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Nº 29 > Novembro > 2022

&
Competitividade Nº 29 > Novembro > 2022
Indústria & Competitividade

Desafios da família empresária


Indústrias catarinenses conduzem processos de sucessão
ao mesmo tempo que precisam se reinventar para os
novos tempos, sem perder de vista os valores dos fundadores

CRISTA DA ONDA DINHEIRO NA MÃO INTEGRAÇÃO LOGÍSTICA


Indústria náutica de Santa Digitalização de serviços Dobradinha entre caminhões
Catarina domina mercado financeiros pode ajudar e navios abre leque de
de lazer e cresce aos saltos pequenas e grandes empresas opções para indústrias
CARTA DO PRESIDENTE

11EM anos
MOVIMENTO
PORTO ITAPOÁ

A família ampliada
COM VOCÊ
da indústria
F
Movimentamos uma história através do nosso cais. Com dedicação e amílias empresárias formam a espinha dor-

FILIPE SCOTTI
persistência, fizemos de cada conquista nossa uma vitória de todos. sal da indústria de Santa Catarina. Foram
elas as principais responsáveis pela cons-
Nossa forma de trabalhar está baseada nos princípios do desenvolvimento trução de um dos maiores e mais diversificados
sustentável: com eficiência, sem renunciar à responsabilidade socioambiental. parques industriais do País, e até hoje exercem
Por esse empenho fomos reconhecidos e premiados, e esses resultados nos dão papel central no desenvolvimento catarinense.
ainda mais energia para continuarmos celebrando, junto com você. Nesta edição, com toda justiça, as empresas fa-
miliares são o destaque.
A reportagem de capa trata delas, com ênfase
para a questão da sucessão. As novas gerações
encaram o desafio de assumir a direção de em-
+ de 180 MILHÕES presas que, ao longo do tempo, foram conduzidas
de reais investidos em com extrema competência e obtiveram notório
projetos socioambientais 4 MILHÕES sucesso. Aos sucessores, entretanto, não basta a

e infraestrutura para
+ de 5.700 de contêineres simples continuidade. Eles têm a missão de reali-
navios recebidos movimentados nhar os negócios em sintonia com as transforma-
o município de Itapoá ções profundas que caracterizam nossos tempos
instáveis e disruptivos.
Destaco que eles podem contar com a FIESC
21 MILHÕES para apoiar a reinvenção de suas empresas, por
6,5 MILHÕES 550 MILHÕES de reais de arrecadação meio de iniciativas como a Academia FIESC de Ne-
de teus já operados de reais de faturamento (ISS) para Itapoá em 2021 gócios. Ela desenvolve, entre outros, um programa
em 2021 voltado à formação de sucessores, promovendo o Mario Cezar de Aguiar
compartilhamento de experiências e a conexão Presidente da FIESC
com as mais avançadas práticas gerenciais do
mundo, por meio de parcerias com escolas inter-
nacionais de negócios.
A presença das empresas familiares não se restringe à reportagem de capa.
O leitor vai encontrá-las por toda a edição, do início ao fim, o que não é surpre-
sa – apenas confirma o seu peso em nosso Estado. Vou além: a revista também
destaca a força do que atualmente é denominado ecossistema da indústria, que
envolve fornecedores, provedores de serviços e desenvolvedores de soluções em
frentes como inovação, finanças e logística. Com papel cada vez mais relevante para
a competitividade do setor, pode-se dizer que eles integram a família ampliada da
indústria – setor que mais contribui para o desenvolvimento devido à sua capacida-
de, justamente, de demandar serviços sofisticados e gerar empregos qualificados,
elevando a produtividade do Brasil.
Daí a relevância da mensagem de Rafael Lucchesi, diretor da Confederação Na-
cional da Indústria, o entrevistado principal da edição. Ele enfatiza a necessidade
da retomada do processo de industrialização do País por meio de uma agenda que
potencialize o talento e a capacidade de nossos empreendedores.

www.portoitapoa.com
SUMÁRIO

6 ENTREVISTA
O Brasil liderou o
10 INDÚSTRIA NÁUTICA
Sete em cada 10 embarcações de lazer
36 GESTÃO
Empresas familiares são dominantes na Presidente
crescimento mundial produzidas no Brasil saem dos estaleiros indústria catarinense, por isso a sucessão Mario Cezar de Aguiar
quando se industrializou, de Santa Catarina, estado que responde por bem feita para as novas gerações é vital 1º Vice-Presidente
mas a economia está se metade dos empregos do setor. Sucesso para a competitividade do setor. Além de Gilberto Seleme
primarizando e por isso catarinense se deve a políticas públicas preparar os novos líderes e equilibrar os
perde relevância mundial, associadas à cultura fabril existente no Estado, diversos interesses familiares, processos Diretor 1º Secretário
afirma Rafael Lucchesi, o que consolidou uma cadeia produtiva que sucessórios têm desafio de apontar Edvaldo Ângelo
diretor da Confederação atrai cada vez mais investimentos empresas para o futuro sem perder
Nacional da Indústria. de vista os valores dos fundadores Diretor 2º Secretário
Para a retomada do Ronaldo Baumgarten Junior
desenvolvimento a passos Diretor 1º Tesoureiro
largos a indústria deve Alexandre D’Ávila da Cunha
voltar ao centro da
agenda do País Diretora 2ª Tesoureira
Rita Cassia Conti

Diretoria executiva

22
Alfredo Piotrovski
CRÉDITO Carlos José Kurtz
Fabrizio Machado Pereira
Fintechs avançam no José Eduardo Fiates
mercado de concessão de
crédito a pessoas jurídicas,
tornando o processo 58 INOVAÇÃO
muito mais ágil e simples.
Em cenário de juros
A Librelato iniciou internamente um projeto
de Pesquisa & Desenvolvimento para gerar Indústria &
altos, plataformas como um sistema avançado de telemetria para Competitividade
o FIESCMAIS, marketplace implementos rodoviários, seu principal
voltado à indústria, produto. Mas o negócio só ganhou corpo Direção de conteúdo e edição
podem ser boas opções quando uma startup foi criada e o projeto Vladimir Brandão
de financiamento para saiu da empresa, com o apoio do Instituto Jornalista responsável
pequenas empresas SENAI de Inovação
54
Elmar Meurer (984 JP)
PERFIL
Edição de arte
Claudimar Bortolin estudou Tornearia no Luciana Carranca
SENAI, cursou o secundário e foi garçom em
São Miguel do Oeste, tudo ao mesmo tempo. Produção executiva
Quando se formou ganhou um carro do pai, Maria Paula Garcia
trocou por um torno mecânico e fundou a Revisão
Torfresma Industrial, empresa que já projetou Lu Coelho
e instalou mais de mil linhas industriais em
todo o mundo Distribuição
Filipe Scotti

Colaboradores da edição
Fabrício Marques, Leo Laps,

62 NEGÓCIOS Marco Britto e Maurício Oliveira

Fabricantes regionais de refrigerantes, Apoio editorial


Dami Radin, Elida Ruivo,
com marcas pitorescas e público fiel, são Ivonei Fazzioni e Jaison Henicka
queridos por todo o Brasil. Um dos mais
ilustres representantes deste segmento Capa
em Santa Catarina é a Pureza, de Rancho Luciana Carranca
Queimado, fundada em 1905 e ainda
28 DOSSIÊ
INFRAESTRUTURA
sob controle da família do fundador
Comercialização
VBC Conteúdo

imprensa@fiesc.com.br
Navegação de cabotagem, realizada (48) 3231 4670
entre portos do mesmo país, avança em
66
www.fiesc.com.br
Santa Catarina graças à integração com o transporte ARTIGO
terrestre realizado por caminhões nas pontas dos Alex Marson, CEO e conselheiro da holding
trajetos. Soluções integradas oferecidas por operadores Christal e colíder da Filial Santa Catarina do
atraem indústrias que obtêm custos menores para levar Instituto Capitalismo Consciente Brasil
seus produtos às regiões Nordeste e Norte www.vbcconteudo.com.br

4 SANTA CATARINA > NOVEMBRO > 2018 INDÚSTRIA & COMPETITIVIDADE 5


ENTREVISTA | RAFAEL LUCCHESI

Indústria deve ser um


e demanda serviços mais sofisticados, ge-
rando empregos de maior qualidade.
A construção do
futuro passa pela

projeto de país
Como trazer novamente a indústria para o reindustrialização.
centro da agenda?
Nós perdemos a capacidade estratégica
Temos que resgatar a
de pensar no futuro. Temos que pensar a capacidade de pensar o País a
indústria como projeto de país, não como partir das principais cadeias
defesa corporativista de empresários. Já
de agregação de valor

O
compreendemos isso no passado. Agora
Brasil já teve consciência da relação direta entre indústria e o Brasil deve reinterpretar a sua história,
desenvolvimento socioeconômico e foi o campeão mundial de primeiro olhando o que o mundo faz.
crescimento por 50 anos. Mas nas últimas quatro décadas o País se Quem conduziu a China a sair da con-
reprimarizou e não voltou a crescer como antes, perdendo peso relativo dição de ter 1% do PIB americano e ser
no mundo. Para Rafael Lucchesi, diretor de Educação e Tecnologia da CNI, hoje a maior economia do mundo? Foi
diretor-geral do SENAI e diretor superintendente do SESI, o Brasil pode a indústria. Também foi a indústria que
aproveitar a onda global de reindustrialização e retomar o caminho do puxou o crescimento do Japão e está no
desenvolvimento, com a indústria no centro da agenda. centro do processo de reconstrução eco-
nômica da Alemanha. Os Estados Unidos
protagonizaram a segunda revolução in-
Há oportunidade para o Brasil iniciar um reduzimos a participação para 1,3% dustrial, a do motor a combustão interno
processo de reindustrialização? porque o País se reprimarizou. e do motor elétrico, na virada do século
Certamente. Se o Brasil tiver ambições, 19 para o 20. Agora partem para um
e temos, a construção do futuro passa Hoje há visão preponderante de que o agro programa centrado na indústria liderado
pela reindustrialização. Se queremos é a locomotiva do País? pelo governo Biden e, interessante, são
emprego, renda e desenvolvimento Isso existe e é uma visão equivocada, atos bipartidários, há um consenso, uma
sustentável só há um caminho: a in- que não para de pé em lugar nenhum hegemonia em torno dessa ideia. Isso o
dústria. Se quisermos interromper o do mundo. As cadeias do agro são cur- Brasil precisa resgatar. Temos que ter ou-
processo de empobrecimento e de per- tas e não requerem serviços tão sofisti- sadia em nosso Sistema Indústria, como
da de importância relativa do Brasil no cados. Isso faz com que a complexidade Roberto Simonsen (fundador da FIESP)
mundo que acontece nos últimos 40 econômica se reduza, o que é chamado teve no passado, de liderar um debate
anos, temos que resgatar a capacidade de especialização regressiva. Estrangu- nacional em torno da importância da in-
de pensar o País a partir das principais la o desenvolvimento e gera problemas dustrialização. Isso não nasce da geração
cadeias de agregação de valor. Hoje crescentes de balanço de pagamentos, espontânea. Daí a importância da Aca-
temos uma estrutura industrial 20% devido ao aumento da importação de demia FIESC de Negócios. Santa Catarina
maior do que tínhamos em 1980, o produtos. E, fora isso, vamos estar de- pode liderar esse processo.
que é impensável. Ela deveria ser mui- pendentes dos ciclos de preços interna-
to maior, a estrutura industrial deveria cionais. Nos últimos 40 anos a indús- É preciso envolver o setor público para a for-
dobrar a cada sete anos se tivéssemos tria tem sido rigorosamente penalizada mulação de uma política industrial?
o ritmo que tivemos em diversos perí- no Brasil. Pagamos muitos tributos e É a combinação de um consenso, de esfor-
odos durante cinco décadas, quando recebemos muito pouco em agendas ço de país. Tem que haver a coordenação
o Brasil crescia entre 6% e 7%. O País de políticas públicas. Temos que inter- de estratégias empresariais de um lado e
tinha um claro caminho de desenvolvi- romper o processo de primarização ao mesmo tempo o impulsionamento de
mento econômico e de renda, baseado da economia, em que fomos perdendo uma agenda de políticas públicas. Não é
na industrialização, e liderou o cres- tecido industrial. É a indústria que as- estatização de economia, mas estratégia

