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Informativo 733-STJ
Márcio André Lopes Cavalcante
ÍNDICE
DIREITO ADMINISTRATIVO
RESPONSABILIDADE CIVIL DO ESTADO
▪ Reconhecida a responsabilidade estatal por acidente com evento morte em rodovia, é devida a indenização por
danos materiais aos filhos menores e ao cônjuge do de cujus.
CONTRATOS ADMINISTRATIVOS
▪ Nos contratos administrativos, é válida a cláusula que prevê renúncia do direito aos honorários de sucumbência por
parte de advogado contratado.
DIREITO CIVIL
DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA
▪ Fundo de investimento pode sofrer os efeitos da aplicação do instituto da desconsideração da personalidade
jurídica.
PRISÃO CIVIL
▪ A prisão civil do devedor de alimentos pode ser excepcionalmente afastada, quando a técnica de coerção não se
mostrar a mais adequada e eficaz para obrigá-lo a cumprir suas obrigações.
DIREITO DO CONSUMIDOR
RESPONSABILIDADE PELO FATO DO SERVIÇO
▪ O médico é civilmente responsável por falha no dever de informação acerca dos riscos de morte em cirurgia.
▪ A sociedade empresária que comercializa ingressos no sistema on-line responde civilmente pela falha na prestação
do serviço.
CONTRATOS BANCÁRIOS
▪ A declaração de ilegalidade de tarifas bancárias, com a consequente devolução dos valores cobrados
indevidamente, em ação ajuizada anteriormente, faz coisa julgada em relação ao pedido de repetição de indébito
dos juros remuneratórios incidentes sobre as tarifas.
DIREITO EMPRESARIAL
RECUPERAÇÃO JUDICIAL
▪ O crédito constituído anteriormente à incorporação de empresa a grupo empresarial em recuperação judicial deve
se submeter ao juízo universal.
PRISÃO DOMICILIAR
▪ A apreensão de grande quantidade e variedade de drogas não impede a concessão da prisão domiciliar à mãe de
filho menor de 12 anos se não demonstrada situação excepcional de prática de delito com violência ou grave
ameaça ou contra seus filhos (art. 318-A do CPP).
PROVAS
▪ Se a vítima é capaz de individualizar o autor do fato, é desnecessário instaurar o procedimento do art. 226 do CPP.
DIREITO TRIBUTÁRIO
IPI
▪ O benefício da suspensão do IPI previsto no art. 5º, da Lei 9.826/99 e no art. 29 da Lei 10.637/2002 não se aplica a
estabelecimentos equiparados a industrial.
DIREITO PREVIDENCIÁRIO
APOSENTADORIA
▪ Para atender o parágrafo único do art. 124 da Lei 8.213/91, basta que o valor recebido a título de seguro-
desemprego, nos períodos coincidentes, seja abatido do montante devido nos casos em que o benefício
previdenciário foi equivocadamente indeferido pelo INSS.
DIREITO ADMINISTRATIVO
O TJ, contudo, entendeu que os danos materiais não foram devidamente comprovados e negou o pedido
neste ponto.
Os autores, então, interpuseram recurso especial, alegando que são dependentes presumidos do falecido.
No caso concreto, restou comprovado que o acidente ocorreu em razão de falha na manutenção e na
fiscalização da via pública, não havendo quaisquer indícios de culpa exclusiva da vítima.
Assim, ficou demonstrada a existência de omissão culposa por parte do ente público, consubstanciada na
inobservância ao dever de fiscalização e sinalização da via pública.
Além disso, ficou comprovado o nexo causal entre a referida conduta estatal e o evento danoso, que
resultou na morte do pai e marido dos autores, causando-lhes, evidentemente, prejuízos materiais e
morais, os quais devem ser indenizados.
Em suma:
Reconhecida a responsabilidade estatal por acidente com evento morte em rodovia, é devida a
indenização por danos materiais aos filhos menores e ao cônjuge do de cujus.
STJ. 1ª Turma. REsp 1.709.727-SE, Rel. Min. Benedito Gonçalves, julgado em 05/04/2022 (Info 733).
CONTRATOS ADMINISTRATIVOS
Nos contratos administrativos, é válida a cláusula que prevê renúncia do direito
aos honorários de sucumbência por parte de advogado contratado
ODS 16
Não contrariando a lei nem sendo abusivo, o contrato administrativo pode tratar de renúncia
a direito do contratado. Esta renúncia será eficaz e produzirá seus regulares efeitos na
hipótese em que houver expressa concordância do contratado.
Especificamente com relação aos advogados, o Estatuto da OAB (Lei nº 8.906/94) dispõe
serem do advogado os honorários de sucumbência. Havia previsão expressa a respeito da
impossibilidade de retirar-lhes esse direito. Estava no art. 24, § 3º. Contudo, em 2009, o STF
declarou a inconstitucionalidade da regra, uma vez que se trata de direito disponível e, por
isso, negociável com o constituinte do mandato (ADI 1194, Relatora p/ Acórdão Min. Cármen
Lúcia, Tribunal Pleno, julgado em 20/05/2009).
Nessa linha, não se pode concluir pela abusividade ou ilegalidade da cláusula contratual que
prevê a renúncia do direito aos honorários de sucumbência, notadamente quando a parte
contratada, por livre e espontânea vontade, manifesta sua concordância e procede ao
patrocínio das causas de seu cliente mediante a remuneração acertada no contrato.
No caso em análise, a parte autora manifestou, de forma expressa e consciente, a renúncia e
só procurou discutir a cláusula após o fim do contrato.
STJ. 1ª Turma. AREsp 1.825.800-SC, Rel. Min. Benedito Gonçalves, julgado em 05/04/2022 (Info 733).
O contrato não foi renovado. Algum tempo depois, a BCA ajuizou ação contra a empresa pública pedindo
o pagamento dos honorários sucumbenciais de causas que foram vencidas pela empresa depois do
contrato ter se encerrado, mas que começaram sob o patrocínio da BCA.
Alegou que não seria possível admitir a renúncia ao recebimento de eventuais honorários sucumbenciais
por causa da rescisão do contrato e que, por isso, a cláusula contratual deveria ser declarada como nula
de pleno direito.
Em 1ª instância, o juiz concordou com a autora e decidiu que a cláusula do contrato que tratava da
renúncia aos honorários seria nula e que, portanto, deveria ser garantido ao escritório de advocacia o
direito de exigir os honorários de sucumbência na proporção do trabalho desenvolvido.
O Tribunal de Justiça manteve a sentença alegando que a referida cláusula significava enriquecimento
ilícito da empresa pública.
O contrato administrativo pode, em regra, conter cláusula prevendo renúncia a direito do contratado. Isso
só não será permitido se essa renúncia, no caso concreto, contrariar a lei ou for abusiva.
Tirando essas situações de contrariedade à lei ou abusividade, a renúncia será eficaz e produzirá seus
regulares efeitos na hipótese em que houver expressa concordância do contratado.
Contudo, em 2009, o STF declarou a inconstitucionalidade dessa regra. Para a Corte, os honorários
consistem em verba patrimonial e, portanto, trata-se de direito disponível e, por isso, negociável com o
constituinte do mandato: STF. Plenário. ADI 1194, Relatora p/ Acórdão Min. Cármen Lúcia, julgado em
20/05/2009.
Nessa linha, não se pode concluir pela abusividade ou ilegalidade da cláusula contratual que prevê a
renúncia do direito aos honorários de sucumbência, notadamente quando a parte contratada, por livre e
espontânea vontade, manifesta sua concordância e procede ao patrocínio das causas de seu cliente
mediante a remuneração acertada no contrato.
