Você está na página 1de 109

Anjos e Demônios:

Uma Perspectiva Patrística


HARRY BOOSALIS
Anjos e Demônios: Uma Perspectiva Patrística
© 2016 por Harry M. Boosalis. Todos os direitos
reservados.
Design da capa pelo Pe. Joel Wilson.
Publicado por: St. Tikhon’s Monastery Press 175 St.
Tikhon’s Road Waymart, Pennsylvania 18472 USA
Para meus pais
Michael C. e Stella Boosalis
Sumário
Sobre o Autor
Prefacio
Capítulo Um: Santos Anjos
Introduçao
A Hierarquia Celestial de Sao Dionísio, o Areopagita
Tempo Angelical
Apariçoes dos Anjos
Corpos Angelicais
Natureza Angelical
Liberdade Angelical
Anjos e Progresso Eterno
Anjos e Adoraçao Liturgica Ortodoxa
Anjos da Guarda
Conclusao
Capítulo Dois: Demonios
O Orgulho de Satanas
A Inveja de Satanas pelo Homem
Poder Demoníaco
O Endemoninhado de Gadara
Limites do Poder Demoníaco
Taticas dos Demonios: Pensamentos Intrusivos
Taticas dos Demonios: Ilusao Espiritual
Conclusao: Cristo, o Conquistador
Capítulo Três: O Enigma do Mal
Introduçao
Por que o Mal Existe?
O Mal Nao 'Existe'
Mal, Pecado e Sofrimento
Mal e Morte
Epílogo: A Batalha Contra o Mal Cosmico
Notas
Sobre o Autor

O Dr. Harry Boosalis, Th.D., formou-se na Holy Cross


Greek Orthodox School of Theology (Mestrado em
Divindade, Turma de 1985) e obteve seu doutorado em
Teologia Ortodoxa pela Universidade de Tessalonica sob
a orientaçao do Professor Georgios Mantzaridis. Ele
leciona Teologia Dogmatica no Seminario Ortodoxo de
Sao Tikhon desde o outono de 1992. Outros livros de sua
autoria incluem "Orthodox Spiritual Life", "The Joy of
the Holy", "Knowledge of God", "Taught by God" e "Holy
Tradition", todos publicados pela St. Tikhon's
Monastery Press.
Prefácio

Este estudo e composto por tres palestras sobre


teologia ortodoxa, concentrando-se nos temas dos Anjos,
Demonios e o Enigma do Mal. Embora destinado a
estudantes do primeiro ano do programa de Mestrado
em Divindade no Seminario Ortodoxo de Sao Tikhon,
sua abordagem introdutoria o torna atrativo tambem
para nao especialistas.
Escrito em um estilo acessível, com uma intençao
deliberada de apresentar os temas espirituais da
teologia ortodoxa de maneira clara e coerente, este livro
beneficiara qualquer pessoa, independentemente de
sua formaçao, que tenha interesse na teologia e
espiritualidade cristas orientais.
Baseado integralmente na Sagrada Escritura e no
ensino patrístico, este livro e original por ser destinado
a seminaristas que se preparam para o ministerio
ordenado como padres paroquiais. Ele mantem seu
proposito de ensino ao adotar uma abordagem pratica e
um nível de linguagem apropriado.
"Anjos e Demonios: Uma Perspectiva Patrística" e
ideal para qualquer leigo que busque se introduzir ou
aumentar seu conhecimento na abordagem oriental da
vida espiritual e no estudo da teologia ortodoxa.
Capítulo Um: Santos Anjos
Introdução

E interessante observar que, dentro da perspectiva


espiritual de muitos hoje, ha uma tendencia a dois
extremos, ambos com resultados negativos. Por um lado,
ha um aumento do interesse na espiritualidade. Isso
inclui uma busca ansiosa por experiencias espirituais, a
aceitaçao de um vasto mundo habitado por seres
espirituais e a tentativa de se comunicar com esses
'seres'. Por exemplo, religioes do Extremo Oriente,
fenomenos psíquicos, cultos pseudo-cristaos, rituais
neo-pagaos, praticas ocultas e bruxaria¹ estao todos em
ascensao em popularidade, para citar alguns. Esses
movimentos atestam a sede espiritual crescente do
homem moderno.
Por outro lado, com a crescente dependencia do
homem na ciencia e tecnologia, ha tambem um
crescente desrespeito e desdem pela crença no mundo
espiritual. A inclinaçao inicial de muitos e nao apenas
negar, mas tambem desacreditar a existencia de
qualquer coisa que nao seja explicada por evidencias
empíricas e logica científica. Tal ceticismo tambem se
estende aos santos anjos, frequentemente considerados
como criaturas míticas do folclore de uma era
ultrapassada.
A existencia de seres angelicais e uma questao de fe.
De fato, e um elemento basico da Fe Ortodoxa. Sempre
que o Credo Niceno e recitado, os ortodoxos proclamam
sua crença no mundo angelical invisível: "Creio em um
so Deus, Pai Todo-Poderoso, Criador do ceu e da terra,
de todas as coisas visíveis e invisíveis..."
A palavra 'anjo' vem do grego ὁ ἄγγελὁς, que
significa mensageiro.² Textos bíblicos que se referem
aos anjos sao numerosos e sao mencionados com
frequencia tanto no Antigo quanto no Novo Testamento.
Os anjos sao frequentemente retratados como
intermediarios entre Deus e a humanidade, enviados
por Deus para missoes específicas, para proteger
alguem ou entregar uma mensagem particular.
O proprio Cristo se refere repetidamente a seres
angelicais. Eles estiveram presentes com Ele nos
momentos mais significativos de Sua vida terrena,
incluindo Seu nascimento, tentaçao no deserto e agonia
no Jardim do Getsemani. Eles tambem o acompanharao
em Sua Segunda Vinda. Os anjos desempenharam
papeis muito importantes na vida de nosso Senhor,
desde Sua concepçao no ventre da Virgem ate Sua
Ressurreiçao do tumulo vazio. De fato, foi um anjo que
proclamou pela primeira vez as palavras maravilhosas:
"Ele ressuscitou."³
O Apostolo Paulo distingue diferentes tipos ou
ordens de seres angelicais: "Pois por Ele foram criadas
todas as coisas que estao nos ceus e na terra, visíveis e
invisíveis, sejam Tronos, sejam Domínios, sejam
Principados, sejam Potestades. Tudo foi criado por meio
Dele e para Ele."⁴
Curiosamente, o Apostolo tambem adverte contra o
perigo de adorar os anjos, como ocorreu em alguns
grupos hereticos antigos: "Ninguem os engane com
palavras vas, porque e por causa dessas coisas que a ira
de Deus vem sobre os filhos da desobediencia."⁵
Antes de prosseguir, seria util identificar distinçoes
teologicas basicas feitas pelos Padres da Igreja que sao
fundamentais para seus ensinamentos sobre os anjos. A
primeira distinçao e entre natureza nao criada e
natureza criada.⁶ A natureza nao criada diz respeito
apenas a Deus. Isso inclui as Pessoas divinas do Pai,
Filho e Espírito Santo, bem como a essencia divina e as
energias divinas de Deus.⁷ Qualquer coisa existente fora
da natureza divina nao criada e criada — criada por
Deus do nada.
Dentro da natureza criada, os Padres da Igreja
fazem ainda uma distinçao entre o que e visível e o que
e invisível. A natureza criada invisível diz respeito ao
mundo angelical. Isso inclui nao apenas os santos anjos,
mas tambem os anjos caídos, ou demonios. Deus nao
criou os demonios per se. Ele os criou originalmente
bons e santos, mas eles escolheram livremente se
separar de Deus. Tornaram-se demonios por sua livre
vontade.
A natureza criada visível diz respeito a criaçao
material—todo o universo físico, incluindo a
humanidade. Na verdade, o homem e o ponto central da
criaçao de Deus. Somente o homem abrange ambos os
aspectos visíveis e invisíveis da criaçao, o material e o
imaterial, o físico e o espiritual. O homem e visível
devido ao seu corpo material. No entanto, ha tambem
um elemento invisível na natureza humana—a alma
humana.
Portanto, de acordo com a teologia ortodoxa, a
natureza angelical, embora criada, e invisível. No
entanto, a natureza humana, embora tambem criada, e
unica por ser visível e invisível. O homem, por natureza,
participa tanto do mundo invisível quanto do visível.
Isso eleva nossa natureza humana a uma posiçao muito
preciosa dentro de todo o cosmos criado por Deus.
A Hierarquia Celestial de São Dionísio, o
Areopagita

Curiosamente, a Igreja Ortodoxa "nunca teve um


sistema ou descriçao universalmente aceito do mundo
angelical, com exceçao da Hierarquia Celestial de
pseudo-Dionísio, na qual cada uma das nove ordens de
anjos e considerada como intermediaria entre o poder
mais elevado acima dela e a forma de existencia
abaixo."⁸ Embora a descriçao dionisiana dos seres
angelicais fosse amplamente aceita e altamente
influente, ela nao substituiu as contas mais tradicionais
encontradas na Escritura e na vida liturgica da Igreja.⁹
Por exemplo, o modelo dionisiano atribui um status
bastante limitado aos Arcanjos, que ocupam o segundo
nível mais baixo em sua hierarquia geral. No entanto, na
Sagrada Escritura, os Arcanjos Miguel e Gabriel sao os
líderes mais significativos e grandiosos de toda a hoste
celestial.¹⁰
Alem disso, na maioria das igrejas ortodoxas, sao os
ícones dos dois principais Arcanjos que adornam cada
extremidade do iconostasio, nao os de um Serafim ou
Querubim. Portanto, e a Liturgia "que deve ser
considerada como a principal e mais confiavel fonte"¹¹
da angelologia ortodoxa. Isso inclui tambem os
ensinamentos hagiograficos da Igreja. Ainda assim, as
vezes e frustrante que saibamos tao pouco sobre esses
seres angelicais, especialmente em relaçao a sua origem
e natureza unica.
Sao Dionísio combina as ordens angelicais referidas
nas cartas de Sao Paulo¹² com os Serafins mencionados
em Isaías¹³ e os Querubins descritos em Ezequiel.¹⁴ Ele
tambem adiciona a ordem dos Arcanjos, mencionada em
toda a Escritura, bem como uma ultima ordem referida
simplesmente como 'Anjos'.
De acordo com Dionísio, as nove ordens de seres
angelicais sao distinguíveis em tres hierarquias
diferentes, cada uma consistindo em tres ordens
específicas. A primeira inclui os Serafins, Querubins e
Tronos. A segunda e composta pelos Domínios,
Potestades e Autoridades. E a terceira e formada pelas
Principados, Arcanjos e Anjos.
O termo 'anjos', entao, dependendo do contexto,
pode se referir a todos os seres angelicais como um todo,
ou seja, todas as potencias incorporeas—toda a hoste
celestial em geral. Ou, por outro lado, 'anjos' tambem
pode se referir mais especificamente a ultima ordem de
seres angelicais dentro da hierarquia dionisiana, a
ordem particular de Anjos.
Sao Dionísio descreve a proximidade
correspondente de cada ordem a Deus. Em relaçao a
primeira hierarquia, "Esta primeira das hierarquias...
possui a ordem mais alta como vizinha imediata de Deus,
estando diretamente fundamentada ao redor de Deus...
[eles] tem seu lugar ao lado da Divindade a quem devem
sua existencia. Eles estao, por assim dizer, na antessala
da divindade."¹⁵
Ele tambem fornece descriçoes etimologicas do
significado do nome de cada ordem, transmitindo as
diferentes maneiras pelas quais cada uma imita e se
conforma a Deus. Em relaçao aos nomes das duas
primeiras ordens, ele escreve: "Aqueles que conhecem o
hebraico estao cientes de que o nome sagrado 'serafins'
significa 'fazedores de fogo', ou seja, 'portadores de
calor'. O nome 'querubins' significa 'plenitude de
conhecimento' ou 'derramamento de sabedoria'... Esses
nomes indicam a semelhança deles com o que Deus e."¹⁶
Sao Dionísio enfatiza que cada ordem de anjos
transmite suas experiencias particulares de Deus para a
ordem abaixo dela.¹⁷ A ultima ordem de seres angelicais,
os anjos per se, esta mais proxima do homem: "Por
estarem mais proximos de nos, eles, mais
apropriadamente do que os anteriores, sao chamados
de 'anjos', na medida em que sua hierarquia esta mais
preocupada com a revelaçao e esta mais proxima do
mundo."¹⁸
Sao Maximo, o Confessor, tambem ensina que as
ordens superiores transmitem suas experiencias de
Deus para as inferiores. Ele descreve ainda como a
ultima ordem de anjos transmite suas virtudes e
conhecimento ao homem:

"Ao comunicar a iluminação uns aos outros, as


potências angelicais também comunicam sua
virtude ou seu conhecimento à natureza humana.
Em relação à sua virtude, eles comunicam uma
bondade que imita a bondade de Deus, e por meio
dessa bondade eles conferem bênçãos a si mesmos,
uns aos outros e aos seus inferiores... tornando-os
semelhantes a Deus."¹⁹

A numeraçao dionisiana de tres hierarquias com


tres ordens cada transmite a crença de que ha um
numero inumeravel de seres angelicais, cujo numero
real esta alem das capacidades da compreensao
humana: "Penso que tambem devemos refletir sobre a
tradiçao nas Escrituras de que os anjos sao mil vezes mil
e dez mil vezes dez mil. Esses numeros, enormes para
nos, elevam-se ao quadrado e multiplicam-se, indicando
claramente que as fileiras dos seres celestiais sao
inumeraveis. Tao numerosos sao, de fato, os exercitos
abençoados de seres inteligentes transcendentais que
ultrapassam o reino fragil e limitado de nossos numeros
físicos."²⁰
Os seres angelicais superam infinitamente os seres
humanos. Aos olhos de Deus, o numero final de seres
humanos e, na verdade, insignificante em comparaçao.
Sao Cirilo de Jerusalem, ao comentar a Parabola da
Ovelha Perdida, refere-se a ovelha como representando
o numero finito da humanidade, enquanto as noventa e
nove simbolizam o numero infinito de anjos.²¹
Ele tambem acrescenta: "A terra inteira e apenas
como um ponto no meio do unico ceu e ainda assim
contem uma multidao tao grande; que multidao deve o
ceu que a circunda conter? E nao deve o ceu dos ceus
conter numeros inimaginaveis?"²²
Em um nível puramente cosmico, vemos o quao
unico e precioso e ser humano. Somente a
humanidade—e nao os anjos—foi criada a imagem de
Deus.²³ Alem disso, na Pessoa de Cristo, Deus assumiu
nossa natureza humana e nao a natureza de uma ordem
angelical: "Deus se fez homem para que o homem possa
ser divino."²⁴ E por isso que os anjos nos servem. E por
isso que o diabo nos odeia.
De acordo com Sao Gregorio Palamas, "Embora os
anjos sejam superiores a nos de muitas maneiras, ainda
assim, em alguns aspectos—como dissemos e como
repetiremos—eles ficam aquem de nos em relaçao a
imagem do Criador; pois nos, mais do que eles, fomos
criados a imagem de Deus."²⁵
No entanto, no contexto de nossa condiçao caída,
ele acrescenta: "Mesmo que ainda carreguemos a
imagem de Deus em maior grau do que os anjos, no que
diz respeito a semelhança com Deus, estamos muito
aquem deles."²⁶
Tempo Angelical

Ao discutir a natureza dos seres angelicais, e


importante ter em mente que eles nao existem no
mesmo tipo de tempo que nos. No ensino patrístico, ha
tres modos distintos de tempo.²⁷ Vamos nos referir a
eles como eternidade, tempo angelical e tempo
temporal.²⁸ A eternidade diz respeito a natureza nao
criada de Deus, o tempo angelical a natureza invisível
criada dos anjos e o tempo temporal ao mundo visível
criado do homem e do universo material.
A eternidade e basicamente um modo de ser onde
nosso conceito de tempo nao se aplica. E exclusivo
apenas a Deus—ao Pai, ao Filho e ao Espírito Santo.
Eternidade nao significa simplesmente tempo sem fim.
Tambem implica nenhum começo.
Na eternidade nao ha passado nem futuro. Talvez, a
partir da perspectiva limitada de nosso tempo temporal
e devido as limitaçoes de nossa linguagem humana
criada, poderíamos dizer que a eternidade e um
constante 'presente'.
O tempo temporal começa com a criaçao de nosso
universo material. Ele tem um início definido. Tambem
tera um fim definido. O tempo temporal e caracterizado
por passado, presente e futuro.²⁹ O momento presente
constantemente 'se move' e instantaneamente se torna
passado. O tempo temporal e medido por intervalos de
duraçao cronologica e caracterizado por mudança
constante e movimento atraves do espaço.³⁰ O momento
presente instantaneamente se torna passado. Tudo esta
constantemente mudando. O tempo voa.
E dentro do tempo temporal que o homem exerce
seu dom unico de liberdade dado por Deus. O homem
deve escolher livremente direcionar-se para o seu
Criador, ou se assim escolher, pode se separar Dele, a
Fonte da Vida. Somente a humanidade desfruta desse
dom unico de liberdade.
De fato, o homem deve escolher constantemente.
Nosso tempo temporal serve como o ambiente no qual a
liberdade humana floresce ou se torna escrava. O tempo
temporal oferece a humanidade outra oportunidade
unica—a oportunidade de se arrepender de nossos
pecados e escolhas erradas. Somente o homem tem a
capacidade de mudar a maneira como vive. Cada novo
dia tem o potencial de marcar um recomeço
completamente novo.
No entanto, havera um ultimo intervalo do nosso
tempo temporal. Havera um ultimo ano, um ultimo mes,
uma ultima semana. Havera um 'ultimo dia'³¹ quando o
tempo, como o conhecemos, cessara. E por isso que o
nosso tempo—por que cada um de nossos dias—e tao
precioso e unico.³²
Alem disso, a eternidade entrou no tempo temporal
agora que Deus se tornou homem. O Deus eterno e nao
criado uniu Seu Reino eterno com o mundo temporal
quando assumiu nossa natureza humana criada e se
tornou homem na Pessoa de Cristo. Em virtude da
Encarnaçao do Filho de Deus, o homem—por meio de
sua participaçao pessoal na vida ascetica, liturgica e
sacramental da Santa Igreja de Cristo—pode
experimentar um preludio da graça e grande gloria do
Reino eterno de Deus mesmo agora, enquanto esta nesta
vida temporal.
Existe tambem um terceiro tipo de tempo, que e
distinto tanto do Reino eterno de Deus quanto do
mundo temporal do homem. Vamos defini-lo como
'tempo angelical'. O tempo angelical começa com a
criaçao do mundo espiritual dos seres angelicais. Apesar
de serem criados, os seres angelicais sao invisíveis e
imateriais. Eles nao tem uma natureza física como nos.
Os anjos nao estao encarregados de corpos físicos e
materiais. Eles nao sao limitados pelas restriçoes de
tempo e lugar. O tempo angelical nao pode ser
caracterizado em termos de movimento e duraçao. Nao
pode ser comparado com nosso contínuo tempo-espaço.
Os anjos sao atemporais. Eles nao conhecem nem
juventude nem velhice como nos.³³
Assim como o tempo temporal, o tempo angelical
tambem tem um começo, ja que os seres angelicais
foram criados do nada (ex nihilo), como tudo o mais
criado por Deus. Varios Padres da Igreja ensinam que o
mundo angelical foi criado antes do mundo material.³⁴
O instante preciso em que os anjos foram criados
pela primeira vez e obviamente desconhecido para o
homem. Mas deve ter ocorrido fora do nosso tempo
temporal, ja que o tempo temporal começou apenas com
a criaçao do mundo material e visível. Como seres
humanos criados da ordem visível e material, nao
podemos compreender a natureza do mundo angelical
imaterial. Nem podemos compreender o tipo de 'tempo'
natural a ele.³⁵
Aparições dos Anjos

