria um A.
“Mas você odeia dar um valor de letra a uma fotogra ia”, digo, repetindo
o que meu pai me disse mil vezes. Estou trabalhando meu caminho para
a mentira lentamente.
“E um esforço impossı́vel!” ele me diz, largando a foto e sorrindo.
“Entã o, como foi a festa ontem à noite?”
"Bom. Excelente!" Eu começo, entã o eu recuo. Melhor ele pensar que eu
nã o estava me divertindo tanto. Isso só levará a mais perguntas, o que
levará a mais mentiras. “Nã o, quer saber, foi muito chato. Foi bom. Nã o
foi nada de especial.”
Meu pai me dá um olhar engraçado. Eu tento nã o ler nada nele.
“Conhecer pessoas divertidas?” ele pergunta.
"O que nã o. Quero dizer, sim. Todo mundo era especial,” eu gaguejo.
“Mas ningué m era, tipo, muito especial. Todo mundo era igual. O que eu
acho que os torna não especiais, tecnicamente – foi divertido.”
Meu pai levanta uma sobrancelha, mas nã o parece tã o descon iado. Eu
dou um grande sorriso no meu rosto e corro para o meu pedido antes
que meus nervos tomem o melhor de mim. "Entã o, de qualquer forma,
você se importa se eu for ao Morgan's hoje à noite?"
Ele olha para seu trabalho e diz com indiferença: “Claro. Sem
problemas."
Pego minha bolsa e sigo para as escadas antes que eu possa explodi-la.
"Excelente! Vou contar ao Morgan. Ela nã o tinha certeza se você diria
sim, mas eu sabia que você diria. Você ama Morgana! Todos nó s
amamos Morgan! Está bem entã o. Vos amo!"
“Te amo mais,” meu pai grita atrá s de mim.
Eu normalmente acrescentaria Não é possível aqui, como sempre
fazemos. Em vez disso, eu me viro e volto para a toca. "Estou a mentir."
Ele concorda. "Você estava divagando, entã o eu meio que sabia."
Eu me sento ao lado dele no sofá . “Vou conhecer um garoto chamado
Charlie Reed, que você nunca conheceu, mas ele é muito doce e eu sei
que você gostaria dele e eu gosto muito, muito dele. Muito."
A mandı́bula do meu pai aperta. Eu nã o posso dizer se ele está com
raiva ou apenas preocupado. Provavelmente ambos.
"Você está louco?" Eu pergunto suavemente.
"Eu nã o estou feliz que você mentiu para mim", diz ele.
Um buraco se forma no meu estô mago. Eu odeio desapontar meu pai,
que basicamente desistiu de toda a sua vida por mim.
"Você sabe que pode me dizer qualquer coisa", acrescenta.
"Eu sei", eu digo, baixando a cabeça. "Eu sinto Muito."
"Obrigado por me dizer agora, no entanto", diz ele, relaxando um pouco.
“Entã o deixe-me perguntar uma coisa. Você con ia nele?”
Eu concordo. Eu con io completa e totalmente em Charlie. Eu sei que
posso pelo jeito que ele lembrou que meu pai tinha sono leve e parou
um quarteirã o antes da minha casa quando me deixou. A maneira como
ele me conduziu pela festa ontem à noite e nã o saiu do meu lado
quando percebeu que eu estava desconfortá vel por nã o conhecer
ningué m. A maneira como ele se certi icou de que eu nã o tivesse que
beber a cerveja em nenhum dos jogos que jogamos, e a maneira como
ele olhou para mim antes e depois de me beijar. “Cem por cento sim.”
Uma longa pausa. Entã o, “Eu vou odiá -lo?”
Eu balanço minha cabeça. “Nã o, você realmente nã o vai.”
"E ele sabe sobre..."
Eu balanço minha cabeça novamente. Meu pai está abrindo a boca para
protestar, entã o começo a falar de novo antes que ele possa dizer
qualquer coisa.
“Eu nã o disse a ele ainda. Mas eu vou!"
"Eu nã o estou confortá vel com ele nã o saber." A voz do meu pai está
ainda mais irme do que antes.
Um grande nó se forma na minha garganta. Nã o vou sentir pena de mim
mesma, nã o esta noite, nã o quando tudo está indo tã o bem. “Eu vou
dizer a ele, pai. Eu prometo. Eu só preciso de um pouco mais. De ser
algo mais do que apenas uma doença.”
“Oh, Katie,” meu pai diz, parecendo que está prestes a chorar també m.
Eu sei que ele quer me salvar – desta doença, de um possı́vel desgosto
se Charlie for embora assim que eu derramar meu segredo, da minha
pró pria mortalidade – e eu també m sei, e ele sabe també m, que ele é
impotente diante de tudo. . Ele quer ajudar sua ilhinha e nã o pode.
Imagino que nã o possa haver nada pior do que isso para um pai.
Eu dou de ombros, lá grimas transbordando em meus olhos. A
mandı́bula do meu pai está endurecida como pedra. Nó s nos
encaramos.
"Você sabe que é mais do que isso", diz ele.
“Muitas outras pessoas nã o gostam,” eu sussurro, tentando nã o me
sentir amarga. Eu sou de qualquer maneira.
Ele suspira e balança a cabeça. "Você sabe que eu vou precisar conhecê -
lo."
“Você vai, eu prometo. Mas em poucos dias. Como uma garota normal,
certo?”
Eu espero. Eu rezo silenciosamente para que ele concorde. Finalmente
ele assente. Eu jogo meus braços em volta do pescoço dele.
Nesse momento, Morgan desce as escadas. Ela dá um sorriso casual
para meu pai e diz: “Ei, Sr. P, tudo bem se Katie e eu icarmos juntos a
noite inteira?” Ela é cem por cento convincente. Eu claramente preciso
ter liçõ es de mentira com ela.
“Eu admiti tudo,” digo a ela.
"Você está falando sé rio?" Ela olha para o reló gio. "Você nã o poderia
durar dez minutos?"
Eu dou de ombros. "O que posso dizer? Eu sou um bom garoto para o
nú cleo. Sou novo nesse tipo de coisa.”
"Você nã o tem esperança, Katie", diz ela, balançando a cabeça. "Divirta-
se esta noite. Tenho que ir trabalhar agora.”
13

“Então, para onde?” Charlie pergunta quando eu entro em sua


caminhonete algumas horas depois.
Eu posso ver agora porque ele está economizando para um novo. O
hodô metro aqui registra mais de 150.000 milhas, os assentos de tecido
estã o praticamente gastos e o motor faz um barulho que
de initivamente nã o deveria estar lá .
"Vamos para a cidade", sugiro. Morgan e eu bolamos um grande plano
antes de ela partir. Acho que Charlie vai adorar.
Charlie sorri. "Seu desejo é uma ordem."
Ele bate o gá s. Chugachuga-chugachuga. Estavam fora.
A pequena Purdue está praticamente deserta, embora sejam apenas
nove e quarenta e cinco no momento em que Charlie estaciona em uma
vaga. Charlie e eu passeamos pela Main Street, olhando nas janelas e
conversando sobre nossos dias.
Quando chegamos à sorveteria, paro. “Bem, aqui estamos.”
"Parece que estamos muito atrasados", diz Charlie. “Eles estã o
fechados.”
“Oh, você s de pouca fé ,” eu digo.
Espio pela janela e aceno para Morgan. Ela e Garver sã o as ú nicas
pessoas lá dentro; todos os clientes já foram para casa há muito tempo.
“Ah, estranho,” Morgan diz em um tom afetado enquanto segura a porta
aberta para nó s. "Eu nã o vi ningué m entrando depois do expediente, eu
juro, Sr. Bossman!"
"Nem eu", diz Garver atrá s do balcã o.
Charlie me dá um olhar. "Ooooh, você é suave, Katie."
“Agora nã o nos estraguem, amigos,” Morgan diz, me entregando as
chaves enquanto entramos. “Certi ique-se de limpar, desligar as luzes e
trancar quando sair.”
"Você entendeu", eu asseguro a ela.
"Eu vou passar e pegar as chaves de manhã ", diz ela, e entã o se inclina
para mim e sussurra: "Divirta-se. Talvez até demais.”
"Você també m", eu digo, apontando para Garver.
"Nem uma palavra", ela diz para mim, entã o ela se dirige para a porta.
— Garver, você vem?
"Sem dú vida." Ele dá um leve soco no braço de Charlie enquanto se
dirige para Morgan e eles saem da loja.
E entã o estamos sozinhos novamente. Todas as cadeiras estã o viradas
em cima das mesas, entã o nos dirigimos ao balcã o. Charlie se joga em
um banquinho enquanto eu coloco um avental e o boné de papel idiota
que os funcioná rios aqui tê m que usar.
“O que vai ser, senhor?” Eu digo, entrando no personagem.
“Duplo de banana split, calda quente, chantilly, nozes, tudo certo”,
Charlie me diz.
"Eca", eu digo, sem fazer um movimento em direçã o à s caixas de
sorvete ou coberturas. “Nozes. Nã o. Eles nã o combinam com sorvete.
Todo mundo sabe disso."
Charlie inge estar indignado. “O que aconteceu com o cliente está
sempre certo?”
"Você deu um beijo de despedida quando mencionou nozes."
"Nozes", diz ele, estalando os dedos.
"Pausa difı́cil", digo a ele.
Ele se inclina para frente até que sua testa está tocando a minha. Eu
afundo em seus olhos. Ele me beija suavemente. Ele adiciona a
quantidade certa de lá bios, lı́ngua e tempo. O beijo é perfeito, assim
como Charlie.
Nó s nos afastamos e nos encaramos. Um sorriso enorme surge em
meus lá bios quando pego a colher de sorvete e pego uma tigela grande
para nó s dois compartilharmos. Quem diria que ter uma paixã o poderia
ser tã o bom? Passei tantos anos da minha vida sozinho no meu quarto.
Que desperdı́cio. "Agora, de volta ao assunto em questã o", eu digo. “Nó s
já estabelecemos que as nozes estã o fora. Podemos negociar a porçã o
de banana també m?”
Charlie balança a cabeça. “També m nã o é um grande fã de potá ssio,
hein? O que há com você ?"
Eu dou de ombros. “Eu só acho que bananas sã o nojentas. Alé m disso,
as importadas da Amé rica Central e do Sul podem ter essas enormes
aranhas peludas escondidas nelas. Tipo, tã o grandes quanto a palma da
sua mã o!”
“Tenho certeza de que é uma lenda urbana”, ele me diz.
“Nã o, eu iz minha pesquisa. Veja, as bananeiras tê m essas folhas bem
enroladas subindo, e entã o a lor da bananeira se inclina sobre isso,” eu
explico, usando minhas mã os para mostrar como a planta cresce.
“Entã o é o lugar absolutamente perfeito para as aranhas viverem. Um
tipo, chamado de aranha errante – é da famı́lia Ctenidae – tipo, se ergue
nas patas traseiras e abre suas presas quando é ameaçada.”
"Mais ou menos assim", diz Charlie, ingindo. “RAWWWWRRRR!”
Eu ri. "Bastante. Boa impressã o. Exceto que tenho certeza que aranhas
nã o rugem. Na verdade, eu arriscaria um palpite de que eles nã o fazem
nenhum som.”
"Pequenos detalhes", diz ele. Os lá bios de Charlie estã o pressionados e
seus olhos estã o dançando. Ele está tentando nã o rir de mim. Ele mal
está conseguindo.
"O que?" Pergunto-lhe.
"Você é tã o fofo", diz ele. "E inteligente. Como você sabe de tudo?”
Lembro-me de Morgan ter me dito tarde demais para evitar despejar
todo o meu conhecimento nerd em torno de Charlie. Mas nã o posso
evitar. Eu amo fatos e ciê ncia e natureza e as estrelas e cé us e in inito e
alé m. Eu amo tudo isso. Eu quero saber tudo.
“Eu nã o sei tudo. Nem de longe,” eu digo, cavando o sorvete de massa de
biscoito. “Ainda nã o, pelo menos. Embora eu gostaria. E um objetivo
inatingı́vel, mas ainda acho que é bom.”
"Bem, você sabe muito", diz ele. “Quero dizer, você acabou de se formar
no ensino mé dio e já tem uma tonelada de cré ditos na faculdade. Acabei
de me formar no ensino mé dio e… sei nadar e consertar barcos, e é
isso.”
Eu coloco uma bola de crocante de barra de caramelo ao lado da massa
de biscoito de chocolate, em seguida, adiciono outra de pretzel de
caramelo salgado. Agarrando uma lata de chantilly e duas colheres,
coloquei tudo no balcã o entre nó s.
“Olha, você tem apenas dezoito anos. Você nã o deveria saber tudo
ainda,” digo a ele, esguichando uma enorme quantidade de chantilly em
cima de cada colher. Nossa sobremesa parece um castelo de conto de
fadas agora. “Ou nunca, realmente. O aprendizado é para a vida toda,
sabe?”
“Acho que à s vezes me preocupo que meus melhores dias tenham icado
para trá s”, diz ele, mergulhando a colher na colher de massa de biscoito
e lambendo-a pensativamente. “Quero dizer, de onde estou agora, é
como se eu nã o pudesse ver dois pé s no meu futuro. Sinceramente,
nunca me senti tã o desfocado na minha vida. Isso é estranho?"
"Esquisito? Nã o. Humano? Sim,” digo a ele. “E o que você quer dizer com
seus melhores dias icaram para trá s? Sua vida está apenas começando.
Pode ser o que você decidir fazer.”
Ele cava no caramelo salgado e suspira. “Acho que é só que essa grande
parte da minha vida acabou, sabe? E é por isso que todos me conheciam
na escola. Todos os meus amigos eram caras da equipe de nataçã o.
Treinei para isso todos os dias. E o que me fez quem eu sou... ou, eu
acho, quem eu era. E agora nã o sou mais aquele cara, e nã o consigo
descobrir onde ou como me encaixo.”
Eu posso estranhamente me relacionar com o que ele está dizendo.
Como seria minha vida se eu nã o fosse a garota com a doença rara e
com risco de vida? Certamente seria diferente, e talvez eu també m nã o
soubesse a que lugar pertencia. Mas eu sou a garota com a doença. Mais
ou menos como Charlie agora é o cara com a lesã o. “Você sente que as
pessoas o tratam de forma diferente desde o seu acidente?”
Ele concorda. “Eu sei que você provavelmente preferiria nã o ouvir mais
nada sobre ela, mas veja Zoe Carmichael, por exemplo. A festa dela foi a
primeira noite em que ela falou comigo desde que me machuquei, e
tenho certeza que é só porque ela me viu com você . Zoe é o tipo de
garota que nã o gosta de compartilhar seus brinquedos, mesmo que já
tenha decidido que nã o quer mais brincar com eles.”
"Parece uma avaliaçã o precisa", eu digo. “Entã o, tipo... você acha que ela
usou você para sua posiçã o social ou algo assim? E depois abandonou
você quando nã o estava mais nos jornais ou quebrando recordes toda
semana?
"Sim, algo assim", ele responde com um aceno de cabeça. Entã o um
olhar estranho cruza seu rosto. “Ei, como você sabia que eu estava no
jornal e quebrei recordes de nataçã o?”
Você tem que ser mais cuidadoso , eu silenciosamente me repreendo.
Você quase se revelou como seu perseguidor assustador ao longo da vida.
"Nó s, oradores da turma, somos conhecidos por ter excelentes
habilidades de pesquisa", digo a ele.
Ele sorri para mim. "Entã o você me pesquisou, hein?"
Eu dou de ombros. “ Mais oui. Eu tenho que saber no que estou me
metendo, certo?”
E entã o eu planto meus lá bios nos dele. Eles tê m gosto de açú car e
creme e pura bondade. Este beijo dura muito mais do que o primeiro.
Eu nunca me senti tã o tonto na vida.
Quando inalmente termina, ele diz: “Sabe o que esta noite me lembra?
Dezesseis Velas . Como aquela cena no inal, onde Sam e Jake se beijam
por cima do bolo de aniversá rio dela?
Eu concordo. Ele nã o tem ideia de quã o perfeito é o que ele acabou de
me dizer. E o meu ilme favorito de todos os tempos, e eu tenho
desejado um beijo tã o especial como esse desde a primeira vez que
Morgan e eu assistimos. E agora vem Charlie, realizando todos os meus
sonhos.
“Sempre achei que seria legal ter algo assim, mas na vida real. E agora
eu quero,” ele diz, voltando para outro beijo.
Entã o talvez eu esteja realizando alguns dos sonhos dele també m.

Todas as noites daquela semana começam e terminam da mesma


maneira: convenço meu pai a me dar apenas mais uma noite como uma
garota normal, e ele concorda com relutâ ncia. Eu pulo na caminhonete
de Charlie e lá vamos nó s em outra aventura. Bowling uma noite,
vitrines na pró xima (porque, é claro, as lojas estã o fechadas), para o
cinema tarde no shopping algumas cidades de Purdue.
Conversamos, rimos, nos beijamos. Muito. Ele me deixa, mas nã o antes
de me convidar para sair na noite seguinte. Eu sempre digo a ele que
estou livre apenas à noite, uma resposta que ele aceita, sem fazer
perguntas. E uma existê ncia idı́lica, uma que eu nunca pensei que teria
a chance de experimentar. Acho que é assim que meus pais devem ter
se sentido quando se conheceram: jovens, livres e incrivelmente felizes.
As coisas estã o tã o perfeitas que até começo a me iludir pensando que
talvez nunca precise contar a Charlie. Meu pai, no entanto, discorda.
"Esta é a ú ltima vez que eu vou dizer sim, Katie", ele me diz, sua boca
em uma linha reta enquanto eu estou me inclinando com força no meu
discurso "por favor, deixe-me ser normal um pouco mais". “Depois
desta noite, vou conhecer este jovem. Eu preciso conhecê -lo. E ele
precisa saber sobre seu XP.”
Suas palavras me atingiram com um baque. Mais do que tudo, nã o
quero que a magia acabe. E dizer ao cara por quem eu realmente acho
que posso estar me apaixonando que as coisas nã o sã o exatamente o
que eu o levei a acreditar que sã o será o equivalente a puxar a cortina
para trá s e ver que o grande e poderoso Oz é apenas um cara com um
microfone e um complexo de Napoleã o. Tudo irá mudar.
"Ok, pai", eu digo, desejando que houvesse alguma outra maneira e
sabendo que nã o há , nã o realmente. “Amanhã , você conhece Charlie e
entã o eu vou contar a ele sobre minha situaçã o. Hoje à noite eu ainda
sou uma garota normal.”
Meu pai sorri para mim, mas as linhas inas ao redor de seus olhos
estã o de repente parecendo mais pronunciadas e prolı́ icas. Nã o quero
ser a causa de seu envelhecimento prematuro. Mas o coraçã o quer o
que quer. Eu nã o poderia parar agora se eu tentasse.

