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ÍNDICE
DIREITO CIVIL
DIREITOS AUTORAIS
▪ Ainda que terceirizada a execução de shows e apresentações musicais, subsiste a responsabilidade solidária do ente
público idealizador do evento pelas sanções decorrentes da violação dos direitos autorais.
CONTRATOS
▪ Não é possível conferir maior eficácia jurídica ao contrato preliminar que ao definitivo, sobretudo quando as partes,
nessa nova avença, pactuaram obrigações diametralmente opostas e desautorizam, expressamente, os termos da
proposta original.
▪ Se houver uma cláusula contratual que limite o valor de indenização que a parte pode pedir em caso de
descumprimento do ajuste, essa cláusula não pode ser afastada pelo simples fato de uma das partes ter maior
poderio econômico e técnico do que a outra.
▪ Não se mostra arbitrária ou discriminatória a exclusão, dos quadros da cooperativa, de médico cooperado que
fundou nova cooperativa médica para operar no mesmo campo econômico da anterior, gerando evidente conflito
de interesses.
CONTRATOS (SEGURO)
▪ A associação de proteção veicular que foi estipulante de contrato de seguro coletivo responde solidariamente com
a seguradora pelo pagamento da indenização securitária.
RESPONSABILIDADE CIVIL
▪ Não é possível responsabilizar a loja ou a empresa por compras feitas com cartão de crédito perdido, roubado ou
fraudulento, se o ladrão souber a senha correta ou se inseriu todos os dados necessários do cartão para a compra
online.
▪ Metrô deve ser responsabilizado por roubo ocorrido em suas dependências, se ficar evidenciado que a empresa não
adotou os procedimentos mínimos de segurança, nos termos da Lei 6.149/74, inclusive para fins de suporte à vítima
após o fato.
▪ Não se pode impor aos sites de intermediação de venda e compra a prévia fiscalização sobre a origem de todos os
produtos anunciados, na medida em que não constitui atividade intrínseca ao serviço prestado.
DIREITO DO CONSUMIDOR
RESPONSABILIDADE POR VÍCIO DO PRODUTO
▪ Em caso de vício redibitório não resolvido no prazo de 30 dias, se o consumidor optar por rescindir o contrato e
receber de volta o valor pago, ele deverá receber integralmente o preço, sem qualquer abatimento pelo fato de ter
usado o bem durante um período.
CURADORIA ESPECIAL
▪ A Defensoria Pública, no exercício da função de curadoria especial, goza de honorários advocatícios sucumbenciais
caso o réu sagre-se vencedor na demanda.
HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS
▪ O advogado de núcleo de prática jurídica designado para atuar como defensor dativo, ante a impossibilidade da
Defensoria Pública, possui direito aos honorários remuneratórios fixados pelo juiz e pagos pelo Estado.
RECURSOS
▪ A doença do advogado da parte pode ser invocada como justa causa para a devolução do prazo recursal?
HONORÁRIOS RECURSAIS
▪ O recurso interposto pelo vencedor para ampliar a condenação – ainda que não seja conhecido ou que seja
desprovido - não implicará honorários de sucumbência recursal para a parte contrária.
EXECUÇÃO (IMPENHORABILIDADE)
▪ É imprescindível o esgotamento dos meios executivos típicos para a utilização do sistema Central Nacional de
Indisponibilidade de Bens (CNIB) como medida executiva atípica.
▪ O art. 833, X, do CPC assegura a impenhorabilidade de valores até o limite de 40 salários-mínimos,
independentemente de onde estiverem depositados ou mesmo em papel-moeda; não se admite a penhora ainda
que parcial desses valores.
PROCESSO COLETIVO
▪ Há legitimidade das vítimas para executar individualmente o TAC firmado por ente público que verse sobre direitos
individuais homogêneos.
DIREITO INTERNACIONAL
ALIMENTOS INTERNACIONAIS
▪ A remessa de valores para o exterior a título de alimentos internacionais é isenta do pagamento de tarifas bancárias.
DIREITO CIVIL
DIREITOS AUTORAIS
Ainda que terceirizada a execução de shows e apresentações musicais, subsiste a
responsabilidade solidária do ente público idealizador do evento pelas sanções decorrentes da
violação dos direitos autorais
ODS 16
Caso adaptado: o Distrito Federal realiza todos os anos um carnaval de rua, com a
apresentação de intérpretes e bandas musicais nas principais cidades-satélites. Neste ano, o
governo decidiu contratar uma associação civil para organizar o evento (Liga Carnavalesca
dos Trios, Bandas e Blocos Tradicionais). Durante o referido evento ocorreram apresentações
de blocos em diversas vias públicas do Distrito Federal, ocasião em que foram tocadas
centenas de músicas. O problema foi que a associação civil contratada não providenciou a
liberação prévia perante o ECAD para as execuções públicas musicais, nem efetuou o
pagamento dos direitos autorais devidos. Em razão desses fatos, o ECAD ingressou com ação
de cobrança de direitos autorais em desfavor do Distrito Federal e da Liga Carnavalesca dos
Trios, Bandas e Blocos Tradicionais, pedindo a condenação dos requeridos ao pagamento dos
direitos autorais.
Ao contratar e remunerar a Liga Carnavalesca dos Trios, Bandas e Blocos Tradicionais, o
Distrito Federal assumiu a posição de proprietário do evento, não se restringindo a
meramente autorizar ou ceder o uso do espaço público para a realização de festa organizada
por particular em prol da comunidade.
A atuação estatal, no caso, não se limitou à mera concessão de subvenção social às escolas de
samba, com transferência de recursos à entidade sem fins lucrativos, tampouco à participação
governamental em programa de desenvolvimento de cultura popular. As festividades
carnavalescas foram idealizadas e promovidas pelo ente público.
Assim, a responsabilidade do Distrito Federal pelo pagamento dos direitos autorais decorre
de sua atuação como realizador e proprietário do evento, nos termos do art. 110 c/c o art. 68,
§ 3º, da Lei nº 9.610/98.
STJ. 4ª Turma. EDcl no AgInt no REsp 1.797.700-DF, Rel. Min. João Otávio de Noronha, julgado em
12/9/2023 (Info 15 – Edição Extraordinária).
Obs: existe decisão da 3ª Turma do STJ em sentido contrário ao entendimento acima explicado: STJ.
3ª Turma. REsp 1444957-MG, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 9/8/2016 (Info 588).
Direitos autorais
Se houver a execução de obras musicais em um evento, a pessoa responsável pela organização deverá
fazer o pagamento de direitos autorais.
A cobrança realizada é feita com base no art. 68 da Lei nº 9.610/98:
Art. 68. Sem prévia e expressa autorização do autor ou titular, não poderão ser utilizadas obras
teatrais, composições musicais ou lítero-musicais e fonogramas, em representações e execuções
públicas.
O fato gerador do pagamento dos direitos autorais é a exibição pública da obra artística, em local de
frequência coletiva.
ECAD
Esses direitos autorais devem ser pagos ao ECAD que, então, irá repassar os valores arrecadados aos
autores das músicas.
ECAD é a sigla para Escritório Central de Arrecadação e Distribuição. Trata-se de uma sociedade civil, de
natureza privada, instituída pela Lei federal nº 5.988/73 e mantida pela atual Lei de Direitos Autorais
Brasileira (Lei nº 9.610/98).
É entidade organizada e administrada por nove associações de gestão coletiva musical e cumpre a ela
formular a política e a normatização da arrecadação e distribuição de direitos autorais decorrentes da
execução pública de composições musicais ou literomusicais e de fonogramas, possuindo legitimidade
para defender em juízo ou fora dele a observância dos direitos autorais em nome de seus titulares.
1) O ECAD poderia cobrar direitos autorais relacionados com a realização deste evento mesmo ele sendo
gratuito?
SIM.
Nos termos do art. 86 da Lei nº 9.610/98, “os direitos autorais de execução musical relativos a obras
musicais, lítero-musicais e fonogramas incluídos em obras audiovisuais serão devidos aos seus titulares
pelos responsáveis dos locais ou estabelecimentos a que alude o § 3º do art. 68 desta Lei, que as exibirem,
ou pelas emissoras de televisão que as transmitirem”.
Já o § 3º do art. 68 da Lei nº 9.610/98 dispõe que são locais de frequência coletiva os órgãos públicos da
administração direta ou indireta, fundacionais e estatais ou onde quer que se representem, executem ou
transmitam obras literárias, artísticas ou científicas.
Portanto, a realização de festividade carnavalesca por ente estatal em logradouro público e com execução
de obras musicais configura local de frequência coletiva para os fins da Lei nº 9.610/98.
O STJ possui firme entendimento no sentido de que devido o pagamento de direitos autorais por utilização
de obras musicais em espetáculos promovidos pelo Poder Público, mesmo em eventos que não visem
direta ou indiretamente ao lucro, segundo dispõe a Lei nº 9.610/98. Nesse sentido:
A cobrança de direitos autorais pela execução de obras musicais protegidas em eventos públicos não está
condicionada ao objetivo ou obtenção de lucro.
STJ. 3ª Turma. REsp 2.098.063-SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 7/11/2023 (Info 795).
O uso de obras musicais em espetáculos promovidos pela municipalidade, mesmo que gratuitos, enseja
cobrança de direitos autorais.
STJ. 4ª Turma. AgInt no REsp n. 1.703.865/MG, Rel. Min. Antonio Carlos Ferreira, julgado em 19/4/2018.
2) O argumento de que o Distrito Federal se limitou a repassar os recursos para a associação civil realizar
o evento foi acolhido pelo STJ para fins de se reconhecer a inexistência de responsabilidade do poder
público?
NÃO.
Ao contratar e remunerar a Liga Carnavalesca dos Trios, Bandas e Blocos Tradicionais, o Distrito Federal
assumiu a posição de proprietário do evento, não se restringindo a meramente autorizar ou ceder o uso
do espaço público para a realização de festa organizada por particular em prol da comunidade.
A atuação estatal, no caso, não se limitou à mera concessão de subvenção social às escolas de samba, com
transferência de recursos à entidade sem fins lucrativos, tampouco à participação governamental em
programa de desenvolvimento de cultura popular. As festividades carnavalescas foram idealizadas e
promovidas pelo ente público.
Assim, a responsabilidade do Distrito Federal pelo pagamento dos direitos autorais decorre de sua atuação
como realizador e proprietário do evento, nos termos do art. 110 c/c o art. 68, § 3º, da Lei nº 9.610/98:
Art. 110. Pela violação de direitos autorais nos espetáculos e audições públicas, realizados nos
locais ou estabelecimentos a que alude o art. 68, seus proprietários, diretores, gerentes,
empresários e arrendatários respondem solidariamente com os organizadores dos espetáculos.
Art. 68 (...)
§ 3º Consideram-se locais de freqüência coletiva os teatros, cinemas, salões de baile ou concertos,
boates, bares, clubes ou associações de qualquer natureza, lojas, estabelecimentos comerciais e
industriais, estádios, circos, feiras, restaurantes, hotéis, motéis, clínicas, hospitais, órgãos públicos
da administração direta ou indireta, fundacionais e estatais, meios de transporte de passageiros
terrestre, marítimo, fluvial ou aéreo, ou onde quer que se representem, executem ou transmitam
obras literárias, artísticas ou científicas.
Ainda que se atribua a obrigação pelo recolhimento dos valores à associação civil contratada para executar
a programação das festividades carnavalescas, a responsabilidade do Distrito Federal não estaria afastada
de plano.
Cumpre frisar que não se está a impor ao ente público o dever de recolher os valores relativos aos direitos
autorais por simples descumprimento do dever de fiscalização, mas em decorrência de sua condição de
idealizador, executor e patrocinador do evento.
Veja-se que a atuação estatal, no caso, não se limitou à mera concessão de subvenção social às escolas de
samba, com transferência de recursos à entidade sem fins lucrativos, tampouco à participação
governamental em programa de desenvolvimento de cultura popular.
Como consignado, as festividades carnavalescas foram idealizadas e promovidas pelo ente público e,
embora terceirizados os shows e apresentações, subsiste a responsabilidade solidária do ente público
idealizador do evento pelas sanções decorrentes da violação dos direitos autorais, nos termos do art. 110
da Lei nº 9.610/98.
Em suma:
Ainda que terceirizada a execução de shows e apresentações musicais, subsiste a responsabilidade
solidária do ente público idealizador do evento pelas sanções decorrentes da violação dos direitos
autorais.
STJ. 4ª Turma. EDcl no AgInt no REsp 1.797.700-DF, Rel. Min. João Otávio de Noronha, julgado em
12/9/2023 (Info 15 – Edição Extraordinária).
CONTRATOS
Não é possível conferir maior eficácia jurídica ao contrato preliminar que ao definitivo,
sobretudo quando as partes, nessa nova avença, pactuaram obrigações diametralmente opostas
e desautorizam, expressamente, os termos da proposta original
ODS 16
a compradora (Capital Ventures) seria responsável por essas dívidas. Logo, deveria
prevalecer essa cláusula prevista no contrato preliminar.
O STJ não concordou com os argumentos dos vendedores.
Quando chega o momento de assinar o contrato definitivo, é possível que as partes, de maneira
consensual, definam obrigações que sejam diferentes ou até mesmo contrários aos que
haviam sido combinados inicialmente no contrato preliminar.
STJ. 3ª Turma. REsp 2.054.411-DF, Rel. Min. Moura Ribeiro, julgado em 3/10/2023 (Info 15 – Edição
Extraordinária).
Vale ressaltar, contudo, que, quando chega o momento de assinar o contrato definitivo, é possível que as
partes, de maneira consensual, definam obrigações que sejam diferentes ou até mesmo contrários aos
que haviam sido combinados inicialmente no contrato preliminar. Isso acontece porque o contrato
preliminar tem um papel de preparar e estruturar as bases do acordo, mas pode ser alterado se as partes
assim desejarem, ajustando-se aos seus interesses e necessidades no momento da finalização do contrato.
Nesse sentido, a liberdade contratual confere aos negociantes amplos poderes para revogar, modificar ou
substituir cláusulas anteriores, não importando se esses ajustes estavam previstos nos contratos
preliminares, uma vez que a autonomia da vontade das partes pode desconstituir obrigações
anteriormente assumidas.
Na situação analisada, as partes convencionaram, inicialmente, que a responsabilidade pelo pagamento
dos débitos trabalhistas seria do adquirente. No entanto, depois, no contrato definitivo, de comum
acordo, as partes ajustaram que essa obrigação seria de responsabilidade dos vendedores. Perceba que
foram os próprios negociantes que, depois do acordo inicial, resolveram mudar de ideia e,
consensualmente, formalizaram um contrato em sentido oposto ao da proposta inicial.
Não é possível que os vendedores queiram adotar um comportamento incoerente e que aleguem que
apenas essa cláusula do contrato definitivo não seja aplicada, mantendo-se todo o restante.
O que aconteceu no caso concreto foi que as partes ajustaram algo no contrato preliminar e, depois, no
contrato definitivo resolveram alterar. Diante disso, não há mais como se conferir maior eficácia à cláusula
contratual que estava no contrato preliminar do que aquela que ficou consignada no contrato definitivo.
Em suma:
Não é possível conferir maior eficácia jurídica ao contrato preliminar que ao definitivo, sobretudo
quando as partes, nessa nova avença, pactuaram obrigações diametralmente opostas e desautorizam,
expressamente, os termos da proposta original.
STJ. 3ª Turma. REsp 2.054.411-DF, Rel. Min. Moura Ribeiro, julgado em 3/10/2023 (Info 15 – Edição
Extraordinária).
CONTRATOS
Se houver uma cláusula contratual que limite o valor de indenização que a parte pode pedir em
caso de descumprimento do ajuste, essa cláusula não pode ser afastada pelo simples fato de
uma das partes ter maior poderio econômico e técnico do que a outra
ODS 16
O juiz condenou a Alfa ao pagamento de R$ 2 milhões que foram os prejuízos comprovados pela autora.
A Alfa recorreu alegando que o contrato possuía uma cláusula limitativa de responsabilidade, ou seja, uma
cláusula que estabelecia uma quantia máxima que poderia ser paga a título de indenização por uma das
partes no caso de descumprimento contratual ou outros tipos de prejuízos.
Essa cláusula limitativa de responsabilidade era de R$ 500 mil. Logo, a Alfa pediu para que a indenização
fosse reduzida e ficasse limitada a esse valor.
