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TIPO DE PROVA: 2.

º Mini-Teste/Exame DATA: 30/01/2023


ANO LETIVO: 2022/2023 1.º SEMESTRE
1.º CICLO EM DIREITO
UNIDADE CURRICULAR: DIREITO COMERCIAL
Duração da prova: EXAME: 120 MINUTOS (15 minutos de tolerância)
Mini-teste: 90 MINUTOS (15 minutos de tolerância)

OS ALUNOS QUE FAZEM MINI TESTE APENAS RESPONDEM AO GRUPO II

LIMITE MÁXIMO: 2 FOLHAS

GRUPO I

Anabela, casada no regime de comunhão de adquiridos com Ricardo, para


equipar o hotel de charme que viria a abrir na Régua em 17 de dezembro de 2019,
comprou à sociedade Gonçalves e Martins, Lda., mobiliário no valor de
€ 120.000,00, que não chegou a pagar. Na mesma data, comprou numa grande
superfície um computador para oferecer à sobrinha Sara, estudante de Direito da
Universidade Portucalense, que também não pagou.
Em 26 de janeiro de 2023, comprou à sociedade Prados Verdes, S.A.,
proprietária de várias quintas, garrafas de vinho para comercializar no bar do hotel.

Fundamentando a sua resposta, aprecie TODAS as questões relevantes (5


valores)

Qualificação dos sujeitos

Anabela – é comerciante – art. 13.º, n.º 1 e art. 230.º, n.º 2 do CCom por analogia.
Referência aos demais requisitos da qualificação como comerciante: capacidade de
exercício, prática de atos de comércio objetivos, profissionalidade, em nome próprio.

IMP.GE.92.0
Gonçalves e Martins, Lda. – é comerciante – art. 13.º, n.º 2 do CCom e art. 230.º, n.º
1 ou art. 463.º do CCom, conjugado com o art. 1.º, n.º 2 do CSC.

Prados Verdes, S.A. – atividade não é mercantil, com fundamento nos arts. 230.º, § 1
e § 2 e 464.º, n.º 2 do CCom – Coutinho de Abreu. Na medida em que está sujeita a
empresarialização, a atividade pode ser considerada mercantil – Cassiano dos Santos.

(1 v)

Qualificação dos atos

Contrato de compra e venda do mobiliário


Venda – ato de comércio objetivo implícito, no caso de ser produtor – art. 230.º, n.º 1
do CCom. Ou ato de comércio objetivo – art. 463.º, n.º 3 do CCom.
Compra – ato de comércio objetivo implícito – art. 230.º, n.º 2 do CCom.
Ato de comércio causal, substancialmente comercial, autónomo e bilateral.

Contrato de compra e venda do computador


Venda – ato de comércio objetivo – art. 463.º, n.º 3 do CCom.
Compra – ato civil – art. 464.º, n.º 1 do CCom.
Ato de comércio causal, substancialmente comercial, autónomo e unilateral.

Contrato de compra e venda das garrafas de vinho


Venda – ato de comércio objetivo implícito (ato praticado no quadro da empresa) –
Cassiano dos Santos – art. 230.º, n.º 1 do CCom. Ou venda civil de acordo com o art. 464.º, n.º
2 do CCom – Coutinho de Abreu.

Compra – ato de comércio implícito – art. 230.º n.º 2 do CCom.

Ato de comércio causal, substancialmente comercial, autónomo e bilateral – Cassiano


dos Santos. Ato de comércio unilateral – Coutinho de Abreu.

(2 v)

IMP.GE.92.0
Consequências do não pagamento

Responsabilidade do cônjuge
Comunicabilidade das dívidas comerciais – art. 1691.º, n.º 1 alínea d) do CCiv.
Responsabilidade dos bens comuns do casal e subsidiariamente dos bens próprios –
art. 1695.º do CCiv.
Presunção resultante do art. 15.º do CCom.
Ricardo pode tentar ilidir as presunções, demonstrando que a dívida não foi contraída
no exercício do comércio (art. 15.º do CCom) ou que não existiu proveito comum do casal (art.
1691.º, n.º 1, alínea d) do CCiv).