Charlie e eu vamos para a praia desta vez. Está quieto e nó s somos os
ú nicos por perto. Charlie junta alguns gravetos e folhas, coloca-os em
uma pilha dentro de um cı́rculo de pedras que outra pessoa já fez e
acende uma pequena fogueira.
Estamos sentados em um cobertor. Estou me aconchegando nele,
descansando minha cabeça em seu ombro. Ele está traçando cı́rculos
preguiçosos nas minhas costas. Tudo sobre “nó s” parece tã o certo: A
maneira como podemos falar sobre tudo ou nada e nunca é estranho. A
maneira como nossas mã os se encaixam como duas peças de um
quebra-cabeça. Como parecemos nunca icar irritados ou cansados um
do outro.
Charlie aponta para uma estrela. Até agora, ele sabe tudo sobre minha
obsessã o pelas constelaçõ es e como eu quero ser um astrofı́sico um dia.
“Entã o, qual é esse?”
“Aquele se chama Altair,” digo a ele. “Acho que está a dezesseis anos-luz
de distâ ncia. Entã o a luz que estamos vendo foi realmente criada
quando tı́nhamos, tipo, dois anos de idade.”
"Isso é insano." Charlie ri e aponta para outro. “E aquele?”
"Esse é Sirius."
“Como o rá dio?”
Dou-lhe uma cotovelada brincalhona com o cotovelo. “E a estrela
canina. Quase nove anos-luz de distâ ncia.”
Charlie ica quieto. Quase posso ouvir as engrenagens girando em sua
mente. Por um breve segundo, meu coraçã o acelera enquanto me
pergunto se ele de alguma forma me descobriu. Mesmo sabendo o quã o
imprová vel é , nã o posso deixar de pensar em todas as maneiras pelas
quais isso poderia acontecer. Talvez Zoe esteja investigando e
mandando mensagens de texto para ele com suas descobertas? Contar
a ele sobre minha doença vai ser difı́cil o su iciente. Talvez ela tenha
encontrado a foto da nossa turma no jardim de infâ ncia e tenha
conseguido me identi icar, embora nenhum dos nossos nomes estivesse
nessa foto e eu tivesse um corte estranho naquele ano. (Acho que é uma
sorte eu ter saı́do da escola tã o cedo na primeira sé rie que perdi o dia
da foto.) Ter ele ouvindo sobre isso de algué m alé m de mim seria
devastador. Eu sinto que isso quebraria qualquer con iança que
construı́mos no pouco tempo que nos conhecemos. Eu tenho que dizer
a ele. Eu tenho que. Reú no minha coragem.
"O que você pensa sobre?" Eu pergunto, prendendo a respiraçã o.
Ele hesita. Eu posso dizer que tudo o que ele tem a dizer é algo grande e
pesando muito sobre ele. “O treinador em Berkeley me ligou na outra
noite. Acho que um dos outros nadadores se transferiu, entã o acabou
de abrir uma vaga.”
Eu expiro. "Você está falando sé rio? Você poderia recuperar seu lugar?”
Estou delirantemente feliz por ele. Porque se há algué m que merece um
golpe de sorte e uma chance na faculdade, é Charlie Reed. Ele é
inteligente e doce e atencioso e trabalhador e todos os tipos de outras
coisas boas. Estou tã o feliz que o universo está reconhecendo que um
erro nã o deveria signi icar que todos os seus sonhos morrem com ele.
Charlie dá de ombros. “Quero dizer, tecnicamente, sim. Há um encontro
daqui a um mê s, e o treinador de Berkeley estará lá . Eu teria que voltar
em forma até lá , o que provavelmente é impossı́vel, e entã o fazer, tipo, o
melhor momento para provar que estou totalmente reabilitado.”
Eu o agarro pelos ombros. “Você poderia fazer isso totalmente. Eu sei
que você poderia.”
Charlie olha para o fogo como se fosse encontrar o sentido da vida em
suas chamas. "Nã o sei. Eu posso ter alguns motivos para icar por aqui
no pró ximo ano…”
E talvez a coisa mais doce que algué m já me disse. “Estarei bem aqui
quando você voltar para casa para visitar. Promessa."
Meu telefone está zumbindo como um louco no meu bolso a noite toda,
e eu tenho ignorado. Mas está icando tarde e eu sei que deveria estar
em casa horas atrá s, um fato que meu pai provavelmente está me
lembrando neste exato segundo. Eu suspiro e veri ico meus textos. Há
cinco do meu pai e vinte e cinco de Morgan.
"Oh merda", eu digo baixinho.
"Tudo certo?" Charlie pergunta. “Oh, uau, é tarde. Tipo, muito tarde.
Temos que te levar para casa antes que seu pai enlouqueça.
"Sim", eu digo, sem me mover.
Eu percorro as mensagens de Morgan. Cada um está mais em pâ nico
que o outro. Passo de preocupada que meu pai nunca mais me deixe
sair de casa para icar irritada. Ela nã o é minha mã e; ela é minha
melhor amiga. Se eu icar até tarde com Charlie, ela deveria estar
torcendo por mim, nã o me dizendo para ir para casa.
Onde está você?
Você deveria estar em casa às onze.
Seu pai está fingindo não surtar. Mas ele é totalmente. Eu sei porque ele
me mandou uma mensagem para ver se eu sei onde você está.
Uma hora agora. Helllloooooo, terra para Katie.
São duas da manhã. Você sabe onde está seu melhor amigo? Eu não.
Três da manhã. Ainda nenhuma palavra sua.
OK AGORA EU ESTOU SURTANDO.
VOCÊ ESTÁ MORTO? POR FAVOR, RESPONDA SIM OU NÃO.
O NASCER DO SOL É EM DUAS HORAS... VOCÊ ESTÁ CORTANDO MUITO
PERTO, KATIE.
PEGUE
CASA
AGORA
Morgan tem icado fora até tarde esses dias com Garver, entã o nã o sei
por que ela está sendo tã o intensa comigo. Estou plenamente
consciente de que preciso voltar para casa em breve. Quã o estú pido ela
pensa que eu sou?
"E aı́?" Charlie pergunta.
"Nada, realmente", eu digo, um pensamento me ocorrendo. “Morgan
nã o está acostumado a me dividir com ningué m, eu acho. Acho que é
difı́cil para ela que eu esteja passando tanto tempo com você . Vou me
certi icar de passar algum tempo de qualidade com ela amanhã para
que ela nã o se sinta tã o negligenciada.”
"Meninas", diz Charlie, revirando os olhos. “Embora eu ache que eles
nã o sã o de todo ruins.”
“Há alguns decentes.”
Charlie se levanta, limpa a areia de si mesmo e me oferece uma mã o
para cima. “Eu gostaria que pudé ssemos apenas, tipo, dormir aqui.
Seria muito legal acordar com você em meus braços em vez do meu
velho ursinho de pelú cia.
Eu amo a ideia de acordar ao lado de Charlie. Eu amo a imagem de
Charlie abraçando seu bicho de pelú cia de infâ ncia quase tanto. "Algum
dia antes de você ... vá fazer o que você decidir fazer no outono, nó s
teremos que fazer isso acontecer", eu digo a ele.
"Negó cio", diz ele. “Hora de te levar para casa. E entã o amanhã eu vou te
levar para um encontro de verdade, ok?”
Eu aceno e jogo a bomba nele. "Perfeito. Porque você precisa conhecer
meu pai.
14

Charlie me deixa , eu entro pela porta e papai está lá para me


cumprimentar. Seu cabelo está ereto como se ele estivesse passando
dedos nervosos por ele a noite toda. Seus olhos estã o vazios e abatidos.
Ele joga seus braços em volta de mim e me abraça com tanta força que
eu nã o consigo respirar.
"Desculpe o atraso", eu digo em seu ombro.
Ele se afasta e me dá um longo e duro olhar. “Nunca mais me assuste
assim, Katie! Eu pensei que você estava morto. Eu nã o tenho ideia de
quem é esse garoto ou o que ele pensa que está fazendo mantendo você
fora até todas as horas da noite—”
“Isso nã o foi culpa de Charlie. Quebrar o toque de recolher é tudo por
minha conta.”
“Se você fosse mais tarde, você poderia ter icado exposto aos raios UV!”
Papai diz, icando com raiva agora que ele pode ver que estou viva e
bem. “Você deveria saber melhor do que ningué m a que esse tipo de
gatilho pode levar!” Ele está tã o excitado agora que está praticamente
cuspindo as palavras.
"Pai, relaxe", eu digo. "Olhe para mim. Estou bem. Nenhum dano,
nenhuma falta.”
"Só porque você teve sorte desta vez", diz ele.
Eu dou um suspiro enorme. Eu realmente nã o aguento ser mimada nem
um segundo a mais. "Pai! Escute-me. Eu nã o sou uma criança. Eu posso
cuidar de mim mesmo. Posso tomar minhas pró prias decisõ es. Lamento
que esta noite eu tenha escolhido icar fora até mais tarde do que você
estava confortá vel, mas estou bem. Minha voz sobe com o meu nı́vel de
frustraçã o. “Nã o, eu estou mais do que bem. Eu sou o mais feliz que já
estive na minha vida. Você nã o consegue ver isso?”
Ele balança a cabeça tristemente. “Tudo o que posso ver é minha
garotinha pronta para jogar fora tudo pelo que trabalhamos tanto em
um menino que nã o respeita as regras da nossa casa.”
“Você vai parar de julgar Charlie? Você nem o conhece!” Eu grito. “Ele é
o melhor, mais gentil e mais respeitoso garoto que já conheci! A ú nica
pessoa com quem você tem um problema aqui sou eu. Sua pró pria ilha.
Se você nã o percebeu, eu cresci, pai. Nã o sou mais uma garotinha que
pode icar satisfeita com você explodindo fotos que tirou no safá ri e
criando uma falsa savana africana para mim no porã o. Eu preciso sair e
realmente viver.”
Meu pai parece pronto para chorar. Estou tã o irritado agora, eu poderia
també m. Eu nã o posso acreditar que minha noite virou um centavo
como este, de perfeito para desastre total em questã o de minutos.
“Eu sabia que isso poderia acontecer quando você chegasse a uma certa
idade,” meu pai diz, quase para si mesmo. “Você é tã o obstinado. Acho
que é inevitá vel que isso funcione contra mim.”
Dou um passo à frente, coloco meus braços em volta de seu pescoço e
descanso minha cabeça em seu ombro. “Pai, estou bem. Eu prometo. Na
verdade, estou mais do que bem. Eu sou bom. Talvez pela primeira vez
desde que fui diagnosticado. Por favor, deixe-me ser normal. Por favor.
Você tem que con iar em mim."
Ele relaxa no abraço. "Eu só quero que você esteja seguro, Peanut", diz
ele. “Você é minha garota. Nã o suporto pensar em nada de ruim
acontecendo com você .
"Eu sei", digo a ele. "Eu te amo. Prometo mandar mensagem da pró xima
vez que me atrasar. E eu prometo que você vai amar Charlie quando o
conhecer. Ele vem me buscar amanhã ... bem, hoje à noite, eu acho. E ele
mal pode esperar para conhecê -lo.” Entã o eu posso estar exagerando
um pouco... “Ele é um cara legal, pai. Ele me lembra você .”
"Espero que você esteja certo", diz ele. “Espero que ele receba as
notı́cias sobre seu XP como o jovem respeitoso e maduro que você diz
que é . Espero que ele nã o fuja porque nã o consegue lidar com isso.”
Eu odeio que meu pai pense que Charlie pode me abandonar quando
descobrir sobre minha doença. Tanto que lhe conto a maior mentira da
minha vida. E uma merda. "Ele já sabe", eu digo. “E isso nã o muda nem
um pouco o que ele sente por mim.”
As rugas do papai relaxam. Ele realmente parece feliz por mim. "Isso é
ó timo", ele me diz. "Sé rio. E tudo que eu sempre desejei para você .”
Eu me sinto mal por inventar a reaçã o de Charlie, mas nã o o su iciente
para retirar o que eu disse. Tenho quase certeza de que se tornará a
verdade quando eu inalmente tiver coragem de realmente contar a ele
de qualquer maneira.
Eu mando uma mensagem para Morgan quando estou de volta ao meu
quarto. Estou em casa. São e salvo.
Ela manda uma mensagem de volta: …
Não fique bravo - meu pai não é.
Trê s bolhas aparecem e depois desaparecem. Lá estã o eles novamente.
Lá vã o eles. Por im, surge um texto. Outra elipse.
Acho que nã o me lembro de Morgan ter icado bravo comigo antes.
Eu sei que você está acostumado a ser meu único contato com o mundo
exterior. Mas pelo menos tente ser feliz por mim, por favor.
Mais bolhas surgindo e depois saindo. Entã o isso. Você está brincando
comigo? Não estou com ciúmes do seu namorado estúpido. Bom para
você! Tudo o que estou tentando fazer é ter certeza de que você está
vivo para realmente aproveitar seu relacionamento com Charlie.
Desculpe por se importar.
A senhora protesta muito? Acho que sim , digito. Na verdade, nã o vou
enviá -lo, mas entã o eu apertei enviar por engano e ele saiu voando para
o mundo.
A resposta de Morgan vem rapidamente. Superar a si mesmo. E não
venha chorar para mim quando ele se tornar um idiota por causa do seu
XP. Nem todo mundo é tão legal quanto eu sobre coisas assim.
Eca. Primeiro meu pai e agora Morgan assumindo que Charlie vai me
deixar quando descobrir. Eu recrio minha mentira e decido que só
conta como uma, já que é a mesma coisa que eu disse ao meu pai.
Charlie é. Ele sabe e ele é completamente legal.
Bom para ele. Bom para você. Estou desligando meu telefone e indo
dormir agora. Fiquei acordado a noite toda. Mais tarde.
Quem diria que relacionamentos poderiam ser tã o complicados? Eu me
reviro na cama, me preocupando em como convencer meu pai a me dar
mais liberdade. Como realmente dizer a Charlie o que eu supostamente
já disse a ele. O que fazer com Morgan. Estou bravo com ela, mas talvez
nã o devesse. Talvez eu devesse me desculpar com ela, nã o o contrá rio.
Eventualmente, eu caio em um sono irregular.
15

“Então hoje é a noite,” meu pai diz.


"Sim", eu digo, roendo uma unha. Eu sei que nã o deveria estar tã o
nervoso. Como meu pai poderia nã o gostar de Charlie? Ele é , tipo,
perfeito. Para nã o mencionar um perfeito cavalheiro. Ainda assim,
depende muito do que meu pai pensa dele. Preciso que tudo dê certo.
"Mas você vai ser normal, certo?" Consegui convencer meu pai a nã o
dar um sermã o a Charlie sobre XP e como era perigoso para mim sair
tã o tarde ontem à noite. Eu disse a ele que pais normais nã o falam
sobre as condiçõ es mé dicas de suas ilhas quando conhecem o
Namorado.
Esta mentira com certeza é uma bola de neve. E nã o se sente bem.
Minha vida como um adolescente rebelde está realmente me
estressando.
A campainha toca. Deixei papai responder sozinho. O plano é que eu
devo ir para o meu quarto e esperar até que ele me chame, mas nã o
aguento o suspense de nã o saber como está indo. Subo a metade da
escada e ico parado.
Eu ouço Charlie se apresentando, meu pai o conduzindo para a sala,
entã o dizendo para ele se sentar.
“Já foi preso?”
Esta é a ideia do meu pai de uma linha de abertura? Eu nã o posso
mesmo.
“Nã o, senhor,” Charlie responde.
As perguntas do papai sã o rá pidas e só vã o ladeira abaixo a partir daı́.
"Qual é o seu toque de recolher?"
“Uma da manhã .”
“A que horas você realmente chega em casa?”
"Por volta das duas", Charlie admite. “As vezes mais tarde. Como ontem
à noite. Gostaria de lhe pedir desculpas, senhor, por trazer Katie para
casa tã o tarde. Perdemos a noçã o do tempo.”
“Nã o faça isso de novo,” meu pai diz a ele. "Agora, por que você nã o vai
para a faculdade?"
Eca. Tenho certeza de que Charlie nã o queria que eu discutisse com
meu pai como acho que ele deveria usar o dinheiro para inanciar sua
educaçã o em vez de rodar o paı́s em um caminhã o novo. O pequenino
pé -de-meia que ele acumulou provavelmente cobriria as aulas na
faculdade comunitá ria e mais algumas. Depois disso, ele poderia se
transferir para a UW e ainda pagar com mensalidades no estado e
talvez alguns empré stimos e subsı́dios. (Talvez eu tenha feito uma
pequena pesquisa sobre isso em preparaçã o para sugerir sutilmente a
Charlie.)
“Eu me machuquei e perdi minha bolsa de nataçã o”, Charlie diz a ele. Eu
me pergunto se ele está olhando meu pai diretamente nos olhos ou
encarando seus pé s como ele faz quando está triste e/ou
desconfortá vel.
“Quantas vezes por semana você se depila?”
"Como quatro...?" Eu posso ouvir a confusã o na voz de Charlie. Ele está
de initivamente pensando Por que isso importa?
“Eu nã o acredito em você ,” meu pai diz a ele. Estou morrendo. O que é
isso, a Inquisiçã o? Quem se importa quantas vezes por semana ele se
barbeia? “Quem é o seu time?”
“Os Seahawks,” Charlie responde. Isso tem que conquistar meu pai.
Mas meu pai insiste. "Por que?"
Charlie recebe pontos de bô nus aqui. “Porque eles sã o ó timos e també m
porque uma vez eu conheci Richard Sherman nesta hamburgueria e ele
comeu algumas das minhas batatas fritas.”
Há silê ncio por um bom minuto. Tenho certeza de que Charlie está se
contorcendo em seu assento. Sei quem eu sou. Estou desesperado para
ir salvá -lo. Continuo olhando para o meu telefone, esperando a
mensagem aparecer me dizendo que posso me juntar a eles.
Finalmente, meu pai racha. "Fantá stico. Isso é importante."
Eu sei que ele está sorrindo. Eu estou tã o feliz. Até um segundo depois,
quando ele quase me supera. “Charlie, eu sei que ela parece forte, mas
ela é frá gil. Ela-"
Nã o estou esperando nenhum texto; Desço as escadas pulando,
gritando uma saudaçã o que realmente pretende interromper o
lançamento de bombas em andamento. "Ei! O que você s estã o falando?"
Charlie se levanta do sofá para me dar um abraço.
“Nada, apenas nos conhecendo”, meu pai diz.
"Uau", diz Charlie.
Ele está olhando para mim como se nã o pudesse acreditar que eu
existo. E engraçado porque nã o é como se eu estivesse vestida ou algo
assim. Estou vestindo jeans e uma camiseta e Vans brancas
desgastadas. Mas eu iz meu cabelo e maquiagem exatamente como
Morgan me mostrou, entã o talvez seja isso.
Eu o recompenso com um sorriso enorme, pego meu estojo de guitarra
de onde ele está no canto - Charlie me disse para trazê -lo, nã o sei por
quê , mas ele parecia tã o animado que eu nã o consegui dizer nã o - e dou
ao meu pai um pequeno abraço.
“Bem,” papai diz, “ ique seguro, ok?”
Eu concordo. “Te amo tanto quanto possı́vel.”
Charlie estende a mã o. Eles tremem. "Obrigado por me deixar sair com
ela, Sr. Price", diz ele. “Vou cuidar bem dela.”
Estamos prestes a sair pela porta quando meu pai nos chama. "Espere!
Deixe-me tirar sua foto.”
Eu me viro, envergonhada. "Pai…"
Mas Charlie parece perfeitamente feliz em atender aos caprichos
morti icantes de meu pai. Ele coloca os braços em volta de mim por
trá s. “O que você acha, pose de formatura?”
Eu ri. Meu pai leva a câ mera ao olho. "Preparar?"
Eu olho para Charlie e ele olha para mim. Estamos sorrindo um para o
outro. Nada de sorrisos falsos para nó s. O lash se apaga e estamos a
caminho.
16

