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Comunicação
& Inovação

A segmentação de públicos na
comunicação empresarial
The public segmentation in corporate
communication
Roberto Araújo Silva
Jornalista, mestre em Comunicação Social, pela Universidade Metodista de São Paulo – Umesp,
professor nos cursos de Comunicação Social da Universidade Municipal de São Caetano do Sul
– USCS. E-mail: bobaraujo@uol.com.br
Wilson da Costa Bueno
Doutor em Comunicação, pela Escola de Comunicação e Artes da Universidade de São Paulo –
ECA/USP, docente do Programa de Pós-Graduação, mestrado e doutorado, da Universidade
Metodista de São Paulo – Umesp.

Artigo recebido em: 02/05/2009


Artigo aprovado em: 09/06/2009

Resumo
Este artigo tem como objetivo estimular uma reflexão sobre o entendimento a respeito
dos relacionamentos organizacionais, com vistas a uma abordagem segmentada dos
públicos na comunicação empresarial. Por meio da análise do referencial teórico e de
pesquisa em grandes empresas, foram estabelecidos parâmetros que contribuem para
uma conceituação mais precisa dos interlocutores. Neste trabalho, ficou demonstrado
que há lacunas importantes a serem preenchidas, dentre as quais a inexistência de
mecanismos que possam aferir as expectativas dos vários segmentos de público, bem
como a falta de canais de comunicação regulares, notadamente no âmbito externo.
Palavras-chave: comunicação empresarial, públicos, relacionamentos nas
organizações.

Abstract
This article intends to stimulate a reflection on the comprehension of the corporate
relationships for a segmentation approach of the public in the corporate communication.
Based on theoretical references and an analysis of market practices, defines parameters
to contribute and improve the concepts of organization's stakeholders. The results
presented that there are still important gaps to be filled, in special the development of
tools that can measure expectations from different publics and regular communication
channels, mainly in the external environment of corporate organizations.
Keywords: corporate communication, publics, organization relationships, segmented
communication.

