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Artigo Original Mendes LCG et al.

PROPOSTA DE MÉTODO DE INSPEÇÃO DE RADIOPROTEÇÃO


APLICADA EM INSTALAÇÕES DE MEDICINA NUCLEAR*
Leopoldino da Cruz Gouveia Mendes1, Léa Mirian Barbosa da Fonseca2, Antonio Carlos Pires
Carvalho3

Resumo O objetivo principal deste trabalho é implantar um método de inspeção imparcial e eficiente, visando à uti-
lização segura e correta das radiações ionizantes no campo da medicina nuclear. Este método de inspeção
aqui proposto foi aplicado em 113 serviços de medicina nuclear do país, obedecendo a uma freqüência de
análise bienal (1996, 1998, 2000 e 2002). Foram estabelecidos 82 itens de radioproteção com pesos para
cada item, baseados nos fatores de risco, de acordo com as normas da Comissão Nacional de Energia Nu-
clear (CNEN) e as recomendações da Agência Internacional de Energia Atômica. Na análise do serviço, cada
item de não conformidade com as normas da CNEN gerou uma irregularidade de radioproteção, com seu
peso associado. O somatório dos pesos deu a cada serviço uma pontuação final que o classificou dentro de
três faixas de valores que determinaram uma tomada de decisão por parte do órgão regulador e fiscalizador:
funcionamento sem restrição — menor que 100 pontos; funcionamento com restrição — igual ou maior que
100 e menor que 300 pontos; funcionamento suspenso — igual ou maior que 300 pontos. Para o caso de
irregularidades reincidentes, criou-se um fator multiplicativo para a pontuação. A reincidência em qualquer
item de radioproteção (irregularidade) teve seu peso multiplicado por 2n, onde n era o número de vezes em
que o item encontrava-se irregular. O estabelecimento prévio de itens de radioproteção, com atribuição de
pesos para cada item, procurou minimizar os valores subjetivos e pessoais presentes no julgamento e na
avaliação técnica das instituições inspecionadas.
Unitermos: Medicina nuclear; Radioproteção; Normas; Inspeção.

Abstract Proposal of a radiological protection inspection technique for nuclear medicine facilities.
The main objective of this study is to implement an impartial and efficient inspection method for a correct
and secure use of ionizing radiation in nuclear medicine. The radiological protection model was tested in
113 nuclear medicine services (NMS) all over Brazil, following a biannual analysis schedule (1996, 1998,
2000 and 2002). In the analytical process, we adopted the methodology of assigning different importance
levels to each of 82 features, based on the risk factors established by the “Comissão Nacional de Energia
Nuclear” (CNEN) and on the International Atomic Energy Agency (IAEA) recommendations. A feature was
considered a radioprotection fault when in nonconformity with the rules mentioned above, and was imparted
a grade. The sum of those grades, classified the NMS in one of the three different ranges, as follows: op-
erating without restriction — 100 points and below; operating with restriction — between 100 and 300
points; temporary shutdown — above 300 points. Permission for the second group to carry on operation
should be attached to a defined and restricted period of time (6 to 12 months), considered enough for the
NMS to solve the problems and submit to a new evaluation. The NMS’s classified in the third group are
supposed to go back into operation only after compliance with all the pending radioprotection requirements.
Until the next regular evaluation, a multiplication factor 2n was applied to the recalcitrant NMS’s, where n
is the number of unwilling occurrences. The previous establishment of those items of radioprotection, with
their respective grades, excluded subjective and personal values in the judgement and technical evaluation
of the institutions.
Key words: Nuclear medicine; Radiation protection; Rules; Inspection.

INTRODUÇÃO pertenciam apenas a uma elite científica,


* Trabalho coordenado no Instituto de Radioproteção e Dosi-
metria da Comissão Nacional de Energia Nuclear (IRD-CNEN),
estenderam-se hoje no mundo globalizado
Rio de Janeiro, RJ. O uso comprovadamente crescente e di- a toda a população que vem se manifes-
1. Pesquisador Titular do IRD-CNEN.
versificado das radiações ionizantes nas tando de modo contundente através de de-
2. Professora Titular de Medicina Nuclear, Coordenadora do
Programa de Pós-Graduação da Faculdade de Medicina da Uni- áreas da medicina, indústria, agricultura, bates, indagações e questionamentos sobre
versidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ).
3. Professor Adjunto do Departamento de Radiologia, Coor-
pesquisa e nas atividades nucleares relati- o tema. Assim sendo, as instituições que
denador Adjunto do Programa de Pós-Graduação em Radiolo- vas à produção de energia não pode, de operam com radiações ionizantes devem
gia da Faculdade de Medicina da UFRJ.
Endereço para correspondência: Leopoldino da Cruz Gouveia
modo algum, ser dissociado de preocupa- focalizar suas pesquisas visando à incorpo-
Mendes. Rua Décio Vilares, 335, ap. 202, Copacabana. Rio de ções igualmente crescentes de segurança ração e à implementação de novas tecno-
Janeiro, RJ, 22041-040. E-mail: leo@ird.gov.br
Recebido para publicação em 18/3/2003. Aceito, após re-
radiológica traduzida em radioproteção. logias de radioproteção de forma a buscar
visão, em 11/7/2003. Essas preocupações que, até recentemente, um maior benefício efetivo ao homem(1,2).

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Proposta de método de inspeção de radioproteção aplicada em instalações de medicina nuclear