FILIPE SCOTTI
cimento mundial entre 1930 e 1980. segura ganhos de produtividade, esta- de impulsionamento casado. E precisamos
Chegamos a ter 3% do PIB global, mas belece cadeias produtivas mais longas destravar o Brasil, com menos burocracia,

6 SANTA CATARINA > NOVEMBRO


JULHO > 2022
> 2022 INDÚSTRIA & COMPETITIVIDADE 7
ENTREVISTA | RAFAEL LUCCHESI

estado mais eficiente, ambiente de negó- mercado têm que ser respeitadas. Não
cios mais favorável. O industrial brasilei- podemos cair no retrocesso de um es-
ro carrega uma mochila duas vezes mais tatismo atrasado, mas também não dá
pesada do que os concorrentes, que é a para entrar em um liberalismo tosco.
carga fiscal. Por que pagamos o dinhei-
ro mais caro do mundo? Por que o Bra- Quais as oportunidades para o Brasil diante
sil não faz uma revolução na educação das grandes transformações – tecnológi-
para termos um salto de produtividade cas, climáticas, geopolíticas – por que pas-
do trabalho? É necessário construir uma sa o mundo?
estratégia de país que tenha como meta O Brasil tem um grande mercado, o
a construção e a distribuição de riqueza. que é elemento-chave para se ter uma
grande indústria, mas ela tem que
Essa visão não se conflita com propostas transcender os limites do mercado in-
mais liberais para a economia? terno. Precisamos resgatar posição de
Liberalismo no mundo só existe na uni- liderança no mercado sul-americano e
versidade para iludir pessoas ingênuas, avançar em outras regiões. Buscar uma
pois o mundo real envolve complexida- melhor integração produtiva com os Es-
de. Se queremos continuar trocando tados Unidos e a Europa, o que inclusi-
as riquezas brasileiras por espelhinhos ve nesse novo contexto de geopolítica é
dos colonizadores, é um ótimo cami- uma enorme oportunidade. Da mesma
nho pensar em maneira que a pandemia fez saltar aos
liberalismo. Mas olhos da humanidade a importância
“Nos últimos 40 devemos pensar da cadeia sanitária e industrial, para
anos a indústria tem o que os países nós brasileiros despertou também a
sido rigorosamente fazem verdadei- possibilidade de uma integração maior
penalizada no Brasil. ramente. Quando com o bloco ocidental. O movimento
Pagamos muitos os Estados Uni- da guerra entre a Rússia e a Ucrânia
tributos e recebemos dos ficaram para tende a consolidar uma maior integra-
muito pouco em trás na corrida ção da Rússia com a China, o que abre
agendas de políticas espacial o esta- oportunidades, por exemplo, na área
públicas. Temos que do criou a NASA energética. Uma das principais agen-
interromper o processo (agência espacial) das dos EUA é a energia. A transição
e a Darpa (divisão energética que a Europa faz com no-
de primarização da
de alta tecnolo- vas formas de economia sustentável –
economia” gia do exército), ESG, hidrogênio verde – estabelece uma
e houve uma era enorme plataforma de possibilidade
de ouro. Quando o Japão fez tremer os de desenvolvimento brasileiro, mas se
EUA pela capacidade da sua engenharia, ficarmos parados em berço esplêndido
eles investiram na integração de univer- não ocuparemos essa posição. O ponto
sidades e empresas, inovação, startups. fundamental que se coloca é que agen-
Tudo isso que tanto se comenta hoje é da queremos, de regressão lenta – ou
fruto de uma reconfiguração nascida no acelerada – ou ter ambição? A Irlanda
estado. Os EUA têm o maior discurso li- saiu de uma economia agrária para ser-
beral, mas sempre tiveram o estado com viços sofisticados. Israel era um kibutz
forte ação impulsionadora das agendas e hoje é um ambiente startup. O Brasil
estratégicas. É claro que a força da eco- é maior, mais complexo e podemos ter
nomia de mercado é vital, e as regras do ambições muito maiores.

8 SANTA CATARINA > NOVEMBRO


JULHO > 2022
> 2022 INDÚSTRIA & COMPETITIVIDADE 9
INDÚSTRIA NÁUTICA

LIDERANÇA SOBRE AS ÁGUAS


Com incentivos e cadeia produtiva
consolidada Santa Catarina fabrica
70% dos iates no Brasil, domina as
exportações e recebe novos –
e polpudos – investimentos
das empresas do setor
Por Leo Laps

N
o dia 23 de dezembro de 2010 o em-
presário José Antonio Galizio Neto
recebeu uma visita fortuita durante
o churrasco de encerramento de ano
dos funcionários da Intech Boating, fá-
brica de embarcações inaugurada havia três anos
em Palhoça. Um diretor da Sessa Marine, uma das
mais tradicionais marcas de iates da Itália, buscava
um parceiro no Brasil para expandir as atividades
e gostaria de conhecer a empresa. A conversa ren-
deu e, em março de 2011, Neto estava na Europa
assinando um contrato de intenções. Cinco meses
depois, o primeiro iate da Sessa Marine no Brasil
era concluído no Bairro Pedra Branca.
A sociedade com os italianos acelerou a en-
trada da Intech no nicho de barcos de lazer. Neto

DIVULGAÇÃO INTECH BOATING


começou a empresa focado no setor de embarca-
ções de uso profissional, mas já tinha planos de
começar a construir iates num futuro próximo.
“Nosso target inicial era institucional: setor de

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redução de carga tributária do ICMS rio de Turismo e Eventos de Itajaí,
de 25% para 7% para fabricantes de ressaltando toda a cultura de lazer
embarcações de lazer. Com o Pró- náutico que se consolidou na cidade
-Náutica Santa Catarina manteve a juntamente com a indústria de em-
competitividade com os estados do barcações de lazer (leia o box).
Rio de Janeiro e São Paulo, que ha- Neiva e todos os fabricantes da
viam baixado medidas semelhantes cidade participaram recentemente
meses antes. do São Paulo Boat Show, considera-
“Mas Santa Catarina fez um tra- do a maior feira náutica da América
balho muito bem-feito, com um be- Latina. “Entre os segredos para o su-
nefício realmente atrativo e simples cesso está o fato de a cidade ver os
que tornou o Estado muito competi- empresários como parceiros e não
tivo. Tanto que, até então, os polos como fonte de arrecadação”, afir-
de fabricação eram Rio de Janeiro e mou o secretário durante o 7º Con-
São Paulo. Depois do Pró-Náutica, gresso Internacional Náutico, que
DIVULGAÇÃO INTECH BOATING

Santa Catarina tomou a liderança”, aconteceu junto à feira.


atesta Eduardo Colunna, presidente Hoje, Santa Catarina é respon-
da Associação Brasileira dos Cons- sável por 70% das embarcações
trutores de Barcos e seus Imple- de lazer fabricadas no Brasil, e res-
mentos (Acobar). ponde por 90% das exportações.
Fundador da primeira fábrica Concentradas em Itajaí e também
gás e óleo, serviços portuários, frota de jet skis do Brasil nos anos 1980, na região da Grande Florianópolis,
Galizio Neto:
sociedade com de fiscalização e controle ambiental. Colunna também vislumbrou in- empresas fundadas por brasileiros
italiana deu
guinada nos
Mas fomos tão bem com os barcos
de lazer que, hoje, eles correspon-
centivos suficientes para, em 2017,
transferir a Colunna Yachts, sua fá-
como a Schaefer, Fibrafort, Sedna,
FS e a própria Intech dividem espa-
Um setor que Indústria de
embarcações
DECOLOU
negócios
dem a praticamente 100% da nossa brica de jet boats, de São Paulo para ço com grupos estrangeiros como esportivas e de
produção. Ainda atendemos clientes Itajaí. “Já havia empresas aqui e o a italiana Azimut e a fábrica norte- lazer no Brasil
do setor de serviços para renovar benefício do ICMS trouxe mais em- -americana de motores para barcos
frota, mas é coisa de três unidades presas, formando um cluster muito Mercury Marine.
por ano”, revela Neto. eficiente, com mão de obra qualifi- No ano passado a Okean, que Empregos Empregos Geração de
O interesse da Sessa Marine em cada e uma cadeia produtiva conso- produz iates com a marca italiana diretos indiretos impostos
investir em Santa Catarina não sur- lidada”, conclui Colunna. Ferretti Yachts, transferiu suas ope- 7,5 mil 30 R$ 750
giu do acaso, e nem foi motivado rações de Guarujá, no litoral paulis- (metade em SC) mil milhões
pela beleza do litoral catarinense. Segredos | A escalada náutica ta, para Itajaí, em um investimento
Em julho de 2009, um ano e meio transformou a cidade de Itajaí, que de R$ 110 milhões. De acordo com
Produção
antes do churrasco que inaugurou com seus portos e uma tradicional a Acobar, mais da metade dos 7.500
a sociedade com a Intech Boating, o indústria de construção naval ini- postos de trabalho do setor no País 3,5 mil barcos/ano
Governo do Estado lançou o Progra- cialmente mais voltada a embarca- estão em Santa Catarina. Somente (70% em SC)
ma de Incentivo à Indústria Náutica, ções comerciais sempre teve uma os cinco maiores estaleiros geraram
o Pró-Náutica. Na mesma linha de forte ligação econômica com o mar. nos últimos cinco anos R$ 700 mi- Faturamento Crescimento Exportações
benefícios concedidos às indústrias “Em 10 anos o perfil da cidade mu- lhões em impostos, mesmo com o
R$ 2 25% (2020) US$ 120
têxtil, moveleira, de cristais e outros dou. De cidade operária para náuti- desconto no ICMS. bilhões 20% (2021) milhões
setores, o decreto passou a conceder ca”, afirma Evandro Neiva, secretá- Com uma planta de 7 mil metros 25%* (2022) (2021)

Fonte: Acobar. (*) Projeção


12 SANTA CATARINA > NOVEMBRO > 2022 INDÚSTRIA & COMPETITIVIDADE 13
DIVULGAÇÃO AZIMUT YACHTS
quadrados, a Intech deve dobrar de dos os processos fabris na unidade.
Azimut Yachts: tamanho até 2024 para fazer frente O plano é reduzir em 25% o tempo
digitalização dos
processos para a um novo desafio da empresa: ex- de entrega das embarcações e au-
reduzir 25% do portar suas embarcações. Além de mentar em 25% a capacidade pro-
tempo de entrega
aumentar a área produtiva para 16 dutiva do estaleiro, que produz entre
mil metros quadrados, a nova fase outros modelos o Azimut 27 Metri,
da Intech deve incorporar mais 60 também conhecido como “o barco
vagas de trabalho aos 280 funcioná- do Cristiano Ronaldo”, famoso joga-
rios que hoje atuam na fábrica. dor de futebol de Portugal.
“Ainda atendemos apenas o Os recentes investimentos em
mercado nacional, mas sempre ampliação e modernização das
acreditei que a exportação é um dos plantas industriais do Estado de-
caminhos para a indústria náutica vem-se em boa parte à Covid-19. A
brasileira. Produzir um barco nos Es- pandemia trouxe desdobramentos
tados Unidos e na Europa está cada inesperadamente positivos para o
dia mais difícil pelo valor da mão de mercado mundial de iates. Com as
obra, diz Neto, que aponta as vanta- restrições a viagens e a orientação
gens do modelo mais verticalizado de isolamento, a compra de um bar-
do Brasil, que acaba facilitando a co de lazer se tornou uma opção
produção e a competitividade. convidativa para a população com
dinheiro suficiente para a aquisi-
Iates 4.0 | O estaleiro da Azimut ção. As vendas no Brasil cresceram
Yachts em Itajaí, único no mundo 25% em 2020 e mais 20% em 2021,
fora da Itália, também investe para segundo a Acobar. O melhor é que,
aumentar a produtividade. A unida- mesmo após a pandemia, as pers-
de vai começar a utilizar em outubro pectivas do setor seguem em alta: a
o sistema APS (Advanced Planning projeção de crescimento para este
and Scheduling) da Siemens, um ano é de 25% (veja o quadro).
software com conceitos da Indústria “Foi surpreendente a guinada
4.0 que deve integrar e digitalizar to- que a pandemia deu nos negócios.

14 SANTA CATARINA > NOVEMBRO > 2022 INDÚSTRIA & COMPETITIVIDADE 15


MERCADO INTERNO Todo mundo esperava uma crise mui-
tem enorme potencial to forte e foi o contrário”, conta o dire-
de crescimento tor de Marketing da Schaefer Yachts,
Rodrigo Loureiro. “Temos essa per-
7,5 mil km cepção, pelas conversas com clientes
e revendedores, de que as pessoas,
Extensão do ao deixarem de gastar com viagens e
litoral brasileiro extravagâncias, escolheram um pro-
duto que permite estar somente com
60 mil km a família, os amigos próximos, e em
Águas interiores isolamento”, avalia o executivo.
navegáveis A empresa, que conta com estalei-
ros em Palhoça, Biguaçu e na cabeceira
0,4% da Ponte Hercílio Luz, em Florianópolis,
Participação do Brasil tem 30 anos de existência e é conside-

DIVULGAÇÃO ACIONI CASSANIGA


MAIS MARINAS, por favor no mercado mundial
náutico de lazer
rada uma das maiores do continente.
Conta com 700 funcionários e a maior
linha de barcos da América do Sul, com
Falta de estruturas de apoio náutico emperra o mercado Fonte: Acobar
nacional de embarcações de lazer modelos que variam de 30 a 83 pés de
comprimento e preços que variam de
R$ 1 milhão a R$ 30 milhões.

A gigantesca costa do País – e suas


represas, lagos e rios navegáveis
– é um mercado com forte potencial
dades como Angra dos Reis, Búzios,
Ilhabela e Guarujá. A Marina Tedesco
(Balneário Camboriú), com 500 vagas,
Neto, da Intech Boating.
O empresário tem argumentos
para desmistificar a ideia de que
Certificação | A Schaefer começou
a exportar em 2005. Há seis anos pos-
não explorado. Com uma frota de 70 e a de Itajaí, com 350, são as maiores os iates estão somente associados sui um escritório em Fort Lauderdale,
mil embarcações de lazer com mais estruturas do tipo no Estado. A mari- ao mercado de luxo. “Cada barco na Flórida. Cerca de 40% da produção
de 16 pés, o Brasil participa com ape- na de Itajaí tem um plano de expan- que eu produzo gera cinco ou seis vai para o mercado norte-americano
nas 0,4% do PIB mundial do setor. são para quase triplicar a capacidade empregos. Quando ele sai da fá- e também para a Europa, Dubai, Sin-
O crescimento esbarra, principal- nos próximos anos. De acordo com brica, um motorista de caminhão gapura, Austrália e para os países vizi-
mente, na escassez de estruturas de a prefeitura também está prevista a o leva até a marina. Lá tem o eletri- nhos na América do Sul. “Houve uma
apoio náutico, como marinas e iate construção de um novo terminal de cista, o mecânico, o restaurante”, barreira para entrar nesses mercados,
clubes. “É a grande limitação do mer- passeios, para colocar a cidade na enumera Galizio Neto. “Um barco mas ela foi superada pela qualidade
cado náutico no Brasil. Muitas pesso- rota dos transatlânticos de cruzeiro. de R$ 1 milhão gera muito mais reconhecível do nosso produto, e por-
as não têm barco porque o custo de Em Florianópolis, a Marina da emprego e renda do que um apar- que temos todos os certificados de
manutenção é alto, as marinas estão Beira-Mar Norte deve começar a ser tamento de R$ 1 milhão.” qualidade exigidos nesses mercados”,
lotadas, cobrando o quanto querem”, construída no início do ano que vem. A Acobar estima um déficit de explica Loureiro.
critica Rodrigo Loureiro, diretor de A proposta indica 60 vagas públicas 55 mil vagas para embarcações A certificação internacional, inclu-
Marketing da Schaefer Yachts. e 624 vagas privadas, além de um no Brasil. Se a demanda reprimi- sive, é uma das maiores bandeiras
Marina de
Se por um lado Santa Catarina parque público com 123 mil metros da for atendida, a entidade proje- da Acobar no último decênio. Desen-
Itajaí: plano de domina a produção e as exportações quadrados. “A Marina de Florianópo- ta uma injeção de R$ 2,5 bilhões volvida em parceria com a ABNT, ela
expansão para
de iates no Brasil, a maior parte dos lis será um marco para Santa Catari- para implementação de instala- é considerada essencial para a maior
quase triplicar a
capacidade clientes brasileiros se concentra na na, trazendo desenvolvimento para ções de apoio náutico, com gera- participação da indústria brasileira no
Região Sudeste, aportados em locali- a região”, afirma José Antonio Galizio ção de 140 mil empregos. mercado mundial. Mas para atingir a

16 SANTA CATARINA > NOVEMBRO > 2022 INDÚSTRIA & COMPETITIVIDADE 17


MOVIMENTANDO
MAIS DO QUE
CONTÊINERES.

FOTOS: DIVULGAÇÃO SCHAEFER YACHTS


Com uma estrutura de ponta e capacidade para
expansão contínua, a Portonave não movimenta
apenas contêineres, mas também oportunidades e
crescimento econômico. Por isso, desde 2007, atua
com excelência oferecendo serviços portuários que
processo de infusão se coloca a mes- atendem às melhores práticas do mercado, com alta
ma quantidade exata de material por eficiência e qualidade nas operações.
centímetro cúbico do casco, garantin-
do um material mais leve, resistente
e econômico.
Loureiro não poupa modéstia ao
afirmar o papel da Schaefer na con-
solidação de um cluster de indústria
náutica no litoral de Santa Catarina.
O Pró-Náutica certamente provocou
um boom no setor a partir de 2009,
mas antes disso a empresa já havia
“qualidade reconhecível” citada por desenvolvido uma série de forne-
Instalações da
Loureiro, a Schaefer também investiu cedores de materiais como tecidos
Schaefer Yachts:
fresadora de cinco pesado em tecnologia e maquinário. e aço inoxidável. Este, inclusive, é
eixos garante
Uma máquina fresadora com fornecido por uma indústria que
moldes perfeitos
CNC (Computer Numeric Control), nasceu dentro da Schaefer e hoje
com cinco eixos e 25 metros de viabiliza material para todo o mer-
comprimento, garante a produção cado nacional, a Xexeumar. Locali-
de moldes perfeitos para todos os zada em São José, a empresa forne-
modelos da marca. A empresa domi- ce mais de mil itens para a indústria
nou o processo de infusão a vácuo náutica, entre dobradiças, verdugos,
(também utilizado na Intech) para conexões e afins.
garantir um alto controle de matéria-
-prima e a diminuição de emissão de Motores | O desenvolvimento da
solventes na atmosfera. Em resumo, cadeia produtiva e as vantagens lo-
em vez de ter várias pessoas de cada gísticas do litoral de SC, com seus por-
lado do casco aplicando resina, no tos e a BR-101 para o escoamento de

portonave.com.br

18 SANTA CATARINA > NOVEMBRO > 2022 INDÚSTRIA & COMPETITIVIDADE 19


carga, também ajudaram a transferir

DIVULGAÇÃO FIBRAFORT
quase a totalidade das operações de
distribuição da Mercury Marine de
Manaus para Palhoça em 2015. A fá-
NÃO PRECISA brica de motores para barcos locali-
zada em Wisconsin, no centro-oeste
ser milionário dos Estados Unidos, é a principal for-
necedora da indústria nacional – 90%
Barcos de luxo chamam a dos barcos expostos no último São
atenção, mas setor deseja Paulo Boat Show contam com moto-
popularizar o mercado res da marca instalados.
“Hoje eu sei que uma carga vai

I ates suntuosos como o Azimut 27 Metri,


com seus 88 pés e 350 metros quadrados
de área, cinco suítes e três pavimentos, ou o
chegar no dia seguinte a São Paulo.
Em Manaus, mesmo com as van-
tagens da Zona Franca, a logística
Schaefer 770 (77 pés), que tem até um ofurô era muito mais complicada. O Pró-
no deque e acomodações dignas de hotéis -Náutica teve papel importante, mas
cinco estrelas, tornam difícil negar que eles o fato de ser um polo do setor tam-
integram um mercado de luxo – as mansões
bém pesou na decisão de instalação
náuticas citadas custam algumas dezenas de
da unidade em Palhoça”, confirma o
milhões de reais.
diretor comercial da empresa, Edu-
No entanto, 60% dos barcos que singram
ardo Coelho.
os mares do Brasil e do mundo têm até 26
Graças em grande parte à existên-
pés de comprimento. São lanchas menores
cia de tantos fornecedores e da mão
e mais simples que satisfazem boa parte da
de obra especializada desenvolvida
clientela interessada pela vida náutica com
pelo setor, o polo náutico catarinense
preços bem menores de compra e manu-
também atraiu recentemente inves-
tenção. Nessa linha, no primeiro semestre o
timentos do Governo Federal, mais
estaleiro Fibrafort, de Itajaí, promoveu uma
precisamente da Marinha do Brasil,
feira em Balneário Camboriú para promover
em convênio com a multinacional
sua linha Focker, cujos barcos mais acessí-
veis têm 25 pés e estavam saindo a partir de alemã thyssenkrupp. A construção
R$ 174,9 mil. A empresa produz modelos ain- de quatro navios-escolta de alto po-
da menores, de 18 pés, e graças em grande der combatente deve absorver recur-
parte a esses modelos “de entrada” conse- sos de US$ 1,6 bilhão. Conforme pla-
gue vender até 800 unidades por ano. nejado, o Programa Fragatas Classe
Segundo Fernanda Velloso, assessora de Tamandaré iniciou a construção da
Marketing da Acobar, popularizar o acesso é primeira embarcação no começo de
essencial para o mercado interno se desen- setembro, quando foi feito no Estalei-
volver. “Buscamos a criação de rampas pú- ro tkEBS, em Itajaí, o corte da chapa
blicas para as pessoas poderem descer seus do casco. O último dos quatro navios
barcos e aproveitar o dia. Não precisa ser deve ser entregue em 2029, mas o
milionário para ter um barco.” projeto deve se estender por pelo
menos três décadas.

