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Diretrizes para investigar, processar e julgar com perspectiva de gênero as mortes violentas de mulheres 69
O sucesso da investigação, do processo e do julgamento dependerá também da
articulação, coordenação e integração entre as equipes de investigação e representantes do
Ministério Público, Poder Judiciário e Defensorias Públicas, que atuem no decorrer do processo
judicial. Dependendo das características da vítima ou das circunstâncias em que o crime houver
sido praticado, a autoridade policial deverá também buscar a articulação interestadual ou com
a Polícia Federal, por exemplo, nos casos envolvendo populações indígenas, ou mortes que
estejam relacionadas à atuação das redes internacionais de tráfico de meninas e mulheres para
fins de exploração sexual ou para exploração de trabalho escravo em território nacional.
Quando o crime ocorrer em contextos e circunstâncias relacionadas às redes de crime
organizado, a articulação do trabalho de investigação com os organismos regionais ou
internacionais de cooperação policial e jurídica poderá contribuir para a desarticulação dessas
redes e dos modus operandi de tais estruturas, principalmente, quando se detecte o uso das
fronteiras como estratégia de escape ou ocultamento de possíveis sujeitos ativos de mortes
violentas de mulheres e outros crimes relacionados.
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Local de crime é a porção do espaço compreendida num raio que, tendo por
origem o ponto no qual é constatado o fato, se estenda de modo a abranger
todos os lugares em que, aparente, necessária ou presumivelmente, hajam
sido praticados, pelo criminoso, ou criminosos, os atos materiais, preliminares
ou posteriores, à consumação do delito, e com este diretamente relacionados
(RABELLO, 1968 apud DOREA; QUINTELA; STUMVOLL, 2006, p. 57).
[...]No interesse de garantir o direito à justiça das vítimas diretas, das vítimas
indiretas e dos familiares,[...] deve ser lembrado que além de seu interesse
particular pelo esclarecimento da verdade sobre os fatos e a punição dos
responsáveis, nos casos de mortes consumadas, as vítimas indiretas dispõem
de informações valiosas sobre o curso de vida da vítima, o mapa de suas
relações sociais, o histórico de violência que a mesma pode ter sofrido, e
inclusive, evidências físicas ou elementos materiais probatórios importantes
sobre os fatos (MODELO DE PROTOCOLO, 2014, §204, p. 79-80).
Todas as etapas de investigação das mortes violentas de mulheres devem ser isentas de
preconceitos de gênero. Esta providência está adequada com o dever de devida diligência do
Estado, que requer o respeito à dignidade e privacidade da vítima direta, sobrevivente ou não,
e das vítimas indiretas, implicando, entre outros cuidados, a atenção na realização de oitivas,
declarações e interrogatórios, tanto no uso de linguagem não sexista como para que sejam
evitadas perguntas invasivas sobre a vida íntima da vítima, seu comportamento sexual, ou outros
questionamentos que provoquem constrangimentos para as pessoas atingidas pela violência,
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revelando detalhes desnecessários para a investigação e elucidação do crime praticado. Nesse
sentido, deverá sempre ser evitado que
[...] valores, imaginários, comportamentos, atitudes e práticas racistas e
sexistas [sejam] reproduzidas nas instituições do Estado a partir da atuação dos
seus servidor@s, favorecendo e perpetuando a violência contra as mulheres,
incluindo a omissão dos deveres estatais de restituição de direitos, proteção,
prevenção e erradicação e a perpetração direta de atos de violência por parte
dos atores institucionais (MADSEN; ABREU, 2014, p. 11).
6.3. Um modelo de investigação com perspectiva de gênero nas mortes violentas de mulheres81
Como afirmado anteriormente, as Diretrizes Nacionais para investigar, processar e
julgar com perspectiva de gênero as mortes violentas de mulheres não visam substituir
outros procedimentos, protocolos ou guias existentes para a investigação de homicídios, mas
objetivam contribuir com elementos para aprimorar a resposta do sistema de justiça criminal em
conformidade com as obrigações nacionais e internacionais assumidas pelo governo brasileiro,
modificando práticas e rotinas reprodutoras de estereótipos e preconceitos de gênero. Essa
modificação envolve vários aspectos e um deles é a mudança na forma como o profissional
deverá “olhar” para o crime, considerando as circunstâncias em que ocorreu, as características
pessoais da vítima e do(a) agressor(a) para transformar os estereótipos que contribuem para
a impunidade e a tolerância social com a violência por razões de gênero em elementos que
demonstrarão que a motivação principal para o crime foi a condição de gênero da vítima – ou,
o “fato de ser mulher”.
Como primeiro passo para essa mudança, é importante que, diante da morte violenta de
uma mulher, as autoridades responsáveis adotem como uma das hipóteses iniciais que a causa
da morte está associada às razões de gênero, entendidas como o sentimento de desprezo,
discriminação ou posse relacionado à desigualdade estrutural que caracteriza as relações entre
homens e mulheres. Deve também considerar que outras características da vítima – raciais,
étnicas, etária, de orientação sexual, de situação econômica, social ou cultural – podem ter
contribuído direta ou indiretamente para o desfecho fatal.
As evidências que permitirão comprovar que a morte violenta deu-se por razão de gênero
deverão ser buscadas no decorrer da investigação policial na cena do crime, nas circunstâncias do
crime, no perfil da vítima e do(a) agressor(a). Nesse sentido, observa-se que nenhuma investigação
deverá ser concluída (prematura ou não prematuramente) pela constatação de que se trata de um
crime motivado por ciúmes, traição ou paixão – os “crimes passionais” - cujo autor e sua motivação
são classificados de antemão, correndo-se o risco que sejam descartadas informações e vestígios
que possam contribuir para melhor elucidação do caso e seu correto processo e julgamento. Da
mesma forma, caso as razões de gênero sejam descartadas como motivação para o crime, este
deverá ser investigado com a devida diligência para sua correta tipificação, processo e julgamento.
Para assegurar que essas evidências sejam buscadas, um plano de investigação pode
contribuir para que a perspectiva de gênero seja aplicada aos procedimentos policiais e periciais
na obtenção e análise das provas técnicas e outros meios de prova.
Esse modelo de investigação tem como objetivo permitir à autoridade policial responsável
pela investigação:
organizar e explicar os procedimentos utilizados nas sucessivas etapas da investigação
policial.
planejar o trabalho de sua equipe, de modo a garantir a eficácia dos recursos
empregados à investigação desses crimes.
registrar o histórico da investigação, que permita a qualquer policial – que participe
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ou venha a participar da investigação – conhecer rápida e adequadamente o estágio
em que se encontram os trabalhos e seu trâmite processual (de grande importância
quando há alta rotatividade de pessoal nas equipes).
discutir com o Ministério Público, sempre que possível, para que possam estabelecer
desde as investigações, as ações necessárias para demonstrar as razões de gênero,
ódio ou discriminação, que motivaram a morte investigada, quando presentes.
garantir que sejam empregados os meios de compreensão, para obtenção de
elementos materiais probatórios, necessários para demonstrar a ocorrência de um
ato criminoso de forma
efetiva: que contribua para a elaboração de uma tese de acusação sólida, com o
devido respaldo probatório;
lógica: que forneça explicações razoáveis para os fatos, sua natureza criminosa e
sobre os eventuais responsáveis pelo crime, amparadas nos elementos materiais
probatórios e nas evidências físicas coletadas; e
persuasiva: para o convencimento do(a) juiz(a) sobre a necessidade de
adotar medidas idôneas e legais durante o processo de investigação; e para o
convencimento do(a)s jurado(a)s, para além de qualquer dúvida razoável, sobre a
validade e veracidade da tese de acusação.
A equipe de investigação deverá elaborar relatórios contendo avaliação do conjunto
de indícios, evidências físicas e outras informações que foram obtidas em atuações prévias,
sobretudo, no exame da cena de crime e no exame cadavérico. Dessa análise, emanarão as
lacunas a serem supridas com a investigação, que terá como principal objetivo demonstrar os
três principais componentes da tese da acusação:
o componente fático: com o esclarecimento dos fatos;
o componente jurídico: com a adequação típica dos atos praticados; e
o componente probatório: o tipo e a categoria de material para demonstrar as
hipóteses formuladas preliminarmente.
A seguir elabora-se um modelo de investigação que visa responder aos três componentes,
de forma a evidenciaras razões de gênero que possam ter motivado a morte violenta de uma
mulher. O modelo foi estruturado a partir das diretrizes consolidadas no capítulo 3 desse
documento.
