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Competitividade Nº 29 > Novembro > 2022
Indústria & Competitividade
11EM anos
MOVIMENTO
PORTO ITAPOÁ
A família ampliada
COM VOCÊ
da indústria
F
Movimentamos uma história através do nosso cais. Com dedicação e amílias empresárias formam a espinha dor-
FILIPE SCOTTI
persistência, fizemos de cada conquista nossa uma vitória de todos. sal da indústria de Santa Catarina. Foram
elas as principais responsáveis pela cons-
Nossa forma de trabalhar está baseada nos princípios do desenvolvimento trução de um dos maiores e mais diversificados
sustentável: com eficiência, sem renunciar à responsabilidade socioambiental. parques industriais do País, e até hoje exercem
Por esse empenho fomos reconhecidos e premiados, e esses resultados nos dão papel central no desenvolvimento catarinense.
ainda mais energia para continuarmos celebrando, junto com você. Nesta edição, com toda justiça, as empresas fa-
miliares são o destaque.
A reportagem de capa trata delas, com ênfase
para a questão da sucessão. As novas gerações
encaram o desafio de assumir a direção de em-
+ de 180 MILHÕES presas que, ao longo do tempo, foram conduzidas
de reais investidos em com extrema competência e obtiveram notório
projetos socioambientais 4 MILHÕES sucesso. Aos sucessores, entretanto, não basta a
e infraestrutura para
+ de 5.700 de contêineres simples continuidade. Eles têm a missão de reali-
navios recebidos movimentados nhar os negócios em sintonia com as transforma-
o município de Itapoá ções profundas que caracterizam nossos tempos
instáveis e disruptivos.
Destaco que eles podem contar com a FIESC
21 MILHÕES para apoiar a reinvenção de suas empresas, por
6,5 MILHÕES 550 MILHÕES de reais de arrecadação meio de iniciativas como a Academia FIESC de Ne-
de teus já operados de reais de faturamento (ISS) para Itapoá em 2021 gócios. Ela desenvolve, entre outros, um programa
em 2021 voltado à formação de sucessores, promovendo o Mario Cezar de Aguiar
compartilhamento de experiências e a conexão Presidente da FIESC
com as mais avançadas práticas gerenciais do
mundo, por meio de parcerias com escolas inter-
nacionais de negócios.
A presença das empresas familiares não se restringe à reportagem de capa.
O leitor vai encontrá-las por toda a edição, do início ao fim, o que não é surpre-
sa – apenas confirma o seu peso em nosso Estado. Vou além: a revista também
destaca a força do que atualmente é denominado ecossistema da indústria, que
envolve fornecedores, provedores de serviços e desenvolvedores de soluções em
frentes como inovação, finanças e logística. Com papel cada vez mais relevante para
a competitividade do setor, pode-se dizer que eles integram a família ampliada da
indústria – setor que mais contribui para o desenvolvimento devido à sua capacida-
de, justamente, de demandar serviços sofisticados e gerar empregos qualificados,
elevando a produtividade do Brasil.
Daí a relevância da mensagem de Rafael Lucchesi, diretor da Confederação Na-
cional da Indústria, o entrevistado principal da edição. Ele enfatiza a necessidade
da retomada do processo de industrialização do País por meio de uma agenda que
potencialize o talento e a capacidade de nossos empreendedores.
www.portoitapoa.com
SUMÁRIO
6 ENTREVISTA
O Brasil liderou o
10 INDÚSTRIA NÁUTICA
Sete em cada 10 embarcações de lazer
36 GESTÃO
Empresas familiares são dominantes na Presidente
crescimento mundial produzidas no Brasil saem dos estaleiros indústria catarinense, por isso a sucessão Mario Cezar de Aguiar
quando se industrializou, de Santa Catarina, estado que responde por bem feita para as novas gerações é vital 1º Vice-Presidente
mas a economia está se metade dos empregos do setor. Sucesso para a competitividade do setor. Além de Gilberto Seleme
primarizando e por isso catarinense se deve a políticas públicas preparar os novos líderes e equilibrar os
perde relevância mundial, associadas à cultura fabril existente no Estado, diversos interesses familiares, processos Diretor 1º Secretário
afirma Rafael Lucchesi, o que consolidou uma cadeia produtiva que sucessórios têm desafio de apontar Edvaldo Ângelo
diretor da Confederação atrai cada vez mais investimentos empresas para o futuro sem perder
Nacional da Indústria. de vista os valores dos fundadores Diretor 2º Secretário
Para a retomada do Ronaldo Baumgarten Junior
desenvolvimento a passos Diretor 1º Tesoureiro
largos a indústria deve Alexandre D’Ávila da Cunha
voltar ao centro da
agenda do País Diretora 2ª Tesoureira
Rita Cassia Conti
Diretoria executiva
22
Alfredo Piotrovski
CRÉDITO Carlos José Kurtz
Fabrizio Machado Pereira
Fintechs avançam no José Eduardo Fiates
mercado de concessão de
crédito a pessoas jurídicas,
tornando o processo 58 INOVAÇÃO
muito mais ágil e simples.
Em cenário de juros
A Librelato iniciou internamente um projeto
de Pesquisa & Desenvolvimento para gerar Indústria &
altos, plataformas como um sistema avançado de telemetria para Competitividade
o FIESCMAIS, marketplace implementos rodoviários, seu principal
voltado à indústria, produto. Mas o negócio só ganhou corpo Direção de conteúdo e edição
podem ser boas opções quando uma startup foi criada e o projeto Vladimir Brandão
de financiamento para saiu da empresa, com o apoio do Instituto Jornalista responsável
pequenas empresas SENAI de Inovação
54
Elmar Meurer (984 JP)
PERFIL
Edição de arte
Claudimar Bortolin estudou Tornearia no Luciana Carranca
SENAI, cursou o secundário e foi garçom em
São Miguel do Oeste, tudo ao mesmo tempo. Produção executiva
Quando se formou ganhou um carro do pai, Maria Paula Garcia
trocou por um torno mecânico e fundou a Revisão
Torfresma Industrial, empresa que já projetou Lu Coelho
e instalou mais de mil linhas industriais em
todo o mundo Distribuição
Filipe Scotti
Colaboradores da edição
Fabrício Marques, Leo Laps,
imprensa@fiesc.com.br
Navegação de cabotagem, realizada (48) 3231 4670
entre portos do mesmo país, avança em
66
www.fiesc.com.br
Santa Catarina graças à integração com o transporte ARTIGO
terrestre realizado por caminhões nas pontas dos Alex Marson, CEO e conselheiro da holding
trajetos. Soluções integradas oferecidas por operadores Christal e colíder da Filial Santa Catarina do
atraem indústrias que obtêm custos menores para levar Instituto Capitalismo Consciente Brasil
seus produtos às regiões Nordeste e Norte www.vbcconteudo.com.br
projeto de país
Como trazer novamente a indústria para o reindustrialização.
centro da agenda?
Nós perdemos a capacidade estratégica
Temos que resgatar a
de pensar no futuro. Temos que pensar a capacidade de pensar o País a
indústria como projeto de país, não como partir das principais cadeias
defesa corporativista de empresários. Já
de agregação de valor
O
compreendemos isso no passado. Agora
Brasil já teve consciência da relação direta entre indústria e o Brasil deve reinterpretar a sua história,
desenvolvimento socioeconômico e foi o campeão mundial de primeiro olhando o que o mundo faz.
crescimento por 50 anos. Mas nas últimas quatro décadas o País se Quem conduziu a China a sair da con-
reprimarizou e não voltou a crescer como antes, perdendo peso relativo dição de ter 1% do PIB americano e ser
no mundo. Para Rafael Lucchesi, diretor de Educação e Tecnologia da CNI, hoje a maior economia do mundo? Foi
diretor-geral do SENAI e diretor superintendente do SESI, o Brasil pode a indústria. Também foi a indústria que
aproveitar a onda global de reindustrialização e retomar o caminho do puxou o crescimento do Japão e está no
desenvolvimento, com a indústria no centro da agenda. centro do processo de reconstrução eco-
nômica da Alemanha. Os Estados Unidos
protagonizaram a segunda revolução in-
Há oportunidade para o Brasil iniciar um reduzimos a participação para 1,3% dustrial, a do motor a combustão interno
processo de reindustrialização? porque o País se reprimarizou. e do motor elétrico, na virada do século
Certamente. Se o Brasil tiver ambições, 19 para o 20. Agora partem para um
e temos, a construção do futuro passa Hoje há visão preponderante de que o agro programa centrado na indústria liderado
pela reindustrialização. Se queremos é a locomotiva do País? pelo governo Biden e, interessante, são
emprego, renda e desenvolvimento Isso existe e é uma visão equivocada, atos bipartidários, há um consenso, uma
sustentável só há um caminho: a in- que não para de pé em lugar nenhum hegemonia em torno dessa ideia. Isso o
dústria. Se quisermos interromper o do mundo. As cadeias do agro são cur- Brasil precisa resgatar. Temos que ter ou-
processo de empobrecimento e de per- tas e não requerem serviços tão sofisti- sadia em nosso Sistema Indústria, como
da de importância relativa do Brasil no cados. Isso faz com que a complexidade Roberto Simonsen (fundador da FIESP)
mundo que acontece nos últimos 40 econômica se reduza, o que é chamado teve no passado, de liderar um debate
anos, temos que resgatar a capacidade de especialização regressiva. Estrangu- nacional em torno da importância da in-
de pensar o País a partir das principais la o desenvolvimento e gera problemas dustrialização. Isso não nasce da geração
cadeias de agregação de valor. Hoje crescentes de balanço de pagamentos, espontânea. Daí a importância da Aca-
temos uma estrutura industrial 20% devido ao aumento da importação de demia FIESC de Negócios. Santa Catarina
maior do que tínhamos em 1980, o produtos. E, fora isso, vamos estar de- pode liderar esse processo.
que é impensável. Ela deveria ser mui- pendentes dos ciclos de preços interna-
to maior, a estrutura industrial deveria cionais. Nos últimos 40 anos a indús- É preciso envolver o setor público para a for-
dobrar a cada sete anos se tivéssemos tria tem sido rigorosamente penalizada mulação de uma política industrial?
o ritmo que tivemos em diversos perí- no Brasil. Pagamos muitos tributos e É a combinação de um consenso, de esfor-
odos durante cinco décadas, quando recebemos muito pouco em agendas ço de país. Tem que haver a coordenação
o Brasil crescia entre 6% e 7%. O País de políticas públicas. Temos que inter- de estratégias empresariais de um lado e
tinha um claro caminho de desenvolvi- romper o processo de primarização ao mesmo tempo o impulsionamento de
mento econômico e de renda, baseado da economia, em que fomos perdendo uma agenda de políticas públicas. Não é
na industrialização, e liderou o cres- tecido industrial. É a indústria que as- estatização de economia, mas estratégia
FILIPE SCOTTI
cimento mundial entre 1930 e 1980. segura ganhos de produtividade, esta- de impulsionamento casado. E precisamos
Chegamos a ter 3% do PIB global, mas belece cadeias produtivas mais longas destravar o Brasil, com menos burocracia,
estado mais eficiente, ambiente de negó- mercado têm que ser respeitadas. Não
cios mais favorável. O industrial brasilei- podemos cair no retrocesso de um es-
ro carrega uma mochila duas vezes mais tatismo atrasado, mas também não dá
pesada do que os concorrentes, que é a para entrar em um liberalismo tosco.
carga fiscal. Por que pagamos o dinhei-
ro mais caro do mundo? Por que o Bra- Quais as oportunidades para o Brasil diante
sil não faz uma revolução na educação das grandes transformações – tecnológi-
para termos um salto de produtividade cas, climáticas, geopolíticas – por que pas-
do trabalho? É necessário construir uma sa o mundo?
estratégia de país que tenha como meta O Brasil tem um grande mercado, o
a construção e a distribuição de riqueza. que é elemento-chave para se ter uma
grande indústria, mas ela tem que
Essa visão não se conflita com propostas transcender os limites do mercado in-
mais liberais para a economia? terno. Precisamos resgatar posição de
Liberalismo no mundo só existe na uni- liderança no mercado sul-americano e
versidade para iludir pessoas ingênuas, avançar em outras regiões. Buscar uma
pois o mundo real envolve complexida- melhor integração produtiva com os Es-
de. Se queremos continuar trocando tados Unidos e a Europa, o que inclusi-
as riquezas brasileiras por espelhinhos ve nesse novo contexto de geopolítica é
dos colonizadores, é um ótimo cami- uma enorme oportunidade. Da mesma
nho pensar em maneira que a pandemia fez saltar aos
liberalismo. Mas olhos da humanidade a importância
“Nos últimos 40 devemos pensar da cadeia sanitária e industrial, para
anos a indústria tem o que os países nós brasileiros despertou também a
sido rigorosamente fazem verdadei- possibilidade de uma integração maior
penalizada no Brasil. ramente. Quando com o bloco ocidental. O movimento
Pagamos muitos os Estados Uni- da guerra entre a Rússia e a Ucrânia
tributos e recebemos dos ficaram para tende a consolidar uma maior integra-
muito pouco em trás na corrida ção da Rússia com a China, o que abre
agendas de políticas espacial o esta- oportunidades, por exemplo, na área
públicas. Temos que do criou a NASA energética. Uma das principais agen-
interromper o processo (agência espacial) das dos EUA é a energia. A transição
e a Darpa (divisão energética que a Europa faz com no-
de primarização da
de alta tecnolo- vas formas de economia sustentável –
economia” gia do exército), ESG, hidrogênio verde – estabelece uma
e houve uma era enorme plataforma de possibilidade
de ouro. Quando o Japão fez tremer os de desenvolvimento brasileiro, mas se
EUA pela capacidade da sua engenharia, ficarmos parados em berço esplêndido
eles investiram na integração de univer- não ocuparemos essa posição. O ponto
sidades e empresas, inovação, startups. fundamental que se coloca é que agen-
Tudo isso que tanto se comenta hoje é da queremos, de regressão lenta – ou
fruto de uma reconfiguração nascida no acelerada – ou ter ambição? A Irlanda
estado. Os EUA têm o maior discurso li- saiu de uma economia agrária para ser-
beral, mas sempre tiveram o estado com viços sofisticados. Israel era um kibutz
forte ação impulsionadora das agendas e hoje é um ambiente startup. O Brasil
estratégicas. É claro que a força da eco- é maior, mais complexo e podemos ter
nomia de mercado é vital, e as regras do ambições muito maiores.
N
o dia 23 de dezembro de 2010 o em-
presário José Antonio Galizio Neto
recebeu uma visita fortuita durante
o churrasco de encerramento de ano
dos funcionários da Intech Boating, fá-
brica de embarcações inaugurada havia três anos
em Palhoça. Um diretor da Sessa Marine, uma das
mais tradicionais marcas de iates da Itália, buscava
um parceiro no Brasil para expandir as atividades
e gostaria de conhecer a empresa. A conversa ren-
deu e, em março de 2011, Neto estava na Europa
assinando um contrato de intenções. Cinco meses
depois, o primeiro iate da Sessa Marine no Brasil
era concluído no Bairro Pedra Branca.
A sociedade com os italianos acelerou a en-
trada da Intech no nicho de barcos de lazer. Neto
portonave.com.br
DIVULGAÇÃO FIBRAFORT
quase a totalidade das operações de
distribuição da Mercury Marine de
Manaus para Palhoça em 2015. A fá-
NÃO PRECISA brica de motores para barcos locali-
zada em Wisconsin, no centro-oeste
ser milionário dos Estados Unidos, é a principal for-
necedora da indústria nacional – 90%
Barcos de luxo chamam a dos barcos expostos no último São
atenção, mas setor deseja Paulo Boat Show contam com moto-
popularizar o mercado res da marca instalados.
“Hoje eu sei que uma carga vai
Com tecnologia N
ão é novidade que o cus- cenário de ao menos sete anos com
to do dinheiro é um dos juros acima de dois dígitos ao ano.
fardos mais pesados que O prolongamento do cenário
aponta que as fintechs voltadas a pes- ção de recursos para capital de giro M
ção com 2020. Elas oferecem diversas por exemplo. Sequer é necessário ter CY
SHUTTERSTOCK
com grandes avanços regulatórios clientes com ênfase na chamada lo-
até então, o transporte doméstico gística integrada. Neste conceito, a
marítimo de mercadorias aumen- navegação de cabotagem pode cor-
ta de forma consistente. De acordo responder a apenas uma etapa do
com a Associação Brasileira dos Ar- transporte chamado porta a porta,
madores de Cabotagem (ABAC), no situação em que o operador logístico
último decênio a movimentação de se encarrega de buscar a mercadoria
contêineres vem crescendo a uma na indústria e entregá-la no destino
razão média de 10% ao ano, à exce- final – para clientes ou centros de dis-
ção de 2020, devido à pandemia, mas tribuição – utilizando
O caminhão
logo depois sendo retomada com for- dois ou mais modais.
ça extra (veja o gráfico). Calcula-se no se- Integração de
No Porto Itapoá, campeão da mo-
dalidade em Santa Catarina, a movi-
tor que a cabotagem
com origem no Sul
mar e estrada
acelerou a 30%
mentação de cabotagem com origem para o Nordeste, por
no porto – essencialmente cargas in- exemplo, integrada
dustriais – cresceu mais de 60% entre ao transporte ro- Redução de custos
CABOTAGEM 80%
janeiro e julho de 2022, na compara- doviário de peque-
ção com igual período do ano passa- nas distâncias nas
do, de acordo com dados da Agência pontas, pode repre- Redução de emissões
Nacional de Transportes Aquaviários sentar custos 30%
Obs.: Na comparação
(Antaq). Na média, os embarques menores na compa- com transporte de cargas
com origem nos portos catarinenses ração com o trans- apenas por via rodoviária,
Navegação entre portos do País não está sendo destravada entre o Sul e o Nordeste
cresceram cerca de 14% no período. porte rodoviário em
por novos marcos legais como era esperado, mas pelo O Estado, aliás, destaca-se na todo o trajeto. Para
empenho dos armadores em oferecer soluções de logística modalidade, sendo o terceiro com o cliente, que assina um único contra-
integrada para a indústria maior movimentação de contêineres to com o operador logístico, além do
A
e detendo 13% do mercado nacional, custo mais baixo ele tem a vantagem
navegação de cabotagem das cargas são apontados como fa- de acordo com a FIESC. A operação de nem enxergar a burocracia que
– realizada entre portos tores positivos do modal que é fusti- mais conhecida é a realizada pela envolve os diversos modais – tudo é
do Brasil – é saudada há gado, por outro lado, por excesso de ArcelorMittal em São Francisco do assumido pelo operador. “É isso que
tempos como uma saída burocracia, alta incidência de impos- Sul há quase 20 anos. A companhia impulsiona a cabotagem. Mais de
para os nós logísticos que tos e custos trabalhistas elevados. recebe matérias-primas da unida- 90% do volume transportado pelos
atrasam a economia do País, que A aprovação do novo marco legal de de Tubarão (ES) por cabotagem, navios está no contexto da logística
anda majoritariamente sobre as ro- para o setor, conhecido como progra- para processamento em Santa Ca- integrada, combinado a outros mo-
das dos caminhões. O vasto litoral ma BR do Mar, tornado lei no início tarina. Parte das mercadorias des- dais”, diz Luís Fernando Resano, dire-
navegável, a economia de combustí- do ano, deverá reduzir a burocracia pachadas para a Região Nordeste tor executivo da ABAC.
vel, as baixas emissões e a segurança e proporcionar o aumento da con- também segue em navios. Nem sempre foi assim. A Aliança
DIVULGAÇÃO
dos 300 mil transportes terres- locais do País, podem ser usados por
(*) Twenty feet equivalent unit (unidade equivalente a um contêiner
de 20 pés) – Fonte: ABAC tres que a Aliança realiza por empresas que precisam transferir a
ano. A maior parte do trans- produção de um estado para outro,
porte não marítimo é efetuada evitando a necessidade de constru- caminho inverso, entretanto, não é
Navegação e Logística, empresa de por parceiros, tanto no modal rodo- ção de novas fábricas”, explica Voloch. trilhado. As indústrias catarinenses Voloch: armazém
em Itajaí e projeto
origem brasileira atualmente per- viário quanto no ferroviário – a com- A Aliança mantém duas saídas de autopeças que fornecem ao com- de novo armazém
tencente ao grupo dinamarquês Ma- panhia pretende começar a atuar em regulares de cabotagem em Santa plexo automotivo da Stellantis em frigorificado em
Santa Catarina
ersk, começou oferecendo simples breve também no aeroviário. Catarina semanalmente. Uma delas Pernambuco, por exemplo, são de-
serviços de cabotagem – o trans- Em Santa Catarina, a Aliança de- no Porto de Imbituba, no Sul do Es- pendentes do transporte rodoviário.
porte porto a porto. Não demorou tém 30% do Porto Itapoá, que é es- tado, com foco no transporte de ar- Para mudar o cenário é preci-
a perceber que a “solução” muitas tratégico para suas operações. A 4 roz produzido no Rio Grande do Sul so encontrar soluções em conjunto
vezes implicava em dores de cabeça quilômetros do porto a companhia e em Santa Catarina para a Região com a indústria, pois a inclusão da
Navio da para os clientes, que tinham que ge- mantém a Aliança Transporte Mul- Nordeste – o volume aí é de cerca cabotagem até Pernambuco torna o
Aliança: renciar ou contratar separadamen- timodal (ATM), terminal retroportu- de 1 milhão de toneladas por ano. A transporte mais lento em dois ou três
frota deverá
crescer para te as outras etapas do transporte. ário destinado à integração logísti- linha que opera em Itapoá atende a dias. Em casos como esse, segundo
sustentar “Mudamos o modelo para ‘porta ca, inaugurado em 2013. A sinergia clientes industriais não só do Estado, Voloch, a atuação como operador lo-
aumento nos
negócios a porta’ e o negócio deslanchou”, com a Maersk, que faz navegação mas também do Paraná – boa parte gístico multimodal – e não apenas de
conta Marcus Voloch, diretor-geral de longo curso (internacional), facili- da produção paranaense de frangos cabotagem – permite que soluções
com destino ao Nordeste segue por sejam encontradas. “Nosso objetivo
cabotagem a partir de Itapoá. Diante é sermos mais estratégicos e menos
da demanda deste segmento a Alian- transacionais. Isso tem tudo a ver
ça decidiu construir um armazém fri- com o perfil da indústria de Santa Ca-
gorificado em Santa Catarina – está tarina, que possui cargas de alto valor
em processo de definição do local. agregado”, diz o executivo.
DIVULGAÇÃO
FOTOS: DIVULGAÇÃO
cadorias para o Nordeste por cami- dores logísticos terrestres de orientação leste-oeste e norte-sul e acessos marí-
nhões. “Em muitos casos poderemos timos e terrestres aos portos. “Considerando esses conceitos, é necessário atu-
incorporar a cabotagem no trajeto, uti- alizar urgentemente o Plano Estadual de Logística (PELT) com a participação do
lizando os caminhões para a coleta e a companhia concluiu que a troca do setor produtivo”, diz Martorano.
distribuição de cargas”, informa Felipe caminhão pela cabotagem para levar
Gurgel, diretor comercial da empresa uma carga de Blumenau até Recife
que opera com sete navios na cabota- reduz as emissões em 80%. “Para
gem e está com mais dois em constru- empresas que adotam práticas ESG
ção em estaleiros chineses. a cabotagem se torna uma solução
O reforço terrestre e marítimo ainda mais atrativa”, diz Gurgel.
dará ainda mais impulso às opera-
ções no Estado, onde a movimen- Zona Franca | Controlada desde o
tação de contêineres pela empresa início do ano pela gigante de navega-
cresceu 22% nos primeiros oito me- ção MSC, a Log-In mantém dois servi-
ses deste ano, em comparação com ços de cabotagem envolvendo Santa
o mesmo período de 2021. Os ga- Catarina. Um deles é uma linha para
nhos não se limitarão aos bolsos dos Manaus, que passa semanalmente
clientes. Um estudo realizado pela pelo Porto Itapoá, levando insumos
VOCÊ
a redução do atrito
nas embalagens dos
produtos, quando
VOCÊ
PODE,
FAZ
DIVULGAÇÃO
comparado ao trans-
porte rodoviário de
longas distâncias.
para a indústria da Zona Franca e Soluções logísticas envolvendo a
Fábrica da Gomes trazendo mercadorias. O outro servi- cabotagem funcionam cada vez me-
a sua
da Costa em Itajaí:
projeto para ço, chamado Atlântico Sul, funciona lhor para muitas indústrias. A Seara, indústria
avançar no uso da
cabotagem
entre Buenos Aires e o Porto de Pe- gigante da agroindústria que con- evoluir
cém, no Ceará (o trecho internacio- centra grande parte da produção de
nal não se enquadra no conceito de frangos e suínos em Santa Catarina,
cabotagem). Nessa linha a escala em desde 2015 vem aumentando o volu-
Itajaí é fundamental. me de transporte por cabotagem do
A Log-In opera na cidade um Sul para o Nordeste e o Norte, atual-
centro de distribuição da Dow Quí- mente chegando a 25% do total, uti-
mica, que foi construído ali graças lizando os portos de Itajaí e Itapoá.
aos incentivos fiscais oferecidos pelo Os embarques envolvem produtos
Estado. Na operação, os polímeros in natura, industrializados e também
fabricados pela multinacional na Ar- matérias-primas para unidades da
gentina chegam em contêineres a empresa de outras regiões.
Itajaí e dali são distribuídos. O espaço Considerando que produtos co
aberto no navio é preenchido por car- mo o frango in natura têm baixo va-
gas de Santa Catarina e do Rio Gran- lor agregado, a diferença de custo é
de do Sul com destino ao Nordeste. atrativa, além de aspectos como se-
Um dos grandes embarcadores é a
Gomes da Costa, que mantém em
gurança e sustentabilidade. Por ou-
tro lado, os produtos têm prazo de
EVOLUÇÃO SOB MEDIDA
Nos Cursos Técnicos SENAI indústria, você encontra formações com práticas
Itajaí a maior fábrica de sardinhas em validade curto, e o tempo extra do
personalizadas para o seu trabalhador e alinhadas às necessidades do seu negócio.
lata do mundo. Atualmente, cerca de transporte é um problema. A sofisti-
25% do volume produzido utiliza a ca- cação dos serviços permitiu avanços.
botagem para a distribuição. “No início apenas transferíamos a
“Nos últimos dois anos desenvol- produção para centros de distribui- PROJETOS RETORNO SOBRE
vemos projetos que permitiram o ção. Depois passamos a trabalhar APLICADOS O INVESTIMENTO
crescimento de 30% na utilização do junto com a área comercial e a fazer
modal e temos a expectativa de cres- vendas diretas utilizando a cabota-
FORTALECIMENTO PREÇOS
cermos pelo menos mais 10% nos gem integrada a outros modais”, diz
DA SUA EQUIPE ESPECIAIS
próximos dois anos”, afirma Roberto Miguel Anzolin, gerente nacional de
Teixeira Gomes, gerente de Logística Transportes da Seara Alimentos.
O jeito certo de
SER BEM-SUCEDIDO
D
e cada dez empresas bra- diretoria antes de ser alçado ao papel
sileiras, nove têm perfil fa- de CEO. Raramente uma organização
miliar. Em geral, o come- de controle familiar opta pelo recruta-
ço dessas organizações mento no mercado de um executivo
é sempre o mesmo. Um sem vínculo anterior com a empresa.
empreendedor inicia o negócio, vai Marcada pelo empreendedoris-
crescendo aos poucos e chama fami- mo, com muitas histórias de gente
Diante do cenário global que liares para ajudá-lo. Quando chega o que começou do zero para construir
momento de escolher o sucessor, a grandes organizações, a indústria de
multiplica os desafios das
preferência costuma ser direcionada Santa Catarina é fortemente baseada
empresas familiares, processos aos filhos ou a outros parentes que na tradição familiar. Por circunstân-
de sucessão bem resolvidos já trabalham na empresa, como so- cias históricas e culturais, algumas
são essenciais para as novas brinhos ou irmãos mais novos. das características desse modelo
gerações construírem o futuro Outra opção é escolher alguém ganharam ainda mais ênfase no Es-
da indústria de Santa Catarina que não integra a família, mas é “pra- tado. Isso se explica, relativamente,
ta da casa” – ou seja, fez carreira den- pelo fato de que a maior parte das
Por Maurício Oliveira tro da empresa, começando nos car- empresas catarinenses que se tor-
gos mais simples e alcançando uma naram grandes nasceu em cidades
DIVULGAÇÃO
familiares brasileiras conseguem so- PwC Brasil que participou da coorde- sa pesquisa mostra o desejo da futura
nação da parte brasileira da Global geração de líderes em aprender no-
NextGen 2022, pesquisa recém-divul- vas competências para impulsionar o
90%
das empresas
adaptação a uma con-
juntura tão multiface-
empresas”, explica Carlos Mendonça,
sócio e líder de Serviços para Empre-
matéria subsequente).
Entre os participantes há mem-
tada, e em constante sas Familiares da PwC Brasil. bros de famílias empresárias, herdei-
brasileiras são transformação, preci- ros, fundadores e sucedidos, além de
familiares
Juntas, são sa ocorrer sem perder Governança | Para apoiar as sucessores e integrantes das futuras
responsáveis por de vista a saúde finan- indústrias familiares catarinenses gerações. “O propósito central é orien-
65%
do PIB Nacional
ceira do negócio. Este
é um objetivo que,
no processo de estruturação da
governança corporativa, a Acade-
tar a estruturação de um plano de su-
cessão a partir de reflexões sobre o
Empregam nas empresas familia- mia FIESC de Negócios realiza o modelo de gestão vigente”, descreve a
75%
dos trabalhadores
res, envolve a necessi-
dade de um ritmo de
programa de formação executiva
“Sucessão e transformação da fa-
coordenadora técnico-pedagógica do
curso, a psicóloga Patrice Gaidzinski,
crescimento acima da mília empresária”. “Nossa indústria fundadora da Posterità Formação e
Somente brasileiros
média, para que o ní- é competitiva e tem base familiar Consultoria a Negócios Familiares.
24%
se preparam
vel do patrimônio seja
preservado enquanto as
muito forte. Para seguir na van-
guarda, precisa estar preparada
Patrice decidiu atuar nesta área,
há duas décadas, por influência da
para a sucessão gerações se expandem. para se reinventar constantemen- própria história. Neta do fundador da
Fonte: IBGE/
Sebrae 2020 Segundo a consultoria, o patamar te. Por isso é fundamental ofere- Eliane Revestimentos Cerâmicos, Ma-
30% 10%
chegam à
empresa que representam tem um
family office, contra 42% no mundo –
o que indica que o Brasil ainda está
das empresas TERCEIRA um pouco atrás na conscientização
familiares sobrevivem
Obs.: No Brasil. Fonte: IBGE
4% sobre a importância de estabelecer
à transição para a alcançam a
um fórum de debate envolvendo os
membros da família. “Se bem execu-
SEGUNDA GERAÇÃO QUARTA tado, o family office pode desempe-
nhar um papel fundamental para ga-
rantir o crescimento sustentável dos
ximiliano Gaidzinski, ela se especiali- negócios, além de preservar o patri-
zou em Psicoterapia de Família e pas- mônio e a unidade da família”, avalia-
sou a trabalhar como consultora na ram os responsáveis pela pesquisa.
elaboração de acordos de acionistas, Outro dos passos fundamentais
protocolos familiares e processos de do desenvolvimento da governança
sucessão. “O melhor dos mundos é corporativa nas empresas familiares é
quando há um membro familiar com- a criação de um Conselho Consultivo,
petente e preparado tecnicamente instância que ajuda os gestores a ter
para assumir a liderança da empresa, uma visão mais ampla sobre objetivos
pois essa pessoa já carrega natural- e decisões estratégicas. Para Richard
mente o orgulho de pertencimento e Doern, um dos professores da forma-
a vontade de continuar o legado”, diz ção da FIESC, é importante que este
Patrice. “Mas isso nem sempre vai ser órgão – que tem caráter apenas de
possível”, ressalta. suporte, sem poder de decisão – con-
Enquanto construía os primeiros te com pelo menos dois conselheiros
passos da carreira, Patrice mobili- externos. “Devem ser profissionais ex-
zava a família para entender a im- perientes e reconhecidos no mercado,
portância de estruturar um modelo que não sejam ligados à empresa ou à
de governança como caminho fun- família, podendo dessa forma contri-
buir com uma visão independente e cessão precisou ser feita um tanto às “Nossa indústria é competitiva e tem base familiar muito forte.
imparcial”, observa. pressas, quando o sócio proprietário Para seguir na vanguarda precisa estar preparada para
Com vasta experiência em gover- que atuava como CEO saiu em pou- se reinventar constantemente”
nança corporativa, Doern trabalhou cos dias. “A segunda geração teve
por muitos anos como consultor de menos de um mês para assumir o
Mario Cezar de Aguiar, presidente da FIESC
empresas em dificuldades financei- negócio”, lembra Eduardo Maldaner,
ras. “Vi muitas organizações familia- que na ocasião chegou ao comando
res que chegaram a um ponto sem da empresa com apenas 23 anos. Ele pulso firme para a diretoria finan- empresa da família, mas que enten-
volta por falta de ações e decisões atuava na empresa havia três anos, ceira e considerou que ela seria o dam de gestão.”
que evitariam esse desfecho. Uma na área de compras. Eduardo é filho melhor nome, apesar de não ter
governança corporativa sólida certa- de Celso Maldaner, fundador da em- experiência na área – formada em Diploma | Especialistas em suces-
mente é a melhor solução para am- presa, que atuou nos anos iniciais do Comunicação, Caroline estava tra- são apontam que o Acordo de Famí-
pliar a visão dos gestores.” negócio e depois se dedicou à polí- balhando como editora-chefe de um lia é um documento essencial para
tica, como prefeito de Maravilha e jornal local. “Aceitei o desafio porque uma empresa familiar em processo
Recapagem | É nesse estágio de logo após deputado federal, seguin- pesou muito o lado familiar, a ideia de estruturação da governança cor-
conscientização sobre a importância do a trajetória política do irmão e só- de levar adiante o negócio fundado porativa. Trata-se da definição de
Caroline e de estruturar a governança corpora- cio Casildo Maldaner, ex-governador pelo nosso pai para fazê-lo chegar à regras sobre a relação dos familiares
Eduardo
Maldaner:
tiva que se encontra a FM Pneus, em- de Santa Catarina. próxima geração”, conta. com o negócio.
formalização presa especializada em recapagem Em 2014, Eduardo foi buscar o Os resultados dos 15 anos da ges- O acordo pode definir, por exem-
da governança
corporativa
de pneus e venda de pneus novos, apoio da irmã três anos mais nova, tão de Eduardo comprovam o quanto plo, quantos membros de cada ramo
sediada em Maravilha. Em 2007, a su- Caroline. Precisava de alguém com a empresa tem sido bem-sucedida: são permitidos na companhia – consi-
saltou de duas para oito unidades derando-se o fato de que, com o cres-
industriais e de 200 para 550 cola- cimento geométrico do número de
boradores, com crescimento anual familiares a cada geração, certamen-
médio de 20% no faturamento. Ago- te não haverá lugar para todos. Outra
ra, a dupla de irmãos está voltada à cláusula que tem se tornado comum
formalização da governança corpora- é estabelecer pré-requisitos para fu-
tiva, ainda que ambos sejam jovens e turos candidatos a CEO, a exemplo de
tenham a perspectiva de continuar na diploma numa universidade conside-
empresa por muitos anos. rada de primeiro nível, domínio pleno
“Não temos um Conselho for- do inglês e ter passado pelo menos
mal. Há muita confiança na família três anos em um cargo de gestão em
e as trocas ocorrem informalmen- outra empresa antes de pleitear o co-
te, por e-mail, whatsapp, chamadas mando da empresa familiar.
de vídeo. Por um lado isso é bom, Um dos principais objetivos do
pois nos dá autonomia, mas sabe- Acordo de Família é prevenir que a
mos que não podemos continuar falta de regras claras provoque cri-
assim”, avalia Eduardo. “Pensando ses no relacionamento familiar, com
nos nossos filhos, minha preocupa- consequências também na empresa.
ção é prepará-los para que sejam O mesmo propósito de evitar futuros
bons acionistas e conselheiros. Meu conflitos envolve a criação de uma
DIVULGAÇÃO
desejo é de que sejam felizes, não holding familiar para gerir os bens
necessariamente trabalhando na compartilhados. “A pior situação para
DIVULGAÇÃO
C
uma empresa familiar é ter que pas- do irmão Antídio e passou a ajudar
M
Sucessão entre sar por inventário, processo que nor- na então pequena empresa. Fazia
irmãos na Lunelli: Y
Viviane sucederá malmente se prolonga por muitos de tudo como auxiliar de escritório
Dênis (esq.), que anos”, diz o advogado Murilo Gouvêa – emitia notas fiscais, datilografava
CM
sucedeu Antídio
dos Reis, um dos professores da for- documentos, pesava rolos de malha. MY
Inverso | Nem sempre a sucessão “Muita gente acha que nas em- K
DIVULGAÇÃO
quanto é a passagem de bastão numa
corrida de revezamento. “Aquele pe-
ríodo em que os dois correm juntos
namento próprio. A resultante é que mento oportuno”, conta Jorge. A partir do momento em que fi- e o bastão passa de uma mão para
Jorge Rohden e todos os diretores são prata da casa, Ele começou a trabalhar na em- cou claro que seria o sucessor, Jorge a outra é o mais delicado da corrida,
unidade industrial:
passagem de com muitos anos de organização. presa aos 17 anos, logo que concluiu ganhou a responsabilidade de apre- pois pode pôr tudo a perder se não
bastão aconteceu o ensino secundário. Depois do início sentar nas reuniões seguintes suas for bem executado”, compara.
gradualmente
Cotas | O valor simbólico do lega- no almoxarifado, passou pela área ideias sobre como organizaria a ges-
do representado por uma empresa financeira. Em 2006 assumiu a dire- tão. Enquanto isso, o pai foi transfe- Hesitação | Na pesquisa da PwC,
familiar se torna proporcionalmente ção-geral da fábrica de vidros, onde rindo atribuições e passando menos 65% dos representantes da próxima
maior à medida que as gerações vão permaneceu por seis anos, até se tempo na empresa – inclusive deixou geração das empresas familiares
passando. Essa responsabilidade foi transferir para a diretoria comercial. de ir ao escritório às segundas e sex- brasileiras afirmaram que a hesita-
sentida por Jorge Rohden, 38 anos, Ao longo desse período fez a gradu-
ao dar sequência ao trabalho iniciado ação em Administração e cursos no
pelo avô Samuel. A pequena fábrica
de móveis e utensílios de madeira
IBGC, na Fundação Dom Cabral e na
Fundação Getulio Vargas, entre ou-
Foco no crescimento Prioridades para
a nova geração de
BRASIL
DIVULGAÇÃO
com total afastamento do cotidiano
executivo – exatamente como deve
ser, dizem os especialistas. “Meu pai
ção da geração atual em se aposen- Com experiência anterior como entendeu claramente a diferença dois meses, tornou-se um porto se-
Everton Goedert tar é um problema, contra 57% no empreendedor – foi sócio de uma entre as duas atividades”, considera guro para que Filipe discutisse e va- Filipe Colombo:
e instalações negócio familiar
da empresa: mundo. Essa dificuldade foi sentida agência de publicidade –, ele come- seu filho Filipe Colombo, o sucessor, lidasse as diretrizes estratégicas da falou mais alto
autoconhecimento na Goedert, indústria importadora çou a trabalhar na Goedert em 2008, hoje com 36 anos. empresa, que hoje tem 550 colabo- do que carreira
é fundamental internacional
de equipamentos de higiene, limpe- aos 27 anos. Formado em Adminis- No início, a ideia de Beto era pas- radores – 450 diretos e 100 repre-
za e proteção, sediada em Biguaçu. tração e com duas especializações sar o comando para um diretor ex- sentantes comerciais.
Há seis anos o bastão foi passado – em gestão de negócios internacio- periente que já atuava na empresa e Seguindo o exemplo do pai, ele já
do fundador, Vilmar Goedert, para o nais e gerenciamento de projetos –, não pertencia à família, mas o profis- pensa com grande antecedência na
sobrinho Everton, hoje com 41 anos. Everton recebeu a missão inicial de sional em questão acabou deixando sucessão – mesmo porque também
“Os dois primeiros anos foram muito cuidar da internacionalização do ne- a Anjo ao longo do processo, abrindo quer se dedicar a outras atividades,
desafiadores, pois meu tio não tirou gócio. Aos poucos foi assumindo atri- espaço para o primogênito do funda- especialmente a de conselheiro,
completamente o chapéu de executi- buições que antes ficavam a cargo do dor. Filipe começou na Anjo aos 17 que já exerce em algumas outras
vo”, conta o sucessor. tio. Em paralelo, iniciou-se o processo anos e passou por todos os setores empresas. Seu irmão quatro anos
A situação gerou conflitos mas, de estruturação do Conselho de Fa- – inclusive a cadeira de gestão de mais jovem, Rodrigo, é o diretor de
com o tempo, Vilmar assumiu seu mília, seguido pela estruturação da pessoas. Durante quase dois anos Operações, e tem deixado claro que
novo papel como presidente do governança, com três conselheiros in- fez mestrado internacional em Admi- não pretende assumir como CEO.
Conselho e agora a visão de ambos dependentes e as duas filhas do fun- nistração, com módulos nos Estados E seu filho mais velho tem apenas
costuma estar alinhada. “Se eu tives- dador como conselheiras ouvintes, Unidos, China e Emirados Árabes. nove anos. “Olhando esse cenário
se que dar uma única dica para em- além de quatro líderes da empresa e Ao final do curso recebeu uma imagino que o meu sucessor muito
presas familiares em fase de suces- do fundador como presidente. proposta para trabalhar em Nova provavelmente não será da famí-
são seria a seguinte: façam terapia, York, mas o apelo do negócio fami- lia”, projeta. “Mas tudo bem, porque
tanto o sucessor quanto o sucedido, Promessa | O apego do fundador liar falou mais alto. Nesse cenário, esse se torna quase um detalhe se-
porque autoconhecimento é muito não foi problema na transição da o Conselho de Administração, com- cundário quando há uma estrutura
importante nesse processo”, afirma Anjo Tintas, sediada em Criciúma. posto por dois integrantes internos sólida de governança corporativa”,
Everton Goedert. Aliás, ao contrário: Beto Colombo e três externos, com reuniões a cada conclui o executivo.
Estudos
FILIPE SCOTTI
ALTA
de
PERFORMANCE
Academia FIESC de Negócios é a vertical de educação
executiva idealizada para apoiar a reinvenção e a
transformação da indústria catarinense
C
omo preparar os talentos executivos e empresários almejam final de novembro haverá um último digital, finanças e formação interna-
para um futuro dos negó- ajudar no desenvolvimento e na pere- encontro para o encerramento da pri- cional de executivos. O MBR Priori
cios que é cada vez mais nidade das empresas de Santa Cata- meira turma do programa. – Moda, por exemplo, é uma pós-
incerto? Este é o grande de- rina, especialmente as indústrias”, diz As parcerias com escolas interna- -graduação oferecida a um conjunto
safio do ensino executivo Fabrizio Machado Pereira, diretor de cionais são outra marca da Academia, de indústrias em Santa Catarina que
sintetizado por Daniel Traça, reitor da Educação e Tecnologia da FIESC. que assim pode conectar globalmen- buscam conhecimento para aumen-
Nova School of Business and Econo- Um dos destaques da Academia é te os alunos às principais tendências tar a agregação de valor aos negó-
mics, de Lisboa, parceira internacional o programa de desenvolvimento exe- internacionais de gestão. A Nova, de cios. Este programa, assim como
da Academia FIESC de Negócios. “A cutivo (EDP na sigla em inglês) para Portugal, dirige seu foco para quatro
dinâmica do futuro será diferente da- a família empresária, que congrega aspectos centrais dos negócios con-
quela que nos trouxe até aqui. Talento sucessores e sucedidos de diversas temporâneos: a formação para um
e educação são o motor do crescimen- companhias catarinenses e incorpora mundo global, digital, sustentável e “Os programas
to, mas as disrupções exigem novas metodologias avançadas para a ob- com mudanças disruptivas. Outra voltados à qualificação
abordagens, e a gestão de talentos tenção de resultados “fora da caixa”. parceira é a escola americana Igesia de executivos
precisa acompanhar as grandes ten- Uma delas é a hands on, que pode Academy, associada à Global Business e empresários
dências mundiais”, afirma. ser traduzida como “mão na massa” School Network, uma rede global que almejam ajudar no
Sua fala, dirigida aos membros do ou “aprender fazendo”, que valoriza se propõe a melhorar a educação de desenvolvimento e
conselho consultivo da Academia em a construção de soluções práticas e o gestão e empreendedorismo em paí- na perenidade das
setembro, diz muito sobre os objeti- compartilhamento de experiências en- ses em desenvolvimento. Em outubro empresas de Santa
vos e estratégias da nova plataforma tre os participantes. Outra característi- foi lançado programa em parceria Catarina”
educacional da FIESC, que recente- ca é aplicação do empreendedorismo com a escola, com o tema Inovação, Fabrizio Machado
mente se estruturou em torno de um em rede, que estimula a formação de Cadeia de Suprimentos e Indústria. Pereira
moderno espaço físico no prédio-sede alianças entre os participantes. Os en- A Academia FIESC de Negócios diretor de Educação e
da Federação, em Florianópolis. “Os contros em Florianópolis aconteceram atua em diversas frentes da forma- Tecnologia da FIESC
programas voltados à qualificação de em agosto, setembro e outubro, e no ção executiva, como transformação
ROBY GARTZ
company. Para a JBS, por exem-
plo, capacitou cerca de 100 lí-
deres supervisores em temas
como visão sistêmica, engaja-
mento e propósito. Já na Com-
panhia Catarinense de Águas e
Saneamento (Casan) quase 300
Deixe
executivos estão sendo capaci-
tados em programa de desen-
volvimento de lideranças em
encontros em Criciúma, Cha-
pecó, Rio do Sul e Florianópolis,
além de formações on-line.
