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A é o único sócio e gerente da “Lua na Valeta – Unipessoal, Lda”, que explora dois
restaurantes em Lisboa, estando um instalado numa loja de rua, arrendada, na Av. da Liberdade,
e outro numa loja no 3.º Piso do Centro Comercial Colombo, ambos com a denominação
comercial “O Cabrito transmontano”, frase que compõe um logótipo registado.
Em junho de 2015, a sociedade celebrou com C ― produtor de vinhos do Douro com a
maior quota de mercado nacional de vinho branco e amigo de infância da A ― um acordo pelo
qual se vinculava a adquirir-lhe anualmente um mínimo de 20.000 garrafas de vinho branco da
marca “Touro sentado”, ao preço unitário de 4€, para consumo no restaurante e revenda aos
retalhistas de restauração na região de Lisboa e Vale do Tejo, bem como à divulgação, na mesma
região, das marcas de vinho tinto de C, organizado regularmente provas junto de potenciais
clientes empresariais e recebendo e encaminhando notas de encomenda.
O acordo foi celebrado durante uma viagem turística de barco de subida do Douro,
tendo C prometido a A, durante a conversa que mantiveram, que a sua sociedade não teria
concorrência na região de Lisboa e Vale do Tejo quanto à marca “Touro sentado”.
Até 2018, as atividades da sociedade na negociação com os vinhos de C correram muito
bem, tendo os vinhos alcançado um significativo aumento de vendas na restauração de Lisboa.
Em 2020, em resultado de várias limitações impostas pelo governo à atividade de
restauração e da consequente pouca liquidez gerada, a sociedade não conseguiu cumprir a
quantidade mínima da compra do “Touro sentado”, além do que não conseguiu cumprir todas
as obrigações relativas aos vinhos tintos, tendo recebido pouquíssimas encomendas.
C faleceu em dezembro de 2020; a partir de abril de 2021, os seus herdeiros começaram
a vender o “Touro sentado” diretamente a clientes de restauração em Lisboa. Em setembro de
2021, os herdeiros comunicaram à sociedade o termo do acordo, com efeitos imediatos,
alegando incumprimento das obrigações assumidas.
A replicou que nada pudera fazer quanto à diminuição do volume de negócios, exigindo,
aliás, o pagamento de uma parte do preço dos vinhos vendidos diretamente pelos herdeiros em
Lisboa.
Desanimado, A, agindo como gerente da sociedade, vendeu a D os negócios de
restauração da mesma, não obstante da transmissão ter sido excluído o logótipo. O contrato foi
comunicado por D aos proprietários das lojas 18 dias depois da celebração. Ao receberem as
cartas, os dois proprietários comunicaram à sociedade a resolução dos contratos por
incumprimento culposo da mesma quanto à cedência do gozo dos imóveis a terceiros.
António decide abrir uma loja de vestuário, à qual chamou “A Melhor Indumentária de Lisboa”, no
prédio de Baltazar, em São Sebastião. Na mesma possuía um abastecimento desejável de vestuário
e de malas.
Dado seu o estrondoso sucesso, António pretende melhorar as instalações da sua loja, comprando
novos equipamentos. Com o objetivo de contrair um empréstimo, abordou o Banco Tudo
Empresta, S.A., que o questionou sobre as garantias que poderia oferecer, para a cobertura das
obrigações de reembolso do financiamento e de pagamento dos juros.
António, após muita reflexão, ponderou oferecer a própria loja em garantia. Porém, por lhe parecer
uma ideia pouco ortodoxa, decidiu antes pedir ajuda ao seu amigo João, na qualidade de fiador.
Carolina, mulher de António, tinha dúvidas sobre este empreendimento.
A Melhor Indumentária de Lisboa continuou a ser muito bem-sucedida, tanto que António decidiu
reformar-se e viajar com Carolina para as Caraíbas. Eduardo, quando soube que A Melhor
Indumentária de Lisboa se encontrava à venda, decidiu aproveitar a oportunidade e adquirir o
estabelecimento. Sempre quis ter uma loja de banda desenhada e iria aproveitar o espaço de
António para o efeito. Baltazar, completamente alheio à existência de um novo arrendatário, fica
muito zangado.
Para melhorar as vendas do seu novo estabelecimento, Eduardo contrata Gustavo para promover
a venda dos seus produtos na área metropolitana de Lisboa.
Gustavo, por sua vez, devido ao facto de Eduardo nunca lhe ter pago no dia convencionado, envia-
lhe uma carta a resolver o contrato.
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1. Poderia António oferecer A Melhor Indumentária de Lisboa em garantia? [3 valores]
Discutir, a qualificar-se a loja como um estabelecimento comercial, se era ou não um objecto passível de penhor.
A favor, argumentar-se-ia que quem pode o mais (trespasse, enquanto transmissão definitiva do
estabelecimento), pode o menos (oneração com escopo de garantia). Adicionalmente, este penhor, sendo um
penhor comercial, admite um desapossamento meramente simbólico (artigo 397.º + artigo 398.º, § único) e
sendo um penhor em benefício de instituição de crédito, dispensa o desapossamento (Decreto n.º 29833 de 17
de Agosto). A favor da admissibilidade do penhor de estabelecimento depõe ainda a admissibilidade de penhor
do EIRL (artigo 21.º, n.º 1, do respetivo regime jurídico), assim como a possibilidade de penhora de
estabelecimento (artigo 782.º CPC).
Dever-se-ia acrescentar que a possibilidade de outros negócios em que o estabelecimento é tratado como
realidade unitária depõe a favor da possibilidade de, através uma única declaração negocial, empenhar o
estabelecimento. Aplicar-se-ia por último a possibilidade de continuação do funcionamento normal do
estabelecimento, sob gestão do potencial autor do penhor, nos termos dos artigos 1.º, § 1, Decreto n.º 29833
de 17 de Agosto (e artigo 782.º, n.º 2 CPC).
2. Perante o incumprimento da obrigação de reembolso do financiamento por parte de
António, poderia a Banco Tudo Empresta, S.A. demandar judicialmente Carolina e João? [5
valores]
Ponderação da qualificação de António como comerciante à luz dos requisitos do artigo 13.º, n.º 1 do CCom
(“pessoas, que, tendo capacidade para praticar actos de comércio, fazem deste profissão”). No tocante à prática
de atos de comércio por parte de António, seria de referir a provável existência de compra de vestuário e
acessórios para revenda em estabelecimento comercial (cfr. artigo 463.º, n.º 3 do CCom). Dada a ausência de
elementos em sentido contrário no enunciado, presumir, devidamente densificando, que os demais requisitos se
encontram preenchidos.
A concluir-se pela positiva, no tocante a Carolina, ponderação da aplicação do regime constante do artigo 15.º
do CCom, em articulação com o disposto no artigo 1691.º, n.º 1, alínea d) do Código Civil.
Quanto a João, enunciação do disposto no artigo 101.º do CCom, e concretização in casu do conceito de
“obrigação mercantil” (considerando que o objetivo do empréstimo seria a melhoria das instalações da loja).
Caracterização da obrigação de reembolso como obrigação “solidária” considerando a inexistência do benefício
da excussão prévia previsto no regime civil (artigo 638.º do CC) por aplicação do regime do artigo 101.º do
C.Com.
02
3. Poderia António transmitir a sua posição de arrendatário a Eduardo nos termos em que o
fez? Adicionalmente, qual o alcance, segundo o regime jurídico aplicável, de Eduardo
transformar a loja de António numa loja de banda desenhada? [6 valores]
Quanto à 1.ª questão: (i) ponderação da existência de trespasse de estabelecimento comercial, (ii) destacar a
necessidade de comunicação ao senhorio da transmissão da posição de arrendatário (cfr. artigo 1112.º, n.º 3
do Código Civil), e (iii) enunciar que, por o estabelecimento ter sido transmitido através de contrato de compra
e venda, o senhorio teria direito de preferência sobre o mesmo (cfr. artigo 1112.º, n.º 4 do Código Civil).
Enunciar as consequências da ausência de comunicação ao senhorio, nomeadamente, a possibilidade de resolver
o contrato (cfr. artigo 1083.º, n. º2, alínea e) do Código Civil).
Quanto à 2.ª questão: análise da transformação da loja à luz do disposto no artigo 1112.º, n.º 2, alínea b)
e 1112.º, n.º 5 do Código Civil, delimitando o âmbito das respetivas normas. Considerar, para estes efeitos,
no tocante ao momento de transformação, que no enunciado se lê que Eduardo sempre pretendeu transformar
A Melhor Indumentária de Lisboa numa loja de banda desenhada.
O senhorio poderia, perante a transformação do estabelecimento, resolver o contrato (articular devidamente o
disposto nos artigos 1112.º, n. º2, alínea b), 1083.º, n. º2, alínea e) e 1112.º, n. º 5 do Código Civil,
consoante a interpretação que seja feita do enunciado).
4. Gustavo teria fundamento para resolver o contrato? [3 valores]
Identificação do contrato em causa como contrato de agência e enunciação das suas principais características
(cfr. artigo 1.º do Decreto-Lei n.º 178/86 de 3 de julho – “RJCA”).
Analisar o regime da resolução do contrato (artigos 30.º e 31.º do RJCA): (i) resolução enquanto modalidade
de cessação dos contratos motivada e (ii) que tem de observar a forma escrita (artigo 31.º do RJCA).
Considerar se o pagamento em atraso, não se tratando de uma total ausência de pagamento de retribuição, se
afigurava fundamento bastante para resolver o contrato, à luz do artigo 30.º, alínea a) do RJCA
(densificação).
03
medida em que estamos perante a insolvência de uma pessoa singular. Seria de concluir pela possibilidade de
os credores de Eduardo iniciarem um processo de insolvência.
Referência ao regime geral do artigo 18.º, n.º 1 do CIRE, com a circunscrição de tal obrigação às pessoas
referidas nos n.ºs 2 e 3. Em concreto, Eduardo era titular de uma empresa na aceção do artigo 5.º do CIRE
e por isso estaria abrangido por tal obrigação. Em todo o caso, nunca poderia ocorrer a qualificação da
insolvência como culposa dado que esta se aplica a pessoas coletivas (artigo 186.º n.º 2 e n.º 3 do CIRE).
Seria valorizada a enunciação do tema da graduação de créditos, em particular, a qualificação do crédito dos
fornecedores como crédito comum (artigos 47.º, n.º 4, alínea c) e 176.º do CIRE), a ser graduado após os
créditos dos trabalhadores (crédito privilegiado, nos termos do artigo 333.º, n.º 1 do Código de Trabalho, do
artigo 47.º, número 4, alínea a) e do artigo 175.º, ambos do CIRE).
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Direito Comercial I -Turma B
Exame de Recurso
Regência: Professor Doutor LUÍS MANUEL MENEZES LEITÃO
15.02.2022 | 120 minutos
António, reputado consultor financeiro, desistiu, no ano de 2016, da sua promissora carreira na
Avaliamos Tudo e aventurou-se na venda de produtos acessórios para a prática de atividade
desportiva em ginásio. Para tanto, celebrou um acordo com a Ténis, Pesos e Batidos, S.A.,
detentora da marca “Tudo é Desporto”, a coberto do qual se comprometeu a: i) a comprar à Ténis,
Pesos e Batidos, S.A., para revender no seu estabelecimento, 100 pares de ténis, 50 packs de
pesos e 150 caixas de batidos por mês; ii) os produtos vendidos no estabelecimento de António,
localizado no Campo Grande, deveriam sê-lo sob a marca “Tudo é Desporto”; iii) a organização do
estabelecimento, o tratamento e a publicidade dos produtos devia seguir, escrupulosamente, o
Manual de Boas Práticas da Ténis, Pesos e Batidos, S.A.; iv) o acordo encetado vigoraria por 7
anos; v) durante esse período, apenas António tinha direito, na zona do Campo Grande, a
comercializar os produtos com a marca “Tudo é Desporto”.
Acontece que, com as medidas restritivas aplicadas pelo Governo no contexto do combate à
pandemia Covid-19, com um grande impacto no funcionamento dos ginásios, António foi
perdendo, aos poucos, o seu público-alvo: o desporto passou a ser praticado, maioritariamente, ao
ar livre, tendo o estabelecimento de António sofrido uma quebra abruta nas receitas. Este
circunstancialismo levou António, em março de 2021, a ligar a Bernardo, responsável pelos
recursos humanos da Ténis, Pesos e Batidos, S.A., com vista a colocar termo imediato ao
contrato que haviam celebrado. Para lá de ter comunicado que pretendia a cessação imediata do
contrato, António limitou-se a frisar que não iria abdicar de se ver compensado pelos inúmeros
clientes que angariou para os produtos da marca “Tudo é Desporto” e que permitiram que esta se
consolidasse junto dos mais novatos que povoam a Cidade Universitária.
Depois de se desenvencilhar dos materiais desportivos, António decidiu abrir, em conjunto com
Carlos e Diana, amigos de longa data, um restaurante vegan, tendo, para tanto, constituído a Aqui
tudo é Saudável e Sustentável, Lda. Qual não é a surpresa de Elsa quando descobre que Carlos
também participava neste projeto: afinal, tinha-lhe comprado, semanas antes, um snack-bar vegan,
que era «cópia chapada» do restaurante que Carlos estava agora a abrir com os seus amigos, ainda
para mais no mesmo quarteirão!
- O contrato celebrado entre António e a Ténis, Pesos e Batidos, S.A. reconduz-se, pelos indícios constantes do caso
prático, ao contrato de concessão. Impunha-se, pois, a densificação do conceito de contrato de concessão, bem como a
enunciação das vantagens e interesse no recurso a esta figura pelos agentes económicos.
- Em concreto, deveriam ser indicados os seguintes indícios constantes do caso prático, que possibilitavam a
qualificação do acordo como contrato de concessão: i) António, concessionário, obrigava-se a comprar para revender
o produto da Ténis, Pesos e Batidos, S.A., concedente; ii) António, concessionário, utiliza a marca “Tudo é
Desporto”, que pertence à Ténis, Pesos e Batidos, S.A., concedente; iii) António atua, na venda dos produtos, em
nome próprio; iv) António integrava-se na rede da Ténis, Pesos e Batidos, S.A., pois encontrava-se adstrito a
observar as regras contidas no Manual de Boas Práticas da Ténis, Pesos e Batidos, S.A. no respeitante à organização
do estabelecimento, tratamento e publicidade dos produtos que vendia; v) foi acordada uma reserva territorial em
favor de António na zona do Campo Grande, o que permitia que, nessa zona, apenas António pudesse vender os
produtos com a marca “Tudo é Desporto”.
- Alusão à posição da jurisprudência e da doutrina relativamente à tendencial aplicação analógica das soluções de
regime previstas no Decreto-Lei n.º 178/86, de 03.07 (RJA) ao contrato de concessão comercial, em especial no
respeitante à cessação do contrato, devendo indicar-se os vários argumentos que são convocados para essa aplicação.
- Nesta sequência, seria de ponderar a aplicação, ao caso, do regime previsto no art. 33.º RJA, sendo valorizada a
alusão, a este propósito, ao Ac. do STJ n.º 6/2019 (Uniformização de Jurisprudência). A indemnização de clientela
é devida se preenchidos os requisitos previstos nos n.ºs 1, 3 e 4 do art. 33.º RJA. Em face dos dados da hipótese,
importava decidir, por um lado, se António tinha fundamento para fazer cessar o contrato e, por outro, se a declaração
de cessação do contrato era eficaz.
- Seria de afastar a suscetibilidade de ser exercido o poder de denúncia do contrato, uma vez que o contrato foi
celebrado por prazo determinado (vide artigo 28.º do RJA). Diferentemente, seria defensável o acionamento do poder
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de resolução do contrato em linha com a alínea b) do art. 30.º do RJA. Neste contexto, seria valorizada a menção
às hipóteses que a Doutrina tem vindo a enquadrar no conceito de «justa causa objetiva», para efeitos de resolução
do contrato, parecendo a hipótese prevista no caso prático integrar-se no elenco de fundamentos admissíveis.
- Desenvolvimento do ponto respeitante ao incumprimento dos requisitos da declaração resolutória previstos no artigo
31.º do RJA (in casu, declaração resolutória não fundamentada e sem observância de forma escrita), devendo o
avaliando discutir a aplicabilidade analógica do referido preceito ao contrato de concessão comercial e, bem assim,
elencar as razões materiais que justificam estas exigências e aprofundar as repercussões que a sua inobservância gera
para a eficácia da declaração resolutória e, por conseguinte, para o preenchimento do requisito da indemnização de
clientela atinente à «cessação do contrato».
3. Elsa tem margem para reagir à abertura do restaurante vegan de António, Carlos e Diana?
[6 valores]
- O avaliando devia principiar pela caracterização do negócio celebrado entre Carlos e Elsa: transmissão definitiva
do direito de propriedade sobre estabelecimento comercial (in casu, do snack bar vegan) – trespasse (densificação do
conceito).
- Não decorrendo do caso prático que Carlos e Elsa tenham convencionado algo a esse respeito, era exigível o
desenvolvimento do debate sobre a previsão implícita de cláusula de proibição de concorrência que vincula o
trespassante, com o aprofundamento dos vários fundamentos convocados por quem defende uma e outra posição.
- Assumindo-se que existe uma obrigação de não concorrência, o avaliando devia densificar os vários limites que se
lhe impõem. A este propósito, deveria ser problematizada a relevância de Elsa ter adquirido a Carlos um snack bar
vegan (e não um restaurante), em articulação com o denominado «limite objetivo» da obrigação implícita de não
concorrência.
- Era ainda exigível o aprofundamento dos contornos dos pedidos que podem acompanhar a alegação de
incumprimento da obrigação implícita de não concorrência, como sejam a atribuição de indemnização e o encerramento
do estabelecimento concorrente.
- Seria valorizada a discussão em torno da relevância de Carlos ter iniciado a nova atividade (concorrente) através
de uma estrutura societária.
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4. Suponha que o restaurante vegan aberto por António, Carlos e Diana, não conseguiu
superar a concorrência do snack bar de Eva, que manteve o monopólio de comida saudável
no bairro. Suponha ainda que, em virtude dessa situação, a Aqui tudo é Saudável e
Sustentável, Lda. viu-se impossibilitada de pagar aos fornecedores e está em falha, há 10
meses, com o pagamento de impostos. A isto acresce que Diana pretende «ir à sua vida» e
planeia requerer a declaração de insolvência da Aqui tudo é Saudável e Sustentável,
Lda., recorrendo, para o efeito, ao crédito por suprimentos que alega ter. Pode fazê-lo?
[3,5 valores]
- Enquadramento do problema no seio do Direito da Insolvência, com a enunciação dos traços distintivos e
finalidades do processo.
- Análise dos pressupostos da declaração de insolvência – análise da legitimidade passiva (artigo 2.º, n.º 1,
alínea a) do CIRE);
- Análise dos pressupostos da declaração de insolvência (continuação) – análise da legitimidade ativa:
tratando-se de um pedido efetuado por credor, alusão ao artigo 20.º, n.º 1, alínea g), subalínea i), do CIRE;
seria valorizada a ponderação referente à aplicabilidade, in casu, de outros factos-índices listados no número
1 do artigo 20.º do CIRE. Menção à necessidade de ser observado o disposto no artigo 25.º, número 1 do
CIRE. Seria valorizado o desenvolvimento do ponto atinente à legitimidade do credor por suprimentos para
requerer a declaração de insolvência, confrontando a solução normativa resultante do número 1 do artigo 20.º
do CIRE com o disposto no n.º 2 do artigo 245.º do CSC. Por fim, exigia-se ainda, em face dos dados da
hipótese, a ponderação da eventual aplicabilidade do dever de apresentação à insolvência previsto no n.º 1 do
artigo 18.º do CIRE, acompanhada da menção ao disposto no artigo 186.º, n.º 3, alínea a) do CIRE, no
contexto da qualificação da insolvência como culposa. Seria valorizada a referência ao regime excecional e
transitório aprovado no contexto da pandemia Covid-19 a propósito da suspensão do prazo de apresentação
do devedor à insolvência.
- Análise dos pressupostos da declaração de insolvência (continuação): em face dos dados da hipótese,
pretendia-se o desenvolvimento do pressuposto material com recurso ao critério da determinação da situação de
insolvência previsto do n.º 1 do artigo 3.º do CIRE (critério do cash-flow), concluindo-se pela sua
aplicabilidade in casu.
04
5. A resposta à pergunta 4. mudaria se se descobrisse que o espaço onde funciona o
restaurante vegan, propriedade da Aqui tudo é Saudável e Sustentável, Lda., está avaliado
em vários milhões de euros? [1,5 valores]
- Enquadramento da questão nos pressupostos objetivos da declaração de insolvência: em face dos dados da
hipótese, pretendia-se o desenvolvimento do pressuposto material com recurso ao critério da determinação da
situação de insolvência previsto do n.º 2 do artigo 3.º do CIRE, complementado pelo n.º 3 do mesmo preceito
– o denominado critério do balanço.
- Ainda que, em face dos dados da hipótese, o balanço da Aqui tudo é Saudável e Sustentável, Lda. aparente
ser equilibrado (no ativo consta um bem avaliado num valor superior ao do passivo), exigia-se a explicitação
da autonomia das situações pressupostas pelo critério do cash flow e pelo critério do balanço: a circunstância
de o devedor ter um ativo superior ao passivo não significa que tenha liquidez para saldar as suas dívidas,
não sendo assim de afastar que se encontre em situação de insolvência técnica.
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FACULDADE DE DIREITO DA UNIVERSIDADE DE LISBOA
DIREITO COMERCIAL I
TÓPICOS DE CORREÇÃO
REGÊNCIA: PROFESSOR DOUTOR LUÍS MENEZES LEITÃO
19.01.2021 – Duração: 120 m.
II. Em 2013, A decidiu lecionar um ano letivo nos EUA e, não pretendendo cessar a sua outra
atividade, acordou com B que, na sua ausência, aquele passaria a fazer a exploração da atividade,
por sua conta, contra a remuneração mensal de 3.000,00 €, tendo ambos acertado os termos do
negócio telefonicamente.
