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Faculdade de Ciências da Universidade do Porto, Rua do Campo Alegre, s/nº, 4169-007, Porto.
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Correspondence: scoimbra@fc.up.pt. Tel.: +351220402020
Resumo
A nível evolutivo, as angiospérmicas correspondem ao grupo de plantas mais bem
sucedido, devido ao complexo sistema de reprodução, conhecido como dupla fecundação.
Este processo, responsável pela produção de sementes, tem início na germinação do grão
de pólen que ocorre no estigma. Após a formação do tubo polínico, este desenvolve-se e
cresce ao longo dos tecidos femininos até chegar ao seu destino final, o gametófito
feminino, no qual entra através do micrópilo. Desta forma, o tubo polínico liberta as duas
células gaméticas, uma delas funde-se com a célula central e a restante com o ovo, dando
origem ao endosperma e ao embrião, respetivamente. O objetivo deste trabalho teve como
princípio, o estudo do processo de dupla fecundação em Arabidopsis thaliana. Este estudo
foi feito através da coloração dos tubos polínicos com azul de anilina em plantas “wild-
type”, que nos permitiu observar o crescimento e desenvolvimento dos tubos polínicos.
Foi feita também a observação de linhas marcadoras para células gametófitas masculinas
e femininas através de microscopia de fluorescência.
Palavras-chave: dupla fecundação; tubo polínico, grão de pólen, células sinergídeas; azul de
anilina; LAT52; MYB98
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Introdução
Ao contrário dos animais, que produzem gâmetas unicelulares, as plantas apresentam
gerações que alternam entre o esporófito diploide e o gametófito haploide, sendo que
ambos desempenham funções bastante distintas. A produção de esporos haploides é
assegurada pelo esporófito que, através da meiose, origina dois tipos de esporos, os
micrósporos e os megásporos. É no interior dos gametófito, que estes esporos passam por
processos de diferenciação de modo a dar origem aos gâmetas masculinos e femininos.
Nas angiospérmicas, durante a fecundação, o gametófito masculino desenvolve-se dentro
do pistilo e cresce em direção ao micrópilo de modo a libertar as duas células gaméticas
imóveis no gametófito feminino, e ocorrer a dupla fecundação, completando desta forma
o ciclo de vida. Este processo único de dupla fecundação, esta intimamente associado
com o sucesso ecológico e evolutivo das plantas com flor, e com a produção de cultivos
agrícolas que são indispensáveis ao Homem (Hamamura et al., 2012; Higashiyama, 2002;
Higashiyama et al., 2017; Li et al., 2002).
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calose. No final da meiose, as paredes externas das tétradas são digeridas de forma a
ocorrer a libertação dos micrósporos individuais, através de uma mistura de enzimas
(endoglucanases e exoglucanases) secretadas pelo tapete (calase). Nas fases posteriores
do desenvolvimento do pólen, dá-se a desintegração do pólen (Huang et al., 2021; Ma,
2005; McCormick, 2004). O processo de microgametogénese começa com a libertação
dos micrósporos das tétradas e leva á formação dos grão de pólen maturos. Após a
libertação, forma-se o vacúolo central, e o núcleo do micrósporo migra para uma posição
periférica (Figura 1A). O micrósporo é submetido a uma divisão celular assimétrica que
dá origem a duas células: a célula vegetativa e a célula generativa. A divisão assimétrica
é essencial para o correto desenvolvimento do gametófito masculino, uma vez que as duas
células resultantes são completamente diferentes em tamanho, função e atividade
genética, características importantes pois conferem estruturas e destinos celulares
distintos (Twell et al., 1998). A célula vegetativa herda a maior parte do citoplasma da
célula do micrósporo, portanto, bastante grande, e envolve completamente as células
generativas. A célula generativa mais tarde sofre uma segunda mitose e origina as duas
células gaméticas (Figura 1A) (Twell, 2011).
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citoplasma formando uma grande célula central (Figura 1B) (Liu et al., 2009; Steffen et
al., 2007).
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crescimento do tubo polínico, este percorre o tecido de transmissão, extremamente rico
em substâncias (glicoproteínas, polissacáridos e glicolípidos) que se pensa que
promovem e facilitam o crescimento dos tubos polínicos (Figura 2) (Pereira et al., 2021).