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1. Introdução específico, uma linguagem específica: esta é a
Uma das mais desafiadoras tarefas que se impõe à nova receita.
comunicação empresarial atualmente é a necessidade A realidade, portanto, pede que haja, primeiramente,
de adequar-se às mudanças na forma com que os di- uma reflexão sobre os múltiplos públicos das empresas
versos públicos estão interagindo com as organiza- para, em seguida, observar suas consequências para
ções. Fenômenos ocorridos nas últimas duas décadas, as formas de relacionamento, entre as quais a comuni-
como a globalização e a revolução dos fluxos informa- cação. Quanto ao primeiro ato desse processo, Simões
cionais promovida pelas tecnologias digitais, transfor- (1995: 131) sinalizou: “Os públicos precisam ser com-
maram o ambiente onde se processam essas relações. preendidos sob outra ótica. É imprescindível identificá-
Os diversos grupos com os quais uma empresa se los, analisá-los e referenciá-los quanto ao poder que
relaciona (empregados, consumidores, jornalistas, acio- possuem de influenciar os objetivos organizacionais,
nistas, fornecedores, comunidade, associações, autori- obstaculizando-os ou facilitando-os.”.
dades, instituições acadêmicas etc.) exigem posturas mais Na comunicação, tem sido comum o estabeleci-
afirmativas das organizações, no sentido de que suas mento de dois ou três canais com a pretensão de abar-
demandas e seus interesses sejam atendidos. Nesse cená- car todos os conteúdos para os quais é necessário
rio, a comunicação como instrumento de relacionamento dar vazão e conferir alguma visibilidade às ações da
ganha também um caráter mais específico, em que inicia- empresa junto a todos os públicos. Observa-se, ainda,
tivas genéricas dão lugar a instrumentos e conteúdos que a utilização de um mesmo discurso ou mensagem em
realmente contemplem as necessidades dos receptores. veículos com alvos diferentes (house organ, revista
A experiência tem demonstrado que a multipli- para clientes, newsletter, press releases, relatórios
cação de canais torna a comunicação mais efeti- econômicos etc.).
va e não necessariamente mais onerosa, sobretu- Dentro desse quadro, o presente artigo1 tem o obje-
do porque, quase sempre, pode-se valer das tivo de estimular a reflexão, principalmente por parte
novas tecnologias – como intranets, extranets, dos profissionais da área de comunicação, sobre a
sites institucionais, newsletters eletrônicas, chats necessidade de um conhecimento mais apurado a
etc. –, uma comunicação empresarial que, com respeito dos públicos organizacionais. O estudo se
certeza, é mais ágil, mais interativa, mais focada desenvolve em três frentes. Na primeira, faz um breve
na expectativa dos vários públicos com quem a registro sobre as transformações recentes no universo
empresa se relaciona (BUENO, 2003: 28). das relações organizacionais, que elevaram a comuni-
Essa multiplicidade de canais sugere a necessidade cação empresarial a um novo patamar. Em seguida,
premente de enxergar o universo dos públicos empre- analisa os exemplos de segmentação vindos do
sariais como segmentos que, embora se articulem em marketing e da mídia, e os conceitos existentes nas
vários momentos, apresentam características diferen- relações públicas a respeito da identificação dos pú-
ciadoras para o processo de comunicação. Compre- blicos corporativos. Por fim, oferece dados relevan-
endido desta forma, o contexto aponta para a segmen- tes e atuais sobre como o mercado convive com a
tação dos públicos como um processo que visa, em diversidade de públicos, além de um modelo para apli-
última instância, a acrescentar maior qualidade e efi- cação na área de comunicação.
cácia à comunicação, ao adequar os meios e mensagens No contexto desta pesquisa exploratória, foram
comunicacionais aos objetivos específicos implícitos feitas, em janeiro de 2009, entrevistas com profissionais
no relacionamento com cada tipo de público. Como responsáveis pela área de comunicação em quatro
enfatizou Bueno (2003: 28): grandes empresas multinacionais, com sede no Estado
O canal “Bombril”, de mil e uma utilidades, de São Paulo, atuantes na indústria automobilística
como, por exemplo, uma revista institucional que (empresa “A”), de pneumáticos (empresa “B”), de
pretende satisfazer a todos os públicos ao mes-
mo tempo, já não tem mais espaço no reino da 1
Artigo resultante da dissertação de mestrado A segmentação de
comunicação segmentada. Para cada público, públicos na comunicação empresarial, defendida pelo autor em
um canal – um conteúdo específico, um formato 2009 (São Bernardo do Campo, Umesp).