Dívida relativa à compra e venda do mobiliário


Prazo ordinário da prescrição – art. 309.º do CCiv – 20 anos.

Taxa de juros moratórios:


O Decreto-Lei n.º 62/2013, de 10/05 transpôs para a ordem jurídica nacional a Diretiva
n.º 2011/7/UE, do Parlamento Europeu e do Conselho, de 16 de fevereiro de 2011, que
estabelece medidas contra os atrasos de pagamento nas transações comerciais – art. 1.º.
Este diploma aplica-se a todos os pagamentos efetuados como remuneração de
transacções comerciais – art. 2.º.
Estes atos de comércio são transacções comerciais - art. 3.º, al. b) do Decreto-Lei n.º
62/2013 – são empresa para efeitos do art. 3.º, al. d) do Decreto-Lei n.º 62/2013.
Atraso de pagamento para efeitos do art. 3.º, al. a) do Decreto-Lei n.º 62/2013.
Taxa de juros moratórios: art. 102.º, § 5 do CCom.
Taxa de 10,5% - Aviso n.º 1672/2023, de 25 de Janeiro - 1.º Semestre de 2023.

Dívida relativa à compra e venda do computador


Prescrição presuntiva – art. 317.º al. b) do CCiv – 2 anos.
Taxa de juros moratórios: art. 102.º, § 3 do CCom.
Taxa de 9,5% - Aviso n.º 1672/2023, de 25 de Janeiro - 1.º Semestre de 2023.

(2 v)

IMP.GE.92.0
GRUPO II
Luísa, que explorava há mais de uma década o Tapas & Tapas, instalado num
imóvel arrendado a Luís, na Baixa Portuense, decide, numa crise de identidade, partir
para o Tibete. Com o intuito de manter o Tapas & Tapas em funcionamento, decide
permitir, no dia 6 de setembro, que Mónica explore o restaurante por um período de
dois anos, mediante o pagamento de uma quantia mensal. Na azáfama de viajar,
esqueceu-se de informar Luís.
Mónica, porém, no dia 8 de outubro, apresentou-se a Luís, como sendo a nova
arrendatária do imóvel onde está instalado o restaurante, tendo solicitado autorização
para realizar umas pequenas obras, pedido que Luís atendeu.

Contrato de locação de estabelecimento comercial (art. 1109.º do CC): noção,


caracterização e notas típicas que justificam a qualificação.

Necessidade de comunicação desse ato no prazo de um mês ao senhorio (art. 1109.º,


n.º 2 do CC) – sob pena de ser ineficaz, nos termos do art. 1083.º, n.º 2 , al. e) do CC.

Forma do contrato (art. 1112.º, n.º 3, 1.ª parte, sob pena de nulidade (art. 220.º do CC),
aplicável com as necessárias adaptações).

Quanto ao contrato de arrendamento para fins não habitacionais: não é necessário o


consentimento do senhorio para efeitos de locação de estabelecimento, se forem observados
os requisitos do art.1109.º e do art. 1112.º, n.ºs 2 e 3 do CC.

Breve referência ao âmbito mínimo - o estabelecimento deve ser entregue com os


elementos que comportam o seu âmbito mínimo e ao âmbito natural e convencional - meios
necessários para transmitir em concreto um estabelecimento.

O senhorio não pode resolver o contrato de arrendamento, nos termos do art.


1083.º, n.º 2, al. e) do CC, por violação do dever do art. 1109.º, n.º 2 do CC, porque
reconheceu o beneficiário da cedência como tal ao autorizar as obras - art. 1049.º do CC).

IMP.GE.92.0
(3 v)

Tapas & Tapas – Logótipo – art. 281.º do CPI.

(0,25 v)

Mónica, cerca de 5 meses depois, encantada com o negócio, decidiu abrir um


restaurante Tasquinha das Tapas, na Baixa Portuense.

O locatário, na vigência do contrato de locação não pode iniciar o exercício de uma


atividade concorrente com a exercida através da empresa locado no espaço delimitado pelo
raio de ação desta, sem o consentimento do locador.

Este comportamento provocaria uma diminuição do valor do estabelecimento locado -


violação do "dever de manutenção e restituição da coisa" a cargo do locatário (art. 1043.º do
CCiv.)

(2 v)

Tasquinha das Tapas – Logótipo – art. 281.º do CPI.

(0,25 v)

Destaca-se a identidade dos logótipos Tapas & Tapas e Tasquinha das Tapas – que
justificava a rejeição do registo do último, sob pena de anulação, nos termos do art. 289.º, n.º 1,
al. a) e art. 297.º do CPI.

(1 v)

Mónica, com o intuito de ultrapassar as dificuldades financeiras que a abertura


da Tasquinha das Tapas lhe provocou, decidiu estabelecer uma parceria com Rita,
sua amiga, através da qual Rita se comprometeu a entregar €10.000,00 durante dois

IMP.GE.92.0
anos para aquisição de mercadorias e Mónica se obrigou a partilhar os lucros com
Rita. Mónica, porém, apaixonada por Pedro, deixou de abrir regularmente o
restaurante e deixou de comprar todos os dias os produtos frescos, para ter tempo
para fazer surf com o Pedro em Peniche.

Qualificação do contrato celebrado entre Mónica e Rita como um contrato de


associação em participação, regulado pelo Decreto-Lei n.º 231/81 – não carece de forma, nos
termos do art. 23.º.

Identificação dos deveres de Mónica e enquadramento das perturbações no seu


cumprimento.

Em particular, o dever de distribuir lucros de acordo com o art. 25.º/3, II parte; o dever
de diligência previsto no art. 26.º/1.

Identificação dos meios de defesa de Rita, quanto ao incumprimento e quanto aos


lucros.

Em particular, a indemnização por incumprimento (art. 798.º do CC); a resolução com


justa causa e respetiva indemnização (art. 30.º/1 e 2).

(3 v)

Pedro, entretanto, juntou dinheiro para começar a produzir pranchas de surf,


tendo registado para a prancha de surf a marca Berg.

Berg é uma marca notória (art. 234.º do CPI).

A proteção conferida no art. 234.º, n.º 1, do Código da Propriedade Industrial, é


limitada pelo princípio da especialidade, pelo que só impede o registo de marcas iguais ou
semelhantes que se destinem a identificar produtos idênticos ou afins, o que seria o caso.

IMP.GE.92.0
Sendo também que a notoriedade da marca (que haveria de ser efetivamente
invocada) tem, em regra, “que ser demonstrada por quem a invoque, podendo,
nomeadamente, para este efeito ser apresentadas imagens, estudos de mercado, evidências
do volume de vendas, da posição alcançada no mercado, da publicidade de que o sinal tenha
sido objeto e decisões judiciais em que ao mesmo já tenha sido reconhecida notoriedade.” –
vd. Código da Propriedade Industrial, Anotado, com a coordenação geral de António Campinos
e a coordenação científica de Luis Couto Gonçalves, 2010, pág. 468.

A notoriedade da marca anterior aumenta a suscetibilidade de erro por parte do


público, que mais facilmente ligará a nova marca com o sinal pré-existente.

A marca notória ou de renome é aquela que se tornou geralmente conhecida por todos
aqueles, produtores, comerciantes ou eventuais consumidores, que estão em contacto com o
produto, e como tal reconhecida. Trata-se de uma marca especialmente afamada, a tal ponto
de, por vezes, se confundir com o próprio produto.

Contudo, o risco de confusão deverá ser analisado atendendo à capacidade distintiva


dos sinais em causa. Um sinal forte, com grande capacidade distintiva tem todas as condições
para perdurar na memória dos consumidores de uma forma mais eficaz e duradoura do que um
sinal denominado de fraco

(Acórdão do Tribunal da Relação de Lisboa de 15.05.2012, proc. n.º


885/05.4TYLSB.L1-7).

Foi aceite a referência à marca de prestigio, prevista no art. 235.º do CPI, desde que,
justificado.
(2,5 v)

Pedro, para pagamento de maquinaria para a fábrica, aceitou uma letra


sacada por António a favor deste. António, depois de o preencher, endossou o título
a Daniel, que o endossou, com a cláusula sem responsabilidade, a Marta, que, por
sua vez, a endossou a Tomás. Pedro, sendo demandado por Tomás, opõe-lhe o
facto de António ter preenchido a letra com o valor de € 10.000,00 quando no pacto

IMP.GE.92.0
de preenchimento constava € 7.500,00 e Daniel, sendo demandado por Tomás,
refere que não tem obrigação de pagar a letra.

No domínio cambiário vigoram os princípios:


− da literalidade - obrigação cambiária vale nos termos e com o exato sentido que
resulta do texto da letra do título;
− da abstração, segundo o qual, a letra ou a livrança é independente da obrigação
subjacente ou da causa do débito, não sendo, por isso, afetada por quaisquer exceções que
poderiam ser invocadas com base em vicissitudes da relação subjacente - art. 17.º da LULL;
− da independência recíproca das várias obrigações contidas no título, cuja nulidade
não é comunicável, ou seja, as várias obrigações cambiárias são, quanto à sua subsistência,
independentes umas das outras - art. 7.º da LULL;
− da autonomia, segundo o qual o portador tem o direito do credor originário, isto é,
independentemente da titularidade do seu antecessor e dos possíveis vícios dessa titularidade
– arts. 16.º e 17.º da LULL;
− da incorporação, segundo o qual a detenção do título é indispensável para o
exercício e a transmissão do direito nele mencionado.

Legitimação ativa
− A posse do título legitima o portador para exercer ou transmitir o direito;
− A posse da letra é condição indispensável para o exercício do direito nela
mencionado e que este é exercido nos termos dela constantes: é o portador da letra que a
pode apresentar ao sacado para aceite (art. 21.º da LULL) e para pagamento (art. 38.º da
LULL).

Legitimação passiva
O devedor desonera-se validamente da sua obrigação, se a cumprir perante o portador
legítimo do título, sem ter de averiguar se é o verdadeiro titular. Apenas tem de verificar a
regularidade da sucessão dos endossos (art. 40.º da LULL).

(0,5 v)

Pedro não podia opor a violação do pacto de preenchimento - art. 10.º da LULL.

IMP.GE.92.0
O endosso de Daniel a Marta com a cláusula sem responsabilidade exonera Daniel do
pagamento relativamente Marta e aos endossados posteriores, onde se inclui Tomás.

(2 v)

O sacador, aceitante e endossantes de uma letra são todos solidariamente


responsáveis para com o portador – art. 47.º da LULL.

Obrigam-se solidariamente, embora a obrigação dos demais subscritores (que não o


aceitante) seja apenas de garantia – art. 47.º da LULL.

Assim, o sacador, emitente da letra obriga-se perante o tomador e os sucessivos


endossados a pagar a letra caso o sacado não a aceite ou se este a aceitar, mas não a pagar –
art. 9.º da LULL.

Também cada um dos endossantes promete ao seu endossado e aos posteriores


endossados que a letra será aceite e paga pelo sacado - obrigando-se a pagar se este não o
fizer: art. 15.º da LULL – com excepção de Daniel.

(0,5 v)

Fundamentando a sua resposta, aprecie TODAS as questões relevantes (15


valores)

IMP.GE.92.0

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