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INCUBADORA TECNOLÓGICA DE COOPERATIVAS POPULARES - ITCP

PRÓ REITORIA DE CULTURA E EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA - PRCEU

UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO - USP

Relatório final do projeto

Economia Solidária e autogestão:

ciclos formativos para empreendimentos econômicos solidários

Geovanna da Cruz Soares N°USP 13652707

Projeto de extensão apresentado ao

Programa Unificado de Bolsas

da Pró-Reitoria de Graduação

da Universidade de São Paulo

Agosto/2022

1. Introdução

O projeto PUB “Economia Solidária e autogestão: ciclos formativos para


empreendimentos econômicos solidários” se deu em um momento desafiador devido à
pandemia de Covid-19 e seguido por um retorno presencial das atividades. Os novos bolsistas
ingressaram nesse momento de forma remota e tiveram um primeiro contato formativo 100%
virtual. Nesse período remoto, as reuniões gerais e reuniões dos campos, que são realizadas
entre os formadores que acompanham os empreendimentos específicos, ocorreram via Google
Meet. O retorno às atividades de maneira presencial se deu de forma gradual, após o retorno
das atividades da USP.
Este projeto se iniciou com a proposta de acompanhar os empreendimentos da Feira
Agroecológica de Mulheres no Butantã, o Ponto de Economia Solidária do Butantã e a
Associação de Mulheres da Economia Solidária. Ao longo do ciclo, a ITCP-USP passou a
acompanhar mais dois empreendimentos solidários, a Horta do Gelo e a cooperativa Terra e
Liberdade. A seguir, apresentamos os objetivos e as principais atividades e resultados obtidos
durante o projeto.

2. Objetivos

O projeto teve como finalidade a seleção de bolsistas que atuassem no estudo e na


prática extensionista de formação em Economia Solidária da Incubadora Tecnológica de
Cooperativas Populares (ITCP-USP) junto aos seguintes empreendimentos coletivos com os
quais a ITCP-USP trabalha atualmente:

O Ponto de Economia Solidária, Comércio Justo, Cooperativismo Social e Cultural do


Butantã é um espaço da Secretaria de Saúde da Prefeitura de São Paulo inaugurado em março
de 2016, e tem como diretriz a inclusão social de usuários da rede de saúde mental através de
projetos de geração de renda nas formas da economia solidária e do associativismo. O espaço
abriga seis empreendimentos sob coordenação das funcionárias da prefeitura que gerem o
espaço. A forma de gestão dos empreendimentos se baseia nos princípios da autogestão,
através da qual, as decisões são tomadas coletivamente, em reuniões e assembleias. Desde a
inauguração do Ponto, a ITCP oferece diversas formas de apoio, como: formações temáticas,
auxílio nas metodologias de reuniões e de gestão interna, fomentando os diferentes
empreendimentos e promovendo novas parcerias.

Essas novas estratégias ajudaram os empreendimentos a contornar a queda de renda


observada no início da pandemia. Porém, um dos desafios foi a questão da inclusão digital,
uma vez que muitas das pessoas que trabalham nesses empreendimentos não têm um nível de
apropriação necessário para conseguir entrar neste novo mundo de comércio digital de
maneira satisfatória. Sendo assim, os bolsistas selecionados auxiliaram no desenvolvimento de
metodologias formativas sobre Economia Solidária, visando ao fortalecimento do trabalho
realizado junto a esses empreendimentos e ao fomento de estratégias coletivas de
comercialização de produtos agroecológicos e da Economia Solidária.

3. Metodologia

Todas as ações da ITCP-USP são norteadas pela metodologia de pesquisa-ação, de


Michel Thiollent. A pesquisa-ação é uma metodologia aplicada à pesquisa social que se
desenvolve por meio de um processo empírico, no qual participantes e pesquisadores
dialogam, de forma participativa e colaborativa, sobre os problemas internos e externos ao
coletivo. A metodologia segue uma linha estratégica de identificação do problema dentro de
um contexto social, levantamento de dados relevantes ao respectivo problema, análise e
interpretação desses dados, identificação da importância de mudança, levantamento de
soluções e proposta de intervenção prática, aliando pesquisa e ação (THIOLLENT, 1986).

Além disso, a Economia Solidária se baseia no paradigma pedagógico de educação


popular, eternizado por Paulo Freire, no qual o conhecimento é construído nas relações
humanas, de forma conjunta e dialógica, pois é permeado pela curiosidade e pelo desejo de
aprender e de ensinar de todos os envolvidos. Nessa concepção de “educação libertadora”, os
temas e problemas sociais estão no centro do trabalho educativo, que deve servir como
instrumento de conscientização a serviço da democratização e da participação política (FREIRE,
2015).