A Comissão Nacional de Energia Nu- “Requisitos de radioproteção e segurança ções de radioproteção em medicina nu-
clear (CNEN) tem por objetivo assegurar para serviços de medicina nuclear”(7). Es- clear no país.
que as instalações que utilizam radiações tes aspectos começam pela qualificação do Inicialmente, atribuiu-se o valor máxi-
ionizantes façam-no corretamente, dentro responsável técnico (médico nuclear), pas- mo de pontuação para aquelas irregulari-
dos critérios e das normas de radioprote- sando pelas instalações físicas e equipa- dades na presença das quais, segundo a
ção. Isto vem garantir que os níveis de ra- mentos de radioproteção indispensáveis, norma 3.05 da CNEN, um SMN não pode
diação sejam tão baixos quanto razoavel- chegando, até, aos procedimentos de ma- ser autorizado a funcionar. São considera-
mente exeqüíveis, acarretando, conse- nipulação de fontes e ao rejeito gerado. dos requisitos essenciais a qualificação e
qüentemente, a minimização da exposição Existe, portanto, um amplo espectro de certificação técnica dos profissionais do
às radiações ionizantes da população como possíveis irregularidades com diferentes SMN, a instrumentação básica de radio-
um todo. níveis de gravidade, devido à característica proteção e as instalações físicas(11,12).
A aceitação da energia nuclear e suas multidisciplinar da medicina nuclear(8,9). A falta de qualquer um dos itens acima
mais diversas aplicações por parte da po- Foram, por esta razão, estabelecidos pe- significa uma grave irregularidade que, se-
pulação estão associadas aos benefícios sos para cada irregularidade, tendo-se gundo as normas da CNEN, acarreta a sus-
decorrentes dessas atividades e à garantia como referência as normas regulatórias da pensão das atividades do serviço. Para es-
de que a incorporação dessa tecnologia CNEN e levando-se em consideração os ses casos, atribuiu-se a pontuação máxima
seja, rigorosamente, feita à luz dos critérios riscos associados a cada item. de 300 pontos. Este número, que é aleató-
atuais de segurança. A introdução desses pesos tornou pos- rio e tem apenas valor relativo, surgiu em
Existem no país aproximadamente 360 sível a quantificação das irregularidades, função do somatório das irregularidades de
serviços de medicina nuclear (SMN) in considerando-se a gravidade dos riscos menor risco e de ajustes que, somados, sig-
vivo, 59% localizados na região Sudeste, oriundos desta prática médica. Este méto- nificavam alto risco para os profissionais
16% na região Sul, 15% na região Nordes- do de inspeção de radioproteção possibi- ocupacionalmente expostos, para o públi-
te, 8% na região Centro-Oeste e 2% na litou maior objetividade, imparcialidade e co e para o meio ambiente, principalmente
região Norte. uniformidade da fiscalização, abrindo um nos casos de Serviços que administravam
O número estimado de câmaras de cinti- amplo horizonte para que outras áreas doses terapêuticas com iodo-131 (131I)(7,12).
lação (gamacâmaras) em operação no país adotem e aprimorem o referido método em Em 1996, 1998, 2000 e 2002, aplicou-
é de 400, sendo 100 câmaras planares e seus programas de inspeção. se este método de pontuação nas inspe-
300 tomográficas (SPECT). Existem ainda ções, a nível experimental. Entretanto, ve-
no país 30 cintígrafos retilíneos em uso. MATERIAIS E MÉTODOS rificou-se, neste período, uma falha no
Todos os SMN contam com pelo me- método para os casos de serviços que apre-
nos um medidor de atividade (curiômetro), O método de inspeção de radioproteção sentavam baixa pontuação e que, portan-
totalizando 420 unidades. Quanto aos proposto neste estudo foi aplicado em 113 to teoricamente, poderiam conviver com
equipamentos tomográficos por emissão de instalações de medicina nuclear do país, pequenas irregularidades, sem a possibili-
pósitrons (PET), apesar de sua importân- com a introdução de pesos para cada irre- dade de atingir a pontuação máxima e, con-
cia começar a despontar nos países mais gularidade encontrada no serviço de não seqüentemente, não teriam necessidade de
desenvolvidos, ainda não faz parte da rea- conformidade com as normas da CNEN e repará-las. Sendo assim, foi introduzido
lidade da rotina da medicina nuclear des- com recomendações da Agência Interna- um fator multiplicativo para as irregulari-
te país(3,4). cional de Energia Atômica (AIEA)(10). Essa dades reincidentes, igual a 2n, onde n é o
O presente método de inspeção de ra- idéia de ponderar as irregularidades foi, ao número de vezes em que o item foi encon-
dioproteção aborda as etapas da fiscaliza- longo dos anos, sendo aprimorada para trado irregular. Os serviços que apresenta-
ção de responsabilidade da CNEN, em realçar as mais atuais e urgentes carências vam baixas pontuações, ou seja, irregula-
SMN no país e, ao mesmo tempo, quanti- da radioproteção em SMN do país, em ridades de baixos riscos, mas que não as re-
fica o desempenho destas instituições em função dos avanços tecnológicos, princi- parassem, teriam a sua pontuação aumen-
termos de radioproteção, através de pon- palmente na área de instrumentação e de tada exponencialmente a cada inspeção
tuação das irregularidades observadas. radiofármacos. realizada, podendo chegar até à suspensão
A sistemática adotada nas inspeções re- A escolha dos SMN neste programa das atividades.
gulatórias ocorre com uma freqüência bie- obedeceu a dois critérios básicos. O pri- No Quadro 1 encontram-se as três fai-
nal. O processo de licenciamento inicial e meiro constituiu no número e diversidades xas de pontuação utilizadas.
de renovação periódica para o funciona- de exames realizados, sendo então escolhi-
mento dos SMN requer uma fiscalização das instalações de médio e grande porte Quadro 1 Faixas de pontuação.
e um relatório técnico conclusivo(5–7). que atendessem a este critério. O segundo
Soma dos pesos (P) Recomendação
A metodologia adotada neste programa critério foi a localização geográfica, de for-
envolve aspectos de radioproteção e con- ma a abranger as regiões Norte, Nordeste, ≥ 300 Suspensão
≥ 100 e < 300 Com restrições
trole de qualidade de imagem estabeleci- Sul, Sudeste e Centro-Oeste, possibilitan-
< 100 Sem restrições
dos na norma específica CNEN NE 3.05 do uma análise representativa das condi-

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Mendes LCG et al.

Critérios de pontuações Quadro 2 Pesos atribuídos.