Caso concreto
No caso em análise, a parte autora manifestou, de forma expressa e consciente, a renúncia e só procurou
discutir a cláusula após o fim do contrato.
Nesse contexto, considerados os princípios da autonomia da vontade e da força obrigatória dos contratos,
forçoso reconhecer não ser adequada a invocação da regra geral de proibição do enriquecimento sem
causa para anular a cláusula contratual de renúncia, pois, conforme entendimento jurisprudencial, é legal
e constitucional o acordo sobre a destinação dos honorários de sucumbência.
Ademais, não se pode admitir a alteração de regra prevista desde a época da realização do procedimento
licitatório, pois aqueles que concorreram para a prestação do serviço se submeteram à mesma regra para
elaborarem suas propostas.
Art. 63 (...)
Parágrafo único. Igualmente será computado para efeito de aposentadoria o serviço prestado pelo
convocado matriculado em Órgão de Formação de Reserva na base de 1 (um) dia para período de
8 (oito) horas de instrução, desde que concluam com aproveitamento a sua formação.
Os dias em que não houve 8 horas de instrução não poderiam, portanto, ser computados.
João impetrou mandado de segurança argumentando que, apesar da previsão legal, os alunos do NPOR
cumprem de forma completa e integral as atividades dos demais militares, consistentes em serviços,
instruções e demais atributos típicos da vida militar.
Defendeu, ainda, que as atividades desempenhadas por um militar cursista não deveriam ser
contabilizadas de forma diferente de seus companheiros de quartel, sob pena de ofensa ao princípio da
isonomia.
Desse modo, as duas teses divergentes podem ser assim sintetizadas:
• para o autor, a contagem do tempo de serviço dos alunos do Centro de Preparação de Oficiais da Reserva
deve ser feita de forma integral (dia-a-dia);
• para a União (Exército), o período em que o Militar foi aluno em Curso Preparatório de Oficiais da Reserva
deve ser computado em 1 dia de trabalho para cada 8 horas de instrução.
Em suma:
O período em que o Militar foi aluno em Curso Preparatório de Oficiais da Reserva é computado em 1
dia de trabalho a cada 8 horas de instrução.
STJ. 2ª Turma. REsp 1.876.297-SC, Rel. Min. Francisco Falcão, julgado em 05/04/2022 (Info 733).
DIREITO CIVIL
O juiz rejeitou o pedido do fundo e manteve a constrição. O Tribunal de Justiça também entendeu da
mesma forma.
Em suma:
Fundo de investimento pode sofrer os efeitos da aplicação do instituto da desconsideração da
personalidade jurídica.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.965.982-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 05/04/2022 (Info 733).
Situação adaptada: Campari é uma marca de bebida alcóolica surgida há muitos anos na Itália.
Na década de 1970, a Campari celebrou contrato de distribuição com uma empresa brasileira
(DSB), que seria a responsável pela produção, distribuição e comercialização da bebida no
Brasil. Após muitos anos de contrato, a Campari decidiu não mais renovar o contrato e
constituiu uma empresa própria para fazer as atividades que eram desenvolvidas pela
contratada. A DSB ajuizou ação de indenização contra a Campari do Brasil Ltda alegando que
a ré, de forma ilícita, apropriou-se de toda a estrutura de vendas e distribuição montado pela
DSB, com vistas a criar sua própria organização de distribuição e venda do produto Campari.
Requereu indenização pela apropriação indevida de todo o seu know-how relativo à sua
estrutura de vendas e distribuição de produtos, de sua clientela, em resumo, de todo esse
patrimônio incorpóreo desenvolvido por décadas.
Para o STJ, a autora não tem direito à indenização.
Nos contratos de distribuição é normal que o produtor seja amplamente informado e participe
das técnicas mercadológicas usuais de venda desenvolvidas pela distribuidora e de seu campo
de atuação. Essas informações não configuram expertise singular indenizável, ou seja, não é
cabível, em regra, indenização pelo simples fato de o produtor utilizar essas informações para
continuar vendendo o produto no futuro sem a participação da empresa distribuidora.
Para que a Campari fosse condenada a indenizar seria necessário se provar que ela se utilizou
de know-how secreto e original da distribuidora, o que não é o caso.
Sem essa demonstração, o que se conclui é que a Campari utilizou-se dos conhecimentos e
informações que adquiriu ao longo de todos esses anos de contrato em função do exercício
legítimo do seu poder de controle na qualidade de fornecedor sobre o seu distribuidor
exclusivo.
Vale ressaltar que, por força do próprio contrato, a empresa distribuidora deveria fornecer à
Campari as informações sobre estratégias de vendas, marketing, base de consumidores etc.
Assim, aquilo que a autora afirma que a ré se apropriou são informações que, pelo contrato, já
deveriam ser fornecidas. Isso afasta o caráter original e/ou secreto desses dados.
Ademais, a formação de clientela está normalmente associada às estratégias de marketing
utilizadas pelo fabricante, à qualidade do produto e à notoriedade da marca, e não ao esforço
e à dedicação do distribuidor.
Dessa feita, no caso, não se identifica nenhum elemento ou técnica distintiva original ou
protegida por sigilo, legal ou contratualmente, a indicar apropriação indevida de know-how,
sendo certo que a organização de lista de clientes ou a dinâmica de vendas transferida
contratualmente não tem o condão de embasar pedido indenizatório de danos emergentes ou
de lucros cessantes.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.727.824-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 05/04/2022 (Info 733).
Além disso, a DSB se obrigou a usar uma cota mínima de 11% do valor das vendas na publicidade do
produto no território nacional, devendo ser a guardiã da marca Campari no país, sem direito a qualquer
remuneração, salvo o reembolso das despesas com o desempenho dessa obrigação.
Esse contrato foi posteriormente objeto de aditivos de prorrogação.
A DSB fez altos investimentos na industrialização e comercialização do produto, construindo novas instalações
fabris, tornando-se a maior revenda do produto fora da Itália e aumentando o faturamento da Campari.
Em 1992, a Campari notificou a DSB informando a sua intenção de não mais renovar o contrato de
distribuição, assumindo, por meio de outra pessoa jurídica, a distribuição da bebida no Brasil.
Diante desse cenário, a DSB ajuizou ação de indenização contra a Campari do Brasil Ltda.
A autora alegou que a ré, de forma ilícita, apropriou-se de toda a estrutura de vendas e distribuição
montado pela DSB, com vistas a criar sua própria organização de distribuição e venda do produto Campari.
Requereu indenização pela apropriação indevida de todo o seu know-how relativo à sua estrutura de
vendas e distribuição de produtos, de sua clientela, em resumo, de todo esse patrimônio incorpóreo
desenvolvido por décadas.
Em suma:
Nos contratos de distribuição de bebidas, as informações relativas à formação da clientela estão
associadas às estratégias de marketing utilizadas pelo fabricante, à qualidade do produto e à
notoriedade da marca, e não ao esforço e à dedicação do distribuidor.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.727.824-SP, Rel. Min. Ricardo Villas Bôas Cueva, julgado em 05/04/2022 (Info 733).
PRISÃO CIVIL
A prisão civil do devedor de alimentos pode ser excepcionalmente afastada, quando a técnica de
coerção não se mostrar a mais adequada e eficaz para obrigá-lo a cumprir suas obrigações
ODS 16
No caso concreto, o STJ decidiu afastar a prisão civil com base nas seguintes particularidades:
(i) o credor é maior de idade, com formação superior e inscrito no respectivo conselho de
classe; (ii) o devedor de alimentos está com a saúde física e psicológica fragilizada, razão pela
qual não consegue manter regularidade no exercício de atividade laborativa; e (iii) a dívida se
prolongou no tempo e se tornou gravoso exigir todo seu montante para afastar o decreto de
prisão.