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tecnologia (empresa “C”), química e têxtil (empresa positivos desejados ou são automaticamente
“D”), donas de faturamentos que as colocam entre as respondidos e aceitos da forma como foram
500 maiores empresas do País. Juntas, possuem cerca intencionados. É preciso levar em conta os
de 50 mil empregados e unidades fabris ou escritórios aspectos relacionais, os contextos, os condicio-
na maioria dos Estados brasileiros. namentos internos e externos, bem como a
complexidade que permeia todo o processo
Elas foram escolhidas por figurarem no ranking
comunicativo. Daí a necessidade de ultrapassar-
das dez empresas que mais vezes ganharam o Prêmio
mos a visão meramente mecanicista da comuni-
da Associação Brasileira de Comunicação Empresarial
cação para outra mais interpretativa e crítica
(Aberje), entidade com mais de 40 anos e grande
(KUNSCH, 2003: 72).
representatividade da comunicação empresarial. Reco-
nhecido com um dos de maior visibilidade e relevância Vê-se como imperativa, portanto, uma nova abor-
para profissionais e empresas na área de comunicação dagem e um tratamento mais detido das informações
empresarial, o Prêmio Aberje distingue anualmente as a respeito dos interlocutores da comunicação em-
melhores iniciativas em diversas categorias, distribuídas presarial, a fim de identificar suas verdadeiras demandas
no âmbito das atividades comunicacionais internas e comunicacionais. Na base dessa proposta de discus-
externas. As entrevistas levantaram informações a res- são, uma pergunta é fundamental e precisa ser feita
peito das atividades dirigidas aos públicos “emprega- aos comunicadores: “O que os públicos de sua em-
dos”, “comunidade” e “imprensa”, e seus respectivos presa estão pensando sobre ela?”. Para responder a
subgrupos, denominados “segmentos” neste trabalho. essa indagação, é preciso estar disposto (e preparado)
para ouvir os vários públicos acerca de uma grande
variedade de assuntos e, assim, concorrer para evitar
2. Novas posturas sociais e as demandas da comu- que a empresa seja surpreendida por ações que prejudi-
nicação quem sua imagem e seus negócios.
As transformações sociais decorrentes da globaliza- Classificar os diversos públicos em segmentos apa-
ção econômica e dos avanços tecnológicos na área rece como o primeiro passo, neste estudo, no caminho
da informação também influenciaram a atividade de da gestão do conhecimento dos alvos da comunicação.
comunicação nas empresas. Uma das principais de- Os conceitos de marketing que embasam o processo
mandas geradas é exatamente a necessidade de analisar de segmentação em uma infinidade de mercados de
as expectativas e os interesses específicos que movem consumo podem ser de grande valia nessa nova rota
os relacionamentos das organizações com seus diver- da comunicação empresarial. Não menos inspiradora
sos públicos. As constatações e interpretações sobre é a experiência da mídia – especialmente nos segmentos
os efeitos das mudanças estão na base da discussão de revistas – em torno desse atendimento a demandas
sobre o quão é necessário compreender o novo perfil particularizadas.
adquirido pela área de comunicação e por seus pro-
Nascido na metade dos anos 1950, o conceito de
fissionais. Nesse sentido, dois fatores se destacam: a
segmentação caminhou rapidamente, segundo Weins-
adaptação à velocidade da informação dos novos tem-
tein (1995), para se tornar uma estratégia eficaz de
pos e o entendimento de que há um novo enfoque nas
mercado para as empresas. O fenômeno ganhou impul-
relações corporativas.
so na década de 1990, quando contribuiu para aumen-
Essa nova dinâmica foi preconizada por Kunsch, tar a competitividade nos mercados de bens de consu-
que defendeu um perfil mais analítico para a área, tendo mo e de bens industriais. De goma de mascar a auto-
o conhecimento aprofundado sobre os públicos como móveis de luxo, passando também pelo mercado edi-
ingrediente básico para definir as ações de comu- torial, produtos e serviços passaram a ser ofertados
nicação. de maneira distinta para públicos distintos.
As organizações em geral, como fontes emis- “Segmentação é o processo de dividir mercados
soras de informações para seus mais diversos em grupos de consumidores potenciais com neces-
públicos, não devem ter a ilusão de que todos sidades e/ou características similares, que, provavel-
os seus atos comunicativos causam os efeitos mente, exibirão comportamento de compra similar”,