Exigências normativas Pesos (P)
Os critérios utilizados para pontuar as 99m
Blindagem adequada para o gerador de tecnécio-99m ( Tc) 100
irregularidades tiveram como ponto de par-
Blindagem adequada para as fontes em uso 100
tida as normas da CNEN e as recomenda-
Blindagem adequada para a porta do quarto terapêutico 100
ções da AIEA(7,12). Entretanto, a experiên-
Segurança física adequada para o acesso ao depósito de rejeitos radioativos 100
cia prática e uma visão mais aprofundada
Blindagem adequada para o depósito de rejeitos radioativos 100
do funcionamento de um SMN foi funda-
Utilização exclusiva do laboratório de rejeitos para a guarda de fontes e rejeitos radioativos 100
mental para a avaliação dos riscos associa-
Realização periódica do controle de qualidade da gamacâmara 100
dos a esta prática médica.
Verificou-se, por exemplo, em levanta-
mentos radiométricos na sala de manipu- mento e transporte interno. A realização de feita diariamente após a jornada de traba-
lação de fontes, que as blindagens das fon- treinamento periódico de radioproteção lho, com vistas a detectar possíveis conta-
tes em uso, incluindo o gerador de tecné- com todo o pessoal do “staff”, principal- minações do local e evitar que essas con-
cio, quando insuficientes, aumentam con- mente com os técnicos responsáveis pela taminações sejam levadas até as residências
sideravelmente os níveis de radiação am- manipulação, é fundamental para a redu- dos profissionais que manipulam as fontes.
biental do serviço como um todo. Esta irre- ção dos riscos e a prevenção de incidentes Quanto ao curiômetro, o controle de
gularidade causava não só o aumento das e acidentes com fontes abertas(7,8). qualidade é determinante para assegurar
doses individuais, mas contribuía para a No que se refere ao transporte interno, que a atividade administrada ao paciente
perda de qualidade dos exames cintilográ- alguns SMN que realizam aplicações tera- seja aquela prescrita pelo médico, evitan-
ficos devido à grande sensibilidade das câ- pêuticas devem dispor de procedimentos do-se doses excessivas ou doses insuficien-
maras de cintilação modernas. Atribuíram- de radioproteção para o transporte de fon- tes levando à repetições de exames ou à
se 100 pontos para esta falha. A mesma tes, uma vez que as atividades envolvidas baixa da qualidade do diagnóstico.
pontuação é conferida para a deficiência de de 131I são relativamente altas. A falta des- Os sete itens seguintes referem-se ao la-
blindagem nos locais de preparo e diluição ses procedimentos é, particularmente, mais boratório de manipulação — conhecido
de fontes e na porta do quarto terapêutico. grave quando se trata de um SMN que uti- como “sala quente” —, no que diz respei-
Alguns SMN têm o depósito de rejeito liza quarto terapêutico fora das dependên- to aos aspectos de instalações físicas, blin-
fora da área física da instalação, existindo cias de sua instalação. dagens das fontes e equipamentos de pro-
risco de invasão por pessoas não autoriza- Os dois itens seguintes do Quadro 3 re- teção individual.
das. Por esta razão, atribuiu-se pontuação ferem-se à administração de radiofármacos O laboratório de guarda e manipulação
alta à falta de segurança física do depósito e à sala de ergometria. No primeiro caso, a de fontes, ou “sala quente”, deve guardar
de rejeito. Ainda com relação a este depó- existência de lixeira blindada no local de algumas peculiaridades físicas, tais como
sito, é comum a sua utilização para a guar- administração de doses, bem como a segre- paredes e pisos lisos e impermeáveis. Isto
da de outros materiais que não são rejei- gação e guarda dos rejeitos radioativos, se deve ao fato de ser um local onde ocor-
tos radioativos. Isto ocorre, principalmen- evitam a exposição continuada dos profis- re, com frequência, pequenos incidentes de
te, quando o serviço cresce e há falta de es- sionais que trabalham nessa atividade. respingo ou mesmo quebra de recipientes
paço, aumentando o risco para as pessoas Quanto à sala de ergometria, com adminis- contendo material radioativo. Essas carac-
que entram nesse local e se expõem, des- tração de radiofármacos, deve ser realizado terísticas facilitam a descontaminação.
necessariamente, às radiações(5,8). o mesmo procedimento, seguido de moni- Quanto à blindagem das fontes e dos re-
Quanto à exigência do controle de qua- toração de contaminação de superfície, jeitos, ela é fundamental para a segurança
lidade das gamacâmaras, tanto planares principalmente em se tratando dos casos de todos os profissionais do serviço, prin-
quanto tomográficas, trata-se de uma me- em que esses procedimentos se realizam cipalmente daqueles que manipulam as
dida que visa à segurança e à qualidade do fora da área do SMN. fontes, mantendo os níveis de exposição os
exame cintilográfico. Com esta medida, Os cinco itens seguintes do Quadro re- mais baixos possíveis. A mesma preocupa-
obtém-se melhor qualidade de imagem, ferem-se aos instrumentos de medidas de ção deve ser estendida ao laboratório de
que beneficia o paciente e evita repetições. radioproteção e ao curiômetro. O encami- rejeito nos três itens seguintes.
Este benefício estende-se também aos pro- nhamento dos monitores para calibração O quarto terapêutico, enfocado nos dez
fissionais que realizam os exames com a com freqüência bienal é fundamental para itens seguintes do Quadro 3, é de especial
redução da exposição às radiações. assegurar a medida correta dos níveis de importância dentro de um SMN, porque se
No Quadro 2 encontram-se listadas as radiação das áreas restritas, a qual deve ser trata de um procedimento que envolve alta
pontuações estabelecidas nesses casos. realizada quinzenalmente, com o objetivo atividade de 131I, com risco de contamina-
No Quadro 3 encontram-se listadas as de verificar se as barreiras protetoras se ção resultante dessa atividade(9). Os cuida-
irregularidades de risco intermediário às mantêm suficientes. dos começam pela escolha do local, que
quais foram atribuídos 50 pontos. O Qua- A monitoração de contaminação de su- deve ser restrito, de forma a evitar a circu-
dro 3 inicia-se com os aspectos de treina- perfícies na sala de manipulação deve ser lação de pessoas próximas ao quarto. Os