De acordo com o quadro fático delineado, a medida extrema da prisão civil, no caso, não vai
conseguir compelir o devedor a cumprir a obrigação alimentar na medida em que, pelo menos
desde 2017, nada foi pago ao credor, mesmo com a ameaça concreta de sua constrição, com a
expedição do mandado de prisão civil em 2019, que só não foi efetivada em virtude da
pandemia causada pelo Covid-19.
A medida coativa extrema, no caso concreto, revela-se desnecessária e ineficaz, pois o risco
alimentar e a própria sobrevivência do credor, não se mostram iminentes e insuperáveis,
podendo ele, por si só, como vem fazendo, afastar a hipótese pelo próprio esforço.
STJ. 3ª Turma. RHC 160.368-SP, Rel. Min. Moura Ribeiro, julgado em 05/04/2022 (Info 733).
De acordo com o quadro fático delineado, a medida extrema da prisão civil, no caso, não vai conseguir
compelir o devedor a cumprir a obrigação alimentar na medida em que, pelo menos desde 2017, nada foi
pago ao credor, mesmo com a ameaça concreta de sua constrição, com a expedição do mandado de prisão
civil em janeiro de 2019, que só não foi efetivada em virtude da pandemia causada pelo Covid-19.
Portanto, a medida coativa extrema se revela desnecessária e ineficaz, pois o risco alimentar e a própria
sobrevivência do credor não se mostram iminentes e insuperáveis, podendo ele, por si só, como vem
fazendo, sustentar-se pelo próprio esforço.
Em suma:
A prisão civil do devedor de alimentos pode ser excepcionalmente afastada, quando a técnica de
coerção não se mostrar a mais adequada e eficaz para obrigá-lo a cumprir suas obrigações.
STJ. 3ª Turma. RHC 160.368-SP, Rel. Min. Moura Ribeiro, julgado em 05/04/2022 (Info 733).
DIREITO DO CONSUMIDOR
Importante!!!
ODS 3 E 16
Com efeito, não se admite o chamado “blanket consente”, isto é, o consentimento genérico, em
que não há individualização das informações prestadas ao paciente, dificultando, assim, o
exercício de seu direito fundamental à autodeterminação.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.848.862-RN, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 05/04/2022 (Info 733).
Além disso, o Código Civil também disciplinou o assunto no seu art. 15:
Art. 15. Ninguém pode ser constrangido a submeter-se, com risco de vida, a tratamento médico
ou a intervenção cirúrgica.
Justamente por isso, é indispensável o consentimento informado do paciente acerca dos riscos inerentes
ao procedimento cirúrgico. O médico que deixa de informar o paciente acerca dos riscos da cirurgia incorre
em negligência, e responde civilmente pelos danos resultantes da operação.
Conclui-se, assim, que o médico precisa do consentimento informado do paciente para executar qualquer
tratamento ou procedimento médico, em decorrência da boa-fé objetiva e do direito fundamental à
autodeterminação do indivíduo, sob pena de inadimplemento do contrato médico-hospitalar, o que
poderá ensejar a responsabilização civil.
Os médicos poderiam ter provado que eles forneceram todas as informações ao paciente antes da
cirurgia, mas que essas informações foram prestadas oralmente ou é indispensável que os riscos da
cirurgia sejam informados por escrito?
Não há qualquer obrigatoriedade no ordenamento jurídico de que o consentimento informado seja
exercido mediante “termo”, isto é, na forma escrita.
O que se exige é tão somente a prestação clara e precisa de todas as informações sobre os riscos,
benefícios e alternativas do procedimento médico a ser adotado, independentemente da forma.
Admite-se, portanto, qualquer meio de prova para tentar demonstrar que foi cumprido o dever de
informação, nos termos do art. 107 do Código Civil, que assim dispõe:
Art. 107. A validade da declaração de vontade não dependerá de forma especial, senão quando a
lei expressamente a exigir.
Entretanto, não se pode ignorar que a ausência de “termo de consentimento informado” gera uma
enorme dificuldade para que o médico consiga comprovar que cumpriu seu dever de informação ao
paciente. Logo, recomenda-se, sobretudo em casos mais complexos, em que há um maior incremento do
risco, que o consentimento informado seja feito em documento próprio, por escrito e assinado, a fim de
resguardar o profissional médico em caso de eventual discussão jurídica sobre o assunto.
Em suma:
O médico é civilmente responsável por falha no dever de informação acerca dos riscos de morte em
cirurgia.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.848.862-RN, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 05/04/2022 (Info 733).
Obs: no caso concreto, o STJ condenou os réus ao pagamento de R$ 10 mil em favor de cada autor (eram
dois autores), acrescido de correção monetária desde a data da sessão de julgamento (data do
arbitramento), a teor do disposto na Súmula 362 do STJ, além de juros de mora a partir da data do evento
danoso, nos termos da Súmula 54 do STJ.
Importante!!!
ODS 16
A venda de ingresso para um determinado espetáculo cultural é parte típica do negócio. Logo,
trata-se de um risco da própria atividade empresarial que visa ao lucro e que integra o
investimento do fornecedor, compondo, portanto, o custo básico embutido no preço.
Desse modo, as sociedades empresárias que atuaram na organização e na administração da
festividade e da estrutura do local integram a mesma cadeia de fornecimento e, portanto, são
solidariamente responsáveis pelos danos, em virtude da falha na prestação do serviço, ao não
prestar informação adequada, prévia e eficaz acerca do cancelamento/adiamento do evento.
Os integrantes da cadeia de consumo, em ação indenizatória consumerista, também são
responsáveis pelos danos gerados ao consumidor, não cabendo a alegação de que o dano foi
gerado por culpa exclusiva de um dos seus integrantes.
Caso concreto: ação de indenização proposta pelos consumidores em razão dos custos
advindos da compra de ingresso para o evento Pretty Little Weekend, a ser sediado na cidade
do Rio de Janeiro-RJ, cancelado, contudo, sem qualquer satisfação aos consumidores. A
sociedade empresária que comercializou os ingressos no sistema on-line possui
responsabilidade pela falha na prestação do serviço, a ensejar a reparação por danos
materiais e a compensação dos danos morais.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.985.198-MG, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 05/04/2022 (Info 733).
A questão chegou até o STJ. A empresa ré, neste caso, mesmo sendo mera intermediária da venda dos
ingressos, responde pelos prejuízos causados decorrentes do cancelamento do evento?
SIM.
A sociedade empresária que comercializa ingressos no sistema on-line responde civilmente pela falha
na prestação do serviço.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.985.198-MG, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 05/04/2022 (Info 733).
O Código de Defesa do Consumidor, ao tratar sobre responsabilidade pelo fato do serviço, não faz
qualquer distinção entre os fornecedores, motivo pelo qual se entende que toda a cadeia produtiva é
solidariamente responsável.
A venda de ingresso para um determinado espetáculo cultural é parte típica do negócio. Como se trata do
negócio da empresa, ela deverá arcar com o risco da própria atividade empresarial. Isso porque, como a
empresa visa ao lucro, esse risco é parte integrante do investimento do fornecedor, compondo, portanto,
o custo básico embutido no preço.
É impossível conceber a realização de espetáculo cultural, cujo propósito seja a obtenção de lucro por
meio do acesso do público consumidor, sem que a venda do ingresso integre a própria escala produtiva e
comercial do empreendimento.
A venda por intermédio da internet alcança um número infinitamente superior à venda presencial e reduz
o prazo do retorno dos investimentos empregados.