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definiu Weinstein (1995: 18). A origem veio da percep- regionalizados, e dos “filhotes” nascidos de seções da
ção de que os mercados não são compostos de maneira revista Exame, como Você S/A e Exame Info, sem falar
homogênea, por pessoas iguais. Para Kotler (1999: 41), da VIP, que se tornou uma revista voltada para o público
a segmentação “fundamenta-se na ideia de que todo masculino de alto poder aquisitivo e sofisticação.
mercado consiste de grupos de clientes com necessi- Inúmeros exemplos são registrados em outras
dades e anseios um tanto diferentes”. revistas e editoras, como a revista semanal IstoÉ
Nesse sentido, uma providência fundamental na (editora Três), que deu origem à Istoé Dinheiro e Istoé
segmentação é pesquisar dados detalhados a respeito Gente, e casos como o da Editora Globo, que exibe
dos grupos de pessoas em questão. O sucesso da em seu portfolio inúmeros produtos jornalísticos para
segmentação depende do entendimento amplo dos públicos variados, com destaque para as revistas
profissionais sobre as pessoas-alvo de suas ações, Época, Época Negócios, Auto Esporte, Casa e
com uma pergunta recorrente em todos os momentos: Jardim, Crescer, Criativa, Galileu, Globo Rural e
“Quais as variáveis que afetam este nosso indivíduo- Marie Claire, dentre outras.
cidadão-consumidor na compra de um determinado Em praticamente todas as iniciativas “segmenta-
serviço ou produto?” (LIMA & RICHERS, 1991: 55). doras”, nota-se que a divisão em grupos de leitores
Assim como nos mercados de bens de consumo e acontece levando-se em conta, principalmente, dois
de bens industriais, o fenômeno da segmentação fatores: a emersão de um setor econômico (informática,
também está presente na mídia. No Brasil, o ato de games, por exemplo) e a mudança no comportamento
segmentar os consumidores nesse terreno se acelerou das pessoas. Individualmente ou combinadas, essas
a partir de meados dos anos 1980, conforme abordou duas variáveis determinam, na maioria das vezes, o
Mira (2001). Para ela, o movimento foi mais rápido no lançamento de um novo título, seção ou caderno
rádio, com as emissoras praticamente se especializando especializado. Como pontuou Thomaz Souto Corrêa,
num gênero musical para atender a seus públicos. Com executivo da Editora Abril:
a chegada dos canais pagos, na década de 1990, a Segmentar o mercado é identificar interesses e
segmentação na TV também se acentuou, com opções desejos do público leitor, é saber detectar as
de programação e até de emissoras exclusivas de tendências de comportamento do mercado para
filmes, de esportes, atrações infantis etc. dar a ele revistas sempre mais atualizadas,
No mercado das publicações, a chamada mídia afinadas com a realidade, ou revistas novas, cada
impressa, os exemplos também são muitos desde vez que uma nova tendência sugerir a criação
então. Os jornais passaram a oferecer em número cada de um novo segmento (apud MIRA, 2001: 148).
vez maior de cadernos especializados cobrindo um
espectro grande de interesses específicos, variando As maiores contribuições – para não dizer as únicas
por assuntos (informática e automóveis, por exemplo), – acerca do conhecimento mais aprofundado dos
gênero (suplementos femininos e para jovens) ou estilo públicos nas organizações vêm justamente da área de
de vida (gastronomia, moda). “No meio revista, relações públicas. O mais recente e destacado estudo
segmentado por definição, esse processo é ainda mais é de França (2008), em que o autor fez uma análise
intenso” (MIRA, 2001: 147). Além do surgimento de aprofundada do tema. Como resultado, o autor ofere-
várias editoras de pequeno porte, a criação da Editora ceu uma proposta consistente do que ele chamou de
Azul, em 1986, tendo a Abril como sócia majoritária, conceituação lógica de públicos, “capaz de explicar
impulsionou de vez a segmentação no setor. os diversos tipos de composição de públicos e suas
relações com as organizações na realização de seus
Na Editora Abril, além de títulos com conteúdos
negócios”. Embora centrado no estudo de públicos
específicos direcionados a determinados universos de
nas relações públicas, a obra traz grandes contribuições
públicos, como o feminino (Nova e Cláudia, por
para que os comunicadores possam obter melhores
exemplo) e o masculino (Quatro Rodas, Playboy), houve
resultados junto aos públicos com os quais trabalham.
também um movimento de transformação de
suplementos em revistas independentes. É o caso das A partir de pesquisa de campo com empresas de
revistas Veja São Paulo e Veja Rio, com conteúdos grande porte, nacionais e multinacionais, de diferentes