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Proposta de método de inspeção de radioproteção aplicada em instalações de medicina nuclear

pisos e paredes devem ser lisos, tanto do buleta contendo informações sobre o pro- No Quadro 4 encontram-se listadas as
quarto como do sanitário exclusivo. O trei- cedimento, além da colocação do símbo- irregularidades que apresentam pontuação
namento do pessoal de enfermagem é es- lo internacional de radiação. Na saída do média (30 pontos). Essa relação começa
sencial, uma vez que o local apresenta-se paciente, o quarto deve ser monitorado e pelo uso do sanitário exclusivo, somente
altamente contaminado e o paciente é uma descontaminado utilizando-se um monitor para pacientes com dose administrada.
fonte com grande poder de irradiação. de contaminação de superfície(8). Uma pessoa do público ou mesmo um pro-
Cuidados especiais de radioproteção No Quadro 3 encontram-se listadas as fissional do “staff” não deve utilizar esse
devem ser tomados externamente, na por- pontuações para a falta dos atributos dis- sanitário, devido à grande possibilidade de
ta do quarto, através da colocação de ta- cutidos nos parágrafos anteriores. contaminação.
O segundo item desse Quadro diz res-
Quadro 3 Pesos atribuídos. peito ao sistema de extração de ar. Este dis-
Exigências normativas Pesos (P) positivo é essencial para SMN que reali-
Dar treinamento de radioproteção periódico ao pessoal ocupacionalmente exposto 50 zam estudos de ventilação pulmonar ou
Adequar os procedimentos de radioproteção para o transporte interno de fontes 50 que manipulam substâncias voláteis.
Providenciar na sala de administração de radiofármacos uma lixeira blindada ou procedi- O terceiro item é referente à informação
mento adequado de segregação e guarda de rejeitos radioativos 50 das doses individuais dos profissionais
Providenciar na sala de ergometria com administração de radiofármacos uma lixeira blin- ocupacionalmente expostos. O responsá-
dada ou procedimento adequado de segregação e guarda de rejeito 50
vel pela radioproteção deve informar so-
Realizar monitoração de contaminação de superfície antes da liberação da sala de ergo-
metria de radiofármacos para outros exames 50
bres as doses individuais pessoalmente ou
Encaminhar para calibração o monitor de taxa de exposição 50 pela fixação desses resultados em quadro
Adequar a freqüência das medidas de taxa de exposição quinzenalmente 50 de aviso próprio.
Encaminhar para calibração o monitor de contaminação de superfície 50 Os itens seguintes referem-se à questão
Adequar a freqüência das medidas de contaminação de superfície diariamente 50 do acesso às áreas restritas do serviço, tais
Realizar o controle de qualidade do curiômetro 50 como sala de pacientes com doses injeta-
Modificar o piso da “sala quente” de forma a facilitar o processo de descontaminação 50 das, sala de administração de radiofárma-
Modificar as paredes da “sala quente” de forma a facilitar o processo de descontamina- cos, sala de ergometria, sala de exames,
ção 50 “sala quente”, sala de rejeitos e quarto te-
Providenciar na “sala quente” uma lixeira blindada ou procedimento adequado de segre- rapêutico. Nesses locais, o acesso é somen-
gação e guarda dos rejeitos radioativos 50
te permitido a pessoas com controle dosi-
Modificar a blindagem do gerador de tecnécio-99m (99mTc) 50
métrico e, excepcionalmente, a pessoas
Modificar a blindagem do local de diluição e marcação do fármaco 50
Modificar a blindagem das fontes em uso 50
autorizadas pelo responsável pela radio-
Utilizar equipamentos de proteção individual 50
proteção(12). O não cumprimento dessa
Modificar o piso da sala de rejeitos radioativos de forma a facilitar o processo de descon- exigência pode levar pessoas do público a
taminação 50 ultrapassarem os limites de dose estabele-
Modificar as paredes da sala de rejeitos radioativos de forma a facilitar o processo de cidos em normas da CNEN, trazendo ris-
descontaminação 50 cos de contaminação externa e interna por
Modificar a blindagem dos rejeitos radioativos 50 radionuclídeos.
Escolher o quarto terapêutico em local de pouca circulação de pessoas, de preferência
No Quadro 5 estão dispostas as irregu-
em final de corredor 50
Treinar a enfermagem que atende aos pacientes do quarto terapêutico 50
laridades com pesos iguais a 20, começan-
Providenciar dosímetro individual para a enfermagem do quarto terapêutico 50
do pela monitoração individual externa. O
Utilizar o monitor de contaminação de superfície para liberar o quarto terapêutico e o SMN deve providenciar um laboratório de
monitor de taxa de exposição para liberar o paciente 50 dosimetria autorizado pela CNEN.
Modificar os procedimentos de radioproteção na aplicação da dose terapêutica 50 O segundo item do Quadro 5 trata do
Modificar o piso do quarto terapêutico de forma a facilitar a descontaminação 50 local de guarda do dosímetro no SMN.
Modificar as paredes do quarto terapêutico de forma a facilitar o processo de desconta- Este local deve localizar-se em área livre
minação 50
e protegido da umidade de forma a evitar
Modificar o piso do quarto terapêutico de forma a facilitar o processo de descontamina-
ção 50
que seus resultados sejam mascarados por
Modificar as paredes do sanitário do quarto terapêutico de forma a facilitar o processo de
alterações não advindas do trabalho com
descontaminação 50 radiação ionizante.
Colocar uma tabuleta na porta do quarto terapêutico com as seguintes informações: Os sete itens seguintes versam sobre os
1 – atividade do iodo-131 (131I) administrado registros de dose acumulada, monitoração,
2 – data e hora da administração 50 inventário de rejeitos, ocorrências radioló-
3 – nome do supervisor de radioproteção gicas, controle de qualidade do curiôme-
4 – número do telefone do supervisor de radioproteção para o caso de emergência
tro e da gamacâmara. Esses registros são
5 – taxa de exposição a 1 metro do paciente (diária)
fundamentais para o bom funcionamento

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Mendes LCG et al.