Aquando do regresso de A, em 2014, o negócio de B não corria bem, não tendo este pago
as duas últimas remunerações mensais. Retomando A gestão da atividade e pensando numa futura
sociedade entre ambos, propôs-lhe que aquele contribuísse com a quantia de 5.000,00 € para
investimento na modernização da atividade, a troco de uma compensação de 10% dos lucros
anuais, o que este aceitou; mais uma vez tudo foi acordado telefonicamente, tendo B transferido
os 5.000,00 € para a conta bancária de A.
3. Qualifique, juridicamente, os negócios em causa. (2 v.)
Caracterização do primeiro negócio com cessão da exploração nos termos do artigo 1109.º
do CC; enunciação do regime a que ficaria sujeito, nomeadamente o dever de informação
do senhorio (artigo 1109.º/2 do CC); ponderação da validade formal do negócio atenta a
remissão do artigo 1109.º/1 in fine para, nomeadamente, o artigo 1112.º/3 do CC.
Caracterização do segundo negócio celebrado como associação em participação – artigos
21.º e ss. do DL n.º 231/81, de 28 de julho (“RJCAP”), com enunciação dos carateres gerais
do instituto.
4. A exige de B o pagamento das remunerações em falta, bem como 10% do prejuízo que a
atividade gerou em 2016. B alega invalidade. Quid iuris? (3 v.)
Enunciação do regime regra previsto no artigo 21.º do RJCAP; a participação nos lucros é
obrigatória, mas a participação nas perdas é meramente facultativa (artigo 21.º/2 do
RJCAP);
Considerando a forma adotada pelas partes, a exclusão da participação nas perdas é
inválida (artigo 23.º/2 do RJCAP). Adicionalmente, nos termos do artigo 25.º/2 do RJCAP
presume-se que a participação nas perdas será igual à participação nos lucros - as partes
apenas acordaram a participação em 10% dos lucros, presumindo-se a participação nas
perdas em 10%, pelo que A. teria razão). Contudo, salientar que, caso as perdas excedessem
5.000, € seria esse o limite pelo qual B. responderia (artigo 25.º/4 do RJCAP).
O contrato de associação em participação não está sujeito a forma especial – artigo 23.º/1
do RJCAP (com enunciação das exclusões dos n.ºs 2 e 3) – desta forma B. não teria razão na
alegação da invalidade formal.
O facto de B. não ter efetuado a contribuição a que estava obrigado não o exonera da
participação nas perdas (artigo 24.º/5 do RJCAP).
O incumprimento das obrigações de B. era fundamento para a resolução do contrato, nos
termos do artigo 30.º/1 do RJCAP, com a consequente obrigação de indemnizar (artigo
30.º/2 do RJCAP).
III. A tinha tomado conhecimento nos EUA de novas técnicas de marketing do trabalho de
modelos, tendo contactado, em 2017, a Model Inc. LLC, com sede em NY, propondo a celebração
de um contrato de representação da respetiva marca em Portugal, o que aquela aceitou; o contrato
estabelecia que A passasse a exercer a sua atividade exclusivamente sob essa marca, por contra
própria, beneficiando do know-how, das técnicas de comercialização do serviço e da rede de
contactos internacionais da Model, pagando-lhe, em contrapartida, um prémio de celebração do
contrato e, bem assim, uma percentagem variável dos contratos celebrados por A, devendo ainda
este participar no custo das campanhas de publicidade da marca e aceitar a fiscalização da Model
à sua faturação mensal. Foi acordado sujeitar o contrato ao direito português.
Ao longo do ano de 2018, A foi ganhando a confiança da administração da Model, tendo
celebrado vários contratos com modelos estrangeiro(a)s em nome desta, para trabalhos nos EUA,
que a mesma cumpriu, e com os quais A esperava obter uma futura renegociação mais favorável
do contrato.
Em março de 2019, a Model foi alvo de uma fraude financeira e extinguiu vários
contratos, semelhantes ao que mantinha com A, tendo resolvido o contrato com A alegando
representação abusiva, tendo-se recusado a pagar o trabalho de uma modelo (E) cujo contrato
havia sido celebrado por A em seu nome.
5. Como qualificaria o contrato descrito e qual o seu regime jurídico? (1,5 v)
Integração do contrato celebrado no âmbito do contrato de franquia (em concreto uma
franquia de serviços), com enunciação das principais características da figura,
concretizando e fundamentando a resposta com base nos dados do enunciado; ponderação
do contrato celebrado no contexto dos contratos de distribuição. Densificação dos vários
argumentos relativos à aplicação analógica do regime jurídico do contrato de agência
(Decreto-Lei n.º 178/86 de 3 de julho – “RJCA”).
Seria valorizada a identificação de algumas normas do RJCA que são de aplicação mais
problemática aos casos de franquia (v.g. arts. 28.º e 33.º)
6. A resolução é constitutiva de algum(ns) direito(s) na esfera jurídica de A? (2,5)
A sujeição do contrato ao direito português não resolveria, por si, a ausência de um regime
legal específico para o contrato de franquia;
Em concreto, sobre a resolução, ponderação da eventual ilicitude, por ausência de “justa
causa” para o efeito; enunciação do regime geral da representação abusiva (artigo 22.º) e
ligação ao instituto da representação aparente/representação tolerada (artigo 23.º do RJCA)
ou, ainda que não se considerasse aplicável o RJCA, enunciação das posições doutrinárias
que defendem que o instituto da representação aparente/representação tolerada é
extensível, para os presentes efeitos, a todos os contratos comerciais. Poderia igualmente ser
considerada a resolução abusiva, nos termos do artigo 334.º do CC, atendendo ao facto de,
os contratos celebrados no passado por A. em representação da Model terem sido
tolerados/conhecidos e, na prática, ratificados, pela Model (com a necessária integração no
regime do artigo 22.º do RJCA e nos artigos 268.º e 269.º do CC).
Sendo a resolução ilícita enunciação das respetivas consequências, designadamente da
posição doutrinária do Prof. Pinto Monteiro que defende que a resolução, ainda que ilícita,
produz efeitos, com o consequente dever de indemnizar (reforçada pelo facto de,
considerando o enunciado, o contrato ter sido celebrado por tempo indeterminado, podendo
ser denunciado a todo o tempo, desde que com antecedência conveniente).
Ponderação do eventual direito à indemnização de clientela prevista no artigo 33.º do RJCA
por aplicação analógica, com enunciação dos respetivos requisitos (em concreto, o facto de
A. ter sido o primeiro franqueado da Model em Portugal).
Caso se considerasse a resolução lícita, ponderação da aplicação da exclusão prevista no
artigo 33.º/3 do RJCA (analogicamente aplicado, com a respetiva motivação).
7. Assiste algum direito a E contra a Model ou contra A? (2v.)
Enunciação do regime da representação aparente/representação tolerada – artigo 23º do
RJCA, considerando os dados do enunciado (o contrato era do conhecimento da Model e o
contrato foi cumprido por E sem oposição da Model) e respetivas consequências, em
especial, vinculação do Model à obrigação de pagamento.
IV. Por força da perda de rendimento da atividade, A não pagou nenhuma das faturas emitidas
pelos seus fornecedores vencidas depois de março de 2019, tendo ainda pagamentos em atraso à
Administração Tributária e à Segurança Social.
A ainda tentou obter um empréstimo bancário para pagar as suas dívidas, mas, atento o
conhecido incumprimento com os fornecedores, nenhum dos vários bancos contactados aceitou
analisar o pedido, não obstante o seu passivo ser de 400.000, 00 €, mas a sua faturação não
recebida ser de 900.000,00 €.
F, credor de A pela quantia de 40.000,00 €, resultante de obrigação vencida há mais de
três meses, requereu em dezembro de 2019 a declaração de insolvência do mesmo, o que, não
obstante a oposição deduzida pela, veio a ocorrer; a sentença transitou em julgado e foi objeto de
registo. Alguns dias depois, A vendeu a G todo o recheio da loja.