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setores industriais e de prestação de serviços, sediadas A convicção de França é a de que, se realizada
nas cidades de São Paulo e de São Bernardo do Cam- pelas empresas, essa conceituação lógica permite que
po, aliada às reflexões teóricas em torno de conceitos se defina e se analise a interdependência da organização
ligados aos relacionamentos organizacionais, França com seus públicos de forma coerente (raciocinada
chegou a conclusões importantes para novas aborda- quanto à importância), contribuindo para estabelecer
gens nessa direção e ao que ele chamou de “concei- programas de relações públicas e de comunicação mais
tuação lógica de públicos”. adequados. Didaticamente, alguns passos seriam
Uma das constatações é a de que, de maneira geral, fundamentais (FRANÇA, 2008: 105-108), ocorrendo na
não há uma terminologia uniforme na designação dos ordem disposta a seguir.
públicos. São chamados de “partes interessadas”, 1. Seleção de todos os públicos – listagem ampla,
“públicos de interesse”, “públicos prioritários” e ainda sem levar em conta a importância dos
“públicos estratégicos”. Na totalidade das empresas, públicos.
a classificação se dá, primeiramente, em dois grandes 2. Identificação dos públicos com os quais a
grupos, “internos” e “externos”, derivando-se daí o empresa se relaciona com maior frequência,
que França chamou de “tipos de públicos”, como em- lembrando que a determinação dos públicos é
pregados, comunidade, governos, fornecedores, clien- situacional (não fixa), podendo variar de empresa
tes e mídia. Além dos tipos de públicos, foram levan- para empresa.
tadas informações junto às empresas sobre outros
temas, como “tipo de relacionamento”, “objetivos 3. Definição dos públicos de interesse maior ou
predominantes de relacionamento” e “resultados espe- prioritários para a organização, ou seja, aqueles
rados do relacionamento”. que são imprescindíveis para o desenvolvimento
de seus negócios essenciais. Essa denominação
Observando-se o resumo dos principais resultados também costuma variar de empresa para empresa.
da pesquisa de França (2008: 64-65), chega-se ao quadro Em geral, denominam-se esses públicos como
demonstrativo abaixo, que situa, de maneira geral, o “públicos de interesse”, “públicos prioritários”,
pensamento das empresas pesquisadas acerca do rela- “públicos estratégicos”, “partes interessadas”.
cionamento com alguns de seus públicos. No presente
estudo, o Quadro 1 está focado nos tipos de públicos 4. Determinação do tipo de relação com o público
– empregados, comunidade, governo, associações de – se de negócios, política, operacional, classista,
classe, mídia/imprensa –, embora a pesquisa de França profissional, social, institucional.
(2008) seja mais ampla e inclua outros tipos, como 5. Definição do objetivo do relacionamento em-
acionistas, clientes, fornecedores, investidores etc. presarial com esses públicos.

Quadro 1: Tipos de públicos


Tipo de relacionamento
Tipo de público Objetivos predominantes Resultados esperados
de relacionamento
Empregados De negócios Manter produtividade, eliminar Confiança, satisfação, fidelidade,
conflitos, cuidar do bem-estar no entendimento e espírito de equipe,
trabalho, ter capacidade operacional colaboração, empreendedorismo, dedicação
Comunidade Social Fazer parcerias, respeitar os valores Apoio das forças da comunidade,
locais e a sua cultura, promover o convivência harmônica, colaboração,
bem-estar, dispor de força de trabalho confiança, satisfação
Governo Oficial, político Conseguir boa convivência com os Credibilidade, confiança, apoio, livre
poderes do Estado, relacionamento trânsito em áreas governamentais
positivo, obtenção de acordos e apoio
Associações de classe Relação classista, política Defesa de interesses comuns, acordos Credibilidade, comprometimento ético,
setoriais, apoio classista, oportunidades confidencialidade, cooperação, geração
de negócios de negócios
Mídia/imprensa Negócios e promoção Manter política de portas abertas, Divulgação, confiança, apoio, excelente
obter apoio positivo, excelente relacionamento, comportamento ético,
relacionamento e posicionamento ético confidencialidade
Fonte: elaborado pelos autores com base em França (2008).