Desse modo, as sociedades empresárias que atuaram na organização e na administração da festividade e
da estrutura do local integram a mesma cadeia de fornecimento e, portanto, são solidariamente
responsáveis pelos danos, em virtude da falha na prestação do serviço, ao não prestar informação
adequada, prévia e eficaz acerca do cancelamento/adiamento do evento.
A jurisprudência do STJ é no sentido de que os integrantes da cadeia de consumo, em ação indenizatória
consumerista, também são responsáveis pelos danos gerados ao consumidor, não cabendo a alegação de
que o dano foi gerado por culpa exclusiva de um dos seus integrantes.
A responsabilidade só seria afastada no caso de culpa exclusiva do consumidor ou de terceiro, não
podendo, contudo, uma empresa que integra a cadeia de consumo ser considerada como “terceiro”.
O STJ afastou, por fim, a alegação de que o cancelamento, no caso concreto, não geraria dano moral.
Na hipótese dos autos, o pai e filha deslocaram-se de Belo Horizonte para o Rio de Janeiro exclusivamente
para a participação no evento. Em virtude da ausência eficaz de comunicação do
cancelamento/adiamento, nutriram sentimento de frustração, decepção e constrangimento, ante a não
realização do evento e a desinformação.
Qualquer interpretação em sentido contrário, estimularia lesões aos consumidores, especialmente porque
os fornecedores de produtos ou serviços, sob o argumento de ocorrência de “meros aborrecimentos
comuns cotidianos” ou “meros dissabores”, atentariam contra o princípio da correta, segura e tempestiva
informação, figura basilar nas relações consumeristas e contratuais em geral. Em síntese, não se pode
confundir mero aborrecimento, inerente à vida civil em sociedade, com a consumação de ilícito de
natureza civil, passível de reparação.
Curiosidades:
• O evento foi cancelado com quatro dias de antecedência;
• O STJ afirmou que não é obrigatório que os autores formulem pedido administrativo prévio de estorno
do valor pago, o qual não é pressuposto para o ajuizamento da ação indenizatória;
• Pai e filha foram indenizados por danos morais em R$ 3 mil, cada um, mais os prejuízos materiais.
CONTRATOS BANCÁRIOS
A declaração de ilegalidade de tarifas bancárias, com a consequente devolução dos valores
cobrados indevidamente, em ação ajuizada anteriormente, faz coisa julgada em relação ao
pedido de repetição de indébito dos juros remuneratórios incidentes sobre as tarifas
ODS 16
Caso concreto: a parte autora ajuizou a primeira ação pedindo a devolução em dobro de todos
os valores pagos com as tarifas declaradas nulas. Nessa ação é possível concluir que o pleito
Em suma:
A declaração de ilegalidade de tarifas bancárias, com a consequente devolução dos valores cobrados
indevidamente, em ação ajuizada anteriormente com pedido de forma ampla, faz coisa julgada em
relação ao pedido de repetição de indébito dos juros remuneratórios incidentes sobre as referidas
tarifas.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.899.115-PB, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 05/04/2022 (Info 733).
No mesmo sentido:
(...) 1. Cinge-se a controvérsia a definir se a declaração de ilegalidade de tarifas bancárias ("TAC" e "TEC"),
com a consequente devolução dos valores cobrados indevidamente, determinada em ação anteriormente
ajuizada no âmbito do Juizado Especial Cível, forma coisa julgada em relação ao pedido de repetição de
indébito dos juros remuneratórios incidentes sobre as referidas tarifas.
2. Nos termos do art. 337, §§ 2º e 4º, do Código de Processo Civil de 2015, "uma ação é idêntica a outra
quando possui as mesmas partes, a mesma causa de pedir e o mesmo pedido", sendo que "há coisa julgada
quando se repete ação que já foi decidida por decisão transitada em julgado".
3. Na hipótese, da forma como o autor formulou o pedido na primeira ação, já transitada em julgado e que
tramitou perante o Juizado Especial Cível, consignando expressamente que buscava a devolução em dobro
de todos os valores pagos com as tarifas declaradas nulas, inclusive os "acréscimos referentes às mesmas",
é possível concluir que o pleito abarcou também os encargos incidentes sobre as respectivas tarifas, da
mesma forma em que se busca na ação subjacente, havendo, portanto, nítida identidade entre as partes, a
causa de pedir e o pedido, o que impõe o restabelecimento da sentença que extinguiu o feito, sem resolução
de mérito, em razão da existência de coisa julgada, a teor do disposto no art. 485, inciso V, do CPC/2015.
4. Recurso especial provido.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.899.801/PB, Rel. Min. Marco Aurélio Bellizze, julgado em 24/8/2021.
DIREITO NOTARIAL
E REGISTRAL
REGIME JURÍDICO
A remuneração do interventor de Cartório de Registro de Imóveis, com base no art. 36, §§ 2º e
3º, da Lei 8.935/94, não se submete ao teto previsto no art. 37, XI, da Constituição
ODS 16
Na decisão que afastou Pedro e designou João, foi previsto que o interventor poderia ficar com 50% da
renda líquida da serventia, conforme expressamente determina o § 2º do art. 36 da Lei nº 8.935/94:
Art. 36. (...)
§ 2º Durante o período de afastamento, o titular perceberá metade da renda líquida da serventia;
outra metade será depositada em conta bancária especial, com correção monetária.
Por que existe essa regra? O que será feito com os outros 50% que são depositados na conta bancária
especial?
O interventor estará trabalhando e, portanto, precisa ser remunerado por isso. Logo, ele já tem garantidos
50% da renda líquida como contraprestação.
Os outros 50% ficarão esperando:
• se o titular afastado for absolvido: ele (titular) receberá esses 50% que ficaram depositados;
• se o titular afastado for condenado: o interventor ficará também com os 50% depositados. Neste caso,
o interventor ficará com a totalidade da renda líquida do cartório relativo ao período em que permaneceu
ali prestando serviços.
Conforme vimos acima, os §§ 2º e 3º do art. 36 da Lei nº 8.935/94 deixam claro que ao interventor caberá
depositar em conta bancária especial metade da renda líquida da serventia, sendo certo que esse
montante, em caso de condenação do cartorário titular, caberá ao próprio interventor, que terá
indiscutível direito ao seu levantamento.
No caso, não há controvérsia quanto a ter o titular da serventia sido condenado administrativamente, com
o que perdeu a delegação. Assim, nos expressos termos da legislação vigente, aquela metade arrecadada
durante o afastamento do titular deverá ser carreada ao interventor.
Interpretação diversa, mesmo que oriunda do Conselho Nacional de Justiça - CNJ (em patamar
administrativo, portanto), não pode se sobrepor a expresso comando constante da lei federal. Vale
ressaltar que não existe qualquer decisão do STF declarando inconstitucionais os §§ 2º e 3º do art. 36 da
Lei nº 8.935/94.
O STF, ao julgar o Tema 779, fixou a seguinte tese:
Os substitutos ou interinos designados para o exercício de função delegada não se equiparam aos titulares
de serventias extrajudiciais, visto não atenderem aos requisitos estabelecidos nos arts. 37, inciso II; e 236,
§ 3º, da Constituição Federal para o provimento originário da função, inserindo-se na categoria dos
agentes estatais, razão pela qual se aplica a eles o teto remuneratório do art. 37, inciso XI, da Carta da
República.
STF. Plenário. RE 808202 RS, Rel. Min. Dias Toffoli, julgado em 24/08/2020 (Repercussão Geral – Tema 779).