Em Arabidopsis, este crescimento através do tecido de transmissão até ao óvulo, pensa-
se ser controlado pelas células sinergídeas. Quando chega ao ovário, o tubo polínico
normalmente cresce até ao funículo, entra no micrópilo do óvulo e eventualmente chega
ao saco embrionário. É sabido que, na ausência das duas células sinergídeas, a atração do
tubo polínico é cessada, e quando apenas uma célula sinergídea está presente, esta
continua a ter capacidades de atração do tubo polínico até ao saco embrionário. Desta
forma, através da produção autónoma de sinais de atração, uma célula sinergídea permite
que o tubo polínico chegue corretamente à entrada do saco embrionário durante a fase
final do seu crescimento (Higashiyama et al., 2001; Higashiyama, 2002). Em 2007, Chen
et al. mostrou que além das células sinergídeas, também outras células do gametófito
feminino poderiam ter um papel importante na orientação do tubo polínico,
nomeadamente a célula central e o ovo, concluindo que para se assegurar o sucesso da
fecundação, são necessários múltiplos sinais do gametófito feminino totalmente maturo.
Em espécies dicotiledóneas, as células sinergídeas secretam moléculas de atração
conhecidas como LUREs, descobriu-se que em Torenia, uma proteína arabinogalactana
(AMOR) derivada de AGPs ovulares, torna os tubos polínicos totalmente competentes
para os péptidos LURE (Coimbra & Gustavo, 2012; Mizukami et al., 2016; Okuda et al.,
2009). Aquando da chegada do tubo polínico ao micrópilo, este interrompe o seu
crescimento, entra pelo aparelho filiforme das células sinergídeas e liberta o seu conteúdo.
Durante este processo, ocorrem inúmeros eventos de comunicação célula-célula, sendo
que a libertação dos gâmetas e a degeneração da sinergídea recetiva, ocorrem quase
simultaneamente. Após a fecundação de ambos os gâmetas femininos, a célula sinergídea
restante funde-se com o endosperma (Dresselhaus et al., 2013; Faure et al., 2002).
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Figura 2- Orientação do tubo polínico no gametófito feminino.
Emergência do tubo polínico a partir do grão de pólen (PG),
crescimento através do tecido de transmissão (TT) e emergência na
superfície do septo (ST) que separa os dois lóculos do ovário. Cada tubo
polínico dirige-se ao óvulo (OV) através da superfície do funículo (FL)
e do micrópilo (MP) do ovulo. Adaptado de Higashiyama et at., (2017)
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mecanismo molecular permanece desconhecido (Cheung et al., 2001; Dresselhaus et al.,
2013; Hamamura et al., 2012).
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Material e métodos
− WT x LAT52::GFP
− WT x LAT52::RFP
− WT x pLAT52::GFP-H3.3:mRFP
− pMYB98::GFP x LAT52::GFP
− pMYB98::GFP x LAT52::RFP
− pMYB98::GFP x pLAT52::GFP-H3.3:mRFP
De modo a realizar a técnica de coloração com azul de anilina, flores polinizadas foram
recolhidas e emasculadas. Desta forma os pistilos foram colocados numa solução fixadora
de etanol/ácido acético glacial (9:1) e deixados ON. Após este período, foram lavados
três vezes com água e colocados numa solução de 1 M NaOH (7,5-8N), durante um dia e
de seguida foram lavados três vezes com água e deixados numa solução de coloração de
azul de anilina (0,1% azul anilina (Acid Blue, Sigma) em 100 ml de K3PO4 0,1 M (0,100
g de azul anilina em 100 ml de H2O com 2,12 K3PO4) durante 12h. Posteriormente fez-
se a análise através de um microscópio Nikon Eclipse CiL.
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Resultados e Discussão
A técnica de coloração dos tubos polínicos com azul de anilina, é bastante utilizada na
análise de mutantes uma vez que, a partir desta, é possível verificar quaisquer tipo de
defeitos desde a germinação do grão de pólen, passando pelo seu crescimento nos tecidos
femininos e terminando o seu percurso no gametófito feminino. Desta forma, de modo a
visualizarmos as várias fase de crescimento e desenvolvimento do tudo polínico, plantas
“wild type” de Arabidopsis thaliana, foram coradas com azul de anilina.
O correto crescimento dos tubo polínicos desde o estigma, é comprovado na figura 5 A,B.
É através do tecido de transmissão que apenas um tubo polínico consegue alcançar o saco
embrionário de modo a permitir o processo da dupla fecundação (figura 5 C,D).