Quadro 4 Pesos atribuídos. do SMN, tanto na radioproteção do pes-


Exigências normativas Pesos (P) soal quanto na qualidade do diagnóstico,
porque permitem acompanhar o desenvol-
Permitir o uso do sanitário exclusivamente para pacientes com doses injetadas 30
Providenciar um sistema de extração de ar na “sala quente” para aplicação de doses de
vimento dos equipamentos e seu grau de
ventilação pulmonar ou manipulação de radiofármacos voláteis 30 deterioração ao longo do tempo(11).
Informar aos trabalhadores do serviço de medicina nuclear as doses registradas nos dosí- Os itens seguintes referem-se à sinali-
metros individuais 30 zação com o símbolo internacional de ra-
Permitir o acesso à sala de administração de radiofármacos somente aos pacientes inje- diação nas áreas restritas do serviço, a qual
tados, funcionários ou pessoas autorizadas pela radioproteção 30
tem como finalidade alertar pessoas não
Permitir o acesso à sala de ergometria com administração de doses somente aos pacien-
tes, funcionários ou pessoas autorizadas pela radioproteção 30 autorizadas sobre o perigo das radiações
Permitir o acesso à sala de exames somente aos pacientes injetados, funcionários ou ionizantes(10).
pessoas autorizadas 30 Ainda no Quadro 5 trata-se de aspec-
Permitir o acesso à “sala quente” somente aos funcionários ou pessoas autorizadas 30 tos de radioproteção na “sala quente”, sala
Permitir o acesso à sala de rejeitos somente aos funcionários ou pessoas autorizadas 30 de rejeitos e quarto terapêutico. Na “sala
Permitir o acesso ao quarto terapêutico somente aos funcionários ou pessoas autorizadas quente”, as forrações das bancadas com
pela radioproteção 30
plástico e papel absorvente facilitam, enor-
memente, o trabalho de descontaminação.
Quadro 5 Pesos atribuídos. A profundidade da pia evita contaminação
Exigências normativas Pesos (P) do pessoal através de respingos de material
Providenciar um laboratório de dosimetria individual autorizado pela CNEN 20 radioativo. A torneira deve ser utilizada
Providenciar um local adequado para a guarda dos dosímetros individuais 20 sem a necessidade do uso das mãos, para
Criar o registro de dose acumulada no período de 12 meses 20 evitar sua contaminação após o processo
Criar o registro de monitoração de taxa de exposição 20 de manipulação ou de marcação dos radio-
Criar o registro de monitoração de contaminação de superfície 20 fármacos, em que, facilmente, tem-se as
Criar o registro de inventário de rejeitos radioativos 20 luvas contaminadas. Procedimentos de
Criar o registro de ocorrências radiológicas 20 manipulação inadequados devem ser cor-
Criar o registro de controle de qualidade do curiômetro 20 rigidos porque acarretam danos resultan-
Criar o registro de controle de qualidade da gamacâmara 20 tes da ampliação da contaminação para
Sinalizar a sala de espera de pacientes injetados com o símbolo internacional de radiação 20 outras áreas do serviço.
Sinalizar o sanitário para pacientes injetados com o símbolo de radiação 20 Na sala de rejeitos radioativos é parti-
Sinalizar a sala de administração de radiofármacos 20 cularmente importante a segregação dos
Sinalizar a sala de ergometria 20
radionuclídeos em compartimentos blinda-
Sinalizar a sala de exames 20
dos com embalagens adequadas. Essa se-
Sinalizar a “sala quente” 20
gregação evita que o técnico se exponha,
Sinalizar a sala de rejeitos radioativos 20
desnecessariamente, às radiações durante
Sinalizar o quarto terapêutico 20
a manipulação dos rejeitos para o seu des-
Adequar a frequência dos testes de controle de qualidade da gamacâmara à norma da CNEN
(peso por teste) 20 carte(7,10). O tempo de armazenamento ade-
Encaminhar para a CNEN as cópias dos certificados das fontes padrões de referência 20 quado é fundamental para evitar a conta-
Adequar a profundidade da pia na “sala quente” 20 minação de pessoas e do meio ambiente.
Trocar a torneira, dentro da “sala quente”, por uma controlada sem o uso da mãos 20 Finalmente, no quarto terapêutico tam-
Forrar as bancadas ou qualquer superfície de manipulação de fontes com plástico e papel bém é de fundamental importância a colo-
absorvente 20 cação de um biombo blindado entre a por-
Sinalizar adequadamente as fontes em uso 20 ta e o leito para a proteção do pessoal da
Rever os procedimentos de manipulação das fontes 20 enfermagem, durante os procedimentos
Providenciar compartimentos blindados para a guarda de rejeitos radioativos segregados
com o paciente. Os objetos do quarto de-
por tempos de decaimento próximos 20
Remover as sinalizações de radiação das embalagens antes da liberação como lixo hos-
vem ser revestidos porque são passíveis de
pitalar 20 contaminação.
Rever procedimento de segregação 20 O Quadro 6 mostra os itens de menor
Embalar os rejeitos de forma adequada 20 peso, mas que têm sua importância para o
Reembalar os rejeitos radioativos 20 funcionamento de um SMN. Os dados ca-
Sinalizar os rejeitos radioativos com o símbolo de radiação, nome do isótopo, taxa de ex- dastrais são essenciais para a comunicação
posição na superfície e data de descarte 20 com o órgão fiscalizador, que vai desde
Recalcular o tempo de armazenamento dos radionuclídeos 20
uma simples informação burocrática até
Providenciar um biombo blindado no quarto terapêutico 20
uma comunicação de um acidente com
Revestir os objetos passíveis de contaminação 20
fontes radioativas.

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Proposta de método de inspeção de radioproteção aplicada em instalações de medicina nuclear