Do ponto de vista humano, os anjos sao seres


imateriais e sem corpo. Embora possam, por vezes,
aparecer visivelmente ao homem com corpos
aparentemente corporeos, isso e apenas resultado de
assumirem temporariamente uma forma
aparentemente material, e apenas para um proposito
específico.³⁶ Essa forma corporea temporaria ou 'física'
e unica para eles. Sao Joao Damasceno ensina: "Visto que
sao intelectos [νὁες], eles estao em lugares
intelectualmente e nao sao circunscritos corporeamente.
Por natureza, eles nao tem forma corporal e nao sao
estendidos em tres dimensoes; ao contrario, estao
presentes e agem no espaço intelectualmente [νὁητῶς]
em qualquer lugar onde sao ordenados a faze-lo."³⁷
Em outro lugar, ele explica:
Embora o anjo nao esteja fisicamente contido em
um lugar para assumir uma forma e figura concretas,
diz-se que esta em um lugar por estar espiritualmente
presente la e agir de acordo com sua natureza, e por
estar em nenhum outro lugar, mas permanecer
espiritualmente circunscrito la onde age.³⁸
A visao de um anjo em toda a plenitude de seu
brilho natural aterrorizaria a maioria dos seres
humanos. Quando ordenados a aparecer diante do
homem, a extensao completa de sua gloria deve ser
oculta: "Eles nao aparecem exatamente como sao para
os justos e para aqueles a quem Deus deseja que eles
apareçam. Pelo contrario, aparecem sob uma forma tao
diferente quanto pode ser vista por aqueles que os
contemplam."³⁹
A linguagem usada por Sao Joao Damasceno ao
descrever o 'movimento' unico dos anjos e interessante.
Diz-se que os anjos se movem muito 'rapidamente' ou
'velozmente': "Pois o anjo age em diferentes lugares por
virtude de uma rapidez natural e de sua capacidade de
passar sem demora, ou seja, rapidamente, de um lugar
para outro."⁴⁰ Ele acrescenta: "Eles sao vigorosos e
prontos na execuçao da vontade divina e, por uma
rapidez natural, aparecem imediatamente em qualquer
lugar que o prazer divino possa comandar."⁴¹
Corpos Angelicais

Embora os anjos sejam capazes de se transportar


de maneira sobrenatural de um lugar para outro, eles
nao podem estar em mais de um lugar ao mesmo
tempo.⁴² Apesar de serem invisíveis, eles nao sao
onipresentes. Somente Deus e onipresente. Os anjos nao
conseguem agir ou estar presentes em dois lugares
diferentes ao mesmo tempo: "Os anjos sao circunscritos,
porque quando estao no ceu, nao estao na terra, e
quando sao enviados a terra por Deus, nao permanecem
no ceu. No entanto, eles nao sao confinados por paredes
ou portas ou barras ou selos, porque sao ilimitados."⁴³
Embora nao estejam restritos pelas leis físicas de
espaço e tempo, ainda existem limites para onde os
anjos estao presentes e ativos.
Embora mais frequentemente referidos como
'poderes incorporeos', os seres angelicais tambem sao
mencionados como tendo 'corpos aereos'. Em
comparaçao com o homem, os seres angelicais sao
considerados sem corpo. No entanto, em comparaçao
com Deus, eles tambem nao sao puramente espírito,
pois somente Deus e espírito puro.
Sao Joao Damasceno fornece uma definiçao
classica: "Comparado conosco, diz-se que o anjo e
incorporeo e imaterial, embora, em comparaçao com
Deus, que sozinho e incomparavel, tudo se prove
grosseiro e material, pois somente a Divindade e
verdadeiramente imaterial e incorporea."⁴⁴ Assim,
qualquer referencia a corpos aereos de anjos nao deve
ser pensada em termos de materialidade ou fisicalidade.
Natureza Angelical

Como os anjos nao sao sobrecarregados pelo peso


de um corpo material nem limitados pelas restriçoes de
um cerebro biologico, pode-se perguntar como os anjos
pensam e se comunicam. Obviamente, eles nao se
comunicam da mesma forma que voce ou eu. Em vez de
tentar descrever como os anjos realmente se
comunicam entre si, Sao Joao Damasceno afirma
simplesmente como eles nao o fazem: "Eles nao tem
necessidade de língua e audiçao; ao contrario,
comunicam seus pensamentos e planos individuais uns
aos outros sem recorrer a palavra falada."⁴⁵
Sao Dionísio descreve o funcionamento da mente
angelical de maneira semelhante:

"As mentes angelicais retiram de sua Sabedoria


concepçoes simples e abençoadas. Elas nao reunem
seu conhecimento de Deus a partir de fragmentos
nem de períodos de percepçao ou raciocínio
discursivo. E ao mesmo tempo, elas nao estao
limitadas a percepçao e razao. Sendo livres de todo
fardo de materia, elas pensam os pensamentos do
reino divino... imaterialmente e em um unico ato."⁴⁶
Tambem devemos observar que os anjos nao sao
santos por natureza. Eles nao sao seres divinos. Apenas
o Pai, o Filho e o Espírito Santo sao divinos por natureza.
Os seres angelicais recebem sua santidade de Deus.
Sao Basílio faz essa distinçao claramente ao defender a
divindade da Pessoa do Espírito Santo. Ele enfatiza que
o Espírito Santo e divino por natureza, enquanto os
anjos sao santos pela graça:

"As potências puras, espirituais e


transcendentais são chamadas santas porque
receberam a santidade da graça do Espírito Santo...
As potências angelicais não são santas por sua
própria natureza; do contrário, não haveria
diferença entre elas e o Espírito Santo. Pelo contrário,
são santificadas pelo Espírito Santo na proporção de
sua excelência... A santidade não faz parte de sua
essência; ela é realizada neles por meio da comunhão
com o Espírito."⁴⁷

Da mesma forma, os anjos nao sao imortais por


natureza. Sua imortalidade e apenas pela graça.⁴⁸
Alem disso, tambem e importante ressaltar que os
anjos nao sao oniscientes ou sabedores de tudo. Eles nao
conhecem o futuro. Somente Deus e onisciente e sabe de
tudo: "Nem os anjos de Deus nem os espíritos malignos
conhecem o futuro. No entanto, eles o predizem. Os
anjos o fazem quando Deus lhes revela o futuro e os
ordena a predize-lo, por isso, tudo o que dizem
acontece."⁴⁹
Liberdade Angelical

Embora os anjos sejam livres, eles nao exercem a


liberdade da mesma maneira que nos dentro de nossas
dimensoes unicas de espaço e tempo. Vivemos e nos
movemos dentro das leis do tempo temporal. Somos
livres para fazer escolhas diferentes, e ate mesmo
contrarias, a cada dia.⁵⁰
No entanto, os anjos santos nao flutuam em termos
de sua liberdade. Eles nao deliberam nem hesitam como
nos. Eles nao se afastam de Deus: "Diz-se dos anjos que
eles nao caem, ou, como alguns dizem, que eles nao
podem cair. Mas os homens caem, no entanto, podem se
levantar rapidamente tantas vezes quantas isso lhes
acontecer. Demonios, e apenas demonios, nunca se
levantam depois de terem caído."⁵¹
Apos sua escolha inicial, os seres angelicais nao
mudam mais sua condiçao livremente escolhida. Eles
exerceram seu livre arbítrio. Agora, ou seguem a Deus e
continuam a crescer continuamente na santidade dada
por Deus, ou permanecem em sua separaçao dele e em
sua desviaçao da bondade inerente a sua condiçao
natural.⁵²
Os anjos sao realmente livres, mas seu livre arbítrio,
de nossa visao temporal, foi permanentemente
estabilizado de uma vez por todas. Embora livres, os
anjos santos nao estao dispostos a se separar de Deus:
"Eles mantem sua posiçao perseverando na bondade,
escolhendo livremente nunca abandonar servi-lo, que e
bom por natureza."⁵³ Essa condiçao livremente
escolhida agora permanece enraizada dentro deles.⁵⁴
Sao Joao Damasceno compara a liberdade angelical
a condiçao do homem apos a morte.⁵⁵ Quando a alma se
separa do corpo na morte, ela deixa os limites do tempo
temporal. Nao ha mais oportunidade de mudar a
orientaçao do livre arbítrio. Simplesmente continuamos
adiante, em um 'momento presente' interminavel,
sempre inclinando-nos para a direçao que livremente
escolhemos — seja em direçao a Deus ou longe Dele.
Sao Gregorio Palamas ensina: “Os anjos que caíram
adquiriram uma vontade noetica perpetuamente ma,
enquanto os bons anjos possuem uma que e
perpetuamente boa e nao precisa de freio.”⁵⁶
Assim, os anjos ainda mantem sua liberdade, mas
permanecem no mesmo estado firme e condiçao
constante que escolheram originalmente.
Os seres angelicais fizeram sua escolha livre 'uma
vez por toda a 'eternidade'. Nao ha 'mudança de direçao'
na liberdade angelical. Nao ha vacilaçao. Os anjos foram
criados livres para manter sua ligaçao natural com seu
Criador ou para se separarem continuamente Dele.
Portanto, sua atraçao fixa por Deus nao implica a
erradicaçao de sua liberdade. Pelo contrario, pela graça
divina, ela leva a intensificaçao contínua e a deificaçao
de sua liberdade: “Eles nao podem ser movidos para o
mal — nao por causa de sua natureza, mas pela graça e
sua busca diligente pelo Unico Bem.”⁵⁷
Em relaçao a liberdade angelical, ha, portanto, uma
diferença essencial entre uma mudança real na condiçao
de sua relaçao com Deus — o que nao e mais possível
devido a natureza do tempo angelical; e o crescimento
contínuo e progresso eterno de seu amor e perfeiçao em
Deus — uma experiencia que eles sempre desfrutarao.
Anjos e Progresso Eterno

Os anjos nao se desviam da direçao escolhida pelo


seu livre arbítrio. No entanto, eles continuam a crescer
e progredir ao longo do caminho que escolheram
livremente. Os anjos, como a humanidade, foram criados
com a capacidade inata de progredir continuamente na
perfeiçao espiritual e na participaçao pessoal no amor
divino, na vida e na luz de Deus ao longo de toda a
eternidade.
A perfeiçao espiritual nao e alcançada no sentido de
atingir um estado estatico onde o crescimento e o
progresso cessam. A perfeiçao nao e romper uma
barreira e finalmente chegar a uma condiçao espiritual
exaltada.⁵⁸ Deus e infinito e eterno. Todos aqueles que
Ele criou e dotou com a liberdade inata, tanto os seres
angelicais quanto os seres humanos, que se esforçam
livremente para progredir e avançar em direçao a Sua
semelhança divina, nunca deixarao de se tornar, pela
Sua graça, cada vez mais parecidos com Ele.
Tanto os anjos quanto os santos continuarao a
crescer e progredir continuamente na semelhança de
Deus. Como Deus e infinito, nao ha limite para a
perfeiçao na participaçao pessoal em Sua graça divina e
gloria.
Portanto, nao ha limite para a perfeiçao espiritual,
nem para os anjos nem para os santos. Segundo Sao Joao
Clímaco, "O amor nao tem fronteira e, tanto no presente
como na era futura, nunca deixaremos de progredir nele,
adicionando luz a luz... ate os anjos progridem e, de fato,
adicionam gloria a gloria e conhecimento a
conhecimento."⁵⁹ Sao Gregorio do Sinai acrescenta:
"Diz-se que na vida futura, os anjos e os santos nunca
deixarao de progredir, aumentando seus dons, buscando
bençaos cada vez maiores. Nenhuma negligencia ou
mudança da virtude para o pecado e admitida nessa
vida."⁶⁰
Nao importa em que nível de progresso espiritual
possamos atingir, nem quantas virtudes possamos
adquirir, sempre havera um crescimento ainda maior e
infinito - ao longo de toda a eternidade. Como criaturas
de Deus, fomos feitos para a imortalidade e a vida eterna.
Este e o destino final de nossas vidas como seres
humanos. Este e tambem o destino eterno dos anjos
santos. Os anjos e os santos mergulharao para sempre
mais fundo no oceano infinito do amor ilimitado e da
gloria eterna de Deus.⁶¹
Anjos e Adoração Litúrgica Ortodoxa

Os anjos nunca cessam em sua adoraçao a


Santíssima Trindade, e sao continuamente lembrados e
invocados para participar da vida liturgica da Igreja
Ortodoxa.
Os anjos sao mencionados com frequencia ao longo
do culto ortodoxo. Antes do início da Divina Liturgia,
durante o Serviço de Proskomide ou Preparaçao, uma
porçao do prosphora ou Pao Santo e colocada na patena
em sua honra.⁶² Imediatamente apos a porçao cortada
em comemoraçao a Panagia (a Mae de Deus), das outras
nove porçoes menores, aquela que comemora "os
Arcanjos Miguel e Gabriel e todas as outras potestades
celestiais" e realmente colocada primeiro, antes dos
Profetas, Apostolos, Padres da Igreja, Martires e aqueles
que seguem.
Outras oraçoes durante a Divina Liturgia que se
referem diretamente aos anjos incluem a oraçao
sacerdotal imediatamente antes da Entrada do
Evangelho,⁶³ o Hino Querubínico,⁶⁴ bem como a Oraçao
da Anafora, onde o sacerdote reza: "Legioes de arcanjos
e dezenas de milhares de anjos te servem, os querubins
de muitos olhos e os serafins de seis asas que voam alto...
E com esses Poderes abençoados, o Soberano Senhor e
amigo dos homens, tambem clamamos em voz alta e
dizemos: Santo e santíssimo es Tu, e teu Filho unigenito,
e teu Espírito Santo."⁶⁵
Muitos escritos hagiograficos e asceticos atestam
relatos de anjos aparecendo no altar sagrado durante a
celebraçao da Divina Liturgia.⁶⁶ Especialmente notavel
e a Vida de Sao Nefon de Constantiniana (um bispo
asceta comemorado em 23 de dezembro). E registrado
como, em uma Liturgia específica, ele conversou com
um anjo que estava guardando o santo altar. Ele tambem
viu outros anjos descendo em momentos específicos,
participando do canto, acompanhando a procissao dos
Dons Sagrados e observando a dignidade, ou a falta dela,
dos fieis que se aproximavam para a Santa Comunhao.
Eles tambem estavam presentes no final da Liturgia
quando o sacerdote consumia os Dons Sagrados.⁶⁷
Outra descriçao interessante da experiencia dos
anjos durante a Divina Liturgia e fornecida pelo falecido
Anciao Iakovos (Tsalikis) de Evia:

"As pessoas são cegas e não veem o que acontece


na igreja durante a Divina Liturgia. Uma vez, eu
estava servindo e não conseguia fazer a Grande
Entrada por causa do que vi. De repente, senti
alguém me empurrando pelo ombro e me guiando.
Eu pensei que fosse o cantor. Virei-me e vi uma
enorme asa que o arcanjo havia colocado sobre meu
ombro, e que ele estava me guiando para fazer a
Grande Entrada. Que coisas surpreendentes
acontecem no altar durante a Divina Liturgia! ... Às
vezes, não consigo lidar com isso, e então desmaio em
uma cadeira, e alguns concelebrantes concluem que
há algo errado com minha saúde, mas eles não
percebem o que vejo e ouço."⁶⁸

Tambem dentro da vida liturgica da Igreja, o dia 8


de novembro e celebrado como uma festa importante,
quando a Sínaxe dos Líderes da Hoste Celestial, os
Arcanjos Miguel e Gabriel, e todas as Potestades
Incorporeas, sao especialmente lembrados.⁶⁹ Como
uma festa principal na vida da Igreja, esta Sínaxe dos
Arcanjos e celebrada com uma vigília durante toda a
noite, incluindo uma entrada em Vesperas e uma leitura
do Evangelho durante Matinas. Oleo e vinho sao
permitidos se cair em um dia de jejum. Tambem e
observado descanso do trabalho.⁷⁰
Alem disso, a Igreja Ortodoxa dedica toda segunda-
feira a comemoraçao dos Santos Anjos.⁷¹ Canones
especiais sao cantados durante Matinas em sua honra. A
Igreja tambem celebra Saudaçoes e oferece Canones
Suplicatorios aos Santos Anjos. Ha tambem um belo
Canone Suplicatorio ao Anjo da Guarda. Claramente, a
Igreja Ortodoxa esta consciente da presença contínua e
participaçao ativa dos santos anjos em sua adoraçao
liturgica. Os fieis constantemente lembram dos anjos e
invocam suas oraçoes e proteçao.
Anjos da Guarda