O Tribunal de Justiça negou provimento ao recurso argumentando que essa cláusula limitativa de
responsabilidade deveria, no caso concreto, ser tida como nula considerando o grande poderio econômico
e técnico da fornecedora (Alfa) e a debilidade da distribuidora (Delta).
Assim, a cláusula limitativa de extensão indenizatória pactuada foi afastada porque o TJ reconheceu que,
no caso, houve infração à ordem econômica caracterizada pelo aumento arbitrário de lucros e pelo
exercício abusivo de posição dominante.
Inconformada, a Alfa interpôs recurso especial afirmando que os motivos invocados pelo TJ não são
suficientes para declarar a nulidade da cláusula limitativa de responsabilidade.
Art. 416. Para exigir a pena convencional, não é necessário que o credor alegue prejuízo.
Parágrafo único. Ainda que o prejuízo exceda ao previsto na cláusula penal, não pode o credor
exigir indenização suplementar se assim não foi convencionado. Se o tiver sido, a pena vale como
mínimo da indenização, competindo ao credor provar o prejuízo excedente.
O tribunal estadual entendeu por bem afastar a cláusula limitativa de responsabilidade para “coibir
eventual infração à ordem econômica”, nos termos do art. 36, III e IV da Lei nº 12.529/2011:
Art. 36. Constituem infração da ordem econômica, independentemente de culpa, os atos sob
qualquer forma manifestados, que tenham por objeto ou possam produzir os seguintes efeitos,
ainda que não sejam alcançados:
(...)
III - aumentar arbitrariamente os lucros; e
IV - exercer de forma abusiva posição dominante.
Assim, como não ficou minimamente comprovado o dolo na fixação da cláusula penal nem foi previsto no
contrato a possibilidade de o credor demandar indenização suplementar, deve mesmo prevalecer a
validade da cláusula limitativa de responsabilidade, que engloba, inclusive, os danos morais arbitrados.
Em suma:
O simples reconhecimento do poderio econômico e técnico da fornecedora e da debilidade da
distribuidora, retratado em sucessivas alterações contratuais, é insuficiente para tornar nula cláusula
de limitação de responsabilidade.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.989.291-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, Rel. para acórdão Min. Moura
Ribeiro, julgado em 7/11/2023 (Info 15 – Edição Extraordinária).
CONTRATOS
Não se mostra arbitrária ou discriminatória a exclusão, dos quadros da cooperativa, de médico
cooperado que fundou nova cooperativa médica para operar no mesmo campo econômico da
anterior, gerando evidente conflito de interesses
ODS 16
Caso adaptado: João, médico, era um dos membros da cooperativa Unimed. Ele, juntamente
com outros 28 médicos, fundaram uma nova cooperativa médica denominada Saúde Total. Em
razão disso, João foi excluído da Unimed, sob a alegação de que ele descumpriu cláusulas
estatuárias.
João não concordou e ajuizou ação contra a Unimed alegando que essas imposições são
cláusulas de unimilitância que, portanto, são nulas. Como consequência, pediu a sua
reintegração à Unimed.
O STJ não concordou com o autor.
O art. 29, § 4º, da Lei 5.764/71 (Lei das Cooperativas) prevê que “não poderão ingressar no
quadro das cooperativas os agentes de comércio e empresários que operem no mesmo campo
econômico da sociedade”.
O estatuto social da Unimed dispõe, em síntese, que o médico cooperado não poderá exercer
exploração comercial no ramo da cooperativa ou ocupar cargos de direção e compor órgãos
sociais de outras operadoras de plano de saúde, sem, contudo, exigir exclusividade de atuação
(cláusula de unimilitância).
Na hipótese, a exclusão de João dos quadros da cooperativa recorrida não decorreu de
exigência de exclusividade, mas do rompimento do pacto cooperativo em razão de ter ele,
conjuntamente com outros médicos cooperados, fundado nova cooperativa, no mesmo ramo
de atuação daquela, para concorrer diretamente, gerando evidente conflito de interesses.
Desse modo, não se mostra arbitrária ou discriminatória a exclusão, tampouco importa
indevida restrição à atividade profissional dos cooperados.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.311.662-RJ, Rel. Min. Raul Araújo, julgado em 12/9/2023 (Info 15 – Edição
Extraordinária).
Art. 5º - Poderá ingressar na Unimed, toda a pessoa física que, tendo livre disposição de sua pessoa
e bens, exerça a profissão de médico dentro da área de ação da Sociedade, esteja devidamente
habilitado pela inscrição nos órgãos profissionais, econômicos e fiscais exigidos por Lei, que
concorde com o presente Estatuto e atenda aos demais comandos regimentais e dos órgãos
sociais da sociedade, e não realize qualquer atividade que possa prejudicar a Cooperativa ou que
venha a colidir com as suas finalidades.
(...)
IV - Não poderão ingressar no quadro da Cooperativa os Médicos que ocupem cargos de direção
ou exerçam atividades comerciais em organizações caracterizadas como entidades de medicina
de grupo ou empresas que atuam na área do seguro-saúde; os já cooperados antes da vigência
deste artigo tornam-se inelegíveis para cargos sociais.
Art. 45 - O cooperado não pode exercer cumulativamente cargos nos órgãos Sociais desta e/ou de
outras cooperativas.
João não concordou e ajuizou ação contra a Unimed alegando que essas imposições são cláusulas de
unimilitância que, portanto, são nulas.
A cláusula de unimilitância refere-se a uma disposição estatutária em cooperativas, especialmente as
cooperativas médicas, que exige dos seus cooperados a exclusividade na prestação de serviços. Em
resumo, esta cláusula impede que os cooperados se associem ou participem de outras cooperativas ou
entidades que atuem no mesmo campo ou segmento econômico.
O autor pediu a declaração de nulidade das cláusulas e a sua reintegração aos quadros de cooperados da
Unimed.
Após a tramitação nas instâncias ordinárias, o caso chegou até o STJ. O pedido do autor foi acolhido?
NÃO.
Cláusula de unimilitância
Como vimos acima, a cláusula de unimilitância é aquela que exige exclusividade dos médicos cooperados,
impedindo-os de se credenciarem ou referenciarem a quaisquer outras operadoras de planos de saúde ou
seguradoras especializadas em saúde concorrentes, o que acaba por criar restrições ao exercício da
atividade profissional dos cooperados, que passam a ser vinculados exclusivamente à cooperativa médica.
No caso concreto, o médico fundou uma nova cooperativa para concorrer com a antiga
No caso, o cooperado não foi eliminado do quadro de cooperados simplesmente por ingressar em
cooperativa para realizar atendimentos médicos. A situação foi diversa. Ele fundou, em conjunto com
outros cooperados, uma nova cooperativa médica para concorrer com a Unimed, em razão da insatisfação
com alegadas limitações impostas às atividades dos cooperados, passando a integrar órgão social da nova
entidade.
Nesse contexto, a sua eliminação não se mostra arbitrária ou discriminatória, tampouco impõe restrições
à sua atividade profissional. Ao contrário, resultou do rompimento do pacto cooperativo, que tem como
principal objetivo potencializar o sucesso econômico da cooperativa de trabalho médico que, por sua vez,
passou a concorrer diretamente com a nova cooperativa por ele fundada.
Nesse sentido, vale relembrar o que prevê o art. 29, § 4º, da Lei 5.764/71 (Lei das Cooperativas):
Art. 29 (...)
§ 4º Não poderão ingressar no quadro das cooperativas os agentes de comércio e empresários
que operem no mesmo campo econômico da sociedade.
Em suma:
Não se mostra arbitrária ou discriminatória a exclusão, dos quadros da cooperativa, de médico
cooperado que fundou nova cooperativa médica para operar no mesmo campo econômico da anterior,
gerando evidente conflito de interesses.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.311.662-RJ, Rel. Min. Raul Araújo, julgado em 12/9/2023 (Info 15 – Edição
Extraordinária).
Aprofundando:
Por outro lado, o STJ afirmou que a cláusula prevista no art. 8º, “c”, do Estatuto era ilegal, à luz da
jurisprudência do STJ e do entendimento da ANS e do CADE. Isso porque se trata de situação clássica de
restrição ao exercício da atividade profissional.
Contudo, no caso concreto, a expulsão de João não se fundamentou nesta cláusula, mas em hipótese
prevista nos arts. 5º, IV, e 45 do estatuto, equiparando-se, para todos os efeitos, ao exercício de atividade
comercial no ramo da cooperativa. Isso, porque, ainda que os atos cooperativos não impliquem operações
de mercado, a conduta de João, dadas as particularidades do caso concreto, configura atividade
potencialmente prejudicial à cooperativa e, portanto, incompatível com seus objetivos.
CONTRATOS (SEGURO)
A associação de proteção veicular que foi estipulante de contrato de seguro coletivo responde
solidariamente com a seguradora pelo pagamento da indenização securitária
ODS 16
Caso adaptado: uma associação de proteção veicular celebrou contrato com a Nobre
Seguradora a fim de oferecer um seguro em favor de seus associados (caminhoneiros). João,
um dos associados, sofreu acidente e, como não recebeu a indenização, ajuizou ação contra a
seguradora e a associação em litisconsórcio.
O estipulante, em regra, não é o responsável pelo pagamento da indenização securitária. Por
outro lado, é possível, excepcionalmente, atribuir ao estipulante a responsabilidade pelo
pagamento da indenização securitária, em solidariedade com o ente segurador, como nas
Seguro individual
No contrato securitário individual, a pessoa física ou jurídica é quem contrata diretamente com a
seguradora o interesse segurável mediante o pagamento de um prêmio. Pode atuar, como intermediário,
um corretor autorizado, o qual presta serviços, integrando a cadeia de fornecimento.
Desse modo, tanto o ente segurador quanto o corretor de seguros devem prestar informações adequadas
ao proponente quando da contratação (art. 2º, VIII, “b”, e art. 3º, caput, e § 1º, V, VI e VIII, da Resolução
CNSP nº 382/2020).
Seguro coletivo
No contrato de seguro em grupo, cuja estipulação é feita em favor de terceiros, três são as partes
interessadas:
a estipulante, responsável pela contratação com o segurador (ex: empresa ou associação);
b) seguradora, que oferece a cobertura dos riscos especificados na apólice;
c) o grupo segurado, usufrutuários dos benefícios, que assumem suas obrigações para com o estipulante
(ex: trabalhadores ou associados).
João adquiriu um novo caminhão e, seguindo o procedimento padrão, pediu a substituição de sua antiga
apólice de seguro por uma nova, relativa ao seu novo veículo. A seguradora agendou a realização de uma
vistoria para avaliar o caminhão e, assim, dar início à cobertura securitária.
A vistoria foi realizada no dia 01/09.
Ocorre que, no dia seguinte (02/09), João se envolveu em um acidente na estrada e seu caminhão ficou
inteiramente destruído.
João requereu a indenização securitária, mas a seguradora negou o pedido, alegando que a apólice ainda
não estava vigente no momento do acidente. A seguradora explicou que a cobertura securitária somente
se inicia dois dias após a vistoria. Como ainda não havia passado esse prazo, o seguro ainda não estava em
vigor.
João não aceitou a justificativa e ajuizou ação contra a “Caminhoneiros Unidos” (associação) e contra
Nobre Seguradora, buscando a indenização pelo sinistro.
O juiz julgou o pedido procedente condenando a associação e a seguradora ao pagamento da indenização.
A sentença foi mantida pelo Tribunal de Justiça.
Inconformada, a associação interpôs recurso especial alegando que era apenas uma intermediária no
contrato de seguro e, portanto, não deveria ser responsabilizada.
procedimento de contratação do seguro (arts. 21, § 2º, do Decreto-Lei nº 73/1966 e 801, § 1º, do Código
Civil).
Por outro lado, é possível, excepcionalmente, atribuir ao estipulante a responsabilidade pelo pagamento
da indenização securitária, em solidariedade com o ente segurador, como nas hipóteses de mau
cumprimento de suas obrigações contratuais ou de criação nos segurados de legítima expectativa de ser
ele o responsável por esse pagamento.
Nesse sentido:
Conquanto, como regra, o estipulante não tenha responsabilidade pela cobertura securitária, porquanto
atua apenas como interveniente, agilizando o procedimento de contratação do seguro, por exceção deve
responder de forma subsidiária nos casos em que seu comportamento cria nos segurados a legítima
expectativa de ser a responsável pela indenização, ou atua de forma a retardar o seu pagamento.
STJ. 3ª Turma. AgRg no REsp 1.265.230/RS, Rel. Min. Paulo de Tarso Sanseverino, DJe 22/2/2013.
O estipulante, via de regra, não é parte legítima para figurar no polo passivo da demanda que busca o
pagamento da indenização securitária, ressalvados os casos em que seu comportamento leva o
contratante a crer que é responsável pela cobertura (teoria da aparência).
STJ. 4ª Turma. AgInt no AREsp 1.294.945/AP, Rel. Min. Marco Buzzi, DJe de 13/6/2019.
Em suma:
É possível, excepcionalmente, atribuir à associação de proteção veicular a responsabilidade pelo
pagamento da indenização securitária, em solidariedade com o ente segurador que atue na condição de
estipulante de seguro automotivo coletivo.
STJ. 3ª Turma. REsp 2.080.290-MG, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 15/8/2023 (Info 15 –
Edição Extraordinária).
Inadimplemento
João comprometeu-se a pagar a dívida em 180 prestações.
Ocorre que, por dificuldades financeiras, o mutuário/fiduciante tornou-se inadimplente.
Havendo mora por parte do mutuário, o credor deverá fazer a notificação extrajudicial (“intimação”) do
devedor de que este se encontra em débito, comprovando, assim, a mora.
Se, passados 15 dias da intimação, o fiduciante não pagar a dívida (purgar a mora), o art. 26 da Lei nº
9.514/97 afirma que ocorre a consolidação da propriedade em nome do fiduciário:
Art. 26. Vencida e não paga, no todo ou em parte, a dívida e constituído em mora o fiduciante,
consolidar-se-á, nos termos deste artigo, a propriedade do imóvel em nome do fiduciário.
(...)
Se passarem os 15 dias sem que o devedor purgue a mora, o oficial do Registro de Imóveis irá certificar
esse fato e promoverá a averbação, na matrícula do imóvel, da consolidação da propriedade em nome do
fiduciário (§ 7º do art. 26). Em outras palavras, o fiduciário (credor) torna-se o proprietário pleno.
Vale ressaltar que, antes de fazer a consolidação da propriedade, o registrador deverá exigir do fiduciário
o pagamento do imposto de transmissão inter vivos (ITBI) e, se for o caso, do laudêmio.
Após a consolidação da propriedade, a Lei impõe ao fiduciário a obrigação de tentar alienar o imóvel por
meio de leilão público:
Art. 27. Uma vez consolidada a propriedade em seu nome, o fiduciário, no prazo de trinta dias,
contados da data do registro de que trata o § 7º do artigo anterior, promoverá público leilão para
a alienação do imóvel.
(...)
Vimos acima que o devedor possui o prazo de 15 dias após a intimação para purgar a mora. Indaga-se:
é possível que o devedor fiduciante faça a purgação da mora após a consolidação da propriedade em
nome do fiduciário?
encargos tributários e despesas exigíveis para a nova aquisição do imóvel, de que trata este
parágrafo, inclusive custas e emolumentos. (Incluído pela Lei nº 13.465/2017)
Sobrevindo a Lei nº 13.465, de 11/07/2017, que introduziu no art. 27 da Lei nº 9.514/97 o § 2º-B, não se
cogita mais da aplicação subsidiária do Decreto-Lei nº 70/1966, uma vez que, consolidada a propriedade
fiduciária em nome do credor fiduciário, descabe ao devedor fiduciante a purgação da mora, sendo-lhe
garantido apenas o exercício do direito de preferência na aquisição do bem imóvel objeto de propriedade
fiduciária.
Em suma:
Antes da entrada em vigor da Lei nº 13.465/2017: mesmo que já consolidada a propriedade do imóvel
dado em garantia em nome do credor fiduciário, era possível a purgação da mora. A purgação era admitida
até a assinatura do auto de arrematação.
A partir da entrada em vigor da Lei nº 13.465/2017: não se admite a purgação da mora após a consolidação
da propriedade em favor do credor fiduciário, sendo assegurado ao devedor fiduciante tão somente o
exercício do direito de preferência.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.649.595-RS, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 13/10/2020 (Info 681).