O trabalho de acompanhamento dos grupos é realizado por duplas ou trios, para a


garantia do método dialógico e interdisciplinar que permeia todas as ações da ITCP, por serem
características marcantes da autogestão, na qual todos os membros devem compartilhar
informações e conhecimentos para que possam se apropriar dos processos, demandas e
deliberações exigidos. A gestão coletiva, descentralizada e autônoma dos processos internos,
pauta-se na socialização das experiências de vida de todos os membros e contribui para o
crescimento conjunto, ativo e transformador da sociedade.

Durante a pandemia de Covid-19, todas as atividades foram realizadas de forma


remota, por meio de reuniões via Google Meet, documentos compartilhados no Drive,
comunicação imediata via WhatsApp e outras tecnologias disponíveis gratuitamente.

4. Resultados obtidos

1. Ponto de Economia Solidária

Para o Ciclo PUB 2022-2023, o trabalho no “Ponto”, conforme supracitado e estendido


aos demais “Campos”, foi o de reativar e rearticular os empreendimentos.

No meio do ano de 2022, a pandemia estava começando a ser superada (ainda com o
uso de máscara no ponto e um certo distanciamento). Com esta lenta retomada das atividades
totalmente presenciais, alguns desafios foram nos apresentados. As primeiras questões a
serem levantadas fora como se daria a reintegração do Ponto e novas vertentes para
comercializar.

Fora-se levantados estratégias iniciais, como o desenvolvimento da horta do Ponto, que


fora desenvolvido.

Porém, em meio a toda uma escuta das necessidades dos trabalhadores do Ponto e a
iniciativas de diversificação de renda, fora preciso também fazer ações contra a tentativa de
supressão e retirada do Ponto de Economia Solidária, devido à alegação do Ponto estar no
terreno do Instituto Butantan; assim mantivemo-nos à disposição do Ponto de Economia
Solidária.

Os primeiros dias, os quais eu participei, foram momentos de escuta dos trabalhadores,


também usuários. Percebemos alguns dos problemas enfrentados pelos trabalhadores, alguns
planos e os orçamentos para tais mudanças. Várias ideias foram dadas, como a criação de um
canto do café perto da cantina; fora colocado à mesa a questão de abrir o ‘’Ponto’’ nos
sábados, para maior rotatividade de clientes. Acontece que, tais escutas nessa época foram
complicadas por conta que a luta para a permanência estava mais acirrada, impossibilitando
que muitas das iniciativas fossem rapidamente adotadas, visto que tinham de se dividirem
entre esses assuntos.

Os trabalhadores, usuários de Centro de Atenção Psicossocial (CAPS), ficaram


desassistidos durante o hiato. Mapearam-se as maiores necessidades organizacionais e Estudos
de Viabilidade Econômica (EVEs) são preparados, a fim de garantir a eles previsibilidade no
fluxo financeiro e aplacamento de riscos e na variabilidade da renda (dependente direta de
fatores climáticos, de mercado e comerciais). Outrossim, nas reuniões, através das quais, de
maneira horizontal, tais decisões são deliberadas, notou-se a contribuição desse processo à
inclusão de pessoas portadoras de distúrbio psiquiátrico ao coletivo e ao encontro da
sociabilização. As culturas da Horta já vêm podendo ser colhidas pelos trabalhadores e
vislumbra-se uma maior integração às demais atividades do “Ponto”.

Ressalta-se que, nos últimos meses, o engajamento da ITCP-USP também se deu pela
defesa do espaço do “Ponto de Economia Solidária, Comércio Justo, Cooperativismo Social e
Cultural do Butantã”, ameaçado por disputa judicial com o Instituto Butantan. Participamos de
um abaixo-assinado e audiência pública na Câmara Municipal e nos mantivemos à disposição
do “Ponto”, para auxiliar com suas necessidades.

Considerações Finais

Além disso, pode-se observar que os empreendimentos com a volta das atividades
presenciais, mesmo com uma certa “ressaca pós pandemia”, se reavivaram, tanto do ponto de
vista econômico, quanto social, uma vez que o trabalho autogestionário e associativo fortalece
os laços e vínculos pessoais e comunitários, estimulando as pessoas a engajarem-se em
atividades coletivas.

Pude observar as dificuldades de se implantar um trabalho autogestionário. Tal


caráter autogestionário da ITCP-USP e da Economia Solidária como um todo, trouxe uma
experiência importante de trabalho coletivo, que ajudou a desenvolver a responsabilidade
(tanto laboral, quanto social), além da sensação de pertencimento e do engajamento crítico em
questões econômicas, políticas e sociais que afligem toda a sociedade brasileira, especialmente
os mais pobres e vulneráveis.

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