Embora um aspecto principal do ministerio dos


anjos seja louvar, honrar e glorificar a Santíssima
Trindade, outro papel importante inclui sua funçao
unica como ministros da humanidade: "Pois, embora os
anjos sejam superiores a nos em dignidade, e sua tarefa
executar obedientemente o desígnio de Deus em relaçao
a nos; pois sao ministros enviados para servir 'aqueles
que serao herdeiros da salvaçao'."⁷²
O ministerio dos anjos da guarda e um elemento
importante da angelologia ortodoxa. A crença nos anjos
da guarda e sancionada pelo proprio Senhor: "Guardai-
vos de desprezar um so destes pequeninos, pois eu vos
digo que os seus anjos nos ceus sempre contemplam a
face de meu Pai celestial".⁷³
Uma maneira pela qual nossos anjos da guarda nos
servem e nos protegendo quando viajamos. Na Oraçao
pelos que Viajam, lemos: "Senhor Jesus Cristo, nosso
Deus ... Nos te pedimos humildemente, o Mestre
santíssimo, por tua graça, para acompanhar agora este
teu servo. E envia-lhe ... um Anjo da Guarda, guiando,
preservando e livrando-o de todo mal, assalto de
inimigos, tanto visíveis quanto invisíveis ..."⁷⁴
Sao Gregorio de Nissa ensina que cada ser humano
tem seu proprio anjo da guarda: "Deus nao desprezou
nossa queda e nao retirou sua providencia. ... ele
designou um anjo com uma natureza incorporea para
ajudar na vida de cada pessoa ..."⁷⁵ Tambem em
"Filocalia", lemos: "Quando voce fecha as portas de sua
morada e esta sozinho, deve saber que esta presente
contigo o anjo que Deus designou para cada homem ..."⁷⁶
Sao Joao Crisostomo tambem acrescenta: "Perto de cada
um de nos, ha anjos sentados; e ainda assim roncamos a
noite inteira. E quem dera que fosse apenas isso."⁷⁷
Sao Basílio ensina que quando vivemos retamente
e evitamos o pecado, tornamos mais facil para nosso
anjo da guarda nos defender e proteger.⁷⁸ No entanto,
quando pecamos e praticamos açoes mas, nosso anjo e
repelido, afastado como as abelhas do fumo ou as
pombas do mau cheiro.⁷⁹
Como crentes ortodoxos, suplicamos
continuamente ao Senhor que Seus anjos possam
permanecer perto de nos, apesar de nossos pecados que
nos separam d'Ele. Ao longo da vida liturgica da Igreja,
os fieis invocam o Senhor para que lhes conceda a ajuda
de Seus santos anjos.
Oramos constantemente para que nosso anjo da
guarda continue a preservar e proteger-nos: "Por um
anjo da paz, um guia fiel e guardiao de nossas almas e
corpos, roguemos ao Senhor."⁸⁰ Especialmente notaveis
sao as referencias aos anjos da guarda encontradas na
Anafora da Liturgia de Sao Basílio, bem como nas
Oraçoes Ajoelhadas para a Vespera Dominical de
Pentecostes. Na Anafora de Sao Basílio, o sacerdote reza:
"Pois tu, Bom Mestre, nao abandonaste totalmente a tua
criatura que criaste, nem esqueceste as obras de tuas
maos, mas ... Tu designaste anjos sobre nos para nos
guardar."⁸¹ Alem disso, nas Oraçoes Ajoelhadas para a
Vespera de Pentecostes, durante a primeira oraçao, o
sacerdote reza: "Confia teu povo a um fiel Anjo da
Guarda...", e na terceira oraçao, ele reza em nome dos
falecidos: "Portanto, O Mestre, aceita nossas oraçoes e
suplicas, e concede repouso a todos ... que descansaram
antes de nos ... guiando-os para Tuas moradas santas
por Teus radiantes Anjos..."⁸²
Alem disso, em cada Serviço de Completas, no final
de cada dia, o crente recita uma oraçao especial pedindo
as intercessoes e proteçao de seu Anjo da Guarda.
Conclusão

Ao concluirmos, percebemos como a compreensao


ortodoxa dos anjos e vista a luz das Sagradas Escrituras,
da vida liturgica da Igreja e dos escritos dos Padres da
Igreja. Embora os anjos santos sejam espíritos liturgicos
que adoram a Santíssima Trindade, grande parte de seu
ministerio e direcionada aos seres humanos.
Os anjos santos cuidam providencialmente de nos e
nos protegem continuamente ao longo das diferentes
fases de nossa vida. Eles estao sempre presentes de
maneiras que nao podemos compreender. Eles se
preocupam constantemente conosco. Eles rezam
conosco e nos guiam; eles nos corrigem e nos protegem.
Eles se alegram quando rezamos, buscamos a virtude e
praticamos boas açoes. Eles se entristecem com nossos
pecados e lamentam quando caímos. Eles estao
intimamente envolvidos em toda a nossa vida - desde
nosso nascimento e batismo ate o exato momento de
nossa morte.
Que cada um de nos seja lembrado de como somos
chamados a buscar continuamente as intercessoes e a
proteçao espiritual do nosso proprio Anjo da Guarda
pessoal.
Encerramos com estas palavras inspiradoras
retiradas das preces do Canone Suplicatorio ao Nosso
Anjo da Guarda:
"O divino Anjo do Deus Todo-Poderoso, eu te louvo,
o guardiao vigilante da minha alma, o protetor da minha
vida e o guia que me foi dado por Deus."⁸³
"O guardiao da minha alma e corpo, o divino e todo-
santo Anjo designado para mim por Deus... livra-me das
diversas armadilhas do astuto, e faze com que o Deus
que temos em comum seja misericordioso para que Ele
me conceda remissao no julgamento."⁸⁴
"O ministro de Deus, meu guardiao mais excelente,
permanece para sempre comigo, pecador, livrando-me
da maldade dos demonios e guiando-me pelos caminhos
divinos que conduzem a vida imperecível."⁸⁵
"O meu guia e guardiao, meu protetor e libertador,
o supervisor da minha alma desesperada, quando o som
temível da trombeta me erguer da terra para o
julgamento, entao, alegre e gracioso, fica perto de mim,
dissipando o medo de mim com a esperança da
salvaçao."⁸⁶
"Agradeço a Jesus Cristo, que te deu a mim como o
grande, santo guardiao da minha alma e arma contra os
inimigos, o Anjo honrado por Deus... Concede que eu
tambem alcance o Reino de Cristo, nosso Deus."⁸⁷ Amem.
Capítulo Dois: Demônios
Na Igreja Ortodoxa, poucas doutrinas sobre o diabo e
os demônios são oficialmente proclamadas como dogma.
Ainda assim, a Igreja fornece ensinamentos fundamentais
baseados na Sagrada Escritura e nos escritos dos Padres da
Igreja. Em grego, a palavra para o diabo é ὁ διάβολος, que
significa caluniador.¹ O próprio Cristo se refere ao diabo
como o pai da mentira, um assassino desde o princípio e o
governante deste mundo.² O Novo Testamento também o
chama de governante dos demônios e o deus desta era.³
O diabo foi originalmente criado como o grande e
glorioso Lúcifer, a brilhante Estrela da Manhã e portador da
luz. Ele foi agraciado com "toda virtude e toda sabedoria".⁴
Segundo São João Damasceno, "ele foi criado um anjo
brilhante e muito luminoso pelo Criador"⁵ como o "chefe da
ordem terrestre... confiado por Deus com a guarda da
terra".⁶
Infelizmente, Lúcifer escolheu tornar-se Satanás:
"Como você caiu dos céus, ó Lúcifer, que se levantou de
manhã! Aquele que convoca todas as nações é esmagado na
terra. Pois você disse em sua mente: 'Subirei ao céu;
colocarei meu trono acima das estrelas do céu. Eu me
sentarei em uma montanha alta, nas montanhas altas em
direção ao norte. Subirei acima das nuvens; serei como o
Altíssimo. Mas agora você descerá para o Hades, para os
fundamentos da terra." ⁷
Assim como todos os outros seres angelicais, Lúcifer foi
criado livre para escolher buscar a Deus e participar de Sua
santidade. Ou, se assim desejasse, ele poderia usar sua
liberdade escolhendo se alienar e se distanciar de Deus, seu
Criador.⁸ Quando escolheu a rebelião contra Deus, Lúcifer
tornou-se Satanás, escravizado à sua própria vontade
maligna.⁹ São Gregório Palamas escreve: "Sua essência era
capaz de admitir o mal, já que foi honrado com o livre
arbítrio. Se voluntariamente aceitasse um status
subordinado... ele teria participado da verdadeira vida. Mas,
uma vez que deliberadamente se entregou ao mal, foi
privado da verdadeira vida e foi justamente expulso dela,
pois ele mesmo a abandonara em primeiro lugar."¹⁰ Satanás
tornou-se assim a fonte primordial de todo mal que
posteriormente infectou a criação de Deus.¹¹ E ele incitou
outros seres angelicais a segui-lo.
A rebelião angelical é descrita no Livro do Apocalipse:
"Houve guerra no céu. Miguel e seus anjos lutaram contra o
dragão, e o dragão e seus anjos lutaram, mas não
prevaleceram, nem mais houve lugar para eles no céu. E foi
expulso o grande dragão, a antiga serpente, que se chama
Diabo e Satanás, o sedutor de todo o mundo; ele foi lançado
na terra, e com ele foram lançados os seus anjos."¹²
A Sagrada Escritura afirma que um terço da hoste
angelical se desviou, tornando-se demônios.¹³ A fração "um
terço" pode não implicar uma quantidade exata. Talvez seja
uma forma de transmitir a verdade de que um grande
número de seres angelicais, mas claramente não a maioria,
se desviou. O ponto principal é que há mais anjos bons do
que demônios.¹⁴
São João Damasceno comenta sobre a queda de
Satanás:
Embora ele tenha sido criado para o bem e não
tivesse em si o menor vestígio de mal do Criador, ele não
manteve o brilho e a dignidade que o Criador lhe havia
concedido. ... Tendo se revoltado contra o Deus que o
criou e desejado rebelar-se contra Ele, ele foi o primeiro
a abandonar o bem e tornar-se mal... Com ele, uma
horda inumerável dos anjos que ele havia liderado foi
arrancada, seguiu-o e caiu. Portanto, embora fossem da
mesma natureza dos anjos, eles se tornaram maus ao se
voltarem livremente do bem para o mal.¹⁵

Os demônios foram originalmente criados bons e em


todos os aspectos, assim como todos os anjos criados por
Deus. No entanto, assim como Lúcifer, em vez de usar sua
liberdade concedida por Deus para progredir em santidade,
eles também escolheram a rebelião contra seu Criador: "Se
são chamados de mal, não é em relação ao seu ser, já que
devem sua origem ao Bem e foram os receptores de um ser
bom... São chamados de mal devido à privação, ao abandono
[e] à rejeição das virtudes... apropriadas a eles."¹⁶
Através do mau uso de sua livre vontade, eles também
caíram. Muitos seres angelicais bons tornaram-se
demônios: "anjos que não guardaram o seu domínio
apropriado, mas abandonaram a sua própria morada."¹⁷ Em
vez de viver na luz divina de Deus, agora habitam nas trevas
espirituais:
"Os anjos são ordenados a servir o Criador... e seu
papel designado é ser governado por Deus... No entanto,
Satanás ansiou presunçosamente governar
contrariamente à vontade do Criador, e quando, junto
com seus companheiros anjos apóstatas, abandonou seu
posto adequado, foi justamente abandonado pela
verdadeira Fonte de vida e iluminação, e vestiu-se de
morte e escuridão eterna."¹⁸
O Orgulho de Satanás
O orgulho precedeu a queda de Lúcifer.¹⁹ O orgulho
levou Lúcifer a desejar igualdade com o próprio Deus.²⁰ São
Gregório Palamas é mais específico. Ele atribui a queda de
Lúcifer ao seu desejo de autoridade igual à de Deus:

Ele desejou, em sua arrogância, tornar-se como o


Criador em autoridade; e ele foi justamente abandonado
por Deus na mesma medida em que ele mesmo havia
primeiro abandonado Deus. Tão completa foi sua
deserção de Deus que ele se tornou Seu oponente,
adversário e inimigo manifesto.²¹

Em vez de ser grato a Deus e oferecer humildes


agradecimentos pelas muitas bênçãos que lhe foram
concedidas, Lúcifer exigiu mais. Insistiu arrogantemente na
igualdade com Deus.
A virtude da gratidão caracteriza a condição pré-queda
tanto dos seres angelicais quanto dos seres humanos. É
natural para anjos e humanos oferecerem agradecimentos a
Deus. E expressamos nossa gratidão em oração e através da
oração. Por outro lado, a ingratidão é um sintoma da Queda.
A ingratidão é indicativa da separação do homem de Deus.
A ingratidão é antinatural tanto para a humanidade quanto
para os anjos.
É interessante comparar o orgulho de Satanás com a
humildade de Cristo. Satanás foi criado como um dos anjos
mais destacados e gloriosos de Deus. No entanto, o orgulho
e o amor próprio levaram à ingratidão. Ele ficou insatisfeito
com quem era e com o que havia recebido. Insistiu na
igualdade entre Deus e ele mesmo.
No entanto, Cristo é Deus - o Filho Unigênito de Deus e
Criador de todo o universo.²² Contudo, devido à Sua
humildade e grande amor por toda a humanidade, Cristo,
"que, embora estivesse na forma de Deus, não considerou a
igualdade com Deus como algo a ser retido ... mas esvaziou-
se a si mesmo, tomando a forma de um servo, nascendo na
semelhança dos homens."²³ Satanás personifica o orgulho
interesseiro e o amor por si mesmo - excluindo todos os
outros, incluindo Deus. Enquanto Cristo é a personificação
da negação de si mesmo e da humildade, até o ponto do
amor abrangente por toda a humanidade.
Quando o amor do homem por si mesmo não permite
a negação de si mesmo e o esvaziamento em amor por todos
os outros, como Cristo viveu e ensinou, então o orgulho
pode transformá-lo em um pequeno satanás.²⁴ Em vez de se
tornar semelhante a Cristo, o homem pode se tornar
semelhante ao Anti-Cristo. O homem pode se tornar como o
diabo.²⁵
O orgulho é claramente demoníaco: "O orgulho é o
princípio do mal, a raiz de toda tragédia, o semeador de
inimizade, o destruidor da paz... No orgulho está a essência
do inferno. O orgulho é a 'escuridão exterior' onde o homem
perde o contato com o Deus do amor."²⁶ Ironicamente,
embora Satanás desejasse igualdade com Deus, seu orgulho
na verdade o separou de Deus. O diabo e seus demônios se
alienaram da vida e do amor da Santíssima Trindade.
Através da paixão do orgulho, o homem também se torna
seu próprio demônio.²⁷ Em vez de cumprir seu destino de
se tornar um 'participante da natureza divina',²⁸ o homem
participa do orgulho e, assim, se separa de Deus.²⁹
O Ancião Sophrony lista vários sintomas que ele
considera indicativos da doença do orgulho:

O orgulho é a fonte do pecado, compreendendo


todos os aspectos que o mal pode assumir - presunção,
ambição, indiferença, crueldade, desconsideração pelo
sofrimento dos outros; ... melancolia, desespero,
animosidade; inveja, um complexo de inferioridade,
desejos carnais; perturbação psicológica cansativa,
sentimentos rebeldes, medo da morte ou, ao contrário,
desejo de pôr fim à vida... Estes são os indicativos da
espiritualidade demoníaca. No entanto, até que se
manifestem claramente, passam despercebidos por
muitos. ... Em algumas pessoas, predomina a
megalomania ou a ambição. Em outras, a nostalgia, o
desespero, a ansiedade oculta. Em ainda outras, a inveja,
a melancolia, o ódio. Em muitos, os desejos da carne. Mas
todos sofrem de imaginação desenfreada e orgulho -
talvez disfarçados por uma aparência de falsa
humildade.³⁰
A Inveja de Satanás pelo Homem
A paixão da inveja é especialmente digna de nota. A
inveja e o orgulho estão intimamente conectados. Devido ao
seu orgulho e ao desejo consequente de igualdade com Deus,
Satanás agora está extremamente invejoso do homem, que
é especialmente criado à imagem e semelhança do próprio
Deus.³¹
O diabo fica consternado com a ideia de a humanidade
ser abençoada com a mesma semelhança que ele mesmo
exigiu.³² Ele sente repulsa pelo fato de que Deus assumiu a
natureza humana na Pessoa de Cristo, e que é o homem que
agora tem o potencial de crescer da imagem divina para a
semelhança divina. Curiosamente, quando o diabo tentou
Eva a desobedecer a Deus, ele usou as palavras: "seus olhos
serão abertos, e vocês serão como deuses".³³
Aquilo que Satanás buscava tão apaixonadamente é
agora concedido ao homem. Quando Deus se fez homem na
Encarnação do Filho de Deus, a natureza humana foi
elevada a um novo potencial para a divinização em Cristo.
Através de sua participação pessoal na vida ascética,
litúrgica e sacramental do Corpo Santo e Ressuscitado de
Cristo, o homem pode, de fato, tornar-se, pela graça divina,
um 'participante da natureza divina'.³⁴
De todas as grandes e numerosas criaturas de Deus, é
apenas o homem que participa da natureza humana
ressuscitada de Cristo. Apenas o homem recebe o Corpo e
Sangue de Cristo na Santa Eucaristia, que diviniza. É a
natureza humana única do homem que foi assumida por
Cristo, e não outra. Satanás, portanto, é ainda mais invejoso
e abriga um ódio furioso por toda a humanidade - de fato,
por cada homem e mulher.
Satanás está enfurecido não apenas por causa de nosso
privilégio único e potencial de nos tornarmos como Deus
em Cristo, mas também por causa de nosso papel único no
cosmos:

"Mas porque o homem foi designado não apenas


para ser governado por Deus, mas também para
governar sobre todas as criaturas na terra, o demônio o
olhou com olhos maliciosos e fez uso de todo
estratagema para privá-lo de seu domínio... Ele sugeriu
de maneira enganosa conselhos que aboliriam o
domínio do homem. Ele o enganou ou, melhor dizendo,
persuadiu-o a desconsiderar, desprezar e rejeitar, e de
fato a opor-se e agir contrariamente ao mandamento e
conselho dado por Deus. Dessa forma, ele induziu o
homem a participar de sua apostasia e, assim, a
compartilhar também de seu estado de trevas eternas e
morte."³⁵