"A estação de trem?" Eu digo enquanto Charlie estaciona em uma vaga


no estacionamento.
Estou tentando nã o parecer desapontada — nã o sei o que esperava
para o nosso encontro.
“Você pode saber onde estamos, mas você sabe por que estamos aqui?”
ele pergunta, me puxando pela mã o.
Eu balanço minha cabeça. “Nã o, mas espero que você nã o esteja
tentando me fazer jogar na plataforma esta noite. Lembra como isso
icou estranho na primeira vez?
Charlie ri. “Como eu poderia esquecer o funeral do gato morto que você
planejou? E onde nos conhecemos, no entanto.”
Ele tem um ponto. E começo a sentir a decepçã o se esvair.
Paramos bem na frente da janelinha de Fred. Há dois ingressos
esperando por nó s.
"Eu acredito que estes sã o seus", diz Fred, sorrindo para mim.
Eu olho de Charlie para Fred e depois de volta para Charlie novamente.
"Onde estamos indo? E por que eu tenho minha guitarra?”
Charlie dá de ombros e sorri. Eu tento Fred. Ele me dá um encolher de
ombros ainda mais exagerado.
“Eu nã o sei de nada,” Fred me diz.
"Fred..." Eu tento implorar para ele derramar com o olhar mais inocente
e doce que posso reunir.
"Nem tente isso", ele me diz, ingindo travar os lá bios e jogar a chave
fora. “Sou uma armadilha de aço.”
O trem se aproxima. Levando-nos em uma aventura para quem sabe
onde. Estou tã o animado.
As portas se abrem e o condutor me dá um sorriso enorme. Trocamos
cumprimentos antes quando eu jogava aqui, mas ele certamente nunca
me teve como passageiro. "Todos a bordo", ele chama.
Charlie e eu subimos as escadas e entramos em um carro. E
basicamente deserto. Apenas nó s, iluminaçã o fraca e o ronco dos trilhos
sob as rodas.
"Seu lugar, mademoiselle", diz Charlie, apontando para uma ileira
vazia.
Coloco meu violã o no corredor e deslizo para dentro. Charlie se senta
na minha frente. Ele começa a colocar pratos de papel, guardanapos e
talheres de plá stico na mesa entre nó s.
“Eu trabalhei o dia todo nisso,” ele diz, en iando a mã o na mochila e
tirando uma grande sacola do meu lugar favorito de comida chinesa. Eu
balanço minha cabeça em descrença quando percebo todos os
problemas que ele passou para tornar esta noite perfeita para mim. Ele
incluiu todos os meus favoritos: lo mein, frango com laranja, arroz frito.
“Você acabou de tirar comida chinesa da sua mochila?” Eu ri. “Você
sempre viaja com comida quente?”
“Este é um piquenique româ ntico!” Charlie exclama, tentando manter
um olhar sé rio em seu rosto e totalmente sem sucesso. “Você nã o pode
andar de trem sem comida chinesa na mochila.”
"Eu nã o sei, isso pode ser verdade, eu nunca estive em um trem antes",
eu digo.
"Nem eu", Charlie me diz.
"Sé rio?" Eu pensei que provavelmente era a ú nica pessoa na terra que
nã o tinha. Eu amo que é a primeira vez para nó s dois. Nó s “brincamos”
nossos pauzinhos e cavamos.
“Você sabe o que eu estive pensando?” ele diz quando estamos quase
terminando de comer. “Que loucura você viver aqui desde pequeno e eu
nunca ter visto você andando de bicicleta ou, tipo, com uma barraca de
limonada. Eu teria comprado sua limonada!”
Meu coraçã o pula uma batida. A ú ltima coisa que quero discutir agora é
por que nunca nos encontramos até algumas semanas atrá s. Eu só
quero aproveitar o jantar, o passeio, o encontro. Mantenha as coisas
leves enquanto ainda podemos. Prometo a mim mesma que vou contar
a ele antes que a noite acabe.
Quando ele me deixar esta noite, antes que ele saia para me levar até a
porta (como eu sei que ele fará ), eu vou sair e dizer isso. Serei factual e
direto ao ponto. Nenhum drama. “Espero que isso nã o mude nada entre
nó s”, direi. Fá cil-peasy, simples assim.
Quando imagino dessa forma, nã o consigo imaginar Charlie, tipo,
gritando e fugindo ou me rejeitando ou nunca mais falando comigo. Eu
realmente nã o acho que meus piores medos se tornarã o realidade. Ele é
uma pessoa boa demais para surtar com algum DNA defeituoso. E ele
vai entender porque eu nã o contei a ele. Eu sei que ele vai.
Por enquanto, poré m, digo a ele: “Nã o gosto de limonada”, como se isso
fosse su iciente.
Ele aperta os lá bios e me dá um olhar. "Você sabe que eu sei a verdade,
certo?"
Estou prestes a me desculpar por nã o dizer a ele quando ele se inclina
para frente e olha para a esquerda, depois para a direita, entã o
diretamente para mim novamente. “Você é um espiã o internacional.
Você estava sempre em missõ es em locais exó ticos enquanto eu estava
sentado no refeitó rio, entediado. Tenho certeza de que Katie Price nem
é seu nome verdadeiro — ele sussurra.
Estou aliviada que ele estava apenas brincando, mas eu sinto que é um
lance atrá s do outro. Talvez minhas notı́cias nã o possam esperar até o
inal da noite. E melhor arrancar esse band-aid agora – o mais rá pido
possı́vel – e lidar com o que quer que aconteça como resultado.
Realidade é realidade; Eu nã o posso mudar o que é . “Isso é muito
pró ximo. A verdade é que…”
Mas começo a repensar como ele vai receber a notı́cia agora que estou
prestes a enfrentá -la. Toda a minha con iança de que ele vai icar calmo
e tranquilo e que nada vai mudar se foi. Eu decido que ele
provavelmente vai ingir que nã o importa e confessar que minha
condiçã o nã o vai icar entre nó s. Mas entã o, de alguma forma,
começaremos a nos ver menos. De repente, ele icará ocupado à noite. E
a melhor coisa que já me aconteceu terá acabado.
Apoio os cotovelos na mesa e decido contar metade da histó ria. Teste as
á guas. “Sem locais exó ticos. Porque você é minha missã o. Eu estava sob
ordens estritas de nã o ser visto, mas tenho observado você há anos da
segurança do meu pró prio quarto.
Uma batida. Charlie pisca. Entã o ele sorri para mim. "Ver? Eu estava
perto. Desculpe se estraguei seu disfarce.”
Ele recolhe as caixas agora vazias de comida chinesa e vai jogá -las fora.
Quando ele volta, ele desliza para o assento ao meu lado e coloca o
braço sobre meus ombros. Observamos as estrelas passarem enquanto
o trem avança.
“Você era tã o jovem. Quando sua mã e morreu, quero dizer,” ele diz
suavemente.
"Sim." Muitas vezes me pergunto sobre o que aconteceu com minha
mã e depois que o carro a atingiu. O que ela pensou? Havia uma luz
branca, seus avó s a escoltaram para o cé u? Ela vai me pegar quando for
minha vez? Ou será apenas escuridã o, um grande vazio, uma cortina
caindo e é isso, como se eu nunca tivesse existido? Por alguma razã o,
sempre ico preso nesse ú ltimo pensamento. E, tipo, meu maior medo,
mesmo que eu nã o consiga explicar o porquê . Tenho que deixar uma
marca neste mundo antes de ser forçada a deixá -lo. Eu tenho que fazer
meu tempo aqui importar de alguma forma.
"Isso deve ter sido horrı́vel", diz Charlie, interrompendo meus
pensamentos sombrios e desesperados. “Você se lembra muito daquela
é poca?”
Eu penso para trá s por um momento. Papai e eu lidamos com a partida
de mamã e da mesma forma que estamos lidando com a situaçã o atual:
colocamos um sorriso em nossos rostos e passamos, geralmente
ingindo que o problema nã o existe. Como se a ignorarmos por tempo
su iciente, talvez ela simplesmente desapareça.
“Hum, honestamente, tudo que eu lembro daquela é poca é do meu pai.
Vê -lo ingir que está bem para que eu ique bem. E eu estou ingindo
estar bem para que ele ique bem,” digo a Charlie. “Mas de alguma
forma... você sabe, eu acho que nó s realmente izemos um ao outro
bem. Aprendemos a sentir falta dela juntos sem sermos engolidos pela
dor.”
Charlie assente. “Sim, você e seu pai parecem muito pró ximos.”
Eu dou de ombros, olhando pela janela para Cassiopeia. Segundo a
mitologia grega, ela está acorrentada a um trono, para sempre presa lá
como puniçã o por sua vaidade e vaidade. As vezes me pergunto se iz
algo para merecer XP, algo terrı́vel que me obriga a fazer penitê ncia em
minha casa e meu quarto o dia todo, todos os dias, até o sol se pô r.
"Sim. Eu gostaria que ele me conhecesse um pouco menos, embora,” eu
digo.
Esta nã o é uma a irmaçã o inteiramente verdadeira. Eu sei que tenho
sorte que meu pai me ama e me entende. Eu só queria ter a
oportunidade de ser amado e entendido da mesma forma por mais
pessoas, pessoas da minha idade, tipo, na faculdade. Eu quero partir no
outono també m, em vez de ver a vida de todos se expandir enquanto a
minha continua a se contrair. Estou extremamente frustrado com minha
situaçã o, especialmente pela recente percepçã o de que ter XP
basicamente signi ica que nenhuma das pessoas mais pró ximas a mim
jamais me considerará um adulto da mesma maneira que faria se eu
estivesse livre de doenças. Eles sempre sentirã o a necessidade de
cuidar de mim e me cuidar.
“Pronto para a sobremesa?” Charlie pergunta.
Eu concordo.
"Está bem entã o. Estenda a mã o e feche os olhos”, ele ordena.
Charlie despeja uma pilha de algo na palma da minha mã o. “Você pode
abrir agora.”
Eu olho para minha mã o. Nela há uma pilha de Skittles, como aqueles
que ele tentou me devolver na primeira noite em que nos conhecemos.
Eu sorrio para Charlie.
“Eu tenho movimentos por dias”, diz ele. "Ei! Estamos quase aqui!”
Olho pela janela e vejo o horizonte de Seattle aparecendo. Eu nã o sei
onde eu pensei que está vamos indo, mas isso é ainda mais legal do que
eu jamais poderia ter imaginado.
“Seattle?! Legal!"
O trem para e nó s descemos. Nenhum de nó s realmente sabe para onde
estamos indo, e eu tenho certeza que a agenda de Charlie era apenas
Vamos bater em Seattle e descobrir isso quando chegarmos lá .
Encontramo-nos vagando pela orla. Tudo sobre estar aqui é novo e
excitante, e é honestamente su iciente para mim apenas olhar para a
extensã o brilhante de parques e cais que parece durar para sempre.
Fico boquiaberta com todos os café s nas calçadas que pontilham as
ruas que serpenteiam em um labirinto aparentemente interminá vel.
Apesar de ser depois do que eu diria que é a hora de dormir da maioria
das crianças, há muitas delas ainda comendo com os pais. Caras com
calças apertadas e pelos faciais hipster bicam seus laptops nas vitrines
de café s. Casais em encontros brindam com taças de champanhe.
Mas o que realmente me impressiona é quantas pessoas estã o se
apresentando nas ruas. De volta a Purdue, eu sempre fui o ú nico. Aqui
em Seattle, parece que todo mundo tem talento.
Em uma esquina, um má gico rasga uma nota de cem dó lares em um
milhã o de pedacinhos. E entã o puf! Está de volta juntos novamente. No
parque, um bando de caras sem camisa está fazendo os movimentos de
break-dance mais legais que eu já vi, torcendo-se em pretzels, girando
em suas cabeças, dando in initas cambalhotas uns sobre os outros.
Existem essas pessoas vestidas como está tuas que nã o se movem um
centı́metro, nã o importa o que você faça ou diga. Eu sei porque Charlie
e eu tentamos fazer o cara se vestir como um Michael Jackson prateado
para rir e ele nem abriu um sorriso. Entã o tiramos uma foto com ele e
deixamos alguns dó lares como gorjeta de agradecimento.
E depois há os cantores. Tantos cantores, com vozes tã o bonitas. Eu
teria muita concorrê ncia se morasse aqui, entã o acho que deveria estar
feliz por nã o viver. Pena que minha mente continua cantando: VAMOS
MUDAR AQUI! PEGUE SUA GUITARRA E PARTICIPE! ADICIONE
HARMONIAS E ALGUMAS ESCOLHA DE DEDO! Sinto que encontrei uma
comunidade instantâ nea, pessoas com quem colaborar, harmonizar e
conversar sobre mú sica e composiçã o até o amanhecer. Está tudo aqui
esperando por mim.
Charlie e eu paramos para admirar as esculturas olı́mpicas na Pioneer
Square. Observe os pescadores transportando baldes de enormes
patins, percas e salmõ es no Pike Place Market. Nó s deslizamos para
uma cabine de fotos antiga en iada em um canto e icamos
aconchegados lá dentro. A má quina pisca quatro vezes: Sorrimos,
fazemos caretas, colocamos orelhas de coelho atrá s da cabeça um do
outro, nos abraçamos e nos beijamos. Quando a tira inalmente sai da
má quina alguns longos minutos depois, vale a pena esperar. Eu o pego e
o reivindico como meu.
"Vou guardar isso para sempre", digo a Charlie. Eu nã o estou brincando.
Ele pega minha mã o e me leva por outra estrada movimentada e por
um beco deserto. Paramos em frente a um pré dio precá rio com uma
marquise antiquada acima da porta. Nã o há letras nele, nenhum
anú ncio de um ilme ou show ou qualquer outra coisa. Eu nã o entendo.
Charlie olha para mim com um sorriso enorme no rosto.
"O que é este lugar?"
"Sua surpresa", ele me diz.
Charlie entrega dois ingressos e um monte de dinheiro para o
segurança. Mesmo que a placa na porta indique claramente que
qualquer pessoa que entrar precisa ter vinte e um anos, o cara grande e
corpulento nã o se incomoda em nos pedir identidades. O que é uma
coisa boa porque o meu verdadeiro diz que eu tenho dezoito anos, e eu
o deixei no balcã o da cozinha em casa de qualquer maneira.
“Eu pensei que Seattle fosse minha surpresa?”
Ele balança a cabeça e sorri com mais força enquanto entramos. Charlie
entrega meu estojo de guitarra e jaqueta para a garota na veri icaçã o de
casacos. Outro segurança abre uma porta para nos deixar entrar em
outra sala.
Dentro, a mú sica bate. Luzes explodem. O lugar está lotado desde o
palco improvisado – onde uma das minhas bandas indie mais favoritas
do mundo inteiro já está tocando – até os fundos do que parece ser um
antigo armazé m. Uma multidã o suada e feliz pulsa ao ritmo.
“E um show secreto!” Charlie grita no meu ouvido. “Eu descobri no
Snap ontem e peguei ingressos para nó s. Eu sei que você disse que ama
essa banda!”
"Eu faço!"
“Seu primeiro show ao vivo!”
“Oh meu Deus, é tã o legal!” Embora a enorme sala ventilada seja
indescritı́vel, as pessoas e a vibraçã o sã o tudo menos isso. Nunca vi
tantas cores de cabelo, tantas tatuagens, tantos piercings em tantos
lugares IRL. E como se as pá ginas das revistas de mú sica que eu leio no
meu quarto de repente ganhassem vida. Encontrei meu povo. Minha
tribo de colegas criativos. Quem sabia que eles estavam tã o pró ximos o
tempo todo?
Eu me viro, atordoada que coisas como essa realmente acontecem no
mundo. Há tanta coisa que sinto falta trancada no meu quarto, na
minha pequena cidade, na minha pequena existê ncia. Há muito mais
aqui para mim, e é muito mais vibrante e excitante do que as
elaboradas recriaçõ es da vida real que meu pai construiu para mim
com tanto amor quando eu era criança, como a savana no porã o e a
praia que ele instalado no só tã o, completo com uma banheira de
hidromassagem, brinquedos de piscina e fotos em tamanho real de
gaivotas e gol inhos e tubarõ es e baleias. Faço uma promessa a mim
mesmo aqui e agora: vou agarrar cada pedacinho de tudo que este
mundo tem a oferecer. Não serei prisioneira da minha doença nem um
dia a mais.
Percebo que nã o só preciso ter uma conversa com Charlie, mas que uma
longa conversa com meu pai també m está atrasada. Agora sei que posso
fazer muito mais coisas do que pensava ser possı́vel antes desta noite.
Talvez até uma faculdade real, nã o online. De alguma forma. Onde há
uma vontade, há um caminho. E eu tenho uma vontade de aço.
Enquanto eu estou pensando em grandes pensamentos e absorvendo as
vistas e sons deste lugar incrı́vel, Charlie abre caminho pela multidã o,
comigo segurando sua mã o e seguindo atrá s. Ele se contorce entre as
pessoas como uma serpente sorrateira, encontrando pequenos bolsõ es
de espaço que podemos preencher sem ser detectados. Em pouco
tempo, estamos bem na frente do palco. Pontos de bô nus porque
ningué m icou bravo conosco por movermos basicamente um show
inteiro de pessoas para chegar lá .
Eu me viro para Charlie, radiante. Ele agarra meus quadris e
começamos a dançar uma versã o muito mais legal da rotina do ensino
mé dio. Há tanta açã o acontecendo, tanto para assistir, mas tudo que
vejo agora é Charlie. Ningué m e nada mais no mundo importa no
momento.
A banda entra em um verdadeiro rocker, e todo o lugar começa a pular,
um pulso unindo a multidã o diversi icada. Charlie e eu começamos a
pular como manı́acos també m. Estou perdido na eletricidade da mú sica
e na energia deste lugar. Eu nunca me senti tã o viva antes, e me ocorre
que talvez nunca mais experimente algo assim novamente. Tento
memorizar todos os detalhes. Cada ú ltimo segundo.