O componente fático
A investigação [...] deverá estabelecer a base fática do caso: as circunstâncias de
tempo, modo e lugar nas quais se produziram os fatos objeto da investigação, os
protagonistas, a forma como ocorreram, as ações transcorridas ou executadas,
os elementos utilizados e suas consequências (FRANCO, 2007, p. 37-38). O
objetivo deste componente é elaborar proposições que permitam, por um
lado, conhecer em detalhes o acontecimento objeto de imputação penal; e
por outro lado, identificar os fatos relevantes que permitirão estabelecer a
responsabilidade (CHORRES, 2011, p. 49). Isto tem um correlato processual
com o princípio de congruência, que será de grande relevância para a acusação,
na medida em que a base fática do caso determinará o objeto do processo, e
limitará o possível âmbito do debate em juízo aos fatos contidos na acusação
(MODELO DE PROTOCOLO, 2014, §183, p. 70-71).
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O local do crime é um lugar privilegiado para a equipe de investigação obter evidências
sobre a forma como o crime foi praticado, além das evidências e sinais que ficarão marcados no
próprio corpo da vítima e que podem também informar sobre as motivações do(a) agressor(a).
Sistematizadas através dos laudos técnicos, essas evidências deverão ser complementadas
com informações sobre a vítima, o agressor e as circunstâncias do crime, que serão obtidas
no curso da investigação, descrevendo dessa forma um histórico que permita conhecer
momentos anteriores ao crime, o momento de sua execução e ações que possam ter ocorrido
posteriormente.
Com esse procedimento são retomadas duas características das mortes violentas por
razão de gênero: primeiro, que essas mortes em regra não são episódios isolados da vida de
uma mulher. Em determinadas circunstâncias, as mortes podem estar inseridas em ciclos de
violência que têm continuidade no tempo, provocando impactos diretos e indiretos na vida da
mulher e de pessoas próximas. A segunda característica é que essas mortes constituem grave
violação dos direitos humanos e podem ocorrer em contexto de vulneração de outros direitos
humanos, conforme análises apresentadas nos capítulos 1, 2 e 3 desse documento.
O modelo de investigação que se elabora a seguir consiste num roteiro de perguntas
que deverão ser respondidas com informações extraídas do conjunto de evidências obtidas
do trabalho pericial e do trabalho de investigação policial82 – ambos realizados a partir da
perspectiva de gênero, isto é, buscando informações que permitam verificar a existência de
situação de discriminação e que evidenciem os sentimentos de ódio, desprezo ou posse sobre
a mulher e que levaram o (a) agressor(a) à prática do crime.
Diretrizes para investigar, processar e julgar com perspectiva de gênero as mortes violentas de mulheres 75
Trata-se de uma vítima que esteve desaparecida ou incomunicável antes de ser morta?
Identificou-se seu destino ou paradeiro anterior?
O local em que o corpo foi encontrado é o mesmo em que o crime foi praticado?
O local onde o corpo foi encontrado foi periciado? Foram periciados os locais mediatos
e relacionados ao crime?84
Trata-se de local privado? Trata-se de local em que a vítima foi mantida em cativeiro
ou cárcere privado?
O corpo da vítima foi exposto em local público ou foi encontrado em local que indica
o propósito de ocultação?
No local foram observados vestígios85 de luta, destruição de objetos e bens pertencentes
à vítima?
É necessário visitar e investigar outros lugares relacionados ao local onde os fatos
ocorreram, como o domicílio ou local de trabalho da vítima, a residência dos familiares,
as instituições de ensino dos possíveis filho(a)s, e local(is) relacionado(s) aos hábitos
da vítima, ou relacionados à(s) pessoa(s) suspeita(s) de ter(em) praticado o crime?
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É possível saber se o (a) agressor(a), na prática do crime, se favoreceu de relação
de confiança, intimidade ou autoridade para se aproximar da vítima, subjugá-la
fisicamente, ou atraí-la para o local onde o crime foi praticado?
Ainda como forma de obter maior consistência nas provas colhidas durante os depoimentos,
a autoridade policial, através de serviços especializados no atendimento a mulheres vítimas de
violência, poderá solicitar que sejam realizadas técnicas de investigação psicossocial como:
Realização de um estudo do entorno social, incluindo o mapa (sociograma) das
relações da vítima e do(a) agressor(a) ou pessoas suspeitas de terem cometido o
crime no intuito de identificar de que forma os fatores estruturais, institucionais,
interpessoais e individuais das relações sociais nas quais a vítima se situava a tornaram
mais ou menos vulnerável às formas de violência que a afetaram (como, por exemplo,
ser criança ou adolescente, ou idosa, pertencer a determinada etnia, sua situação
socioeconômica, seu nível de educação, estar grávida, a atividade profissional etc.)
(MODELO DE PROTOCOLO, 2014)91.
Realização de entrevistas semiestruturadas com pessoas próximas à vítima e/ou ao
agressor(a), como familiares, amigos, colegas de trabalho, vizinhos, entre outras
pessoas cujo tipo de relacionamento com a vítima e/ou agressor(a) permita identificar
mudanças no seu comportamento, hábitos, humor, condições de saúde física e
mental, considerando, inclusive, a ausência ou perda de contato com a vítima como
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um indicador do afastamento e isolamento provocado pelo(a) agressor(a) como parte
do histórico de violência em que a vítima apresentava92.
Realização de “autópsia psicológica” para conhecer a situação de vida da mulher antes
de sua morte, destacando seu estado de saúde emocional e físico (CAVALCANTE, 2012).
O componente jurídico
O componente probatório
80
Elaborou-se um plano para investigar se existe alguma relação entre as pessoas
envolvidas no crime e outros casos similares de mortes violentas de mulheres? Existem
registros de casos similares?
Foram tomadas providências para a avaliação dos danos físicos e psicológicos sofridos
pela vítima sobrevivente e/ou as vítimas indiretas?
A vítima sobrevivente e as vítimas indiretas foram orientadas quanto às medidas
protetivas de urgência previstas para os casos de violência doméstica e familiar, se for
o caso, e quanto às medidas de reparação cabíveis, sendo também orientadas sobre
os órgãos competentes para sua solicitação?
67. Código de Processo Penal, Art. 5º: Nos crimes de ação pública o inquérito policial será iniciado: I - de ofício; II - mediante requisição da
autoridade judiciária ou do Ministério Público, ou a requerimento do ofendido ou de quem tiver qualidade para representá-lo.
68. Código de Processo Penal, Artigo 5º,§ 3º: Qualquer pessoa do povo que tiver conhecimento da existência de infração penal em
que caiba ação pública poderá, verbalmente ou por escrito, comunicá-la à autoridade policial, e esta, verificada a procedência das
informações, mandará instaurar inquérito.
69. O Ministério Público é o titular da ação penal e detém o controle externo da atividade policial que abrange o acompanhamento
obrigatório de todas as atividades da polícia judiciária, a fiscalização da legalidade da investigação, entre outras atribuições. Como titular
da ação penal, cabe ao Ministério Público apresentar a denúncia do crime ao judiciário e atuar em defesa dos interesses da sociedade
(Constituição Federal de 1988, artigo 129, inciso VII; Lei Complementar nº 75/1993, artigos 3º e 9º, e Código do Processo Penal, artigo
13, inciso II). Em maio de 2015, o Supremo Tribunal Federal (STF) julgou favorável acórdão que reconhece o poder do Ministério Público
para realizar investigação criminal independente da polícia.
70. A apuração dos homicídios apresenta peculiaridades não presentes em outras formas de crime, e que demandam pelo menos dois
níveis de especialização das polícias: territorial e temática. Os profissionais da segurança pública coincidem na opinião que a especialização
temática agrega qualidade e eficácia para a investigação dessa forma de criminalidade (SENASP, 2014, p. 78).
71. Em alguns estados, as delegacias especializadas de atendimento às mulheres também possuem essa atribuição de investigação dos
crimes dolosos contra a vida das mulheres, de natureza tentada ou consumada. Em alguns casos estão limitadas aos crimes de autoria
conhecida, ocorridos em contexto doméstico e familiar e/ou relações íntimas de afeto. Em outros casos, as atribuições são para qualquer
caso em que a vítima seja mulher. (SPM, 2010; OBSERVE, 2010).
72. Considerando a política de especialização na organização dos serviços policiais nos estados, sempre que pertinente, este fluxo de
informação deverá se estender também às unidades policiais especializadas no atendimento a crianças e adolescentes, idosos, pessoas
com deficiência, aos crimes de intolerância, racismo, homofobia e violência sexual. O levantamento de ocorrências anteriores, relacionadas
à mesma vítima ou ao mesmo suspeito da prática do crime, pode contribuir para elucidar as razões de gênero e sua interseccionalidade
com a violação de outros direitos, presentes na motivação do crime.
73. Ver: Caderno Temático de Referência, Investigação Criminal de Homicídio, Capítulo 3. (SENASP, 2014), Procedimento Operacional
Padrão. Perícia Criminal (SENASP, 2013).