Se Cristo, como proclama a Igreja Ortodoxa, é o


Filantropo (φιλάνθρῶπὁς) ou 'amante da humanidade',³⁶
então certamente Satanás é o misantropo arquetípico
(μισάνθρῶπὁς) — o odiador malicioso da humanidade.
Satanás teve sucesso em infectar a humanidade com
sua própria enfermidade espiritual do orgulho. Cada ser
humano é tentado e testado por essa mesma paixão: "O
orgulho é o abismo escuro no qual o homem mergulhou
quando caiu. Obedecendo à sua própria vontade, ele tornou-
se espiritualmente cego... Embriagado no paraíso pelo doce
veneno da auto-divinização luciferiana, o homem
enlouqueceu e tornou-se prisioneiro do inferno."³⁷
Todos nós experimentamos nosso próprio sabor do
pecado, que é a auto-separação da Fonte da Vida. Através do
orgulho, nos separamos de Deus. Sempre que buscamos
nossa própria vontade egoísta, separada da vontade de
Deus, participamos, em qualquer grau, da mesma paixão
que transformou Lúcifer em Satanás.
Poder Demoníaco
Embora os demônios tenham se afastado de suas
virtudes naturais, eles não perderam completamente seus
poderes e capacidades inerentes a todos os seres angelicais.
Satanás e seus demônios ainda retêm grande parte de seus
atributos angelicais e habilidades naturais.³⁸ Os demônios
ainda vivem, agem e se movem dentro do mundo invisível
do tempo angelical, com uma agilidade natural a todos os
seres angelicais. Eles não são restritos pelos limites dos
corpos físicos. Suas habilidades inatas são consideráveis e
capazes de exercer grande influência sobre a humanidade.
Embora eles não conheçam o futuro, eles tentam prever,
fazendo suposições sobre o que pode acontecer. Às vezes,
suas conjecturas podem até estar corretas. São João
Damasceno nos adverte: "por esta razão, não se deve
acreditar neles, mesmo que falem frequentemente a
verdade".³⁹
De fato, Deus permite que os demônios tentem e
testem a humanidade: "Se Deus lhes der permissão, eles têm
força e [podem] mudar e transformar-se em qualquer forma
aparente que desejem... todo mal e as paixões impuras
foram concebidos por eles, e foi permitido que realizassem
ataques contra o homem. Mas eles não podem forçar
ninguém, pois está em nosso poder aceitar ou não a visita."⁴⁰
Deus permite que os demônios nos testem para que, de fato,
possamos ser fortalecidos e crescer espiritualmente. Dessa
forma, o homem tem a oportunidade não apenas de
progredir na semelhança de Deus, mas também de
participar pessoalmente na derrota do reino do mal do
diabo.
Tendo abandonado Deus, os demônios agora se
concentram em seu objetivo de destruição espiritual da
humanidade. Eles transformaram o propósito de sua
existência em tentar e atormentar o homem, fazendo-o
sofrer e conduzindo-o pelo mesmo caminho de perdição,
morte espiritual e separação de Deus. Sua inimizade contra
cada pessoa humana é imensa: "Estejam sóbrios e vigilantes,
porque o diabo, o vosso adversário, anda ao redor como um
leão que ruge, procurando a quem possa devorar."⁴¹
O Padre Florovsky oferece uma perspectiva perspicaz
sobre o poder paradoxal do mal: "É uma espécie de ficção,
mas uma ficção carregada de energia e poder enigmáticos.
O mal é ativo no mundo, e nessa atualidade é real. O mal
introduz novas qualidades no mundo, por assim dizer,
acrescentando algo à realidade criada por Deus, algo que
não foi desejado e não foi criado por Deus, embora tolerado
por Ele. E esta inovação, de certa forma 'não ser', é de
maneira enigmática real e poderosa."⁴²
O poder do diabo é realmente enorme. Ele desafia
diretamente até mesmo Cristo. Na tentação do Senhor no
deserto, Satanás confrontou Cristo, desafiando-o a exibir
inadequadamente Sua divindade e autoridade como Filho
de Deus.⁴³ Claro, Cristo rejeitou as tentações do diabo. Ainda
assim, o diálogo atesta a magnitude das habilidades,
autoridade e arrogância de Satanás. Ele declara seu domínio
e comando sobre toda a glória e poder mundanos: "Então, o
diabo, levando-o a um alto monte, mostrou-lhe todos os
reinos do mundo num momento de tempo. E o diabo disse-
lhe: 'Toda esta autoridade eu te darei, e a glória deles;
porque isto me foi entregue, e dou-o a quem quiser.'"⁴⁴
Curiosamente, Cristo não contesta sua reivindicação.
Além disso, Satanás mostra que conhece as Sagradas
Escrituras. E ele as usa também.⁴⁵
O Endemoninhado de Gadara
Em nenhum lugar do Novo Testamento, o poder dos
demônios sobre a humanidade é mais explícito do que nas
inúmeras narrativas dos possuídos. Esta é a indicação mais
clara do ódio hostil do diabo pelo homem e da absoluta
antagonismo entre o seu reino e o Reino de Deus. Ao longo
do ministério público de Cristo, o Senhor continuamente
confronta e expulsa demônios daqueles que estavam
possuídos: "Então ele curou muitos que estavam doentes de
várias doenças e expulsou muitos demônios."⁴⁶
É surpreendente considerar, especialmente em nosso
tempo, com que frequência Cristo foi chamado para
expulsar demônios. Isso é mencionado com bastante
frequência na vida de nosso Senhor. Fica a dúvida de
quantos casos não foram registrados. Os Apóstolos também
receberam o poder e a autoridade para expulsar
demônios.⁴⁷ Isso é um tema comum em muitas Vidas dos
Santos também.
Uma das representações mais reveladoras de Cristo
em confronto direto com demônios é a narrativa do
Endemoninhado de Gadara. O homem estava possuído não
por um único demônio, mas por muitos: "Então ele lhe
perguntou: 'Qual é o teu nome?' E ele respondeu, dizendo:
'Meu nome é Legião, porque somos muitos'."⁴⁸
Os demônios são apresentados como exercendo
grande poder sobre este homem possuído:
"Ninguém podia amarrá-lo, nem mesmo com
correntes, porque muitas vezes ele tinha sido amarrado
com grilhões e correntes. E as correntes foram
arrebentadas por ele, e as algemas foram quebradas em
pedaços; ninguém conseguia domá-lo. E sempre, noite e
dia, ele estava nos montes e nos sepulcros, gritando e
ferindo-se com pedras."⁴⁹

Um dos aspectos mais reveladores deste relato em


particular não é tanto os demônios exercendo um poder
vasto sobre a humanidade, mas sim que reconheceram
Cristo como o Filho de Deus: "E ele clamou com grande voz
e disse: 'Que tenho eu contigo, Jesus, Filho do Deus
Altíssimo?'"⁵⁰
A mensagem principal do relato do Endemoninhado
de Gadara não trata tanto da extensão do poder demoníaco
sobre a humanidade, mas sim da autoridade última de
Cristo sobre o diabo e seus demônios. A lição mais
importante revela os limites do poder demoníaco. Mesmo
que, por vezes, os demônios sejam autorizados a exercer
enorme poder para tentar o homem, eles não têm nenhum
poder sobre Cristo. Nem podem desafiar a autoridade de
Cristo. Na verdade, temem Sua autoridade: "Eu te suplico,
não me atormentes!"⁵¹
Limites do Poder Demoníaco
O Senhor impõe restrições à extensão do poder
demoníaco: "Eles não têm poder ou força contra ninguém, a
menos que isso lhes seja permitido pela dispensação de
Deus."⁵² Isso é evidente no Livro de Jó. Deus deve conceder
Sua permissão antes que Satanás seja autorizado a tentar e
testar Jó.⁵³ Mesmo que Deus consinta ao pedido de Satanás
e lhe conceda grande liberdade, ainda existem restrições ao
que Deus permite. Neste caso, Jó está claramente fora dos
limites: "Mas não toques nele."⁵⁴
O Apóstolo Paulo também atesta esses limites
estabelecidos por Deus: "Não vos sobreveio tentação que
não fosse humana; mas Deus é fiel, e não permitirá que
sejais tentados além do que podeis resistir, antes com a
tentação providenciará também o meio de saída, para que a
possais suportar."⁵⁵
O Senhor nunca nos permite ser testados mais do que
somos capazes de suportar. Nunca somos tentados além de
nossa resistência. E com cada prova, Deus sempre fornece a
força para superá-la. Claramente, Deus impõe restrições à
extensão da atividade demoníaca.
Além disso, nosso Senhor nos ajuda a fazer uso positivo
de nossos desafios espirituais. Através desses testes,
podemos realmente fortalecer nossa alma e crescer
espiritualmente. Cristo pode utilizar o mal para orientar os
fiéis em direção a um maior crescimento na graça divina. De
fato, os demônios às vezes são autorizados a nos testar e
tentar; mas nunca podem nos forçar a consentir ao pecado.
Lemos nos Atos dos Apóstolos: "É necessário, através
de muitas tribulações, entrar no reino de Deus."⁵⁶ Através
deste constante 'teste', somos continuamente apresentados
a oportunidades de progredir na aquisição de virtudes
espirituais e na participação pessoal na graça e glória
divinas: "O Senhor mesmo guia com Sua graça aqueles que
estão entregues à vontade de Deus, e eles suportam todas as
coisas com fortaleza pelo amor a Deus, a Quem eles tanto
amam e com Quem são glorificados para sempre..."⁵⁷
Nunca devemos esquecer que é o Senhor quem
permite provações e tentações para o nosso crescimento
espiritual. E é o Senhor quem, em última instância, nos livra
delas também. Essa doutrina é encontrada ao longo dos
escritos ascéticos ortodoxos. Segundo São Marcos, o Asceta,
"Aceitar uma aflição pelo amor de Deus é um verdadeiro ato
de santidade; pois o verdadeiro amor é testado pelas
adversidades. Não afirme ter adquirido virtude a menos que
tenha sofrido aflição, pois sem aflição a virtude não foi
testada."⁵⁸ São Diádoco acrescenta: "Assim como a cera não
pode receber a impressão de um selo a menos que seja
aquecida ou amolecida completamente, assim um homem
não pode receber o selo da santidade de Deus a menos que
seja testado por trabalhos e fraquezas."⁵⁹
Santo Isaac, o Sírio, também ensina: "Não é possível
para nenhum homem se aproximar de Cristo sem tribulação,
e sem aflições sua retidão não pode ser preservada
inalterada."⁶⁰ São Macário do Egito acrescenta: "O dom do
Espírito Santo, que é dado à alma fiel, surge com muita
contenda, com muita resistência, paciência, provações e
testes. Através deles, o livre arbítrio do homem é posto à
prova por todos os tipos de aflições."⁶¹
Táticas dos Demônios: Pensamentos
Intrusivos
As táticas dos demônios em seu trabalho interminável
de nos tentar e atormentar são vastas e numerosas. Em vez
de nos tentar com mentiras diretas, os demônios, mais
frequentemente do que não, buscam nos enganar
distorcendo a verdade e apresentando fatos parciais.⁶² Eles
são especialistas em engano e decepção. Os demônios
também são mestres em manipular nossos pensamentos,
paixões e fraquezas. Eles têm praticado isso por milhares de
anos, assediando a humanidade desde o início.⁶³ Eles
atacam implacavelmente cada um de nós, pressionando os
'botões' específicos de cada pessoa para provocar uma
resposta negativa.⁶⁴
Alguns demônios têm tarefas específicas,
especializando-se em paixões particulares.⁶⁵ Se não
conseguem nos convencer a ignorar a gravidade de nossos
pecados, tentam nos levar à desesperança por causa deles:
"Dizem uma coisa para nos levar ao pecado, outra coisa para
nos sobrecarregar de desespero."⁶⁶
De suas várias estratégias, discutiremos brevemente
duas táticas principais. Em primeiro lugar, a batalha contra
os pensamentos intrusivos é uma das maneiras básicas
pelas quais devemos nos defender contra as artimanhas do
inimigo.⁶⁷ Todos nós estamos cientes daqueles
pensamentos irritantes, perturbadores e pecaminosos que
nos tentam e testam, especialmente à medida que
buscamos crescer espiritualmente. Pensamentos intrusivos,
ou λὁγισμὁί (logismoi) em grego, são referidos como 'vozes
interiores' ou 'sugestões' que nos iludem e nos atraem para
o pecado.⁶⁸
Esses pensamentos intrusivos tentam a todos. Embora
não possamos evitá-los ou restringir sua chegada, podemos
nos recusar a aceitá-los e entretê-los. Temos o poder de
rejeitar esses pensamentos intrusivos e dispensá-los para
que não se transformem de pensamentos em ações e feitos:
"Assim como as pessoas entram e saem de uma casa, assim
podem os pensamentos provenientes dos demônios entrar
e sair novamente se você não os aceitar."⁶⁹
Se não estivermos atentos, começamos a nos
concentrar neles. Podemos ficar preocupados e obcecados
com eles, a ponto de sermos facilmente seduzidos pela
decepção e ilusão demoníacas.
Táticas dos Demônios: Ilusão Espiritual
Outra tática dos demônios é o atrativo do orgulho
espiritual - a mesma paixão que transformou o anjo mais
brilhante, Lúcifer, no inimigo mais sombrio, Satanás. O
orgulho em nosso progresso espiritual, em última instância,
leva à ilusão. Em vez de nos concentrarmos em nossos
pecados e falhas, e, por fim, na grande misericórdia e amor
de Deus, nossa atenção se volta para o nosso próprio 'eu' e
para nossas próprias realizações espirituais, virtudes ou
bênçãos. Nessa condição fatal, nos consideramos
favorecidos por Deus e até dignos de bênçãos especiais,
visitações divinas ou sonhos. Somos, assim, facilmente
enganados e obscurecidos pela ilusão espiritual.
À medida que progredimos na vida espiritual e
avançamos na oração e na experiência de Deus, ficamos
suscetíveis à sugestão de que nosso crescimento espiritual é
obra nossa ou talvez do amor único de Deus por nós. Nosso
progresso espiritual confirma nosso novo status. Podemos
ser enganados ao nos compararmos com os outros e
acreditar que somos mais espirituais ou atingimos um nível
mais elevado de discernimento espiritual.⁷⁰ Podemos até
assumir que merecemos experiências espirituais especiais
e até buscá-las.⁷¹ Tornamo-nos, então, muito mais
suscetíveis à decepção e engano demoníacos. Nos tornamos
presas fáceis para os truques dos demônios. São Paulo nos
adverte que os demônios podem até se manifestar como
anjos de luz.⁷²
Não apenas iniciantes, mas até mesmo aqueles que
fizeram considerável progresso espiritual, podem se tornar
vítimas da ilusão espiritual. Em vez de nos aproximarmos
de Cristo em amor e verdadeira humildade, caímos mais
fundo nas armadilhas enganosas do orgulho satânico.
Nunca devemos buscar visões ou sonhos espirituais, e
definitivamente não devemos acreditar neles.⁷³
Em relação a essas experiências espirituais, é
importante buscar a orientação de um pai espiritual. Sem a
visão e o conselho do pai espiritual, há pouca ou nenhuma
esperança de superar o constante e vitalício bombardeio da
luta espiritual. A maneira mais segura de se proteger contra
o perigo da ilusão e do engano é buscar o conselho do pai
espiritual, pois a ele é concedida uma graça especial de
orientação e discernimento.
Ilusão e decepção espiritual estão entre as principais
táticas do diabo e de seus demônios: "Não devemos
embarcar na vida [espiritual] na esperança de ver visões
revestidas de forma ou figura; pois se o fizermos, Satanás
encontrará facilidade em desviar nossa alma. Nosso único
propósito deve ser atingir o ponto em que percebemos
plenamente e conscientemente o amor de Deus em nosso
coração - ou seja, 'com todo o seu coração, e com toda a sua
alma... e com toda a sua mente'."⁷⁴
Como o orgulho transforma os anjos em demônios?
Como o orgulho exerce tal poder sobre seres racionais? Por
que o orgulho faz com que pessoas boas se tornem
terrivelmente más? Talvez o poder do orgulho seja mais
forte do que imaginamos. Infiltrando-se até mesmo nas
alturas das hostes angelicais, o orgulho egocêntrico
permanece o catalisador para a separação do homem de
Deus.
Grande parte de nossa luta espiritual e esforço ascético
é direcionada contra a paixão do orgulho. Os demônios
nunca cessam em seu ataque. Essa batalha é travada não
tanto contra forças externas, mas mais contra o inimigo que
se esconde dentro de nós. Segundo o Ancião Sofrônio,
"Tanto as imagens demoníacas quanto aquelas evocadas
pelo homem podem adquirir uma força muito considerável,
não porque sejam reais no sentido último da palavra... mas
na medida em que a vontade humana é atraída e moldada
por tais imagens. Mas o Senhor liberta aquele que se
arrepende do domínio da paixão e da imaginação, e o cristão
assim liberado ri do poder das imagens."⁷⁵
No entanto, os demônios são implacáveis. Sua queda da
graça os deixa com apenas um propósito - separar o máximo
possível de seres humanos de Cristo e de Sua Santa Igreja. O
método de operação deles é atrair cada homem e mulher a
participar dessa mesma paixão autodestrutiva do orgulho
egocêntrico e, por extensão, sua prole maligna - completa
ilusão e desespero espiritual.
Conclusão: Cristo, o Conquistador
Em conclusão, devemos sempre lembrar que,
independentemente de seu poder assustador, os demônios
travam uma guerra que já perderam. Satanás não tem poder
ou autoridade sobre Cristo. O diabo está derrotado.⁷⁶ Ele
está julgado.⁷⁷ Ele está condenado.⁷⁸ Os demônios são
bastante cientes desse fato: "Você veio aqui para nos
atormentar antes do tempo?"⁷⁹ Cristo é vitorioso sobre o
reino da morte do diabo. Cristo tem autoridade final e
suprema sobre o maligno.
E não apenas Cristo, mas Seus Apóstolos também
recebem essa mesma autoridade: "Então os setenta
voltaram com alegria, dizendo: 'Senhor, até os demônios
estão sujeitos a nós em Teu nome'. E Ele lhes disse... 'Eis que
vos dou autoridade para pisar em serpentes e escorpiões, e
sobre todo o poder do inimigo, e nada vos fará dano'."⁸⁰
Cristo, o Conquistador, já derrotou o diabo. Cristo
venceu a morte por Sua própria morte, sitiando a soberania
de Satanás: "A morte foi tragada pela vitória. Onde está, ó
morte, o teu aguilhão? Onde está, ó inferno, a tua vitória?"⁸¹
Esperando capturar Cristo, o diabo perde todos os
reféns que um dia manteve cativos. Mesmo na morte, Cristo
permanece o Conquistador: "Pois, esperando tê-Lo, ele
perdeu até mesmo aqueles que tinha; e quando aquele
Corpo foi pregado na Cruz, os mortos ressuscitaram. Ali, a
morte recebeu seu ferimento, tendo encontrado seu golpe
fatal de um corpo morto."⁸²
O destino de Satanás está selado. Seu poder foi
usurpado. Cristo ressuscitou dos mortos. O mal, o pecado e
a própria morte foram todos conquistados pelo Cristo
ressuscitado.
Encerramos com as palavras do recentemente
canonizado São Porfírio de Kafsokalivia, que nos encoraja:
"Fixe seu olhar de maneira inabalável para cima, em direção
a Cristo. Torne-se familiarizado com Cristo. Trabalhe com
Cristo. Viva com Cristo. Respire com Cristo. Sofra com Cristo.
Alegre-se com Cristo. Deixe que Cristo seja tudo para você...
Ninguém pode negar que Cristo é a plenitude da vida.
Aqueles que negam essa verdade estão doentes de alma.
Eles negam aquilo que lhes falta. E assim, o diabo encontra
a alma deles vazia e entra. E assim como uma criança fica
profundamente traumatizada se for privada de seu pai e
mãe nesta vida, da mesma forma, e muito mais ainda, a
pessoa que é privada de Cristo."⁸³
Capítulo Três: O Enigma do Mal
Introdução
O Dicionário Oxford de Inglês define o mal como 'a
antítese do Bem', aquilo que é 'moralmente depravado e
perverso', bem como 'fazer ou tender a causar dano'.¹ A
existência do mal é um dos grandes enigmas da
humanidade. Ao longo dos séculos, os crentes cristãos têm
se perguntado por que um Deus amoroso permite tanto mal,
sofrimento e injustiça em um mundo que Ele criou bom.²
A maioria dos ateus argumenta que a existência do mal
'prova' que Deus não existe, pelo menos não o Deus bom,
amoroso e pessoal proclamado pelos cristãos. Se Deus é
onipotente (todo-poderoso) e capaz de fazer tudo o que
deseja; se Ele é onisciente (sabe de tudo) e conhece tudo o
que acontecerá; e se Ele é benevolente e deseja apenas o que
é bom, por que então o mal e o sofrimento existem no
mundo?
Por que o Mal Existe?
De acordo com os Padres da Igreja, o mal não é natural
à criação de Deus. Deus não criou o mal. São Basílio, o
Grande, ensina claramente: "Não sustente que Deus é a
causa da existência do mal, nem imagine que o mal tenha
uma subsistência própria. Pois a maldade não subsiste
como se fosse um ser vivo."³
Deus previu que Lúcifer e muitos outros anjos
abusariam da vida e liberdade que Ele lhes concedeu. Ele
previu que alguns abusariam dessas bênçãos escolhendo se
separar dele e se tornar demônios. No entanto, a pergunta
persiste: por que um Deus tão bom e amoroso, que sabe de
tudo e pode fazer qualquer coisa, criaria um anjo como
Lúcifer, sabendo que ele se tornaria Satanás?
Os Padres da Igreja respondem que, se o nosso Deus
todo-amoroso, todo-bom e todo-misericordioso tivesse se
abstido de criar anjos, que foram dotados de livre arbítrio e
criados verdadeiramente bons, mas escolheram livremente
desviar-se da bondade de Deus e seguir o mal - se Deus se
abstivesse de criá-los - o mal triunfaria sobre a bondade e o
amor de Deus. Sua criação seria desprovida de livre arbítrio.
De fato, o presente da liberdade de Deus manifesta Sua
grande bondade.
São João Damasceno explica: "Deus, em Sua bondade,
faz surgir do nada as coisas que são feitas, e Ele antevê o que
elas se tornarão. Além disso, o ser [ou seja, 'existência' ou
'vida' em si] vem primeiro e, depois, o ser bom ou mau. No
entanto, se Deus se abstivesse de criar aqueles que, por Sua
bondade, deveriam existir, mas que, por escolha própria, se
tornariam maus, então o mal prevaleceria sobre a bondade
de Deus. Assim, todas as coisas que Deus cria Ele cria boas,
mas cada uma se torna boa ou má por sua própria escolha."⁴
A liberdade de Lúcifer para se afastar ou se separar de
Deus não prevalece sobre a bondade de Deus e Sua criação.
A criação de Deus permanece intrinsecamente boa, apesar
das escolhas erradas individuais.
Por outro lado, se Deus se abstivesse de criar Lúcifer e
qualquer outra criatura capaz de escolher o mal, isso
limitaria precisamente a infinita bondade de Deus. Em
outras palavras, Deus não cria máquinas. Suas criaturas não
são robôs. Recebemos a liberdade, e isso reflete o amor de
Deus. Ele não nos força ou nos manipula.
A existência do mal, que é o abuso de nossa liberdade,
não impinge e não pode impingir na bondade inerente de
Deus. Embora Ele possa permitir que Suas amadas criaturas
- se assim desejarem - abusem de Seu grande dom da
liberdade, ainda assim, as consequências das ações más não
infringem a bondade inata da criação de Deus.
O Mal Não 'Existe'
A discussão sobre o mal inevitavelmente leva a
profundos paradoxos. Por exemplo, como já observamos, o
mal não existe verdadeiramente. Ele não tem uma existência
independente própria. Sem o livre consentimento de seres
autodeterminantes, o mal não existiria: "O mal subsiste
assim que é escolhido; ele surge sempre que o elegemos.
Não tem substância própria; fora da escolha deliberada, o
mal não existe em lugar algum."⁵ É um fenômeno que existe
apenas quando a livre vontade é mal utilizada por seres
racionais. Segundo São Gregório de Nissa, o mal tem seu "ser
no não-ser."⁶
O mal é chamado de 'anousios' (ἀνὁύσιὁς), que pode
ser definido como 'inexistente'.⁷ São João Damasceno
ensina: "O mal não é algum tipo de substância (ὁυσίἄ), nem
mesmo uma propriedade de uma substância, mas um
acidente, ou seja, um desvio [voluntário] do natural para o
antinatural, que é exatamente o que é o pecado."⁸ São
Máximo explica ainda: "O mal não deve ser considerado
como estando na substância das criaturas, mas em seu
movimento errado e irracional."⁹
Assim, o mal é uma imperfeição e desequilíbrio na
escolha livre das criaturas racionais de Deus. É o uso
indevido da liberdade - uma falha em cultivar as virtudes
naturais aos seres racionais. Nem Satanás nem seus
demônios, nem qualquer ser humano, é inerentemente mau
por natureza. Cada criatura - cada natureza - criada por
Deus é criada boa, de fato, 'muito boa'.¹⁰ Portanto, não há
natureza má per se.¹¹
Em vez de ter uma natureza ou substância própria, o
mal é uma deficiência do que é natural.¹² Demônios não são
maus por sua natureza, mas devido ao abandono da busca
de suas virtudes angélicas naturais, que são, de fato,
naturais para eles. Paradoxalmente, os demônios são maus
não por algo em sua natureza, mas sim por algo que não está
presente.¹³
Como o mal é antinatural e algo que Deus não criou, ele
nunca pode gerar vida, promover o crescimento ou dar
origem. O mal apenas contamina, corrompe e perverte o
que já possui vida, o que já tem uma existência própria: "O
mal, como mal, nunca produz ser ou nascimento. Tudo o que
pode fazer por si mesmo é, de maneira limitada, degradar e
destruir a substância das coisas. ... Na medida em que é mal,
ele não é nem confere ser."¹⁴
Padre Georges Florovsky descreve a natureza
parasitária do mal: "O mal nunca existe por si só, mas
apenas dentro da Bondade. O mal é uma pura negação, uma
privação ou uma mutilação. ... o mal é uma falta, um defeito. ...
nunca cria, mas sua energia destrutiva é enorme. O mal
nunca ascende; sempre desce. Mas a própria degradação do
ser que ele produz é assustadora. ... Sem dúvida, o mal vive
apenas através do Bem que ele deforma, mas ao qual ele
também se adapta conforme suas necessidades."¹⁵
Assim, o mal pode ser definido como a invenção de
seres racionais que escolhem livremente fazer o que é
antinatural.¹⁶ O mal é uma queda do que é natural para o
que é antinatural. Nas palavras de São Máximo, o Confessor:

Não é a comida que é má, mas a gula; não é a


geração de filhos, mas a falta de castidade; não são as
coisas materiais, mas a avareza; não é a estima, mas o
amor-próprio. Sendo assim, apenas o uso inadequado
das coisas é mau, e tal uso inadequado ocorre quando o
intelecto [νοῦς] falha em cultivar seus poderes
naturais.¹⁷

Todos os seres racionais criados por Deus são bons por


natureza. No entanto, se escolhem livremente se separar do
que é natural, então se tornam maus: "O mal como tal não
tem ser... o mal não tem parte do ser, exceto em uma mistura
com o Bem... Sua origem se deve a um defeito, mais do que a
uma capacidade."¹⁸
Mal, Pecado e Sofrimento

Qualquer discussão sobre o mal deve mencionar


pecado, sofrimento e morte. Esses elementos estão
intimamente interconectados. Na perspectiva ortodoxa, o
pecado não é visto tanto em um sentido legalista, como a
quebra de uma regra que exige expiação através de
penitência ou punição. Não, o pecado é uma enfermidade
espiritual que nos separa de Deus. E nossas enfermidades
espirituais são frequentemente fontes de nossa dor e
sofrimento.
O Ancião Aimilianos do Monte Athos ensina: "A maioria
das doenças tem suas causas não no corpo, mas na alma.
Estamos doentes porque pecamos. E estamos doentes, não
porque Deus está nos punindo, mas porque a doença e o
sofrimento são necessários para nossa correção, para nossa
educação e crescimento."¹⁹
O pecado é uma enfermidade que requer cura. A
penitência não é uma punição, mas sim uma tentativa inicial
de terapia espiritual. A morte também não é considerada
uma punição pelo pecado. No Livro de Gênesis, quando
Deus proibiu Adão de comer da Árvore do Conhecimento do
Bem e do Mal, Ele não disse: "Se você comer, eu o punirei
com a morte." Deus disse: "Porque, no dia em que dela
comerdes, certamente morrereis."²⁰ A morte não é uma
punição por quebrar as regras de Deus. Pelo contrário, a
morte é o resultado natural de nos separarmos de Deus,
nosso Criador e a Fonte de toda a Vida.
Quando o diabo tentou Adão e Eva a comerem o fruto
proibido, ele usou as palavras: "os vossos olhos serão
abertos, e sereis como Deus."²¹ Depois de escolherem seguir
o caminho do diabo em vez de Deus, eles não puderam mais
olhar para o Senhor com a inocência de crianças jovens e
nuas.²² Em seu estado caído e autoimposto de separação,
em vez de verem Deus como seu Pai bom e amoroso, seus
olhos se abriram para a própria nudez: "e perceberam que
estavam nus."²³
Adão e Eva escolheram fugir de Deus. Procuraram se
esconder e se separar de seu Criador: "Ouvi a tua voz no
jardim, e tive medo, porque estava nu; e escondi-me."²⁴ Isso
é o que todos nós - todo homem e toda mulher -
continuamos a fazer quando pecamos. Pensamos que
podemos nos esconder Dele, que vê tudo. Quando pecamos,
nos separamos voluntariamente da graça da presença de
Deus.²⁵
A experiência universal do pecado e do sofrimento
afeta cada membro da raça humana. Todo ser humano sofre
de alguma forma de mal. O mal parece nos cercar por toda
parte: "Não há lugar na terra, nem em todo o universo, onde
seja possível evitar o encontro com o diabo. E se o diabo
controla não apenas o nosso mundo, mas todo o resto da
criação, como 'príncipe deste mundo', onde quer que
estejamos 'geograficamente' e espiritualmente, ele virá e
nos testará."²⁶
Nossos próprios pecados pessoais e más ações têm
consequências cosmológicas. Nossos pecados pessoais
afetam não apenas nossas vidas individuais e as vidas
daqueles ao nosso redor, mas também se estendem,
infectando toda a humanidade.
São Porfírio escreve: "O homem tem poderes tão
grandes que pode transmitir o bem ou o mal ao seu
ambiente. Essas questões são muito delicadas. ... Não
devemos pensar nada mal sobre os outros. Mesmo um
simples olhar ou um suspiro influencia aqueles ao nosso
redor. E mesmo a mais leve raiva ou indignação faz mal. ...
Transmitimos nosso mal de maneira mística. Não é Deus
quem provoca o mal, mas sim a maldade das pessoas. ...
Nossa própria disposição má é transmitida de maneira
misteriosa à alma do outro e faz o mal."²⁷
Como seres humanos, somos criados para sermos
sumos sacerdotes do grande cosmos de Deus. Através do
uso adequado da liberdade que nos foi dada por Deus,
somos chamados a cuidar, cultivar e invocar o Espírito Santo
sobre a gloriosa criação de Deus, começando com nossas
próprias vidas, nossas próprias mentes e nossos próprios
corpos. Somos criados para contribuir pessoalmente para a
santificação do cosmos.
No entanto, quando pecamos e nos separamos de
nosso Criador, contribuímos pessoalmente para o
afastamento e alienação da criação de Deus. A verdade é que
todos nós estamos espiritualmente doentes. Todos estamos
sofrendo.²⁸ E, mais frequentemente do que não, nosso
sofrimento é autoinfligido.
Segundo São Basílio, o Grande, "Que cada um
reconheça em si mesmo o primeiro autor do vício que está
nele... Não busque em outro lugar o começo deles, mas
reconheça que o mal em seu sentido próprio tem sua origem
em nossas quedas voluntárias."²⁹ A ironia é que alguns de
nós querem permanecer doentes. Alguns de nós querem se
afundar no sofrimento de nossas dependências e paixões
pecaminosas. Alguns de nós estão bastante satisfeitos em
serem miseráveis. Não apenas sofremos interiormente por
nosso próprio sofrimento autoinfligido, mas também
praticamos o mal externamente contra os outros. E às vezes,
estamos bastante dispostos e felizes em fazer isso. De fato, o
mundo inteiro está inundado de sofrimento autoinfligido,
pecado carnal e obsessão sexual.
Como resultado do pecado do homem e da separação
de Deus, nosso mundo agora está infectado pelo mal.³⁰ O
mundo agora está amarrado pelo pecado, sofrimento,
doença e ilusão. O mundo em seu estado caído tornou-se
disfuncional. Isso é evidente tanto dentro da sociedade em
geral quanto na unidade básica da sociedade - a família, bem
como em cada pessoa humana.³¹ Claramente, este não é o
mundo como foi originalmente criado por Deus.
Nosso abuso da liberdade dada por Deus e nosso
subsequente pecado e separação de Deus levaram ao
sofrimento cósmico que afeta toda a humanidade. Todo
homem e toda mulher não apenas sofrem, mas também um
dia devem morrer. Todos que nascem neste exato dia estão,
em última análise, destinados a morrer. Mal, pecado,
sofrimento e morte estão todos intimamente entrelaçados.
O Mal e a Morte
A morte é o domínio de Satanás. Seu reino é de morte,
não de vida. E ele sabe que sua autoridade efêmera é apenas
temporária. Ela terminará um dia. Lúcifer, como todas as
criaturas de Deus, foi criado para a vida, não para a morte.
Ainda assim, Lúcifer escolheu abandonar a verdadeira vida
e abraçar a grandiosidade ilusória da separação de Deus:

O maligno não possui o mal, mas a vida como sua


essência, e, portanto, vive imortalmente. ... Mas, uma vez
que se entregou deliberadamente ao mal, foi privado da
verdadeira vida e foi justamente expulso dela, tendo ele
mesmo a abandonado em primeiro lugar. Assim, tornou-
se um espírito morto, não em essência - já que a morte
carece de realidade substancial - mas por sua rejeição da
verdadeira vida.³²

Todas as criaturas racionais e livres, ou seja, todos os


seres angelicais e humanos, são criados para participar
livremente da vida e do amor divinos de Deus. Embora a
existência ou a vida em si sejam concedidas a todas as
criaturas de Deus, a participação em Sua vida divina de
amor é concedida apenas àqueles que desejam persegui-la
livremente. Deus não se impõe a nenhuma de Suas criaturas.
Além da Fonte da Vida, não há verdadeira vida para
nenhum anjo ou homem. Há apenas existência dentro das
leis da morte:
Em sua vocação primordial e última, a criação está
destinada à união com Deus, à comunhão e participação
em Sua vida. Mas isso não é uma necessidade vinculativa
da natureza criatural. Claro, fora de Deus não há vida
para a criação. ... Ser e [verdadeira] vida não coincidem
na criação. E, portanto, a existência na morte é
possível.³³

Mera existência não é igual à verdadeira vida. A


verdadeira vida é a vida abundante de participação pessoal
na vida e no amor divinos de Cristo: "Cristo é vida, a fonte da
vida, a fonte da alegria, a fonte da verdadeira luz, tudo. Quem
ama Cristo e outras pessoas verdadeiramente vive a vida. A
vida sem Cristo é morte; é inferno, não vida. Isso é o que o
inferno é - a ausência de amor. A vida é Cristo. O amor é a
vida de Cristo. Ou você estará na vida ou na morte. A decisão
é sua."³⁴
A separação de Deus é, por si só, uma forma de morte
espiritual. No entanto, a morte espiritual não é o fim da
existência. Rebelião, apostasia e separação de Deus não
levam ao não ser. Padre Florovsky escreve:

Mesmo sem perceber sua verdadeira vocação e até


mesmo se opondo a ela, desfazendo-se e perdendo-se
assim, a criação não deixa de existir. ... o poder de auto-
aniquilação não é concedido. A criação é indestrutível - e
não apenas aquela criação que está enraizada em Deus
como na fonte do verdadeiro ser e vida eterna, mas
também aquela criação que se opôs a Deus.³⁵
Epílogo: A Batalha Contra o Mal
Cósmico
A existência da morte e do mal manifesta a notável
integridade com a qual Deus respeita a liberdade de Suas
criaturas amadas, tanto angelicais quanto humanas. Deus
mantém com firmeza a honra de Seu grande presente de
liberdade, apesar da ameaça da 'existência' do mal. Nossa
liberdade pessoal é muito mais preciosa aos olhos de Deus
do que podemos imaginar. Deus respeita nossa liberdade
muito mais do que nós mesmos.
Gostamos de falar sobre liberdade e valorizamos nossa
liberdade. Estamos dispostos a lutar e até mesmo morrer
para proteger nossa liberdade. No entanto, mais
frequentemente do que gostaríamos, abusamos de nossa
liberdade. Em vez de praticar verdadeira liberdade, muitos
de nós se tornam escravizados por uma variedade vasta de
paixões e vícios malignos que na verdade nos separam de
Deus e levam à morte espiritual.
A liberdade exige autodeterminação. Deus deseja que
sejamos livres, assim como Ele mesmo é livre. Deus nos
honra com autodeterminação, "para que o bem pertença
àquele que o escolheu, não menos do que àquele que
forneceu suas sementes."³⁶ Deus respeita nossa
autodeterminação, não apenas em relação a acreditar ou
não Nele, mas também em relação ao grau em que
desejamos participar e penetrar em Sua vida divina:
A existência de todo ser criado racional oscila entre
dois polos — um, o amor a Deus ao ponto de autoodiar-
se; o outro, o amor a si mesmo até o ódio a Deus. Nenhum
ser criado com razão pode escapar desses dois polos de
atração. Tudo o que acontece em nossa vida pessoal é, na
realidade, nossa autodeterminação espiritual
precisamente nesse plano, independentemente de
estarmos racionalmente conscientes disso.³⁷

O homem é livre. Somos livres não apenas para abraçar


a Deus. Também somos livres para pecar e nos separar Dele.
Somos livres até mesmo para abraçar o mal em si. E muitos
de nós o fazem. O fascínio do mal é uma força poderosa que
continuará a tentar e seduzir cada um de nós, até o dia de
nossa morte.
Nossa resposta pessoal ao mal determina nosso
destino espiritual. O enigma do mal não é simplesmente
uma questão ética ou filosófica. O paradoxo do mal é
compreendido adequadamente apenas de uma perspectiva
espiritual.³⁸
A única forma de entrada do mal na criação é através
de atos livres de seres racionais e autodeterminantes: "O
mal é criado por agentes pessoais. O mal, no sentido estrito
desta palavra, existe apenas em pessoas ou em suas criações
e atos."³⁹
A batalha contra o mal cósmico ocorre em um nível
muito pessoal e em um lugar muito pessoal — o coração
humano: "O mal é real, pois vive em nosso coração e ali
opera sugerindo pensamentos perversos e obscenos..."⁴⁰ O
orgulho egoísta e as paixões carnais são os principais meios
pelos quais o maligno trava essa guerra pessoal contra cada
homem e mulher. E há perdas muito reais. Ao alimentar as
chamas dos desejos carnais e nossas obsessões egoístas por
bens materiais, o diabo distrai facilmente e, eventualmente,
obscurece nossos corações e mentes. Através de nossas
paixões e vícios, permitimos que o maligno tome o comando
de grande parte de nosso precioso tempo, energia e
recursos.
Na realidade, nosso inimigo não é o diabo. Nosso
verdadeiro inimigo é, na verdade, nós mesmos. Mais
precisamente, é nosso amor por nós mesmos.
É essa afeição anormal e obsessiva por si mesmo que é
nosso verdadeiro inimigo. Nos escritos patrísticos, isso é
chamado de amor próprio.⁴¹ A paixão do amor próprio
corrompeu cada homem e mulher. Todos nós sucumbimos,
em maior ou menor grau, a essa mesma tentação. O amor
próprio pode nos fechar dentro de nós mesmos, levando-
nos diretamente à oposição à vontade de Deus e às
necessidades dos outros. Isso leva a um conflito pessoal
interno em relação à nossa identidade. Também afeta nossa
perspectiva sobre o propósito da vida humana.
Nosso orgulho e desejo de viver e amar apenas a nós
mesmos, e nossa recusa consequente em negar e esvaziar a
nós mesmos por amor a Deus e ao nosso próximo, estão na
raiz de grande parte da descrença e desespero espiritual
que caracterizam nossa geração.⁴² Nossa própria
participação pessoal nas paixões primordiais do orgulho e
do amor próprio contribui para o pecado e sofrimento que
permeiam a sociedade hoje.
Todos nós, cada um de nós, contribuímos para a cura
de nossa doença espiritual comum, ou servimos como
agentes na propagação de sua contaminação.
No entanto, Deus implementou Sua solução final para
o problema do mal. A Pessoa de Cristo verdadeiramente nos
libertou. Agora estamos libertos das amarras do mal, do
pecado, do sofrimento e da morte através da Crucificação,
Morte e Ressurreição de nosso Senhor e Salvador Jesus
Cristo.
Nosso abuso do dom da liberdade de Deus não deve ser
visto em termos de um Deus vingativo e irado que espera
nos castigar por usá-lo inadequadamente. Pelo contrário,
nosso pecado e sofrimento devem ser vistos à luz do amor,
misericórdia e compaixão de nosso Deus pessoal — o Filho
de Deus — nosso Senhor Jesus Cristo.
Cristo não apenas tolera pacientemente nosso abuso
de nossa liberdade e o mal que dele surge. Ele também co-
sofre conosco. Na verdade, Ele mesmo compartilha de
nossas batalhas pessoais contra o mal, o pecado, o
sofrimento e a morte. Por Sua grande compaixão e amor
pela humanidade, Cristo assume sobre Si as dores de cada
pessoa. Em Seu amor, Ele sofre, com o mesmo sofrimento
que está em cada um de nós.⁴³
Cristo mantém a integridade de nossa liberdade ao co-
sofrer conosco em nosso abuso dela. Ele co-sofre conosco
em nossos pecados e sofrimentos auto infligidos. Cristo até
mesmo morre conosco, mas ressuscita da morte, rompendo
as amarras da morte em si mesma.
Além disso, Cristo nos capacita, como membros vivos
de Seu Corpo Santo e Ressuscitado, com os meios para
derrotar as forças do mal em nossas próprias vidas pessoais.
Através da vida ascética, sacramental e litúrgica da Igreja, o
homem é conduzido à terapia espiritual, onde as doenças do
orgulho egocêntrico e do amor próprio podem ser
adequadamente tratadas e curadas: "Temos o poder de
permanecer na virtude e seguir a Deus, que nos chama para
os caminhos da virtude, ou de nos desviar dos caminhos da
virtude, o que é habitar na maldade, e seguir o diabo que nos
convoca, mas não pode nos compelir."⁴⁴
Ao concluirmos nossa discussão sobre a batalha contra
o mal cósmico, há um ponto final, mas fundamental, a ser
mencionado. Além de nossa participação coletiva na vida da
Igreja, também temos à nossa disposição direta o poder
supremo do Nome de Jesus — a Oração de Jesus.
Cristo legou a todos que nele creem acesso imediato ao
maior poder espiritual do mundo contra as forças do mal.
Por mais simples que possa parecer, o poder ameaçador do
mal é neutralizado pela repetição humilde e contrita do
nome do Senhor Jesus Cristo.
São Porfírio fala a partir de sua própria experiência
pessoal: "Você não se tornará santo perseguindo o mal.
Ignore o mal. Olhe para Cristo e Ele o salvará. ... Se o mal vier
para atacá-lo, vire toda a sua força interior para o bem, para
Cristo. Ore 'Senhor Jesus Cristo, tenha piedade de mim'. Ele
sabe como e de que maneira ter piedade de você. ... Dessa
forma, você se torna bom por si mesmo, com a graça de Deus.
Onde o mal pode então encontrar um ponto de apoio? Ele
desaparece!"⁴⁵
A Oração de Jesus é notavelmente relevante para hoje.
Todo crente, em qualquer situação, pode invocar o poder do
Nome de Jesus. Acessível a todos a qualquer momento e em
qualquer lugar, a Oração de Jesus não requer nenhum nível
especial de experiência espiritual para seguir sua prática.
Ao repetir arrependidamente essas palavras
abençoadas, "Senhor Jesus Cristo, Filho de Deus, tem
piedade de mim, pecador", participamos pessoalmente de
uma antiga técnica de oração cristã oriental.
Existe um grande e invisível poder espiritual no Nome
de Jesus. Ao Nome de Jesus, os demônios fogem: "Portanto,
Deus também o exaltou sobremaneira e lhe deu o nome que
está acima de todo nome, para que ao nome de Jesus se
dobre todo joelho, nos céus, na terra e debaixo da terra..."⁴⁶
São João Clímaco considera o Nome de Jesus como a
maior de todas as armas: "Açoite seus inimigos com o nome
de Jesus, pois não há arma mais forte no céu ou na terra."⁴⁷
São Hesíquio enfatiza a eficácia da Oração de Jesus na
batalha contra pensamentos intrusivos: "Sempre que
formos inundados por pensamentos malignos, devemos
lançar a invocação do nosso Senhor Jesus Cristo no meio
deles. Então, como a experiência nos ensinou, os veremos
instantaneamente dispersos, como fumaça no ar."⁴⁸
Encerrando, o Ancião Sofrônio resume a resposta
ortodoxa à ameaça do mal. Ele também destaca o papel da
Oração de Jesus na derrota final do mal: "O poder do mal
cósmico sobre o homem é colossal, e tal que nenhum filho
de Adão pode superar sem Cristo e fora de Cristo. Ele é Jesus,
o Salvador, no sentido literal e exclusivo da palavra. Esta é a
crença ascética ortodoxa, e é por isso que se pratica a oração
da quietude interior pela invocação incessante do Nome de
Jesus Cristo, razão pela qual essa oração é chamada de
Oração de Jesus."⁴⁹
É imperativo ter em mente que não enfrentamos o mal
sozinhos. Nunca lutamos contra o mal isoladamente. Cristo
está sempre conosco, assim como Seus santos anjos e todos
os Seus santos, se assim escolhermos.
Nos momentos muito difíceis de nossas vidas pessoais,
quando podemos estar sofrendo de qualquer tipo de
provação espiritual, tribulação ou tentação maligna, a
poderosa paz de Cristo está sempre ao nosso alcance.
Vamos encerrar com as palavras do próprio Senhor,
que nos encoraja a todos: "Deixo-vos a paz, a Minha paz vos
dou; não vo-la dou como o mundo a dá. Não se turbe o vosso
coração, nem se atemorize."⁵⁰
"Estas coisas vos tenho dito para que tenhais paz em
Mim. No mundo, passais por aflições; mas tende bom
ânimo; Eu venci o mundo."⁵¹

Amém.
Notas
[1] De particular interesse é o crescimento da religião de bruxaria neo-pagã conhecida como
Wicca, agora listada na seção de 'Tolerância Religiosa' do Manual do Capelão do Exército dos Estados
Unidos.

[2] A Patristic Greek Lexicon, ed. G. Lampe, Oxford, 1961, p. 9.

[3] Mateus 28.6 (NKJ). Todas as referências bíblicas são da tradução New King James, a menos
que indicado de outra forma.

[4] Colossenses 1.16. Cf. Efésios 1.21, 3.10.

[5] Colossenses 2.18.

[6] Por exemplo, São João Damasceno, Exposição Exata 1.3.

[7] "Três realidades dizem respeito a Deus: essência, energia e a tríade de hipóstases divinas
[pessoas]." São Gregório Palamas, Capítulos Naturais 75; Συγγράμμἄτἄ vol. 5, ed. P. Chrestou,
Tessalônica, 1992, p. 77, trad. Palmer, et al., em A Filocalia, vol. 4, Londres, 1995, p. 380.

[8] J. Meyendorff, Teologia Bizantina, Nova York, 1974, p. 136.

[9] Cf. Jaroslav Pelikan, "A doutrina dos anjos é um exemplo preeminente da doutrina litúrgica;
pois os ícones e a liturgia eram muito mais explícitos em descrever os anjos ... do que o dogma da Igreja
jamais se tornou ..." The Spirit of Eastern Christendom, Chicago, 1974, p. 142.

[10] A Tradição Sagrada considera Miguel como o Anjo da Justiça, pois nas Escrituras ele é
frequentemente enviado para proclamar os juízos da justiça de Deus, enquanto Gabriel é considerado
o Anjo da Misericórdia, enviado à humanidade para anunciar o grande amor e misericórdia de Deus.
Veja O Sínaxarion, vol. 2, Ormylia, 1999, pp. 67-70.

[11] J. Meyendorff, Teologia Bizantina, p. 136.

[12] Cf. Efésios 1.21, 3.10 e Colossenses 1.16.

[13] Veja Isaías 6.2.

[14] Veja Ezequiel 1.

[15] São Dionísio, Hierarquia Celestial 7.2; PG 3, 205B e 208A, trad. C. Luibheid, Nova York,
1987, pp. 161 e 163.

[16] Ibid., 7.1; PG 3, 205B, pp. 161-162. Para descrições adicionais das ordens restantes,
consulte Hierarquia Celestial 7-9.
[17] Veja Hierarquia Celestial 3.2 e 10.2-3; PG 3, 165AC e 273AC. Cf. São João Damasceno, "Eles
se iluminam mutuamente pela excelência de sua ordem ou natureza. Além disso, é evidente que os
mais excelentes comunicam seu brilho e conhecimento aos que são inferiores." Exposição Exata 2.3;
PG 94, 872A, trad. F. Chase, Washington, D.C., 1958, p. 207.

[18] São Dionísio, Hierarquia Celestial 9.2; PG 3, 260A, p. 170.

[19] São Máximo, Quatrocentos Textos sobre o Amor 3.33; PG 90, 1028B, trad. Palmer, et al.,
em A Filocalia, vol. 2, Londres, 1981, p. 88. Cf. São Dionísio, "Este primeiro grupo é especialmente digno
de comungar com Deus e de compartilhar em sua obra. Imita, na medida do possível, a beleza da
condição e atividade de Deus. Conhecendo muitas coisas divinas de maneira tão superior, pode ter
uma parte adequada do conhecimento divino e da compreensão. Daí a teologia ter transmitido aos
homens da terra os hinos cantados pelas primeiras fileiras dos anjos, cujo esplêndido esclarecimento
transcendente assim se manifesta." Hierarquia Celestial 7.4; PG 3, 212A, p. 165.

[20] Ibid., 14.1; PG 3, 321A, p. 181. Cf. Apocalipse 5.11 e Daniel 7.10.

[21] Veja São Cirilo de Jerusalém, Homilias Catequéticas 15.24. Ele escreve ainda: "Eis, ó
homem, diante de que multidões tu virás para o julgamento. Toda raça da humanidade estará presente
naquele dia. … Calcule todos desde Adão até este dia. Certamente é grande a multidão; mas ainda é
pequena, pois os Anjos são muitos mais." Ibid., PG 33, 904AB, trad. E. Gifford, Grand Rapids, 1989, pp.
111-112.

[22] São Cirilo de Jerusalém, Homilias Catequéticas 15.24; PG 33, 904B, trad. p. 112.

[23] Cf. Gênesis 1.26, 27, "Então Deus disse: 'Façamos o homem à nossa imagem, conforme a
nossa semelhança... Assim Deus criou o homem à sua própria imagem; à imagem de Deus o criou;
homem e mulher os criou.'"

[24] São Atanásio, o Grande, Sobre a Encarnação 54; PG 25, 192B [itálicos meus].

[25] São Gregório Palamas, Capítulos Naturais 43; Συγγράμμἄτἄ vol. 5, p. 60, trad. A Filocalia,
vol. 4, p. 366. Cf. ibid., 62 e 63.

[26] São Gregório Palamas, Capítulos Naturais 64, Συγγράμμἄτἄ vol. 5, p. 72, trad. A Filocalia,
vol. 4, p. 376.

[27] Cf. Mantzaridis, Time and Man, South Canaan, 1996, pp. 5-10.

[28] Na tradução do grego original para o inglês, algumas versões variam em relação ao uso
de termos em inglês, embora a distinção de significado permaneça a mesma.

[29] Cf. São Basílio, o Grande, "Esta não é a natureza do tempo, cujo passado desapareceu, cujo
futuro ainda não está à mão, e cujo presente escapa à percepção antes de ser conhecido?" Hexameron
1.5; PG 29, 13B, trad. A. Way, Washington, D.C., 1963, p. 9.
[30] Cf. São Máximo, Ambígua 10; PG 91, 1164BC. Em outro lugar, ele acrescenta: "O tempo é
movimento circunscrito. Segue-se que o movimento dos seres vivos dentro do tempo está sujeito a
mudanças." Vários Textos sobre Teologia 5.47; PG 90, 1368C, trans. A Filocalia 2, p. 272.

[31] Cf. Mateus 24.36; João 6.39 e 12.48.

[32] "Esta vida foi dada a você para o arrependimento; não a desperdice em buscas vãs." São
Isaac, o Sírio, Homilias Ascéticas 74, trad. Holy Transfiguration Monastery, Brookline, 1984, p. 364.

[33] Veja São Basílio, "Os anjos não admitem nenhuma mudança. Nenhum deles é criança,
nem jovem, nem velho, mas, no estado em que foram criados no início, permanecem assim..." Homilias
sobre os Salmos 17.1; PG 29, 388C, trad. A. Way, Washington, D.C., 1963, p. 276.

[34] Essa doutrina se baseia no Livro de Jó, onde Deus lembra a Jó de Sua última onipotência
e pergunta: "Onde estavas tu, quando eu lançava os fundamentos da terra? ... Quando as estrelas eram
feitas e todos os Meus anjos Me louvavam em alta voz?" Jó 38.4-7 (LXX-SAAS). Cf. São Basílio, "Esta era
uma certa condição anterior ao nascimento do mundo e própria das potestades supra-mundanas, uma
além do tempo..." Hexameron 1.5; PG 29, 13A, p. 9. Cf. São João Damasceno, Exposição Exata 2.3.