RESPONSABILIDADE CIVIL
Não é possível responsabilizar a loja ou a empresa por compras feitas com cartão de crédito
perdido, roubado ou fraudulento, se o ladrão usou a senha correta ou se inseriu todos os dados
necessários do cartão para a compra online
ODS 16
Ex: Regina teve seu cartão de crédito furtado. Junto com o cartão, havia um papel no qual
Regina havia anotado a senha do cartão a fim de não esquecê-la. O ladrão, aproveitando-se da
situação, realizou diversas compras. Nas compras presenciais, o ladrão fez o uso regular da
senha da titular. Nas compras online, ele digitou todos os dados necessários para a operação.
Regina ajuizou então ação de indenização contra às lojas e empresas onde foram realizadas as
compras alegando que elas deveriam ter adotado procedimentos de segurança para evitar a
fraude exigindo a identidade do comprador para comparar com a titular do cartão.
O argumento da autora não foi acolhido pelo STJ.
Não há como imputar responsabilidade à empresa ou à loja em que foi utilizado cartão de
crédito extraviado, furtado ou fraudado para a realização de compras, especialmente se houve
uso regular de senha ou, então, em compras efetuadas pela internet, se houve a digitação de
todos os dados necessários para a operação.
Se os cartões de crédito estão livres de restrição, ou seja, desbloqueados e sem impedimentos
de ordem financeira, não há como entender que, pelo simples fato de terem aceitado o cartão
como meio de pagamento, lojistas estariam vinculados à fraude na sua utilização.
STJ. 4ª Turma. REsp 2.095.413-SC, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, julgado em 24/10/2023 (Info 15 –
Edição Extraordinária).
A tese de Regina foi acolhida pelo STJ? As empresas e lojas possuem responsabilidade civil pelas compras
indevidas neste caso?
NÃO.
É possível encontrar alguns julgados mais antigos do STJ afirmando que:
Cabe às administradoras, em parceria com o restante da cadeia de fornecedores do serviço (proprietárias
das bandeiras, adquirentes e estabelecimentos comerciais), a verificação da idoneidade das compras
realizadas com cartões magnéticos.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.058.221/PR, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 4/10/2011.
Essa não é mais a posição jurisprudencial que vigora atualmente. Em verdade, esse entendimento era
válido em casos mais antigos, envolvendo cartão sem chip e sem a necessidade de senha, haja vista que,
nesse cenário, os lojistas tinham sim o dever de conferir, ao menos, a identidade da pessoa que estava
efetuando a compra e a sua assinatura no boleto ou no canhoto. Atualmente, porém, a realidade das
transações comerciais é outra.
Hoje em dia, para a realização de compras com cartão, é necessário apenas que a pessoa que o esteja
portando digite a sua senha pessoal, ou então, em compras realizadas pela internet, digite todos os dados
necessários para a operação, inclusive código de segurança. No cenário atual, exigir do lojista, caso seja
utilizada a senha correta, que ele faça conferência extraordinária, para verificar se aquele cartão foi
emitido regularmente e não foi objeto de fraude ou furto não parece razoável, até porque, enquanto não
for registrada nenhuma ocorrência, é mesmo impossível atestar a inexistência de irregularidades.
Assim, não é correto imputar responsabilidade à empresa ou à loja em que foi utilizado o cartão
extraviado, furtado ou fraudado para a realização de compras, a não ser que se comprove que o lojista
também está envolvido na fraude, furto ou roubo, ou que o cartão tenha sido emitido em razão de parceria
comercial entre o estabelecimento comercial e o banco administrador. Se os cartões de crédito estão livres
de restrição, ou seja, desbloqueados e sem impedimentos de ordem financeira, não há como entender,
pelo simples fato de autorizarem a compra, que os lojistas estariam vinculados à fraude.
Em suma:
Não há como imputar responsabilidade à empresa ou à loja em que foi utilizado cartão de crédito
extraviado, furtado ou fraudado para a realização de compras, especialmente se houve uso regular de
senha ou, então, em compras efetuadas pela internet, se houve a digitação de todos os dados
necessários para a operação.
STJ. 4ª Turma. REsp 2.095.413-SC, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, julgado em 24/10/2023 (Info 15 – Edição
Extraordinária).
No mesmo sentido:
Não comete ato ilícito o estabelecimento comercial que deixa de exigir documento de identidade no
momento do pagamento mediante cartão com uso de senha, considerando que não existe lei federal que
estabeleça obrigação nesse sentido.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.676.090/RS, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 27/8/2019.
RESPONSABILIDADE CIVIL
Metrô deve ser responsabilizado por roubo ocorrido em suas dependências, se ficar evidenciado
que a empresa não adotou os procedimentos mínimos de segurança, nos termos da Lei
6.149/74, inclusive para fins de suporte à vítima após o fato
ODS 16 E 17
A concessionária de serviço público deve ser responsabilizada pelos danos sofridos por
passageira nas dependências da estação do metrô, em razão de assalto à mão armada, quando
evidenciada a falha na prestação do serviço, em virtude da não adoção de procedimentos
mínimos de segurança.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.611.429-SP, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, julgado em 5/9/2023 (Info 15 –
Edição Extraordinária).
Após a tramitação nas instâncias ordinárias, o caso chegou até o STJ. A concessionária foi condenada a
indenizar João?
SIM.
Em regra, o STJ entende que a concessionária de transporte coletivo não possui responsabilidade civil por
crimes praticados por terceiros em suas dependências. Nesse sentido:
Não há responsabilidade da empresa de transporte coletivo na hipótese de ocorrência de prática de ilícito
alheio à atividade fim, pois o ato doloso de terceiro afasta a responsabilidade civil da concessionária por
estar situado fora do desenvolvimento normal do contrato de transporte (fortuito externo), não tendo
com ele conexão.
STJ. 2ª Seção. REsp 1.853.361/PB, Rel. Min. Nancy Andrighi, relator para acórdão Min. Marco Buzzi, DJe
de 5/4/2021.
A concessionária de serviço público de transporte não tem responsabilidade civil em caso de assédio
sexual cometido por terceiro em suas dependências.
A importunação sexual no transporte de passageiros, cometida por pessoa estranha à empresa, configura
fato de terceiro, que rompe o nexo de causalidade entre o dano e o serviço prestado pela concessionária
– excluindo, para o transportador, o dever de indenizar.
O crime era inevitável, quando muito previsível apenas em tese, de forma abstrativa, com alto grau de
generalização. Por mais que se saiba da possibilidade de sua ocorrência, não se sabe quando, nem onde,
nem como e nem quem o praticará. Apenas se sabe que, em algum momento, em algum lugar, em alguma
oportunidade, algum malvado o consumará. Então, só pode ter por responsável o próprio criminoso.
STJ. 2ª Seção. REsp 1.833.722/SP, Rel. Min. Raul Araújo, julgado em 03/12/2020.
Art. 4º O corpo de segurança do metrô colaborará com a Polícia local para manter a ordem pública,
prevenir ou reprimir crimes e contravenções penais nas áreas do serviço de transporte
metroviário.
§ 1º Em qualquer emergência ou ocorrência, o corpo de segurança deverá tomar imediatamente
as providências necessárias a manutenção ou restabelecimento da normalidade do tráfego e da
ordem nas dependências do metrô.
§ 2º Em caso de acidente, crime ou contravenção penal, o corpo de segurança do metrô adotará
as providências previstas na Lei nº 5.970, de 11 de dezembro de 1973, independentemente da
presença de autoridade ou agente policial, devendo ainda:
I - Remover os feridos para pronto-socorro ou hospital;
II - Prender em flagrante os autores dos crimes ou contravenções penais e apreender os
instrumentos e os objetos que tiverem relação com o fato, entregando-os à autoridade policial
competente; e
III - Isolar o local para verificações e perícias, se possível e conveniente, sem a paralisação do
tráfego.
Art. 5º Em qualquer dos casos a que se refere o § 2º do artigo anterior, após a adoção das
providências previstas, o corpo de segurança do metrô lavrará, encaminhando-o à autoridade
policial competente, boletim de ocorrência em que serão consignados o fato, as pessoas nele
envolvidas, as testemunhas e os demais elementos úteis para o esclarecimento da verdade.
Parágrafo único. O boletim de ocorrência se equipara ao registro policial de ocorrência para todos
os fins de direito.
Vale ressaltar que os assaltos no metrô eram corriqueiros e estavam sendo divulgados por reportagens
veiculadas meses antes do crime cometido contra João.
Nesse contexto, seria lógico que a concessionária tivesse adotado o mínimo de condições de segurança
esperada nos meses seguintes, o que não ocorreu, pois, quando do cometimento do crime, as
dependências da estação permaneciam sem mecanismo de vigilância algum, o que, impediu inclusive o
auxílio na busca e repreensão dos autores do ilícito, dever atribuído à concessionária por força dos arts.
3º, 4º e 5º da referida lei.
Em suma:
A concessionária de serviço público deve ser responsabilizada pelos danos sofridos por passageiro nas
dependências da estação do metrô, em razão de assalto à mão armada, quando evidenciada a falha na
prestação do serviço, em virtude da não adoção de procedimentos mínimos de segurança.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.611.429-SP, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, julgado em 5/9/2023 (Info 15 – Edição
Extraordinária).
Caso hipotético: Lucas e Mariana desenvolveram um curso online sobre arquitetura, vendido
em plataforma específica. Alguns meses depois do lançamento, eles descobriram que o curso
que criaram estava sendo comercializado por uma pessoa que não conheciam no Mercado
Livre.
Explicando melhor: alguém comprou o curso na plataforma, fez o download de todo o
conteúdo e agora está vendendo esse material no Mercado Livre. Trata-se, portanto, de um
curso “pirata”.
O Mercado Livre retira os anúncios denunciados pelos autores, mas logo em seguida já surge
outra oferta do mesmo curso com outro perfil de usuário. Diante desse cenário, Lucas e
Mariana ajuizaram ação contra o Mercado Livre pedindo que ele seja condenado a monitorar
sempre que alguém tentar vender o curso a fim de impedir que isso ocorra, sob pena de multa
diária.
O STJ não concordou com o pedido.
O serviço de intermediação virtual de venda e compra de produtos caracteriza uma espécie do
gênero provedoria de conteúdo, pois não há edição, organização ou qualquer outra forma de
gerenciamento das informações relativas às mercadorias inseridas pelos usuários.
Não se pode impor aos sites de intermediação de venda e compra a prévia fiscalização sobre a
origem de todos os produtos anunciados, na medida em que não constitui atividade intrínseca
ao serviço prestado.
STJ. 4ª Turma. AgInt nos EDcl nos EDcl no REsp 1.890.786-DF, Rel. Min. Marco Buzzi, julgado em
30/10/2023 (Info 15 – Edição Extraordinária).
Esse curso passou a ser vendido em uma plataforma de venda de cursos online.
Ocorre que, alguns meses depois do lançamento, Lucas e Mariana descobriram que o curso que criaram
estava sendo comercializado por uma pessoa que não conheciam no Mercado Livre.
Explicando melhor: alguém comprou o curso na plataforma, fez o download de todo o conteúdo e agora
está vendendo esse material no Mercado Livre. Trata-se, portanto, de um curso “pirata”.
Lucas e Mariana fizeram um boletim de ocorrência na polícia e entraram em contato, por diversas vezes,
com o Mercado Livre para retirar essa venda do site.
O Mercado Livre retira os anúncios denunciados pelos autores, mas logo em seguida já surge outra oferta
do mesmo curso com outro perfil de usuário.
Diante desse cenário, Lucas e Mariana ajuizaram ação contra o Mercado Livre pedindo que ele seja
condenado:
a) a monitorar sempre que alguém tentar vender o curso a fim de impedir que isso ocorra, sob pena de
multa diária;
b) a pagar indenização pelos danos morais e materiais sofridos.
Após a tramitação nas instâncias ordinárias, o caso chegou até o STJ. Os pedidos dos autores foram
acolhidos?
NÃO.
De acordo com o entendimento consolidado do STJ, se um terceiro publica algum conteúdo ofensivo na
internet, o provedor de conteúdo ou de serviços, que armazena a página, somente tem a obrigação de
remover o conteúdo impugnado depois que a pessoa prejudicada informa, de maneira clara e precisa, a
URL's ou o link da postagem. Isso para permitir que o provedor faça a individualização e localização e,
consequentemente, a sua adequada remoção:
Para a remoção de conteúdo digital na internet, deve haver a indicação pelo requerente do respectivo
localizador URL do conteúdo apontado como infringente.
STJ. 3ª Turma. REsp 1654221/SP, Rel. p/ Acórdão Min. Nancy Andrighi, julgado em 22/10/2019.
Logo, não se afigura viável impor ao site de intermediação de vendas uma prévia fiscalização sobre a
origem ou a legalidade dos produtos anunciados:
O serviço de intermediação virtual de venda e compra de produtos caracteriza uma espécie do gênero
provedoria de conteúdo, pois não há edição, organização ou qualquer outra forma de gerenciamento das
informações relativas às mercadorias inseridas pelos usuários.
Não se pode impor aos sites de intermediação de venda e compra a prévia fiscalização sobre a origem de
todos os produtos anunciados, na medida em que não constitui atividade intrínseca ao serviço prestado.
STJ. 3ª Turma. REsp 1383354/SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 27/08/2013.
Ressalta-se, ademais, que o art. 19 do Marco Civil da Internet, estabelece que o provedor de aplicação de
internet não será responsabilizado por danos decorrentes de conteúdos produzidos por terceiros, salvo
se após ordem judicial específica, não adotar providências para tornar indisponível o conteúdo apontado
como danoso:
Art. 19. Com o intuito de assegurar a liberdade de expressão e impedir a censura, o provedor de
aplicações de internet somente poderá ser responsabilizado civilmente por danos decorrentes de
conteúdo gerado por terceiros se, após ordem judicial específica, não tomar as providências para,
no âmbito e nos limites técnicos do seu serviço e dentro do prazo assinalado, tornar indisponível
o conteúdo apontado como infringente, ressalvadas as disposições legais em contrário.
§ 1º A ordem judicial de que trata o caput deverá conter, sob pena de nulidade, identificação clara
e específica do conteúdo apontado como infringente, que permita a localização inequívoca do
material.
(...)
Nesse sentido, a mera citação no processo e consequente ciência dos documentos dos autos não é
suficiente apara configurar a responsabilidade do provedor:
(...) 3. Os provedores de aplicações de internet possuem regramento próprio acerca da responsabilização
pela publicação de anúncios no ambiente digital, o que afasta a incidência da Lei n. 9.610/1998 e atrai o
disposto no art. 19, § 1º, da Lei n. 12.965/2014 (Marco Civil da Internet).
4. A ordem que determina a retirada de um conteúdo da internet deve ser proveniente do poder judiciário
e, como requisito de validade, deve ser identificada claramente. O Marco Civil da Internet elenca, entre
os requisitos de validade da ordem judicial para a retirada de conteúdo infringente, a 'identificação clara
e específica do conteúdo', sob pena de nulidade, sendo necessário, portanto, a indicação do localizador
URL. (...)
STJ. 4ª Turma. REsp 1.763.517/SP, Rel. Min. João Otávio de Noronha, julgado em 5/9/2023;
(...) 4. A jurisprudência do Superior Tribunal de Justiça está amplamente consolidada no sentido de afirmar
que a responsabilidade dos provedores de aplicação da internet, por conteúdo gerado de terceiro, é
subjetiva e solidária, somente nas hipóteses em que, após ordem judicial, negar ou retardar
indevidamente a retirada do conteúdo.
5. A motivação do conteúdo divulgado de forma indevida é indiferente para a incidência do art. 19, do
Marco Civil da Internet. (...)
STJ. 3ª Turma. REsp 1.993.896/SP, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 17/5/2022.
Em suma:
Não se pode impor aos sites de intermediação de venda e compra a prévia fiscalização sobre a origem
de todos os produtos anunciados, na medida em que não constitui atividade intrínseca ao serviço
prestado.
STJ. 4ª Turma. AgInt nos EDcl nos EDcl no REsp 1.890.786-DF, Rel. Min. Marco Buzzi, julgado em
30/10/2023 (Info 15 – Edição Extraordinária).
No caso da criação de gado bovino, a atividade pecuária deve ser considerada de grande porte,
razão pela qual o prazo mínimo para duração do contrato de arrendamento mercantil é de 5
(cinco) anos, conforme disciplina o art. 13, II, “a”, do Decreto nº 59.566/66.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.336.293-RS, Rel. Min. João Otávio de Noronha, julgado em 24/5/2016 (Info 584).
STJ. 4ª Turma. REsp 1.980.953-RS, Rel. Min. Antonio Carlos Ferreira, julgado em 12/12/2023 (Info
15 – Edição Extraordinária).