Quadro 6 Pesos atribuídos. A partir de 1996, levantaram-se os va-


Exigências normativas Pesos (P) lores de dose acumulada anual dos profis-
Regularizar os dados cadastrais junto à CNEN 10 sionais envolvidos diretamente na manipu-
Requisitar à CNEN aumento da atividade dos radionuclídeos 10 lação das fontes radioativas. São profissio-
Providenciar dosímetro individual para funcionário (peso por funcionário) 10 (20)* nais que, geralmente, recebem a maior car-
* Este peso poderá ser revisto em função da importância do controle pessoal de dose. ga de exposição às radiações, devido à na-
tureza de suas funções. Dentro do “staff”
O uso de atividades de radionuclídeos ta o total de itens averiguados, sendo o re- são ligados à radiofarmácia e têm, como
acima dos valores autorizados pode, em sultado expresso por: função principal, a eluição do gerador de
99m
caso de perda ou sinistro da fonte, dificul- 82 Tc, a marcação de moléculas, o fracio-
tar a sua identificação e o seu controle. ∑2nPiXi namento, a diluição e a administração de
i=1
O controle dosimétrico é fundamental onde o fator 2n incide sobre cada item rein- doses em pacientes.
para o acompanhamento das doses ocupa- cidente e n e i são números inteiros positi- Existe, portanto, correlação direta nos
cionais e para a tomada de decisões em vos. valores de doses individuais desses profis-
casos de acidentes e incidentes. O método é concluído com as equações sionais com as condições de radioproteção
de restrição para o somatório acima des- do serviço, a carga de trabalho e com os
Cálculo da pontuação procedimentos de manipulação de fontes.
crito, que levará à determinação das san-
A avaliação de proteção radiológica dos ções a serem adotadas quanto ao funcio- Verificou-se que nos serviços que obti-
SMN no Brasil, através da obtenção de namento da instalação. veram altos valores de pontuação devido
determinado número de pontos e classifi- Para continuar em funcionamento sem a irregularidades de radioproteção, a dose
cação dentro de faixas de valores que de- restrições: acumulada anual dos profissionais direta-
terminaram a orientação do órgão regula- 82 mente expostos às radiações era, em geral,
dor e fiscalizador (funcionamento sem res- ∑2nPiXi < 100 mais alta do que naqueles serviços que
i=1
trição, com restrição e suspensão), respei- apresentaram baixa pontuação. Entretan-
Para funcionamento com restrições:
ta um método definido pela determinação 82
to, verificou-se, por outro lado, que exis-
de algumas variáveis e a relação entre elas: 100 ≤ ∑2nPiXi < 300 tiam serviços com baixos níveis de pontua-
i = item investigado (por exemplo, blin- i=1 ção e doses elevadas. Este fato deveu-se,
dagem,...); Para suspensão das atividades do Ser- principalmente, a falhas sistemáticas de
Pi = peso do item i (pontuação atribuí- viço até o cumprimento das medidas de se- procedimentos de manipulação, ou seja,
da ao item i) (Quadros de 2 a 6); gurança: contaminação das mãos ao retirar as luvas,
82
Xi = ocorrência de irregularidade no tocar em objetos e utensílios do laborató-
∑2nPiXi ≥ 300
item i (variável binária); i=1 rio com as luvas, sair do laboratório para
n = número de reincidências da irregu- Este método de inspeção de radiopro- as áreas livres sem a devida monitoração
laridade no item i; teção adotou 82 itens de irregularidades, (uso incorreto de equipamentos de prote-
2n = fator multiplicador da irregulari- baseados na atual norma NE 3.05 da ção individual) ou de excesso de carga de
dade reincidente; CNEN(7). Foram atribuídos pesos (10, 20, trabalho (falta de revezamento adequado)
82 = número total de irregularidades 30, 50, 100 e 300) para cada irregularida- por parte dos técnicos responsáveis pela
(exigências não cumpridas). de observada, de acordo com o risco asso- manipulação de fontes.
A execução dessa metodologia requer, ciado. No entanto, esses valores são per- Os resultados apresentados na Figura 1
como apoio, uma tabela de pesos de cada feitamente mutáveis e, portanto, passíveis mostram mudanças significativas no de-
item a ser avaliado nas inspeções. A cada de mudanças com o tempo, em decorrên- sempenho das 113 instituições inspeciona-
inspeção duas variáveis são observadas: cia de modificações da norma ou de novos das em todo o país.
• Xi: verificação da incidência de pro- conceitos de radioproteção, sem prejuízo A implementação das ações corretivas
blemas em cada um dos itens pontuados no para o método em discussão. de radioproteção por parte dos SMN, ad-
Quadro 5. Em caso de incidência, toma-se vindas do programa de inspeção, sob a
Xi = 1, caso contrário, Xi = 0. RESULTADOS égide da norma 3.05 da CNEN e do apri-
• n: verificação da reincidência de um moramento qualitativo do ensino de radio-
problema em determinado item. Neste Este método de inspeção de radiopro- proteção nas residências médicas, possibi-
caso, o inspetor deve ter em mãos a inspe- teção foi aplicado em 113 instalações a litou um salto significativo no desempenho
ção anteriormente realizada. Caso o pro- partir de 1996, com frequência bienal en- dos serviços em todo o país.
blema esteja ocorrendo pela primeira vez, tre uma inspeção e outra, obedecendo à Os valores de dose dos profissionais
toma-se n = 0, caso contrário, n será igual norma 3.05 da CNEN e às recomendações ocupacionalmente expostos nas sucessivas
ao número da reincidência (1, 2, 3,...). da AIEA. inspeções (1996, 1998, 2000 e 2002) fo-
Concluída a inspeção, o serviço rece- Foram analisados 82 itens de radiopro- ram sendo reduzidos em virtude da otimi-
be uma pontuação geral levando em con- teção em cada SMN inspecionado. zação dos sistemas de radioproteção e do

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Mendes LCG et al.

aprimoramento dos procedimentos de ma-


Primeira inspeção – 1996 Segunda inspeção – 1998
nipulação das fontes radioativas.
Com restrições Com restrições
Outro fator de relevância observado Sem restrições
Sem restrições
neste programa de inspeção foi o aumento
de especialistas em radioproteção e contro-
le de qualidade da instrumentação, atuan-
do nos SMN. O aumento desses profissio-
nais na área de medicina nuclear tem sido Suspensão
Suspensão
imposto pelo avanço tecnológico da instru-
Terceira inspeção – 2000 Quarta inspeção – 2002
mentação de imagem, deixando o médico
nuclear cada vez mais voltado para as Com restrições Com restrições
Sem restrições Suspensão Sem restrições
questões médicas propriamente ditas: o
diagnóstico e a terapia dos pacientes.