H, o administrador da insolvência, três meses depois de nomeado, esqueceu-se de
instaurar uma ação de cobrança de um crédito de A com prazo prescricional de três anos antes de
decorrido o prazo de prescrição; contactado o devedor, este afirma que não pagará.
[8.] Quid iuris? (4v.)
Enunciação da legitimidade ativa (artigo 20.º/1 do CIRE) e da legitimidade passiva (artigo
2.º/1/a) e artigo 25.º do CIRE).
Caracterização da situação de insolvência – artigo 3.º/1 do CIRE; sendo A. pessoa singular
não se aplicaria o critério do balanço (balance sheet), valendo por isso o critério da ausência
de liquidez (agravada pela ausência de financiamento de terceiros). Utilização das
presunções do artigo 20.º do CIRE, em especial as previstas no n.º 1, a) e g), subalíneas i) e
ii).
Quanto à alienação do recheio da loja: artigo 81.º do CIRE e enunciação dos efeitos da
declaração de insolvência quanto aos poderes de disposição do insolvente; em princípio, o
negócio seria ineficaz, exceto ocorrência de alguma das exceções previstas artigo 81.º/6 do
CIRE.
O administrador da insolvência é nomeado na sentença de declaração de insolvência (artigo
36.º/1/d) e 52.º/1 do CIRE.
A regra do artigo 100.º do CIRE era inaplicável no caso, considerando que a prescrição do
direito de crédito é oponível pelo devedor do insolvente. Ponderação da eventual aplicação
do regime previsto no artigo 321.º do CC constituindo a insolvência motivo de força maior
para efeitos da não cobrança do crédito, relacionamento, em especial, o momento do início
da liquidação da massa insolvente com a assembleia de apreciação do relatório (artigo 156.º
do CIRE) a que acresce o facto de a liquidação poder ser suspensa no caso de a assembleia
cometer ao administrador da insolvência o encargo de proceder à elaboração de plano de
insolvência (artigo 156.º/3 do CIRE).
Caso se entenda que o artigo 321.º do CC não é aplicável, ponderação da eventual
responsabilidade do administrador da insolvência nos termos do artigo 59.º do CIRE,
podendo tal omissão constituir fundamento para a destituição nos termos do artigo 56.º do
CIRE.
FACULDADE DE DIREITO DA UNIVERSIDADE DE LISBOA
DIREITO COMERCIAL I – TURMA B
23 DE FEVEREIRO DE 2022
(14 valores)
Abel, advogado, é também proprietário de uma mercearia sita no Chiado, onde
vende, entre outros bens, vinho, oriundo de uma quinta alentejana de Bento, um
engenheiro agrónomo que explora vários latifúndios.
De modo a potenciar as vendas da mercearia gourmet, Abel contratou com Carlos,
engenheiro informático, a elaboração de vários spots publicitários destinados a ser
divulgados na Internet, pelo preço de € 4.000,00.
Para além do vinho de Bento, Abel vende igualmente queijo produzido pela
Chaparro, Produtos regionais, Lda. De modo a comercializar tal queijo, foi celebrado,
em Novembro de 2008, um contrato nos termos do qual Abel se obriga a comercializar
os queijos num expositor aprovado pela Chaparro e do qual conste a respetiva
identificação e logotipo, bem como a adquirir um mínimo de 500 kg de queijo por ano.
Responda, fundamentadamente, às seguintes questões, identificando os problemas
relevantes:
i. Qualifique, em termos jurídico-privados, os sujeitos do caso (5 valores);
ii. Tendo em consideração que Abel, que é casado em comunhão de
adquiridos com Vitória, não pagou o vinho fornecido por Bento, suponha
que este aciona ambos para procederem ao pagamento. Quid juris? (2
valores)
iii. Como qualifica o contrato celebrado entre Abel e Carlos, bem como a
posição jurídica de Carlos? (3 valores)
iv. Suponha que a Chaparro, mau grado ter aumentado anualmente as
vendas em 40% em consequência das encomendas de Abel, que ainda tem
na mercearia 350 kg de queijo, decreta a resolução unilateral do contrato.
Quid juris? (4 valores)
Grupo II
(6 Valores)
“Clausula 15 (objeto)
Duarte, Ema e Filipa consultaram-no a si porque querem abrir um novo café nos
Restauradores, no qual contam vender apenas batidos, entre os quais o famosíssimo
batido de morango, agora com o nome “I’shake”.
Gustavo e Heitor souberam de tal intento e instauraram uma providência cautelar
com vista a impedir a construção do novo café dos restauradores.
Tópicos de correção:
Grupo I:
i) A celebra compras de vinho, que, de acordo com o artigo 463/1.º do CCom, são comerciais, porquanto
adquire o vinho com o objetivo de o revender. Atento o facto de, à luz do art. 13.º, § 1.º, do CCom, A ter
(i) capacidade comercial (de notar que o facto de exercer uma profissão liberal não obsta à qualificação
como comerciante), (ii) fazer do comércio profissão e de exercer profissionalmente tal atividade, pode
concluir-se que A é comerciante. Seria valorizada uma referência à tendencial exclusividade da atividade
comercial para qualificar o seu autor como comerciante, como pretende alguma doutrina.
Quanto a B, caberia discutir se, à luz do art. 230.º, 2.º, do CCom estaríamos perante um ato de comércio
objetivo, atento o tratamento legal desqualificador-mercantil das atividades agrícolas (artigo 230.º § 1).
Seria valorizada a abordagem da interpretação atualista/restritiva do artigo 230.º § 1 (havendo exploração
“profissional” dos latifúndios, estaríamos perante uma empresa, com a consequente comercialidade do ato
em questão) vs. interpretação tradicional/enunciativa; no primeiro caso, B deveria considerar-se como
comerciante; no segundo, não.
C, se profissional liberal, poeria ser considerado comerciante por aplicação analógica do art. 230, 3.º
(prestação de serviços), na medida em que tal atividade respeite os requisitos da profissional idade (art.
13, 1.º);
A Chaparro pode ser considerada comerciante se se tratar de uma sociedade comercial (art. 13, 2.º); tem
tipo comercial (art. 200 do CSC), e, quanto ao objeto, não parece que possa reduzir-se à atividade
agrícola, antes intrigando compras de coisa móveis para revender depois de modificadas (art. 463, 1.º),
podendo mesmo integrar a atividade de fornecimento; concluindo-se pela comercialidade do objeto,
deveria concluir-se pela qualificação da sociedade como comercial (art. 1.º, 2, CSC) e, assim, como
comerciante (art. 13.º, 2.º)
ii). A é comerciante. Por conseguinte, presume-se que a dívida foi contraída em proveito comum do casal,
sendo a dívida da responsabilidade de ambos.
Referência ao regime do Decreto-Lei n.º 32/2003, cujo artigo 4.º/1 prevê o vencimento de juros de mora,
nos termos do disposto no CCom. Referência ao regime de vencimento do artigo 4.º/2.
Quanto à taxa de juro, tratava-se de um crédito de um comerciante (B), relativo à prática de um ato de
comércio objetivo.
Uma vez que A incumpriu a obrigação de pagamento do preço, cabe aferir da comunicabilidade da
dívida, nos termos do artigo 15.º do CCom e do artigo 1691.º/ 1 d) do CC.
ii) Qualificação do contrato celebrado entre A e B como contrato de prestação de serviços lato sensu (a
priori, seria um contrato de encomenda, previsto e regulado no CDADC).