A gpgp B
tp
tp
ov
ov
CC DD
tp
tt tp
ov tp
mi
fufu
ov
Figura 5- Coloração com azul de anilina de flores “wild type” polinizadas. A e B) desenvolvimento dos tubos
polínicos desde o pistilo ao óvulo. C e D) entrada dos tubos polínicos no saco embrionário. Abreviações: gp-
grão de pólen; tp- tubo polínico; ov- óvulo; tt- tecido de transmissão; mi- micrópilo; fu- funículo.
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De forma a observar o processo de dupla fecundação, incluindo o desenvolvimento dos
tubos polínicos e respetivo percurso através dos tecidos femininos, foram utilizadas linhas
marcadoras de Arabidopsis que permite a marcação de células e respetiva visualização
com fluorescência. Sendo assim, inicialmente, pistilos emasculadas de plantas “wild-
type” foram polinizados com três diferentes tipos de pólen com os seguintes construtos:
pLAT52::GFP, pLAT52::RFP e pLAT52::GFP-H3.3:mRFP.
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A Wild type X pLAT52::GFP-H3.3:mRFP B Wild type X pLAT52::GFP-H3.3:mRFP
C Wild type X pLAT52::GFP-H3.3:mRFP
cg cg
gp gp
cg cg
gp gp
Figura 6- Cruzamento entre pistilos “wild-type” e grãos de pólen com o construto pLAT52::GFP-H3.3mRFP. (A) e (D) Grãos de pólen com a
expressão do pLAT52-GFP na célula vegetativa. Marcador H3.3-mRFP localizado nos núcleos das células gaméticas nos grãos de pólen (B e E).
(C) e (F) Grãos de pólen (fluorescência verde) com as duas células gaméticas (fluorescência vermelha). Os canais para a fluorescência verde,
vermelha e “merged” correspondem às coluna s (A,D), (B,E), e (C,F), respetivamente. Abreviações: gp- grão de pólen, cg- células gaméticas
pMYB98::GFP XX
pMYB98::GFP pLAT52::GFP
pLAT52::GFP pMYB98::GFP X pLAT52::GFP
A B
cs ov
fu
ov
cs
Figura 7- Cruzamento entre pistilos com o marcador sinérgico pMYB98::GFP com grãos de pólen com o marcador
do tubo polínico pLAT52::GFP. É possível observar o sinal GFP nas células sinergídeas (A,B). Abreviações: cs- célula
sinergídea, ov- óvulo, fu- funículo
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No cruzamento com pLAT52::RFP é bem visível o sinal da GFP presente nas células
sinergídeas (figura 8 A,C), no entanto não nos é permitido a observação do tubo polínico
marcado a vermelho através do marcador pLAT52::RFP.
cs cs
Figura 8- Cruzamento entre pistilos com o marcador sinérgico pMYB98::GFP com grãos de pólen com o marcador do tubo polínico
pLAT52::RFP. É possível observar o sinal GFP nas células sinergídeas (A,C), no entanto não se observa o sinal RFP no tubo polínico. Os canais
para a fluorescência verde, vermelha e “merged” correspondem à coluna (A), (B), e (C), respetivamente. Abreviações: cs- célula sinergídea, ov-
óvulo
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Conclusão
Nos últimos anos, a investigação na área da reprodução das plantas tem permitido a
descoberta de inúmeros compostos envolvidos no processo reprodutivo. Nas plantas com
flores, este processo único denomina-se dupla fecundação, na qual dois gâmetas
femininos dimórficos são fecundados por dois gâmetas masculinos imóveis,
transportados pelo tubo polínico.
Através de métodos, como a coloração com azul de anilina, podemos acompanhar o
processo de desenvolvimento do tubo polínico, desde a germinação do grão de pólen até
à fase final na qual o tubo polínico entra no saco embrionário. Além disso, também o uso
de linhas marcadoras (proteínas fluorescentes), tanto para as células gametófitas
masculinas como femininas, permite a obtenção de imagens que, por microscopia de
fluorescência, facilitam a deteção de outros tipos de células envolvidas no processo de
dupla fecundação. Não obstante, são necessárias novas ferramentas de forma a avaliar
como é que os espermatozoides são libertados e fundidos, como ocorre a prevenção da
polispermia, como é que a migração dos núcleos gaméticos ocorrem antes da cariogamia,
e todos os detalhes dos eventos que levam à reativação da vida zigótica. Agora, mais do
que nunca, é necessário a compreensão destes processos que culminam na produção de
sementes uma vez que a população mundial continua em constante crescimento e a
demanda de alimentos é exponencial.
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