Para o STJ, a situação analisada nos autos seria diferente porque a figura do “interventor” é distinta, em
princípio, da situação que envolve “substitutos ou interinos”. Ademais, ainda que se aplique o precedente
referido, o STF – na apreciação dos embargos de declaração – modulou os efeitos do aludido acórdão “a
partir da data em que foi encerrada a sessão de julgamento virtual (21/8/20)”, sendo certo que a questão
em julgamento é de período anterior.
Em suma:
A remuneração do interventor de Cartório de Registro de Imóveis, com base no art. 36, §§ 2º e 3º, da
Lei n. 8.935/1994, não se submete ao teto previsto no art. 37, XI, da Constituição Federal de 1988.
STJ. 1ª Turma. RMS 67.503-MG, Rel. Min. Sérgio Kukina, julgado em 19/04/2022 (Info 733).
DIREITO EMPRESARIAL
RECUPERAÇÃO JUDICIAL
O crédito constituído anteriormente à incorporação de empresa a grupo empresarial
em recuperação judicial deve se submeter ao juízo universal
ODS 16
No caso, o crédito foi constituído até a data do pedido da recuperação judicial, no entanto, a
incorporação da empresa pelo conglomerado de empresas em recuperação se deu
posteriormente.
Mesmo que a empresa não estivesse no conglomerado de empresas que tiveram o pedido de
recuperação judicial deferido, deve prevalecer o princípio da preservação da empresa, razão
pela qual o juízo universal deve ser o único a gerir os atos de constrição e alienação dos bens
do grupo de empresas em recuperação.
Sendo assim, o juízo universal deve exercer o controle sobre os atos constritivos sobre o
patrimônio do grupo em recuperação judicial, adequando a essencialidade do bem à atividade
O autor questionou os argumentos alegando que, para o crédito se sujeitar à recuperação judicial, ele
deveria preencher dois requisitos:
1) ser anterior ao pedido de recuperação judicial; e
2) não ser de natureza a qual a lei exclui expressamente do juízo recuperacional.
A questão chegou até o STJ. Quem tem razão: João ou o “Grupo OI”? Esse crédito deverá se submeter
ao juízo universal da recuperação judicial?
SIM. O “Grupo OI” tem razão.
No caso, o crédito foi constituído antes do pedido de recuperação judicial. No entanto, a incorporação da
empresa pelo conglomerado de empresas em recuperação se deu posteriormente.
Mesmo que a empresa ré não estivesse no conglomerado de empresas que tiveram o pedido de
recuperação judicial deferido, deve prevalecer o princípio da preservação da empresa, razão pela qual o
juízo universal deve ser o único a gerir os atos de constrição e alienação dos bens do grupo de empresas
em recuperação.
Sendo assim, o juízo universal deve exercer o controle sobre os atos constritivos sobre o patrimônio do
grupo em recuperação judicial, adequando a essencialidade do bem à atividade empresarial,
independente da data em que a empresa foi incorporada à outra, já em plano de recuperação judicial.
Mesmo que o crédito executado tenha se constituído em momento anterior tanto ao deferimento do
pedido de recuperação judicial do grupo empresarial, quanto à incorporação da empresa ré por outra
componente do conglomerado empresarial em recuperação, deve se operar a força atrativa do juízo
universal como forma de manter a higidez do fluxo de caixa das empresas e, assim, gerenciar o plano de
recuperação. Do contrário, ao permitir que outros juízos ocasionais, responsáveis por execuções
individuais, também possam determinar constrições sobre o patrimônio das empresas em recuperação,
mesmo que englobada posteriormente ao conjunto das empresas que tiveram deferido pedido de
recuperação judicial, a premissa referente ao plano de recuperação judicial estaria esvaziada ante seu
multigerenciamento.
Em suma:
O crédito constituído anteriormente à incorporação de empresa a grupo empresarial em recuperação
judicial deve se submeter ao juízo universal.
STJ. 3ª Turma. REsp 1.972.038-RS, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 29/03/2022 (Info 733).
Diante disso, o STJ deu provimento ao recurso especial para submeter o crédito ora executado aos ditames
do plano de recuperação judicial da recorrente (Grupo OI S.A).
RECURSOS
Para a prorrogação do prazo recursal é necessária a configuração da justa causa,
que deve ser demonstrada de maneira efetiva
Importante!!!
ODS 16
Art. 1.042. Cabe agravo contra decisão do presidente ou do vice-presidente do tribunal recorrido
que inadmitir recurso extraordinário ou recurso especial, salvo quando fundada na aplicação de
entendimento firmado em regime de repercussão geral ou em julgamento de recursos repetitivos.
A divulgação do andamento processual pelos Tribunais por meio da internet passou a representar a
principal fonte de informação dos advogados em relação aos trâmites do feito.
A jurisprudência deve acompanhar a realidade em que se insere, sendo impensável punir a parte que
confiou nos dados assim fornecidos pelo próprio Judiciário.
STJ. Corte Especial. REsp 1324432/SC, Rel. Min. Herman Benjamin, DJe 10/5/2013.
Em suma:
Para a prorrogação do prazo recursal é necessária a configuração da justa causa, que deve ser
demonstrada de maneira efetiva.
STJ. 4ª Turma. AREsp 1.837.057-PR, Rel. Min. Luis Felipe Salomão, julgado em 29/03/2022 (Info 733).
COMPETÊNCIA
É aplicável a teoria do juízo aparente para ratificar medidas cautelares no curso do inquérito
policial quando autorizadas por juízo aparentemente competente
Importante!!!
ODS 16
A jurisprudência do STJ tem entendido, de maneira ampla, que o desvio de verbas do SUS atrai
a competência da Justiça Federal, tendo em vista o dever de fiscalização e supervisão do
governo federal.
No caso concreto, as decisões foram proferidas pelo Juízo estadual.
Assim, deve-se reconhecer a incompetência do Juízo estadual. No entanto, os atos processuais
devem ser avaliados pelo Juízo competente, para que decida se valida ou não os atos até então
praticados.
É pacífica a aplicabilidade da teoria do juízo aparente para ratificar medidas cautelares no
curso do inquérito policial quando autorizadas por juízo aparentemente competente.
As provas colhidas ou autorizadas por juízo aparentemente competente à época da
autorização ou produção podem ser ratificadas a posteriori, mesmo que venha aquele a ser
considerado incompetente, ante a aplicação no processo investigativo da teoria do juízo
aparente.
STJ. 5ª Turma. AgRg no RHC 156.413-GO, Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado em 05/04/2022 (Info 733).
A competência para julgar a causa e, portanto, para decretar as medidas cautelares, era da Justiça
Estadual ou da Justiça Federal?
Justiça Federal.
Em caso de desvios de verbas do Sistema Único de Saúde – SUS, a competência será da Justiça Federal,
tendo em vista que existe um dever de fiscalização e de supervisão por parte do Governo Federal (União).
Assim, como no caso concreto se estava apurando justamente suposto desvio de verbas no âmbito do
SUS, constatada está a competência da Justiça Federal.
Isso significa que todas as medidas cautelares decretadas deverão ser consideradas nulas de pleno direito?
NÃO.
Apesar de reconhecer que o Juiz de Direito era absolutamente incompetente para decretar as medidas
cautelares, o STJ afirmou que os atos processuais praticados devem ser avaliados pelo Juízo competente
(Juiz Federal) e ele poderá ratificar (validar), ou não, os atos até então praticados.
No STJ é pacífica a possibilidade de se aplicar a Teoria do Juízo Aparente para ratificar medidas cautelares
deferidas no curso do inquérito policial quando autorizadas por Juízo aparentemente competente.