Da parte de A, estaríamos perante um ato de comércio subjetivo, uma vez que diz respeito ao seu
comércio, não estando expressamente regulado no CCom (art. 2.º).
Da parte de C, à luz do artigo 230.º/5.º, estaríamos perante uma atividade comercialmente relevante. De
notar, no entanto, que a criação de páginas web não era (nem podia ser prevista pelo CCom, que data de
1888), pelo que caberia interpretar atualisticamente o preceito. Haveria, ainda, que atentar no artigo
230.º,§ 3: apenas relevaria a comercialidade, caso C praticasse esta atividade profissionalmente.
iii) Qualificação do contrato como franquia de distribuição, i.e., o contrato através do qual o franqueado
se limita a vender determinados produtos num estabelecimento com a insígnia do licenciante.
Referência à tipicidade social do contrato de franquia, pese embora a atipicidade legal.
Indicação dos elementos comuns ao contrato de franquia:
(i) Concessão de licença de marca e/ou direito de uso de sinais distintivos do comércio do
franqueador;
(ii) Transmissão de saber fazer (“know how”);
(iii) Prestação de assistência do franqueador ao franqueado;
(iv) Controlo da atividade do franqueado pelo franqueador;
(v) Prestações pecuniárias do franqueado para com o franqueador;
Referência à obrigação de compra mínima.
Referência ao regime da cessação do contrato de franquia.
Admitia-se, também, uma resposta que qualificasse o contato como de concessão comercial.
iv. Aplicabilidade por analogia das normas relativas à indemnização de clientela previstas no artigo 33.º,
número 1 do DL n.º 178/86. Por força deste preceito, o franquiado/concessionário tem direito, após a
cessação do contrato, a uma indemnização de clientela, desde que sejam preenchidos, cumulativamente,
os requisitos seguintes:
a. Tenha angariado novos clientes para a outra parte ou aumentado substancialmente o volume de
negócios com a clientela já existentes;
b. A outra parte venha a beneficiar consideravelmente, após a cessação do contrato, da atividade
desenvolvida pelo agente;
c. O licenciado deixe de receber qualquer retribuição por contratos negociados ou concluídos, após
a cessação do contrato, com os clientes referidos na alínea a).
Adicionalmente, há que determinar a sorte dos bens e/ou produtos que esta tivesse em stock. Não será por
via do enriquecimento sem causa (artigo 474.º CC), pelo que deverá ser equacionada uma obrigação com
faculdade alternativa: o ex-franqueador/ex- concedente deve retomar os bens ao seu preço atual ou
permitir que o ex-franqueado/ex-concessionário possa utilizá-los, única e exclusivamente para escoar o
stock.
Grupo II
Perante esta comunicação, Adalberto decide abrir uma loja em Telheiras. Numa chamada Skype,
negoceia com o seu amigo Bernardo a compra da “Eletrodomésticos de Lisboa”. Como condições
para a venda do espaço, Bernardo propôs que os contratos com os trabalhadores do
estabelecimento e que os famosos micro-ondas 5000 não fossem transmitidos, o que Adalberto
prontamente aceita.
Bernardo envia, 20 dias depois, uma carta a Ernesto, seu senhorio, a informá-lo do contrato
celebrado com Adalberto. Ernesto, quando recebe a carta, liga de imediato a Bernardo e
relembra-o do disposto na cláusula 3.1. do contrato de arrendamento: “Fica expressamente
proibida a sublocação ou cedência a qualquer título do local arrendado, sem o consentimento
prévio e escrito do senhorio”. Afirma também que deveria ter sido avisado mais cedo.
Adalberto, nunca tendo antes gerido uma loja, não consegue pagar aos seus fornecedores, aos seus
trabalhadores, e à Administração Tributária.
Perante a ruinosa situação financeira, Adalberto vê-se obrigado a contrair um empréstimo com o
Banco BRP, S.A., no qual foi convencionado que em caso de atraso no pagamento dos montantes
devidos, seria aplicável a sobretaxa anual máxima de 5%.
Quanto a G, classificação do prévio como não comerciante, por virtude de não cumprir a exigência de
profissionalidade do artigo 13.º do CCom., visto que não exerce qualquer atividade em nome próprio, mas
em nome e em representação da Eletrodomésticos, S.A..
Quanto a Eletrodomésticos, S.A., classificação como comerciante, à luz do artigo 13.º, n.º 2 do CCom. e
1.º, n.º 2 do CSC.
GRUPO I
Verónica, herdeira de um vasto património, explorava um cabeleireiro na Rua Castilho desde
2010, sito numa loja arrendada a Filipe. Muitas eram as senhoras que peregrinavam para
arranjar o cabelo no cabeleireiro “V de Vaidade”. A afluência era tanta que Verónica contratou
um serviço de “finger foods” para as ditas senhoras que aguardavam pela sua vez.
Entretanto, Verónica não mais queria saber de cabelos, pelo que decidiu doar à sua prima
Maria o “V de Vaidade”, pois gostava muito da dita prima e, dizia, “o dinheiro não me faz falta!”.
Maria ficou radiante com a ideia, pois há muito que pretendia gerir o seu próprio negócio.
Filipe, por sua vez, achou muito estranho não lhe ter sido pedida autorização para a alienação
do cabeleireiro. Contudo, Filipe estava disposto a transigir caso Verónica e Maria
reconhecessem que Filipe teria direito a adquirir o cabeleireiro pelo valor de mercado.
Já Verónica, para se distrair, abriu, meses mais tarde e no quarteirão abaixo do cabeleireiro,
um pequeno café chamado “Brunchit”, onde aproveitou os contactos das empresas
fornecedoras das “finger foods”. As clientes do “V de Vaidades”, radiantes, passaram a ir
petiscar ao “Brunchit” antes de irem ao cabeleireiro.
Entretanto, Verónica cansou-se também do Brunchit. Afinal, dizia, “preciso de dar a volta ao
mundo para me descobrir”. Lá foi. Quando voltou começou a fazer esculturas verdadeiramente
surrealistas que muito agradaram a vários colecionadores de arte. Verónica organizava
exposições e os clientes multiplicavam-se tendo, por isso, sentido necessidade de contratar
uma secretária, um segurança para o armazém e ainda Goji, um jovem artista que se propôs
a promover os quadros, exposições e conferências que Verónica organizava.
Tópicos de Correção
1
expressamente; explicação de que está em causa a tutela do credor e que o regime
civil-geral se adequa à “lógica” comercial.
e) Seria valorizada:
Tópicos de Correção
d) Quanto a (ii): o senhorio tem direito de preferência nos casos de venda ou dação em
cumprimento (art. 1112.º, n.º 4 CC); explicação desta opção do legislador; contudo,
o efeito translativo operou através de um contrato de doação, donde, não teria na
sua esfera qualquer direito de preferência, independentemente de alegar que pagava
o valor de mercado (é valorizada a discussão crítica desta solução normativa).
Tópicos de Correção
2
c) Verónica seria artista, donde estaria excluída a sua qualificação como comerciante
com base na venda das esculturas por si produzidas (art. 230.º, n.º 5 e § 3.º, art. 464.º,
n.º 3 CCom).
Tópicos de Correção
GRUPO II
3
e) Crítica e desenvolvimento da doutrina que propões, por exemplo, a redução
teleológica do art. 1147.º CC, atenta a natureza do creditante (maxime, um banco) e o
regime geral do art. 1147.º CC.