20 SANTA CATARINA > NOVEMBRO > 2022 INDÚSTRIA & COMPETITIVIDADE 21


CRÉDITO

Com tecnologia N
ão é novidade que o cus- cenário de ao menos sete anos com
to do dinheiro é um dos juros acima de dois dígitos ao ano.
fardos mais pesados que O prolongamento do cenário

SAI MAIS BARATO


os empreendedores bra- preocupa até empresas bem estru-
sileiros têm que carregar turadas do ponto de vista financeiro,
ao longo de sua jornada. A situação que possuem fôlego – baixo endivida-
que é histórica tornou-se ainda mais mento e caixa robusto – para atraves-
aguda com a alta da taxa básica de sar períodos difíceis, mas que podem
Juros altos assustam empresários, mas revolução digital do juros da economia, a Selic, determi- se apertar no longo prazo. O custo
mercado financeiro permite redução de intermediários e menores nada pelo Banco Central. No curto de captação por meio de emissão de
custos de transação, como na plataforma FIESCMAIS período de um ano e meio os juros debêntures, por exemplo,
básicos saltaram de 2% para 13,75% multiplicou-se por três des-
ao ano com o objetivo de conter a alta de o ano passado, mesmo
inflacionária, no que se configura no para as empresas da elite
mais longo ciclo de alta da história e do crédito, com rating AA.
o maior choque de juros em 23 anos. Diante disso, médias e
É uma medida amarga porque grandes empresas botaram
força a freada da atividade retirando o pé no freio em 2022, re- 18,9%
o oxigênio das empresas, seja no fi- duzindo substancialmente Taxa de juros
nanciamento das operações do dia a a tomada de empréstimos, anual média
dia ou das intenções de crescimento de acordo com o Indicador para crédito a PJ
de mais longo prazo. A pesquisa Son- de Demanda das Empresas
dagem Industrial divulgada em julho por Crédito da Serasa Expe- 4,5
pela Confederação Nacional da In- rian. Já as micro e pequenas pontos
dústria (CNI) revelou que a preocupa- não puderam exercer essa percentuais
ção dos empresários com os juros é a opção. Em geral menos es-
maior desde 2016. “Desde dezembro truturadas que suas congê-
Crescimento em
a taxa real se encontra em patamar neres de maior porte, elas
relação ao ano
passado
que inibe a atividade econômica”, precisam de dinheiro na
Obs.: Em agosto.
afirma o gerente de Análise Econômi- mão para honrar dívidas de Fonte: Febraban/BC
ca da CNI, Marcelo Azevedo. curto prazo e pagar forne-
A manutenção da Selic em 13,75% cedores ou salários, tendo
ao ano em setembro – mesmo valor que recorrer constantemente ao cré-
de agosto – sinaliza para o final do dito que, de tão caro, pode ao invés
ciclo de alta, mas não significa que a de resolver o problema machucar
taxa retornará logo aos patamares re- feio ou até matar.
lativamente baixos do início de 2021. Uma boa notícia para quem está
Por conta disso a taxa DI para 2028, nessa situação é a proliferação das
que indica a projeção do mercado fintechs, as startups do setor finan-
para o custo real do crédito para as ceiro que entram com cada vez mais
empresas, era negociada a mais de força no mercado de crédito. Utili-
12% no final de setembro. Isso quer zando tecnologias avançadas para
SHUTTERSTOCK

dizer que o mercado trabalha com o realizar, por exemplo, análises de

22 SANTA CATARINA > NOVEMBRO > 2022 INDÚSTRIA & COMPETITIVIDADE 23


CRÉDITO

430% 5% de duplicatas, a análise para o limite de


crédito é realizada em um tempo mé-
juros a partir de 1,7% ao mês e até 24
meses para a quitação. O mais interes-
Crescimento da oferta Participação
de crédito por das fintechs dio de 15 segundos. Após o envio das sante é que se trata de um crédito sem
notas fiscais eletrônicas para o sistema, garantia real – bastam notas promissó-
fintechs em 2021 no mercado
o crédito cai na conta em menos de 40 rias ou o aval dos sócios. “O calcanhar
Fonte: ABCD segundos. “Quanto mais operações fo- de Aquiles das pequenas empresas é
Principais modalidades rem realizadas na plataforma, menores a garantia, e esse produto contorna o
vão ficando as taxas e maiores os limi- problema”, informa Carioni.
• Financiamento de veículos
tes de desconto”, diz Rodrigo Carioni, A expansão desses serviços se
• Financiamento de capital de giro gerente-executivo do CIESC e coorde- ancora em uma revolução tecnológi-
• Crédito geral (com e sem garantias) nador do projeto FIESCMAIS. ca em curso no mercado financeiro,
• Desconto de duplicatas O objetivo principal é auxiliar pe- sintetizada pelos conceitos de open
• Antecipação de recebíveis em um só ambiente digital. quenas e médias indústrias que preci- banking ou open finance. A principal ca-
• Antecipação de contratos futuros Foi nesse contexto de necessida- sam de ajuda financeira. É a esta faixa, racterística do sistema é a capacidade
de das empresas e de novas possibili- com faturamento de até R$ 10 milhões de padronizar o compartilhamento de
dades tecnológicas que a FIESC criou, por ano, que são destinados novos informações de clientes de forma se-
crédito, elas estão tornando tudo no primeiro semestre deste ano, a serviços como a oferta de crédito de gura entre diversas instituições finan-
muito mais simples, rápido e mais plataforma FIESCMAIS, um market- capital de giro, em valores que come- ceiras. É por isso que serviços como
barato na comparação com emprés- place voltado não somente à dispo- çam em R$ 500 e vão a R$ 300 mil, com análise de crédito por várias institui-
timos bancários tradicionais. nibilidade de crédito, mas também
a serviços financeiros digitais. Nela é
Marketplace | A Associação Bra- possível ter conta corrente, acesso a
sileira de Crédito Digital (ABCD) esti- serviços como internet banking, TED
ma que as empresas do setor já são e PIX, maquininha de cartão e, mais
donas de cerca de 5% do mercado de importante, acesso a crédito rápido e
crédito no Brasil. Sandro Reiss, o pre- mais barato do que o oferecido pelo
sidente da instituição, projeta que até sistema financeiro tradicional.
o fim da década as fintechs deverão Um dos modos de obtenção de
responder por 30% a 40% do merca- crédito é com o uso da própria ma-
do nacional de crédito. quininha. A modalidade batizada de
Pesquisa realizada pela ABCD crédito fumaça permite a contrata-
C

aponta que as fintechs voltadas a pes- ção de recursos para capital de giro M

soas jurídicas tiveram crescimento no montante de até duas vezes o fa- Y

médio de 430% em sua carteira de turamento mensal obtido com paga- CM

empréstimos em 2021, na compara- mentos em cartão em uma padaria, MY

ção com 2020. Elas oferecem diversas por exemplo. Sequer é necessário ter CY

modalidades, como financiamento de a máquina de cartões da bandeira CMY

capital de giro, desconto de duplica- FIESCMAIS – pode ser de outra mar-


K

tas e antecipação de recebíveis. Den- ca. Não é preciso enviar documentos.


tro desse universo, um arranjo que Basta se cadastrar na plataforma e
se destaca é o marketplace de crédito, tanto a aprovação quanto a análise
que conecta os tomadores a diversas de crédito são feitas digitalmente. SAIBA
instituições financeiras e investidores Em outra modalidade, o desconto MAIS

24 SANTA CATARINA > NOVEMBRO > 2022 INDÚSTRIA & COMPETITIVIDADE 25


SHUTTERSTOCK
ções ao mesmo tempo são pratica- um hub de operações de crédito e
Crédito fumaça:
mente instantâneos, e por meio do financiamentos – que se tornaram
contratação de
duas vezes o marketplace o cliente pode comparar acessíveis por meio da FIESCMAIS.
valor faturado na
preços e condições e escolher a op- Isso não significa que a plata-
máquina de cartão
ção mais vantajosa. forma não possa desenvolver seus
Uma recente experiência da área próprios serviços e parcerias. Uma
de crédito estimulou a Federação a linha de crédito do Badesc (Agência
investir na plataforma. Em 2020, no de Fomento de Santa Catarina) para
auge da pandemia, a FIESC firmou investimento, com fundo de aval do
parceria com o BRDE (Banco Regio- Governo do Estado, está sendo dispo-
nal de Desenvolvimento do Extremo nibilizada na plataforma. Já indústrias
Sul) para disponibilizar crédito de ca- que desejam financiar seus próprios
pital de giro de R$ 20 mil a R$ 50 mil clientes, por exemplo, podem estru-
para micro e pequenas indústrias. turar sua própria fintech utilizando a
Com 18 meses de carência, prazos plataforma FIESCMAIS. Bom para os

Há 71 anos produzindo qualidade e


longos e sem a necessidade de ga- clientes e também para as indústrias,
rantias – apenas a indicação de uma que podem melhorar a rentabilidade

design genuinamente catarinense.


empresa cliente ou sindicato da ca- de seus recursos ao mesmo tempo
tegoria –, o dinheiro salvou centenas que oferecem facilidades aos clientes.
de empresas, e a experiência foi o Enquanto algumas empresas já
ponto de partida para a estruturação aproveitam as oportunidades, mui-
de um novo serviço. tas ainda estão limitadas aos serviços
das instituições tradicionais, ancora-
Credibilidade | Com foco nas em­ das em relacionamentos de décadas
pre­sas industriais, a plataforma com gerentes de bancos que talvez
FIESCMAIS tem a credibilidade da já não possam oferecer os melhores
Federação das Indústrias para atrair serviços disponíveis no mercado.
empresários do setor. A plataforma, Nesse sentido, a revolução digital do
por sua vez, tem como provedor o setor financeiro é uma ferramenta
LogBank, empresa do Grupo Stefa- de competitividade da indústria e é
nini, que possui um leque gigantesco preciso informar o setor – este é um
de parcerias e conexões com institui- dos objetivos da FIESC com a estru-
ções financeiras – se apresenta como turação da plataforma.

26 SANTA CATARINA > NOVEMBRO > 2022 INDÚSTRIA & COMPETITIVIDADE 27


@buddemeyeroficial
DOSSIÊ INFRAESTRUTURA

corrência quando for regulamentado, O destravamento da cabotagem


mas não deverá reduzir substancial- no Brasil nos últimos anos deve-se
mente os custos operacionais, con- em grande parte aos esforços das
forme era expectativa do setor. empresas transportadoras, que de-
No entanto, mesmo sem contar senvolvem novos serviços para os

SHUTTERSTOCK
com grandes avanços regulatórios clientes com ênfase na chamada lo-
até então, o transporte doméstico gística integrada. Neste conceito, a
marítimo de mercadorias aumen- navegação de cabotagem pode cor-
ta de forma consistente. De acordo responder a apenas uma etapa do
com a Associação Brasileira dos Ar- transporte chamado porta a porta,
madores de Cabotagem (ABAC), no situação em que o operador logístico
último decênio a movimentação de se encarrega de buscar a mercadoria
contêineres vem crescendo a uma na indústria e entregá-la no destino
razão média de 10% ao ano, à exce- final – para clientes ou centros de dis-
ção de 2020, devido à pandemia, mas tribuição – utilizando

O caminhão
logo depois sendo retomada com for- dois ou mais modais.
ça extra (veja o gráfico). Calcula-se no se- Integração de
No Porto Itapoá, campeão da mo-
dalidade em Santa Catarina, a movi-
tor que a cabotagem
com origem no Sul
mar e estrada

acelerou a 30%
mentação de cabotagem com origem para o Nordeste, por
no porto – essencialmente cargas in- exemplo, integrada
dustriais – cresceu mais de 60% entre ao transporte ro- Redução de custos

