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SÍNTESE CRÍTICA

PEDUZZI: Trabalho em equipe, prática e educação interprofissional.

CONCEITOS, CARACTERÍSTICAS E DIFICULDADES DO TRABALHO EM EQUIPE

A análise das abordagens ao trabalho em equipe interprofissional na área da


saúde revela uma falta de consenso tanto em âmbito nacional quanto internacional.
No contexto brasileiro, destaca-se a importância da comunicação efetiva e interação
humana para o sucesso colaborativo, enfatizando a distinção entre grupo e equipe. A
discussão sobre disciplinaridade, multidisciplinaridade e transdisciplinaridade
oferece uma perspectiva intrigante sobre as diversas formas de colaboração entre
disciplinas, com a transdisciplinaridade sendo apresentada como uma meta,
sublinhando a descentralização do poder.
No cenário internacional, a ênfase recai sobre a abordagem clínica do trabalho em
equipe na saúde, com foco na atenção integral. Pesquisas recentes destacam
atributos cruciais, como o compartilhamento de objetivos, suporte organizacional e
liderança integradora. A introdução de ferramentas como a Team Climate Inventory
contribui para avaliações mais objetivas do ambiente de trabalho, identificando
características-chave do trabalho em equipe interprofissional na saúde. Entretanto,
as dificuldades enfrentadas pelas equipes de saúde são atribuídas às complexidades
interativas e intersubjetivas, exigindo esforços contínuos para superar diferenças e
promover uma colaboração eficaz. A busca pela transdisciplinaridade é destacada
como uma abordagem que enfatiza a integração e a descentralização do poder,
representando um caminho para superar essas dificuldades e promover uma
colaboração mais efetiva entre profissionais de diferentes disciplinas.
No Quadro 1, são evidenciadas várias complicações operacionais no contexto do
trabalho em equipe interprofissional na área da saúde. Entre essas dificuldades,
destacam-se problemas de comunicação, disseminação de rumores e conflitos na
abordagem assistencial. Desafios como desconhecimento dos papéis dos colegas,
falta de consideração pelas experiências e conhecimentos de cada membro, e a
ausência de definição clara de resultados apontam para a necessidade urgente de
estabelecer clareza e alinhamento nos objetivos da equipe. A percepção de
desigualdade de valor social entre profissões especializadas e as disputas pelo poder
dentro da equipe sugerem questões mais amplas relacionadas à hierarquia e
dinâmica de poder no contexto da saúde. Esses obstáculos ressaltam a importância
de abordagens que promovam equidade, colaboração e uma compreensão mais
profunda dos papéis individuais dentro da equipe interprofissional.

A PRÁTICA COLABORATIVA CENTRADA NO USUÁRIO/PACIENTE

A colaboração entre profissionais de saúde e a prática interprofissional são


elementos essenciais na rede de atenção à saúde, especialmente na Atenção
Primária à Saúde, onde a centralidade na atenção ao paciente/usuário é vital para
uma abordagem integrada e abrangente. Enfrentamos desafios nesse contexto,
como a complexidade em priorizar os interesses dos pacientes em relação aos dos
profissionais, evidenciando a necessidade de estabelecer objetivos comuns por meio
de negociação. O êxito na colaboração interprofissional abrange aspectos
relacionados à interação entre os profissionais, à organização dos serviços e ao
sistema como um todo. A utilização de uma abordagem com três níveis de
colaboração, onde a atenção centrada no paciente serve como indicador,
proporciona uma estrutura para avaliar o progresso das equipes. Contudo, a
ausência de consenso na definição de Atenção Centrada no Paciente pode complicar
a eficácia da implementação.
A Atenção Centrada no Paciente é considerada fundamental para a colaboração
interprofissional, destacando a importância da integração e do reconhecimento do
paciente como um parceiro ativo no processo de cuidado. A literatura canadense
ressalta a perspectiva do usuário como integrante da equipe responsável pelos
cuidados. Diferentes países, como Canadá, Estados Unidos e Reino Unido, estão
adotando políticas que reconhecem a Atenção Centrada no Paciente como crucial
para oferecer cuidados de qualidade. No contexto brasileiro, a Atenção Centrada no
Paciente está associada à Clínica Ampliada e ao processo de trabalho focado no
usuário, ambos fundamentados no princípio da integralidade. A abordagem
colaborativa interprofissional desempenha um papel essencial na Atenção Primária à
Saúde, onde o acesso do usuário ao sistema é preferencialmente considerado,
promovendo uma abordagem de equipe em detrimento da prática isolada de
profissionais.