Muito antes de eu querer, a mú sica termina. Pegamos meu casaco e meu
violã o e voltamos para o cais. Ainda estou tã o tonto do show, parece
que estou andando na á gua em vez de na calçada.
“Isso foi incrı́vel!” Eu grito, provavelmente um pouco alto demais. E
difı́cil dizer em que nı́vel meu botã o de volume está agora – meus
ouvidos ainda estã o zumbindo do show.
"Eu sei", diz Charlie, sorrindo amplamente.
Eu jogo minha cabeça para trá s e grito ainda mais alto. “Mú sica ao vivo
é o melhor!”
Charlie ri. "Eu sei!" ele grita de volta para mim.
Eu paro e pego sua mã o. Como posso expressar como ele mudou tudo
para mim, desde o fato de que eu nunca acreditei que um cara pudesse
gostar de mim por causa da minha doença até o que agora acredito que
meu futuro poderia reservar para mim? Eu vasculho minha mente,
tentando encontrar as palavras certas. Por im, me contento com um
simples “obrigado”.
Charlie me dá esse adorá vel olhar de cachorrinho curioso, todo cabelo
solto e olhos brincalhõ es. E como se ele soubesse o que estou pensando,
embora nã o possa. "De nada", diz ele. “Agora é a sua vez.”
Ele gentilmente coloca meu estojo de guitarra no chã o e destrava
aquelas travas delicadas. Entã o ele o posiciona perfeitamente para
pegar moedas e me entrega meu violã o. Eu dou um passo para trá s,
segurando minhas mã os na minha frente.
"O que? De jeito nenhum."
“Você me deve uma mú sica,” Charlie me diz.
Estou balançando a cabeça. "Eu nã o posso fazer isso... aqui." Esta nã o é
a pequena Purdue, Washington, esta é a cidade grande de Seattle. Nã o
estou preparado para estrear uma das minhas mú sicas aqui. Nã o essa
noite. Ainda nã o.
"Sim você pode!" Charlie me encoraja. “Os shows ao vivo sã o os
melhores! Você mesmo disse!”
"Está com fome?" Eu digo, acariciando meu estô mago. “Estou com fome,
e você está sempre com fome e lembra de todos aqueles café s incrı́veis
que vimos lá atrá s?”
"Katie", diz Charlie. Ele parece tã o sé rio, tã o sincero, que paro de falar.
“Nó s podemos estar em uma nova cidade sob as estrelas e você não
tocar uma mú sica para mim, ou podemos continuar fazendo desta a
melhor noite de nossas vidas.”
Ele dá de ombros. Ele é tã o fofo. Eu sinto minha determinaçã o
derretendo. O que ele me deu é muito mais do que uma mú sica de trê s
minutos. Cantar uma para ele di icilmente afeta o que devo a ele depois
desta noite.
"Depende de você ", ele me diz. “Nã o se preocupe com mais nada. Isso
nã o é sobre o que eu ou qualquer outra pessoa quer. E sobre o que você
quer agora.”
O que eu quero fazer é fazer esse cara incrı́vel feliz. Entã o eu desisto.
Pego meu violã o e coloco a alça no ombro. O rosto inteiro de Charlie se
ilumina.
Eu dou algumas boas batidas nas cordas. Quando eu olho para cima do
meu violã o, Charlie está com o telefone apontado para mim. Ele está
pronto para gravar este momento, entã o é capturado para sempre. Eu
ico instantaneamente autoconsciente e meus nervos aumentam.
“Charlie, nã o...”
Ele sorri e gesticula para a multidã o inexistente atrá s dele. E
basicamente um cara peludo estranho que parou para amarrar o
sapato. "Nó s estamos esperando!"
Vejo que ele está certo; nã o há nada a perder aqui. Nem mesmo minha
dignidade. Somos apenas Charlie e eu. Nã o há nada que nã o possamos
fazer juntos.
Entã o eu começo a dedilhar alguns acordes, suavemente no inı́cio.
Ainda estou me sentindo um pouco insegura. Mas entã o é como se a
memó ria muscular tomasse conta, e eu esqueço que Charlie está me
gravando. Estou imaginando como seria estar no palco esta noite em
vez de estar na multidã o olhando com admiraçã o para a banda. O
embaraço nervoso sai do meu corpo e em seu lugar vem uma con iança
suprema em minhas habilidades.
Fecho os olhos e canto minha ú ltima criaçã o, aquela que toquei para
Morgan na outra noite. Uma vez que ela inalmente parou de me contar
sobre Garver e prestou atençã o, ela realmente gostou e achou que era o
melhor até agora. Espero que ela nã o esteja mais brava comigo. Eu
realmente preciso dizer a ela que sinto muito quando chegar em casa.
Eu canto meu coraçã o – por Charlie, por Morgan, por meu pai, mas
acima de tudo por mim.
Quando abro os olhos novamente, vejo Charlie sorrindo atrá s de seu
telefone. Ele é como meu amuleto da sorte. A ú nica coisa que eu vou
precisar para ter sucesso.
Eu toco o ú ltimo acorde e percebo que Charlie nã o é a ú nica pessoa que
gostou da minha mú sica. Há uma multidã o de pessoas que eu nem sabia
que estavam lá , batendo palmas e torcendo loucamente por mim. E
enquanto meus fã s nã o chegam nem perto das pessoas no armazé m no
show pop-up secreto hoje à noite, eu tenho um bom gosto de como é ter
minha mú sica apreciada por mais do que apenas meu pai, Fred e
Morgan.
Eu gosto disso. Eu amo isso. Na verdade, tenho certeza de que vou
desejar muito mais disso no futuro.
Charlie joga o braço em volta de um cara que ainda está batendo
palmas depois que quase todo mundo parou.
"SIM! Vamos! Desista de Katie! WOOOOOOO!”
Ele sacode os ombros do cara como se o time deles tivesse acabado de
ganhar a World Series. O cara dá um olhar estranho para Charlie, coloca
alguns dó lares no estojo do meu violã o e vai embora.
Charlie sorri para mim. E eu nã o consigo parar de sorrir de volta.
17

A viagem de trem de volta é sem intercorrê ncias, mas totalmente


incrı́vel. O que quer dizer que nos beijamos o tempo todo. Ningué m
mais está no carro, ningué m está nos observando e aproveitamos ao
má ximo nossa solidã o.
Quando voltamos para Purdue – que parece ainda menor agora que
experimentei Seattle – eu simplesmente nã o estou pronto para a noite
terminar. Eu mandei uma mensagem para o meu pai como prometi.
De volta a Purdue. Em casa em breve.
Boa noite? ele manda uma mensagem de volta.
O melhor absoluto.
Fique fora o quanto quiser, Amendoim. É verdade, você não é mais uma
criança. Eu confio em você para ficar seguro e cuidar de si mesmo.
Charlie é um cara de sorte.
Obrigado , eu mandei uma mensagem de volta, lá grimas de felicidade
enchendo meus olhos. Você não tem ideia do quanto isso significa para
mim.
Entramos na caminhonete de Charlie e começamos a dirigir. Coloco
meu telefone no modo nã o perturbe e saio do Find My iPhone,
a irmando minha independê ncia recé m-descoberta e me divertindo
com a con iança conquistada com tanto esforço de meu pai.
Esta noite me ajudou a ver exatamente o que eu quero da vida: minha
independê ncia. Para tomar minhas pró prias decisõ es, meus pró prios
erros, meu pró prio caminho neste grande mundo incrı́vel. Eu tenho
esse.
Charlie e eu dirigimos para a praia. Estacionamos e depois caminhamos
lentamente pela costa. Nã o temos pressa de chegar a lugar nenhum.
"Você foi incrı́vel esta noite", ele me diz.
Eu faço uma cara como Vamos lá agora. Ele está basicamente
começando a rivalizar com meu pai como meu fã nú mero um. E muito
doce, mas també m meio morti icante.
"Sé rio", ele continua, implacá vel. “Eu provavelmente teria dito que você
era bom, nã o importa o que acontecesse, mas você é realmente bom .
Você tem que fazer algo com suas mú sicas!”
Eu estive pensando a mesma coisa a noite toda. Um grande plano está
começando a se formar em minha cabeça, e inclui minha mudança para
uma cidade; ir para a faculdade, seja apenas para aulas noturnas ou
pesquisar todos os truques que outras pessoas com XP usam para viver
uma vida diurna seminormal; e ser um aluno regular e normal como
todos os outros. Tocando em todas as esquinas e noites de microfone
aberto que posso encontrar, esperando ser “descoberto”, mas se nã o,
simplesmente aproveitando todas as oportunidades para me sentir tã o
incrı́vel quanto quando estava me apresentando há uma hora.
A mú sica está no meu DNA, junto com os marcadores do XP, e quero
compartilhar minhas mú sicas com o mundo. Depois desta noite, tenho
certeza de que foi para isso que fui colocado nesta terra. Que é minha
missã o na vida. E assim que vou provar que estive aqui mesmo depois
de partir.
E a melhor parte do futuro que estou imaginando é esta: Charlie está
nele. Espero que ele esteja nadando em Berkeley. E tã o louco pensar
que eu poderia ir para a escola lá també m? Eu tenho as notas e os
resultados dos testes, e eles tê m os incrı́veis programas acadê micos e
oportunidades de artes cê nicas. Tenho certeza de que algo poderia ser
elaborado para acomodar minhas necessidades especiais. E o plano
perfeito.
Eu paro de andar. "Você está pronto?"
"Para que?" ele pergunta.
"Ir nadar."
Charlie pisca, surpreso. "O que? Nã o. Eu nã o nado mais.”
"Sim, você tem", eu digo a ele. “Você simplesmente nã o nadava há algum
tempo. E eu nunca estive nesta á gua antes, entã o você vai me levar.”
Charlie balança a cabeça. “Sé rio, eu nã o quero.”
Eu coloco minhas mã os em meus quadris. Ele nã o está saindo tã o fá cil.
Ele nã o pode arruinar nosso futuro perfeito juntos por nã o cooperar.
“Eu nã o queria cantar! Você me fez!"
"Isso foi diferente", diz ele, olhando para a areia.
"Nã o, nã o era!" Eu bato meu pé para dar ê nfase.
Charlie ri. “Calma aı́, garoto. Você tem alguma ideia de quã o fria é essa
á gua?”
Olho para o oceano escuro, depois de volta para Charlie. Na verdade,
nã o tenho nenhuma pista, alé m da dica que acabei de receber. Mas é
tarde demais para recuar agora; muito passeios sobre o que acontece a
seguir.
“Charlie. Podemos ter vindo até a praia sob as estrelas e não vamos
nadar, ou podemos pular nessa á gua e continuar tendo a melhor noite
de nossas vidas. O que você quer fazer? Agora mesmo? ”
Claro, eu roubei seu pró prio discurso e virei para ele. O que for preciso.
Como dizem, vale tudo no amor e na guerra.
Charlie me dá um sorriso como se pensasse que ganhou esta batalha
em particular. “Nã o tenho roupa de banho.”
Eu sorrio de volta para ele. "Nem eu."
Eu puxo minha camiseta sobre minha cabeça. E entã o estou na frente
dele de sutiã e jeans. Seus olhos se arregalam, mas ele nã o se move. Ele
está chamando meu blefe.
Eu jogo meus tê nis na areia e tiro minhas calças. E tarde demais para
recuar agora. Vou continuar descascando camadas até que ele
concorde.
"Você está vindo?" Eu pergunto, correndo em direçã o à á gua em minha
calcinha.
Eu me viro quando a primeira onda envolve meus dedos dos pé s. Eles
basicamente icam dormentes. Nã o tenho certeza de como vou me fazer
mergulhar até o im; tudo que eu sei é que isso vai acontecer. Charlie já
tirou a camisa e está lutando para tirar o short. Eu rio de seu
entusiasmo repentino.
Eu me viro para a á gua, respiro fundo e vou correndo.
"OH MEU DEUS! Está congelando!" Eu grito.
Charlie joga a cabeça para trá s. "Eu sei!" ele grita, e corre atrá s de mim.
Nossa felicidade ecoa no oceano. Eu sinto que ele sabe que estamos
destinados a icar juntos.
"Você gosta de nadar?" Charlie me pergunta.
Eu dou de ombros. "Eu acho. Quer dizer, eu nã o tenho muita
experiê ncia.”
Sua boca se abre como se ele nã o pudesse acreditar que eu estivesse tã o
carente. “Temos que mudar isso. Quando vamos estar em outra situaçã o
em que eu genuinamente tenho movimentos? Aqui. Deixe-me mostrar-
lhe alguns.”
Meu coraçã o acelera na escuridã o. "Você vai me mostrar seus
movimentos?"
"Sim", diz ele, me agarrando e basicamente me deitando na á gua. E
entã o ele está me segurando lá , seu toque suave, mas irme.
Eu nã o posso acreditar que eu nunca soube o quã o bom é me sentir tã o
perto de algué m fı́sica e mentalmente. As vezes, quando Charlie e eu
estamos deitados um ao lado do outro nos beijando, é como se eu
quisesse me derreter nele.
Antes de conhecer Charlie, eu tinha desistido de me apaixonar na vida
real, e com isso, de fazer sexo com algué m. Ainda nã o aconteceu, mas a
verdade é que eu nã o diria nã o se a oportunidade se apresentasse
algum dia em um futuro nã o tã o distante.
"Ok, este é chamado de freestyle", diz ele, mostrando-me como estender
a mã o e puxar meu braço para trá s para seguir em frente. “E, tipo, o
golpe mais bá sico de todos.”
Eu dou uma chance, mas acabo me debatendo em vez de deslizar pela
á gua como Charlie fez. "Assim?" Pergunto-lhe.
Ele ri. “Isso é o que chamamos de raquete de cachorrinho.”
"Tudo bem, entã o", eu digo. “Mostre-me outro.”
Ele se lança em outra demonstraçã o. “Ok, para este você empurra as
palmas das mã os para trá s ao longo dos quadris no inal da puxada.
Essa é a borboleta.”
Tudo o que sei é que Charlie está passando as mã os pelos lados do meu
corpo está me fazendo querer sair da á gua, acender uma fogueira, me
enrolar em um cobertor com ele e fazer “algum dia” hoje. Mas ainda nã o
atingi meu objetivo, entã o me forço a me concentrar na tarefa em mã os.
“Esse é muito difı́cil! Pró ximo!"
"O pró ximo é o nado de peito", Charlie me diz.
“Isso é um truque?”
"Nã o", diz ele, me puxando para perto dele. “Ok, talvez.”
Eu envolvo meus braços ao redor de seu pescoço e sorrio para ele. "Ver?
Isso nã o é tã o ruim. Na verdade, você nã o odeia a á gua.”
Ele me dá o melhor olhar de todos, como se estivesse se afogando em
meus olhos. “Eu nã o odeio nada quando estou com você .”
Eu olho de volta para ele. Eu acredito nele e em tudo o que ele diz. As
estrelas piscam para nó s, como se estivessem abençoando nossa uniã o.
Seus lá bios encontram os meus e nos beijamos como se tivé ssemos
passado nossas vidas inteiras famintos um pelo outro. Eu nã o consigo
ter o su iciente de Charlie Reed e eu absolutamente sei que o
sentimento é mú tuo. O calor ica mais quente. E como se nã o
pudé ssemos chegar perto o su iciente, mas entã o chegamos.
18

Charlie e eu estamos deitados juntos embrulhados em um cobertor de


pelú cia que ele manté m na traseira de sua caminhonete. Eu veri ico
meu reló gio. Já é tarde - muito depois do meu toque de recolher - mas
ainda há tempo. O nascer do sol é daqui a algumas horas. Estou grata
que meu pai inalmente me deu a liberdade de decidir quando a noite
acabou.
"Você precisa chegar em casa?" Charlie pergunta.
"Em breve... mas ainda nã o." Eu gostaria que minha resposta pudesse
ser nunca . Charlie me puxa para mais perto e nos aconchegamos um no
outro.
“Você pensou mais em Berkeley?” Eu sussurro.
Ele olha para as estrelas. “Eu ico pensando depois da cirurgia, quando
eu nã o sabia nadar, e eu simplesmente... nã o sabia quem eu era. De
forma alguma. E nem mais ningué m. Estou na escola com essas pessoas
há anos, e elas me veem apenas como o cara na piscina. Entã o, quando
eu nã o estava mais na piscina, era como se eu nã o fosse ningué m para
eles. E eu só acho que isso é besteira. Nã o sou inú til se nã o sou nadador.
Eu nã o tenho que viver essa vida. Só porque gostei de fazer algo por
muito tempo nã o signi ica que nã o posso mudar de ideia.”
Eu concordo. "Eu entendo isso", eu digo, e eu realmente entendo.
Mas nã o posso deixar de sentir que há algo mais por baixo do que ele
acabou de me dizer. Talvez seja o medo do fracasso ou o orgulho que ele
nã o consegue superar. Nã o quero que ele perca a chance de expandir
seus horizontes com emoçõ es inú teis como essa.
“Mas també m sei como é ver as pessoas vivendo a vida do lado de fora”,
continuo. “Você també m nã o quer isso. Você pode nã o querer ser
apenas o cara na piscina, mas você també m nã o é o cara que nã o tenta.
Talvez você nã o acabe no time, mas nã o quer ver se conseguiria? Eu
poderia."
Algo profundo e verdadeiro me atinge. Eu percebo que é assim que eu
tenho que viver minha vida daqui em diante. Acho que se aplica
igualmente bem a Charlie.
“Faça tudo o que puder agora e depois decida. Porque agora é tudo o
que importa,” digo a ele.
Charlie beija meu ombro. Ele parece estar mergulhado em
pensamentos. "Talvez eu ligue para o treinador amanhã ", diz ele. “E
falando de amanhã , espero que você esteja pronto para o maior nascer
do sol do planeta.”
Eu suspiro quando a adrenalina entra em açã o. Eu olho para o cé u. A
escuridã o está dando lugar a um roxo claro. Veri ico meu reló gio
novamente: 1:42.
Há um breve momento de alı́vio antes que eu perceba que algo está
realmente errado. O ponteiro dos segundos do meu reló gio nã o está se
movendo.
"Que horas sã o, Charlie?" Eu sussurro, horrorizado.
“Quatro e cinquenta.”
Sinto a vida se esvair de mim. "Nã o é à prova d'á gua", eu digo, quase
para mim mesma.
“O que nã o é ?” Charlie pergunta.
Eu pulo, agarrando freneticamente minhas roupas e celular. Clico no
ı́cone nã o perturbe e vejo que tenho quatorze chamadas perdidas do
meu pai. Como eu poderia ter pensado que nã o precisava mais dele
cuidando de mim, mesmo que por um segundo?
"Oh meu Deus!"
Como posso desfazer o que iz? Eu sou tã o idiota. Papai nunca deveria
ter con iado em mim. Lá grimas escorrem pelo meu rosto quando
começo a correr de volta para a estrada. Talvez eu ainda possa correr
no escuro até minha casa. Eu sou jovem. Sou rá pido.
Eu ouço os passos de Charlie batendo atrá s de mim. “Apenas ique até o
sol—”
"Eu tenho que ir!" Eu grito de volta para ele por cima do meu ombro.
“Por favor, temos que sair agora! POR FAVOR!"
"O que há de errado?"
Mas estou chorando muito e o tempo é precioso demais para responder.
“Ká tia! Diga-me!"
Eu continuo correndo e correndo. O cé u está mudando de um violeta
profundo para um azul pá lido. Eu nunca vou chegar em casa antes do
sol nascer, mas ainda tenho que tentar. Para mim. Para o meu pai. Para
Morgana. Para Charlie, que nunca vai se perdoar quando descobrir por
que estou tã o em pâ nico, embora ele nã o tenha feito absolutamente
nada de errado. Mesmo que minhas má s decisõ es sejam o que levou a
tudo isso.
Cascalho vomita atrá s de mim no estacionamento. Charlie para em sua
caminhonete e abaixa a janela. “Katie, você está me assustando. O que
diabos está acontecendo?"
Eu pulo no banco do passageiro. "Apenas vá !" Eu grito.
Charlie liga o motor. O caminhã o voa pela estrada, mais rá pido, mais
rá pido. Mas nenhum meio de transporte que exclua a viagem no tempo
poderia vencer o sol agora, especialmente nã o este velho junker. O
primeiro sinal de luz do sol está se formando sobre a colina atrá s de
nó s. Raios crepusculares — aquelas linhas de luz que as criancinhas
sempre desenham ao redor do sol — saem da estrela amarela de fogo.
Eu nunca vi nada tã o bonito ou aterrorizante em toda a minha vida.
"Você tem que me levar para casa, Charlie," eu imploro, mesmo sabendo
que ele está fazendo todo o possı́vel. O melhor absoluto que ele pode.
Ele o pisoteia. O caminhã o dá um solavanco na frente. Mas nã o será
su iciente para me salvar.
Nó s gritamos até minha casa alguns minutos depois. Abro a porta antes
mesmo de pararmos. Saio do banco do passageiro e corro para minha
casa.
O sol está nascendo acima das colinas agora, raios atravessando as
á rvores do meu quintal. Eu os sinto, quentes na minha pele. Meus
braços. Meu rosto. Estou totalmente exposto. Eu me sinto quente, entã o
queimando quente. Eu estou em chamas.
Eu bato na porta, mas meu pai nã o vem. Eu procuro minha chave e
inalmente a coloco na fechadura. Eu abro a porta da frente e atiro para
dentro. Ele bate atrá s de mim quando eu caio no chã o, tremendo e
chorando. A ú nica coisa que posso fazer agora é rezar para nã o ter me
causado danos irrepará veis. Ainda é possı́vel.
Tudo é possı́vel, certo? Talvez tudo o que vai acontecer é eu ter uma
queimadura de sol e um grande sermã o do meu pai. Milagres
acontecem.
Charlie está batendo do outro lado da porta. "Você pode falar comigo,
Katie?"
Mas nã o posso. Como eu poderia? O que eu diria?
Charlie continua batendo e chamando meu nome.
Eu corro para cima para fugir dele. Dele. Eu estraguei tudo. Tudo. Nada
pode icar bem novamente.
Do meu quarto, espio pela janela. Charlie ainda nã o foi embora. O carro
do meu pai guincha no meio- io. Ele bate a porta, parecendo ter visto
mil e um fantasmas. Como se tivesse envelhecido um milhã o de anos
em uma ú nica noite. Morgan está com ele. Mesmo que ela esteja brava
comigo, ela está com ele.
Eu faria qualquer coisa para recuperar a dor que causei a todos. Para
mim mesmo. Eu nunca me senti tã o sozinho na minha vida.
“Ela está aı́?” Eu posso ouvir meu pai gritando. Ele segura Charlie pelos
ombros e o está sacudindo, como se isso pudesse voltar no tempo. "Ela
está dentro?"
Papai irrompe pela porta antes que Charlie possa responder. Lá fora,
Morgan ainda está gritando com Charlie. “Como você pô de deixar isso
acontecer?”
“Deixe o que acontecer?” Charlie grita de volta. Ele parece um garotinho
perplexo, passando as mã os pelo cabelo até icar em pé em todos os
sentidos.
A triste verdade da situaçã o inalmente surge em Morgan. E em mim.
“Ela nunca te contou? Ela nos jurou que sim!”
“Disse-me o quê ?” Charlie parece pá lido e abalado.
Aqui vem. As palavras que vã o mudar tudo. As palavras que eu deveria
ter dito a ele.
“Ela está doente, Charlie. Katie está doente,” Morgan diz a ele.
"O que você está falando?"
“Ela tem uma doença. XP. Ela nã o pode icar no sol de jeito nenhum”,
explica Morgan. “Isso pode matá -la.”
Ela corre para dentro atrá s do meu pai, deixando Charlie sozinho. Do
lado de fora olhando para dentro. Tentando digerir as piores notı́cias
possı́veis.
Eu nã o sou quem ele pensava que eu era. Nã o por um tiro longo.
19