CABOTAGEM 80%
janeiro e julho de 2022, na compara- doviário de peque-
ção com igual período do ano passa- nas distâncias nas
do, de acordo com dados da Agência pontas, pode repre- Redução de emissões
Nacional de Transportes Aquaviários sentar custos 30%
Obs.: Na comparação
(Antaq). Na média, os embarques menores na compa- com transporte de cargas
com origem nos portos catarinenses ração com o trans- apenas por via rodoviária,
Navegação entre portos do País não está sendo destravada entre o Sul e o Nordeste
cresceram cerca de 14% no período. porte rodoviário em
por novos marcos legais como era esperado, mas pelo O Estado, aliás, destaca-se na todo o trajeto. Para
empenho dos armadores em oferecer soluções de logística modalidade, sendo o terceiro com o cliente, que assina um único contra-
integrada para a indústria maior movimentação de contêineres to com o operador logístico, além do

A
e detendo 13% do mercado nacional, custo mais baixo ele tem a vantagem
navegação de cabotagem das cargas são apontados como fa- de acordo com a FIESC. A operação de nem enxergar a burocracia que
– realizada entre portos tores positivos do modal que é fusti- mais conhecida é a realizada pela envolve os diversos modais – tudo é
do Brasil – é saudada há gado, por outro lado, por excesso de ArcelorMittal em São Francisco do assumido pelo operador. “É isso que
tempos como uma saída burocracia, alta incidência de impos- Sul há quase 20 anos. A companhia impulsiona a cabotagem. Mais de
para os nós logísticos que tos e custos trabalhistas elevados. recebe matérias-primas da unida- 90% do volume transportado pelos
atrasam a economia do País, que A aprovação do novo marco legal de de Tubarão (ES) por cabotagem, navios está no contexto da logística
anda majoritariamente sobre as ro- para o setor, conhecido como progra- para processamento em Santa Ca- integrada, combinado a outros mo-
das dos caminhões. O vasto litoral ma BR do Mar, tornado lei no início tarina. Parte das mercadorias des- dais”, diz Luís Fernando Resano, dire-
navegável, a economia de combustí- do ano, deverá reduzir a burocracia pachadas para a Região Nordeste tor executivo da ABAC.
vel, as baixas emissões e a segurança e proporcionar o aumento da con- também segue em navios. Nem sempre foi assim. A Aliança

28 SANTA CATARINA > NOVEMBRO > 2022 INDÚSTRIA & COMPETITIVIDADE 29


DOSSIÊ INFRAESTRUTURA

da Aliança. “Nosso negócio ta diversas operações. Algumas das

EMBARQUES DOMÉSTICOS 1.222,1


é fazer o transporte do pon-
to A ao ponto B, e acontece
indústrias que importam cobre do
Chile por Itapoá e o beneficiam em
Evolução da navegação de cabotagem 1.119,9 1.072,9 que no meio do caminho Joinville, por exemplo, fazem a expe-
no Brasil em contêineres 1.074,7
961,4 tem um navio.” dição por cabotagem.
(mil TEUs*) A frota da Aliança é de oito Recentemente a Aliança iniciou as
864,9 865,4
770,4 navios de contêineres para a operações de um armazém logístico
695,9 cabotagem, e mais dois deve- em Itajaí, utilizado para operações de
545,6 rão ser incorporados até 2024. cross docking, que consiste na retirada
423,8 A frota própria de caminhões de cargas de contêineres e o fraciona-
está saltando de 60 para 180 mento em caminhões para sequen-
unidades, mas eles respon- ciamento das entregas. “Armazéns
dem por apenas uma fração como esse, localizados em diversos
2011 2012 2013 2014 2015 2016 2017 2018 2019 2020 2021

DIVULGAÇÃO
dos 300 mil transportes terres- locais do País, podem ser usados por
(*) Twenty feet equivalent unit (unidade equivalente a um contêiner
de 20 pés) – Fonte: ABAC tres que a Aliança realiza por empresas que precisam transferir a
ano. A maior parte do trans- produção de um estado para outro,
porte não marítimo é efetuada evitando a necessidade de constru- caminho inverso, entretanto, não é
Navegação e Logística, empresa de por parceiros, tanto no modal rodo- ção de novas fábricas”, explica Voloch. trilhado. As indústrias catarinenses Voloch: armazém
em Itajaí e projeto
origem brasileira atualmente per- viário quanto no ferroviário – a com- A Aliança mantém duas saídas de autopeças que fornecem ao com- de novo armazém
tencente ao grupo dinamarquês Ma- panhia pretende começar a atuar em regulares de cabotagem em Santa plexo automotivo da Stellantis em frigorificado em
Santa Catarina
ersk, começou oferecendo simples breve também no aeroviário. Catarina semanalmente. Uma delas Pernambuco, por exemplo, são de-
serviços de cabotagem – o trans- Em Santa Catarina, a Aliança de- no Porto de Imbituba, no Sul do Es- pendentes do transporte rodoviário.
porte porto a porto. Não demorou tém 30% do Porto Itapoá, que é es- tado, com foco no transporte de ar- Para mudar o cenário é preci-
a perceber que a “solução” muitas tratégico para suas operações. A 4 roz produzido no Rio Grande do Sul so encontrar soluções em conjunto
vezes implicava em dores de cabeça quilômetros do porto a companhia e em Santa Catarina para a Região com a indústria, pois a inclusão da
Navio da para os clientes, que tinham que ge- mantém a Aliança Transporte Mul- Nordeste – o volume aí é de cerca cabotagem até Pernambuco torna o
Aliança: renciar ou contratar separadamen- timodal (ATM), terminal retroportu- de 1 milhão de toneladas por ano. A transporte mais lento em dois ou três
frota deverá
crescer para te as outras etapas do transporte. ário destinado à integração logísti- linha que opera em Itapoá atende a dias. Em casos como esse, segundo
sustentar “Mudamos o modelo para ‘porta ca, inaugurado em 2013. A sinergia clientes industriais não só do Estado, Voloch, a atuação como operador lo-
aumento nos
negócios a porta’ e o negócio deslanchou”, com a Maersk, que faz navegação mas também do Paraná – boa parte gístico multimodal – e não apenas de
conta Marcus Voloch, diretor-geral de longo curso (internacional), facili- da produção paranaense de frangos cabotagem – permite que soluções
com destino ao Nordeste segue por sejam encontradas. “Nosso objetivo
cabotagem a partir de Itapoá. Diante é sermos mais estratégicos e menos
da demanda deste segmento a Alian- transacionais. Isso tem tudo a ver
ça decidiu construir um armazém fri- com o perfil da indústria de Santa Ca-
gorificado em Santa Catarina – está tarina, que possui cargas de alto valor
em processo de definição do local. agregado”, diz o executivo.
DIVULGAÇÃO

O setor de autopeças também


está no foco da companhia. Baterias Fracionadas | A Log-In Logística
produzidas na Região Nordeste já Intermodal é outra empresa de nave-
“descem” por cabotagem até Itapoá, gação de cabotagem na origem que
para abastecer as diversas montado- se tornou uma gigante da logística in-
ras localizadas na Grande Curitiba. O tegrada. Prova disso é a recente aqui-

30 SANTA CATARINA > NOVEMBRO > 2022 INDÚSTRIA & COMPETITIVIDADE 31


No topo da agenda
Considerada única alternativa rápida para desconcentração
da matriz de transportes, cabotagem é defendida pela FIESC

O tema navegação de cabotagem integra a agenda da FIESC há mais de 20 anos.


A Federação defende que a modalidade é uma solução economicamente viável
para o transporte de carga e difunde a cabotagem por meio da realização de estu-
dos, eventos e cartilhas educativas para as indústrias. Com a participação da FIESC,
o tema foi incorporado como prioridade na agenda da Confederação Nacional da
Indústria, que classificou o projeto de lei da BR do Mar, novo marco regulatório da
cabotagem, como prioridade para o setor, fazendo a defesa do texto original pro-
posto pelo Poder Executivo.
“Com a consolidação e regulamentação do programa BR do Mar teremos uma
verdadeira revolução na logística brasileira, pelo aumento da concorrência, dimi-
nuição da burocracia e estímulo ao modal, dentre outros aspectos”, afirma Egí-
dio Martorano, gerente para Assuntos de Transporte, Logística, Meio Ambiente
e Sustentabilidade da FIESC. Uma das flexibilizações da nova regulamentação é
sição da Tecmar, uma transportadora a permissão para que navios com bandeiras de outros países possam atuar na
Gurgel, da Log-In: de grande porte especializada em cabotagem.
movimentação
de contêineres cargas fracionadas, com frota de mais No curto prazo, a cabotagem é considerada a única alternativa para diminuir a
cresceu 22% em de mil caminhões próprios e 30 filiais concentração do modal rodoviário na matriz de transportes, inclusive nas longas
Santa Catarina
espalhadas pelo Brasil – sendo duas distâncias. Por isso o modal é essencial em um planejamento sistêmico e integrado
em Santa Catarina: Blumenau e Joinvil- da infraestrutura de transportes catarinense que considere a intermodalidade e
le. Há diversos clientes da Tecmar em a movimentação de cargas de alto valor agregado, o que é defendido pela FIESC.
Santa Catarina que levam suas mer- A agenda da Federação também contempla itens como a eficiência dos corre-

FOTOS: DIVULGAÇÃO
cadorias para o Nordeste por cami- dores logísticos terrestres de orientação leste-oeste e norte-sul e acessos marí-
nhões. “Em muitos casos poderemos timos e terrestres aos portos. “Considerando esses conceitos, é necessário atu-
incorporar a cabotagem no trajeto, uti- alizar urgentemente o Plano Estadual de Logística (PELT) com a participação do
lizando os caminhões para a coleta e a companhia concluiu que a troca do setor produtivo”, diz Martorano.
distribuição de cargas”, informa Felipe caminhão pela cabotagem para levar
Gurgel, diretor comercial da empresa uma carga de Blumenau até Recife
que opera com sete navios na cabota- reduz as emissões em 80%. “Para
gem e está com mais dois em constru- empresas que adotam práticas ESG
ção em estaleiros chineses. a cabotagem se torna uma solução
O reforço terrestre e marítimo ainda mais atrativa”, diz Gurgel.
dará ainda mais impulso às opera-
ções no Estado, onde a movimen- Zona Franca | Controlada desde o
tação de contêineres pela empresa início do ano pela gigante de navega-
cresceu 22% nos primeiros oito me- ção MSC, a Log-In mantém dois servi-
ses deste ano, em comparação com ços de cabotagem envolvendo Santa
o mesmo período de 2021. Os ga- Catarina. Um deles é uma linha para
nhos não se limitarão aos bolsos dos Manaus, que passa semanalmente
clientes. Um estudo realizado pela pelo Porto Itapoá, levando insumos

32 SANTA CATARINA > NOVEMBRO > 2022 INDÚSTRIA & COMPETITIVIDADE 33


da Gomes da Cos-
ta. Além da redução
dos custos de frete,
o executivo desta-
ca como vantagem

VOCÊ
a redução do atrito
nas embalagens dos
produtos, quando

VOCÊ
PODE,
FAZ

DIVULGAÇÃO
comparado ao trans-
porte rodoviário de
longas distâncias.
para a indústria da Zona Franca e Soluções logísticas envolvendo a
Fábrica da Gomes trazendo mercadorias. O outro servi- cabotagem funcionam cada vez me-
a sua
da Costa em Itajaí:
projeto para ço, chamado Atlântico Sul, funciona lhor para muitas indústrias. A Seara, indústria
avançar no uso da
cabotagem
entre Buenos Aires e o Porto de Pe- gigante da agroindústria que con- evoluir
cém, no Ceará (o trecho internacio- centra grande parte da produção de
nal não se enquadra no conceito de frangos e suínos em Santa Catarina,
cabotagem). Nessa linha a escala em desde 2015 vem aumentando o volu-
Itajaí é fundamental. me de transporte por cabotagem do
A Log-In opera na cidade um Sul para o Nordeste e o Norte, atual-
centro de distribuição da Dow Quí- mente chegando a 25% do total, uti-
mica, que foi construído ali graças lizando os portos de Itajaí e Itapoá.
aos incentivos fiscais oferecidos pelo Os embarques envolvem produtos
Estado. Na operação, os polímeros in natura, industrializados e também
fabricados pela multinacional na Ar- matérias-primas para unidades da
gentina chegam em contêineres a empresa de outras regiões.
Itajaí e dali são distribuídos. O espaço Considerando que produtos co­
aberto no navio é preenchido por car- mo o frango in natura têm baixo va-
gas de Santa Catarina e do Rio Gran- lor agregado, a diferença de custo é
de do Sul com destino ao Nordeste. atrativa, além de aspectos como se-
Um dos grandes embarcadores é a
Gomes da Costa, que mantém em
gurança e sustentabilidade. Por ou-
tro lado, os produtos têm prazo de
EVOLUÇÃO SOB MEDIDA
Nos Cursos Técnicos SENAI indústria, você encontra formações com práticas
Itajaí a maior fábrica de sardinhas em validade curto, e o tempo extra do
personalizadas para o seu trabalhador e alinhadas às necessidades do seu negócio.
lata do mundo. Atualmente, cerca de transporte é um problema. A sofisti-
25% do volume produzido utiliza a ca- cação dos serviços permitiu avanços.
botagem para a distribuição. “No início apenas transferíamos a
“Nos últimos dois anos desenvol- produção para centros de distribui- PROJETOS RETORNO SOBRE
vemos projetos que permitiram o ção. Depois passamos a trabalhar APLICADOS O INVESTIMENTO
crescimento de 30% na utilização do junto com a área comercial e a fazer
modal e temos a expectativa de cres- vendas diretas utilizando a cabota-
FORTALECIMENTO PREÇOS
cermos pelo menos mais 10% nos gem integrada a outros modais”, diz
DA SUA EQUIPE ESPECIAIS
próximos dois anos”, afirma Roberto Miguel Anzolin, gerente nacional de
Teixeira Gomes, gerente de Logística Transportes da Seara Alimentos.

34 SANTA CATARINA > NOVEMBRO > 2022


sc.senai.br/tecnico-industria INDÚSTRIA & COMPETITIVIDADE 35
GESTÃO

O jeito certo de
SER BEM-SUCEDIDO

D
e cada dez empresas bra- diretoria antes de ser alçado ao papel
sileiras, nove têm perfil fa- de CEO. Raramente uma organização
miliar. Em geral, o come- de controle familiar opta pelo recruta-
ço dessas organizações mento no mercado de um executivo
é sempre o mesmo. Um sem vínculo anterior com a empresa.
empreendedor inicia o negócio, vai Marcada pelo empreendedoris-
crescendo aos poucos e chama fami- mo, com muitas histórias de gente
Diante do cenário global que liares para ajudá-lo. Quando chega o que começou do zero para construir
momento de escolher o sucessor, a grandes organizações, a indústria de
multiplica os desafios das
preferência costuma ser direcionada Santa Catarina é fortemente baseada
empresas familiares, processos aos filhos ou a outros parentes que na tradição familiar. Por circunstân-
de sucessão bem resolvidos já trabalham na empresa, como so- cias históricas e culturais, algumas
são essenciais para as novas brinhos ou irmãos mais novos. das características desse modelo
gerações construírem o futuro Outra opção é escolher alguém ganharam ainda mais ênfase no Es-
da indústria de Santa Catarina que não integra a família, mas é “pra- tado. Isso se explica, relativamente,
ta da casa” – ou seja, fez carreira den- pelo fato de que a maior parte das
Por Maurício Oliveira tro da empresa, começando nos car- empresas catarinenses que se tor-
gos mais simples e alcançando uma naram grandes nasceu em cidades

36 SANTA CATARINA > NOVEMBRO > 2022 INDÚSTRIA & COMPETITIVIDADE 37


GESTÃO
“A sucessão é como uma corrida de
revezamento. Aquele período em que
os dois correm juntos e o bastão passa
de uma mão para a outra é o mais
de pequeno e médio porte. Assim, breviver à transição para a segunda de referência para empresas familia- delicado, pois pode pôr tudo a perder se
assumem o papel de pilar da econo- geração, 10% chegam à terceira e não res é o crescimento de pelo menos não for bem executado”
mia local e mantêm forte ligação com mais que 4% alcançam a quarta gera- 10% a cada dois anos. Cientes dessa
a comunidade. Outra prática tipica- ção. As estatísticas evidenciam, por- necessidade, 56% dos participantes Patrice Gaidzinski
consultora de negócios familiares
mente catarinense é o reinvestimento tanto, que a sucessão é um processo brasileiros da pesquisa apontaram “a
no negócio, em vez da distribuição de de alto risco para as empresas fami- expansão para novos setores ou mer-
dividendos ou da aquisição de bens liares, especialmente quando não há cados” como prioridade, contra uma
particulares pelos proprietários. uma estrutura bem estabelecida de média global de 47%. Foi o índice mais
governança corporativa e familiar. alto obtido na amostragem nacional
Alto risco | Uma organização fami­ Além das dificuldades internas de (veja quadro com as prioridades).
liar apresenta várias virtudes em po­ toda empresa, há as pressões trazi- Os dados coletados pela PwC mos-
tencial, mas também tem vulnerabi- das por um mercado que cresce em traram, também, que a pandemia de
lidades clássicas. Por ser altamente complexidade e imprevisibilidade. “Em Covid-19 fortaleceu a coesão e uniu
concentrado na figura do fundador, meio a incertezas de todos os tipos, a as gerações em torno de um objetivo
este modelo enfrenta grandes dificul- exemplo de guerras, mudanças climá- comum: impulsionar o crescimento
dades para a existência de longo prazo. ticas e crises sanitárias e econômicas, para garantir a estabilidade dos negó-
De acordo com estudos do Institu- as empresas familiares precisam estar cios e da família. “A pandemia acele-
to Brasileiro de Geografia e Estatísti- prontas para reagir e se adaptar rapi- rou mudanças e a transição de poder
ca (IBGE), apenas 30% das empresas damente”, diz Helena Rocha, sócia da em muitas empresas familiares. Nos-

DIVULGAÇÃO
familiares brasileiras conseguem so- PwC Brasil que participou da coorde- sa pesquisa mostra o desejo da futura
nação da parte brasileira da Global geração de líderes em aprender no-
NextGen 2022, pesquisa recém-divul- vas competências para impulsionar o

PIB em gada pela consultoria sobre a visão da


próxima geração de líderes de empre-
crescimento dos negócios em tempos
tão incertos e o compromisso deles
cer ao setor modernos programas
de inovação, tecnologia e de go-

família sas familiares.


A PwC alerta que a
com a construção da confiança, algo
que é uma marca registrada dessas
vernança”, afirma Mario Cezar de
Aguiar, presidente da FIESC (leia

90%
das empresas
adaptação a uma con-
juntura tão multiface-
empresas”, explica Carlos Mendonça,
sócio e líder de Serviços para Empre-
matéria subsequente).
Entre os participantes há mem-
tada, e em constante sas Familiares da PwC Brasil. bros de famílias empresárias, herdei-
brasileiras são transformação, preci- ros, fundadores e sucedidos, além de
familiares
Juntas, são sa ocorrer sem perder Governança | Para apoiar as sucessores e integrantes das futuras
responsáveis por de vista a saúde finan- indústrias familiares catarinenses gerações. “O propósito central é orien-

65%
do PIB Nacional
ceira do negócio. Este
é um objetivo que,
no processo de estruturação da
governança corporativa, a Acade-
tar a estruturação de um plano de su-
cessão a partir de reflexões sobre o
Empregam nas empresas familia- mia FIESC de Negócios realiza o modelo de gestão vigente”, descreve a

75%
dos trabalhadores
res, envolve a necessi-
dade de um ritmo de
programa de formação executiva
“Sucessão e transformação da fa-
coordenadora técnico-pedagógica do
curso, a psicóloga Patrice Gaidzinski,
crescimento acima da mília empresária”. “Nossa indústria fundadora da Posterità Formação e
Somente brasileiros
média, para que o ní- é competitiva e tem base familiar Consultoria a Negócios Familiares.

24%
se preparam
vel do patrimônio seja
preservado enquanto as
muito forte. Para seguir na van-
guarda, precisa estar preparada
Patrice decidiu atuar nesta área,
há duas décadas, por influência da
para a sucessão gerações se expandem. para se reinventar constantemen- própria história. Neta do fundador da
Fonte: IBGE/
Sebrae 2020 Segundo a consultoria, o patamar te. Por isso é fundamental ofere- Eliane Revestimentos Cerâmicos, Ma-

38 SANTA CATARINA > NOVEMBRO > 2022 INDÚSTRIA & COMPETITIVIDADE 39


Desafio geracional
damental para planejar o futuro do
negócio. “Eu dizia aos meus primos
que precisávamos pensar nessas
coisas para não virarmos os ‘netos
pobres’ daquele famoso provérbio
‘avô rico, filho nobre, neto pobre’.”
A associação de primos criada a par-
tir desse movimento deu origem à
governança estruturada que existe
hoje no grupo – Patrice é presidente
do Conselho da MG5, holding con-
troladora da Eliane S/A.
Na pesquisa da PwC, 30% dos par-
ticipantes brasileiros disseram que a

30% 10%
chegam à
empresa que representam tem um
family office, contra 42% no mundo –
o que indica que o Brasil ainda está
das empresas TERCEIRA um pouco atrás na conscientização
familiares sobrevivem
Obs.: No Brasil. Fonte: IBGE
4% sobre a importância de estabelecer
à transição para a alcançam a
um fórum de debate envolvendo os
membros da família. “Se bem execu-
SEGUNDA GERAÇÃO QUARTA tado, o family office pode desempe-
nhar um papel fundamental para ga-
rantir o crescimento sustentável dos
ximiliano Gaidzinski, ela se especiali- negócios, além de preservar o patri-
zou em Psicoterapia de Família e pas- mônio e a unidade da família”, avalia-
sou a trabalhar como consultora na ram os responsáveis pela pesquisa.
elaboração de acordos de acionistas, Outro dos passos fundamentais
protocolos familiares e processos de do desenvolvimento da governança
sucessão. “O melhor dos mundos é corporativa nas empresas familiares é
quando há um membro familiar com- a criação de um Conselho Consultivo,
petente e preparado tecnicamente instância que ajuda os gestores a ter
para assumir a liderança da empresa, uma visão mais ampla sobre objetivos
pois essa pessoa já carrega natural- e decisões estratégicas. Para Richard
mente o orgulho de pertencimento e Doern, um dos professores da forma-
a vontade de continuar o legado”, diz ção da FIESC, é importante que este
Patrice. “Mas isso nem sempre vai ser órgão – que tem caráter apenas de
possível”, ressalta. suporte, sem poder de decisão – con-
Enquanto construía os primeiros te com pelo menos dois conselheiros
passos da carreira, Patrice mobili- externos. “Devem ser profissionais ex-
zava a família para entender a im- perientes e reconhecidos no mercado,
portância de estruturar um modelo que não sejam ligados à empresa ou à
de governança como caminho fun- família, podendo dessa forma contri-