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6. Indicação do nível de dependência dessa relação Já no tipo de público “imprensa”, podem ser encon-
– se essencial ou não essencial. tradas variações, como jornalismo econômico, cultura,
7. Determinação do nível de participação nos cidades, educação, ciência e tecnologia da informação.
negócios da empresa e na promoção institu- Em “comunidade”, a classificação pode apresentar
cional ou mercadológica. separações como escolas, universidades, associações
de bairro, vizinhança, entidades de classe, ONGs. Tais
8. Delimitação da temporalidade – se permanente, segmentações são utilizadas como base para as políti-
sazonal, efêmera etc. cas e práticas atuais de comunicação nas empresas.
9. Estabelecimento dos resultados esperados pela
Sendo assim, um modelo que incorporasse itens
empresa e das expectativas do público nesse
do modelo de conceituação lógica de França (2008) e
relacionamento.
acrescentasse as particularidades apontadas pelas prá-
A partir dessas informações, é possível estabelecer uma ticas comunicacionais poderia ser desenvolvido tendo
classificação lógica dos públicos, conforme os modelos como referência o que se propõe a seguir (Quadro 2).
propostos por França, com a construção de diferentes É importante salientar que, dentro do objeto analisado
tipos de tabelas indicativas. Embora partam de um modelo pelo presente artigo, o referido modelo contempla os
básico, as tabelas podem variar com a inclusão ou exclusão tipos “empregados”, “comunidade” e “imprensa”, e
de parâmetros e informações, dependendo do objetivo seus subgrupos, tratados aqui como segmentos.
desejado e da natureza operacional da empresa. No caso Reforça-se que o modelo acima se coloca como
da comunicação, também podem variar de acordo com uma referência para pesquisa e definição de públicos
as atividades possíveis de serem realizadas, a partir da na comunicação empresarial sob a ótica da segmenta-
compreensão desses dados pelos comunicadores. ção, de forma a orientar ações direcionadas. É passível,
O modelo para a comunicação poderia ser mais portanto, de ajustes, levando-se em consideração as-
apurado ou específico, com o acréscimo de itens, co- pectos como o setor de atividade da organização, sua
mo o tipo de mensagens a serem transmitidas e os localização, dimensão e área de abrangência, entre ou-
instrumentos ou veículos de mídia a serem utilizados tros. Pode-se, ainda, acrescentar o item “perfil do seg-
(canais de comunicação), assim como com a organiza- mento” para inserir informações ainda mais especí-
ção dos públicos em segmentos menores, definidos ficas, caso isso seja necessário, segundo variáveis geo-
por características diferenciadoras ou semelhanças gráficas, demográficas, psicográficas e comportamen-
entre os indivíduos e/ou organismos que compõem tais, trabalhadas no marketing.
um determinado tipo de público. No levantamento realizado com os comunicadores
das quatro empresas selecionadas, optou-se por não
3. As abordagens verificadas nas empresas analisar os instrumentos ou veículos utilizados e seus
conteúdos, mas apenas citá-los, uma vez que a priori-
Embora não sistematizada ou formalizada, há na dade deste estudo era buscar elementos que
comunicação uma clara segmentação desses interlocu- pudessem situar o grau de preocupação das áreas e
tores. A começar pelo “público interno”, expressão dos profissionais de comunicação quanto às
comumente utilizada para definir as ações de comuni- demandas específicas de cada segmento de público.
cação com aqueles indivíduos com vínculo de traba- Seguiu-se a linha de raciocínio de França (2008: 133):
lho. Como o presente estudo constatou na pesquisa “O postulado fundamental é, antes de tudo, a arte de
sobre segmentos de públicos na comunicação, realiza- saber relacionar-se (linha de princípios) e, em seguida,
da junto a quatro grandes indústrias multinacionais, os saber como utilizar os meios eficazes (linha
comunicadores costumam classificar empregados, instrumental) para tornar a relação aceitável e
familiares, colaboradores e prestadores de serviço produtiva para as partes envolvidas.”.
como “público interno”. Em alguns casos, ainda ocorre
o desdobramento do tipo “empregados” em agrupa- A seguir, os oito tópicos verificados na pesquisa:
mentos (segmentos) mais específicos, por função exer- • identificação e classificação dos segmentos de
cida: pessoal administrativo, executivos, lideranças, públicos dentro dos tipos estudados (emprega-
trabalhadores operacionais etc. dos, comunidade e imprensa);