Arrendamento rural
De forma resumida, arrendamento rural é um contrato por meio do qual o arrendador aluga um imóvel
que será utilizado por outra pessoa (arrendatário) para a exploração de atividade rural (agrícola, pecuária,
granjeira etc).
O contrato de arrendamento rural é regido pelo Estatuto da Terra (Lei nº 4.504/64) e pelo Decreto nº
59.566/66.
O juiz julgou o pedido parcialmente procedente. O magistrado reconheceu que o autor tinha direito de
estender o prazo do contrato, mas não para 5 (como queria Pedro) e sim para 3 anos. Isso porque, na visão
do julgador, a pecuária desenvolvida pelo arrendatário era de pequeno e médio porte e o prazo de 5 anos
só se aplica para a pecuária de grande porte. O autor recorreu e a questão chegou até o STJ.
O argumento do magistrado foi aceito pelo STJ? O prazo mínimo do arrendamento rural deverá ser de
3 anos caso a pecuária desenvolvida seja de pequeno e médio porte?
NÃO.
No caso da criação de gado bovino, a atividade pecuária deve ser considerada de grande porte, razão
pela qual o prazo mínimo para duração do contrato de arrendamento mercantil é de 5 (cinco) anos,
conforme disciplina o art. 13, II, “a”, do Decreto nº 59.566/66.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.980.953-RS, Rel. Min. Antonio Carlos Ferreira, julgado em 12/12/2023 (Info 15 –
Edição Extraordinária).
É a posição de RAMOS, Helena Maria Bezerra. Contrato de arrendamento rural. 2ª ed. Curitiba: Juruá,
2013, p. 97 e de COLHEO, José Fernando Lutz. Contratos Agrários: uma visão neo-agrarista. Curitiba: Juruá,
2006, p. 130).
Desse modo, quando o Decreto fala em grande porte, não está se referindo ao tamanho da propriedade,
número de animais etc. O critério aqui é a espécie de animal que é criado. Veja:
“A expressão 'grande porte' não se refere à escala da atividade (número de unidades de animais,
por exemplo), mas, sim, ao porte dos animais, cujo prazo reprodutivo e de engorda é maior que
os de menor porte. Na pecuária de pequeno porte são incluídas a apicultura, piscicultura,
avicultura e cunicultura. Na de médio porte, a suinocultura, caprinocultura e ovinocultura e na de
grande porte a bovinocultura, bubalinocultura, equinocultura e asinino cultura.” (CARVALHO,
Edson Ferreira de. Manual didático de direito agrário. Curitiba: Juruá, 2010, p. 410).
Nessa perspectiva, a melhor interpretação do art. 13 do Decreto nº 59.566/66 é a que confere ao tamanho
do animal a função de caracterizar se a atividade exercida é de pequeno, médio ou de grande porte, sendo
irrelevante, consequentemente, a dimensão do empreendimento.
Assim, a criação de gado bovino, por si, é suficiente para configurar a atividade pecuária como sendo de
grande porte, tendo em vista que, em razão dos ciclos exigidos para criação, reprodução, engorda e abate,
há necessidade de duração mais extensa do contrato de arrendamento rural.
Nesse mesmo sentido, a Terceira Turma decidiu que:
É de cinco anos o prazo mínimo para a duração de contrato de arrendamento rural em que ocorra pecuária
de gado bovino, independentemente da maior ou menor escala da atividade exploratória ou da extensão
da área a que se refira o contrato.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.336.293-RS, Rel. Min. João Otávio de Noronha, julgado em 24/5/2016 (Info 584).
Assim, tratando-se do exercício de pecuária de gado bovino, deve-se reconhecer que a atividade é de
grande porte, aplicando-se o prazo mínimo de 5 anos para a duração dos contratos de arrendamento rural.
DIREITO DO CONSUMIDOR
Caso hipotético: João comprou uma moto 0km diretamente da concessionária. Após três anos
de uso, ele percebe um problema no motor (vício redibitório). João levou a moto para a
concessionária, que propôs reparar o problema substituindo o motor. Ocorre que essa
providência levaria mais de 60 dias para ser efetivada, ultrapassando assim o prazo legal de
30 dias para solução do vício previsto no § 1º do art. 18 do CDC.
João não aceitou e ingressou com ação redibitória contra a concessionária, pedindo a rescisão
do contrato e devolução integral do valor pago pela motocicleta, conforme a nota fiscal.
A concessionária contestou argumentando que a motocicleta foi utilizada por três anos sem
problemas. Diante disso, sustentou que a eventual devolução do valor deveria considerar o
desgaste do bem, sugerindo o uso da Tabela FIPE para determinar o valor de mercado da
motocicleta na data de sua devolução.
O STJ concordou com o consumidor.
É devida a devolução integral do valor atualizado pago pelo produto, não sendo cabível a
restituição de seu valor como usado, no caso de objeto que teve vício redibitório reconhecido,
ultrapassado o prazo para sanar o vício, nos termos do art. 18 do CDC.
STJ. 4ª Turma. AgInt no AREsp 2.233.500-DF, Rel. Min. João Otávio de Noronha, julgado em
11/9/2023 (Info 15 – Edição Extraordinária).
(...)
Insatisfeito com a demora e preocupado com a segurança, João ingressou com ação redibitória contra a
concessionária, pedindo a rescisão do contrato e devolução integral do valor pago pela motocicleta,
conforme a nota fiscal.
A concessionária contestou argumentando que a motocicleta foi utilizada por três anos sem problemas.
Diante disso, sustentou que a eventual devolução do valor deveria considerar o desgaste do bem,
sugerindo o uso da Tabela FIPE para determinar o valor de mercado da motocicleta na data de sua
devolução.
Em outras palavras:
• João pediu para devolver a moto, recebendo o valor integralmente o valor que pagou (R$ 50 mil,
conforme consta na nota fiscal);
• a concessionária argumentou que, como houve a depreciação da moto, ele deveria receber o valor atual
do bem segundo a Tabela FIPE (R$ 30 mil).
Voltando ao caso concreto. Para o STJ, quem tem razão: o consumidor ou a concessionária?
O consumidor.
Segundo a jurisprudência do STJ:
A opção pela restituição da quantia paga nada mais é do que o exercício do direito de resolver o contrato
em razão do inadimplemento, sendo que um dos efeitos da resolução da avença consiste no retorno dos
contraentes ao status quo ante.
Para que o regresso ao estado anterior efetivamente se verifique, o fornecedor deve restituir ao
consumidor o valor despendido por este no momento da aquisição do produto viciado.
O abatimento da quantia correspondente à desvalorização do bem, haja vista a sua utilização pelo
adquirente, não encontra respaldo na legislação consumerista.
STJ. 3ª Turma. REsp 2.000.701/PR, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 30/8/2022.
No mesmo sentido:
A aplicação da Tabela FIPE, em casos como o presente, não encontra guarida na jurisprudência desta Corte
Superior.
STJ. 3ª Turma. AREsp 2.242.191/GO, Min. Paulo de Tarso Sanseverino, julgado em 27/2/2023.
Ao estabelecer, no caso concreto, a devolução ao consumidor, não do valor por ele efetivamente pago,
mas de um valor a menor, considerando a utilização do bem viciado durante o lapso temporal até a solução
da controvérsia, o TJDFT contrariou o disposto no art. 18, § 1º, II, do CDC, bem como a jurisprudência
desta Corte Superior, criando critério diverso daquele previsto na lei de regência.
STJ. 3ª Turma. AgInt no REsp 1.845.875/DF, Rel. Min. Moura Ribeiro, julgado em 4/5/2020.
Assim, no que tange a objeto que teve vício redibitório reconhecido, ultrapassado o prazo para sanar o
vício, nos termos do art. 18 do CDC, não é cabível a restituição de seu valor como usado, sendo devida a
devolução integral do valor atualizado pago pelo produto.
Em suma:
É devida a devolução integral do valor atualizado pago pelo produto, não sendo cabível a restituição de
seu valor como usado, no caso de objeto que teve vício redibitório reconhecido, ultrapassado o prazo
para sanar o vício, nos termos do art. 18 do CDC.
STJ. 4ª Turma. AgInt no AREsp 2.233.500-DF, Rel. Min. João Otávio de Noronha, julgado em 11/9/2023
(Info 15 – Edição Extraordinária).
COMPETÊNCIA
A regra do art. 43 do CPC pode ser superada, sempre em caráter excepcional, quando se
constatar que o juízo perante o qual tramita a ação não é adequado ou conveniente para
processá-la e julgá-la
ODS 16
iv) nenhuma das decisões judiciais proferidas pelo Poder Judiciário do Ceará, no âmbito cível,
considerou a possibilidade de afastar o convívio entre o genitor e o filho diante dos seríssimos
fatos que se encontram sob apuração perante o juízo criminal nos últimos 27 meses.
STJ. 2ª Seção. CC 199.079/RN, Rel. Min. Moura Ribeiro, Rel. para acórdão Min. Nancy Andrighi, julgado
em 13/12/2023 (Info 15 – Edição Extraordinária).
Explicação preliminar
O art. 43 do CPC prevê a seguinte regra:
Art. 43. Determina-se a competência no momento do registro ou da distribuição da petição inicial,
sendo irrelevantes as modificações do estado de fato ou de direito ocorridas posteriormente,
salvo quando suprimirem órgão judiciário ou alterarem a competência absoluta.
Desse modo, o art. 43 do CPC estabelece que a competência do juízo é fixada no momento do registro ou
da distribuição da petição inicial, sendo irrelevantes as modificações do estado de fato ou de direito
ocorridas posteriormente. Isso é conhecido como perpetuatio jurisdictionis (ou perpetuação da jurisdição).
Essa regra possui duas exceções explícitas:
a) a supressão do órgão judiciário em que tramitava o processo; e
b) a alteração superveniente de competência absoluta daquele órgão judiciário.
Em um caso concreto, o STJ, excepcionalmente, afastou a regra do art. 43 do CPC. Havia um conflito de
competência envolvendo dois juízos diferentes (juízos 1 e 2). Se fosse aplicada a regra do art. 43 do CPC,
a competência seria firmada no juízo 1. Ocorre que o STJ, por razões excepcionalíssimas que
ultrapassavam questões meramente processuais, decidiu que a competência seria do juízo 2.
No Informativo original constou o seguinte resumo do julgado: “A regra do art. 43 do CPC pode ser
superada, sempre em caráter excepcional, quando se constatar que o juízo perante o qual tramita a ação
não é adequado ou conveniente para processá-la e julgá-la.”
Apesar de a redação do resumo do julgado ter sido ampla, esse afastamento foi nitidamente para o caso
concreto que envolvia situações extremamente graves. Não se pode afirmar, contudo, que se tenha criado
uma possibilidade genérica de afastamento do art. 43 do CPC.
Para fins de concurso, vale o que está consignado na redação do Informativo original. No entanto, na
prática, reputo importante que você sabia que houve um afastamento episódio, excepcionalíssimo da
regra do art. 43 do CPC, e que dificilmente será replicado em outros casos.
Para que você possa entender bem a excepcionalidade do caso concreto, irei fazer uma descrição
detalhada dos fatos, ressaltando que haverá algumas adaptações e omissões para preservar a intimidade
das partes envolvidas. Os nomes, inclusive, são fictícios.
Ali chegando, ela ajuizou ação de guarda unilateral cumulada com pedido de destituição do poder familiar
contra João.
O juízo de uma das varas da comarca de Parnamirim (RN) deferiu a tutela de urgência e concedeu a guarda
exclusivamente à genitora em 24/09/2022.
Na sequência, o juízo da comarca de Parnamirim (RN) declarou-se competente para apreciação e
julgamento dos processos que também estavam em tramitação no juízo da comarca de Fortaleza (CE) e
que envolvessem o interesse do infante Lucas.
Ocorre que o juízo da comarca de Fortaleza (CE) não concordou e, para piorar, em 03/12/2021, expediu
ordem para que a criança fosse devolvida ao pai João.
O juízo da comarca de Fortaleza (CE) chegou, inclusive, a suspender o poder familiar de Regina em
14/02/2022.
Como Regina não entregou o filho, o juízo da comarca de Fortaleza (CE) determinou:
• a execução de multa por descumprimento de ordem judicial;
• a busca e apreensão da criança; e
• a instauração de inquérito policial pelos crimes de desobediência e subtração de menor.
O mandado de busca e apreensão foi cumprido em 06/07/2023 e Lucas entregue ao seu genitor.
A decisão foi baseada no fato de que a criança não mais estava em Parnamirim.
Passo seguinte, o tumulto processual foi ampliado, pois o juízo da comarca de Fortaleza (CE) proferiu decisão
nos autos da execução de multa declinando da competência para o juízo da comarca de Parnamirim (RN).
Diante de todo esse impasse, foi instaurado conflito de competência perante o STJ.
O que decidiu o STJ? A competência será do juízo da comarca de Fortaleza (CE) ou da comarca de
Parnamirim (RN)?
Da comarca de Parnamirim (RN).
A 2ª Seção do STJ, por maioria, conheceu o conflito e declarou competente o Juízo da Comarca de
Parnamirim (RN). Prevaleceu o voto da Min. Nancy Andrighi que não era originalmente a Relatora.
Se o STJ fosse adotar a regra do art. 43 do CPC, a competência seria do Juízo de Fortaleza (CE). Entretanto,
o Tribunal decidiu que essa regra deveria ser afastada, no caso concreto, sob a ótica do princípio da
competência adequada e do forum non conveniens.
Os principais pontos do voto vencedor foram os seguintes:
Teoria da derrotabilidade das normas, princípios do juízo natural e da competência adequada e fórum
no conveniens
Por muito tempo, entendeu-se, a partir das lições de Ronald Dworkin e de Robert Alexy, que as regras,
diferentemente dos princípios, somente seriam aplicáveis a partir de um modelo de tudo-ou-nada. A partir
dessa concepção, a regra seria uma norma conclusiva que regularia a situação jurídica de modo definitivo,
devendo, pois, ser aplicada se presente o fato por ela enunciado ou, então, para ser afastada, deveria ser
declarada como inválida ou sem nenhuma relevância para a solução da questão em exame.
Todavia, modernamente, tem-se compreendido que a toda regra correspondem não apenas exceções
explícitas (assim compreendidas como aquelas previamente definidas pelo legislador), mas, também,
exceções implícitas, cuja identificação e incidência deve ser conformada concretamente pelo julgador, a
quem se atribui o poder de superar a regra, excepcional e concretamente, em determinadas hipóteses.
A partir dessa concepção, surge a teoria da derrotabilidade das normas, como fruto da interpretação a ser
dada pelo julgador em casos extremos e que tem seu campo de atuação, sempre excepcional, adstrito às
situações aparentemente não consideradas pelo legislador ou às situações que exigem do intérprete uma
solução distinta daquela que seria obtida a partir da interpretação literal ou tradicional da regra.
Diante desse cenário, conclui-se que pode o intérprete superar a regra a partir da exceção implícita nela
existente, nas excepcionais hipóteses em que a literalidade da regra seja insuficiente para resolver
situações não consideradas pelo legislador ou em que, por razões de inadequação, ineficiência ou
injustiça, o resultado da interpretação literal contrarie a finalidade subjacente da regra.
Além dessas hipóteses materiais, o autor aponta ainda dois requisitos de natureza procedimental:
(i) a superação de uma regra deverá ter uma fundamentação condizente: é preciso exteriorizar, de modo
racional e transparente, as razões que permitem a superação. Vale dizer, uma regra não pode ser superada
sem que as razões de sua superação sejam exteriorizadas e possam, com isso, ser controladas. A
fundamentação deve ser escrita, juridicamente fundamentada e logicamente estruturada;
ii) a superação de uma regra deverá ter uma comprovação condizente: não sendo necessárias, notórias
nem presumidas, a ausência do aumento excessivo das controvérsias, da incerteza e da arbitrariedade e
a inexistência de problemas de coordenação, altos custos de deliberação e graves problemas de
conhecimento devem ser comprovadas por meios de prova adequados, como documentos, perícias ou
estatísticas. A mera alegação não pode ser suficiente para superar uma regra.