40 SANTA CATARINA > NOVEMBRO > 2022 INDÚSTRIA & COMPETITIVIDADE 41


GESTÃO

buir com uma visão independente e cessão precisou ser feita um tanto às “Nossa indústria é competitiva e tem base familiar muito forte.
imparcial”, observa. pressas, quando o sócio proprietário Para seguir na vanguarda precisa estar preparada para
Com vasta experiência em gover- que atuava como CEO saiu em pou- se reinventar constantemente”
nança corporativa, Doern trabalhou cos dias. “A segunda geração teve
por muitos anos como consultor de menos de um mês para assumir o
Mario Cezar de Aguiar, presidente da FIESC
empresas em dificuldades financei- negócio”, lembra Eduardo Maldaner,
ras. “Vi muitas organizações familia- que na ocasião chegou ao comando
res que chegaram a um ponto sem da empresa com apenas 23 anos. Ele pulso firme para a diretoria finan- empresa da família, mas que enten-
volta por falta de ações e decisões atuava na empresa havia três anos, ceira e considerou que ela seria o dam de gestão.”
que evitariam esse desfecho. Uma na área de compras. Eduardo é filho melhor nome, apesar de não ter
governança corporativa sólida certa- de Celso Maldaner, fundador da em- experiência na área – formada em Diploma | Especialistas em suces-
mente é a melhor solução para am- presa, que atuou nos anos iniciais do Comunicação, Caroline estava tra- são apontam que o Acordo de Famí-
pliar a visão dos gestores.” negócio e depois se dedicou à polí- balhando como editora-chefe de um lia é um documento essencial para
tica, como prefeito de Maravilha e jornal local. “Aceitei o desafio porque uma empresa familiar em processo
Recapagem | É nesse estágio de logo após deputado federal, seguin- pesou muito o lado familiar, a ideia de estruturação da governança cor-
conscientização sobre a importância do a trajetória política do irmão e só- de levar adiante o negócio fundado porativa. Trata-se da definição de
Caroline e de estruturar a governança corpora- cio Casildo Maldaner, ex-governador pelo nosso pai para fazê-lo chegar à regras sobre a relação dos familiares
Eduardo
Maldaner:
tiva que se encontra a FM Pneus, em- de Santa Catarina. próxima geração”, conta. com o negócio.
formalização presa especializada em recapagem Em 2014, Eduardo foi buscar o Os resultados dos 15 anos da ges- O acordo pode definir, por exem-
da governança
corporativa
de pneus e venda de pneus novos, apoio da irmã três anos mais nova, tão de Eduardo comprovam o quanto plo, quantos membros de cada ramo
sediada em Maravilha. Em 2007, a su- Caroline. Precisava de alguém com a empresa tem sido bem-sucedida: são permitidos na companhia – consi-
saltou de duas para oito unidades derando-se o fato de que, com o cres-
industriais e de 200 para 550 cola- cimento geométrico do número de
boradores, com crescimento anual familiares a cada geração, certamen-
médio de 20% no faturamento. Ago- te não haverá lugar para todos. Outra
ra, a dupla de irmãos está voltada à cláusula que tem se tornado comum
formalização da governança corpora- é estabelecer pré-requisitos para fu-
tiva, ainda que ambos sejam jovens e turos candidatos a CEO, a exemplo de
tenham a perspectiva de continuar na diploma numa universidade conside-
empresa por muitos anos. rada de primeiro nível, domínio pleno
“Não temos um Conselho for- do inglês e ter passado pelo menos
mal. Há muita confiança na família três anos em um cargo de gestão em
e as trocas ocorrem informalmen- outra empresa antes de pleitear o co-
te, por e-mail, whatsapp, chamadas mando da empresa familiar.
de vídeo. Por um lado isso é bom, Um dos principais objetivos do
pois nos dá autonomia, mas sabe- Acordo de Família é prevenir que a
mos que não podemos continuar falta de regras claras provoque cri-
assim”, avalia Eduardo. “Pensando ses no relacionamento familiar, com
nos nossos filhos, minha preocupa- consequências também na empresa.
ção é prepará-los para que sejam O mesmo propósito de evitar futuros
bons acionistas e conselheiros. Meu conflitos envolve a criação de uma
DIVULGAÇÃO

desejo é de que sejam felizes, não holding familiar para gerir os bens
necessariamente trabalhando na compartilhados. “A pior situação para

42 SANTA CATARINA > NOVEMBRO > 2022 INDÚSTRIA & COMPETITIVIDADE 43


GESTÃO

DIVULGAÇÃO
C

uma empresa familiar é ter que pas- do irmão Antídio e passou a ajudar
M
Sucessão entre sar por inventário, processo que nor- na então pequena empresa. Fazia
irmãos na Lunelli: Y

Viviane sucederá malmente se prolonga por muitos de tudo como auxiliar de escritório
Dênis (esq.), que anos”, diz o advogado Murilo Gouvêa – emitia notas fiscais, datilografava
CM

sucedeu Antídio
dos Reis, um dos professores da for- documentos, pesava rolos de malha. MY

mação da FIESC. Hoje, a Lunelli tem 4.900 funcioná- CY

rios, em 14 unidades industriais. CMY

Inverso | Nem sempre a sucessão “Muita gente acha que nas em- K

ocorre entre gerações – pode ser, presas familiares os herdeiros são


também, entre irmãos. É o caso do protegidos. No nosso caso, posso
grupo de moda Lunelli, sediado em garantir que foi o inverso. Sempre
Guaramirim. No ano que vem, con- tivemos que ser exemplo e dar con-
forme decisão tomada há dois anos, ta das novas responsabilidades que
Viviane Lunelli receberá do irmão recebíamos”, enfatiza Viviane, que
Dênis o comando da empresa. Dênis, se formou em Contabilidade, espe-
por sua vez, havia sucedido o irmão cializou-se em Gestão Estratégica de
mais velho de ambos, Antídio Lunelli, Custos, Gestão de Negócios e fez a
fundador da empresa no início da formação de conselheiros do Insti-
década de 1980, ao lado da então es- tuto Brasileiro de Governança Cor-
posa Beatriz. porativa (IBGC). Atualmente cursa o
Viviane, 48 anos, trabalha na em- MBR da Academia de Negócios da
presa desde os 14, quando se mu- FIESC voltada a executivos do setor
dou de Corupá, cidade de origem da têxtil. Viviane pontua que a Lunelli
família Lunelli, para Jaraguá do Sul, investe na formação dos colabora-
com o objetivo de cursar o ensino dores e de toda a liderança da em-
secundário. Ela foi morar na casa presa, inclusive com Centro de Trei-

44 SANTA CATARINA > NOVEMBRO > 2022 INDÚSTRIA & COMPETITIVIDADE 45


tas. “A passagem de bastão foi acon-
tecendo gradualmente, sem uma
data definida. A formalização vai ser
necessária para os parceiros no mer-
cado internacional, mas aqui no Brasil
já sou visto como o gestor da empre-
sa”, descreve Jorge.
Patrice Gaidzinski enfatiza que a
sucessão não é um evento, e sim um
processo, com duração ideal entre
três e sete anos. Trata-se de uma fase
tão decisiva para o futuro da empresa

DIVULGAÇÃO
quanto é a passagem de bastão numa
corrida de revezamento. “Aquele pe-
ríodo em que os dois correm juntos
namento próprio. A resultante é que mento oportuno”, conta Jorge. A partir do momento em que fi- e o bastão passa de uma mão para
Jorge Rohden e todos os diretores são prata da casa, Ele começou a trabalhar na em- cou claro que seria o sucessor, Jorge a outra é o mais delicado da corrida,
unidade industrial:
passagem de com muitos anos de organização. presa aos 17 anos, logo que concluiu ganhou a responsabilidade de apre- pois pode pôr tudo a perder se não
bastão aconteceu o ensino secundário. Depois do início sentar nas reuniões seguintes suas for bem executado”, compara.
gradualmente
Cotas | O valor simbólico do lega- no almoxarifado, passou pela área ideias sobre como organizaria a ges-
do representado por uma empresa financeira. Em 2006 assumiu a dire- tão. Enquanto isso, o pai foi transfe- Hesitação | Na pesquisa da PwC,
familiar se torna proporcionalmente ção-geral da fábrica de vidros, onde rindo atribuições e passando menos 65% dos representantes da próxima
maior à medida que as gerações vão permaneceu por seis anos, até se tempo na empresa – inclusive deixou geração das empresas familiares
passando. Essa responsabilidade foi transferir para a diretoria comercial. de ir ao escritório às segundas e sex- brasileiras afirmaram que a hesita-
sentida por Jorge Rohden, 38 anos, Ao longo desse período fez a gradu-
ao dar sequência ao trabalho iniciado ação em Administração e cursos no
pelo avô Samuel. A pequena fábrica
de móveis e utensílios de madeira
IBGC, na Fundação Dom Cabral e na
Fundação Getulio Vargas, entre ou-
Foco no crescimento Prioridades para
a nova geração de
BRASIL

fundada em Salete na década de 1930 tras instituições. gestores familiares GLOBAL


transformou-se na Rohden, uma das No início do ano passado, Lino
56
47
principais fabricantes brasileiras de afirmou na reunião dos acionistas
42 44 41 39
portas de madeira e de vidros, com – ele e os filhos – que tudo se enca-
35 39 35 34 32 31
1.800 funcionários e forte presença minhava para que Jorge viesse a as-
no mercado internacional.
O negócio cresceu nas mãos de
sumir como CEO. Com isso, na divisão
das cotas, Jorge recebeu uma parte
20 24
um dos 12 filhos de Samuel, Lino, que ligeiramente superior àquela destina-
agora passa o bastão para Jorge, se- da a cada um dos três irmãos, como
gundo de seus quatro filhos. “Sempre eventual critério de desempate. As-
senti afinidade com a ideia de suce- sim, em caso de opiniões divergentes, Expansão Oferta de Adoção Melhoria Investimento Redução Aumento
para novos produtos de das em do impacto do foco em
der meu pai, mas nunca considerei ele precisará conquistar o apoio de setores ou ou serviços novas habilidades inovação ambiental da responsabilidade
que seria algo dado. Por isso, fui me apenas um deles. Se os três irmãos ti- mercados adequados tecnologias digitais e P&D organização social e
preparando para estar pronto e me verem opinião contrária, no entanto, sustentabilidade
Fonte: Pesquisa Global de Empresas Familiares 2021 e Pesquisa Global NextGen 2022, PwC
tornar um possível candidato no mo- formam maioria.