[35] "Na verdade, parece que algo existia mesmo antes deste mundo, algo que nossa mente
pode alcançar pela contemplação, mas que foi deixado sem investigação porque não é adequado para
aqueles que são iniciantes e ainda bebês em entendimento." São Basílio, o Grande, Hexameron 1.5; PG
29, 13A, pp. 8-9.

[36] "Quando são vistos por aqueles que são dignos, eles assumem uma forma física
apropriada." São Basílio, Sobre o Espírito Santo 16.38; PG 32, 137A, trad. D. Anderson, Crestwood,
1980, p. 63.

[37] São João Damasceno, Exposição Exata 2.3; PG 94, 869B, p. 207.

[38] São João Damasceno, Exposição Exata 1.13; PG 94, 852C-853A, p. 198.

[39] Ibid., 2.3; PG 94, 869AB, p. 206.

[40] Ibid., 1.13; PG 94, 853A, p. 198.

[41] Ibid., 2.3; PG 94, 869C, p. 207.

[42] Cf. São João Damasceno, Exposição Exata 1.13.

[43] Ibid., 2.3; PG 94, 869A, p. 206. Veja também São Basílio, "Acreditamos que o Espírito está
presente em todos os lugares, enquanto o restante das potências incorpóreas é circunscrito pelo lugar.
O anjo que veio a Cornélio (Atos 10.3) não estava com Filipe naquele mesmo momento (Atos 8.26),
nem o anjo que falou com Zacarias do lado direito do altar (Lucas 1.11) ocupava simultaneamente seu
lugar no céu." Sobre o Espírito Santo 23.54; PG 32, 168C, p. 85.

[44] São João Damasceno, Exposição Exata 2.3; PG 94, 868A, p. 205.
[45] Ibid., 2.3; PG 94, 868B-869A, p. 206.

[46] São Dionísio, Os Nomes Divinos 7.2; PG 3, 868B, trad. C. Luibheid, Nova York, 1987, p. 106.

[47] São Basílio, Sobre o Espírito Santo 16.38; PG 32, 136AD-137A, pp. 62-63. Ele explica mais
detalhadamente em outro lugar: "Os anjos não foram criados como crianças, depois aperfeiçoados por
um exercício gradual e assim feitos dignos de receber o Espírito; mas, em sua formação inicial e na
matéria, por assim dizer, de sua substância, a santidade foi estabelecida como fundamento. Portanto,
eles se voltam para o mal com dificuldade, pois foram imediatamente fortalecidos pela santidade,
como por algum temperamento, e possuíam firmeza na virtude pelo dom do Espírito Santo." Homilias
sobre os Salmos 15.4; PG 29, 333C, trad. p. 235. Cf. São Gregório, o Teólogo, Orações 38.9 e 45.5.

[48] "O anjo é imortal, não por natureza, mas pela graça." São João Damasceno, Exposição
Exata 2.3; PG 94, 868B, p. 206. Cf. São Dionísio, "Eles não são imortais, pois não possuem imortalidade
e vida eterna por si mesmos. Isso é algo que têm da Causa criativa que produz e preserva toda a vida."
Os Nomes Divinos 6.1; PG 3, 856B, p. 103.

[49] São João Damasceno, Exposição Exata 2.4; PG 94, 877A, p. 209. "É pela graça de Deus que
eles profetizam." Ibid., 2.3; PG 94, 869B, p. 206.

[50] "A vida cristã é a união de duas vontades: a Divina, eternamente una, e a humana, que
vacila." Arquim. Sofrônio, Veremos Ele como Ele É, trad. R. Edmonds, Essex, 1998, p. 58.

[51] São João Clímaco, A Escada Divina 4; PG 88, 696D, trad. Luibheid e Russell, Nova York,
1982, pp. 101-102.

[52] "É por isso que os anjos não são mais capazes de cair no pecado: seu apego inabalável a
Deus ou sua eterna inimizade contra Ele foi realizado instantaneamente e para todas as eras no
momento de sua criação." Vladimir Lossky, Teologia Mística, Crestwood, 1976, pp. 102-103.

[53] São Basílio, Sobre o Espírito Santo 16.38; PG 32, 137AB, p. 63.

[54] "Lembrem-se de que as potestades celestiais foram estabelecidas pelo Espírito; esta
estabelecimento significa que elas eram avessas a se desviar do bem. O Espírito capacita as potestades
celestiais a evitar o mal e perseverar no bem." Ibid., 19.49; PG 32, 157A, p. 77.

[55] "Deve-se observar que a queda é para os anjos exatamente o que a morte é para os
homens. Pois, assim como não há arrependimento para os homens após sua morte, o mesmo acontece
com os anjos após sua queda." São João Damasceno, Exposição Exata 2.4; PG 94, 877C, p. 210.

[56] São Gregório Palamas, Capítulos Naturais 62; Συγγράμμἄτἄ vol. 5, p. 71, trad. A Filocalia,
vol. 4, p. 375.

[57] São João Damasceno, Exposição Exata 2.3; PG 94, 872B, p. 207.
[58] Veja São Gregório de Nissa, “Portanto, é indubitavelmente impossível alcançar a perfeição,
pois ... a perfeição não é delimitada por limites. O único limite da virtude é a ausência de limite. Como,
então, alguém chegaria à fronteira buscada quando não pode encontrar fronteira alguma?” Vida de
Moisés, 1.8; PG 44, 301B, trad. Malherbe e Ferguson, Nova York, 1978, p. 31.

[59] São João Clímaco, A Escada da Ascensão Divina 26; PG 88, 1068B, p. 251. Ele escreve em
outro lugar que os anjos "nunca cessam de progredir no amor." Ibid., 27; PG 88, 1101AB, p. 264. Cf. São
Gregório Palamas, Em Defesa dos Hesicastas 2.3.56.

[60] São Gregório do Sinai, Sobre Mandamentos e Doutrinas 54; PG 150, 1253D, trad. Palmer,
et al., em A Filocalia, vol. 4, Londres, 1995, p. 222.

[61] Veja São Porfírio de Kafsokalivia, “Isso é o que me preocupa. Eu tento encontrar maneiras
de amar a Cristo. Esse amor nunca se sacia. Por mais que você ame a Cristo, sempre pensa que não o
ama e anseia ainda mais amá-lo. Sem estar ciente disso, você vai cada vez mais alto!” Ferido pelo Amor,
trad. J. Raffan, Évia, 2005, p. 99.

[62] Na tradição russa, os anjos não são comemorados aqui.

[63] “Ó Mestre e Senhor nosso Deus, que estabeleceste as ordens celestiais e as hostes de anjos
e arcanjos para servir à tua glória: concede que os santos anjos possam entrar com nossa entrada, para
ministrar conosco e glorificar a tua bondade.” A Liturgia Ortodoxa, Oxford, 1982, p. 42.

[64] “Deixemos de lado todas as preocupações terrenas, enquanto misticamente


representamos os querubins e entoamos um cântico tríplice à Trindade vivificante.” Ibid., p. 59.

[65] Ibid., pp. 72-73. Veja a Anáfora de São Basílio, o Grande, “A fonte de santidade que permite
a toda criatura com razão e entendimento servir a ti e derramar um hino ininterrupto de glória, pois
todos são teus servos: anjos, arcanjos, tronos, domínios, principados, potestades e virtudes, e os
querubins de muitos olhos te louvam; em torno de ti estão os serafins, um com seis asas e o outro com
seis asas: com duas cobrem seus rostos, e com duas cobrem seus pés, e com duas voam, clamando um
ao outro, com voz contínua, canções de louvor ininterruptas.” Ibid., p. 121.

[66] Na Filocalia, lemos sobre o relato de Abba Filimon: "Durante o serviço, ele estava cheio de
temor quando o sacerdote entoava as palavras, 'Coisas santas para os santos'. Pois ele costumava dizer
que toda a igreja estava então cheia de santos anjos..." Um Discurso sobre Abba Filimon, trad. Palmer,
et al., A Filocalia, vol. 2, Londres, 1981, p. 356.

[67] Histórias, Sermões e Orações de São Nefon: Um Bispo Asceta, trad. J. Gentithes,
Minneapolis, 1989, pp. 100-102.

[68] Vasos Preciosos do Espírito Santo, ed. H. Middleton, Tessalônica, 2003, pp. 96-97.

[69] Outras festas incluem, entre outras, 26 de março para o Arcanjo Gabriel e 6 de setembro
para o Arcanjo Miguel.
[70] Em termos litúrgicos, a palavra grega original ἀργίἄ significa literalmente 'nenhum
trabalho'. Basicamente, é para ser um dia de folga. Na época bizantina, isso era celebrado como um dia
sem trabalho, quando lojas, empresas e escritórios governamentais estavam fechados. Na Grécia
moderna, esse costume ainda é observado, por exemplo, na segunda-feira do Espírito Santo (o dia
seguinte ao Pentecostes), bem como na Dormição da Mãe de Deus, na Segunda-feira Brilhante, no Natal
de nosso Senhor e na Teofania, para citar alguns, que são considerados feriados nacionais.

[71] As terças-feiras são dedicadas a São João Batista, quartas e sextas-feiras à Santa Cruz,
quintas-feiras aos Santos Apóstolos e São Nicolau, e sábados aos falecidos.

[72] São Gregório Palamas, Capítulos Naturais 43; Συγγράμμἄτἄ vol. 5, p. 60, trad. de A
Filocalia, vol. 4, p. 366. Cf. Heb. 1. 14.

[73] Matt. 18. 10.

[74] Oração pelos Viajantes, Livro de Serviço, Arquidiocese Antioquiana, Nova York, 1975, p.
223.

[75] São Gregório de Nissa, A Vida de Moisés 2. 45; PG 44, 337D, trad. Malherbe e Ferguson,
Nova York, 1978, p. 64.

[76] Santo Antônio, o Grande, Sobre o Caráter dos Homens 62; trad. A Filocalia, vol. 1, p. 338.

[77] São João Crisóstomo, Homilias sobre Hebreus 14. 10; PG 63, 116, trad. F. Gardiner, Grand
Rapids, 1978, p. 438.

[78] Veja São Basílio, “Se você tem em sua alma obras dignas de custódia angelical, e se uma
mente rica na contemplação da verdade habita dentro de você, por causa da riqueza de suas estimadas
obras de virtude, Deus estabelece necessariamente guardas e custódios ao seu lado e o fortalece com
a guarda dos anjos.” São Basílio, Homilias sobre os Salmos 16. 5; PG 29, 364B, pp. 257-258.

[79] "Um anjo acompanha a todos que acreditam no Senhor, se nunca o afastarmos por nossas
más ações. Assim como a fumaça espanta as abelhas e um cheiro fétido afasta as pombas, assim
também o pecado lamentável e repugnante afasta o anjo, o guardião de nossa vida." Ibid., PG 29, 364B,
p. 257.

[80] Veja a Ladainha de Súplica após a Grande Entrada durante a Divina Liturgia, bem como
antes da Oração do Senhor.

[81] A Liturgia Ortodoxa, Oxford, 1982, p. 123.

[82] O Pentecostário, trad. Mosteiro da Santa Transfiguração, Brookline, 2014, pp. 421 e 425.

[83] Hino do Ódon Um, Um Cânone Suplicatório ao Anjo Guardião, de Um Livro de Oração
para Cristãos Ortodoxos, trad. Mosteiro da Santa Transfiguração, Brookline, 1987, p. 303.

[84] Hino Sessão, Quarto Tom, ibid., p. 306.


[85] Kontakion, Segundo Tom, ibid., p. 311.

[86] Hino do Ódon Um, ibid., p. 315.

[87] Hino do Ódon Nove, ibid., p. 318.


[1] Lexicon Grego Patrístico, ed. G. Lampe, Oxford, 1961, p. 344. Ὁ διάβὁλὁς deriva do verbo
διἄβάλλῶ, que é traduzido como 'acusar' ou 'enganar com relatos falsos', ibid., p. 390.

[2] Ver João 8.44, 12.3, 14.30 e 16.11.

[3] Cf. Mateus 12.24 e 2 Coríntios 4.4.

[4] São João Cassiano, Sobre as Oito Paixões, trans. Palmer, et al., em A Filocalia, vol. 1, Londres,
1979, p. 92.

[5] São João Damasceno, Exposição Exata 4.20; PG 94, 1196D, trans. F. Chase, Washington D.C.,
1958, p. 387.

[6] Ibid., 2.4; PG 94, 873C-876A, p. 209.

[7] Is. 14.12-14.

[8] “Ele livremente se afastou de sua virtude natural, caiu na escuridão do mal e foi afastado
longe de Deus, o único Bem e o único Doador de vida e luz.” São João Damasceno, Exposição Exata 4.20;
PG 94, 1196D, p. 387.

[9] “Por sua escolha livre, ele se afastou do que era conforme à natureza para o que era contra
ela.” Ibid., 2.4; PG 94, 876A, p. 209.

[10] São Gregório Palamas, Capítulos Naturais 41; Συγγράμμἄτἄ vol. 5, ed. P. Chrestou,
Tessalônica, 1992, p. 59, trans. Palmer, et al., em A Filocalia, vol. 4, Londres, 1995, p. 365.

[11] “O diabo, então, é o primeiro autor do pecado e o pai dos ímpios ... nenhum pecou antes
dele.” São Cirilo de Jerusalém, Palestras Catequéticas 2.4; PG 33, 412B, trans. E. Gifford, Grand Rapids,
1989, pp. 8-9.

[12] Apoc. 12.7-9.

[13] “E eis que um grande dragão vermelho, tendo sete cabeças e dez chifres, e diademas em
suas cabeças. Sua cauda arrastou a terça parte das estrelas do céu e as lançou na terra ...” Apoc. 12.3-4.

[14] Cf. Os Ditos dos Padres do Deserto, Abba Moisés 1.

[15] São João Damasceno, Exposição Exata 2.4; PG 94, 876AB, p. 209.

[16] São Dionísio, Os Nomes Divinos 4.23; PG 3, 725AC, trans. C. Luibheid, Nova York, 1987,
pp. 90-91. Cf. ibid., 4.34. Veja também São Gregório de Nissa, “Assim como o fim da vida é o começo da
morte, parar na corrida da virtude marca o início da corrida do mal.” A Vida de Moisés 1.6; PG 44, 300D-
301A, trans. Malherbe e Ferguson, Nova York, 1978, p. 30.

[17] Judas 6.
[18] São Gregório Palamas, Capítulos Naturais 44; Συγγράμμἄτἄ vol. 5, p. 60, trans. A Filocalia,
vol. 4, p. 366.

[19] Veja São Filoteos do Sinai, “Satanás caiu quando ficou orgulhoso ... Através de seu orgulho,
ele se mostrou aos olhos de Deus mais degradado do que qualquer outra coisa criada.” Textos sobre
Vigilância 14, trans. Palmer, et al., A Filocalia, vol. 3, Londres, 1984, p. 20.

[20] “O anjo que caiu do céu por causa de seu orgulho ... havia sido criado por Deus e adornado
com toda virtude e sabedoria, mas ele não queria atribuir isso à graça do Senhor. Ele o atribuiu à sua
própria natureza e, como resultado, se considerou igual a Deus.” São João Cassiano, Sobre as Oito
Paixões, trans. A Filocalia, vol. 1, p. 92.

[21] São Gregório Palamas, Capítulos Naturais 41, Συγγράμμἄτἄ vol. 5, p. 58, trans. A Filocalia,
vol. 4, p. 364.

[22] “Pois por Ele todas as coisas foram criadas que estão nos céus e que estão na terra. ...
Todas as coisas foram criadas por meio dele e para ele.” Col. 1.16.

[23] Fil. 2.6-7 (RSV).

[24] São João Clímaco considera o orgulho como uma 'disposição diabólica'. A Escada da
Ascensão Divina 23; PG 88, 965C, trans. Luibheid e Russell, Nova York, 1982, p. 207. Por outro lado, o
Ancião Sofrônio se refere ao potencial do homem de se tornar um 'micro-deus' ou 'pequeno deus'. Veja
We Shall See Him As He Is, p. 194.

[25] Cf. Arquim. Sofrônio, “Através do orgulho nos tornamos como demônios.” On Prayer,
trans. R. Edmonds, Essex, 1996, p. 88.

[26] Arquim. Sofrônio, Veremos Ele Como Ele É, trans. R. Edmonds, Essex, 1988, pp. 29-30.

[27] “Um monge orgulhoso não precisa de demônio. Ele se transformou em um, um inimigo
de si mesmo.” São João Clímaco, A Escada da Ascensão Divina 23; PG 88, 969B, p. 210.

[28] Cf. 2 Pedro 1.4.

[29] Veja Arquim. Sofrônio, Veremos Ele Como Ele É, p. 30 e On Prayer, p. 157.

[30] Arquim. Sofrônio, São Silvano o Athonita, trans. R. Edmonds, Essex, 1991, pp. 203-204.

[31] “Desde que se tornou um rebelde, ele é um inimigo de Deus e também um inimigo do ser
humano que veio à existência segundo a imagem de Deus. Pois por esse motivo ele odeia a
humanidade.” São Basílio, Deus Não é a Causa do Mal 9; PG 31, 349C, trans. N. Harrison, Crestwood,
2005, p. 78. Cf. Gen. 1.26.

[32] Cf. Is. 14.14, “Serei como o Altíssimo.”

[33] Gen. 3.5.


[34] Veja 2 Pedro 1.4.

[35] São Gregório Palamas, Capítulos Naturais 44; Συγγράμμἄτἄ vol. 5, pp. 60-61, trans. A
Filocalia, vol. 4, p. 366. Em outro lugar, ele acrescenta: “Insatisfeito em sua [de Satanás] busca pelo mal
e adicionando mais e mais à sua miséria, ele se transformou em um espírito gerador de morte, atraindo
ansiosamente o homem para a comunhão com seu próprio estado de morte.” Capítulos Naturais 41;
Συγγράμμἄτἄ vol. 5, p. 59, trans. A Filocalia, vol. 4, p. 365.

[36] Consulte a Oração de Despedida da Divina Liturgia de São João Crisóstomo.

[37] Arquim. Sofrônio, Veremos Ele Como Ele É, p. 30.