Índice de correlação
Suspensão
A validação do método pode ser obser-
vada pelo aumento do índice de correlação Figura 1. Resultados das inspeções realizadas.
entre as variáveis resultado e dose acumu-
lada anual ao longo dos anos (Quadro 7). A partir da terceira inspeção, realizada
Variável 1: resultado (pontos obtidos). em 2000 (Figura 3), verifica-se certa aco-
Variável 2: dose acumulada anual (mSv). modação dos resultados. O incremento
produzido pelas ações de radioproteção
Quadro 7 Correlação. apresentou-se mais tênue, uma vez que as
Ano Índice de correlação medidas corretivas realizadas anteriormen-
1996 84% te pelos SMN elevaram o nível das condi-
1998 88% ções de radioproteção, acarretando mu-
2000 89% dança menos expressiva.
2002 92% Figura 2. Média da pontuação/doses. A quarta inspeção, implementada em
2002 (Figura 3), mostra uma situação aná-
loga à terceira inspeção realizada em 2000.
A melhora do índice de correlação a que houve grande incremento da radiopro- Pode-se observar que existe certo incre-
cada inspeção realizada a partir de 1996 teção, através das medidas corretivas im- mento das condições de radioproteção nos
demonstra uma significativa redução da plementadas pelos serviços, traduzidas SMN de todo o país, porém em menores
dose do pessoal ocupacionalmente expos- pela pontuação (irregularidades) média, proporções do que as observadas anterior-
to, à medida que as condições de radiopro- que caiu cerca de três a quatro vezes. mente. Isto, em última análise, sinaliza para
teção dos SMN eram otimizados.
O gráfico da Figura 2 mostra a média da
pontuação e das doses de todos os SMN
inspecionados em cada ano. Em 1996, a
média da pontuação, bem como das doses,
foram bastante altas, em comparação aos
anos subseqüentes (1998, 2000 e 2002).
A média de pontos no ano de 1996 foi
substancialmente alta nos SMN de todas
as regiões do país, especialmente no Cen-
tro-Oeste, Sudeste e Nordeste, que apre-
sentaram maior número de irregularidades.
A região Sul apresentou média inferior e a
região Norte é pouco representativa, uma
vez que concentra apenas 2% dos SMN do
país (Figura 3).
O panorama da radioproteção da medi-
cina nuclear foi sensivelmente modificado
em todo o país, a partir da segunda inspe-
ção realizada em 1998. A Figura 3 mostra Figura 3. Desempenho médio por regiões.

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Proposta de método de inspeção de radioproteção aplicada em instalações de medicina nuclear

um amadurecimento da especialidade, tra-


duzido por uma melhora efetiva e duradou-
ra dos níveis de radioproteção da medicina
nuclear em todo o país.
Os resultados apresentados nos gráficos
da Figura 4 mostram uma evolução signi-
ficativa dos níveis de radioproteção e o
acompanhamento da redução das doses do
pessoal ocupacionalmente exposto. Isto se
deve às ações corretivas de radioproteção
levadas a cabo pelos SMN, ao longo de
todo o programa de fiscalização, utilizando
o método de pontuação (1996, 1998, 2000
e 2002). Observando esses gráficos, veri-
fica-se grande semelhança nas curvas de
pontuação (irregularidades) e doses entre
as diferentes regiões do país (Norte, Nor-
deste, Sul, Sudeste e Centro-Oeste). A par-
tir desses resultados, pode-se concluir que Figura 4. Resultados vs. doses por regiões.
a otimização dos sistemas de radioprote-
ção ocorreu de modo uniforme no país, ou
seja, não existe hoje diferença regional em zantes dos SMN. Trata-se de profissionais tal diferenciação, nem na instrumentação,
termos de qualidade dos SMN, ao contrá- que manipulam as fontes radioativas, rea- nem tampouco nas instalações físicas e,
rio do passado (meados da década de 80), lizam a eluição diária do gerador de 99mTc conseqüentemente, na radioproteção.
em que os SMN da região Sudeste (espe- e fazem a administração de doses terapêu- Os resultados obtidos, utilizando o sis-
cificamente, Rio de Janeiroe São Paulo) ticas de 131I. Na maioria dos SMN do Bra- tema de pontuação, mostraram que não
eram sensivelmente superiores aos serviços sil, são técnicos de nível médio que reali- existe diferença de desempenho de radio-
das demais regiões, em todos os aspectos, zam geralmente essas funções, à exceção proteção dos SMN, entre as regiões eco-
desde a instrumentação e instalações físi- dos SMN de grande porte, que possuem nomicamente desiguais do país. Todavia,
cas até os sistemas de radioproteção. um setor de radiofarmácia e desenvolvem é provável que, no futuro, venha a existir,
seus próprios traçadores. Nestes casos, os novamente, uma diferenciação regional
DISCUSSÃO profissionais envolvidos nessas atividades quanto à qualidade da instrumentação,
são farmacêuticos, biólogos ou biomédi- devido ao advento dos equipamentos de
Este programa foi concebido com base cos. Esses profissionais representam verda- emissão de pósitrons (PET) no país. Isto
na experiência profissional, que resultou deiros indicadores das condições dos sis- porque somente os serviços localizados
na percepção da necessidade da criação de temas de radioproteção do SMN. O pro- próximos aos centros de produção de ra-
um método capaz de avaliar de forma ob- grama de inspeção utilizando o método de dioisótopos poderão adquirir tais equipa-
jetiva e eficiente os aspectos de radiopro- pontuação apontou, claramente, para uma mentos, em função da necessidade de ra-
teção que envolvem as atividades de me- otimização dos sistemas de radioproteção dioisótopos de meia-vida curta, por exem-
dicina nuclear. dos SMN do país. Esta otimização, no en- plo, o flúor-18 (18F).
É necessário ressaltar que o método de tanto, não se prendeu unicamente à ques- O gráfico da Figura 2 mostra a média da
pontuação é importante ferramenta no pro- tão da radioproteção, mas também ao ní- pontuação e das doses em cada ano. Em
cesso de fiscalização, contudo, ela não é vel da qualidade da instrumentação dos 1996, a média da pontuação, bem como as
cartesiana ou definitiva e sim dinâmica e serviços em geral. Era comum notarem-se doses, foram bastante altas, em compara-
maleável às novas situações de radiopro- fortes diferenças na qualidade dos serviços ção aos anos subseqüentes. Isto significa
teção. Por esta razão, existem três faixas de de uma região para outra, ou seja, os ser- que, de modo generalizado, os SMN ti-
pontuação em que o SMN pode ser enqua- viços localizados no eixo Rio-São Paulo nham falhas de radioproteção detectadas
drado. Estas faixas apresentam, evidente- apresentavam, no passado, qualidade dife- pelo programa de inspeção realizado em
mente, variáveis e incertezas nas situações renciada das regiões mais modestas do país 1996 e que, a partir de 1998, houve uma
limítrofes, que necessitam de análise alicer- em termos da instrumentação de imagem. mudança considerável na qualidade dos
çada na experiência de radioproteção da Também era comum, por exemplo, en- sistemas de radioproteção dos SMN, em
equipe. contrar-se número relativamente maior de decorrência da vigoração da norma 3.05 da
A partir de 1996, foram levantadas as câmaras tomográficas nas regiões Sul e CNEN e do programa de inspeção regula-
doses acumuladas anuais do pessoal ocu- Sudeste do que nas nas regiões Norte, Nor- tório, estabelecido pela CNEN. A imple-
pacionalmente exposto às radiações ioni- deste e Centro-Oeste. Hoje não existe mais mentação de medidas corretivas de radio-