74. Utiliza-se a definição formulada no Caderno Temático de Referência Investigação Criminal de Homicídios (SENASP, 2014, p. 26-27), que
divide o processo investigativo de homicídios em duas etapas: a ‘investigação preliminar’ que se refere ao conjunto de procedimentos de
investigação e coleta de vestígios realizados no primeiro momento em que a polícia recebe a informação da ocorrência de um homicídio,
até os trabalhos na cena do crime; e a “investigação de seguimento”, que corresponde aos procedimentos investigativos e cartoriais
realizados pela polícia desde o encerramento dos trabalhos preliminares até a conclusão do inquérito.
75. De acordo com o balanço do atendimento no Ligue 180, em 2014, foram realizados 52.957 atendimentos de mulheres que
apresentaram relatos de violência. Desses atendimentos, 80% das mulheres tinham filho(a)s com o agressor; 64,3% dessas mulheres
informaram que seus/suas filho(a)s presenciaram situações de violência e 18% disseram que os filho(a)s também foram vítimas de
violência.
Informações disponíveis em: http://www.spm.gov.br/central-de-conteudos/publicacoes/publicacoes/2015/balanco180_2014-
versaoweb.pdf . Acesso em 2 abr. 2015.
76. Portaria nº 82, de 16 de julho de 2014. Estabelece as Diretrizes sobre os procedimentos a serem observados no tocante à cadeia de
custódia de vestígios. Anexo I (Ministério da Justiça, Secretaria Nacional de Segurança Pública). http://www.lex.com.br/legis_25740023_
PORTARIA_N_82_DE_16_DE_JULHO_DE_2014.aspx Acesso em 25 mar. 2015.
Diretrizes para investigar, processar e julgar com perspectiva de gênero as mortes violentas de mulheres 81
77. Considerando os princípios de respeito à dignidade humana, privacidade e memória das vítimas diretas e indiretas (ver capítulo 5),
que devem nortear a atuação de todos os profissionais nos procedimentos judiciais, é importante enfatizar que a preservação do sigilo
de imagens (fotos e vídeo) – sejam elas recolhidas ou produzidas durante as investigações – deverá ser garantida durante toda a fase de
investigação e processo judicial. A disponibilização dessas imagens para veículos de comunicação e mídia podem comprometer a própria
investigação, bem como revitimizar as vítimas diretas (sobreviventes ou não) e as vítimas indiretas.
78. Sobre linhas metodológicas de investigação, ver: Caderno Temático de Referência Investigação de Homicídios, onde se encontram
descritos quatro métodos: método M.U.M.A (refere-se à materialidade do crime considerando: a mecânica do crime, últimos passos
da vítima, motivação do crime, autoria do crime); método do rastejamento (refere-se ao “seguir o rastro, de indício a indício”); método
dos círculos concêntricos (um modelo lógico de pensamento e ordenação da vida da vítima em esferas de relacionamento); método
da detonação (o uso de práticas invasivas, com a infiltração, busca ou apreensão que dificilmente seriam obtidas por outras técnicas).
(SENASP, 2014, p. 52-60).
79. Ver capítulo 9.
80. Para refletir sobre os efeitos desse crime e sua classificação como morte violenta decorrente de razões de gênero, ver: http://www.
pragmatismopolitico.com.br/2013/11/jovem-se-suicida-apos-video-intimo-vazar-whatsapp.ht ml, http://www.compromissoeatitude.
org.br/lei-maria-da-penha-pode-ser-aplicada-quando-a-internet-se-torna-ferramenta-de-violencia-psicologica-contra-a-mulher/ ;
http://www.ambito-juridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=10882. Todos com acesso em 2 abr. 2015.
Para refletir sobre os efeitos desse crime e sua classificação como morte violenta decorrente de razões de gênero, ver: http://www.
pragmatismopolitico.com.br/2013/11/jovem-se-suicida-apos-video-intimo-vazar-whatsapp.ht ml, http://www.compromissoeatitude.
org.br/lei-maria-da-penha-pode-ser-aplicada-quando-a-internet-se-torna-ferramenta-de-violencia-psicologica-contra-a-mulher/ ;
http://www.ambito-juridico.com.br/site/index.php?n_link=revista_artigos_leitura&artigo_id=10882. Todos com acesso em 2 abr. 2015.
81. O modelo de investigação foi elaborado a partir doModelo de Protocolo (2014, p.67-73). De acordo com o documento, trata-se de
um instrumento de trabalho que pode ser denominado: programa metodológico, desenho de execução, plano de trabalho ou desenho
do caso, conforme o autor ou país que o adote.
82. No anexo 2, encontra-se um roteiro de questões de que podem auxiliar autoridade policial, promotore(a)s de justiça e juíze(a)s na
análise dos laudos periciais e complementar as informações que ajudarão a evidenciar as razões de gênero em cada caso.
