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A situação confortável das artistas no Brasil, porém, deve ser olhada com
cuidado, pois a aparente vantagem pode estar atrelada a uma perspectiva
histórica que não necessariamente reflete a atual situação desse campo, no
que se refere às novas artistas da contemporaneidade. O alerta foi dado pela
professora e pesquisadora do Instituto de Estudos Brasileiros (IEB) da
USP, Ana Paula Cavalcanti Simioni, durante o debate “Arte e Gênero”, que
integrou a programação da semana “Mulher com Arte”, tema proposto pelo
escritório USP Mulher como foco das atividades da Universidade este ano.
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Realizado no IEA no dia 8 de março, Dia Internacional da Mulher, o seminário
organizado pelo IEA, pelo IEB e Museu de Arte Contemporânea (MAC) da
USP, contou com abertura e comentários do professor Carlos Roberto Ferreira
Brandão, diretor do MAC-USP e ex-diretor do Museu de Zoologia (MZ) da USP,
do professor Paulo Teixeira Iumatti (IEB-USP) e também do vice-diretor do IEA,
professor Guilherme Ary Plonski.
A participação feminina no campo artístico é temática que já ocupa décadas de
estudos, tendo ganhado força principalmente em países onde o feminismo é
mais forte e atuante. Para muitos críticos, a arte não é de fato um campo livre e
autônomo, mas um espaço determinado por instituições, sistemas e academias
de arte, patrocinadores e até alguns mitos, que começam a ser desconstruídos.
Carlos Roberto Brandão,
diretor do MAC
O MAC-USP, por exemplo, planeja uma exposição de obras produzidas só por
mulheres, com o objetivo de mostrar que gênero, materiais utilizados, partidos
artísticos e outras questões não estão expressos na obra, ou seja, independem
do fato do artista ser homem ou mulher. A exibição estará inserida numa
grande empreitada expositiva, já que o museu pretende mostrar ao público
quase todo o seu acervo – aproximadamente 10.500 peças.
Representatividade
Para Ana Paula Simioni,
do IEB-USP, a
perspectiva histórica não
se reflete na atual
situação das mulheres nas
artes
A professora Ana Paula Simione mostrou alguns indicadores do mercado de
artes e museus para exemplificar aspectos da sua apresentação.
Comparativamente à coleção do MAC, mostrou a presença feminina em
coleções como a Freitas Vale, que tem sete mulheres entre 113 nomes de
artistas (6,19%) do período Modernista. A Pinacoteca tem 321 mulheres entre
1588 nomes (20% da coleção); a de Inhotim possui 22 mulheres entre os 99
artistas (22,22%); e a coleção Mário de Andrade tem 22 mulheres entre 135
nomes (17%).
Portanto, os números mostram que o Brasil pode ser um caso à parte quando o
tema é a mulher nas artes. Porém, o cenário aparentemente favorável pode ser
apenas uma primeira impressão, na opinião de Ana Paula. “Muitas das artistas
bem sucedidas no mercado nem sempre desfrutam de boa colocação nos
espaços museais. Ou seja, o valor de mercado nem sempre migra para uma
valorização cultural ou outras instancias de legitimação da cultura. E o mercado
da arte não se resume a ser artista. Há outras posições em museus e galerias
que ainda não são ocupados por mulheres”, disse.
Por outro lado, Ana Paula lembrou que a tradição feminista nos Estados Unidos
abriu mercados no campo artístico, mas a arte feminista nem sempre é aceita.
“A obra mais cara de Lygia Clark, por exemplo, não têm nada de menção a
gênero ou qualquer cunho feminista e nesse ponto parece haver um rechaço
desse tema nas artes”, compara.