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Resumo: O objetivo do presente artigo é propor uma reflexão sobre o pensamento do filósofo tcheco-
brasileiro Vilém Flusser, especialmente no que se refere à comunicação no período por ele
denominado de pós-história. Partindo de Língua e realidade, o autor expõe a coluna dorsal de seu
edifício teórico, que seria desenvolvido em fase posterior, quando retorna ao solo europeu. Assim, a
partir de uma perspectiva fenomenológica, sua preocupação se debruça sobre as formas
contemporâneas de comunicação, através de aparelhos programados, que alienam e fazem com que
o homem perca o sentido de sua existência. A pesquisa bibliográfica que sustenta o presente trabalho
sugere, desde escritos do próprio autor, o resgate da poiésis que, pelo seu caráter intersubjetivo,
permite ao homem a experiência da liberdade.
Abstract: The goal of this article is to propose a reflection on the thought of the Czech-Brazilian
philosopher Vilém Flusser, especially with regard to communication in the period he called post-
history. Starting from Language and reality, the author exposes the dorsal column of his theoretical
building, which would be developed at a later stage, when he returns to European soil. Thus, from a
phenomenological perspective, his concern focuses on contemporary forms of communication,
through programmed gadget, which alienate and cause man to lose the meaning of his existence. The
bibliographical research that supports the present work suggests, from the author's own writings, the
rescue of poiesis which, due to its intersubjective character, allows man to experience freedom.
A Filosofia da linguagem
O Arquivo Flusser
A pós-história
Considerações finais
Como na Idade Média, a escrita era protagonizada pela Igreja, que detinha,
junto às elites, acesso à alfabetização e os monges informavam as pessoas, sem
que elas fossem capazes de decifrar as informações, assim, na atualidade, uma elite
comanda os modelos de conhecimentos e de vivências, através de códigos
matemáticos e outros programas computadorizados, de decifração inacessível à
grande parcela da população. Apenas os especialistas dominam os códigos de
decifração. Em decorrência de tal espectro, personalidades importantes, como
presidentes de países, políticos, dirigentes de nações perdem, significativamente,
seu poder de decisão, deixando as grandes decisões a cargo de analistas de
sistemas, especialistas em informática e cientistas que têm acesso aos códigos.
As pessoas desejam informações, não mais objetos. O mundo das não-coisas
desafia a humanidade ao desmaterializar a existência, transformando-a em cálculos,
pontos e números. A produção industrial é relegada a segundo plano, pois o que se
pretende é a produção de informações.
Isto se torna cada vez mais evidente, à medida que países e grandes grupos
financeiros se dispõem de informações privilegiadas (armas atômicas, engenharia
genética, farmacêutica, aviação, sistemas informáticos, etc), dominam e exploram,
cobrando preços altíssimos, subjugando a humanidade. As coisas (toda matéria
bruta) perderam valor, enquanto as não-coisas (símbolos, software, fama) ganharam
importância e valor.
Quando se fala do desaparecimento do espaço público, quer-se dizer que há
o desaparecimento do diálogo, da opinião pública. As estruturas da sociedade como
a família, sindicato, classes, também começam a desaparecer.
Flusser não tem dúvida de que o “novo homem não é mais uma pessoa de
ações concretas, mas sim um performer (Spieler): homo ludens, e não homo faber.
Para ele a vida deixou de ser um drama e passou a ser um espetáculo. Não se trata
mais de ações, e sim de sensações” (FLUSSER, 2007b, p. 58). O que se verifica é
que o mundo das não-coisas provoca virada radical na existência humana. Não se
trata aqui de uma profecia, mas está diante de nossos olhos, que a humanidade
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REFERÊNCIAS: