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Mateus Alberto Manjate

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Terça-feira, 16.10.12
A Origem e o Historial das
Microfinanças

1. Breve contextualização e abordagem da

Microfinança como resultado do microcrédito

A primeira manifestação de microcrédito da qual se

tem notícia ocorreu no sul da Alemanha em 1846.

Denominada Associação do Pão, ela foi criada

pelo pastor Raiffeinsen que, após um rigoroso

inverno, deixou os fazendeiros locais endividados e

na dependência de agiotas. O pastor cedeu-lhes

farinha de trigo para que, com a fabricação e

comercialização do pão, pudessem obter capital de

giro. Com o passar do tempo, a associação

cresceu e transformou-se numa cooperativa de

crédito para a população pobre.

Em 1900, um jornalista da Assembléia Legislativa

de Quebec criou as Caísses Populaires que, com

ajuda de 12 amigos, reuniu o montante inicial

de 26 dólares canadenses para emprestar aos

mais pobres. Actualmente, estão associados às

Caísses Populaires cinco milhões de pessoas, em

1,329 mil agências.

Nos Estados Unidos, em 1953, Walter Krump,

presidente de uma metalúrgica de Chicago, criou

os “Fundos de Ajuda” nos departamentos das

fábricas, onde cada operário participante

depositava mensalmente US$1,00, destinado a

atender aos associados necessitados.

Posteriormente, os Fundos de Ajuda foram

consolidados e transformados no que foi

denominado Liga de Crédito. Após esta iniciativa,

outras se sucederam, existindo, atualmente, a

Federação das Ligas de Crédito, operadas

nacionalmente e em outros países.

Muitas outras manifestações pontuais e isoladas

planeta com características de microcrédito devem

ter ocorrido ao redor do planeta. Porém, o grande

marco que desenvolveu, difundiu e serviu de

modelo para popularizar o microcrédito foi a

experiência iniciada em 1976 em Bangladesh pelo

professor Muhamad Yunus. Observando que os

pequenos empreendedores das aldeias próximas à

universidade onde lecionava eram reféns dos

agiotas, pagando juros extorsivos e, mesmo assim,

pagando corretamente, o professor Yunus

começou a emprestar a essas pessoas pequenas

quantias com recursos pessoais, que depois

ampliou, contraindo empréstimos.

2. A Origem de Microfinanças

Muito escreve-se em relação à origem da

actividade de microfinanças ou microfinanceira,

entretanto, a microfinança definida como ela é

definida actualmente – provisão de serviços

financeiros para a população de baixa renda,

(Olszyna-Marzys, 2006) – é um fenómeno recente.

Académicos ligados a esta área do conhecimento

são unâmines em afirmar que a microfinança como

ela é conhecida nos nossos dias, surgiu na decáda

70, quando Mohammad Yunus decidiu

contrariamente ao que era habitual na época e com

recursos próprios conceder empréstimos as

populações de baixa renda (mulheres) por forma

que estas conseguissem financiar os seus

pequenos negócios. Aghion e Morduch (2005)

escrevem que Yunus fê-lo por acreditar que

aquelas populações apesar de excluidas da

clientela dos bancos formais procederiam o

reembolso do empréstimo, aliás “elas são pobres

porque as instituições financeiras do país não

actuavam largamente em suas bases económicas”

(Prepelitchi, 2011;4).

3. Conceituando uma Instituição de Microfinanças

Considera-se Instituição de Microfinanças (IMF’s) à

todas aquelas que oferecem serviços de

microfinanças, isto é, prestam serviços financeiros

à camadas de baixa renda. Uma outra definição é

dada por Cassamo (2008;11) citando BM, que

considera IMF’s como “entidades singulares ou

colectivas que se dedicam, com carácter habitual e

profissional, à actividade de Microfinanças”. Uma

outra definição do conceito é-nos dada por Psico

(2010;15) que considera microfinanças como a “

(…) prestação por instituições financeiras rentáveis

sustentáveis, de serviços financeiros, envolvendo

montantes unitários reduzidos, às pessoas e

pequenas empresas formais e informais, de baixo

rendimento, que por esta razão estão excluídas ou

têm dificuldades de acesso ao sistema financeiro

tradicional

Chiumya (2006) argumenta que as IMF’s vêm

alargando o seu leque de actividades o que lhes

confere também a capacidade de diversificação

dos seus serviços. Se inicialmente as IMF’s apenas

dedicavam-se à oferta do microcrédito, hoje nota-

se por exemplo que algumas oferecem serviços de

captação de poupanças, microsseguros, entre

outros. É importante destacar que todas as IMF’s,

independentemente do estágio em que se

encontram ou de produtos que oferecem, possuem

um traço comum: providenciar produtos e/ou

serviços financeiros às camadas de baixa renda

excluídas pelas instituições financeiras tradicionais.