A aplicabilidade prática desses requisitos é mais bem compreendida a partir de exemplo citado pelo
próprio autor:
Uma regra condicionava o ingresso num programa de pagamento simplificado de tributos federais
à ausência de importação de produtos estrangeiros. Os participantes do programa não poderiam
efetuar operações de importação, sob pena de exclusão. Essa é a hipótese da regra. O caso
concreto diz respeito a uma pequena fábrica de sofás que efetuou uma importação e foi, em
decorrência disso, sumariamente excluída do programa. Ocorre, no entanto, que a importação foi
de quatro pés de sofás, para um só sofá, uma única vez. Mediante recurso, a exclusão foi anulada
com base na falta de aplicação razoável da regra. Nesse caso, o fato previsto na hipótese da regra
ocorreu, mas a consequência do seu descumprimento não foi aplicada (exclusão do regime
tributário especial) porque a falta de adoção do comportamento por ela previsto não
comprometia a promoção do fim que a justificava (estímulo da produção nacional por pequenas
empresas).
Nesse caso, a aceitação da decisão individual (permissão para importação, quando a hipótese da
regra a proíbe) não prejudica a promoção da finalidade subjacente à regra (estímulo da produção
nacional por pequenas empresas). Ao contrário, permitir, individualmente, que a empresa
permanecesse fruindo o benefício fiscal até favoreceria a produção nacional, na medida em que a
importação efetuada seria, justamente, para melhor produzir bens no país. Mais ainda: a aceitação
da decisão individual discrepante da hipótese da regra geral não prejudicava a promoção da
segurança jurídica, sendo, ao contrário, indiferente à sua realização, pois a circunstância particular
(importação de algumas peças de um bem) não seria facilmente reproduzível ou alegável por
outros contribuintes e a demonstração da sua anormalidade dependia de difícil comprovação. Isso
significa, em outras palavras, que a aceitação do caso individual não prejudica a implementação
dos dois valores inerentes à regra: o valor formal da segurança não é restringido,
porque a circunstância particular não seria facilmente reproduzível por outros contribuintes; o
valor substancial de estímulo à produção nacional não seria reduzido, porque o comportamento
permitido levaria à sua promoção. A tentativa de fazer justiça para um caso mediante superação
de uma regra não afetaria a promoção da justiça para a maior parte dos casos. E o entendimento
contrário, no sentido de não superar a regra, provocaria mais prejuízo valorativo que benefício
(more harm than good). (ÁVILA, Humberto. Teoria dos princípios: da definição à aplicação dos
princípios jurídicos. 12ª ed. São Paulo: Malheiros, 2019. p. 115/116).
Ambas as hipóteses existem por razões similares, qual seja, o desaparecimento da competência material
do juízo pela extinção ou pela modificação.
Contudo, contemporaneamente, tem-se estudado com afinco institutos e instrumentos que impõem uma
releitura do princípio constitucional do juiz natural, com destaque especial para o princípio da
competência adequada, do qual deriva a ideia de existir, ainda que excepcionalmente, um forum non
conveniens.
Essa ideia se funda no fato de que, não basta que o órgão judicial seja previamente constituído e
individualizado como aquele objetiva e abstratamente competente para a causa. Deve ser, também,
concretamente competente, ou seja, o mais conveniente e apropriado para assegurar a boa realização e
administração da justiça.
Assim, quando se afirma que a competência pode ser definida especificamente para um juízo
concretamente competente em razão da adequação deste para processar e julgar a causa em relação aos
demais juízos também abstratamente competentes, afirma-se, consequentemente, que há um outro juízo
que, conquanto competente, é inadequado ou inconveniente (fórum non conveniens).
Embora não seja comum em sistemas que adotam a civil law, a aplicação da teoria da superação das regras
(ou da derrotabilidade das normas) é a saída correta para que se possa, sempre em caráter excepcional e
diante de um hard case, como é a hipótese em exame, superar a imutabilidade da regra do art. 43 do CPC
(que contém apenas duas exceções explícitas) para reconhecer que, nessa regra, também há uma exceção
implícita, relacionada à inadequação e inconveniência do juízo em que tramita a ação com o deslocamento
de sua competência para outro juízo abstratamente competente.
Em outras palavras, apesar da ausência de previsão legal, a singularidade da hipótese em exame permite
concluir que o juízo definido pelas regras processuais não se apresenta como aquele adequado ou
conveniente para julgar a causa (exceção implícita).
Portanto, de forma excepcional, poder-se-ia concluir pela superação da regra prevista no art. 43.
Caso concreto
Na hipótese em exame, constata-se que existem duas ações de guarda envolvendo a criança Lucas, a
primeira ajuizada no ano de 2018 pelo genitor perante o Juízo de Direito da Vara de Família da Comarca
de Fortaleza (CE) e a segunda, ajuizada em 2021, pela mãe, perante o Juízo da Comarca de Parnamirim
(RN).
No bojo de cumprimento provisório de decisão que havia fixado multa por alegado descumprimento de
ordem de busca e apreensão da criança, o Juízo de Fortaleza (CE) declinou da competência para o Juízo de
Parnamirim (RN), ao passo que este, por sua vez, declinou da competência para o Juízo de Fortaleza (CE).
Se fossem adotados apenas os critérios rígidos e inflexíveis de fixação de competência, em especial a regra
do art. 43 do CPC, a conclusão seria de que a competência seria do Juízo de Fortaleza (CE). Entretanto, a
questão merece renovada reflexão à luz do princípio constitucional do juiz natural e, mais
especificamente, sob a ótica do princípio da competência adequada e do forum non conveniens.
Nessa perspectiva, é importante considerar inicialmente que é fato incontroverso que o genitor da criança
cuja guarda se discute, que é coronel aposentado da Polícia Militar do Ceará, possui vínculo de parentesco
com membros do Poder Judiciário daquele Estado, em 1º e 2º grau de jurisdição, inclusive em vara de
família da comarca da Capital.
A ação de guarda foi proposta pelo genitor em 2018 e se observa, desde então, a existência de declarações
de impedimentos e de suspeições de juízes e de membros do Ministério Público do Ceará que nela
oficiaram ou poderiam oficiar nestes mais de 5 (cinco) anos de tramitação, inclusive com sucessivas
transferências do processo entre as varas de família daquela comarca.
Na sequência, a Min. Nancy Andrigui enumerou todos os acontecimentos seguintes, afirmando que “causa
perplexidade, que nenhuma das decisões judiciais proferidas pelo Poder Judiciário do Ceará tenham
considerado ou deliberado a respeito da efetiva necessidade de afastamento do convívio entre o genitor
e o filho diante dos seríssimos fatos que se encontram sob apuração perante o juízo criminal”.
Advertiu que “desde a concessão de medidas protetivas lastreadas em indícios da prática do crime de
estupro de vulnerável, ocorrida em agosto de 2021, passaram-se mais de 27 meses em que o possível
autor do crime manteve livre acesso à possível vítima, uma criança de pouco mais de 6 (seis) anos de
idade, com o potencial de lhe causar, ou de agravar ainda mais, os danos físicos e psíquicos que ela pode
ter experimentado, sem que o Poder Judiciário do Ceará tivesse dado uma resposta adequada à questão”.
Prosseguiu afirmando que “também são absolutamente estarrecedoras as sucessivas, confusas e
contraditórias decisões judiciais, em 1º e em 2º grau de jurisdição, que, por circunstâncias inexplicadas ou
inexplicáveis, deixaram de considerar um princípio elementar de qualquer ação judicial que envolva a
temática da guarda, sobretudo quando envolvida em um cenário de possível violência, que é o melhor e
prioritário interesse da criança (...) Chama a atenção, ademais, a manifesta inabilidade quanto à situação
fática da criança, que, após ter sido abruptamente retirada da mãe após uma aparente – e justificável –
fuga diante de um possível abuso sexual praticado pelo seu próprio genitor, já esteve, sucessivamente,
por vezes até na mesma semana, sob guarda da avó materna, sob a guarda de terceiro e sob a guarda do
próprio possível genitor sobre quem pende denúncia já recebida de estupro do próprio filho”.
Como esses fundamentos, concluiu que o Juízo de Fortaleza (CE), embora abstratamente competente,
revela-se, do ponto de vista concreto, inadequado e inconveniente para continuar processando e julgando
questões atinentes à guarda da criança Lucas, impondo-se a excepcional superação da regra do art. 43 do
CPC.
Com relação ao juízo de Parnamirim (RN), a Ministra ponderou que, de fato, a mãe não mais reside naquela
localidade. Contudo, as circunstâncias fáticas permitiam aferir que a mãe, de fato, chegou a residir naquele
município e que sua mudança foi perfeitamente justificada, citando, por exemplo, elementos de prova
datados de novembro/2021 que indicam que “um veículo com placas de Fortaleza/CE e pessoas afirmando
pertencerem às forças de segurança pública teriam procurado pela criança no endereço ao lado daquele
declarado pela mãe, motivando a lavratura de boletim de ocorrência para investigação desse fato”.
Por essas razões, seria absolutamente verossímil a versão de que, no momento da propositura da ação de
guarda pela mãe em setembro de 2021, ela estava devidamente estabelecida em Parnamirim (RN) e que,
citado o genitor e sabendo a partir disso o endereço em que a mãe passou a residir com a criança, teria
ele empreendido medidas no sentido de violar as medidas protetivas anteriormente deferidas, de modo
que à suscitante não restou outra alternativa senão se tornar uma espécie de nômade para a preservação
de sua própria vida e da vida de seu filho.
Em suma, a relatora concluiu que o afastamento da criança da cidade de Fortaleza (CE) no contexto acima
mencionado era, ao que tudo indica, uma medida de sobrevivência. E também se conclui que o
afastamento do processo que a envolve da comarca de Fortaleza (CE) é uma medida de extrema
importância para que sejam salvaguardados adequadamente os seus interesses jurídicos, físicos e
psicológicos que, respeitosamente, não estão sendo observados e respeitados a contento.
CURADORIA ESPECIAL
A Defensoria Pública, no exercício da função de curadoria especial, goza de honorários
advocatícios sucumbenciais caso o réu sagre-se vencedor na demanda
ODS 16
A Defensoria Pública, no exercício da função de curadoria especial, faz jus à verba decorrente
da condenação ao pagamento de honorários sucumbenciais caso o seu assistido sagre-se
vencedor na demanda.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.912.281-AC, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 12/12/2023 (Info 15
– Edição Extraordinária).
Curador especial
O CPC prevê que, em determinadas situações, o juiz terá que nomear um curador especial que irá
defender, no processo civil, os interesses do réu.
O curador especial também é chamado de curador à lide.
O que essa função de curador especial tem a ver com a Defensoria Pública?
A Lei Orgânica da Defensoria Pública (LC 80/94) estabelece o seguinte:
Art. 4º São funções institucionais da Defensoria Pública, dentre outras:
XVI – exercer a curadoria especial nos casos previstos em lei;
Desse modo, o múnus público de curador especial de que trata o art. 72 do CPC deve ser exercido pelo
Defensor Público.
Importante: a atuação da Defensoria Pública como curadora especial não exige que o réu seja
hipossuficiente economicamente. Nesses casos do art. 72 entende-se que o réu ostenta hipossuficiência
jurídica, sendo, portanto, necessária a atuação da Defensoria Pública.
Além disso, o Supremo Tribunal Federal, no julgamento do RE 114.005/RJ, com repercussão geral (Tema
1002/STF), fixou a tese de que os honorários sucumbenciais são devidos à Defensoria Pública quando a
parte por ela representada for vencedora na demanda, ainda que a parte vencida seja o ente público que
ela integra:
Tema n. 1.002/STF:
1. É devido o pagamento de honorários sucumbenciais à Defensoria Pública, quando representa
parte vencedora em demanda ajuizada contra qualquer ente público, inclusive aquele que integra;
2. O valor recebido a título de honorários sucumbenciais deve ser destinado, exclusivamente, ao
aparelhamento das Defensorias Públicas, vedado o seu rateio entre os membros da instituição.
Em tese, abstraindo o caso concreto, existe direito aos honorários sucumbenciais nos embargos à
execução?
SIM. Isso já foi, inclusive, reconhecido pelo STJ, em recurso repetitivo, tendo sido fixada a seguinte tese:
Os embargos do devedor são ação de conhecimento incidental à execução, razão porque os honorários
advocatícios podem ser fixados em cada uma das duas ações, de forma relativamente autônoma,
respeitando-se os limites de repercussão recíproca entre elas, desde que a cumulação da verba honorária
não exceda o limite máximo previsto no § 3º do art. 20 do CPC/1973.
STJ. Corte Especial. REsp 1520710-SC, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 18/12/2018
(Recurso Repetitivo – Tema 587) (Info 643).
No caso concreto acima narrado, a Defensoria Pública faz jus aos honorários advocatícios
sucumbenciais? O recurso da Defensoria Pública foi provido?
NÃO.
No caso, os embargos do devedor foram julgados improcedentes pela Magistrada de primeiro grau, mas
a apelação interposta pela curadoria especial foi provida pelo Tribunal de Justiça para, acolhendo a
preliminar de nulidade de citação, desconstituir a sentença, reconhecendo a nulidade do processo a partir
da determinação da citação por edital.
A Corte estadual ainda acrescentou que os ônus sucumbenciais deverão ser vistos ao final do processo,
pois, a despeito da autonomia dos embargos à execução, a sentença foi terminativa, não colocando fim
ao processo executivo, mas apenas reconhecendo uma nulidade processual.
Isso significa, portanto, que o assistido da Defensoria Pública (João) não pode ser, ainda, considerado o
vencedor na demanda, uma vez que apenas foi reconhecida a nulidade da citação arguida pela curadoria
especial, sendo determinada nova citação da parte assistida, com o consequente prosseguimento do feito.
Dessa maneira, podemos concluir que serão devidos honorários sucumbenciais à Defensoria Pública,
atuando como curadora especial, nos embargos à execução que resultem em algum proveito econômico
ao assistido no pleito executório.
A procedência dos embargos do devedor apenas para se reconhecer a nulidade de ato processual
existente no processo de execução, determinando a sua renovação, não justifica a condenação ao
pagamento de honorários sucumbenciais, haja vista que o assistido não se sagrou vencedor, tal como
ocorreria se os embargos tivessem sido acolhidos para julgar improcedente (total ou parcialmente) a
execução ou para extingui-la.
HONORÁRIOS ADVOCATÍCIOS
O advogado de núcleo de prática jurídica designado para atuar como defensor dativo, ante a
impossibilidade da Defensoria Pública, possui direito aos honorários remuneratórios fixados
pelo juiz e pagos pelo Estado
ODS 8 E 16
Guardadas as devidas proporções, apenas para que você entenda o sentido geral, os núcleos de prática
jurídica prestam um serviço assemelhado ao da Defensoria Pública. Vale ressaltar, contudo, que o modelo
oferecido pela Defensoria Pública é o ideal para o assistido porque se trata de um serviço mais organizado,
estruturado e com garantias institucionais que os núcleos infelizmente não possuem.
O STJ concordou com os argumentos do advogado? Cabe ao advogado do núcleo de prática jurídica o
direito à remuneração pelo trabalho desempenhado como defensor dativo, com pagamento a ser
realizado pelo Estado?
SIM.
Isso decorre do dever constitucional do Estado de fornecer assistência judiciária aos réus necessitados e
organizar as entidades necessárias e suficientes para cumprir essa missão, conforme estabelecido no art.
134 da Constituição Federal. Portanto, o Estado não pode se locupletar do trabalho desempenhado por
advogado, que somente atendeu ao chamado da Justiça em colaboração com o Poder Público.
É entendimento pacífico do STJ no sentido de que “são devidos pelo Estado os honorários advocatícios do
curador especial nomeado em razão da ausência de Defensoria Pública para a defesa dos interesses do
réu revel citado por edital” (STJ. 4ª Turma. AgRg no AREsp 658.146/PR, Rel. Min. Marco Buzzi, julgado em
16/5/2017).
Além disso, não é razoável considerar que a responsabilidade pela remuneração do advogado pelo múnus
público prestado recaia sobre uma terceira parte - a instituição particular de ensino superior -, com base
numa relação de trabalho na qual o Estado não teve nenhum envolvimento.
Os honorários advocatícios devem ser reconhecidos como a devida remuneração do trabalho
desenvolvido pelo advogado e, como tal, são protegidos pelo princípio fundamental do valor social do
trabalho, previsto no art. 1º, IV, da Constituição Federal.
Em suma:
O advogado de núcleo de prática jurídica, quando designado para patrocinar causa de juridicamente
necessitado ou de réu revel, ante a impossibilidade de a prestação do serviço ser realizada pela
Defensoria Pública, possui direito aos honorários remuneratórios fixados pelo juiz e pagos pelo Estado.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.848.922/PR, Rel. Min. Antonio Carlos Ferreira, julgado em 12/12/2023 (Info 15 –
Edição Extraordinária).
A prerrogativa de intimação pessoal conferida à Defensoria Pública se aplica aos núcleos de prática
jurídica das faculdades de Direito, públicas ou privadas
Os prazos para as manifestações processuais da Defensoria Pública são contados em dobro e têm início
com a intimação pessoal do defensor público (art. 186, caput e § 1º, do CPC).
O benefício da intimação pessoal se assenta no princípio da isonomia material (art. 5º, caput, da CF) e
constitui mecanismo voltado à concretização do acesso à Justiça e do contraditório pelos hipossuficientes.
A interpretação sistemática das normas - art. 5º, § 5º, da Lei nº 1.060/50 e art. 186, § 3º, do CPC - conduz
à conclusão de que a prerrogativa de intimação pessoal dos atos processuais também se estende aos
escritórios de prática jurídica das faculdades de Direito, públicas ou privadas.
Os núcleos de prática jurídica vinculados às universidades de ensino superior prestam assistência judiciária
aos hipossuficientes, razão pela qual é razoável crer, assim como a Defensoria Pública, recebem um alto
número de demandas, circunstância que dificulta o controle dos prazos processuais. Assim, a intimação
pessoal constitui uma ferramenta imprescindível para o desempenho das atividades por eles
desenvolvidas.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.829.747/AM, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, Rel. para acórdão Min. Nancy
Andrighi, julgado em 7/11/2023 (Info 794).
A prerrogativa de prazo em dobro para as manifestações processuais também se aplica aos escritórios
de prática jurídica de instituições privadas de ensino superior
A partir da entrada em vigor do art. 186, § 3º, do CPC/2015, a prerrogativa de prazo em dobro para as
manifestações processuais também se aplica aos escritórios de prática jurídica de instituições privadas de
ensino superior.
Art. 186. A Defensoria Pública gozará de prazo em dobro para todas as suas manifestações processuais.
(...) § 3º O disposto no caput aplica-se aos escritórios de prática jurídica das faculdades de Direito
reconhecidas na forma da lei e às entidades que prestam assistência jurídica gratuita em razão de
convênios firmados com a Defensoria Pública.
STJ. Corte Especial. REsp 1986064-RS, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 01/06/2022 (Info 740).
HONORÁRIOS RECURSAIS
O recurso interposto pelo vencedor para ampliar a condenação – ainda que não seja conhecido ou
que seja desprovido - não implicará honorários de sucumbência recursal para a parte contrária
Importante!!!
ODS 16
É indevida a majoração dos honorários recursais (art. 85, § 11, do CPC) em recurso da parte
vencedora para ampliar a condenação, ainda que tal recurso seja desprovido.
STJ. Corte Especial. EAREsp 1.847.842-PR, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 6/9/2023 (Info 15
– Edição Extraordinária).
Ex: Ricardo ajuizou ação contra Antônio, sendo o pedido julgado improcedente. O juiz condenou Ricardo
a pagar 10% de honorários advocatícios (§ 2º do art. 85). O autor não se conformou e interpôs apelação,
tendo o Tribunal de Justiça mantido a sentença e aumentado a condenação em honorários para 15%, na
forma do § 11 do art. 85.
Veja o que diz a doutrina sobre este importante § 11 do art. 85 do CPC/2015:
“Esta é uma das principais inovações do CPC/2015. No CPC/1973, em cada processo, havia uma
única condenação em honorários. No novo sistema, a cada recurso, há a majoração na condenação
em honorários – além daqueles já fixados anteriormente. 13.1. O teto para a fixação dos
honorários é o limite previsto no § 2º (20%, no caso de particulares) e § 3º (3% a 20%, conforme a
faixa, no caso da Fazenda Pública). Ou seja, mesmo com a sucumbência recursal, o teto de 20% de
honorários não poderá ser ultrapassado. (...) 13.3. Ao julgar o recurso, de ofício, o tribunal irá
aumentar os honorários. Assim, é possível que, no cotidiano, ocorra o seguinte: condenação em
10% quando da sentença, majorada para 15% quando do acórdão da apelação e para 20% quando
do acórdão do recurso especial (por ser esse o teto legal, como visto). Mas o mais provável é que
ocorra o seguinte: condenação em 10% quando da sentença, majorada para 20% quando do
acórdão da apelação e mantida nesses 20% quando do acórdão de eventual recurso especial
(exatamente por ser o teto legal). 13.4. Em virtude de quais recursos deve ser aplicada a
sucumbência recursal? Seriam todos os recursos previstos no artigo 994 do CPC/2015? Como o §
11 destaca “tribunal”, é de se concluir que não há a aplicação em 1º grau. Assim, quando dos
embargos de declaração da interlocutória ou sentença, descabe aplicar honorários recursais."
(DELLORE, Luiz. Comentários ao art. 85 do CPC. Teoria geral do processo: comentários ao CPC de
2015 - Parte Geral. São Paulo: Método, 2015, p. 298-299).
Nesse sentido:
O § 11 do art. 85 do Código de Processo Civil de 2015 tem dupla funcionalidade, devendo atender à justa
remuneração do patrono pelo trabalho adicional na fase recursal e inibir recursos provenientes de
decisões condenatórias antecedentes. (...)
STJ. 3ª Turma. AgInt no AREsp 370.579/RJ, Rel. Min. João Otávio de Noronha, julgado em 23/06/2016.
Requisitos
Para que haja a fixação dos honorários advocatícios recursais, é necessário o preenchimento cumulativo
dos seguintes pressupostos:
a) decisão recorrida publicada a partir de 18.3.2016, quando entrou em vigor o CPC/2015;
b) recurso não conhecido integralmente ou não provido, monocraticamente ou pelo órgão colegiado
competente; e
c) condenação em honorários advocatícios desde a origem no feito em que interposto o recurso.
STJ. Corte Especial. AgInt nos EAREsp 762.075/MT, Rel. p/ acórdão Min. Herman Benjamin, DJe 7/3/2019.
O RECURSO INTERPOSTO PELO VENCEDOR PARA AMPLIAR A CONDENAÇÃO – AINDA QUE NÃO SEJA
CONHECIDO OU QUE SEJA DESPROVIDO - NÃO IMPLICARÁ HONORÁRIOS DE SUCUMBÊNCIA RECURSAL
PARA A PARTE CONTRÁRIA
Imagine a seguinte situação hipotética:
João ajuizou ação de indenização por danos morais contra a empresa.
O pedido foi julgado procedente e a empresa condenada a pagar a quantia de R$ 2 mil, a título de dano
moral.
O juiz condenou ainda a ré ao pagamento de honorários advocatícios sucumbenciais arbitrados em 10%
sobre o valor da condenação.
João não concordou com o valor da condenação e interpôs apelação pedindo a majoração dos danos
morais alegando que os transtornos foram elevados e que a ré possui grande poder econômico.
O Tribunal de Justiça negou provimento ao recurso.
Em razão do desprovimento do recurso, o TJ com fundamento no art. 85, §11, do CPC/2015, condenou o
autor a pagar honorários advocatícios recursais no montante de 10% da condenação em benefício dos
advogados da ré.
João interpôs recurso especial alegando que não poderia ser condenado a pagar honorários advocatícios
recursais considerando que o § 11 do art. 85 do CPC somente prevê a majoração para os “honorários
fixados anteriormente”. Logo, como não houve fixação de honorários em favor dos advogados da ré
anteriormente, não haveria como se majorar honorários que não foram fixados.
A empresa apresentou contrarrazões alegando que o art. 85, §11, do CPC, não poderia ser interpretado
de forma literal e que os honorários seriam devidos neste caso por dois motivos:
1) Os honorários recursais, além do caráter remuneratório, possuem natureza sancionatória, ainda que
indireta, a fim de evitar a interposição de recursos destituídos de fundamentação razoável;
2) A interpretação da lei de ser feita de uma forma extensiva, isso porque as partes do processo devem
ser tratadas de forma isonômica, devendo ser oferecidas as mesmas chances e oportunidades de
influenciar a decisão final do processo. Não seria razoável que exista certa “ameaça” de honorários
recursais “apenas em desfavor de quem impugna sentença que lhe foi prejudicial, mas não para quem
pretende, de forma não fundamentada e para se aventurar em segundo grau, obter maiores ganhos do
que os já obtidos”.
São cabíveis honorários recursais neste caso? A jurisprudência do STJ está em harmonia com os
argumentos expostos pelo autor ou pela empresa?
NÃO. Neste caso, a jurisprudência do STJ está alinhada com os argumentos expostos pelo autor.
Não são cabíveis honorários recursais no julgamento de recurso interposto pela parte vencedora que
recorreu pretendendo ampliar a condenação.
Esse entendimento decorre da redação do art. 85, §11, do CPC, que não prevê fixação de honorários
advocatícios recursais em recurso da parte vencedora para ampliar a condenação, rejeitado, não provido
ou não conhecido. Vejamos novamente a literalidade do dispositivo:
Art. 85 (...)
§ 11. O tribunal, ao julgar recurso, majorará os honorários fixados anteriormente levando em
conta o trabalho adicional realizado em grau recursal, observando, conforme o caso, o disposto
nos §§ 2º a 6º, sendo vedado ao tribunal, no cômputo geral da fixação de honorários devidos ao
advogado do vencedor, ultrapassar os respectivos limites estabelecidos nos §§ 2º e 3º para a fase
de conhecimento.
Diante da previsão expressa do art. 85, § 11, do Código Processual Civil, deve prevalecer, portanto, a tese
de que é indevida a majoração dos honorários recursais em recurso da parte vencedora para ampliar a
condenação, ainda que tal recurso seja desprovido.
Nesse sentido:
O recurso interposto pelo vencedor para ampliar a condenação - que não seja conhecido, rejeitado ou
desprovido - não implica honorários de sucumbência recursal para a parte contrária.
O texto do §11 do art. 85 do CPC/15, prevê, expressamente, que somente serão majorados os ‘honorários
fixados anteriormente’, de modo que, não havendo arbitramento de honorários pelas instâncias
ordinárias, como na espécie, não haverá incidência da referida regra.
STJ. 3ª Turma. EDcl no AgInt no AREsp 1.040.024/GO, Rel. Min. Nancy Andrighi, DJe 31/8/2017.
Além disso, o STJ tem jurisprudência pacífica no sentido de que não cabe a majoração de honorários
quando não houve prévia fixação de verba honorária em desfavor da parte recorrente na origem.
Em suma:
São incabíveis honorários recursais no recurso interposto pela parte vencedora para ampliar a
condenação.
É indevida a majoração dos honorários recursais (art. 85, § 11, do CPC) em recurso da parte vencedora
para ampliar a condenação, ainda que tal recurso seja desprovido.
STJ. Corte Especial. EAREsp 1.847.842-PR, Rel. Min. Herman Benjamin, julgado em 6/9/2023 (Info 15 –
Edição Extraordinária).
APROFUNDANDO
O relator citou doutrina de Jales Sokal (A sucumbência recursal no novo CPC: razão, limites e algumas
perplexidades. Revista de Processo. vol. 256. ano 41. p. 179-205. São Paulo: Ed. RT, jun. 2016), que, ao
discorrer sobre o histórico do processo legislativo do novo CPC, explicita que essa foi a intenção do
legislador.
De acordo com a obra de Jales Sokal, o Projeto de Código, até a versão do Senado Federal, utilizava a
expressão “fixará nova verba honorária”, na redação da sucumbência recursal. No entanto, na Câmara
dos Deputados, adotou-se texto substancialmente diverso, norteado pelo verbo “majorará”, o que parece
realmente impedir a fixação de verba nova com os olhos postos apenas no vencedor do recurso, e não na
causa. E tanto assim que, na parte final do §11, em sua redação definitiva, menciona a lei o “cômputo geral
da fixação dos honorários devidos ao advogado do vencedor”, dando a entender que estes honorários
recursais sempre se conjugam com outros honorários.
Assim, por não haver coincidência entre o vencedor da causa e no recurso, simplesmente não haverá
honorários recursais para nenhum dos lados nas hipóteses de (i) vencedor que recorre sem razão; (ii) do
vencido que recorre, sagra-se vencedor no recurso, mas ainda permanece vencido na causa.
O doutrinador pondera que o legislador, ao adotar esse critério, ignorou a natureza remuneratória dos
honorários recursais, criando um espaço de trabalho sem remuneração no sistema.
Esse cenário, na visão do doutrinador, deve ser entendido como deve ser tido como resultado da política
legislativa por trás da própria hipótese de cabimento destes honorários recursais no NCPC, que não foram
queridos como um fator de encarecimento exagerado dos custos do processo no Código, em prejuízo, em
última análise, do próprio cidadão representado em juízo. E essa hipótese não seria extraordinária, pois,
para além do limite de 20%, ainda que haja trabalho desempenhado pelo advogado, não haverá
remuneração.
EXECUÇÃO
É imprescindível o esgotamento dos meios executivos típicos para a utilização do sistema
Central Nacional de Indisponibilidade de Bens (CNIB) como medida executiva atípica
ODS 16
Os argumentos utilizados pelo magistrado para negar a inscrição no CNIB estão em harmonia com a
jurisprudência do STJ?
SIM.
É constitucional o art. 139, IV, do CPC, que prevê medidas atípicas destinadas a assegurar a efetivação
dos julgados
O STF, no julgamento da ADI 5.941/DF, recentemente declarou a constitucionalidade da aplicação
concreta das medidas atípicas previstas no art. 139, IV, do CPC, desde que não avance sobre direitos
fundamentais e observe os princípios da proporcionalidade e razoabilidade:
São constitucionais — desde que respeitados os direitos fundamentais da pessoa humana e observados
os valores especificados no próprio ordenamento processual, em especial os princípios da
proporcionalidade e da razoabilidade — as medidas atípicas previstas no CPC/2015 destinadas a assegurar
a efetivação dos julgados.
STF. Plenário. ADI 5941/DF, Rel. Min. Luiz Fux, julgado em 9/02/2023 (Info 1082).
O art. 139, IV, do CPC/2015 representou uma importante novidade do Código e que teve por objetivo dar
mais efetividade ao processo. Veja a redação do dispositivo:
Art. 139. O juiz dirigirá o processo conforme as disposições deste Código, incumbindo-lhe:
(...)
IV - determinar todas as medidas indutivas, coercitivas, mandamentais ou sub-rogatórias
necessárias para assegurar o cumprimento de ordem judicial, inclusive nas ações que tenham por
objeto prestação pecuniária;
Em suma:
É imprescindível o esgotamento dos meios executivos típicos para a utilização do sistema Central
Nacional de Indisponibilidade de Bens (CNIB) como medida executiva atípica.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.963.178-SP, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 12/12/2023 (Info 15 –
Edição Extraordinária).
No mesmo sentido:
A utilização do CNIB de forma subsidiária, após o esgotamento das medidas ordinárias e sempre sob o
crivo do contraditório, encontra apoio no art. 139, incisos II e IV do CPC, e não viola os princípios da
razoabilidade, proporcionalidade ou da menor onerosidade ao devedor.
STJ. 4ª Turma. REsp 1.969.105/MG, Rel. Min. Maria Isabel Gallotti, julgado em 12/9/2023.
RECURSOS
A doença do advogado da parte pode ser invocada como justa causa
para a devolução do prazo recursal?
ODS 16
A doença que acomete o advogado somente pode constituir justa causa para autorizar a
interposição tardia de recurso se, sendo o único procurador da parte, estiver o advogado
totalmente impossibilitado de exercer a profissão ou de substabelecer o mandato a colega seu
para recorrer da decisão.
STJ. 4ª Turma. AgInt no AREsp 1.223.183-RS, Rel. Min. Marco Buzzi, julgado em 2/10/2023 (Info 15
– Edição Extraordinária).
Assim, o fato de o advogado juntar um atestado provando que estava doente não é suficiente, por si só,
para ter direito novamente ao prazo recursal.
A doença deve ser de tal modo grave que ele não podia trabalhar nem pedir auxílio a um colega por meio
de substabelecimento.
Da mesma forma, ainda que a enfermidade seja muito grave, se a procuração havia sido conferida a mais
de um advogado, não se poderá invocar a justa causa na hipótese de apenas um deles ter ficado doente.
Nesse sentido:
Desde que seja o único constituído nos autos, configura justa causa a doença do próprio advogado que o
impossibilite totalmente de exercer a função ou de substabelecer o mandato, em caso de descumprimento
do prazo fixado na intimação para regularização da representação processual.
STJ. 3ª Turma. AgInt no AREsp 2.104.220/PB, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 16/10/2023.