[38] “O que aconteceu é que eles se afastaram da bondade completa concedida a eles, e eu
afirmaria que os dons angelicais concedidos a eles nunca foram alterados inerentemente, que na
verdade são brilhantemente completos, mesmo que os próprios demônios, por uma falha de seus
poderes de perceber o bem, não sejam capazes de contemplá-los.” São Dionísio, Os Nomes Divinos
4.23; PG 3, 725C, trans. p. 91.

[39] São João Damasceno, Exposição Exata 2.4; PG 94, 877A, p. 210.

[40] São João Damasceno, Exposição Exata 2.4; PG 94, 877AB, pp. 209-210.

[41] 1 Pedro 5.8.

[42] G. Florovsky, Criação e Redenção, Belmont, 1976, p. 50.

[43] Veja Mateus 4.1-11; Lucas 4.1-13.

[44] Lucas 4.5-7.

[45] Veja Mateus 4.6; Lucas 4.10-11.

[46] Marcos 1.34. Veja também Mateus 4.24, 8.16, 9.32-33, 12.22-28, entre outros.

[47] Por exemplo, Marcos 3.15, Lucas 10.17 e Atos 16.18.

[48] Marcos 5.9.

[49] Marcos 5.3-5.

[50] Marcos 5.7.

[51] Lucas 8.28.

[52] São João Damasceno, Exposição Exata 2.4; PG 94, 877A, p. 209.
[53] “Então o Senhor disse a [o diabo]: ‘Você já considerou meu servo Jó, visto que não há
ninguém como ele na terra: um homem íntegro, verdadeiro e temente a Deus, que se desvia de todo
mal’? Então o diabo respondeu e disse ao Senhor: ‘Acaso Jó teme a Deus sem motivo? ... Mas estende a
tua mão e toca tudo o que ele tem, e vê se ele não te blasfema na tua face’. Então o Senhor disse ao diabo:
‘Eis que tudo o que ele tem está em teu poder; somente contra ele mesmo não estendas a tua mão’.
Assim o diabo saiu da presença do Senhor.”

Jó 1.8-12. Veja também São Macário do Egito, As Cinquenta Homilias Espirituais 26.8.

[54] Jó 1.12.

[55] 1 Coríntios 10.13.

[56] Atos 14.22. “Se quisermos obter este reino, devemos lembrar que todo espírito criado à
imagem divina terá que atravessar o limiar do sofrimento – sofrimento voluntário por amor sagrado.”
Arquim. Sofrônio, Veremos Ele Como Ele É, p. 93.

[57] Arquim. Sofrônio, São Silvano o Athonita, pp. 337-338.

[58] São Marcos, o Asceta, Sobre a Lei Espiritual 65 e 66; PG 65, 913B, trans. Palmer, et al., em
A Filocalia, vol. 1, Londres, 1979, p. 114.

[59] São Diadoco de Fotice, Sobre o Conhecimento Espiritual 94, trans. Palmer, et al., em A
Filocalia, vol. 1, Londres, 1979, p. 291.

[60] São Isaac, o Sírio, Homilias Ascéticas 37, trans. Mosteiro da Santa Transfiguração, Boston,
1984, p. 164.

[61] São Macário do Egito, As Cinquenta Homilias Espirituais 9.7; PG 34, 536BC, trans. G.
Maloney, Nova York, 1992, p. 85.

[62] “Lembre-se de que os demônios não propõem automaticamente o mal desde o início.”
São João Clímaco, A Escada da Ascensão Divina 26, p. 255.

[63] Cf. São Macário do Egito, “Se um homem está com outra pessoa e conhece coisas sobre
ele, e se você, com vinte anos, conhece coisas sobre seu vizinho, pode Satanás, que está com você desde
o seu nascimento, não conhecer seus pensamentos? ... Também não afirmamos que o diabo conhece
todos os pensamentos do coração de uma pessoa e seus desejos. Assim como uma árvore, ele tem
muitos galhos e membros. Então, a alma tem certos galhos de pensamentos e planos, e Satanás agarra
alguns deles. Existem outros pensamentos e intenções que não são compreendidos por Satanás.” As
Cinquenta Homilias Espirituais 26.9; PG 34, 680CD, p. 167.

[64] “Não dizemos que antes de tentar ele sabe o que o homem pretende fazer. Pois o tentador
tenta, mas ele não sabe se uma pessoa o obedecerá ou não até que alguém entregue sua vontade como
um escravo.” São Macário do Egito, As Cinquenta Homilias Espirituais 26.9; PG 34, 680C, p. 167.
[65] Por exemplo, São Gregório de Sinai, Sobre Mandamentos e Doutrinas 74, em A Filocalia,
vol. 4, p. 224, e Evágrio, Sobre a Discriminação 1, em A Filocalia, vol. 1, p. 38. Este também é um tema
recorrente em A Escada da Ascensão Divina, especialmente no Capítulo 26.

[66] São João Clímaco, A Escada da Ascensão Divina 15, p. 175.

[67] “A pressão exercida pelos pensamentos intrusivos é extraordinariamente forte.” Arquim.


Sofrônio, São Silvano o Athonita, p. 446.

[68] Veja ibid.

[69] São Silvano o Athonita, p. 446. Cf. São João Cassiano, “É impossível que a mente não seja
perturbada por esses pensamentos. Mas se nos esforçarmos, está ao nosso alcance aceitá-los e dar-
lhes nossa atenção, ou expulsá-los. Sua chegada não está sob nosso controle, mas sua expulsão está.”
Sobre os Santos Padres de Sketis, trans. Palmer, et al., em A Filocalia, vol. 1, p. 97.

[70] “Caímos e somos enganados quando nos consideramos mais inteligentes e experientes
do que os outros ... Na minha inexperiência, pensei isso uma vez e sofri por isso.” São Silvano o Athonita,
p. 444.

[71] “O homem presunçoso ... quer ter visões e se considera digno delas, e assim é fácil para o
inimigo iludi-lo.” Ibid., p. 445.

[72] “Pois o próprio Satanás se transforma em anjo de luz.” 2 Coríntios 11.14.

[73] Cf. São Silvano o Athonita, pp. 136-137. Cf. também Evágrio, “Cuide para que os demônios
astutos não o enganem com alguma visão; esteja alerta ...” Sobre a Oração 94; PG 79, 1188BC, trans.
Palmer, et al., em A Filocalia, vol. 1, p. 66.

[74] Veja São Diadoco de Fotice, Sobre o Conhecimento Espiritual 40, trans. A Filocalia, vol. 1,
p. 265. Cf. Lucas 10.27.

[75] Arquim. Sofrônio, São Silvano o Athonita, p. 158.

[76] Veja Apocalipse 12.10-12; 20.10.

[77] Veja João 16.11.

[78] Veja Mateus 25.41.

[79] Mateus 8.29.

[80] Lucas 10.17-20.

[81] 1 Coríntios 15.54-55. Cf. Oséias 13.14.


[82] São João Crisóstomo, Homilias sobre Colossenses 6, trans. J. Broadus, Grand Rapids, 2004,
p. 286.

[83] São Porfírio, Ferido pelo Amor, trans. J. Raffan, Evia, 2005. p. 106.
[1] Dicionário Oxford de Inglês, 2ª ed., vol. 5, Oxford, 1991, p. 471.

[2] "Então Deus viu tudo o que havia feito, e eis que era muito bom." Gên. 1.31.

[3] São Basílio, o Grande, Deus Não é a Causa do Mal 5; PG 31, 341B, trad. N. Harrison,
Crestwood, 2005, pp. 72-73.

[4] São João Damasceno, Exposição Exata 4.21; PG 94, 1197AB, trad. F. Chase, Washington,
D.C., 1958, p. 387 [itálicos meus]. Cf. São Basílio, "O diabo possui uma vida dotada de autodeterminação,
e a autoridade repousa nele para permanecer com Deus ou se afastar do bem. ... Assim, o diabo é mal
porque possui a maldade por escolha livre, não por uma oposição natural ao bem." Deus Não é a Causa
do Mal 8; PG 31, 341D, trad. p. 76.

[5] São Gregório de Nissa, Sobre as Bem-Aventuranças 5; PG 44, 1256B, trad. H. Graef, Nova
York, 1954, p. 135.

[6] "Ἐν τῷ μή εἶνἄι τὸ εἶνἄι ἔξει." São Gregório de Nissa, Sobre a Alma e a Ressurreição 6; PG
46, 93B. Cf. São Máximo, "O mal... não possui nenhuma verdadeira existência". Textos Vários sobre
Teologia 3.57; PG 90, 1285C, trad. Palmer, et al., A Filocalia, vol. 2, Londres, 1981, p. 224.

[7] Consulte A Patristic Greek Lexicon, ed. Lampe, Oxford, p. 149.

[8] São João Damasceno, Exposição Exata 4.20; PG 94, 1196C, trad. p. 387. Cf. São Dionísio, "O
mal não tem substância (ὁὐσίἄ)." Nomes Divinos 4.31; PG3, 732C, trad. C. Luibheid, Nova York, 1987,
p. 94.

[9] São Máximo, Quatrocentos Textos sobre o Amor 4.14; PG 90, 1052A, trad. G. Berthold,
Nova York, 1985, p. 77 [itálicos meus].

[10] Veja Gên. 1.31.

[11] Veja São Diádoco de Fotice, "O mal não existe por natureza, nem homem algum é
'naturalmente mau', pois Deus não fez nada que não fosse bom." Sobre o Conhecimento Espiritual e a
Discriminação 3; trad. Palmer, et al., A Filocalia, vol. 1, Londres, 1979, p. 253.

[12] Veja São Dionísio, "[O mal] ... não está nem nos demônios nem em nós como mal. O que é
na realidade é uma deficiência e uma falta da perfeição das virtudes inerentes. ... [uma] deficiência de
qualidades, atividades e poderes naturais. ... [O mal] é contra a natureza, uma deficiência do que deveria
estar lá na natureza. Assim, não há natureza má ..." Nomes Divinos 4.24-26; PG 3, 728AC, trad. C.
Luibheid, Nova York, 1987, p. 92.

[13] Veja São Dionísio, "O mal deles consiste na falta das virtudes angelicais! ... O desvio deles
é o mal neles, o afastamento do que lhes convém. É uma privação neles, uma imperfeição ... Portanto, a
tribo dos demônios é má não por sua natureza, mas por aquilo que ela não é." Ibid., 4.23; PG 3, 725BC,
trad. p. 91 [itálicos meus].
[14] São Dionísio, Nomes Divinos 4.20; PG 3, 717BC, trad. p. 86. Ele continua, "O mal, portanto,
em si mesmo, não tem ser, bondade, capacidade de gerar, nem habilidade para criar coisas que têm
ser ... O mal como mal não pode produzir e não pode sustentar nada, não pode fazer ou preservar nada."
Ibid., 4.20 e 28; PG 3, 717C e 729B, trad. pp. 86 e 93.

[15] G. Florovsky, Criação e Redenção, Belmont, 1976, p. 84.

[16] "O mal não é uma substância viva e animada, mas uma condição da alma que se opõe à
virtude e que surge nos preguiçosos por causa de seu afastamento do bem." São Basílio, Hexaemeron
2.4; PG 29, 37D, trad. A. Way, Washington, D.C., 1963, p. 28.

[17] São Máximo, Quatrocentos Textos sobre o Amor 3.4; PG 90, 1017CD, trad. Palmer, et al.,
A Filocalia, vol. 2, Londres, 1981, p. 83.

[18] São Dionísio, Nomes Divinos 4.33-34; PG 3, 733AC, trad. p. 95 [itálicos meus].

[19] Arquimandrita Aimilianos, Salmos e a Vida da Fé, trad. M. Constans, Atenas, 2015, p. 204.

[20] Gên. 2.17.

[21] Gên. 3.5.

[22] Cf. São Basílio, "Mas era necessário que eles não conhecessem sua nudez, para que a
mente do ser humano não se voltasse para o cumprimento de necessidades menores, para considerar
roupas para si mesmo e alívio da nudez, e através da preocupação com a carne fosse totalmente
arrastada para longe de contemplar intensamente Deus." Deus Não é a Causa do Mal 9; PG 31, 349A,
trad. p. 77.

[23] Gên. 3.7.

[24] Gên. 3.10.

[25] Veja São Paisio do Monte Athos, "No início, o homem tinha comunhão com Deus. No
entanto, quando se afastou da Graça de Deus, ele era como alguém que costumava viver em um palácio
e depois foi banido e agora o vê de longe e chora. Assim como uma criança sofre longe de sua mãe, o
homem também sofre quando está distante de Deus. Somos atormentados. A separação de Deus é o
inferno." Com Dor e Amor, Sourouti, 2006, p. 49.

[26] Arquimandrita Sofrônio, O Veremos como Ele É, trad. R. Edmonds, Essex, 1998, p. 82.

[27] São Porfírio, Ferido pelo Amor, trad. J. Raffan, Evia, 2005, pp. 212-213.

[28] "Toda a criação sofre. Há um sofrimento cósmico. O mundo inteiro está envenenado pelo
mal e por energias malévolas, e o mundo inteiro sofre por causa disso." G. Florovsky, Criação e
Redenção, pp. 88-89.

[29] São Basílio, Hexaemeron 2.5; PG 29, 40AB, trad. pp. 28-29.
[30] Veja G. Florovsky, "A fonte única do mal, no sentido estrito da palavra, é o pecado, a
oposição a Deus e a separação trágica dele." Criação e Redenção, p. 84.

[31] Veja Rom. 7.15.

[32] São Gregório Palamas, Capítulos Naturais 41; Συγγράμμἄτἄ vol. 5, ed. P. Chrestou,
Thessaloniki, 1992, pp. 58-59, trad. Palmer, et al., A Filocalia, vol. 4, Londres, 1995, p. 365.

[33] G. Florovsky, Criação e Redenção, p. 49.

[34] São Porfírio, Ferido pelo Amor, p. 97. Cf. João 10.10, "Eu vim para que tenham vida e a
tenham em abundância." Veja também 2 Pedro 1.4, "Sejam participantes da natureza divina..."

[35] G. Florovsky, Criação e Redenção, p. 49.

[36] São Gregório Teólogo, Discursos 45.8; PG 36, 632C, trad. N. Harrison, Crestwood, 2008, p.
167.

[37] Arquimandrita Sofrônio, São Silvano o Athonita, trad. R. Edmonds, Essex, 1991, p. 218.
Ele escreve em outro lugar, "Estamos diante da escolha entre 'a adoção de filhos' (Gál. 4.5) por nosso
Deus e Pai, ou nos afastarmos dele 'para as trevas exteriores' (cf. Mt 22.13). Não há meio-termo." O
Veremos como Ele É, p. 110.

[38] Veja G. Florovsky, Criação e Redenção, p. 84. Ele acrescenta: "A análise formal do mal não
é suficiente. ... Somente através do esforço espiritual é possível entender e resolver esse paradoxo,
superar esse escândalo e penetrar no mistério do Bem e do Mal." Ibid., p. 91.

[39] Ibid., p. 87. Ele continua, "O mal físico e cósmico também tem origem nesses atos pessoais.
E é por isso que o mal pode ter poder, pode ser ativo. Pois o mal é uma atividade pessoal perversa. Mas
essa atividade inevitavelmente se espalha para o impessoal." Ibid.

[40] São Macários do Egito, As Cinquenta Homilias Espirituais 16.6; PG 34, 617A, trad. p. 131.
"Toda a força de resistência ao mal cósmico está concentrada no profundo coração do cristão."
Arquimandrita Sofrônio, São Silvano o Athonita, p. 234.

[41] A palavra em grego original é φιλἄυτίἄ. Consulte um Léxico Grego Patrístico, ed. G. Lampe,
p. 1476. Cf. J. Larchet, Terapia das Doenças Espirituais, vol. 1, Montreal, 2012, pp. 145-150.

[42] "Enquanto o orgulho estiver profundamente enraizado nele, o homem está sujeito a um
desespero particularmente doloroso, infernal, que distorce cada noção de Deus e os caminhos de Sua
providência. A alma orgulhosa, mergulhada nos tormentos e sombras do inferno, vê Deus como a
causa de seus sofrimentos e O considera imensuravelmente cruel. Privada da verdadeira vida em Deus,
ela vê tudo através do espectro de seu próprio estado deficiente e... em seu desespero, começa a
considerar até mesmo a existência de Deus como uma absurdidade sem esperança." Arquimandrita
Sofrônio, São Silvano o Athonita, pp. 201-202.
[43] "Ao assumir em si mesmo, por seu próprio sofrimento, os sofrimentos de cada um... [ele
sofre] misticamente por bondade, proporcionalmente ao sofrimento de cada um." São Máximo, o
Confessor, Mistagogia 24; PG 91, 713B, trad. G. Berthold, Nova York, 1985, p. 212. Ele acrescenta em
outro lugar, "Se Deus sofre na carne, quando se torna homem, não deveríamos nos alegrar quando
sofremos, pois temos Deus para compartilhar nossos sofrimentos? Esse sofrimento compartilhado
nos confere o reino." São Máximo, o Confessor, Vários Textos sobre Teologia 1.24; PG 90, 1188D-
1189A, trad. A Filocalia, vol. 2, p. 170.

[44] São João Damasceno, Exposição Exata 2.30; PG 94, 973A, trad. S. Salmond, Grand Rapids,
2004, p. 43. Cf. São João Crisóstomo, "Como, então, você pode dizer, lutamos contra as trevas?
Tornando-se luz... tornando-se bom. Pois a maldade é contrária ao bem, e a luz afasta a escuridão."
Homilias sobre Efésios 22; trad. G. Alexander, Grand Rapids, 2004, p. 161.

[45] São Porfírio, Ferido pelo Amor, trad. J. Raffan, Evia, 2005, p. 135.

[46] Fil. 2.9-10. Cf. Atos 4.12. Veja Atos 3.6-16, onde o Apóstolo Pedro cura o homem coxo
através da invocação do Nome de Jesus. Cf. também Atos 9.34.

[47] São João Clímaco, A Escada Divina 21; PG 88, 945C, trad. C. Luibheid e N. Russell, Nova
York, 1982, p. 200.

[48] São Hesíquio, Sobre a Vigilância e a Santidade 98; PG 93, 1509C, trad. A Filocalia, vol. 1, p.
179.

[49] Arquimandrita Sofrônio, São Silvano o Athonita, p. 159.

[50] João 14.27.

[51] João 16.33.

Você também pode gostar