4. Do Microcrédito à Microfinança

O termo microcrédito refere-se a concessão de

pequenos montantes de empréstimo aos indivíduos

de baixa renda e não assalariados com pequenas

ou sem garantias. Há por chamar especial atenção

para o facto de empréstimos concedidos a

trabalhadores salariados geralmente não se

enquadrarem dentro da definição de microcrédito.

Por sua vez, microfinanças referem-se aos

microcréditos, captação de poupança,

microsseguros, transferências de valores

monetários, pagamento de serviços e outros cujo

grupo alvo são as camadas de baixa renda.

Aghion e Morduch (2005) apontam que, embora os

termos sejam geralmente usados como sinónimos,

possuem significados diferentes uma vez que o

microcrédito está dentro da microfinança.

5. Modelos IMF’s

As instituições de microfinanças organizam-se de

diversas formas de acordo com o objectivo

preconizado pelos seus gestores ou membros, por

exemplo. Esta diversidade na forma de

organização e actuação ajuda-nos a entender por

que é que algumas oferecem um leque

diversificado de serviços que outras; por que é que

umas operam sem um registo formal enquanto

outras são formais, por que é que umas

conseguem mobilizar vários clientes e outras não,

por que é que umas têm fins lucrativos e outras

apenas são movidas por objectivos meramente

filantrópicos entre outras questões.

Os modelos de IMF’s variam não só em termos de

serviços oferecidos, origem de fundos e grupo alvo

como também do ponto de vista da visão e missão

que a IMF’s pretende alcançar. Srivastava (2010)

faz uma síntese dos vários modelos de IMF’s e

destaca que todos eles existem como variante de

um único e diferem-se apenas pela sua estrutura e

função ou ainda pela combinação simultânea.

É apontado por Srivastava (2010) como o mais

antigo de todos os modelos de IMF’s. Caracteriza-

se pelo não envolvimento de outros elementos

para além do seu próprio mentor. Opera no sector

informal, a oferta dos seus serviços

microfinanceiros é feita em um espaço geográfico

muito limitado, não há exigência de colaterais em

empréstimos, e na maior parte das vezes os

contractos de concessão de créditos são firmados

verbalmente e os seus clientes são os mais

próximos.

As ROSCA’s (Rotating Savings and Cumulative

Associations) ou seja Associações de Crédito e

Poupança Rotativa (ACPR) são para

Srivastava(2010) um dos mais antigos e dos

populares modelos de microfinanças. Neste tipo de

modelos, grupos de indivíduos homogéneos com

capacidade financeira quase similar, na base de

confiança mútua acordam, conforme escrevem

Aghion e Morduch (2005) em providenciarem-se

serviços de microcrédito baseados num sistema

rotativo.

Portanto, os membros da instituição, que

geralmente é de carácter informal, formado por um

grupo de amigos, parentes, colegas de serviço

acordam em financiarem-se numa base de tempo

de regular e rotativo por um determinado valor

resultante de contribuições individuais dos

membros.

Em Moçambique, casos existem em que as

ROSCA’s mais evoluídas não só concedem

microcrédito mútuo em valores monetários como

ainda comprando, por exemplo, loiça, material de

construção ou outro tipo de bens para seus

membros de forma rotativa.

Dentre as vantagens deste tipo de modelos

podemos destacar, por exemplo, a sua longa

duração em termos do tempo de vida na medida

em que os membros fazendo parte de uma

relação fechada sentem incentivadas a nela

continuarem uma vez que os riscos são menores.

Em relação as desvantagem da ROSCA está a

impossibilidade desta captar recursos de não-

membros o que limita os montantes arrecadados e

posteriorimente distribuidos entre os seus

participantes; se os membros tiverem capacidade

financeira diferente prevalecerá o montante

conseguido pelo membro com menos capacidade

financeira e aliado a desvantagem anterior

constata-se que a ROSCA apesar de ser mais

coesa do ponto de vista das relações entre os seus

membros pode ser inconveniente para os membros

que precisam de montantes acima daqueles

contribuídos pela ROSCA.