O pedido de devolução do prazo por motivo de doença do único patrono constituído depende da
demonstração de justa causa relativa à impossibilidade total do exercício da profissão ou de substabelecer
o mandato.
STJ. 4ª Turma. AgInt no AREsp 2.205.732/SP, Rel. Min. João Otávio de Noronha, julgado em 6/3/2023.
No caso dos autos, não obstante a incapacidade de um dos procuradores, não ficou comprovada a
impossibilidade de atuação do outro causídico regularmente constituído.
Em suma:
A doença que acomete o advogado somente pode constituir justa causa para autorizar a interposição
tardia de recurso se, sendo o único procurador da parte, estiver o advogado totalmente impossibilitado
de exercer a profissão ou de substabelecer o mandato a colega seu para recorrer da decisão.
STJ. 4ª Turma. AgInt no AREsp 1.223.183-RS, Rel. Min. Marco Buzzi, julgado em 2/10/2023 (Info 15 – Edição
Extraordinária).
EXECUÇÃO (IMPENHORABILIDADE)
O art. 833, X, do CPC assegura a impenhorabilidade de valores até o limite de 40 salários-
mínimos, independentemente de onde estiverem depositados ou mesmo em papel-moeda; não
se admite a penhora ainda que parcial desses valores
ODS 16
Obs: o salário-mínimo foi fixado em R$ 1.412,00 para 2024; logo, 40 salários-mínimos, em 2024, é
equivalente a R$ 56.480,00.
O banco exequente requereu a manutenção do bloqueio, tendo em vista que o executado não comprovou
que se tratava de conta poupança. Ressaltou que um dos prints juntados pelo executado fazia referência
expressa à “conta de pagamentos” (conta corrente).
O devedor argumentou que a regra do art. 833, X, do CPC/2015 se estende a todos os numerários
poupados pela parte executada, até o limite de 40 (quarenta) salários-mínimos, não importando se
depositados em poupança, conta-corrente, fundos de investimento ou guardados em papel-moeda.
Assim, em regra, a impenhorabilidade dos 40 salários mínimos vale de forma ampla (e não apenas para
cadernetas de poupança).
É possível a mitigação dessa mencionada regra, ou seja, a impenhorabilidade pode até ser relativizada
quando a hipótese concreta dos autos permitir que se bloqueie parte da verba remuneratória do devedor
inadimplente, ocasião em que deve ser preservado montante suficiente a assegurar a subsistência digna
do executado e sua família.
É possível penhorar uma parte do valor (ex: 30%) assim como o STJ admite nos casos da
impenhorabilidade do inciso IV do art. 833 do CPC?
NÃO.
A possibilidade de penhora parcial de valores existe apenas no caso de quantias de origem salarial,
protegidas na forma do art. 833, IV, CPC. Nesse sentido:
O entendimento do STJ é consolidado no sentido de que a regra geral da impenhorabilidade de salários,
proventos e demais vencimentos (art. 833, IV, do CPC/15) pode ser excepcionada quando for preservado
percentual capaz de dar guarida à dignidade do devedor e de sua família.
STJ. 3ª Turma. AgInt no REsp 2038478/MA, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 06/03/2023.
É necessário que o devedor comprove que todo o valor (40 salários-mínimos) é voltado para o mínimo
existencial da família?
NÃO. Existe uma presunção nesse sentido.
A lei presume que a quantia de 40 (quarenta) salários mínimos é o valor indispensável para o mínimo
existencial do executado e de sua família.
Em suma:
Presume-se como indispensável para preservar a reserva financeira essencial à proteção do mínimo
existencial do executado e de sua família, bem como de depósitos em caderneta de poupança ou
qualquer outro tipo de aplicação financeira, o valor de 40 salários mínimos.
STJ. 3ª Turma. AgInt no REsp 2.018.134-PR, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 27/11/2023 (Info 15
– Edição Extraordinária).
De acordo com a Súmula 375 do STJ, para que se reconheça a fraude à execução é necessário:
• o registro da penhora do bem alienado; ou
• a prova de má-fé do terceiro adquirente.
Assim, se não houver registro da penhora na matrícula do imóvel, presume-se que o terceiro
adquirente não tinha conhecimento da existência de uma ação que poderia levar o alienante
à insolvência. Essa presunção é relativa e pode ser afastada desde que o credor prove que o
terceiro adquirente tinha conhecimento.
Esse entendimento existe desde a redação original do § 4º do art. 659, do CPC/1973.
Desse modo, mesmo no sistema legal anterior à Lei nº 8.953/94, a caracterização da fraude à
execução, quando o credor não efetuou o registro imobiliário da penhora, dependia de prova
de que o terceiro adquirente tinha ciência do ônus que recaía sobre o bem.
STJ. 4ª Turma. AgInt no REsp 1.577.144-SP, Rel. Min. Raul Araújo, julgado em 2/10/2023 (Info 15 –
Edição Extraordinária).
ALIENAÇÕES FRAUDULENTAS
Princípio da responsabilidade patrimonial
No processo de execução vigora, em regra, o princípio da responsabilidade patrimonial, segundo o qual o
débito será quitado com o patrimônio do devedor.
Assim, com exceção da prestação alimentícia, o devedor não responde com seu corpo ou sua liberdade
pelas dívidas que tenha. Esses débitos são adimplidos com o patrimônio que o devedor possua ou venha
a possuir. Se não tiver patrimônio, o débito não é pago.
Tal princípio encontra-se previsto no CPC:
Art. 789. O devedor responde com todos os seus bens presentes e futuros para o cumprimento de
suas obrigações, salvo as restrições estabelecidas em lei.
FRAUDE À EXECUÇÃO
Conceito
Fraude à execução consiste no ato do devedor de alienar ou gravar com ônus real (ex.: dar em hipoteca)
um bem que lhe pertence, em uma das situações previstas nos incisos do art. 792 do CPC.
A fraude contra a execução, além de causar prejuízo ao credor, configura ato atentatório à dignidade da
Justiça (art. 774, I, do CPC).
Se o devedor alienou ou gravou com ônus real determinado bem praticando fraude à execução, esse bem
continua respondendo pela dívida e poderá ser executado (poderá ser expropriado pelo credor) (art. 790,
V, do CPC).
É possível que ocorra fraude à execução se a alienação ou oneração ocorreu antes que a execução tenha
sido proposta?
NÃO. Para que ocorra a fraude à execução, é necessário que a execução tenha sido ao menos ajuizada.
É possível que ocorra fraude à execução se a alienação ou oneração ocorreu antes que o executado
tenha sido citado?
Em regra, NÃO. Em regra, para que haja fraude à execução, é indispensável que a alienação ou oneração
tenham acontecido após o devedor ter sido citado. Isso porque, para que haja fraude, é necessário que o
devedor soubesse que estava sendo executado quando alienou ou onerou o bem. Quando o devedor é
citado, existe a certeza de que, a partir daquele momento, ele tem consciência da existência do processo.
Logo, se o devedor vender ou onerar o bem depois de a execução ter sido ajuizada, mas antes de ele ser
citado, em regra, não haverá fraude à execução.
Por que se falou “em regra”? É possível que se reconheça a fraude à execução se o devedor vendeu ou
onerou o bem mesmo antes de ser citado?
SIM. Existe uma situação em que será possível reconhecer a fraude à execução quando o devedor alienou
ou onerou o bem após o ajuizamento, mas antes de ser citado. Isso ocorre quando o exequente fez a
averbação da execução nos registros públicos:
Art. 828. O exequente poderá obter certidão de que a execução foi admitida pelo juiz, com
identificação das partes e do valor da causa, para fins de averbação no registro de imóveis, de
veículos ou de outros bens sujeitos a penhora, arresto ou indisponibilidade.
Esse artigo permite que o exequente faça a averbação do ajuizamento da execução em registro público
de bens sujeitos à penhora ou arresto.
Explicando em simples palavras:
• Logo após dar entrada na execução, o credor pode obter uma certidão no fórum declarando que ele
ajuizou uma execução contra Fulano (devedor) cobrando determinada quantia.
• Em seguida, o exequente vai até os registros públicos onde possa haver bens do devedor lá registrados
(exs.: registro de imóveis, DETRAN, registro de embarcações na capitania dos portos) e pede para que seja
feita a averbação (uma espécie de anotação/observação feita no registro) da existência dessa execução
contra o proprietário daquele bem.
• Assim, se alguém for consultar a situação daquele bem, haverá uma averbação (anotação) de que existe
uma execução contra o proprietário.
• Essa providência serve como um aviso ao devedor e um alerta para a pessoa que eventualmente quiser
adquirir a coisa, já que eles, ao consultarem a situação do bem, saberão que existe uma execução contra
o alienante e que aquele bem não pode ser vendido, sob pena de se caracterizar a fraude à execução.
• Se o devedor alienar ou onerar o bem após o credor ter feito a averbação, essa alienação ou oneração é
ineficaz (não produz efeitos) porque haverá uma presunção absoluta de que ocorreu fraude à execução.
Leia o restante do art. 828 do CPC, que tem muitas informações importantes sobre o tema:
Art. 828 (...)
§ 1º No prazo de 10 (dez) dias de sua concretização, o exequente deverá comunicar ao juízo as
averbações efetivadas.
§ 2º Formalizada penhora sobre bens suficientes para cobrir o valor da dívida, o exequente
providenciará, no prazo de 10 (dez) dias, o cancelamento das averbações relativas àqueles não
penhorados.
§ 3º O juiz determinará o cancelamento das averbações, de ofício ou a requerimento, caso o
exequente não o faça no prazo.
§ 4º Presume-se em fraude à execução a alienação ou a oneração de bens efetuada após a
averbação.
§ 5º O exequente que promover averbação manifestamente indevida ou não cancelar as
averbações nos termos do § 2º indenizará a parte contrária, processando-se o incidente em autos
apartados.
Se o credor perceber que o devedor, mesmo após ter sido proposta a execução, procedeu à alienação ou
oneração de bens, precisará ajuizar uma ação para provar que houve a fraude à execução?
NÃO. Basta que o credor lesado apresente uma petição ao juízo onde tramita a execução pedindo que seja
reconhecida a fraude à execução e declarada a ineficácia do ato de disposição (alienação ou oneração).
Atenção: o ato praticado em fraude à execução é um ato válido, mas ineficaz perante o credor
(reconhecida a fraude à execução, o juiz decretará a ineficácia da alienação).
Como fica a situação da pessoa que adquiriu o bem alienado (chamado de “terceiro”)? Esse terceiro
perderá o bem? Como protegê-lo?
Ao mesmo tempo que se deve evitar a fraude à execução, é também necessário que se proteja o terceiro
de boa-fé. Pensando nisso, o STJ firmou o entendimento de que somente será possível reconhecer a fraude
à execução se:
• ficar provada a má-fé do terceiro adquirente; ou
• se, no momento da alienação, o bem vendido já estava penhorado na execução e essa penhora estava
registrada no cartório de imóveis (art. 844 do CPC).
Depende:
1) Se o bem adquirido pelo terceiro era sujeito a registro (se existe um registro público onde poderão ser
averbadas a existência de processo de execução ou de constrição judicial. Exs: bens imóveis - Registro de
Imóveis; automóveis - DETRAN). Neste caso deveremos analisar:
1.1 Se o exequente fez a averbação no registro informando que havia uma execução contra o proprietário
do bem ou uma constrição judicial (ex: penhora) sobre a coisa: neste caso, a má-fé do adquirente está
provada porque o registro gera publicidade e cabia ao terceiro tê-lo consultado.
1.2 Se o exequente não fez a averbação no registro: neste caso, o exequente terá que comprovar a má-fé
do adquirente.
2) Se o bem adquirido pelo terceiro não era sujeito a registro (não existe um registro público onde seja
anotada a sua propriedade e alterações. Exs: um quadro, uma joia etc.). Nesta hipótese, o terceiro
adquirente é quem terá o ônus de provar que adotou as cautelas necessárias para a aquisição, mediante
a exibição das certidões pertinentes, obtidas no domicílio do vendedor e no local onde se encontra o bem
(art. 792, § 2º, do CPC/2015). Se não provar, será reconhecida a fraude à execução e ele perderá o bem.
Sobre o tema, se você faz concursos para cartórios, é importante também conhecer a redação do art. 54
da Lei nº 13.097/2015 (com redação dada pela Lei nº 14.382, de 2022):
Art. 54. Os negócios jurídicos que tenham por fim constituir, transferir ou modificar direitos reais
sobre imóveis são eficazes em relação a atos jurídicos precedentes, nas hipóteses em que não
tenham sido registradas ou averbadas na matrícula do imóvel as seguintes informações:
I – registro de citação de ações reais ou pessoais reipersecutórias;
II – averbação, por solicitação do interessado, de constrição judicial, de que a execução foi
admitida pelo juiz ou de fase de cumprimento de sentença, procedendo-se nos termos previstos
no art. 828 da Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015 (Código de Processo Civil);
III – averbação de restrição administrativa ou convencional ao gozo de direitos registrados, de
indisponibilidade ou de outros ônus quando previstos em lei; e
IV – averbação, mediante decisão judicial, da existência de outro tipo de ação cujos resultados ou
responsabilidade patrimonial possam reduzir seu proprietário à insolvência, nos termos do inciso
IV do caput do art. 792 da Lei nº 13.105, de 16 de março de 2015 (Código de Processo Civil).
§ 1º Não poderão ser opostas situações jurídicas não constantes da matrícula no registro de
imóveis, inclusive para fins de evicção, ao terceiro de boa-fé que adquirir ou receber em garantia
direitos reais sobre o imóvel, ressalvados o disposto nos arts. 129 e 130 da Lei nº 11.101, de 9 de
fevereiro de 2005, e as hipóteses de aquisição e extinção da propriedade que independam de
registro de título de imóvel.
§ 2º Para a validade ou eficácia dos negócios jurídicos a que se refere o caput deste artigo ou para
a caracterização da boa-fé do terceiro adquirente de imóvel ou beneficiário de direito real, não
serão exigidas:
I – a obtenção prévia de quaisquer documentos ou certidões além daqueles requeridos nos termos
do § 2º do art. 1º da Lei nº 7.433, de 18 de dezembro de 1985; e
II – a apresentação de certidões forenses ou de distribuidores judiciais.
Obs: importante esclarecer que a correta interpretação do art. 792, § 2º, do CPC/2015 é objeto de
polêmica na doutrina, não havendo uma posição ainda segura sobre o tema. As conclusões acima ainda
não foram examinadas pelo STJ. Em provas de concurso, penso que durante um bom tempo deverão
cobrar a redação literal do art. 792, § 2º, do CPC/2015.
O que é o registro da penhora? É o mesmo que a averbação do art. 828 que vimos acima?
NÃO. O registro da penhora é uma coisa e a averbação do art. 828 do CPC é outra completamente diversa.
Penhorar significa apreender judicialmente os bens do devedor para utilizá-los, direta ou indiretamente,
na satisfação do crédito executado.
A penhora ocorre depois que já existe execução em curso e o executado já foi citado e não pagou.
Após ser realizada a penhora, o exequente, para se resguardar ainda mais, pode pegar na Secretaria da
Vara onde tramita a execução uma certidão de inteiro teor narrando que foi realizada a penhora sobre
determinado bem. Após, de posse dessa certidão, ele poderá ir até o cartório de registro de imóveis e
pedir que seja feita a averbação da penhora. Isso está previsto no art. 844 do CPC.
Caso faça a averbação, ela irá gerar uma presunção absoluta de que todas as pessoas sabem que esse bem
está penhorado. Logo, se alguém adquirir o bem, tal pessoa será considerada terceiro de má-fé e essa
venda não será eficaz.
Em outras palavras, o terceiro, mesmo tendo pago o preço, perderá a coisa porque adquiriu bem cuja
penhora estava registrada.
Obs: as teses acima expostas continuam válidas, devendo, no entanto, ser observada também agora a
hipótese do art. 792, § 2º do CPC/2015.
Contraditório prévio
Outra importante novidade do CPC/2015 e que será explorada nas provas está na obrigatoriedade de
oportunizar contraditório ao terceiro adquirente antes que seja declarada a fraude à execução. Esta
previsão, que não existia no Código passado, foi expressamente inserida nos seguintes termos:
Art. 792 (...)
§ 4º Antes de declarar a fraude à execução, o juiz deverá intimar o terceiro adquirente, que, se
quiser, poderá opor embargos de terceiro, no prazo de 15 (quinze) dias.
EXPLICAÇÃO DO JULGADO
Imagine a seguinte situação hipotética:
Em 1996, a empresa Alfa ajuizou execução contra Geraldo. Foi penhorado um imóvel do devedor (um
galpão). Não foi feita a averbação no registro na matrícula.