"Me desculpe." Estou dizendo isso para Morgan, mas é para meu pai
també m. E a primeira coisa que digo desde que me encontraram no
meu quarto. Fiquei em silê ncio quando me perguntaram se eu estava
bem, iquei em silê ncio quando me entregaram roupas para sair, iquei
em silê ncio durante toda a viagem de carro.
Porque o que eu poderia dizer?
Depois de tantos anos sendo responsá vel e segura, depois de
inalmente convencer meu pai de que eu poderia cuidar de mim
mesma, acontece que nã o consegui.
Eu menti para meu pai e Morgan. Eu menti para Charlie. Mas meu
silê ncio també m veio da percepçã o esmagadora de que eu estava
mentindo para mim mesma també m.
"Está tudo bem", diz Morgan. Acho que ter uma experiê ncia de quase
morte faz as pessoas te perdoarem muito rá pido.
“Nã o, Morgan, eu sinto muito.” Ela pega minha mã o e eu sei que ela
entende que eu quero dizer que eu nã o apenas sinto muito por deixá -la
preocupada, mas també m por tudo que eu disse a ela.
“Nó s te amamos mais do que tudo, Peanut,” meu pai me diz.
Isso me faz sentir ainda pior que eles nã o estã o bravos comigo. Que eles
estã o apenas preocupados e tristes e gastos. E tudo culpa minha.
Nó s trê s estamos sentados em cadeiras de plá stico rı́gido na sala de
espera do hospital onde o Dr. Fleming tem um consultó rio. Estou
completamente exausta, embora nã o tenha certeza se é mais emocional
ou fı́sico.
Meu rosto está queimando. Meus braços parecem estar envoltos em
chamas. Morgan me garante que é assim que as pessoas normais se
sentem depois de muitas horas ao sol. Mas nã o tenho tanta certeza.
Parece sinistro.
Ainda mais sinistro é o rosto do meu pai agora. Ele está rangendo os
dentes. Suas sobrancelhas estã o franzidas tã o irmemente juntas que se
fundem em uma ú nica entidade. Ele se senta com a cabeça entre as
mã os, como se fosse pesado demais para o pescoço aguentar mais.
“Por que eles usam cadeiras tã o desconfortá veis?” Morgan musas.
“Estamos aqui para icar saudá veis e vamos sair com problemas nas
costas.”
Meu pai tenta sorrir para ela. Sai mais como uma careta. Dou-lhe uma
risadinha que se transforma em um soluço.
"Tenho certeza de que está tudo bem", diz Morgan, colocando a mã o na
minha perna. “Foi só por um segundo, se tanto. Isso nã o é nada.
Estamos todos bem aqui.”
Só que enquanto ela está me assegurando que nada está errado, nó s
dois estamos olhando para a garota na sala de espera que tem mais ou
menos a minha idade. Suas mã os e cabeça tremem; sua pele está
coberta de lesõ es e feridas escuras. Todos sabemos que pode ser eu a
seguir.
Minha enfermeira favorita aparece. "Estamos prontos para você , Katie."
Papai vai se levantar, mas eu estendo a mã o para detê -lo. "Eu vou eu
mesmo desta vez." Se tenho idade su iciente para praticamente me
matar por ser tã o irresponsá vel, també m tenho idade su iciente para
enfrentar as consequê ncias de minhas açõ es.
Papai acena. Enquanto sigo a enfermeira até a á rea do escritó rio, Garver
irrompe pelas portas do hospital. Ele corre para Morgan. Ela cai em
seus braços chorando.
"Ela esta bem?" pergunta Garver.
Morgan nã o responde. Ela apenas enterra a cabeça em seu ombro e
desmorona. Eu devo parecer um morto-vivo para ela estar tã o chateada.
Eu me pergunto se eu realmente sou.
Dr. Fleming me dá um abraço caloroso quando chego à sala de exames.
“Já faz um tempo, Katie,” ela diz, se afastando para me olhar mais de
perto. “Você se tornou uma bela jovem.”
“Me desculpe, eu nã o tenho ido à s minhas consultas ultimamente,” eu
digo a ela, subindo na mesa de exame com pesadas pernas de madeira.
Dr. Fleming oferece um sorriso compreensivo. “As vezes acho que XP é
mais difı́cil para os pais do que para os pacientes. Ele estava apenas
tentando protegê -la.
“E veja como eu agradeci a ele por todos os seus sacrifı́cios.” Eu quero
chorar, mas é como se eu nã o tivesse mais lá grimas em mim neste
momento.
“Nã o faz sentido olhar para trá s, Katie”, Dr. Fleming me diz. “E vamos
lidar com o que quer que esteja na nossa frente juntos. Ok?"
Eu concordo. A enfermeira Jane pega frasco apó s frasco de sangue
enquanto eu olho para os murais coloridos pintados na parede. Aprendi
ao longo dos anos que dó i menos se nã o consigo ver a agulha ou todo
aquele lı́quido vermelho escuro saindo de mim. Algum vampiro eu sou,
hein?
Em seguida, sou levado para a sala de tomogra ia computadorizada.
Quero protestar que posso caminhar até lá , mas, para ser honesto,
estou grata por nã o precisar. Fico ali o mais imó vel possı́vel enquanto as
luzes e os sons da má quina giram ao meu redor. Acho que adormeço,
porque a pró xima coisa que sei é que acabou e a enfermeira Jane está
me dizendo que é hora de voltar para a sala de exames.
Lá , o Dr. Fleming e Jane colocam esses enormes ó culos de aumento que
parecem fones de ouvido de realidade virtual. Eles passam a examinar
cuidadosamente cada centı́metro do meu corpo, falando em có digo
enigmá tico o tempo todo.
“Nevo displá sico, quatro milı́metros.”
“Nevo congê nito, crescimento observado.”
“Agrupamento de novos lentigos aqui.”
E assim por diante e assim por diante. Eu espero e escuto, imaginando o
que tudo isso signi ica. Imaginando o que Charlie está pensando agora.
Se ele me odeia por mentir para ele. Se eu vou vê -lo novamente.
E como posso? Papai nunca vai deixar isso acontecer. Alé m disso, por
que Charlie iria querer me ver depois do jeito que eu traı́ sua con iança?
Acabou, concluo. Tive a sorte de tê -lo enquanto o iz. Para experimentar
algo que eu nunca pensei que iria. Hora de voltar a ser Rapunzel presa
no meu quarto para sempre. Eu era uma tola em pensar que poderia ir
para a faculdade e ter um relacionamento de longo prazo como uma
pessoa normal.
Finalmente, o Dr. Fleming me diz: “Ok, você pode se sentar agora, Katie.
Vou buscar seu pai enquanto você se veste. Encontre-me de volta ao
meu escritó rio assim que estiver pronto.
Eu visto minha legging, arrasto meu moletom de volta pela minha
cabeça e en io meus pé s no meu Converse. Eu me arrasto pelo longo
corredor e me sento na cadeira em frente à mesa de mogno
impressionantemente grande do Dr. Fleming. Meu pai já está sentado
na cadeira ao meu lado, olhando para frente.
“A exposiçã o à luz solar foi mı́nima”, começa o Dr. Fleming. “Os efeitos
fı́sicos que você está vendo agora vã o curar.”
Meu pai coloca a mã o no meu braço e sorrimos um para o outro. Talvez
eu nã o tenha estragado tudo, a inal.
"Mas-"
Papai estremece.
Meu estô mago cai.
“Como você sabe, seu tipo especı́ ico de XP geralmente permanece
inativo até um evento desencadeador”, continua ela. “Nã o saberemos se
é isso que aconteceu até obtermos os resultados do seu exame de
sangue e tomogra ia computadorizada.”
Meu pai se inclina para frente em sua cadeira. “E se isso fosse? Um
evento desencadeador?”
Prendo a respiraçã o, esperando a resposta do Dr. Fleming.
“Nó s cruzaremos essa ponte se chegarmos a ela,” ela diz. “Se você notar
algum sintoma, Katie – tremores inesperados, dores musculares, perda
da funçã o motora – você tem que prometer me contar imediatamente.”
Eu concordo. Minhas mã os estã o tremendo enquanto falamos. Isso é
um sintoma, ou apenas eu estou cansado e com medo? Tudo parece um
sinal agora.
“Alguma palavra sobre o estudo da UW?” meu pai pergunta quando nos
levantamos para sair.
“Eu os acompanhei na semana passada”, diz o Dr. Fleming. “Nenhuma
notı́cia ainda.”
Espero que, neste caso, nenhuma notı́cia seja uma boa notı́cia. Meu pai
merece menos má s notı́cias em sua vida.

Eu caio completamente quando chego em casa, caindo em um daqueles


sonos pesados e sem sonhos que parecem como se eu estivesse perdido
em um grande vazio negro. Acordo muito mais tarde, grogue e mal-
humorada. Eu nã o quero comer ou assistir a um ilme ou mesmo falar
com ningué m.
Morgan vem e me conhece bem o su iciente para icar comigo, juntos,
mas fazendo nossas pró prias coisas. Eu toco meu violã o sem pensar, os
acordes soando dissonantes e fora de tom. Morgan inge ler Querida
Gabby, mas ela nunca rola para uma nova pergunta.
Meu telefone vibra constantemente. Eu ignoro. Nada de bom pode vir
de responder as mensagens de Charlie. Melhor cortar a comunicaçã o
completamente e seguir em frente do que arrastar essa coisa quando o
resultado inal será o mesmo, nã o importa o quê .
“Eu sei que te disse para jogar duro para conseguir, mas você tem que
pelo menos ver o que ele tem a dizer”, Morgan me diz.
Eu balanço minha cabeça enquanto meu telefone vibra novamente.
Morgan joga o telefone de lado, pega o meu e começa a ler as
mensagens.
“Ele está perguntando se ele pode vir falar com você —”
"Nã o", eu digo a ela. “Basta excluı́-los.”
“Ká tia…”
Eu olho para cima, meus olhos travando nos de Morgan. “Se eu os ler,
escreverei de volta, e entã o ele responderá , e entã o nos encontraremos,
o que nã o podemos. Nã o."
“Por que você nã o pode? Você nã o precisa ser um má rtir para proteger
os sentimentos delicados de Charlie. Ele é um menino grande, tenho
certeza que ele pode lidar—”
Eu a paro no meio da frase. Pela primeira vez, Morgan nã o tem ideia de
como estou me sentindo. " Eu nã o posso lidar com isso, ok?" Eu grito,
lá grimas escorrendo pelo meu rosto. "Nã o posso. Ele só vai se
machucar. E eu nã o posso ser aquele que o machuca. Agora você pode,
por favor, apenas excluı́-los?”
Posso dizer que Morgan nã o quer. Eu sei que ela odeia o quanto estou
sofrendo agora. Que ela está mesmo disposta a me perdoar por ser uma
fera mal-humorada e gritar com ela quando nada disso é culpa dela.
“Ok,” ela diz baixinho, clicando no meu telefone. Apagando, apagando,
apagando.
Eu aceno com gratidã o e volto para o meu violã o. Mas nã o está soando
bem esta noite. Morgan me observa por um segundo, entã o pega o
telefone de volta. Eu toco e percebo que meus dedos estã o nas cordas
erradas, nos trastes errados.
Eu levanto minha mã o. Meus dedos estã o tremendo
incontrolavelmente. Afasto minha guitarra antes que Morgan perceba.
Mas eu sei.
eu sei .
20

Não consigo dormir apesar de estar cansado. Nã o consigo comer


mesmo com fome. Eu me reviro, coloco e tiro os cobertores porque
estou alternadamente tremendo e depois suando. Ouço a porta de um
carro bater, entã o a campainha toca.
Saio da cama e olho pela janela. E o Dr. Fleming. Em todos os anos que a
tenho visto, ela nunca veio aqui - eu sempre vou vê -la no hospital. Ela
está muito ocupada para fazer chamadas em casa.
Isto nã o é um bom sinal. Embora ela nã o esteja dando nenhuma notı́cia,
eu já nã o suponho.
Meu pai sai para a varanda e fecha a porta da frente atrá s dele. Nã o
consigo ouvir o que o Dr. Fleming diz a ele, mas a pró xima coisa que sei
é que ele está gritando: “Devemos fazer outro conjunto de testes. Eles
podem voltar diferentes!”
"O cé rebro dela começou a se contrair", diz o Dr. Fleming, alto o
su iciente para eu ouvir desta vez. “Uma vez que as vias neurais
começam—”
“E o estudo?” meu pai grita. “E o UW? Tem que haver-"
"Eles desligaram", diz o Dr. Fleming, colocando a mã o em seu ombro.
“Descobri esta manhã . Nã o haverá uma fase dois.”
Meu pai desaba com essa notı́cia. Ele sempre foi tã o forte. Ele nunca
chorou na minha frente, nem mesmo quando minha mã e morreu. E
agora ele está um desastre por minha causa. Por causa das minhas
açõ es.
"Eu iz tudo o que deveria", diz ele, sufocando as palavras. “Quando ela
era pequena, por mais que chorasse e gemesse, eu nã o a deixava sair.
Brincar no parque. Ir à praia. Ela me implorou . Por coisas que ela tinha
todo o direito de fazer, e eu neguei a ela todas elas. Para protegê -la. E
para quê ? Para isso ?”
Dr. Fleming dá um tapinha nas costas do meu pai enquanto a emoçã o o
domina. “XP é uma doença que tende a tirar a alegria da vida de uma
criança”, ela diz a ele. “Mas todos esses anos que eu conheço Katie, ela
nunca reclamou, nunca icou de mau humor, só viu o lado bom das
coisas. E o jeito que ela fala de você , nunca vi uma adolescente adorar
seu pai tã o abertamente.
Ela está chorando junto com o papai agora. E eu estou chorando com os
dois. Eles se abraçam.
“Katie nã o apenas manté m sua alegria, ela traz alegria a outras pessoas.
Katie brilha mais do que quase qualquer paciente que já tratei. E isso
porque ela é muito amada. Você é um bom pai, Jack.
Meu pai esfrega o rosto com a manga e acena com a cabeça. "Quanto
tempo?"
"E difı́cil saber com certeza", diz o Dr. Fleming.
"Dias? Semanas? Meses? O que?"
E no estilo tı́pico do Dr. Fleming, ela diz a ele: "Provavelmente um
desses."
Sinto-me entorpecido, como se estivesse congelado no tempo. Nã o
posso fazer nada alé m de me culpar por arruinar a vida de todos,
incluindo a minha. Como pude ser tã o ingrato? Isso é o que eu ganho
por nã o querer mais a vida que eu tinha, por querer muito mais. Eu
começo a nã o ter vida nenhuma. Uma vida cortada ainda mais curta do
que já ia ser.
Eu tenho que melhorar isso de alguma forma.

Estou sentado com meu pai na câ mara escura mais tarde. Ele está
mergulhando fotos em soluçã o, secando-as, pendurando-as. Fazendo o
que ele faz de melhor.
— Você sabe que eu sei, certo?
Ele para o que está fazendo. Encara-me. Limpa a garganta. "O que?"
“Eu ouvi você e o Dr. Fleming conversando na varanda mais cedo.
Quando você pensou que eu estava dormindo,” digo a ele.
Papai vem e me pega em um abraço. "Sinto muito", ele diz
repetidamente. "Eu sinto muito."
Digo a ele que está tudo bem e sinto muito, mais vezes do que posso
contar. Eu estive pensando o dia todo sobre como eu posso dar algum
signi icado a essa situaçã o horrı́vel, e o que eu inalmente descobri é
isso: eu tenho que encontrar uma maneira de retribuir. Uma ú ltima
mensagem de amor. De repente eu sei o que posso fazer pelo meu pai.
"Estarei lá em cima", digo a ele. "Quando você terminar aqui, podemos
pedir comida para viagem, ok?"
— E isso, Katie? ele pergunta, palmas para cima, com um pequeno
encolher de ombros. "Sem perguntas?"
Eu balanço minha cabeça. "Nã o."
Uma hora depois, ele faz o seu caminho para o covil. Estou sentado no
sofá ainda digitando no meu computador. Eu tenho trabalhado duro na
minha obra-prima, e está quase completa.
“Estou morrendo de fome,” meu pai diz. “Devemos pedir do chinê s
Hunan?”
Eu faço uma ú ltima mudança e olho para ele. "Huh?"
"Eu disse, você está com vontade de chinê s?" ele diz. — No que você
está tã o absorto?
Viro meu computador para que ele possa ver. “Chinê s, claro, sempre.
Você sabe disso. E eu tenho feito de você um per il de namoro online.”
Meu pai ica momentaneamente sem chã o. “ O que? — ele pergunta, sua
boca aberta.
Mas realmente agora. Isso vem de muito tempo. Ningué m deveria ter
que icar sozinho. Todo mundo deveria ter algué m especial. Essa é
basicamente a chave para a felicidade, como descobri com Charlie.
"O que você acha?" Eu pergunto, mostrando a ele duas opçõ es
diferentes para sua foto de per il. “Eu gosto do seu cabelo neste, mas no
outro você tem sua câ mera.”
Papai tenta forçar meu laptop a fechar. "Nã o. Isso nã o está acontecendo-
"
Eu ico irme. "Está acontecendo! Você precisa ir em algumas datas!
Você pode até me ajudar a escrevê -lo. Sentar."
Meu pai começa a protestar novamente, mas eu lanço a ele meu olhar
mais sé rio. Ele parece aceitar que nã o estou brincando por aqui e nã o
vai desistir dessa ideia. Ele se joga ao meu lado.
“Aqui está o que eu tenho até agora. O maior pai do mundo e o fotógrafo
mais bonito ...
Meu pai faz um barulho de campainha. "Veto."
Eu o ignoro e continuo. “Procurando um companheiro aventureiro
interessado em arte, fotogra ia, nostalgia sobre os SuperSonics—”
“SuperSonics, agora isso é importante,” meu pai diz, balançando a
cabeça.
“E um parceiro no crime para viajar pelo mundo.” Eu olho para cima para
ver se ele está recebendo tudo isso.
Mas ele está olhando para o nada, para a parede, para uma das fotos
que ele e minha mã e tiraram lá atrá s. "Eu nã o viajo", ele inalmente diz,
balançando a cabeça.
"Você vai, no entanto", eu digo a ele. Nã o acrescento a segunda parte do
que estou pensando, que é : Você pode de novo. Depois que eu for.
E como se meu pai ouvisse meus pensamentos nã o ditos. O ar é
basicamente sugado para fora da sala. Ele se levanta do sofá e se vira
para sair. "Tudo bem, nã o estamos falando sobre isso-"
Eu agarro sua manga. "Por favor. Eu quero. Eu tenho que fazer.
Ele para. Exala longa e ruidosamente, como um radiador velho
rangendo. Dou um tapinha no sofá ao meu lado.
“Nó s tivemos um ao outro antes. E agora...” Estou tentando reunir
coragem para dizer o que nenhum de nó s reconheceu em voz alta ainda.
“Perdemos a mamã e, e você vai me perder també m.”
"Nã o!" meu pai protesta. “Sempre há uma chance de que—”
“Eu sei que é chato. Para você provavelmente ainda mais do que eu. Mas
a realidade é a realidade,” digo a ele. “Sempre soubemos que é uma
questã o de quando, nã o se … e vai acontecer, gostemos ou nã o.”
Nada na histó ria foi tã o difı́cil de dizer. Pela aparê ncia do meu pai, nada
na histó ria foi tã o difı́cil de ouvir. Mas precisamos falar sobre essas
coisas enquanto ainda podemos. Ele precisa saber o quanto eu amo e
aprecio tudo o que ele fez por mim.
Respiro fundo e continuo meu discurso. “Quero que você viaje e comece
a fotografar o mundo novamente. Quero que todos vejam suas fotos,
pai.
E com isso, ele se desfaz em lá grimas. Na minha frente. Outro primeiro.
Sinceramente, estou meio orgulhoso dele. Por tantos anos nó s ingimos
estar bem um com o outro. E agora nã o há problema em deixar um ao
outro saber que nã o somos.
Eu quero que meu pai saiba que algo de bom pode vir disso – que ele
pode ter todos os seus sonhos de volta quando eu me for, se ele se
permitir. Que eu quero mais do que tudo que ele seja inteiro
novamente. E que ele pode ser, mesmo sem mim ou mamã e. Ele tem
que ser ou eu nã o serei capaz de suportar o que vem a seguir.
“Pare,” meu pai diz em meio à s lá grimas. "Nã o posso…"
Eu sigo em frente, embora seja difı́cil resistir à sua dor. “Eu só quero
que você tenha uma vida tã o boa quanto a que você me deu. Eu preciso
saber que você vai tentar ser feliz, e ter aventuras e algué m para
compartilhá -las porque… bem, essa é a melhor parte.”
Papai se recompõ e com algumas respiraçõ es profundas de limpeza,
como aprendemos naqueles vı́deos de meditaçã o que tentamos há
algum tempo. Quando vejo que ele está quase pronto para concordar,
tento fechar o negó cio rapidamente.
"Basta ir em um encontro", eu o exorto. “Escolha uma mulher aleató ria
e leve-a para sair. Por favor .”
Ele inalmente assente. "Ok."
Eu pego sua mã o na minha. "Promessa."
"Eu prometo", ele me diz.
Eu envolvo meus braços em torno dele e nos abraçamos com força.
Minhas lá grimas caem rapidamente em seu ombro. Suas lá grimas
penetram nas minhas. Eu sou o primeiro a fugir.
"Agora vamos chamar de chinê s Hunan", eu digo, enxugando meu rosto
no meu ombro.
Papai me dá um sorriso e diz: “Vá lá para cima e descanse um pouco.
Vou pedir o jantar.
Meu coraçã o parece que está de alguma forma se costurando de volta.
Eu sei que ainda posso fazer a diferença enquanto estiver aqui. E talvez
mesmo depois, se eu trabalhar rá pido o su iciente.
21