É formada através de associação de elementos da

comunidade comprometidos por um objectivo

comum: captação de poupanças. A associação

pode ou não ter um corpo social formal o que a

torna diferente de uma ONG, na medida em que

esta última, por exemplo, é externa à comunidade

enquanto os membros da associação são

constituídos por elementos pertencentes à

comunidade

É um tipo de associação em que membros, a título

voluntário juntam-se por um objectivo comum quer

seja de concessão de microcrédito quer seja de

captação de poupança. Conforme ficou

demonstrado, as ROSCA’s são desvantajosas para

um certo grupo de membros pela limitação que

possuem na captação de poupanças e posterior

financiamento aos seus membros.

ASCA que são Associações Cumulativas de

Crédito e Poupança é a forma mais vulgar de uma

cooperativa de crédito é mais formalizada, segundo

escrevem Aghion e Morduch (2005), a principal

vantagem é que os poupadores nem sempre são

os que emprestadores e os montantes de

empréstimos podem variar de acordo com as

necessidades dos emprestadores. Acredita-se que

actualmente as cooperativas de crédito são a

forma mais comummente usada em IMF’s.

Contrariamente as ROSCAS, as

cooperativas de crédito mobilizam poupanças nas

comunidades em que se encontram e canalizam

para os que delas precisam para investirem ou

consumir. Em cooperativas de crédito, um membro

não precisa de esperar pela sua vez para receber o

crédito e muito menos contribuir para receber

posteriormente; os cooperativistas quer

poupadores quer emprestadores são todos

“stakeholders” da IMF’s.

As taxas de juros prevalecentes, os montantes

máximos e mínimos, as modalidades de

distribuição dos rendimentos líquidos, os estatutos

da cooperativa são democraticamente decididos

entre os membros na base de votação.

É uma associação formal, democrática e sem fins

lucrativos que funciona tal como as cooperativas

focalizada para actividade financeira. Assemelha-

se as ROSCA’s pelo facto de seus membros

congregarem regularmente as suas poupanças

nela e difere-se das ROSCA’s uma vez que as

poupanças captadas podem ser concedidas a um

do membros integrantes com taxas de juros

simbólicas para cobrir as despesas operacionais

decorrentes das actividades da instituição. Os

membros de união de crédito podem acordar ainda

em prestação de interajuda em cerimónias de

carácter familiar, comunitárias, sociais, entre

outras. Cada elemento da associação tem direito

de voto e a liderança da união é de base rotativa,

cabendo aos membros da união decidirem se esta

é remunerada ou não. Uma das vantagens deste

tipo de IMF’s é que dá não só a possibilidade de

acumular poupança aos seus membros como

também de conceder crédito embora não haja

nenhuma obrigação de conceder empréstimo aos

poupadores.

São bancos comunitários formados com base em

associações que lidam com serviços

microfinanceiros tais como crédito e poupança.

Geralmente estas associações são formadas por

um grupo de indivíduos de renda baixa que varia

de 25-50 (Srivastava,2010). Os recursos

financeiros movimentados pelos bancos rurais

tanto podem ser próprios como de fontes externas

ao banco. Os corpos sociais do banco são eleitos

democraticamente e a responsabilidade da gestão

da instituição é colectiva. Já os Bancos

Comunitários, são um modelo em que uma

comunidade inteira junta-se em uma única e

serviços de microfinanças são providenciados

através de instituições formais e informais

estabelecidas com ajuda de ONG’s ou

organizações baseadas na própria comunidade

que oferecem serviços de treinamento aos

membros da comunidade para operarem como

banco. O modelo de bancos comunitários pode

conter elementos de captação de poupança e

microfinancas e geralmente isto promove um

programa de desenvolvimento comunitário

alargado através da actividade financeira.

POR: MATEUS ALBERTO MANJATE

por mateusmanjate às 23:17

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3 comentários

De João Sá a 17.10.2012 às 06:42


Olá :)

Este post está em destaque Na Rede na


homepage do SAPO Moçambique
( http://sapo.mz )

Poderá sempre ver o histórico dos destaques


na homepage dos Blogs:
http://blogs.sapo.mz/ .

link do comentário responder

De Anónimo a 27.07.2020 às 14:52


Parabéns Mateus pelo poster. Força

link do comentário responder discussão

De Cristina da Silva Ribeiro a


04.01.2022 às 18:09
Agradeço pelo trabalho aprende
muit com esta grande abordagem da
Micro Finanças isso me ajudou
bastante nas minhas Pesquisas e
leituras agradeço pelo Apoio desse
grande Autor

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