Desse modo, as provas colhidas ou autorizadas por juízo aparentemente competente à época da
autorização ou produção podem ser ratificadas a posteriori, mesmo que venha aquele a autoridade
judicial que as decretou venha a ser posteriormente considerado incompetente, ante a aplicação no
processo investigativo da teoria do juízo aparente (STF. 2ª Turma. RE 1318172 AgR, Rel. Min. Edson Fachin,
Segunda Turma, julgado em 04/04/2022).
No mesmo sentido:
Esta Suprema Corte tem endossado, com base na teoria do juízo aparente, a possibilidade de ratificação
de atos processuais praticados por juízo aparentemente competente ao tempo de sua prática.
STF. 1ª Turma. HC 185755 AgR, Rel. Min. Rosa Weber, julgado em 08/06/2021.
Em suma:
É aplicável a teoria do juízo aparente para ratificar medidas cautelares no curso do inquérito policial
quando autorizadas por juízo aparentemente competente.
STJ. 5ª Turma. AgRg no RHC 156.413-GO, Rel. Min. Ribeiro Dantas, julgado em 05/04/2022 (Info 733).
Diante disso, o STJ reconheceu a incompetência absoluta da Justiça estadual, determinando a remessa
imediata do feito ao Juízo Federal, que deverá avaliar se convalida ou não os atos até então praticados.
PRISÃO DOMICILIAR
A apreensão de grande quantidade e variedade de drogas não impede a concessão da prisão
domiciliar à mãe de filho menor de 12 anos se não demonstrada situação excepcional de prática
de delito com violência ou grave ameaça ou contra seus filhos (art. 318-A do CPP)
ODS 16
O afastamento da prisão domiciliar para mulher gestante ou mãe de criança menor de 12 anos
exige fundamentação idônea e casuística, independentemente de comprovação de
indispensabilidade da sua presença para prestar cuidados ao filho, sob pena de infringência
ao art. 318, V, do CPP.
O art. 318-A, do CPP, com a redação dada pela Lei nº 13.769/2018, dispõe que a prisão
preventiva imposta à mulher gestante ou que for mãe ou responsável por crianças ou pessoas
com deficiência será substituída por prisão domiciliar, desde que: I) não tenha cometido crime
com violência ou grave ameaça a pessoa e que II) não tenha cometido o crime contra seu filho
ou dependente.
No caso, sendo a ré mãe de criança de 6 anos de idade, deve ser aplicada a regra geral de
proteção da primeira infância, considerando que o juízo não apresentou fundamentação
idônea para a mitigação da referida garantia constitucional.
O fato de se ter apreendido grande quantidade e variedade de entorpecentes não impede a
concessão da prisão domiciliar se não demonstrados outros motivos que evidenciam que a
conduta praticada representa risco à ordem pública, como indícios de comércio ilícito no local
em que a agente cria os menores.
STJ. 6ª Turma. AgRg no HC 712.258-SP, Rel. Min. Olindo Menezes (Desembargador convocado do TRF
1ª Região), julgado em 29/03/2022 (Info 733).
Art. 318-A. A prisão preventiva imposta à mulher gestante ou que for mãe ou responsável por
crianças ou pessoas com deficiência será substituída por prisão domiciliar, desde que:
I - não tenha cometido crime com violência ou grave ameaça a pessoa;
II - não tenha cometido o crime contra seu filho ou dependente.
O Tribunal de Justiça negou o pedido alegando que a grande quantidade e variedade de drogas
encontradas em poder da ré são circunstâncias que demonstram que ela teria participação em
organização criminosa.
Para que se negue a prisão domiciliar em favor da mulher gestante ou mãe de criança menor de 12 anos
é necessária fundamentação idônea e casuística, independentemente de comprovação de
indispensabilidade da sua presença para prestar cuidados ao filho, sob pena de infringência ao art. 318, V,
do CPP.
O art. 318-A, do CPP, com a redação dada pela Lei nº 13.769/2018, dispõe que a prisão preventiva imposta
à mulher gestante ou que for mãe ou responsável por crianças ou pessoas com deficiência será substituída
por prisão domiciliar, desde que: I) não tenha cometido crime com violência ou grave ameaça a pessoa e
que II) não tenha cometido o crime contra seu filho ou dependente.
No caso, sendo a ré mãe de criança de 6 anos de idade, deve ser aplicada a regra geral de proteção da
primeira infância, considerando que o juízo não apresentou fundamentação idônea para a mitigação da
referida garantia constitucional.
O fato de se ter apreendido grande quantidade e variedade de entorpecentes não impede a concessão da
prisão domiciliar se não demonstrados outros motivos que evidenciam que a conduta praticada
representa risco à ordem pública, como indícios de comércio ilícito no local em que a agente cria os
menores.
PROVAS
Se a vítima é capaz de individualizar o autor do fato,
é desnecessário instaurar o procedimento do art. 226 do CPP
Importante!!!
ODS 16
No entanto, no caso concreto, o STJ entendeu que a condenação não se amparou, exclusivamente, no
reconhecimento pessoal realizado na fase do inquérito policial. Vale ressaltar, inclusive, que a vítima
reconheceu o réu em Juízo, descrevendo a negociação e a abordagem.
A identificação do perfil na rede social Facebook foi apenas uma das circunstâncias do fato, tendo em
conta que a negociação se deu por essa rede social. Isso não afastou o reconhecimento dos autores do
fato em juízo, razão pela qual o STJ entendeu que não houve violação do art. 226 do CPP.
Em suma:
Se a vítima é capaz de individualizar o autor do fato, é desnecessário instaurar o procedimento do art.
226 do CPP.
STJ. 6ª Turma. HC 721.963-SP, Rel. Min. Sebastião Reis Júnior, julgado em 19/04/2022 (Info 733).
DIREITO TRIBUTÁRIO
IPI
O benefício da suspensão do IPI previsto no art. 5º, da Lei 9.826/99 e no art. 29 da Lei
10.637/2002 não se aplica a estabelecimentos equiparados a industrial
ODS 16
Lei nº 10.637/2002
Art. 29. As matérias-primas, os produtos intermediários e os materiais de embalagem, destinados
a estabelecimento que se dedique, preponderantemente, à elaboração de produtos classificados
nos Capítulos 2, 3, 4, 7, 8, 9, 10, 11, 12, 15, 16, 17, 18, 19, 20, 23 (exceto códigos 2309.10.00 e
2309.90.30 e Ex-01 no código 2309.90.90), 28, 29, 30, 31 e 64, no código 2209.00.00 e 2501.00.00,
e nas posições 21.01 a 21.05.00, da Tabela de Incidência do Imposto sobre Produtos
Industrializados - TIPI, inclusive aqueles a que corresponde a notação NT (não tributados), sairão
do estabelecimento industrial com suspensão do referido imposto. (Redação dada pela Lei nº
10.684, de 30.5.2003)
De acordo com a empresa, as peças de automóveis que ela venda saem da sede da empresa, que pode ser
classificada como “estabelecimento equiparado a industrial”. Logo, ela também teria direito à suspensão
do IPI na saída porque os dispositivos legais acima falam em “estabelecimento industrial”, o que deve
abarcar o estabelecimento equiparado a industrial.
Foi editada, contudo, uma instrução normativa da Receita Federal em sentido contrário à tese da empresa:
IN/SRF Nº 296, DE 06 DE FEVEREIRO DE 2003
Art. 2º Sairão do estabelecimento industrial com suspensão do IPI os componentes, chassis,
carroçarias, acessórios, partes e peças, adquiridos para emprego na industrialização dos produtos
autopropulsados classificados nos Códigos 84.29, 84.32, 84.33, 87.01, 87.02, 87.03, 8704.10.00,
8704.2, 8704.3, 87.05, 8706 e 87.11 da Tabela de Incidência do IPI (Tipi).
[...]