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Mendes LCG et al.

proteção foi levada a cabo pelos SMN, mo- Em síntese, este estudo buscou criar no- regularidades e da adequação às normas de
vidos por uma maior conscientização dos vos mecanismos tecnológicos na área de radioproteção estabelecidas pela CNEN.
aspectos de radioproteção, aliado ao po- radioproteção, visando à implementação 5. Os resultados do desempenho dos
der coercitivo exercido pela CNEN. de uma fiscalização, não apenas coercitiva, SMN do país apontam para uma especia-
Esta mudança pode ser verificada no mas também de caráter educativo. Benefi- lidade que cresceu e amadureceu nas duas
gráfico da Figura 2, com a redução das cia-se com essa medida o paciente, com últimas décadas em todas as regiões do
doses do pessoal ocupacionalmente expos- melhor qualidade da imagem, evitando-se país. Atingiu um grau de complexidade
to e a diminuição significativa da pontua- repetições de exames, e também os profis- comparável a qualquer país desenvolvido,
ção. As curvas de dose e de pontuação sionais que trabalham no serviço, vindo a tanto na instrumentação de imagem quan-
sofreram queda expressiva e assumiram um se expor menos às radiações ionizantes. to nos aspectos de segurança radiológica
patamar com tendência de queda, eviden- do trabalhador ocupacionalmente expos-
ciando que as ações de radioproteção im- CONCLUSÕES to, do público e do meio ambiente.
plementadas pelos SMN foram eficientes.
REFERÊNCIAS
Esta melhora reforça e valida a eficácia 1. O método de inspeção de radiopro- 1. Phelps ME, Coleman RE. Nuclear medicine in the
do método de pontuação como instrumen- teção desenvolvido, baseado no sistema de new millenium. J Nucl Med 2000;41:1–4.
to de avaliação como pode ser observado pontuação, possibilitou uma avaliação ob- 2. Samuel JW. Permissible dose: a history of radiation
através do aumento do índice de correla- jetiva, eficiente e imparcial dos SMN do protection in the twentieth century. J Nucl Med
2002;43:281–3.
ção entre as variáveis resultado (pontua- país. O estabelecimento prévio de itens de 3. Donald FG, Michael VY. Expanding the role of
ção) e dose acumulada anual ao longo radioproteção, com a atribuição de pesos medical physics in nuclear medicine. USA: Ameri-
dos anos (Quadro 7). Em outras palavras, para cada item, em função de seus riscos can Association of Physicists in Medicine, 1991.
4. Fowler JS, Volkow ND, Wang GJ, Ding YS, Dewey
a melhora deste índice a cada inspeção associados, excluiu os valores subjetivos e SL. Pet and drug research and development. J Nucl
demonstra que o resultado de pontos ob- pessoais presentes no julgamento e na ava- Med 1999;40:1154–63.
tidos pelos serviços representa, cada vez de liação das questões técnicas de uma mes- 5. Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN).
forma mais eficiente, uma redução da ex- ma instituição, visitada por diferentes equi- NE 3.01, Diretrizes básicas de radioproteção. Rio
de Janeiro, RJ: CNEN, 1986.
posição às radiações a qual se submete o pes de fiscalização da CNEN. 6. Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN).
pessoal ocupacionalmente exposto. Por 2. A implementação do programa de NE 6.02, Licenciamento de instalações radiativas.
outro lado, a variação do índice de corre- inspeção contribuiu significativamente Rio de Janeiro, RJ: CNEN, 1985.
7. Comissão Nacional de Energia Nuclear (CNEN).
lação a cada ano de inspeção também sig- para a otimização dos sistemas de radiopro- NE 3.05, Requisitos de radioproteção e segurança
nifica que se busca uma melhoria contínua teção e, conseqüentemente, para a redução para serviços de medicina nuclear. Rio de Janeiro,
(otimização do método), através de ações das doses em trabalhadores dos SMN, fato RJ: CNEN, 1996.
tais como: este evidenciado pelos resultados observa- 8. International Atomic Energy Agency (IAEA). Rec-
ommendations for the safe use and regulation of
• análise e modificação dos pesos estabe- dos ao longo das sucessivas inspeções rea- radiation sources in industry, medicine, research and
lecidos para os diversos itens; lizadas em todo o país. teaching. Safety Series, Publication 102. Vienna,
• possibilidade de criação de novos itens 3. A tomada de decisão pelos setores do 1990.
9. International Commision on Radiological Protec-
a serem avaliados; órgão regulador e fiscalizador (CNEN) res- tion (ICRP). Radiation protection. Publication 60.
• diferenciação na valoração das reincidên- ponsáveis pelo licenciamento e controle de Pergamon Press, 1990.
cias de acordo com o risco associado. instalações de medicina nuclear foi respal- 10. International Atomic Energy Agency (IAEA). Regu-
latory guidance: radiation safety in nuclear medi-
Este método de inspeção de radiopro- dada por pareceres técnicos consistentes, cine. Vienna, 2000.
teção em medicina nuclear, com base na calcados na legislação normativa vigente. 11. Castro A, Rossi G, Dimenstein R. Guia prático em
pontuação das irregularidades em função 4. Foi evidenciado, pelos resultados das medicina nuclear – a instrumentação. São Paulo,
dos riscos, iniciado em 1996 mostra, cla- inspeções bienais, um substancial incre- SP: Editora Senac, 2000.
12. International Atomic Energy Agency (IAEA).
ramente, a evolução da medicina nuclear, mento das condições de radioproteção dos Practic specific model regulation on radiation
em termos de radioproteção no país. SMN do país, advindo da correção das ir- safety in nuclear medicine. Tecdoc, Vienna, 2001.

Radiol Bras 2004;37(2):115–123 123

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