a gripe
FILIPE SCOTTI
trabalhadores
Radar Finanças: a partir de um processo de escuta mas já entendidos como essenciais
conhecimento das principais demandas setoriais ao sucesso dos negócios em tempos
estratégico
realizada anteriormente, com o ob- de grandes transformações. Um dos
jetivo de planejar as ações da Acade- fóruns foi centrado em ESG, sigla que
mia em consonância com as necessi- contempla valores cada vez mais exi-
dades reais da indústria. gidos nos negócios: respeito ao meio
A Academia promoveu recente- ambiente, responsabilidade social e
mente um encontro com lideranças governança corporativa.
da indústria metalmecânica para O Radar Finanças, realizado em
detectar necessidades, formular setembro, tratou de temas altamente
programas específicos e até mesmo relevantes para a inserção da indús-
promover alianças estratégicas en- tria tradicional na nova economia. Um
tre empresas e organizações. Nesse dos painéis, por exemplo, discutiu a
contexto, a Academia se associa à
ação mais ampla da FIESC de apoiar
fundo os desafios e as maneiras de se
atribuir valor a empresas (valuation),
Seja uma empresa
a transformação da indústria cata-
rinense diante de novos desafios e
especialmente startups, que são alvo
de aquisições por parte de indústrias
campeã na vacinação
oportunidades, organizada no âm- tradicionais que desejam entrar em
bito do programa Reinventa-SC. “A novos nichos de mercado ou melho-
Academia é a vertical de educação rar seus processos industriais.
O modernizador
Logo ocorreria, no entanto, uma da- prefeitura de Modelo parou em frente
quelas aplicações perfeitas para a frase ao sítio dos Bortolin com a missão de
“há males que vêm para o bem”. A mãe levá-lo para São Miguel do Oeste, junto
de fábricas
do rapaz, dona Vilma, ouviu no rádio com a respectiva mudança – cama, rou-
que o SENAI estava convocando os jo- peiro, fogão, uma geladeira velha e al-
vens da cidade para participar de uma gum estoque de comida, especialmente
reunião. Sem saber direito do que se feijão e arroz.
tratava, Claudimar pegou sua bicicleta e As aulas começaram já no dia se-
Curso de Tornearia no SENAI foi ao local no horário anunciado. guinte, com duração prevista de um
foi o ponto de partida para que Ao chegar lá descobriu que a unida- ano e meio. Não era um curso fácil,
de do SENAI em São Miguel do Oeste, a tanto que os outros cinco rapazes de
Claudimar Bortolin fundasse a
70 quilômetros, estava com seis vagas Modelo acabaram desistindo ao longo
Torfresma Industrial, fabricante em seus cursos reservadas para jovens do caminho e voltaram à cidade natal.
de máquinas e equipamentos de Modelo, por conta de um convênio Claudimar seguiu firme, mesmo conci-
que também atua em com a prefeitura – duas em Eletricidade, liando o curso com as aulas do ensino
automação e robótica duas em Marcenaria e duas em Torne- secundário e com uma série de traba-
aria. Aquele encontro já era, na realida- lhos que começou a fazer nos finais de
Por Maurício Oliveira
de, o teste de seleção. semana para conseguir algum dinheiro,
“Decidi disputar uma das vagas em como carpir terrenos e cortar grama.
E
Tornearia pensando no futuro campo Para almoçar, ele fez um acordo com
m 1992, aos 18 anos, Claudimar Bor-
de trabalho”, descreve Claudimar. Ele um restaurante: trabalharia como gar-
tolin enfrentou uma grande decepção:
lembrou que o pai, Lídio, tinha que ir às çom entre 12h e 13h em troca de um
não foi chamado para servir no Exérci-
cidades vizinhas sempre que precisava prato de comida.
to, por excesso de contingente. Fazer
de um simples parafuso ou de alguma
DIVULGAÇÃO
carreira militar era o caminho que ele, caçula
entre cinco irmãos, havia vislum- outra peça, pois não encontrava quem Presente | A habilidade que conquis-
pudesse fazer isso em Modelo. tou para servir espeto corrido abriu
brado para deixar o trabalho
na roça, rotina que cum- No momento da prova Claudimar novas possibilidades de “bicos” aos fi-
pria desde pequeno ao estava em suposta desvantagem, pois nais de semana, em festas e eventos.
lado da família na Linha havia estudado até o 8º ano e enfren- Foi num casamento em que trabalhou
Novo Horizonte, loca- taria concorrentes com o ensino secun- como garçom que conheceu Janete,
lidade a 15 quilôme- dário completo. Como a escola da Linha convidada do noivo. Eles logo começa-
tros do centro da Novo Horizonte chegava apenas ao 4º ram a namorar.
pequena cidade ano e não havia opções de transporte Quando concluiu o curso no SENAI,
de Modelo, Oes- até a região central de Modelo, ele per- Claudimar ganhou um presente dos
te catarinense. maneceu dos dez aos 15 anos longe dos pais – um Escort Hobby azul, usado.
estudos. Quando finalmente pôde cur- Dois dias depois, o rapaz trocou o carro
sar o 5º ano, era bem mais velho que a por um torno mecânico, ponto de parti-
maioria dos colegas. da para o projeto de abrir um negócio
Mesmo com os anos de estudo a ali mesmo em São Miguel do Oeste, pois
menos, Claudimar foi aprovado no tes- a cidade era bem maior que Modelo.
te, tornando-se um dos seis seleciona- Como incentivo ao jovem tão esfor-
dos entre os 53 candidatos – número çado, dois professores de Claudimar en-
que ele guarda até hoje na memória, traram como sócios, cada um deles com
como um troféu. No dia 18 de fevereiro 25%. Assim nasceu, em julho de 1993, a
de 1992, terça-feira, uma caçamba da Torfresma, nome composto pelas letras
FOTOS: DIVULGAÇÃO
Crescendo 17% ao ano em média nos últimos
cinco anos, a Torfresma já projetou e instalou
mais de mil linhas industriais, atendendo
mais de 250 grandes indústrias
iniciais das três atividades às quais a Nos sete anos entre a fundação do hospital em que trabalhava para ma passou a pensar
Celebração em empresa se dedicaria: tornearia, fre- da empresa e a consolidação da par- integrar o time da Torfresma, que estrategicamente
família: Claudimar
e Janete vivem e sagem e manutenção. ceria com as agroindústrias da região àquela altura já somava dez funcio- no mercado global.
trabalham juntos Em 1999, quando Claudimar já Oeste catarinense, Claudimar respi- nários. Hoje, é a diretora financeira. Avanços importan-
há 22 anos
havia comprado a parte dos sócios e rou a Torfresma 24 horas por dia. E “Somos um raro casal que não ape- tes nessa direção
se tornado proprietário de 100% da não se trata de força de expressão: nas vive junto, mas trabalha junto há têm sido dados nos últimos anos,
empresa, uma encomenda da Aurora seu escritório era também seu quar- 22 anos. Janete é o grande pilar da como a fundação da Torfresma USA,
abriu um novo horizonte para o ne- to. Durante todo esse tempo, ele con- minha vida e da nossa família”, reco- em 2020, sediada no estado de Dela-
gócio. Tratava-se do desenvolvimento tinuou fazendo bicos como garçom e nhece Claudimar. Em 2002 nasceu a ware, e a abertura de um escritório no
de uma cadeira ergonômica para os trocando o almoço pelo trabalho do primeira filha do casal, Shayanne, e Chile, que em breve se transformará
trabalhadores da linha de desossa meio-dia às 13h, naquele mesmo res- em 2007 a caçula, Thávynni. também em unidade industrial.