Art. 23. O disposto nesta Instrução Normativa não se aplica:
I - às pessoas jurídicas optantes do Sistema Integrado de Pagamento de Impostos e Contribuições
das Microempresas e das Empresas de Pequeno Porte (Simples);
II - a estabelecimento equiparado a industrial, salvo quando se tratar de estabelecimento
comercial equiparado a industrial pela legislação do IPI, na operação a que se refere o art. 4º
(Redação dada pela Lei nº 10.684, de 30.5.2003)
Inconformada com o entendimento adotado pela Receita Federal, a empresa propôs contra a União,
objetivando a declaração do seu direito a proceder ao desembaraço aduaneiro e à saída de seus produtos
(escapamentos de veículos) com a suspensão do IPI.
A questão chegou até o STJ.
A tese da empresa foi acolhida? O benefício fiscal abarca também os estabelecimentos equiparados a
industriais?
NÃO. O Código Tributário Nacional e a legislação específica do IPI não tratam o “estabelecimento
industrial” de forma idêntica ao “estabelecimento equiparado a industrial”. A equiparação somente existe
para determinadas finalidades expressas em lei.
O próprio CTN faz distinção entre estabelecimento industrial e equiparado a industrial. A equiparação ali
é realizada apenas para fins de sujeição passiva em relação ao IPI.
Se é a lei que equipara, a mesma lei pode desequiparar ou definir as situações onde a equiparação deve
se dar e quais os seus efeitos.
Todas as vezes que o legislador quer conceder determinado benefício fiscal também aos estabelecimentos
equiparados a industrial ele o faz expressamente, em atenção ao disposto no art. 111, do CTN e no art.
150, §6º, da CF/88.
Não se pode, portanto, presumir que todas as vezes que a legislação tributária mencione o
estabelecimento industrial estaria a mencionar implicitamente também os estabelecimentos equiparados
a industrial, sob pena de se tornar o sistema tributário, no que diz respeito ao IPI, imprevisível e
inadministrável, especialmente diante da função extrafiscal do tributo que exige intervenções calculadas
e pontuais nos custos incorridos em cada etapa da cadeia econômica.
Tanto o art. 5º, da Lei nº 9.826/99, quanto o art. 29, da Lei nº 10.637/2002, são claros ao apontar como
beneficiário da suspensão do mencionado imposto apenas o estabelecimento industrial, sem estender ao
equiparado. Assim, o art. 23, da Instrução Normativa da SRF nº 296/2003 não limitou o pretendido direito,
mas apenas explicitou aquilo que a lei e o sistema já haviam determinado.
Em suma:
O benefício da suspensão do IPI previsto no art. 5°, da Lei n. 9.826/1999 e art. 29 da Lei n. 10.637/2002
não se aplica a estabelecimentos equiparados a industrial.
STJ. 2ª Turma. REsp 1.587.197-SP, Rel. Min. Mauro Campbell Marques, julgado em 19/04/2022 (Info 733).
O STJ concordou com o argumento da empresa? A situação se amolda ao art. 63, § 2º da Lei nº 9.430/96?
SIM.
O § 2º do art. 63 da Lei nº 9.430/96 afirma que a medida liminar enseja a suspensão da exigibilidade do
tributo e da multa de mora.
A decisão que revoga a medida liminar faz com que o contribuinte tenha que pagar o tributo em até 30
dias. Se quitar nesse período, não pagará multa de mora.
O ato unilateral do contribuinte que renuncia ao direito sobre o qual se funda a ação gera o mesmo efeito
considerando que, ao homologar a renúncia, o juiz irá revogar a medida liminar que havia sido concedida.
Cessados os efeitos da liminar no mandado de segurança, com a homologação judicial da renúncia, o
contribuinte volta à condição de devedor e deve recolher o tributo, sem incidência, porém, da multa de
mora. Conclusão em contrário atentaria contra a segurança jurídica, especialmente no presente caso, em
que, na vigência da liminar, suspendendo a exigibilidade do crédito tributário, a impetrante requereu a
renúncia ao direito sobre o qual se fundava a ação, e recolheu, de uma só vez, os valores não incluídos no
parcelamento dentro do prazo previsto no art. 63, § 2º, da Lei nº 9.430/96.
O objetivo do legislador foi proteger a confiança depositada pelo contribuinte no provimento judicial
precário, que afastou a exigência do tributo.
Em suma:
O benefício do § 2º do art. 63 da Lei n. 9.430/1996 é aplicável ao contribuinte que renuncia ao direito
sobre o qual se funda a ação.
STJ. 2ª Turma. AgInt no AREsp 955.896-SP, Rel. Min. Assusete Magalhães, julgado em 19/04/2022 (Info 733).
DIREITO PREVIDENCIÁRIO
APOSENTADORIA
Para atender o parágrafo único do art. 124 da Lei 8.213/91, basta que o valor recebido a título
de seguro-desemprego, nos períodos coincidentes, seja abatido do montante devido nos casos
em que o benefício previdenciário foi equivocadamente indeferido pelo INSS
ODS 16
Isso é possível? A legislação autoriza que a pessoa receba seguro-desemprego mais aposentadoria?
NÃO. Há vedação no art. 124, parágrafo único, da Lei nº 8.213/91:
Art. 124 (...) Parágrafo único. É vedado o recebimento conjunto do seguro-desemprego com
qualquer benefício de prestação continuada da Previdência Social, exceto pensão por morte ou
auxílio-acidente.
Em suma:
Para atender ao disposto no parágrafo único do art. 124 da Lei n. 8.213/1991, basta que o valor recebido
a título de seguro-desemprego, nos períodos coincidentes, seja abatido do montante devido nos casos
em que o benefício previdenciário foi equivocadamente indeferido pela autarquia federal.
STJ. 1ª Turma. REsp 1.982.937-SP, Rel. Min. Manoel Erhardt (Desembargador convocado do TRF5), julgado
em 05/04/2022 (Info 733).
DIREITO DO TRABALHO E
PROCESSUAL DO TRABALHO
COMPETÊNCIA
Compete à Justiça do Trabalho julgar ação proposta contra o empregador nas quais se pretenda
o reconhecimento de verbas de natureza trabalhista e os reflexos nas respectivas contribuições
para a entidade de previdência privada a ele vinculada
ODS 16
Caso concreto: ação proposta em face da CEF e da FUNCEF na qual o autor pretende a inclusão
da verba salarial denominada CTVA - Complemento Temporário Variável Ajuste de Mercado
na composição de salário de participação, com os devidos reflexos no cálculo de benefício de
complementação de aposentadoria.
Há, portanto, cumulação de pretensões de naturezas distintas, havendo a necessidade de
prévio julgamento da controvérsia trabalhista pois, somente em caso de procedência desta,
haverá possibilidade de análise do pleito relacionado ao plano previdenciário. Ou seja, a causa
de pedir originária (exclusão da parcela denominada CTVA do salário de contribuição)
desdobra-se em dois pedidos, de natureza diversa: (a) na seara trabalhista, pugna-se pelo
reconhecimento da natureza salarial, com o respectivo recolhimento das contribuições
devidas; e, (b) no âmbito previdenciário, busca-se a revisão do benefício complementar.
Logo, em razão desta cumulação de pedidos, não incide - ao menos não de forma direta - o
entendimento consolidado pelo Supremo Tribunal Federal (Tema 190/STF), no sentido da
competência da Justiça Comum para “o processamento de demandas ajuizadas contra
entidades privadas de previdência com o propósito de obter complementação de
aposentadoria”, ante a necessidade de prévio enfrentamento da controvérsia laboral.