Em 1997, mesmo com a penhora, Geraldo vendeu o imóvel (galpão) para Domingos, tendo sido feito o
registro do ato na matrícula do imóvel.
Em 1999, no processo de execução, o juiz, sem saber que o imóvel havia sido vendido, determinou que o
galpão fosse levado a hasta pública, tendo ele sido arrematado (“comprado”) por Valdir.
Em 14/11/2003, Domingos vendeu o imóvel para Marcelo, com registro em cartório. Na escritura constou
declaração de que o comprador estava dispensando as certidões de que trata o art. 1º, § 2º, da Lei nº
7.433/85:
Art. 1º (...)
§ 2º O Tabelião consignará no ato notarial a apresentação do documento comprobatório do
pagamento do Imposto de Transmissão inter vivos, as certidões fiscais e as certidões de
propriedade e de ônus reais, ficando dispensada sua transcrição.
Recurso especial
Marcelo interpôs recurso especial alegando que a compra que ele fez do imóvel foi válida e eficaz e não
configurou fraude à execução.
O recorrente argumentou o seguinte:
- o imóvel foi penhorado em 1996 na execução proposta por Alfa contra Geraldo;
- em 1999, esse imóvel foi arrematado por Valdir;
- esse mesmo imóvel foi adquirido por mim (pelo recorrente (Marcelo) em 2003;
- ocorre que essa compra não configurou fraude à execução porque nem a penhora (em 1996) nem a
arrematação (em 1999) estavam registradas na matrícula do imóvel;
- logo, como o credor não efetuou o registro imobiliário da penhora, eu (Marcelo) não tinha como saber
que havia um ônus que recaía sobre o bem;
- isso significa que eu estava de boa-fé.
Assim, se não houver registro da penhora na matrícula do imóvel, presume-se que o terceiro adquirente
não tinha conhecimento da existência de uma ação que poderia levar o alienante à insolvência. Essa
presunção é relativa e pode ser afastada desde que o credor prove que o terceiro adquirente tinha
conhecimento.
Podemos assim sistematizar:
• se houve registro da penhora na matrícula do imóvel, o terceiro adquirente tinha conhecimento da
existência da ação e estará caracterizada a fraude à execução;
• se não houve registro da penhora na matrícula do imóvel, presume-se que o terceiro adquirente não
tinha conhecimento da existência da ação e a fraude à execução dependerá da prova de má-fé do terceiro.
O ônus de produzir essa prova é do credor.
Sob o regime do recurso repetitivo, o STJ fixou as seguintes teses a respeito do tema:
1) Em regra, para que haja fraude à execução, é indispensável que tenha havido a citação válida do
devedor.
2) Mesmo sem citação válida, haverá fraude à execução se, quando o devedor alienou ou onerou o bem,
o credor já havia realizado a averbação da execução nos registros públicos. Presume-se em fraude de
execução a alienação ou oneração de bens realizada após essa averbação.
3) Persiste válida a Súmula 375 do STJ, segundo a qual o reconhecimento da fraude de execução depende
do registro da penhora do bem alienado ou da prova de má-fé do terceiro adquirente.
4) A presunção de boa-fé é princípio geral de direito universalmente aceito, devendo ser respeitada a
parêmia (ditado) milenar que diz o seguinte: “a boa-fé se presume, a má-fé se prova”.
5) Assim, não havendo registro da penhora na matrícula do imóvel, é do credor o ônus de provar que o
terceiro adquirente tinha conhecimento de demanda capaz de levar o alienante à insolvência.
STJ. Corte Especial. REsp 956.943-PR, Rel. originária Min. Nancy Andrighi, Rel. para acórdão Min. João
Otávio de Noronha, julgado em 20/8/2014 (Recurso Repetitivo – Tema 243) (Info 552).
Nos termos da referida tese, para o reconhecimento da ineficácia do ato de disposição do bem penhorado,
além da alienação após a citação do devedor em demanda capaz de levar o alienante à insolvência, é
necessário investigar se o credor levou a registro a penhora do bem alienado ou, em caso negativo, se o
terceiro adquirente agiu de má-fé, não sendo viável a presunção de eventual má-fé, mas a certeza de
conduta nesse sentido, que deve ser comprovada pelo credor-exequente.
Desde a redação original do § 4º do art. 659, do CPC/1973 que dispunha que “A penhora de bens imóveis
realizar-se-á mediante auto ou termo de penhora, e inscrição no respectivo registro”, já era necessário
registro da penhora para o reconhecimento de fraude à execução, sendo que a alteração do referido
dispositivo pela Lei nº 11.382/2006, apenas deixou ainda mais clara a exigência.
Trata-se de compreensão lógica que apenas foi sendo aprimorada pelos textos normativos que a
consagram. Não faz sentido exigir-se de terceiro interessado na aquisição de bem imóvel que percorra o
País buscando obter nos foros cíveis, trabalhistas e federais certidões negativas acerca de eventual
existência de ações que possam reduzir à insolvência o proprietário do imóvel a ser adquirido. Muito mais
sensato e fácil é exigir que o próprio credor interessado na penhora do imóvel promova, na respectiva
matrícula, o registro de sua pretensão ou constrição, de modo a dar amplo conhecimento a todos.
Por isso, mesmo na redação originária do § 4º do art. 659 do CPC/1973, o STJ já entendia que, se o credor
não registrou a penhora, a caracterização de fraude à execução depende de prova de que o terceiro
adquirente tinha plena ciência da situação de insolvência do alienante, não sendo cabível presunção de
má-fé do adquirente a título oneroso.
Em suma:
Mesmo no sistema legal anterior à Lei nº 8.953/94, a caracterização da fraude à execução, quando o
credor não efetuou o registro imobiliário da penhora, dependia de prova de que o terceiro adquirente
tinha ciência do ônus que recaía sobre o bem.
STJ. 4ª Turma. AgInt no REsp 1.577.144-SP, Rel. Min. Raul Araújo, julgado em 2/10/2023 (Info 15 – Edição
Extraordinária).
Por isso, esta Corte Superior, mesmo no sistema legal anterior à Lei 8.953/94, já entendia depender a
caracterização de fraude à execução, quando o credor não efetuara a singela cautela do registro
imobiliário da penhora ou de outra pretensão reipersecutória, da prova de que o terceiro adquirente tinha
plena ciência da situação de insolvência do alienante, não sendo cabível presunção de má-fé do adquirente
a título oneroso. Precedentes.
4. Na hipótese, é incontroversa a inexistência de averbação acerca da execução promovida pelo Consórcio
agravado, de registro imobiliário da penhora ou ainda da posterior arrematação, cuja carta somente foi
levada a registro mais de 4 (quatro) anos após a aquisição do imóvel pelos agravantes que, por sua vez,
promoveram, nos estritos termos da lei, o registro da operação de compra e venda, não sendo possível,
portanto, presumir sua má-fé.
5. Agravo interno a que se dá provimento para julgar procedentes os embargos de terceiro, a fim de tornar
sem efeitos os atos expropriatórios sobre o bem referenciado, realizados na execução movida pelo
Consórcio agravado e, consequentemente, a arrematação do bem pelo ora agravado.
(AgInt no REsp n. 1.577.144/SP, relator Ministro Raul Araújo, Quarta Turma, julgado em 2/10/2023, DJe
de 5/10/2023.)
PROCESSO COLETIVO
Há legitimidade das vítimas para executar individualmente o TAC firmado por ente público que
verse sobre direitos individuais homogêneos
ODS 11 E 16
O § 6º do art. 5º fala nos legitimados para celebrar o TAC. Quem tem legitimidade para executá-lo?
A lei não prevê expressamente quem tenham legitimidade para executar o TAC. Essa questão sempre foi
polêmica na doutrina e na jurisprudência.
Todavia, a interpretação mais recente e consentânea com a finalidade das normas protetivas do
microssistema de demandas coletivas correlaciona a legitimidade para executar o Termo de Ajustamento
de Conduta à natureza do direito tutelado. Isso significa que:
• se o TAC tratou sobre direitos difusos e coletivos stricto sensu, os órgãos públicos são legitimados para
executar o acordo;
• por outro lado, tratando-se de direitos individuais homogêneos, nada impede que os próprios lesados
executem o título extrajudicial individualmente.
Assim, há legitimidade dos indivíduos para executar individualmente o Termo de Ajustamento de Conduta
firmado por ente público que verse sobre direitos individuais homogêneos.
Em suma:
As vítimas de evento danoso possuem legitimidade para executar individualmente o Termo de
Ajustamento de Conduta firmado por ente público que verse sobre direitos individuais homogêneos.
STJ. 3ª Turma. REsp 2.059.781-RJ, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 12/12/2023 (Info 15 – Edição
Extraordinária).
DIREITO INTERNACIONAL
ALIMENTOS INTERNACIONAIS
A remessa de valores para o exterior a título de alimentos internacionais
é isenta do pagamento de tarifas bancárias
ODS 16 E 17
Alimentos internacionais
Se a pessoa obrigada a prestar os alimentos e a pessoa beneficiária moram em países diferentes, fala-se,
neste caso, em alimentos internacionais (ou transnacionais).
As dificuldades relacionadas aos alimentos internacionais (pensão alimentícia em um contexto
transnacional) são numerosas e podem ser bastante complexas. Aqui estão algumas das principais
dificuldades:
• diferenças na legislação dos países;
• determinar qual jurisdição é responsável pelo caso e garantir que as decisões de um país sejam
reconhecidas e executadas no outro;
• a execução de ordens de pensão alimentícia em outro país pode ser complicada em razão de
dificuldades, como encontrar o devedor, avaliar sua situação financeira e depois efetivamente cobrar a
dívida;
• custos legais e administrativos para a execução desses comandos.
Para enfrentar essas e outras dificuldades, diversos países, dentre eles o Brasil, aderiram a tratados
internacionais como a Convenção de Nova Iorque e a Convenção de Haia sobre a Cobrança Internacional
de Alimentos para Crianças e Outros Membros da Família, que visam facilitar a cooperação internacional
e o reconhecimento mútuo de decisões de alimentos.
Assim, quando o alimentante reside no Brasil e o alimentando no exterior, a persecução (pedido) dos
alimentos é realizada através de instituição intermediária, assumindo o Estado brasileiro,
internacionalmente, a efetividade do direito aos alimentos.
Existem duas hipóteses de prestação de alimentos com base na Convenção de Nova Iorque:
1ª situação: 2ª situação
Alimentando (beneficiário) mora no exterior. Alimentando (beneficiário) mora no Brasil.
Alimentante (devedor) mora no Brasil. Alimentante (devedor) mora no exterior.
A competência para a ação de alimentos será da A competência para a ação de alimentos será da
Justiça Federal brasileira (art. 109, III, da CF/88), Justiça do país onde reside o alimentante (réu).
considerando que aqui reside o alimentante (réu).
O alimentando entrega os documentos O alimentando entrega os documentos ao MPF
necessários para a ação à Autoridade Remetente (que funciona como Autoridade Remetente) e
do país onde mora e esta encaminha ao MPF este os encaminha à Instituição Interveniente do
(Instituição Interveniente) no Brasil. país onde reside o alimentante.
A ação será proposta pelo Procurador da A ação será proposta pelo órgão que no país
República na Seção ou Subseção Judiciária em que estrangeiro funciona como Instituição
residir o alimentante. Interveniente.
Importante ressaltar que a mencionada convenção trata a prestação de alimentos no exterior como um
problema humanitário, dadas as dificuldades legais e práticas envolvidas para efetivação do direito aos
alimentos.
Justamente por essa razão, a Convenção de Nova Iorque prevê mecanismos que objetivam resolver esses
problemas e vencer essas dificuldades.
Em outras palavras, ao deixar de isentar o alimentando do pagamento das taxas bancárias, o Brasil,
enquanto Estado signatário, estaria garantindo apenas parcialmente o direito que lhe cumpre preservar.
Portanto, caberia ao Banco do Brasil, que tem agência em diversos países, enquanto sociedade de
economia mista e, como tal, vinculada ao respeito às políticas públicas assumidas pelo Governo Federal,
isentar o alimentando do pagamento dessas taxas, ou, subsidiariamente, que essas taxas fossem pagas
pela União.
Ao final, requereu a procedência da ação para que o Banco do Brasil fosse compelido a cessar a cobrança
de quaisquer taxas, tarifas ou quaisquer valores referentes à remessa de valores ao exterior das pensões
alimentícias pagas no Brasil, ressalvados apenas os valores pagos ao banqueiro internacional, no caso de
o dinheiro não ser remetido para uma agência do próprio Banco do Brasil no exterior.
Subsidiariamente, requereu a condenação da União na obrigação de assumir o encargo.
O STJ manteve a sentença e o acórdão? A isenção prevista na Convenção de Nova Iorque deve incidir
sobre o serviço bancário de remessa de valores para o exterior?
SIM.
A interpretação literal e isolada da norma poderia conduzir à conclusão de que “as isenções de custos e
de despesas concedidas aos demandantes” abarcariam apenas as despesas judiciais.
Contudo, essa não seria a melhor interpretação, uma vez que o dispositivo deve ser analisado
sistematicamente, considerando-se o objetivo da isenção, que é facilitar a “obtenção de alimentos”, e não
apenas a propositura de uma ação de alimentos.
Por isso, a expressão “facilitação de acesso aos alimentos” deve compreender todos os mecanismos
necessários para que o alimentante (“demandado”) possa cumprir as decisões judiciais que fixam a verba
alimentar. Em outras palavras, deve englobar todos os procedimentos necessários para a efetivação da
decisão judicial, entre eles o serviço bancário de remessa de valores para o exterior, sob pena de não
restarem afastados e vencidos os problemas e as dificuldades mencionadas na Convenção.
Inclusive, justamente em razão da interpretação que o STJ vinha dando ao princípio do acesso à justiça
dos financeiramente hipossuficientes, a isenção do pagamento de emolumentos a Notários e
Registradores passou a constar expressamente do CPC/2015, no art. 98, § 1º, IX.
Nesse passo, concluiu o relator que, “onde houver a mesma razão, haverá o mesmo direito”.
Assim, como a remessa para o exterior de verba alimentar fixada judicialmente representa a efetivação
da decisão judicial e, consequentemente, a obtenção dos alimentos, a isenção prevista na Convenção de
Nova Iorque deve incidir também sobre as tarifas bancárias exigidas em tal operação, independentemente
de norma regulamentar editada pelo Banco Central do Brasil.
Em suma:
A isenção prevista na Convenção de Nova Iorque (Decreto Legislativo nº 56.826/65) deve incidir sobre
todos os procedimentos necessários à efetivação de decisão judicial que fixa a verba alimentar, entre
eles o serviço bancário de remessa de valores para o exterior, independentemente de norma
regulamentar editada pelo Banco Central do Brasil.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.705.928-SP, Rel. Min. Humberto Martins, julgado em 12/12/2023 (Info 15 – Edição
Extraordinária).
EXERCÍCIOS
16) É prescindível o esgotamento dos meios executivos típicos para a utilização do sistema Central
Nacional de Indisponibilidade de Bens (CNIB) como medida executiva atípica. ( )
17) A doença que acomete o advogado somente pode constituir justa causa para autorizar a interposição
tardia de recurso se, sendo o único procurador da parte, estiver o advogado totalmente
impossibilitado de exercer a profissão ou de substabelecer o mandato a colega seu para recorrer da
decisão. ( )
18) Presume-se como indispensável para preservar a reserva financeira essencial à proteção do mínimo
existencial do executado e de sua família, bem como de depósitos em caderneta de poupança ou
qualquer outro tipo de aplicação financeira, o valor de 40 salários-mínimos. ( )
19) Mesmo no sistema legal anterior à Lei nº 8.953/94, a caracterização da fraude à execução, quando o
credor não efetuou o registro imobiliário da penhora, dependia de prova de que o terceiro
adquirente tinha ciência do ônus que recaía sobre o bem. ( )
20) As vítimas de evento danoso não possuem legitimidade para executar individualmente o Termo de
Ajustamento de Conduta firmado por ente público que verse sobre direitos individuais homogêneos.
21) A remessa de valores para o exterior a título de alimentos internacionais é isenta do pagamento de
tarifas bancárias. ( )
Gabarito:
1. C 2. E 3. E 4. C 5. E 6. C 7. E 8. C 9. E 10. E
11. C 12. C 13. E 14. C 15. C 16. E 17. C 18. C 19. C 20. E
21. C