suína. O projeto foi bem-sucedido e taurante dos tempos de estudante. Quanto mais frequentava os clien-
inspirou a oferta de produtos seme- tes, mais Claudimar percebia oportu-
lhantes para outras agroindústrias, Escala | Alguns acontecimentos nidades para construir ou aprimorar 50 anos, Claudimar
Prestes a completar
sempre com a possibilidade de adap- na virada do milênio mudaram essa equipamentos. A escala das encomen- ses um presente
recebeu há poucos me
tações às necessidades de cada clien- rotina. Além do crescimento dos das foi aumentando. Em 2008, a em- I: o torno em que
inesquecível do SENA
te. “Nesse período a gente consolidou negócios, os pais de Claudimar fo- presa participou da construção de um jetória – equipa-
ele começou sua tra
a vocação de desenvolver soluções ram morar em São Miguel do Oes- grande frigorífico da Sadia em Lucas s anos de serviços
mento que, após muito
customizadas para a indústria”, conta te e ele se casou com Janete, em do Rio Verde (MT). No ano seguinte, ndo de ser utiliza-
prestados, estava deixa
o empreendedor. 2000. Ela deixou de ser secretária passou a atuar na linha de maquiná- de ensino. Devida-
do como ferramenta
rios para a produção de hambúrgue- domo de acrílico,
mente protegido por um
res. Em 2010, também em resposta ao mais valiosas dos
a exemplo das peças
desafio apresentado por um cliente, locado bem na en-
museus, o torno foi co
a empresa desenvolveu seu primeiro rfresma, como inspi-
trada da fábrica da To
robô, dedicado à tarefa de paletização. ra toda a equipe.
ração permanente pa
Fundação Sede Colaboradores Presença global A partir da primeira contratação de
1993 São Miguel 437 12 países uma consultoria, em 2011, a Torfres-
do Oeste
PARA CHEGAR
podem ser instalados Librelato, coordenador
em diferentes pon- de Estratégia e Novos
tos ou equipamentos Negócios da empre-
MAIS RÁPIDO
de implementos, e se sa. “É comum que as
acoplam a um módulo transportadoras sai-
que concentra todos bam pouco sobre o de-
os dados e os trans- 10 mil sempenho dos imple-
mite para uma plata- Implementos mentos, embora eles
A Librelato começou projeto de P&D internamente, mas o forma de software em rodoviários fabricados concentrem o valor
sistema de telemetria para implementos rodoviários ganhou uma nuvem. por ano pela Librelato da carga, e não dispo-
tração após a criação de uma spin-off que se desenvolve dentro Lá, as informações nham de informações
do Instituto SENAI de Inovação em Sistemas Embarcados são processadas e os nem mesmo sobre os
resultados podem ser analisados por quilômetros que eles rodaram – em
Por Fabrício Marques meio de um aplicativo de celular. Dessa geral, o que se monitora é a quilome-
forma, os gestores de frotas poderão tragem do caminhão”, completa.
U
saber com precisão parâmetros como Com cerca de 1.600 funcionários e
ma parceria entre a Li- sistema de telemetria que vai for- o peso da carga que está sendo trans- unidades fabris em Içara e Criciúma, a
brelato, um dos princi- necer a motoristas de caminhão e portada, a temperatura e a pressão dos Librelato fabrica 10 mil implementos
pais fabricantes de im- gestores de frotas dados essenciais pneus, o uso do freio, o funcionamento rodoviários por ano e detém 14% do
plementos rodoviários para controlar desempenho e cus- do sistema hidráulico de basculantes mercado. É o segundo maior exporta-
do País, e o Instituto SE- tos de seus basculantes, cegonhas, – qualquer função do implemento ro- dor brasileiro destes produtos. Em anos
NAI de Inovação (ISI) em Sistemas tanques ou graneleiros. doviário que puder ser monitorada por recentes tem investido em sua transfor-
Embarcados, em Florianópolis, re- A solução tecnológica batizada sensores é elegível para ser incorpora- mação digital, com a aquisição de uma
sultou no desenvolvimento de um de FleetSense é composta por di- da ao serviço. nova central de dados e implantação de
A intenção não é comercializar o conceitos da Indústria 4.0 – um exemplo
hardware e os sensores, que seriam foi a aquisição da maior célula de solda
instalados sem custo para o cliente, robotizada da América Latina para a fá-
mas sim vender a donos e motoristas brica de Criciúma, capaz de soldar uma
de caminhões assinaturas de serviços, estrutura completa em 30 minutos.
que podem conter diferentes pacotes
de informação coletados nos imple- Cogitações | O projeto do FleetSen-
mentos. Testes da nova tecnologia es- se teve início em março de 2021, com fi-
tão sendo feitos com ao menos cinco nanciamento do programa federal Rota
clientes da Librelato, mas a solução 2030, voltado para o desenvolvimento
também poderá ser aplicada em imple- tecnológico da cadeia automotiva, e
mentos de outros fabricantes. apoio da Empresa Brasileira de Pes-
“Nosso objetivo é ajudar a desen- quisa e Inovação Industrial (Embrapii).
volver a cadeia logística como um Antes de recorrer ao ISI para desenvol-
todo. Queremos entender quais são as ver internamente um novo produto, a
dores dos clientes na ponta das ope- Librelato chegou a cogitar uma colabo-
SHUTTERSTOCK
rações de transporte e ajudar a dar ração com uma empresa da área de co-
respostas rápidas às suas necessida- nectividade, mas a ideia foi descartada
porque experiências anteriores não tos, envolvendo cocriação e codesen- vimento foi transfe- “Trabalhamos item obrigatório.
haviam alcançado a sinergia e os re- volvimento, unindo as competências rido para a Sigaway, em modelo de Os equipamentos que
sultados esperados. Outra possibili- técnicas dos pesquisadores à experti- hoje com cinco fun- codesenvolvimento. tornam os implementos
dade seria comprar uma empresa de se do negócio do cliente. “Trazemos o cionários e sediada Temos nossos mais inteligentes e criam
base tecnológica, mas os custos e os cliente para dentro do projeto e faze- nas dependências pesquisadores e dados, que se somam
riscos foram considerados altos. mos o trabalho conjuntamente”, diz do ISI em Florianó- nossas competências aos dados captados pe-
A expertise dos pesquisadores Violada, que também ganhou assen- polis. A startup está técnicas, mas quem los sensores do FleetSen-
do Instituto foi fundamental para to no comitê de inovação da Librelato formando ela própria tem a expertise do se. “O desenvolvimento
a criação da plataforma. “Fomos para ajudar a orientar novas estraté- alguns de seus qua- negócio é o cliente” da plataforma será aper-
responsáveis, por exemplo, pelo gias, principalmente as relacionadas dros graças ao apoio feiçoado continuamente
desenvolvimento de sensores e de à Indústria 4.0. dos desenvolvedores
Paulo Violada ao trabalhar, por meio
pesquisador-chefe do
hardware. Vários projetos já usa- A trajetória até o desenvolvimento seniores do Institu- Instituto SENAI de Inovação de algoritmos e de inteli-
ram esse tipo de competência dos do FleetSense envolveu uma correção to, que se tornaram em Sistemas Embarcados gência artificial, o grande
nossos pesquisadores, mas foi a pri- de rota importante, diante da percep- mentores dos funcio- volume de dados obtidos
meira vez que isso envolveu a ela- ção de que não se alcançaria rapida- nários que ingressaram na Sigaway. em tempo real nas estradas brasilei-
boração de um dispositivo aplicado mente um produto comercialmente A Librelato enxergou essa opor- ras”, diz Paulo Violada.
à mobilidade”, conta Paulo Violada, viável. Em novembro do ano passado, tunidade de negócios ao observar O uso desses recursos acompa-
Sprícigo: pesquisador-chefe do ISI em Siste- sete meses após o início do projeto, uma mudança de perfil nos produ- nha uma evolução no perfil tanto
startups
precisam ser mas Embarcados. a Librelato decidiu criar uma startup, tos que fabrica. Os sistemas eletrô- das empresas de logística quanto
ágeis para dar O trabalho segue o modelo de a Sigaway, dedicada integralmente nicos embarcados há tempos estão dos motoristas de caminhão. “O mo-
resultados
colaboração que é padrão nos Institu- ao aperfeiçoamento do sistema e presentes nos caminhões, mas não torista está se tornando um gerente
à sua comercialização, para que os nos implementos. Recentemente, de produto. Ele cuida de um ativo
responsáveis pelo projeto tivessem tanques, bas culantes e graneleiros que custa mais de R$ 1,5 milhão, fora
DIVULGAÇÃO
Uso de recursos
mais autonomia e menos burocracia. passaram a ter recursos eletrônicos o valor da carga, e precisa cada vez em implementos
“Tiramos da empresa para ganhar como itens opcionais, a exemplo de mais ter parâmetros que ajudem a ajuda a prevenir
problemas e
agilidade, porque quando as empre- freios eletrônicos que evitam o tom- prevenir problemas e reduzir custos”, reduzir custos
sas se tornam muito grandes acabam bamento. E a tendência é que outros afirma Willians Zanoli.
incorporando muitos processos. Já a itens sejam incorporados. A partir
startup é ágil, suas decisões precisam de 2025 todo implemento rodoviá-
ser rápidas”, diz José Carlos Sprícigo, rio deverá ter freio eletrônico como
CEO da Librelato.