83. Quando o caso envolver pessoa transgênero ou transexual, deve-se verificar a existência de documento compatível com sua
identidade de gênero.
84. Para definição do tipo de local, ver capítulo 7.
85. Como vestígios, são definidos qualquer marca, objeto ou sinal que seja perceptível e que tenha alguma relação com o fato investigado;
evidências são obtidas a partir da análise técnica e científica dos vestígios que permita relacioná-los com o crime investigado.
86. As práticas anteriores de violência podem ser de vários tipos, podem ocorrer de forma isolada ou combinada, envolvendo, por
exemplo, as manifestações de violência que se encontram descritas no artigo 7º da Lei Maria da Penha, sem se limitar a elas. Os tipos de
violência, definidos na Lei, são: I - a violência física, entendida como qualquer conduta que ofenda sua integridade ou saúde corporal; II - a
violência psicológica, entendida como qualquer conduta que lhe cause dano emocional e diminuição da autoestima ou que lhe prejudique
e perturbe o pleno desenvolvimento ou que vise degradar ou controlar suas ações, comportamentos, crenças e decisões, mediante
ameaça, constrangimento, humilhação, manipulação, isolamento, vigilância constante, perseguição contumaz, insulto, chantagem,
ridicularização, exploração ou limitação do direito de ir e vir ou qualquer outro meio que lhe cause prejuízo à saúde psicológica e à
autodeterminação; III - a violência sexual, entendida como qualquer conduta que a constranja a presenciar, a manter ou a participar
de relação sexual não desejada, mediante intimidação, ameaça, coação ou uso da força; que a induza a comercializar ou a utilizar, de
qualquer modo, a sua sexualidade, que a impeça de usar qualquer método contraceptivo ou a force ao matrimônio, à gravidez, ao aborto
ou à prostituição, mediante coação, chantagem, suborno ou manipulação; ou que limite ou anule o exercício de seus direitos sexuais e
reprodutivos; IV - a violência patrimonial, entendida como qualquer conduta que configure retenção, subtração, destruição parcial ou
total de seus objetos, instrumentos de trabalho, documentos pessoais, bens, valores e direitos ou recursos econômicos, incluindo os
destinados a satisfazer suas necessidades; V - a violência moral, entendida como qualquer conduta que configure calúnia, difamação ou
injúria.
87. A respeito da investigação de violência doméstica e familiar contra a mulher, ver COMJIB, AIAMP, EUROSOCIAL, 2014.
88. Registros anteriores de denúncias de violência,e de solicitação de medidas protetivas ajudarão a construir o cenário em que a
violência fatal ocorreu, demonstrando não apenas o histórico de violência na relação entre a vítima e agressor(a), mas também a situação
de vulnerabilidade em que a vítima vivia e o padrão de agressividade do(a) autor(a) da morte.
89. Estudos que analisaram os impactos da violência na saúde física e mental mostram que a vivência de uma violência sofrida no
próprio lar, e que é exercida pela pessoa com quem se mantém uma relação afetiva – associada a certas circunstâncias socioculturais que
fazem com que a mulher se sinta responsável pelo que está lhe acontecendo, vendo-se incapaz de fazer algo para evitá-lo e solucioná-
lo –, produz um grande impacto emocional nas mulheres vítimas de violência de gênero. As alterações físicas podem acarretar: dores
crônicas, alterações neurológicas, gastrointestinais, hipertensão, problemas ginecológicos (inclusive a contaminação por doenças
sexualmente transmissíveis), e no sistema imunológico, entre outros agravos sobre a saúde. As principais alterações psicológicas são:
depressão, consumo excessivo de substâncias químicas, estresses pós-traumático, podendo chegar às ideias de suicídio. As mesmas
alterações podem também afetar crianças e adolescentes que vivam expostos às situações de violência doméstica e familiar. (MODELO
DE PROTOCOLO, 2014, p. 87).
90. Sobre a rede de serviços especializados no atendimento para mulheres vítimas de violência, ver: https://sistema3.planalto.gov.br//
spmu/atendimento/atendimento_mulher.php. Acesso em 2 jul. 2015.
91. O modelo ecológico de análise de gênero, apresentado no capítulo 2 desse documento, constitui uma ferramenta útil para a
elaboração desse estudo.
92. Ver roteiro em Anexo 3.
93. Ver Capítulo 5, a respeito dos direitos das vítimas e obrigações do Estado.
82