Ademais, em recente julgamento, a Suprema Corte fixou nova tese, em repercussão geral, no
sentido de que “compete à Justiça do Trabalho processar e julgar causas ajuizadas contra o
empregador nas quais se pretenda o reconhecimento de verbas de natureza trabalhista e os
reflexos nas respectivas contribuições para a entidade de previdência privada a ele vinculada”
(Tema 1.166 - RE 1.265.564-SC).
STJ. 4ª Turma. EDcl no AgInt no AREsp 1.547.767-SP, Rel. Min. Marco Buzzi, julgado em 22/03/2022
(Info 733).
Ação proposta
Diante disso, João ajuizou ação contra a FUNCEF e a CEF, em litisconsórcio, pedindo que:
• a CTVA fosse reconhecida como verba de natureza salarial;
• que a CEF aportasse as contribuições previdenciárias referentes a essa parcela; e
• que a CTVA fosse integrada (incluída) no valor mensal de sua complementação de aposentadoria.
A demanda foi proposta inicialmente na Justiça Federal Comum (em razão de a CEF ser uma empresa
pública federal), tendo, no entanto, o juiz federal declinado da competência para a Justiça do Trabalho.
O Juiz do Trabalho suscitou conflito de competência, afirmando que o STF decidiu, no RE 586453 e no RE
583050, que compete à Justiça Comum processar e julgar os processos decorrentes de contratos de
previdência complementar privada:
A competência para o processamento de ações ajuizadas contra entidades privadas de previdência
complementar é da Justiça comum, dada a autonomia do Direito Previdenciário em relação ao Direito do
Trabalho. Inteligência do art. 202, § 2º, da Constituição Federal a excepcionar, na análise desse tipo de
matéria, a norma do art. 114, inciso IX, da Magna Carta.
Assim, compete à Justiça comum o processamento de demandas ajuizadas contra entidades privadas de
previdência buscando-se o complemento de aposentadoria.
STF. Plenário. RE 586453/SE, rel. orig. Min. Ellen Gracie, red. p/ o acórdão Min. Dias Toffoli, 20/2/2013.
STF. Plenário. RE 583050/RS, rel. orig. Min. Cezar Peluso, red. p/ o acórdão Min. Dias Toffoli, 20/2/2013.
(...) 1. Cuida-se, na origem, de reclamatória trabalhista ajuizada em face da CEF e da FUNCEF, em que se
pretende a inclusão da verba denominada CTVA - Complemento Temporário Variável Ajuste de Mercado
na composição de salário de participação, com os devidos reflexos no cálculo de benefício de
complementação de aposentadoria.
2. A presente demanda cumula pretensões de natureza distintas, havendo um pedido antecedente de
reconhecimento da natureza salarial da verba CTVA, com a condenação da ex-empregadora (CEF) em
aportar contribuições previdenciárias, e um pedido consequente de recálculo do valor do benefício de
suplementação de aposentadoria a cargo da entidade de previdência privada (FUNCEF).
3. Segundo a jurisprudência consolidada deste Superior Tribunal de Justiça em hipóteses como a presente,
em se tratando de cumulação de pedidos envolvendo matérias de diferentes competências, deve a ação
prosseguir primeiramente na Justiça Especializada, para o exame das pretensões derivadas da relação de
trabalho, ressalvada a possibilidade de posterior ajuizamento de nova ação, perante a Justiça Comum,
com vistas ao deslinde da controvérsia relativa ao reajuste do benefício de suplementação de
aposentadoria. Aplica-se, com as adaptações necessárias, o disposto na Súmula 170/STJ. Precedentes. (...)
STJ. 3ª Turma. AgInt nos EDcl no AgInt no REsp 1704500/DF, Rel. Min. Nancy Andrighi, julgado em 28/10/2019.
Em suma:
Compete à Justiça do Trabalho processar e julgar causas ajuizadas contra o empregador nas quais se
pretenda o reconhecimento de verbas de natureza trabalhista e os reflexos nas respectivas
contribuições para a entidade de previdência privada a ele vinculada.
STJ. 4ª Turma. EDcl no AgInt no AREsp 1.547.767-SP, Rel. Min. Marco Buzzi, julgado em 22/03/2022 (Info 733).
No caso, a demanda originária foi ajuizada em face da CEF e FUNCEF, buscando o reconhecimento da
natureza salarial da verba CTVA, com a recomposição da reserva matemática e revisão do benefício de
previdência complementar.
Há, portanto, cumulação de pretensões de naturezas distintas, havendo a necessidade de prévio
julgamento da controvérsia trabalhista pois, somente em caso de procedência desta, haverá possibilidade
de análise do pleito relacionado ao plano previdenciário. Ou seja, a causa de pedir originária (exclusão da
parcela denominada CTVA do salário de contribuição) desdobra-se em dois pedidos, de natureza diversa:
(a) na seara trabalhista, pugna-se pelo reconhecimento da natureza salarial, com o respectivo
recolhimento das contribuições devidas; e,
(b) no âmbito previdenciário, busca-se a revisão do benefício complementar.
Logo, em razão desta cumulação de pedidos, não incide - ao menos não de forma direta - o entendimento
consolidado pelo Supremo Tribunal Federal (Tema 190/STF), no sentido da competência da Justiça Comum
para “o processamento de demandas ajuizadas contra entidades privadas de previdência com o propósito
de obter complementação de aposentadoria”, ante a necessidade de prévio enfrentamento da
controvérsia laboral.
Ademais, em recente julgamento, o STF fixou nova tese, em repercussão geral, no sentido de que
"compete à Justiça do Trabalho processar e julgar causas ajuizadas contra o empregador nas quais se
pretenda o reconhecimento de verbas de natureza trabalhista e os reflexos nas respectivas contribuições
para a entidade de previdência privada a ele vinculada" (Tema 1.166 - RE 1.265.564-SC).
EXERCÍCIOS
11) Para a prorrogação do prazo recursal é necessária a configuração da justa causa, que deve ser
demonstrada de maneira efetiva. ( )
12) É aplicável a teoria do juízo aparente para ratificar medidas cautelares no curso do inquérito policial
quando autorizadas por juízo aparentemente competente. ( )
13) A apreensão de grande quantidade e variedade de drogas não impede a concessão da prisão domiciliar
à mãe de filho menor de 12 anos se não demonstrada situação excepcional de prática de delito com
violência ou grave ameaça ou contra seus filhos, nos termos do art. 318-A, I e II, do CPP. ( )
14) Se a vítima é capaz de individualizar o autor do fato, é desnecessário instaurar o procedimento do art.
226 do CPP. ( )
15) O benefício da suspensão do IPI previsto no art. 5º, da Lei 9.826/99 e no art. 29 da Lei 10.637/2002 não
se aplica a estabelecimentos equiparados a industrial. ( )
16) O benefício do § 2º do art. 63 da Lei n. 9.430/1996 é aplicável ao contribuinte que renuncia ao direito
sobre o qual se funda a ação. ( )
17) Para atender ao disposto no parágrafo único do art. 124 da Lei n. 8.213/1991, basta que o valor recebido
a título de seguro-desemprego, nos períodos coincidentes, seja abatido do montante devido nos casos
em que o benefício previdenciário foi equivocadamente indeferido pela autarquia federal. ( )
18) Compete à Justiça do Trabalho processar e julgar causas ajuizadas contra o empregador nas quais se
pretenda o reconhecimento de verbas de natureza trabalhista e os reflexos nas respectivas contribuições
para a entidade de previdência privada a ele vinculada. ( )
Gabarito
1. C 2. E 3. E 4. C 5. C 6. C 7. C 8. C 9. E 10. E
11. C 12. C 13. C 14. C 15. C 16. C 17. C 18. C