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Quadro 2: Modelo sugerido para uma classificação de públicos aplicada à comunicação
Tipos de públicos Segmentos de públicos 1 2 3 4 5 6 7
Empregados Executivos
Lideranças
Administrativos
Operacionais
Vendas
Colaboradores
Prestadores de serviço
Comunidade Universidades
Associações de bairro
Vizinhança
Entidades de classe
ONGs
Imprensa EDITORIAS
Economia
Cultura
Cidades
Esporte
PUBLICAÇÕES ESPECIALIZADAS
Tecnologia da informação
Decoração
Automobilismo
Química
Financeira
Ciência
Propaganda
1 – nível de dependência; 2 – tipo de relacionamento; 3 – objetivos da empresa; 4 – resultados esperados pela empresa; 5 – expectativas dos públicos/segmentos;
6 – instrumentos, canais, veículos; 7 – tipos de mensagens.
Obs.: Os itens em destaque (cinza) são aqueles incluídos pelo autor do artigo em um dos modelos desenvolvidos por França (2008).

• compreensão sobre a necessidade de segmentar Os resultados obtidos na pesquisa permitem de-


os públicos; senvolver uma análise sobre como a segmentação de
públicos está inserida no contexto da comunicação
• nível de entendimento dos profissionais de
empresarial. Pelos depoimentos colhidos, uma das
comunicação acerca dos resultados esperados
principais constatações a que se chega é a de que não
pela empresa na comunicação com esses
há uma conceituação teórica evidente por trás da
públicos;
classificação dos públicos, embora esteja clara a ten-
• nível de entendimento dos profissionais a dência de agrupamentos com o objetivo de organizar
respeito das expectativas desses públicos quanto e direcionar a maioria das atividades.
às informações que recebem da empresa;
As definições (ou nomenclaturas) de públicos
• existência de atividades e/ou instrumentos de apresentam pequenas variações de uma organização
comunicação, dirigidos especificamente a cada para outra (Quadro 3). Um segmento considerado
segmento; integrante do grupo “comunidade” em uma companhia
• nível de preocupação com a adequação das pode estar de fora desse grupo em outra. Da mesma
mensagens às características dos públicos e suas forma, nota-se que as estruturas, as mensagens e os
expectativas em relação às informações; instrumentos de comunicação para determinados
públicos variam de uma empresa para outra, de acordo
• existência de mecanismos de aferição da com as particularidades e a importância das relações
efetividade das ações comunicacionais dirigidas para cada uma delas (Quadro 4).
aos segmentos de públicos;
É importante observar, nesses quadros, que as
• grau de influência das particularidades observadas definições e os parâmetros colocados ainda guardam
em cada segmento de público na elaboração da um caráter genérico em alguns casos, muito prova-
política geral de comunicação. velmente devido à pouca quantidade de estudos a

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Quadro 3: Demonstrativo elaborado a partir dos relatos dos profissionais de comunicação das empresas pesquisadas
Segmentos prioritários mencionados em cada tipo de público
Tipos de públicos Empregados Comunidade Imprensa
EMPRESA “A” Corpo gerencial Vizinhança Economia
Pessoal de linha (fábricas) Grupos organizados Publicações especializadas
Famílias Prefeituras do setor
Escolas
EMPRESA “B” Corpo gerencial Vizinhança Economias
Administrativos Autoridades locais Publicações especializadas do
Operacionais (fábricas) Entidades do setor setor
Famílias Universidades Propaganda e marketing
EMPRESA “C” Alta direção Governo Economias
Gerentes Analistas de mercado Negócios e empresas
Lideranças Universidades Publicações de setores-alvo
Público geral Câmaras de comércio Tecnologia
Famílias Associações Responsabilidade social
Entidades de classe
EMPRESA “D” Público geral Vizinhança Veículos de informação geral
Famílias Autoridades locais Economia
Corpo gerencial Escolas Publicações técnicas
Supervisores Grupos de representação local
Lideranças
Fábricas