A EDUCAÇÃO INTERPROFISSIONAL PARA O TRABALHO EM EQUIPE E A PRÁTICA


COLABORATIVA

A necessidade de mudanças nas práticas profissionais e na organização do


trabalho na área da saúde é ressaltada, destacando a importância da formação que
promova a autonomia, capacidade de intervenção e trabalho em equipe. Observa-se
deficiências nos modelos educacionais atuais, com ênfase na ausência de interação
entre estudantes de diferentes profissões, contribuindo para estereótipos e
preconceitos. A Educação Interprofissional em Saúde (EIP) é apontada como uma
iniciativa crucial para fomentar o trabalho em equipe, sublinhando a necessidade de
investimentos e alterações nos modelos educacionais. Experiências, como as da
Unifesp e outras iniciativas no Brasil, são citadas como exemplos incipientes de
práticas interprofissionais.
A EIP é apresentada como uma abordagem que estimula a aprendizagem
interativa entre profissionais de diversas áreas, contribuindo para a melhoria da
colaboração e qualidade do cuidado. A definição de competências pelo CIHC, com
ênfase em aspectos como comunicação interprofissional e liderança colaborativa, é
evidenciada como algo fundamental para uma formação eficaz. O texto destaca a
importância de proporcionar experiências práticas desde cedo na formação,
enfatizando que a simples exposição dos estudantes ao trabalho em equipe não
assegura o desenvolvimento das competências necessárias. São mencionados
desafios, como as diferenças entre níveis educacionais e demandas conflitantes na
formação de cada área. A necessidade de integração entre sistemas de educação e
saúde, juntamente com reformas nos modelos educacionais, é ressaltada como
fundamental para o êxito da EIP. O texto conclui destacando a importância da
colaboração interprofissional, envolvendo gestores, líderes, profissionais e usuários
na tomada de decisões sobre o cuidado.
Em síntese, a demanda por transformações nas práticas profissionais e na
organização do trabalho na área da saúde destaca a importância da formação
voltada para a autonomia, capacidade de intervenção e colaboração
interprofissional. A identificação de lacunas nos atuais modelos educacionais, como
a falta de interação entre estudantes de diferentes profissões, evidencia a
necessidade premente de mudanças. Nesse contexto, a Educação Interprofissional
em Saúde emerge como uma iniciativa crucial, exigindo investimentos e ajustes nos
modelos educacionais. A EIP, ao fomentar a aprendizagem interativa entre
profissionais de diversas áreas, contribui significativamente para a melhoria da
colaboração e da qualidade do cuidado. A definição de competências pelo CIHC,
especialmente em aspectos como comunicação interprofissional e liderança
colaborativa, destaca-se como um pilar essencial para a formação eficaz. O escrito
destaca a importância de proporcionar experiências práticas desde o início da
formação, sublinhando que a mera exposição dos estudantes ao trabalho em equipe
não garante o desenvolvimento das competências necessárias.
A integração entre os sistemas de educação e saúde, aliada a reformas nos
modelos educacionais, é considerada crucial para o sucesso da EIP. Em última análise,
o texto destaca a importância da colaboração interprofissional, envolvendo gestores,
líderes, profissionais e usuários, como um elemento vital na tomada de decisões
relacionadas ao cuidado, visando aprimorar significativamente a prestação de
serviços de saúde de qualidade.

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