A campainha toca quarenta e cinco minutos depois, entã o desço as


escadas.
"Nosso jantar está servido", eu grito enquanto dou o ú ltimo passo e vejo
meu pai ainda sentado no sofá .
"Ei, você pode pegar isso, querida?" ele pergunta, seus olhos nunca
deixando o jogo de beisebol na tela da TV. “E a contagem completa com
dois eliminados e dois homens na base.”
Eu rio de quã o intenso ele está sendo sobre um confronto de
temporada regular. "Claro."
Vou até a porta e a abro. Minha boca se abre. A inal, nã o é o nosso
entregador.
Eu bato a porta e caio contra ela. “Acho melhor você vir aqui!” Eu grito
para o meu pai.
Mas ele já está bem na minha frente. "Acho melhor você deixá -lo
entrar", diz ele, oferecendo-me uma mã o para cima. Eu levo.
"Como você sabia que era Charlie?"
"Porque fui eu quem ligou para ele", diz ele. “Ter algué m com quem
compartilhar sua vida é a melhor parte, certo? Nã o foi isso que você
acabou de me dizer?”
"Eu nã o posso vê -lo", eu sussurro. "Quero dizer... posso?"
"Vá ", diz ele, abrindo a porta e me enxotando para fora. "Conversa."
Charlie está ali, segurando duas sacolas de comida chinesa de Hunan.
Depois de um momento, ele diz: "O jantar está servido?" e nó s dois
rimos um pouco. Como ele faz aquilo? Pegue um momento estranho e
faça com que pareça... nã o tã o estranho. Ainda assim, sua facilidade nã o
me faz sentir menos desconfortá vel. E como a primeira vez que nos
encontramos novamente.
"Você existe", diz ele. “Desta vez tive certeza de que sonhei com você .”
Começo a sorrir, mas paro quando percebo que nã o foi isso que vim
fazer aqui. Eu sei o que meu pai disse e eu sei o que eu quero. Mas se há
uma coisa que eu tenho certeza, é que você nem sempre consegue o que
quer nesta vida. Isso é para fechamento. Meu presente para Charlie
para que ele possa seguir em frente: deixá -lo ir.
“Desculpe por nã o ter te contado, isso foi imperdoá vel, e eu gostaria de
poder fazer as pazes com você , mas infelizmente, esse arranjo” – eu
gesticulo para ele e depois para mim, indicando, você sabe, nó s – "isso,
isso... nã o pode continuar." Meu discurso está saindo estranhamente
formal e empolado. Respiro fundo e tento parecer normal. "Você e eu
continuar a nos ver é apenas... uma pé ssima ideia, e eu..."
Eca. Eu olho para Charlie e ele está mordendo o lá bio inferior. Ele
parece que vai rir, nã o chorar, como eu estava preocupado que ele
pudesse. Agora me sinto mais burro do que nunca. Eu recomeço.
“Olha, o amor nunca é justo, mas isso é particularmente injusto, como o
Guinness Book of Records injusto, e por isso deveria parar. Está feito.
Nã o é você ; sou eu."
Eu estremeço. Isso foi ainda mais estranho.
"Adeus", eu digo para encerrar, estendendo minha mã o para apertar a
dele. Ele apenas o encara. Quando ele olha de volta para mim, seu rosto
está iluminado com um dos maiores sorrisos que eu já vi.
"Esse foi, tipo, o pior discurso de separaçã o que eu já ouvi", ele me diz.
Eu nã o entendo. Ele nã o está aceitando minha separaçã o? Isso nem é
uma coisa que eu saiba. "O que?"
Charlie revira os olhos para mim. “AD menos seria generoso. Zeros de
todos os juı́zes. Um fracasso total.”
"Eu nunca iz isso antes!" Eu protesto antes de perceber o que está por
baixo do que ele está dizendo: Ele nã o quer que a gente termine,
mesmo depois de tudo o que aconteceu. E tudo o que inevitavelmente
vai acontecer. “Mas, falando sé rio, nã o podemos.”
"Nó s podemos, no entanto", ele me diz.
Eu paro de falar e olho para aqueles olhos derretidos dele. Minha
determinaçã o se derrete com eles. Eu quero acreditar que podemos.
Mas como?
Ele dá de ombros como se realmente tivesse ouvido minha pergunta
nã o dita. "Nó s podemos", ele repete. “O que eu não posso fazer é parar
de ver você . Eu tentei e é chato. E” – aqui ele coloca seus dedos entre
aspas e sua voz soa formal como eu iz antes – “nã o pode continuar.”
Eu rio, mas a dor que sinto é muito real. Nã o quero machucá -lo mais do
que já iz. Isso me mataria antes que o estú pido XP o izesse. “Charlie…”
Ele pula de volta antes que eu possa começar a protestar novamente.
“Katie. Você pode ter passado as ú ltimas semanas mudando minha vida
e se tornando minha pessoa favorita apenas para me deixar em seu
gramado como um idiota, ou podemos continuar fazendo deste o
melhor verã o de nossas vidas.
Eu balanço minha cabeça. Ele é louco. A maioria dos caras estaria
correndo para as colinas e agradecendo a sua estrela da sorte eu os
deixei escapar tã o facilmente. E aqui está Charlie, tentando me
convencer de que devemos icar juntos, mesmo que nosso
relacionamento esteja completamente condenado.
"Eu iz minha pesquisa", diz Charlie, muito sé rio agora. “Eu sei o que é
XP. Eu sei o que está acontecendo. Mas nã o somos pessoas que nã o
tentam. Você sabia disso antes de mim.”
Eu inalmente desmorono, rindo e chorando. Por que escolher, quando
ambos se encaixam tã o bem no momento?
"Eu nã o vou sentar e ver isso acontecer", ele me diz. “A escolha é minha
e eu estou fazendo isso. Eu quero estar com você ."
Eu limpo meus olhos. Olhe para o dele. Jogue meus braços em volta do
pescoço dele e beije-o como se minha vida dependesse disso. E de certa
forma, talvez sim. E o tipo de beijo – real e apaixonado – que as pessoas
provavelmente esperam a vida inteira para experimentar, e eu tenho a
sorte de ter o meu agora.
Percebo que mesmo nos piores momentos há sempre um raio de
esperança. Charlie é meu.

Enquanto estou sentado no sofá entre meu pai e Charlie um pouco mais
tarde, felizmente chupando lo mein, nã o posso deixar de pensar que,
apesar do enorme sanduı́che de cocô que me deram, ainda sou grato
por tudo que minha vida me deu. me deu. Para tudo o que nã o tenho –
minha mã e, um grupo de amigos, a esperança de um inal feliz – há
muito que tenho. E sempre teve. E agora há Charlie. Penso no que ele
me disse mais cedo e me sinto exatamente da mesma maneira: ele
existe. Eu nã o sonhei com ele. E tã o certo quanto eu sinto seu calor ao
meu lado no sofá enquanto sua perna roça a minha, eu sei que nã o
somos apenas uma aventura de verã o. Que o que sentimos um pelo
outro é eterno. Que nada pode nos separar.
Nada. E isso inclui morrer.
22

Eu tenho que implorar e implorar , mas convenço meu pai a ir ver o


grande retorno de Charlie à piscina. Ele está trabalhando duro desde
que nadamos juntos no que acabou sendo a melhor noite e o pior dia da
minha vida. E eu nã o vou estar lá para torcer por ele junto com todos
que o apoiaram na nataçã o, incluindo seus amigos, familiares e ex-
treinador – e, espero, um novo de Berkeley.
E meio chato me preparar para a viagem para a piscina do ensino
mé dio – eu tenho que me passar trê s camadas de protetor solar extra
forte e me vestir em camadas grossas que nã o combinam com o clima
de verã o. Papai tem que aplicar uma pelı́cula protetora especial nas
janelas de seu carro para evitar que os raios UV penetrem nelas, alé m
de instalar basicamente o que é como um espelho bidirecional entre o
banco da frente e o de trá s. Como ele pode ver atrá s dele, mas eu nã o
posso ver atravé s dele e nenhuma luz pode passar. E uma maneira
estranha de viajar, como se eu fosse algué m superfamoso em uma
limusine, esnobe demais para interagir com meu motorista.
"Vamos, pai", eu digo, tentando animá -lo com o medo que vejo em seus
olhos. Ele precisa superar o pavor que nos impediu de nos aventurar
muito por todos esses anos. Especialmente agora, quando realmente
nã o importa mais o quã o cuidadosos somos. “Qual é a pior coisa que
poderia acontecer? Eu poderia ter um evento desencadeador? Tarde
demais, eu já iz.”
Seus lá bios permanecem pressionados juntos em uma linha ina. “Nã o é
engraçado.”
"Humor da forca", digo a ele com um encolher de ombros.
E tã o difı́cil se acostumar com as novas realidades que cada dia traz. Eu
me sinto velho e com pena de mim mesmo, como se tudo o que me fez
eu fosse rapidamente arrancado. Que em pouco tempo eu nã o serei
nada alé m de uma casca do meu antigo eu. O dia em que percebi que
nã o podia mais tocar guitarra foi o pior. Chorei mais do que já chorei na
vida, nã o só porque a mú sica sempre foi minha maior fonte de prazer e
orgulho, mas porque també m tem sido minha esperança de longa data
deixar minhas mú sicas como meu presente de despedida para este
mundo. E agora isso nunca pode acontecer.
Charlie é o ú nico que pode me fazer esquecer o quã o rá pido estou indo
ladeira abaixo. Ele de alguma forma ainda me faz sentir a garota mais
bonita, talentosa, normal e saudá vel do mundo. Ele age como se nem
percebesse as coisas que eu nã o posso mais fazer.
E quando estou sozinho que me encontro à beira de um ataque de
pâ nico constante. Estou apavorada com o que pode ser tirado de mim
em seguida, para nã o mencionar o que acontecerá quando nã o houver
mais nada para tirar. Nã o quero deixar este planeta. Eu nã o estou
preparado. Eu provavelmente nunca serei.
Basicamente, tudo o que está acontecendo comigo isicamente desde
aquela manhã na praia tem sido horrı́vel, aterrorizante e terrı́vel. A
ú nica vantagem que posso ver é que em um certo ponto pelo menos
deixou de ser surpreendente. Entã o é isso.
“As vezes, a ú nica maneira de lidar com as coisas realmente ruins é rir
disso”, digo ao meu pai. "Agora vamos ver Charlie conseguir sua bolsa
de estudos para Berkeley de volta."
“Um, dois, trê s, corra!” meu pai diz, pegando suas chaves.
Eu puxo as cordas do meu moletom o mais apertado que posso, até que
apenas um pedacinho dos meus olhos esteja aparecendo. Papai e eu
costumá vamos jogar esse jogo para me levar ao carro para
compromissos quando eu era mais jovem. Eu aprecio o aceno para a
tradiçã o hoje.
Naturalmente, os preparativos para o passeio demoraram muito mais
do que o passeio em si. Estamos no natató rio Purdue High em menos de
dez minutos. Papai estaciona o mais pró ximo possı́vel do pré dio, e
damos outra corrida para dentro.
E ú mido e pegajoso no deck da piscina. Eu imediatamente começo a
suar sob minhas muitas camadas de roupas. Eu vou descompactar meu
capuz.
Meu pai estende a mã o para me parar. Ele aponta para a parede de
janelas do lado oposto da piscina. O sol do meio-dia está luindo,
salpicando as cores do arco-ı́ris nas poças do deck da piscina. "Nã o. Nã o
é seguro."
“Qual é a pior coisa—” eu começo a dizer de novo, mas entã o noto as
linhas de preocupaçã o na testa do meu pai. Eles parecem ter crescido
em tamanho e nú mero nas ú ltimas semanas. “Sem problemas, pai.”
Subimos nas arquibancadas lotadas e nos sentamos no canto da
arquibancada mais alta, onde o sol nã o pode me atingir. Vejo os pais de
Charlie sentados na primeira ila. Zoe també m está lá , junto com sua
equipe. Ela me vê e me dá um sorriso falso e acena. “Oi, Katie Price!”
“Novo amigo seu?” meu pai pergunta.
"Velho inimigo", eu respondo, acenando de volta e dando a Zoe um
sorriso ainda mais falso do que o que ela me deu. Entã o ela descobriu
quem eu era. Eu me sinto surpreendentemente calmo; é como se Zoe
tivesse perdido todo o seu poder sobre mim. O pior já aconteceu. Nada
que ela pudesse fazer comigo jamais se compararia.
Entã o eu percebo a razã o de estarmos todos aqui: um homem de
aparê ncia em forma com uma camisa polo Berkeley segurando uma
prancheta, anotando furiosamente, um cronô metro no pescoço. Ele olha
para cima e percebe que eu o notei. Eu lhe dou um sorriso e um polegar
para cima. Seus lá bios se curvam quase imperceptivelmente, mas eu
considero isso um bom pressá gio de qualquer maneira.
“A seguir, o ú ltimo evento do dia – as inais dos duzentos metros livres
masculinos!” o locutor ressoa. Sua voz ricocheteia nas paredes de
azulejos. Aplausos explodem nas arquibancadas. O lugar parece
completamente elé trico.
Os nadadores saem em ila e tomam seus lugares ao lado de seus
respectivos blocos de partida. Lamento silenciosamente o fato de que
todos parecem iguais em suas sungas, toucas de nataçã o e ó culos de
proteçã o. Eu estico meu pescoço, tentando descobrir qual cara é
Charlie. Ele me mandou uma mensagem mais cedo que estaria nadando
na pista um, mas isso nã o pode estar certo. O bloco está vazio.
Os pais de Charlie se agarram um ao outro. Papai se vira para mim e
levanta as sobrancelhas. Eu dou de ombros e balanço a cabeça como se
não tivesse ideia. Ele deveria estar lá . O homem de Berkeley para de
escrever e olha para o reló gio e depois volta impaciente.
Eu prendo minha respiraçã o. E entã o, como má gica, lá está ele. Charlie
parece tã o poderoso, tã o forte, tã o bom , eu quero pular da
arquibancada e jogar meus braços em volta dele.
Os outros nadadores estã o jogando á gua em si mesmos, sacudindo a
energia nervosa de seus braços e pernas. Mas Charlie apenas ica ali
parecendo legal, calmo e sereno. Ele sorri para sua mã e e seu pai.
Ele continua vasculhando as arquibancadas com os olhos, olhando
arquibancada apó s arquibancada. Meu pai inalmente levanta a mã o e
aponta para mim. Eu empurro o moletom da minha cabeça – papai nã o
se opõ e desta vez – e aceno. Charlie abre um sorriso enorme e acaricia
seu coraçã o. Eu acaricio o meu. E o nosso novo có digo: Amor vincit
omnia. Amor conquista tudo.
Charlie assente. Ele está pronto para ir agora.
“Set,” o locutor resmunga.
Os nadadores se posicionam.
BIP!
E eles estã o desligados. Os competidores passam a maior parte da
primeira volta debaixo d'á gua. Estou sem fô lego só de assistir, entã o
nã o consigo imaginar como eles devem se sentir.
De repente, todos eles chegam à superfı́cie. O silê ncio gracioso é
substituı́do por á gua borbulhando sob determinados braços e pernas.
Para mim, parece que todos os nadadores estã o empatados. Ainda é a
raça de qualquer um.
Os pais de Charlie apertam as mã os um do outro. O treinador de
Berkeley olha para o reló gio no placar e depois para a piscina. Os
nadadores seguem para a segunda volta.
O cara na pista ao lado de Charlie começa a avançar. Todos os outros
icam em um grupo apertado atrá s dele. Eu coloco dois dedos em cada
lado da minha boca e assobio o mais alto que posso, tentando motivar
Charlie a ir mais rá pido, mais rá pido.
Os nadadores saltam, giram e disparam para a terceira volta. O cara na
liderança coloca ainda mais distâ ncia entre ele e o resto do pelotã o.
Vamos, Charlie , eu acho. Essa é sua grande chance. Dê-lhe tudo o que
você tem. Seu futuro depende disso.
Falta uma volta. Charlie ainda está atrá s, em terceiro ou talvez até em
quarto lugar. Levanto-me de um salto e começo a gritar, aplaudindo tã o
alto quanto já torci por qualquer coisa na minha vida. Espero que ele
possa me ouvir. Eu sei quantas horas ele está trabalhando para voltar à
forma. Eu sei que ele fez tudo o que podia para se preparar para este
momento. Eu sei que ele pode fazer isso.
E entã o eu vejo. Ele está surgindo. Ele sabe que pode fazer isso també m.
Os braços de Charlie bombeiam cada vez mais forte. Ele desliza pela
á gua. Ele está vindo forte. Chegando rá pido. Ele passa o cara em
terceiro lugar, e depois o outro em segundo. Mas ainda há muito espaço
entre ele e o nadador em primeiro lugar. Ganhar agora parece quase
impossı́vel.
Mas Charlie continua ganhando. E entã o acontece. Sua mã o toca a
parede antes de qualquer outra. Ele ganhou!
Eu continuo gritando. Essa corrida foi provavelmente a coisa mais
emocionante que eu já presenciei. Totalmente digno de icar rouco.
Charlie sai da piscina, ombros, bı́ceps e abdô men ondulando. Em
seguida, ele tira os ó culos e se dirige para as arquibancadas. Nã o
consigo evitar; Desço correndo pelas arquibancadas em direçã o a ele.
Em direçã o à luz. Papai segue bem nos meus calcanhares.
“Fique longe dos pontos ensolarados, Katie!” ele me lembra. Paro perto
de onde Charlie está .
O treinador de Berkeley o chama para uma conversa rá pida e sai pela
porta. Eu começo em direçã o a Charlie novamente, mas entã o seus pais
o interceptam. Entã o papai e eu icamos para trá s, esperando.
Finalmente, Charlie se liberta de todos os simpatizantes e me pega em
um abraço.
“Você foi tã o bom!” Eu grito.
Ele me coloca de volta no chã o e sorri para mim. “Eu estava, nã o
estava?”
“Você realmente era! O que o cara de Berkeley disse?
“Ele disse que icou impressionado e que entraria em contato.”
Eu sorrio de volta para ele. “Em contato é bom! Estou tã o orgulhoso de
você !"
Meu pai abre caminho entre nó s, dando um tapa forte nas costas de
Charlie. "Acho que os rumores sobre você sã o verdadeiros", diz ele.
“Parabé ns, Charlie. Você era um manı́aco na piscina.”
"Obrigado, Sr. Price", diz Charlie. "E obrigado por deixar Katie vir."
Meu pai olha para mim e sorri. “Ela nã o teria perdido isso por nada no
mundo.”
Charlie está sorrindo para mim també m. "Senhor. Preço? Você se
importaria se eu pegasse Katie emprestada amanhã à noite?
Junto minhas mã os e dou a papai um olhar fofo, como se estivesse
implorando para ele dizer sim. Ele inalmente assente. "Acho que vai
icar tudo bem, Charlie."
Depois de um ú ltimo abraço, eu puxo meu capuz com força sobre minha
cabeça novamente e fazemos uma pausa para o carro. Parece que todo
mundo fez o mesmo, no entanto; o estacionamento está congestionado.
Cinco minutos depois, papai ainda nem saiu da vaga.
Estou olhando pela janela, exausta do passeio. Estou tã o feliz por estar
aqui para testemunhar o sucesso de Charlie. Mas tudo o que posso
pensar agora é chegar em casa e ir para a cama.
Estou prestes a cochilar quando vejo Charlie e seus pais saindo do
pré dio. Ele corre até o nosso carro e coloca a palma da mã o contra a
janela escurecida do banco de trá s. Eu coloquei minha mã o contra a
dele por dentro. Tenho certeza que ele pode sentir que estou lá .
O Sr. Reed bate na janela da frente e meu pai abaixa. “Só quero dizer a
você e sua ilha o quanto seu apoio signi icou para Charlie”, diz ele.
Eu grito “Igual!” do banco de trá s, embora eu tenha certeza de que ele
nã o pode me ouvir.
“Ele é um jovem maravilhoso”, meu pai responde.
“E, segundo todos os relatos, sua Katie també m é maravilhosa”, diz
Reed.
Eu gostaria de poder sair e encontrá -lo agora, mas o sol está brilhando
no alto no momento. Muito arriscado, embora eu já tenha sido exposto.
“Eu só queria dizer o quanto estou feliz por nossos ilhos terem se
encontrado”, continua Reed. “Existem algumas pessoas, ou momentos,
na vida de uma pessoa que mudam nossa histó ria. Ela vai deixar sua
marca nele para sempre. E ele nela. Mesmo que nã o seja para durar.
Como eu disse a Charlie, tudo o que você pode fazer é ser grato pela
experiê ncia e ser grato por ela ter entrado em sua vida.”
Pego meu telefone e mando uma mensagem para meu pai. Diga a ele
amor vincit omnia!
Meu pai faz uma pausa, olha para o telefone, depois olha para cima e ri.
“Katie quer que você saiba que o amor vence tudo”, ele diz ao Sr. Reed.
Sr. Reed ri junto com ele. "Bem, agora, eu acredito que essa é a verdade."
Ele bate na janela de trá s ao lado de onde Charlie e eu estamos
praticamente “de mã os dadas”. “Fique bem, Katie!”
Eu acaricio meu coraçã o e pressiono minha palma contra a de Charlie
um pouco mais. Amor vincit omnia , eu acho. Amor conquista tudo.
23