A Sigaway tornou-se, assim, uma DIVULGAÇÃO
O gasosão
que RESISTE
aoTEMPO
FOTOS: DIVULGAÇÃO
Pureza Refrigerantes, de Rancho Queimado, do de carbono, o insumo responsável em 1905 como fabricante de bebidas
mantém praticamente a mesma fórmula de pelas borbulhas do refrigerante, afe- alcoólicas – licores, bitter e também Fábrica antiga:
memória
seu guaraná há mais de 100 anos e conta tou a produção de praticamente todos cerveja. A partir de 1917 a pequena afetiva perpassa
gerações e
com consumidores fiéis – e exigentes – os fabricantes regionais. “Os clientes fábrica passou à era do “gasosão”,
relação com
sentiram menos gás no refrigerante e comercializando refrescos de limão e
na região da Grande Florianópolis produto é
pessoal
ligavam para a fábrica para reclamar”, framboesa, e em 1925 chegou à fór-
Por Marco Britto conta Sérgio Sell, diretor administrati- mula de uma cerveja doce, bebida
C
vo e representante da quinta geração não alcoólica feita com as sobras da
ontar com um patrimônio centená- da família de proprietários, que pro- matéria-prima da fabricação da “Tira-
rio é privilégio de poucas empresas cura responder pessoalmente a cada -Prosa”, pilsen que levava em seu ró-
brasileiras. Em Santa Catarina, um reclamação recebida. “Na região da tulo o Barão do Rio Branco, emblema
exemplo vívido deste tipo de tradi- Grande Florianópolis, a memória afe- da então Cervejaria Rio Branco, como
ção encontra-se em Rancho Quei- tiva passou para as novas gerações. A inicialmente se chamava a empresa.
mado, a 60 quilômetros de Florianópolis, relação do cliente com nosso produto Hoje os descendentes do funda-
onde a Bebidas Leonardo Sell fabrica a Pu- é pessoal”, afirma. dor preparam um retorno às raízes.
reza, um refrigerante de guaraná que segue Apesar de ter uma formulação Há cerca de dois anos vem sendo de-
ainda hoje a receita original dos anos 1920, para o guaraná praticamente into- senhado um projeto para retomar a
e se mantém como um dos favoritos do cável (a fábrica tem fornecedor com produção de cerveja. O desejo maior é
público no Estado. 80 anos de parceria), a Pureza vem produzir a pilsen Tira-Prosa, porém há
A trajetória de sucesso do produto se adaptando aos tempos adotando obstáculos. O nome “prosa” está regis-
desde os tempos de “gasosão” – o anti- novas embalagens, como a Purezinha trado por outro fabricante, e a figura
go nome para os refrigerantes – faz com de 200 ml, e ainda as versões de 1 li- do Barão do Rio Branco é protegida
que a Pureza tenha lugar na memória tro e em lata – este último um forma- por direito de imagem, detido pela fa-
afetiva dos consumidores, um ativo valio- to pedido nas redes sociais –, além da mília do célebre diplomata brasileiro.
so e que demanda cuidado constante. O versão light. Os refrigerantes também A empresa mantém negociações
apreço pelo sabor clássico do refrigerante são fabricados nos sabores laranja, li- com potenciais parceiros para pro-
implica uma expectativa que jamais deve mão, abacaxi e morango. duzir a cerveja, pois a atual planta da
ser frustrada, por isso mesmo qualquer Mesmo em sua região de origem Leonardo Sell, totalmente dedicada à
alteração na fórmula é considerada crítica. poucos sabem que a Pureza começou produção de 1 milhão de litros de Pu-
Um exemplo ocorreu neste ano, quan- rotulada como cerveja. O fundador, Al- reza por mês, opera no limite logístico.
do uma crise de abastecimento de dióxi- fredo Sell, iniciou o negócio da família A produção de refrigerante em lata,
FOTOS: DIVULGAÇÃO
do fundador compras para
projetam retorno
os preços, por exemplo, do ácido cítri- baixar preços dos
às raízes co, que chegou a saltar de R$ 7 para insumos
R$ 48 em um intervalo de três meses.
“Montamos uma cooperativa entre fa-
por exemplo, ocorre no município de al fábrica apenas para cerveja e abrir bricantes do Brasil e compramos em fender os interesses das cerca de 100
Anta Gorda (RS), onde um parceiro en- um espaço para visitação, uma espé- conjunto para baixar o preço para R$ fabricantes regionais de refrigerantes
vasa o produto. A fabricação da água cie de museu da empresa, para contar 16,50”, conta Sell, que também é pre- existentes no País. Juntas elas produ-
natural gaseificada, outro produto da a história de empreendedorismo da sidente da seção estadual da Associa- zem 1 bilhão de litros por ano, ou 10%
companhia, é feita da mesma forma, família Sell. O projeto de expansão da ção dos Fabricantes de Refrigerantes do mercado nacional, mas respondem
com empresa parceira. estrutura considera também um cen- do Brasil (Afrebras). por quase metade dos empregos. Na
A estratégia é seguir desenvolven- tro de apoio logístico em Palhoça. A entidade
Faros - Revista Indústria foi -formada
& Competitividade para de-
edição de novembro.pdf Pureza,
1 21/10/2022 10:20:36 são 65 funcionários diretos.
do a linha de produtos
externamente – está Austeridade | Por enquanto, a em-
em estudo a produção presa se consolida no mercado local
de sucos e energéticos da Grande Florianópolis e ganha pre-
– até a instalação de sença no Sul do Estado, sendo ainda
uma nova fábrica em um desafio ocupar espaços onde o
Sede Rancho Queimado, um refrigerante não tem tanta popularida-
Rancho Queimado projeto com 10 mil me- de, como o Norte e o Oeste de Santa
Fundação tros quadrados e capa- Catarina. Mesmo diante das dificul-
1905 cidade de quintuplicar dades, o foco no mercado local vem
a produção de refrige- rendendo frutos. A Pureza registrou
Produção C
MY
Protagonistas da nova
REVOLUÇÃO
DIVULGAÇÃO
Alex Marson
INDUSTRIAL
CEO e conselheiro da holding
Christal e colíder da Filial
Santa Catarina do Instituto
Capitalismo Consciente Brasil
A
forma como vivemos, trabalhamos e nos relacionamos vem sendo profundamente
impactada pela aceleração da transformação tecnológica e social. Uma nova pers-
pectiva para a indústria, que encara o rebalanceamento das cadeias globais, em uma
ordem geopolítica dinâmica que altera o panorama competitivo e exponencializa ris-
cos e oportunidades.
Santa Catarina chega a este momento com o mais alto nível de desenvolvimento industrial
do País, sobressaindo-se também em competitividade.
É notório, no entanto, o gap que dificulta nosso protagonismo na reindustrialização do oci-
dente. O Brasil figura entre os últimos lugares em rankings de competitividade, e a participação
da indústria no PIB nacional retornou a patamares inferiores aos dos anos 1950, quando inicia-
mos o ciclo de agregação de valor às nossas commodities.
O momento atual apresenta a maior janela de oportunidade para reverter esse quadro. Nos-
sa indústria pode encarar o dilema, construindo soluções sustentáveis, ou negá-lo, fechando-se
e enfrentando as consequências. A dura travessia da pandemia nos livrou de muitas crenças
limitantes. Do outro lado encontramos um ambiente complexo, um universo em transformação
acelerada com o qual coletivamente temos dificuldades em lidar.
“Nossa melhor Os protagonistas da 4ª Revolução Industrial serão os que percebe-
versão de futuro rem primeiro que ela não poderá ser fundamentada naquelas cren-
emerge de ças obsoletas, mas em valores que nos engajem por traduzirem o que
ecossistemas importa para a humanidade, hoje, e o que faz sentido para cada um
conectados em de nós, individualmente. O modus operandi das organizações precisa
colaboração para acompanhar a jornada da evolução humana, para que ela se mantenha
encontrar, nos relevante e próspera.
maiores problemas As indústrias protagonistas da Nova Economia caminham a passos
do mundo, largos na convergência de tecnologias digitais, físicas e biológicas. Ro-
as melhores bôs integrados em sistemas ciberfísicos, interconectados pela Internet
oportunidades” das Coisas, com recursos de inteligência artificial, big data e computa-
ção em nuvem, estão transformando as fábricas.
O fenômeno transcende o salto tecnológico. Um ciclo de desenvolvimento próspero e sus-
tentável demanda novas formas de geração de valor e de relações que considerem que a mais
alta tecnologia não substituirá a potência humana. Empresas não mudam, quem muda são
as pessoas. Os resultados extraordinários que podemos produzir, nesta era de transformação
exponencial, dependem da transformação interna dos líderes.
As empresas protagonistas se desenvolverão a partir de lideranças conscientes, com pen-
samento sistêmico, que percebam a necessidade de harmonizar interesses de partes interde-
pendentes em sistemas sociais colaborativos. Que desenvolvam organizações adaptáveis para
navegar nas incertezas e na volatilidade da nossa era, com times autônomos engajados por um
propósito compartilhado.
Nossa melhor versão de futuro emerge de ecossistemas conectados em colaboração para
encontrar, nos maiores problemas do mundo, as melhores oportunidades de negócios.