- A análise crítica da prática de enriquecer o contrato com vários elementos típicos dos
diferentes contratos de distribuição
Tópicos de Correção
a) Caracterização da franquia
b) Identificação de que se trata de um tipo social e não tipo legal
c) Argumentos doutrinários e jurisprudenciais para a aplicação analógica do RJA ao
contrato de Franquia
d) Densificação do conceito de Indemnização de clientela explicitando a sua (à partida)
inaptidão nos casos de franquia
e) Contudo: havendo uma atuação excecional, pode haver lugar a indemnização de
clientela. Desenvolvimento da posição de Pinto Monteiro
Tópicos de Correção
4
a) caracterização do mútuo bancários e seus principais elementos: disponibilização de
capital; prazo de vencimento; juros; mutuante é instituição financeira (maxime, banco)
5
FACULDADE DE DIREITO DA UNIVERSIDADE DE LISBOA
DIREITO COMERCIAL I
I
Em maio de 2019, A, proprietário da Pet Shop “LULU”, instalada, há vários anos, numa
loja arrendada no Bairro Alto, doou-a aos seus sobrinhos B e E, em partes iguais. A doação foi
celebrada por escrito, tendo ficado clausulado que no negócio não seriam incluídas as peças de
cerâmica “cães de loiça”, utilizadas para decoração da montra.
Em junho seguinte, B recebeu uma fatura de fornecimento de um lote de comida para
cães da sociedade Animais para sempre, Lda., que havia sido entregue antes da doação. B
considera que o produto em causa é de pouca qualidade e, assim, devolveu a fatura, alegando não
ser devedor da mesma.
Entretanto, B e E contrataram com D, tosquiador, a realização de um serviço de tosquia
na Pet Shop, uma vez por semana, pelo valor de 80 euros por sessão, ao mesmo tempo que
contrataram uma abertura de crédito, com um plafond de 50.000,00 €, com o Banco Verde Alface
S.A.
Pouco tempo depois, C, o proprietário do imóvel, tomou conhecimento da doação, tendo
remetido uma carta a B e a E na qual afirmava que, não tendo “[…] autorizado previamente a
transmissão do arrendamento, venho resolver o contrato com justa causa”.
Em dezembro de 2020, B e E zangaram-se, tendo o primeiro deixado de exercer atividade
na Pet Shop, a partir do que a E passou a pagar a C apenas metade da renda.
D continuou a fazer as tosquias até março de 2021, apesar de nada lhe ter sido pago desde
a zanga dos proprietários da Pet Shop, tendo instaurado ação judicial contra B para condenação
ao pagamento do valor em dívida; este contestou excecionando que só é responsável pelo
pagamento de metade da quantia exigida.
Até agosto de 2021, B e E haviam mobilizado, nos termos do contrato celebrado com o
banco, a quantia de 25.000,00 €.
O Banco Verde Alface S.A., ao tomar conhecimento de não estar a renda da Pet Shop a ser
integralmente paga há vários meses, requereu ontem a declaração de insolvência de B e E.
II
B e C, amigos de longa data, celebraram entre si um contrato mediante o qual C se
obrigava a comprar a B, por ano, 10.000 unidades de um produto inovador que este produz, e a
revendê-lo em território português. O negócio ficou fechado durante o almoço, não tendo sido
reduzido a escrito. Durante a refeição, B entusiasmou-se e prometeu a C que ele seria o único
distribuidor do produto em Portugal. Acordaram ainda que o contrato vigoraria por cinco anos.
Nos três primeiros anos de vigência do contrato, C comprou sempre entre 11.000 a 15.000
unidades do produto, as quais revendeu com facilidade. Mas B convenceu-se de que o seu produto
poderia vender muito mais, mas que assim não sucedia porque C era preguiçoso. De modo que
decidiu contratar D como agente para o mesmo produto, podendo este promover negócios em
todo o território nacional.
Vindo a saber desta contratação, C decidiu resolver o contrato invocando a violação do pacto
de exclusividade. Depois de fazê-lo, remoeu sobre a hipótese de pedir uma indemnização de
clientela a B. Pensava em fazê-lo, mas depois hesitava, pois não lhe agradava a ideia de demandar
um velho amigo. Até que, quase 15 meses passados sobre a resolução, lá se decidiu propor ação
contra B.
• A resolução será lícita se foi fundada em justa causa, ou seja, se C incumpriu uma obrigação
a que estava adstrito e se as características desse incumprimento tornam inexigível a
subsistência do vínculo na perspetiva do contraente adimplente.
• No caso em apreço, é debatível se a contratação de um agente corresponde ao
incumprimento de uma obrigação a que B se encontrava adstrito. Com efeito:
o Muito embora a validade do contrato de concessão não esteja sujeita à adoção de forma
escrita, alguma jurisprudência e doutrina considera que, tal como sucede no âmbito do
contrato de agência (v. artigo 4.º do Decreto-Lei n.º 178/86 de 3 de julho – adiante RJCA),
a aquisição de exclusividade depende de acordo escrito entre as partes. No caso em
apreço, não foi celebrado qualquer acordo escrito entre as partes;
o Admitindo a validade, no caso em apreço, do acordo não escrito por meio do qual B
concedeu exclusividade a C, haveria ainda que discutir se a mesma se circunscreve à
figura do concessionário, ou se abrange toda a distribuição, independentemente da forma
jurídica que assuma. A hipótese aponta para esta segunda solução, designadamente no
trecho seguinte: "(…)B entusiasmou-se e prometeu a C que ele seria o único distribuidor
do produto em Portugal."
• Como questão prévia, seria necessário discutir se o disposto no artigo 33.º do RJCA é
aplicável ao contrato de concessão. A maioria da jurisprudência e da doutrina responde
positivamente a esta questão.
• Supondo que a tese deve ser seguida, o direito à indemnização de clientela estaria
dependente de a resolução do contrato ter sido considerada lícita. Caso contrário, seria de
aplicar a exclusão prevista no artigo 33.º/3 RJCA.
• Finalmente, atendendo a que, entre a cessação do contrato de agência e a propositura da
ação de indemnização de clientela mediou um período de quase 15 meses, e que a hipótese
não revela que B tivesse, anteriormente, comunicado a C a sua pretensão compensatória,
seria de considerar que o direito à indemnização de clientela que, hipoteticamente, assistia
a B havia caducado (v. artigo 33.º/4 RJCA).
• Referência ao Acórdão do Supremo Tribunal de Justiça n.º 6/2019, que versa sobre o direito
à indemnização de clientela por parte do concessionário, após a cessação do contrato de
concessão comercial.
Direito Comercial I – Turma A
Época de Recurso – 13.02.2020 (120 min.)
Regência: Prof. Luís Menezes Leitão
Critérios de Correção
Anabela é uma empresária caída em desgraçada que tem um imenso stock de vinhos que
pretende escoar. Como forma de contornar o problema, decide contratar Bártolo, acordando
as partes que este iria proceder à venda dos vinhos em stock sem menção ou alusão ao
verdadeiro “vendedor” e com a obrigação deste lhe retransmitir os contratos celebrados e de
garantir que os clientes iriam pagar efetivamente o preço.
Como o negócio corria inicialmente bem, Anabela celebra com o Banco dos Vinhateiros um
contrato de mútuo, tendo, para o efeito, solicitado que a sua tia, Carolina, dirigisse uma
missiva ao Banco dos Vinhateiros com o seguinte teor: “A minha sobrinha Anabela é
abastada e, além disso, eu «meto as minhas mãos no fogo» pelo cumprimento desse contrato”.
Daniel adquiriu 1000 garrafas de Dom Pérignon para revender na sua loja do Saldanha, não
tendo procedido a qualquer assento nos seus livros. Anabela, a quem a posição contratual
havia sido cedida por Bártolo, pretende agora exigir o pagamento da dívida (bem como as
demais compensações a que tem direito) diretamente de Daniel.
Na sequência de uma grande crise económica que se veio a instalar, Anabela incumpre as
prestações ao Banco dos Vinhateiros que exige, como garantia, em dezembro de 2019, a
casa de Anabela, tendo esta procedido em conformidade.
Em 1-jan.2016 André celebrou um contrato com Beatriz nos termos do qual aquele ficava adstrito
a divulgar e entregar amostras do vinho verde produzido por Beatriz. O contrato fora celebrado
sem prazo e André apenas podia efetuar as atividades de promoção na zona de Setúbal. Mais se
previa que André ficava adstrito a comprar a Beatriz 100 caixas de trufas ao ano; trufas essas que
deveria revender aos clientes que contactasse. Todavia, cedo se incompatibilizaram.
Assim, em 1-jan.-2019 André decidiu denunciar o contrato – com efeitos imediatos – que havia
celebrado com Beatriz, após o que começou o seu próprio negócio de vinho e trufas. Assim,
volvidos 4 meses, veio a abrir uma loja na grande Lisboa num espaço arrendado a Sara.
Contudo, cedo se fartou. Assim, em 1-ago.-2018 decidiu doar a loja a Joana, benemérita, por esta
ter sido sua fiadora aquando da contratação de um crédito à habitação. Todavia, acordaram excluir
os stocks, as marcas registadas, os adereços das provas de vinho e ainda o balcão principal. O
funcionário – o Sr. Evaristo – esse, continuaria afeto à loja. Sara – a proprietária do locado –
apenas foi notificada em 25-ago.-2018 por carta registada.
Entretanto, Joana desafiou André a embarcar num novo negócio: mobília vintage. Foi, então,
constituída a sociedade comercial vintage vinte e um, Lda (“Sociedade”) da qual André era sócio
mas não gerente1. Tendo em vista garantir o cumprimento das obrigações com o fornecedor
Móveis Velhos, Lda., a Sociedade solicitou ao Banco Ocixot, S.A. (“Banco”) a emissão por este
de uma garantia bancária autónoma no valor de € 350.000,00. O Banco apenas o fez porque Joana
remeteu uma carta ao Banco na qual referia: “Apesar da vinte e um, Lda. ser nova no mercado os sócios
estão empenhados na sua atividade e tudo farão para garantir que cumpra as suas obrigações”.
1 André não era gerente, i.e. não exercia as funções de gestão e representação da sociedade em causa.
d) A denúncia era a priori possível pois que o contrato em causa era um contrato celebrado por tempo
indeterminado. Contudo, teria “efeitos imediatos”.
e) Enunciação da discussão a respeito do destino final dos stocks aquando da cessação do contrato e enunciação
das diversas posições sobre a questão.
- Seria valorizada a análise da problemática relativa à exclusão da indemnização de clientela em caso de denúncia
do contrato de agência em face da interpretação do segmento “causa imputável” ao agente – artigo 33.º, n.º 3, da
LCA – com referência às posições que defendem a inaplicabilidade de tal exclusão atendendo à natureza da
indemnização de clientela.
- Seria valorizada a ponderação do desenvolvimento de atividade concorrente com a anteriormente exercida por
André após a cessação do contrato, com enunciação da inexistência de obrigação de não concorrência, exceto se
acordada entre as partes (artigo 9.º da LCA), salientando o dever de segredo que não carece de acordo entre as
partes (8.º da LCA), discutindo, nomeadamente, as questões atinentes aos contactos dos clientes angariados no
âmbito do contrato de agência.
- Seria valorizada a distinção entre união de contratos e contratos mistos.
2. Pronuncie-se quanto ao contrato celebrado entre André e Joana e, bem assim, quanto
à tutela da posição de Sara. (5 valores)
Tópicos de correção
a) Caracterização, ante os dados do caso, da existência de um estabelecimento comercial, com enunciação dos
seus diversos elementos.
b) Em causa estava um contrato de doação em que operava o efeito translativo da titularidade do direito de
propriedade.
c) Estava em causa um trespasse de estabelecimento comercial?
Enunciação dos designados âmbitos de transmissão do estabelecimento e a necessária de caracterização do
trespasse como negócio translativo unitário.
Discussão se a exclusão dos elementos provocava uma descaracterização do estabelecimento comercial, i.e. se
aquilo que foi doado ainda era um estabelecimento comercial, nomeadamente com ponderação respeitante ao
designado âmbito mínimo do estabelecimento comercial e a necessária referência ao aviamento do estabelecimento.
Referência aos diversos âmbitos do estabelecimento comercial – com destaque para o âmbito mínimo.
d) Caso se entenda que estava a ser transmitido um estabelecimento comercial: não haveria necessidade de
consentimento (art. 1112.º, n.º 1 CC).
d) Caso não se estivesse perante a transmissão de um estabelecimento comercial haveria lugar a transmissão
individualizada dos bens que eventualmente restassem da dita loja. Donde, a alteração da posição de
arrendatário carece de autorização, nos termos gerais (v.g., artigo 424.º e 1059.º, n.º 2, ambos do Código Civil)
– consequências da ausência de acordo.
3. Como a Móveis Velhos, Lda. precisava de liquidez urgente, procedeu, ainda antes do
vencimento dos seus créditos, ao acionamento da garantia bancária. O Banco pagou o
valor integral da garantia e vem agora pedir a Joana o pagamento de EUR 350.000,00
por entender que Joana deve ser considerada fiadora da Sociedade.
Joana está furiosa porque nunca pretendeu assumir qualquer obrigação da Sociedade e,
por outro lado, entende que o Banco deveria ter recusado o pagamento porque, em
reunião tida na véspera, Joana tinha referido que a Sociedade não tinha quaisquer
créditos vencidos. Quid juris? (4 valores)
Tópicos de correção
a) Identificação dos carateres fundamentais das garantias bancárias e inclusão das garantias bancárias
autónomas no seu núcleo;
b) Características fundamentais da garantia bancária autónoma, nomeadamente quanto à possibilidade e
fundamentos de recusa de pagamento da obrigação
c) Integração da missiva remetida por Joana no regime das cartas de conforto, com explicitação do respetivo
regime e enquadramento numa das diversas modalidades de carta de conforto
d) Análise do regime da responsabilidade do emitente de carta de conforto e recondução ao regime comercial
Tópicos de correção
a) Art. 13.º do CCom: enunciação dos elementos necessários para a qualificação de André como comerciante e análise
quanto à titularidade participações sociais configurar um exercício profissional do comércio.
b) Comerciante seria a sociedade. Sem mais dados, teria de se concluir que não seria comerciante. A mera titularidade
de participações sociais numa sociedade não permite a conclusão quanto a natureza comercial do sujeito, atenda a
insusceptibilidade de demonstração de que faz do comércio profissão – destaque para o facto de que, quem pratica os
potenciais atos de comércio é a pessoa coletiva e não o sócio.
Grupo II (4 valores)
- enunciação da temática a aparência e sua relação com o princípio da tutela da confiança e da primazia
da materialidade subjacente;
- requisitos da tutela da confiança baseada em aparência e respetivos referenciais jurídicos e dogmáticos;
- enunciação da proteção conferida à aparência pelo Direito Civil e pelo Direito Comercial
- exemplificação e desenvolvimento, nomeadamente, do regime previsto nos artigos 22.º e 23.º do RJCA
(DL 178/86, de 3 de julho) e seus reflexos ao nível do Direito Comercial e sua eventual extensão ao
Direito Civil (posições contrárias e favoráveis a tal extensão).