Charlie me pega na noite seguinte bem na hora. Eu tenho outra roupa


nova encomendada online com a bê nçã o do meu pai. Arrumei meu
cabelo e me maquiei com cuidado, meticulosamente. Está icando cada
vez mais difı́cil fazer até as coisas mais simples ultimamente, mas nã o
quero perder nenhuma chance que me resta de parecer e me sentir
jovem, bonita e viva.
Meu pai tira outra foto nossa do baile antes de sairmos, e eu nem
protesto dessa vez. Eu nem me sinto envergonhado. Eu apenas tento me
sentir grato pela experiê ncia, como o Sr. Reed disse que deverı́amos. A
ansiedade que parece estar comigo a cada momento de vigı́lia
ultimamente desaparece em segundo plano. E apenas um pequeno
zumbido em vez de um grande grito.
Charlie segura a porta de sua caminhonete aberta para mim. Eu subo.
Meu pai acena para nó s da varanda da frente.
Minhas mã os estã o tremendo no meu colo enquanto Charlie pula no
banco do motorista. Eu tento en iá -los sob minhas pernas para
esconder meu tremor, mas ele se aproxima e pega minhas mã os nas
dele. Entã o ele traz meus dedos até a boca, beija-os individualmente,
entã o coloca minhas mã os de volta no meu colo.
Eu lhe dou um pequeno sorriso. Ele é o ú nico que poderia tirar o
constrangimento de um momento como este. O fato de ele ser tã o gentil
nã o torna minha situaçã o mais fá cil de aceitar, mas me faz perceber o
quanto sou sortuda por tê -lo em minha vida. Eu me acomodo no meu
lugar, empolgada para descobrir o que Charlie tem na manga desta vez.
Nó s paramos no estacionamento de um lugar indescritı́vel com
aparê ncia de armazé m meia hora depois. Começo a sorrir e nã o consigo
parar. “Outro show pop-up?”
"Você realmente acha que eu sou tã o sem criatividade?" ele diz,
balançando a cabeça. "Errado. Vamos. Você vai ver."
"Vou ver o quê ?" Eu pergunto, seguindo-o animadamente.
“Você vai ver quando chegarmos lá .”
Charlie me leva para o que parece ser a sala de controle da nave estelar
Enterprise . Há um enorme console de mixagem do tamanho de um
carro com zilhõ es de botõ es e alavancas, alé m de gravadores multipista
e estaçõ es de trabalho digitais. Alé m do vidro nesta sala há um estú dio,
completo com mú sicos preparando seus instrumentos para tocar.
Eu absorvo tudo. Nã o posso acreditar que vou ver uma gravaçã o real
acontecer esta noite. E como um sonho tornado realidade. “Quem
estamos aqui para ver?”
“Ah, você quer dizer aqueles caras?” Charlie pergunta, balançando o
polegar na direçã o deles. “Eles estã o aqui para você .”
Um cara barbudo legal se aproxima de nó s antes mesmo que eu possa
começar a processar o que Charlie acabou de dizer. “Você Katie? Vamos
fazer isso."
“Oh meu Deus, nã o, nã o, nã o...” Meus olhos icam arregalados e eu tenho
o desejo repentino de planejar um funeral de gato falso. Eu faço uma
pausa para a porta, mas Charlie a bloqueia.
"Sim Sim SIM SIM."
"Como você ? O que sã o…? Isso é loucura!" eu gaguejo. “Como estamos
pagando por isso?!”
Charlie dá de ombros. “Nã o se preocupe com isso.”
Isso só pode signi icar uma coisa: ele basicamente gastou suas
economias em mim. Dinheiro pelo qual trabalhou tanto neste verã o e
no verã o anterior e no verã o anterior. Eu sei quanto custa uma gravaçã o
pro issional. Demais. Estou impressionado com sua generosidade.
Lá grimas, que estã o sempre perto da superfı́cie ultimamente, começam
a se acumular em meus olhos.
“Charlie, nã o! Esse é o dinheiro do seu caminhã o! Você trabalhou tanto
para isso. Eu nã o posso deixar você fazer isso!”
"Já está feito", diz ele, sorrindo para mim. “Alé m disso, a maioria das
faculdades nã o permite que você tenha um carro no campus como
calouro.”
“Berkeley ligou?” Eu digo, estendendo a mã o e colocando a mã o em sua
bochecha.
“Ainda nã o”, diz ele. “Mas estou me sentindo bastante con iante de que
eles vã o.”
"Estou muito, muito orgulhoso de você ", digo a ele. "Seja em Berkeley
ou em outro lugar - você vai incendiar este mundo algum dia, Charlie
Reed."
"E você já é , Katie Price", ele me diz. "Agora vá . Fazem isto. Você me
ajudou a descobrir meu sonho. E hora do retorno.”
Ele começa a me empurrar suavemente em direçã o ao estú dio. Eu o
paro e levanto minhas mã os. Eles estã o tremendo.
"Eu nã o posso jogar mais", eu sussurro, meu estô mago um poço quente
de medo e vergonha.
Ele pega minhas mã os nas dele e olha nos meus olhos. "Apenas cantar.
Finja que sou só eu.”
Concordo com a cabeça e tento aproveitar todas as vibraçõ es positivas
que ele está me enviando. Ele me gira e me empurra em direçã o ao
estú dio. Eu passo pela porta para o centro da sala. Eu me sinto inseguro
e nervoso. Acho que posso culpar meu tremor por isso, em vez do
motivo real. Entã o ningué m tem que sentir pena da pobre garota
moribunda e mentir para ela sobre o quã o boa sua mú sica é se eles
realmente nã o pensam assim. Talvez eu inalmente consiga algum
feedback honesto de mú sicos de verdade – pessoas que realmente
conhecem o talento.
Os caras da banda acenam com a cabeça enquanto terminam de a inar
seus instrumentos. O engenheiro clica no alto-falante da outra sala.
"Quando você estiver pronta, Katie, vamos colocar um..."
Estou pronto agora, exceto por uma coisa. A escolha da mú sica. Nã o
faço ideia do que devo cantar. “O que estamos jogando?”
O guitarrista, um cara tatuado e com piercing, me entrega a partitura
que todo mundo no estú dio tem. Eu li o tı́tulo. “Cançã o de Charlie”.
“Esta... esta é a minha mú sica. Eu tenho trabalhado nisso!” Eu exclamo,
quase para mim mesmo. Eu olho para cima para ver Charlie sorrindo
para mim atravé s da janela da sala de controle. "Como você conseguiu
isso?"
Charlie liga o alto-falante. “Eu roubei seu caderno de novo.”
“Você escreveu essa mú sica?” o guitarrista pergunta.
Ele parece nã o acreditar em mim quando eu aceno.
"Nada mal", diz ele com um sorriso.
Eu sorrio de volta para ele e coloco meus fones de ouvido. O baterista
conta uma batida e a banda começa a tocar. Minha mú sica. A mú sica de
Charlie. Soa ainda melhor do que eu jamais imaginei que poderia.
A mú sica cresce ao meu redor, e entã o é hora de eu entrar. Eu me
aproximo do microfone blindado. Eu começo a cantar, suavemente no
inı́cio. Mas a cada nota, ganho uma sensaçã o de con iança que nem
sabia que tinha em mim.
Fecho os olhos e canto para todos que amo. Imagino meu pai
desenvolvendo fotos incrı́veis de uma viagem exó tica que ele fará nã o
muito longe no futuro. Morgan e Garver ainda estã o juntos, mesmo
depois de irem para faculdades diferentes no outono. Charlie
deslizando sem esforço pela piscina em Berkeley, acumulando tantos
recordes lá quanto ele fez na minú scula Purdue, Washington. E minha
mã e tocando sua mú sica favorita de Crosby, Stills, Nash & Young.
“Andei sozinho, com as estrelas na noite enluarada,
Eu andei sozinho, ninguém ao meu lado.
Agora eu ando com você, com minha cabeça erguida,
na noite mais escura, me sinto tão vivo.”
Quando a mú sica termina, eu sei que acertei. Charlie está assistindo da
sala de controle, gravando tudo com seu iPhone. Ele cutuca o
engenheiro, que assente. Eu ainda vejo espanto em seus olhos? Porque
estou impressionado com o que acabou de sair de mim també m.
No caminho para casa, Charlie e eu ainda estamos tontos de excitaçã o.
Nenhum de nó s quer que a noite acabe, que é como sempre nos
sentimos. Charlie consegue uma saı́da desconhecida bem antes de
voltarmos a Purdue.
"Onde estamos indo?" Estou descansando minha cabeça em seu ombro.
Sentindo-se em casa. Como se de alguma forma tudo estivesse certo no
mundo, apesar de tudo que está errado no meu.
“Quero mostrar a você um lugar em que à s vezes penso”, ele me diz.
O caminhã o sobe cada vez mais alto até Charlie parar e desligar o
motor. Ele sai do tá xi e vem para o meu lado, abrindo a porta e me
oferecendo uma mã o.
Ele aponta para o cé u. Eu olho para cima e suspiro. E como se um
milhã o de estrelas estivessem olhando para nó s. Como este mirante é a
porta para o pró prio cé u.
Subimos na parte de trá s. Ele tem cobertores e travesseiros e uma
garrafa té rmica de chocolate quente esperando lá . Ele serve uma xı́cara
para cada um de nó s, coloca as tampas e entrega uma para mim. Eu me
aconchego em seus braços.
Tomo um gole e aponto para uma estrela. “Você pode nomear aquele?”
"Isso é Charlinium", diz ele com uma risada. “Porque é realmente
enorme e poderoso.”
Reviro os olhos para ele e aponto para outro.
“Aquele é Burritorium, porque tem a forma de um burrito.”
“Isso é Procyon, bobo,” digo a ele. “Onze anos-luz de distâ ncia.”
Ele se vira para olhar para mim. “Entã o tı́nhamos cerca de sete anos
quando aquela luz foi feita?”
Eu concordo. “Boa matemá tica. Foi també m quando você ganhou seu
primeiro skate, certo?”
Eu vejo os olhos de Charlie se arregalarem. "Como você sabia disso?"
Decido que també m posso contar a verdade a ele. Toda a verdade desta
vez. Nã o temos muito tempo juntos. "Charlie, naquela noite, quando nos
encontramos na estaçã o de trem... eu já conhecia você ."
Eu nã o posso dizer se ele está estranho ou assustado ou o quê . Seu
rosto está totalmente neutro, como se eu tivesse dito a ele que ia chover
amanhã ou algo igualmente benigno. "O que você quer dizer?"
Eu olho para o cé u. “Na escola primá ria, você passava pela minha janela
todas as manhã s ao amanhecer a caminho do treino de nataçã o.”
Eu esgueiro um olhar de soslaio para Charlie. Ele nã o parece assustado,
entã o eu continuo. “Na terceira sé rie, você começou a andar de skate.
Na sexta sé rie, você usava uma camisa de Ken Griffey Jr. todos os dias
por, tipo, um mê s. Na nona sé rie, você arrancou o cabelo. Eu esperei por
você . Foi a melhor parte do meu dia. Entã o, quando nos conhecemos,
você já fazia parte da minha vida.”
Termino minha con issã o e prendo a respiraçã o. Charlie nã o diz nada
por um tempo. També m nã o o pressiono, porque entendo que o que
acabei de divulgar é muito para absorver.
Finalmente, ele sai com isso. "Eu nã o posso acreditar que você ainda
gostou de mim depois que viu aquele corte de cabelo."
Eu ri. Deixe Charlie me fazer rir em um momento como este. Nã o me
julgar, mas simplesmente amar tudo o que faço e sou. Mesmo quando
estou admitindo ser o perseguidor mais imprová vel do mundo.
"Eu só queria ter olhado para cima", diz ele. “Entã o eu poderia ter
icado com você esse tempo todo.”
Ele nã o percebe o que eu sempre soube. Ele sempre esteve lá comigo.
"Você estava", eu digo a ele, entã o eu respiro fundo e pulo no fundo do
poço. "Eu te amo, Charlie."
Ele toca meu rosto. Olha nos meus olhos. As dele estã o cheias de
lá grimas, mas felizes. "Eu també m te amo."
Ele me puxa para ele e eu caio em seu beijo. Nó s nos beijamos por cada
estrela no cé u. Nó s nos beijamos por cada beijo que perdemos no
passado e por cada beijo que sentiremos falta no futuro.
Eu sei que minhas noites estã o icando contadas. Eu sei que meus dias
estã o icando curtos. Preciso aproveitar cada momento que me resta.
Eu me agarro a Charlie por toda a vida.
24

Estamos jogando cartas na minha casa algumas semanas depois. Estou


de initivamente mais cansado, mais trê mulo, mais frá gil do que antes. A
verdade é que meu aperto é tã o fraco que mal consigo manter minha
mã o escondida do resto dos jogadores – Charlie, Garver, Morgan, papai.
E, ah sim... Dr. Fleming. Ou Jessica, como papai agora a chama. E
estranho, mas ó timo.
Quando ela começou a me checar em casa a cada poucos dias, eu senti
que estava sendo um fardo enorme. Eu sei o quã o ocupado é o
consultó rio do Dr. Fleming e quantas crianças alé m de mim precisam
ser atendidas.
Mas logo icou claro que papai estava começando a esperar que ela
viesse mais do que apenas um tipo de pai de mé dico-paciente. Ele
vestia sua melhor camisa e sapatos, penteava o cabelo assim. Eu notei
antes dele.
"Você gosta dela", eu inalmente disse a ele.
"O que? Eu nã o sei do que você está falando,” ele respondeu, um rubor
rastejando em suas bochechas.
“Você sabe exatamente do que estou falando,” eu disse. "E adivinha? Eu
aprovo. Entã o vá em frente.”
Papai de alguma forma encontrou coragem para convidar a Dra.
Fleming – quero dizer Jessica – para jantar, e ela tem sido uma espé cie
de presença em nossa casa desde entã o. Papai está super feliz por nã o
ter que arriscar em um dos randos do site de namoro. Estou feliz por
deixá -lo em boas mã os. O Dr. Fleming cuidou muito de mim todos esses
anos; Estou con iante de que ela cuidará tã o bem de papai por mim
quando eu me for.
O terror que uma vez veio com pensamentos como esse praticamente
se foi agora també m. E é como foi com Zoe – uma vez que eu deixo de
lado o medo, saber que vou morrer em breve també m perdeu seu poder
sobre mim. Estou determinado a viver cada segundo que me resta ao
má ximo, por mais tempo que possa ser. Tudo e todos vã o icar bem. Eu
só sei. Eu nã o seria capaz de deixar ir quando chegasse a hora de outra
forma.
Charlie me vê lutando e estende a mã o como um porta-cartõ es
improvisado. Eu coloco minhas cartas em sua palma.
"Eu vou ligar", eu digo com um sorriso, sabendo que estou prestes a
chutar a bunda de todos com este.
Morgan estende a mã o sobre a mesa e varre minhas ichas para o
centro para mim. Eu viro minhas cartas da mã o de Charlie.
"Casa cheia. Estrondo. Ases sobre valetes.”
Todo mundo geme. Jessica balança a cabeça e abaixa a mã o de lixo.
“Eu tinha apenas um par”, diz ela. “E eles eram dois! Estou sem ichas.”
Morgan varre o pote inteiro para mim. “Você está o icialmente banida
do meu cassino, Katie.”