Quadro 4: Resumo consolidado do entendimento dos profissionais sobre a comunicação com os tipos de públicos
Resultados esperados Instrumentos, canais
Tipos de públicos Expectativas dos públicos Mensagens principais
(empresa) e veículos
Empregados Contribuição para o negócio Informação rápida e atual House organs, murais, Direta
Colaboração Segurança intranet, reuniões, eventos, Informativa
Espírito de equipe Reconhecimento boletins impressos, Motivadora
eletrônicos e-mails Funcional
Esclarecedora
Comunidade Reforço de imagem, Enfoque nas questões locais Portas abertas (visitação) Valorização local
Boa vontade Solidariedade Boletins Investimentos
Credibilidade Transparência Encontros esporádicos Segurança
Prevenção de conflitos Cuidado com o meio
Colaboração ambiente
Responsabilidade social
Imprensa Precisão Informação precisa e relevante Press releases, Reforço da imagem
Boa vontade Transparência Entrevistas individuais corporativa
Compreensão em crise Resultados e coletivas, Capacidade de
Reforço de imagem Especificidade Almoços e outros investimento
encontrosEventos Importância econômica
Responsabilidade social

respeito de segmentos de públicos na comunicação e 4. Considerações finais


à falta de reflexão mais aprofundada sobre o assunto
nos principais fóruns do setor. Entretanto, podem Observa-se que, embora já seja uma realidade na
servir como ponto de partida para que profissionais, comunicação de algumas empresas, a abordagem por
pesquisadores e estudantes de Comunicação sintam- segmentos de públicos ainda carece de processos sis-
se compelidos a aprimorar essas conceituações, levan- temáticos que a sustentem e a ampliem. A segmentação
do-se em conta, inclusive, as novas atuações sociais está muito mais vinculada a agrupamentos por atividade
de seus públicos e as necessidades específicas de infor- (assessoria de imprensa, publicações ou Internet, por
mação e interação demandadas. exemplo) do que por expectativas de quem recebe as

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informações. Na pesquisa com as empresas, ficou públicos na comunicação são práticas distantes da
evidente que as particularidades dos relacionamentos realidade. Perde-se, portanto, um importante instru-
nem sempre são conhecidas ou exploradas. Os próprios mento para a formatação de mensagens e conteúdos
profissionais entrevistados reconhecem a falta de mais adequados, que sejam assimilados e agreguem
mecanismos sistemáticos que possam alimentar esse valor aos segmentos de maior importância para a vida
processo com dados sobre os interlocutores. da empresa. Em essência, no cotidiano da comunicação
empresarial, está faltando uma pergunta básica, a ser
As principais deficiências identificadas giram em feita aos interlocutores: “De que tipo de informação
torno da realimentação dos processos comunicacionais você precisa ou espera da minha organização?”.
com informações sobre os interesses dos segmentos
de público e da falta de métodos de avaliação mais Esta e outras questões aqui levantadas – em especial
consistentes e sistemáticos de aferição dos resultados aquelas que apontam para a necessidade de criação
da comunicação. Está claro que são raras as oportuni- de mecanismos de ausculta dos públicos organiza-
dades para que os segmentos de público se manifestem cionais – certamente vão inspirar estudos futuros no
a respeito daquilo que está sendo ou precisa ser comu- universo da comunicação empresarial. Incluem-se não
nicado. E, mesmo quando isso acontece, há dúvidas apenas os estudos dos relacionamentos tradicionais
quanto ao valor das respostas dadas, em função de entre empresa e segmentos de públicos, mas também
falhas no mecanismo de consulta. a abordagem de outros fenômenos que exigem res-
postas dos profissionais, como o crescimento das
De fato, no mercado em geral, os comunicadores redes digitais de relacionamento e o seu impacto no
têm dificuldade para apontar com clareza os pontos universo corporativo, por exemplo. Qualquer que seja
de tangência entre as ações comunicacionais e os im- o foco, porém, a gestão do conhecimento coloca-se
pactos nas relações de suas empresas. O tratamento como fator decisivo para resultados mais eficazes no
particularizado e a gestão do conhecimento sobre os âmbito da comunicação empresarial.

Referências
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