Nó s seis nos reunimos a cada duas noites nas pró ximas semanas.
Jogamos cartas, assistimos a ilmes, fazemos perguntas um ao outro do
meu velho Você prefere...? livro e geralmente apenas ter um bom tempo.
E incrı́vel ver meu pai tã o relaxado e ter algué m alé m de mim para sair,
mesmo que eu nã o tenha certeza de qual é o seu negó cio com Jessica.
E entã o, uma noite, depois que todos foram para casa e está vamos
apenas eu e meu pai na frente da TV, eu criei coragem para perguntar a
ele. "Entã o, tipo... você s estã o icando, ou ela está fazendo amizade com
você s?"
Meu pai me dá um olhar curioso. "Eu nem sei que idioma você está
falando, Katie."
Eu rio e tento novamente. "Quero dizer, você s estã o romanticamente
envolvidos ou apenas amigos ou o quê ?"
"O que ele disse.
"Você me ouviu", digo a ele, tentando ser severa. Eu realmente quero
saber. “Sua ilha moribunda merece uma resposta.”
“E eu lhe disse; minha resposta é o quê ”, diz ele. “Como se eu ainda nã o
tivesse uma resposta, Katie. Ela acaba de sair de um divó rcio. Nã o
namoro há vinte anos. Entã o vamos devagar. Ver o que acontece.”
Minha boca se abre. “Você está tentando me dizer que ainda nem a
beijou? Trê s semanas de encontros e ela nem merece um beijo de boa
noite?
As bochechas do meu pai icam rosa claro. “Estou sendo um
cavalheiro!”
"Como a Nike diz, apenas faça", digo a ele, fechando os olhos. Estou
cansado o tempo todo ultimamente. “Eu gosto dela, pai. Tu gostas dela.
Eu quero que você seja feliz. Mamã e gostaria que você fosse feliz.”
Antes de cochilar, eu o ouço dizer: “Quer saber? Ela meio que me
lembra sua mã e. Talvez você esteja certo."

Alguns dias depois, Morgan, papai e eu estamos assistindo a um jogo de


beisebol. Estou deitada no sofá coberta com meu cobertor favorito,
meus pé s dobrados sobre as pernas de Morgan. Meu pai se senta no
braço, acariciando meu cabelo. Desde que minha tremedeira icou mais
pronunciada e icou difı́cil de engolir, ele nã o sai do meu lado. Ele até
instalou um colchã o in lá vel ao lado da minha cama, caso eu precise de
algo quando estiver dormindo, o que é cada vez mais frequente nos dias
de hoje.
Durante o trecho da sé tima entrada, Charlie irrompe pela porta, cheio
de energia.
“Laptop, eu preciso de um laptop!” ele assobia.
Meu pai aponta para a mesa da sala de jantar, onde ele estava
trabalhando mais cedo. Charlie faz uma pausa para beijar o topo da
minha cabeça, entã o corre para pegá -lo. Ele se joga no chã o em frente
ao sofá e começa a digitar.
"Veja isso!"
Ele coloca o laptop na mesa de centro para que todos possamos ver o
que o deixou tã o empolgado. Ele aperta a tecla de retorno com um
loreio. Em vem um vı́deo do YouTube. E de mim, cantando “Charlie's
Song” no estú dio de gravaçã o.
Eu tenho que admitir, eu pareço bem. Realmente, muito bom. Eu até
pareço muito bem, també m.
Morgan suspira. "Oh meu Deus! O que é isto? Você é incrı́vel, Katie!”
Charlie sorri e dá de ombros. “E uma ilmagem da sessã o de gravaçã o
dela.”
Meu pulso acelera e me sinto mais brilhante, mais leve do que há dias.
“Você parece incrı́vel,” meu pai me diz. “Você é tã o linda, Katie. Você
sempre foi. Dentro e fora."
Eu ignoro o quã o brega isso soa e dou-lhe um sorriso.
“Olha esses comentá rios!” Exclama Morgan. “ Estou obcecado com isso.
Adoro a voz dela. Ela é tão gostosa — Ops, desculpe, Sr. P.”
Estou sorrindo tanto agora que sinto que meu rosto pode explodir de
felicidade.
“Espere, o que é isso?” E o ú nico comentá rio de um zilhã o que tem um
polegar para baixo.
"Oh aquilo? Isso nã o é nada,” Morgan diz enquanto ela tenta rolar por
ele. Eu estendo a mã o para detê -la.
“Eu tenho que me acostumar com os crı́ticos se minhas mú sicas vã o ser
lançadas para todos ouvirem,” eu digo. "Eu posso lidar com isso. Todo
cantor que eu já amei tem inimigos també m.”
"Tudo bem", diz Morgan com um suspiro. “Diz que as pessoas só gostam
dessa música porque sentem pena da garota moribunda cantando. O que
você sabe que é besteira total, certo, Katie? Desculpe por xingar, Sr. P,
mas é verdade.
Apesar do que eu disse sobre querer ouvir o feedback negativo, ainda
parece um soco no estô mago. Eu me pergunto se é verdade. As pessoas
só estã o ouvindo minha mú sica porque tê m pena de mim? Como eles
saberiam que eu era uma garota moribunda para começar?
"Por favor", diz Charlie. “Você viu o nome de quem escreveu isso?”
Eu balanço minha cabeça. Morgan rola de volta para ele, entã o sorri e
mostra para mim. 2LIT4U. Eu penso de volta para onde eu vi isso antes.
Certo. A placa de Zoe.
"Ha, essa podridã o de virilha lamejante simplesmente nã o vai desistir,
vai?" Morgan corvos. “Obviamente, você pode desconsiderar qualquer
coisa que ela tenha a dizer, Katie. Ela só está com ciú mes.”
"Sim, e veja o que mais está acontecendo", diz Charlie, excitaçã o
iluminando seus olhos.
Ele clica em um link ao lado e abre um novo vı́deo. E um vı́deo de
webcam de uma adolescente tocando violã o em seu quarto. Ela começa
a dedilhar, depois canta. "Cançã o de Charlie"!
Olho para o meu pai com espanto.
Charlie clica em outro link. Esta é uma garota diferente reinterpretando
a mú sica por trá s de um teclado. Outra ligaçã o. Tem um cara sentado no
parapeito da janela cantando a cappella.
"Olhe quantas pessoas você tocou", diz Charlie, uma urgê ncia em sua
voz que eu entendo muito bem. Ele quer dizer tocado antes que eu não
possa mais tocar em ninguém. “Agora o mundo inteiro pode ouvir você .”
Eu estendo a mã o lenta e dolorosamente para ele. Ele pega minha mã o
e a beija. Ele a segura com força. Ele nã o vai soltar.
"Eu preciso correr para a marina, Katie", ele me diz. "Mas estarei de
volta em uma hora ou mais."
“Eu quero ver esse iate digno de Beyoncé que você limpou durante todo
o verã o,” Morgan diz a ele.
“Temo que você vai perder sua chance,” Charlie diz a ela. "Senhor. Jones
vai sair de fé rias amanhã . Este é meu ú ltimo pequeno check-up antes de
ele ir.
"Ah, estalo", diz Morgan.
Charlie se inclina para perto de mim. "Vejo você em breve, ok?"
"Claro", eu digo. Ele começa a caminhar até a porta, e algo em mim me
diz que devo segui-lo. Tenho a sensaçã o de que talvez nã o esteja aqui
quando ele voltar.
Decido que nã o quero icar deitada aqui neste sofá esperando para
morrer. Eu quero ir naquela vela ao pô r do sol que Charlie e eu
conversamos. Eu quero estar no controle de como minha histó ria
termina. "Espere", eu digo. Ele sai com força, e todo mundo se vira para
olhar para mim. "Eu quero ir com ele", eu digo.
"Ir para onde, querida?" meu pai pergunta, preocupaçã o em todo o seu
rosto.
Eu luto para me empurrar para uma posiçã o sentada. “Eu quero ir com
Charlie... no barco. Agora." Nã o deixarei mais o XP tomar as decisõ es.
Nã o acabou até eu dizer que acabou. E acho que o que estou dizendo é …
estou pronto.
E como se todos na sala congelassem. Morgan olha para meu pai. Eu
nã o posso dizer se ela está esperando que ele diga sim ou nã o. Charlie
para, esperando por uma resposta. Meu pai parece pensativo.
“Talvez fosse melhor se você apenas se deitasse um pouco mais,” ele
inalmente diz.
Mas estou icando mais fraco a cada dia, a cada hora, a cada minuto.
Hoje é minha ú ltima chance. Eu sei isso. Eu provavelmente nã o terei um
amanhã mesmo se eu nã o for.
"Está tudo bem, pai", eu asseguro a ele. "Eu quero."
Meu pai me encara de volta, sem piscar. Eu sei que ele nã o estava
preparado para isso – eu fazendo uma ú ltima defesa pela
independê ncia e liberdade. Bem, ele vai ter que lidar com isso.
"Eu realmente quero", eu insisto.
Todos sabemos o que signi ica se eu for. Mas estou bem com isso.
Realmente estou. Eu tenho que ser. Nã o há outra escolha.
"Por favor", eu digo.
Meu pai dá um grande gole. Fecha os olhos. Finalmente acena que sim.
25

Charlie está esperando por mim no barco. Estou de pé no cais com meu
pai e Morgan, dizendo a ela que nã o há problema em chorar. Ela está
freneticamente tentando enxugar as lá grimas. Eu sei que ela está brava
consigo mesma por nã o ser estó ica neste momento, mas estou muito
bem com ela mostrando seus verdadeiros sentimentos.
Porque eu també m sinto. Eu nã o quero deixá -la. Ela nunca me deixou,
nem uma vez, mesmo quando todas as outras crianças o izeram.
Espero que ela nã o veja meu ú ltimo desejo como uma traiçã o à nossa
amizade.
"Isso doi?" meu pai pergunta. Nã o tenho certeza se ele quer dizer o sol
ou seu aperto em torno de mim. Mas també m nã o. Na verdade, nã o.
Eu abaixo o capuz do meu moletom e inclino meu rosto para o sol,
mantendo meus braços abertos. A luz me cobre. Eu me sinto
verdadeiramente em paz. “E uma sensaçã o incrı́vel. Parece melhor do
que eu imaginava.”
Eu me viro para encarar Morgan. "Eu te amo muito."
Ela me puxa para um abraço feroz. “Todo mundo é uma merda
comparado a você . Estou ferrado para a vida. Você me arruinou.”
"Bem, você me salvou", digo a ela. “Obrigado por nã o acreditar em Zoe
quando ela disse que eu era um vampiro.”
Morgan começa a rir em meio à s lá grimas. “Aquela puta? Eu te disse, ela
é o diabo real. Eu nunca teria me virado contra você .”
Eu balanço minha cabeça e sorrio para ela. “E você nunca fez isso.”
“E eu nunca vou.”
“Eu nã o sei.”
Eu me viro para encarar meu pai. Eu alcanço sua mã o. Estou olhando
para ele, tentando memorizar seu rosto. Cada linha, cada curva, cada
bigode. Tenho que agradecer a ele pela minha vida. Por tudo que amo e
estimo.
“Promete que vai se deixar ser feliz?”
Só posso deixá -lo e entrar neste barco agora se souber que ele cuidará
de si mesmo depois que eu me for. Amar e ser amado novamente. Siga
suas paixõ es até os cantos mais distantes da terra com algué m especial
ao seu lado, espero. Talvez Jessica seja a ú nica? E se nã o, algué m
merecedor do homem incrı́vel que ele é .
Papai acena com a cabeça, seu rosto cheio de emoçã o. "Eu prometo."
Abraçamo-nos com força. Quero engarrafar tudo o que fomos e izemos
um pelo outro e espalhar por todo o planeta. Deixe o mundo
experimentar como é a pura bondade.
“Eu nã o sei como o universo funciona, Katie,” meu pai diz, sua voz
embargada pelas lá grimas. “Mas obrigado por me escolher para ser seu
pai. Eu realmente amei cada segundo disso.”
Eu ri. "Eu nã o tenho certeza que é assim que funciona, mas de volta
para você ", eu digo. "Eu te amo."
"Te amo mais", meu pai me diz.
Eu balanço minha cabeça e sorrio para ele. "Nã o é possivel."
Eu me viro para Charlie, que está esperando para me ajudar a entrar no
barco. Aceno para meu pai e Morgan. "Meu primeiro passeio de barco",
eu digo, tentando aliviar o momento.
“Estarei bem aqui. Na doca. Esperando por você , ok?” Papai me chama.
Eu concordo. "Eu sei que você vai."

Charlie tem um braço em volta de mim com força enquanto dirige com
o outro. Ele parece lindo, forte, no controle. Ele é tudo que eu sempre
imaginei que ele seria e muito mais.
Minhas pernas se dobram sob mim. Eu estou tã o cansado. Ele olha para
mim e sorri. “Eu tenho você . Nã o se preocupe."
Olho para o horizonte, respirando o belo ar diurno. Deixando-me
aquecer nele. No sol. E uma mistura de cores que eu nunca vi antes –
um azul frio que se desvanece em roxo, que se mistura em um laranja
ardente, e tudo isso está caindo lentamente na beira da á gua. Parece
que é só para mim. Eu me viro para encarar Charlie. “Esperei minha
vida inteira para me sentir assim.”
Ele me beija, e eu gosto do sal de suas lá grimas.
“Eu també m”, diz ele.

"Ok, Katie, hora de voltarmos."


Abro os olhos e vejo que minha mã e está tocando seu violã o enquanto
diz isso. O sol está se pondo atrá s dela, e é como se o cé u estivesse
pegando fogo. E a coisa mais linda que eu já vi.
“Nã o podemos icar aqui para sempre?” Eu pergunto.
“Para sempre, hein? Isso é muito tempo.”
"Eu sei", eu digo, e estendo a mã o para dedilhar o violã o junto com ela.
“Bem, deixe-me perguntar uma coisa: você está se divertindo agora?”
Eu concordo.
“Entã o agora é tudo o que importa.”
Epílogo

Oi, Charlie,
Lamento ter perdido você no seu caminho para fora da cidade. Devo ter
saído para buscar suprimentos para minha grande viagem. Ou tiros. Já
faz um tempo desde que eu iz uma viagem onde você precisa de tiros, e
deixe-me dizer-lhe, eu não perdi essa parte. De qualquer forma, espero
que Berkeley o esteja tratando bem. E quanto ao seu pedido de desculpas,
bem, isso é apenas merda. Não foi culpa de ninguém – e certamente não
foi sua por mantê-la fora até tarde demais naquela noite. Eu não quero
que você pense isso, e ela também não iria querer. Sabíamos desde que
ela era jovem que cada dia era um presente. Além disso, devo agradecer.
Tudo o que eu sempre quis foi que minha garota fosse feliz. Você a fez
muito feliz, Charlie. E é bom saber que há mais uma pessoa por aí que
sabe o quão incrível Katie era. Mais uma pessoa por aí que a ama.
Katie queria que você icasse com o caderno dela. Ela me disse para lhe
dizer que você roubou tantas vezes que você pode icar com ele. Ela
também me disse para lhe dizer para ler a última página primeiro.
Oh! E você ouviu a música de Katie no rádio? Bem, é a sua música, eu
acho. Nomeado para você, de qualquer maneira. Morgan me ligou outro
dia e disse que ela e Garver ouviram no carro. Minha garota, no rádio.
Não que eu tenha duvidado que ela pudesse fazer isso.
Tome cuidado, Charlie. E não seja um estranho.
—Jack Price
Caro Charlie,
Sempre me senti mais confortável escrevendo letras de músicas do que
frases reais. Pelo menos quando estou escrevendo, não consigo divagar,
por mais nervoso que esteja.
Não há como articular o que você signi icou para mim desde aquele
momento em que nos vimos pela primeira vez. Ou a alegria que você me
trouxe desde que te vi pela primeira vez do lado de fora da minha janela.
Você me deu o mundo.
Você me ensinou a viver.
Mesmo que nosso tempo juntos tenha sido curto, as estrelas estão
queimando a cada momento. E a luz desses momentos brilhará pelos
próximos mil anos.
Espero que de alguma forma eu possa olhar para baixo e ver você,
Charlie. Para vislumbrar todos os momentos incríveis esperando por você.
E espero que você ocasionalmente pense em olhar para cima... e se
lembrar de toda a luz que izemos juntos.
Amor vinci onia.
Eu te amo, Charlie Reed.
Sobre o XP

Xeroderma pigmentoso, ou XP para abreviar, é uma doença hereditá ria


que afeta apenas uma em um milhã o de pessoas nos Estados Unidos e
na Europa. (Em alguns outros paı́ses e regiõ es do mundo, como Japã o e
Norte da Africa, isso acontece com mais frequê ncia, mas ainda é raro.)
Pessoas com XP tê m uma sensibilidade extrema aos raios ultravioleta e
icam gravemente queimadas depois de apenas alguns minutos ao sol. .
O dano ao DNA que isso causa nã o pode ser desfeito – apenas continua
se acumulando ao longo do tempo.
A pele vermelha e com bolhas, como as queimaduras solares que a
maioria de nó s já experimentou, é o menos importante. Ter essa
condiçã o rara també m signi ica ter um risco duas mil vezes maior de
contrair câ ncer de pele. Pessoas com XP també m podem sofrer de
complicaçõ es neuroló gicas, incluindo perda de visã o, audiçã o e
coordenaçã o; problemas para andar, mover-se e engolir; confusã o
mental; e convulsõ es. XP é normalmente diagnosticado na primeira
infâ ncia. Com extrema vigilâ ncia – sempre icando dentro de casa com
toda a luz do sol bloqueada e usando roupas de proteçã o, protetor solar,
ó culos de sol e um protetor facial se sair à luz do dia nã o puder ser
evitado – as pessoas com XP podem ter uma vida ú til normal. Mas
quando essas precauçõ es falham, pode haver consequê ncias
devastadoras.
Em Midnight Sun , tentamos ser o mais realistas possı́vel ao descrever
como é viver com XP. Ainda assim, é icçã o, e para contar essa histó ria
de amor, tivemos que tomar algumas liberdades. Por exemplo, nã o está
claro se a quantidade de exposiçã o ao sol que Katie recebe por icar
fora até tarde com Charlie teria desencadeado seus problemas
neuroló gicos, e seus sintomas provavelmente progrediram muito mais
rapidamente do que na vida real.
Para saber mais sobre o XP, consulte os seguintes links:

Acampamento Sundown, https://www.xps.org/camp-sundown


“Camp Sundown: Night Becomes Day”, The Skin Care Foundation Journal
, http://www.skincancer.org/true-stories/night
“O acampamento onde o sol nã o pode brilhar”, Daily Mail ,
http://www.dailymail.co.uk/news/article-2732665/The-camp-sun-t-
shine-Inside-dark-summer-camp -children-allergic-light.html
“Uma famı́lia transforma a noite em dia para uma criança com uma
doença de pele rara”, New York Times ,
http://www.nytimes.com/1997/05/14/nyregion/a-family-turns-
night-into-day -para-uma-criança-com-a-rare-skin-disease.html
“As crianças saem à noite”, Times Union ,
http://www.timesunion.com/local/article/The-kids-come-out-at-
night-4680456.php
Organizaçã o Nacional para Doenças Raras,
https://rarediseases.org/rare-diseases/xeroderma-pigmentosum
A Sociedade Xeroderma Pigmentosum, https://www.xps.org
Grupo de Apoio à Famı́lia XP, http://www.xpfamilysupport.org
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Sobre o autor

Trish Cook é autora de seis romances para jovens adultos, incluindo


Outward Blonde , Notes from the Blender e A Really Awesome Mess . Em
seu tempo livre, ela é corredora, remadora e aspirante a guitarrista. Ela
sonha em estar em The Amazing Race , mas o mais perto que ela chegou
foi chegar à rodada inal de casting para I Survived a Japanese Game
Show (e infelizmente nã o sobreviveu ao ú ltimo corte de elenco). Você
pode visitar Trish em trishcook.com.

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