46 SANTA CATARINA > NOVEMBRO > 2022 INDÚSTRIA & COMPETITIVIDADE 47


anunciou com grande antecedência
que deixaria a liderança executiva
do negócio ao completar 50 anos,
pois tinha o objetivo de se dedicar a
outras atividades.
Ele cumpriu a promessa no dia
exato do cinquentenário, 29 de ju-
lho de 2013. Para deixar bem cla-
ro o momento da transição, partiu
três dias depois para uma viagem
sabática que se prolongou por três
meses. Beto tornou-se terapeuta
de executivos, e quase uma década
depois exerce a função de presiden-
te do Conselho de Administração,
DIVULGAÇÃO

DIVULGAÇÃO
com total afastamento do cotidiano
executivo – exatamente como deve
ser, dizem os especialistas. “Meu pai
ção da geração atual em se aposen- Com experiência anterior como entendeu claramente a diferença dois meses, tornou-se um porto se-
Everton Goedert tar é um problema, contra 57% no empreendedor – foi sócio de uma entre as duas atividades”, considera guro para que Filipe discutisse e va- Filipe Colombo:
e instalações negócio familiar
da empresa: mundo. Essa dificuldade foi sentida agência de publicidade –, ele come- seu filho Filipe Colombo, o sucessor, lidasse as diretrizes estratégicas da falou mais alto
autoconhecimento na Goedert, indústria importadora çou a trabalhar na Goedert em 2008, hoje com 36 anos. empresa, que hoje tem 550 colabo- do que carreira
é fundamental internacional
de equipamentos de higiene, limpe- aos 27 anos. Formado em Adminis- No início, a ideia de Beto era pas- radores – 450 diretos e 100 repre-
za e proteção, sediada em Biguaçu. tração e com duas especializações sar o comando para um diretor ex- sentantes comerciais.
Há seis anos o bastão foi passado – em gestão de negócios internacio- periente que já atuava na empresa e Seguindo o exemplo do pai, ele já
do fundador, Vilmar Goedert, para o nais e gerenciamento de projetos –, não pertencia à família, mas o profis- pensa com grande antecedência na
sobrinho Everton, hoje com 41 anos. Everton recebeu a missão inicial de sional em questão acabou deixando sucessão – mesmo porque também
“Os dois primeiros anos foram muito cuidar da internacionalização do ne- a Anjo ao longo do processo, abrindo quer se dedicar a outras atividades,
desafiadores, pois meu tio não tirou gócio. Aos poucos foi assumindo atri- espaço para o primogênito do funda- especialmente a de conselheiro,
completamente o chapéu de executi- buições que antes ficavam a cargo do dor. Filipe começou na Anjo aos 17 que já exerce em algumas outras
vo”, conta o sucessor. tio. Em paralelo, iniciou-se o processo anos e passou por todos os setores empresas. Seu irmão quatro anos
A situação gerou conflitos mas, de estruturação do Conselho de Fa- – inclusive a cadeira de gestão de mais jovem, Rodrigo, é o diretor de
com o tempo, Vilmar assumiu seu mília, seguido pela estruturação da pessoas. Durante quase dois anos Operações, e tem deixado claro que
novo papel como presidente do governança, com três conselheiros in- fez mestrado internacional em Admi- não pretende assumir como CEO.
Conselho e agora a visão de ambos dependentes e as duas filhas do fun- nistração, com módulos nos Estados E seu filho mais velho tem apenas
costuma estar alinhada. “Se eu tives- dador como conselheiras ouvintes, Unidos, China e Emirados Árabes. nove anos. “Olhando esse cenário
se que dar uma única dica para em- além de quatro líderes da empresa e Ao final do curso recebeu uma imagino que o meu sucessor muito
presas familiares em fase de suces- do fundador como presidente. proposta para trabalhar em Nova provavelmente não será da famí-
são seria a seguinte: façam terapia, York, mas o apelo do negócio fami- lia”, projeta. “Mas tudo bem, porque
tanto o sucessor quanto o sucedido, Promessa | O apego do fundador liar falou mais alto. Nesse cenário, esse se torna quase um detalhe se-
porque autoconhecimento é muito não foi problema na transição da o Conselho de Administração, com- cundário quando há uma estrutura
importante nesse processo”, afirma Anjo Tintas, sediada em Criciúma. posto por dois integrantes internos sólida de governança corporativa”,
Everton Goedert. Aliás, ao contrário: Beto Colombo e três externos, com reuniões a cada conclui o executivo.

48 SANTA CATARINA > NOVEMBRO > 2022 INDÚSTRIA & COMPETITIVIDADE 49


GESTÃO

Estudos

FILIPE SCOTTI
ALTA
de
PERFORMANCE
Academia FIESC de Negócios é a vertical de educação
executiva idealizada para apoiar a reinvenção e a
transformação da indústria catarinense

C
omo preparar os talentos executivos e empresários almejam final de novembro haverá um último digital, finanças e formação interna-
para um futuro dos negó- ajudar no desenvolvimento e na pere- encontro para o encerramento da pri- cional de executivos. O MBR Priori
cios que é cada vez mais nidade das empresas de Santa Cata- meira turma do programa. – Moda, por exemplo, é uma pós-
incerto? Este é o grande de- rina, especialmente as indústrias”, diz As parcerias com escolas interna- -graduação oferecida a um conjunto
safio do ensino executivo Fabrizio Machado Pereira, diretor de cionais são outra marca da Academia, de indústrias em Santa Catarina que
sintetizado por Daniel Traça, reitor da Educação e Tecnologia da FIESC. que assim pode conectar globalmen- buscam conhecimento para aumen-
Nova School of Business and Econo- Um dos destaques da Academia é te os alunos às principais tendências tar a agregação de valor aos negó-
mics, de Lisboa, parceira internacional o programa de desenvolvimento exe- internacionais de gestão. A Nova, de cios. Este programa, assim como
da Academia FIESC de Negócios. “A cutivo (EDP na sigla em inglês) para Portugal, dirige seu foco para quatro
dinâmica do futuro será diferente da- a família empresária, que congrega aspectos centrais dos negócios con-
quela que nos trouxe até aqui. Talento sucessores e sucedidos de diversas temporâneos: a formação para um
e educação são o motor do crescimen- companhias catarinenses e incorpora mundo global, digital, sustentável e “Os programas
to, mas as disrupções exigem novas metodologias avançadas para a ob- com mudanças disruptivas. Outra voltados à qualificação
abordagens, e a gestão de talentos tenção de resultados “fora da caixa”. parceira é a escola americana Igesia de executivos
precisa acompanhar as grandes ten- Uma delas é a hands on, que pode Academy, associada à Global Business e empresários
dências mundiais”, afirma. ser traduzida como “mão na massa” School Network, uma rede global que almejam ajudar no
Sua fala, dirigida aos membros do ou “aprender fazendo”, que valoriza se propõe a melhorar a educação de desenvolvimento e
conselho consultivo da Academia em a construção de soluções práticas e o gestão e empreendedorismo em paí- na perenidade das
setembro, diz muito sobre os objeti- compartilhamento de experiências en- ses em desenvolvimento. Em outubro empresas de Santa
vos e estratégias da nova plataforma tre os participantes. Outra característi- foi lançado programa em parceria Catarina”
educacional da FIESC, que recente- ca é aplicação do empreendedorismo com a escola, com o tema Inovação, Fabrizio Machado
mente se estruturou em torno de um em rede, que estimula a formação de Cadeia de Suprimentos e Indústria. Pereira
moderno espaço físico no prédio-sede alianças entre os participantes. Os en- A Academia FIESC de Negócios diretor de Educação e
da Federação, em Florianópolis. “Os contros em Florianópolis aconteceram atua em diversas frentes da forma- Tecnologia da FIESC
programas voltados à qualificação de em agosto, setembro e outubro, e no ção executiva, como transformação

50 SANTA CATARINA > NOVEMBRO > 2022 INDÚSTRIA & COMPETITIVIDADE 51


que vai apoiar essa agenda”, diz
Fabrizio Pereira.
A Academia também pode
atender a demandas específicas
de empresas, com soluções in

ROBY GARTZ
company. Para a JBS, por exem-
plo, capacitou cerca de 100 lí-
deres supervisores em temas
como visão sistêmica, engaja-
mento e propósito. Já na Com-
panhia Catarinense de Águas e
Saneamento (Casan) quase 300

Deixe
executivos estão sendo capaci-
tados em programa de desen-
volvimento de lideranças em
encontros em Criciúma, Cha-
pecó, Rio do Sul e Florianópolis,
além de formações on-line.

a gripe
FILIPE SCOTTI

longe dos seus


Finanças | O conjunto de
ações da Academia contempla
outros que atendem os setores do ainda a realização dos fóruns “Radar”,
Encontro do MBR vestuário e têxtil, foram formulados que abordam temas ainda novos
Priori - Moda e

trabalhadores
Radar Finanças: a partir de um processo de escuta mas já entendidos como essenciais
conhecimento das principais demandas setoriais ao sucesso dos negócios em tempos
estratégico
realizada anteriormente, com o ob- de grandes transformações. Um dos
jetivo de planejar as ações da Acade- fóruns foi centrado em ESG, sigla que
mia em consonância com as necessi- contempla valores cada vez mais exi-
dades reais da indústria. gidos nos negócios: respeito ao meio
A Academia promoveu recente- ambiente, responsabilidade social e
mente um encontro com lideranças governança corporativa.
da indústria metalmecânica para O Radar Finanças, realizado em
detectar necessidades, formular setembro, tratou de temas altamente
programas específicos e até mesmo relevantes para a inserção da indús-
promover alianças estratégicas en- tria tradicional na nova economia. Um
tre empresas e organizações. Nesse dos painéis, por exemplo, discutiu a
contexto, a Academia se associa à
ação mais ampla da FIESC de apoiar
fundo os desafios e as maneiras de se
atribuir valor a empresas (valuation),
Seja uma empresa
a transformação da indústria cata-
rinense diante de novos desafios e
especialmente startups, que são alvo
de aquisições por parte de indústrias
campeã na vacinação
oportunidades, organizada no âm- tradicionais que desejam entrar em
bito do programa Reinventa-SC. “A novos nichos de mercado ou melho-
Academia é a vertical de educação rar seus processos industriais.

52 SANTA CATARINA > NOVEMBRO > 2022


vacinasesi.com.br INDÚSTRIA & COMPETITIVIDADE 53
PERFIL

O modernizador
Logo ocorreria, no entanto, uma da- prefeitura de Modelo parou em frente
quelas aplicações perfeitas para a frase ao sítio dos Bortolin com a missão de
“há males que vêm para o bem”. A mãe levá-lo para São Miguel do Oeste, junto

de fábricas
do rapaz, dona Vilma, ouviu no rádio com a respectiva mudança – cama, rou-
que o SENAI estava convocando os jo- peiro, fogão, uma geladeira velha e al-
vens da cidade para participar de uma gum estoque de comida, especialmente
reunião. Sem saber direito do que se feijão e arroz.
tratava, Claudimar pegou sua bicicleta e As aulas começaram já no dia se-
Curso de Tornearia no SENAI foi ao local no horário anunciado. guinte, com duração prevista de um
foi o ponto de partida para que Ao chegar lá descobriu que a unida- ano e meio. Não era um curso fácil,
de do SENAI em São Miguel do Oeste, a tanto que os outros cinco rapazes de
Claudimar Bortolin fundasse a
70 quilômetros, estava com seis vagas Modelo acabaram desistindo ao longo
Torfresma Industrial, fabricante em seus cursos reservadas para jovens do caminho e voltaram à cidade natal.
de máquinas e equipamentos de Modelo, por conta de um convênio Claudimar seguiu firme, mesmo conci-
que também atua em com a prefeitura – duas em Eletricidade, liando o curso com as aulas do ensino
automação e robótica duas em Marcenaria e duas em Torne- secundário e com uma série de traba-
aria. Aquele encontro já era, na realida- lhos que começou a fazer nos finais de
Por Maurício Oliveira
de, o teste de seleção. semana para conseguir algum dinheiro,
“Decidi disputar uma das vagas em como carpir terrenos e cortar grama.

E
Tornearia pensando no futuro campo Para almoçar, ele fez um acordo com
m 1992, aos 18 anos, Claudimar Bor-
de trabalho”, descreve Claudimar. Ele um restaurante: trabalharia como gar-
tolin enfrentou uma grande decepção:
lembrou que o pai, Lídio, tinha que ir às çom entre 12h e 13h em troca de um
não foi chamado para servir no Exérci-
cidades vizinhas sempre que precisava prato de comida.
to, por excesso de contingente. Fazer
de um simples parafuso ou de alguma

DIVULGAÇÃO
carreira militar era o caminho que ele, caçula
entre cinco irmãos, havia vislum- outra peça, pois não encontrava quem Presente | A habilidade que conquis-
pudesse fazer isso em Modelo. tou para servir espeto corrido abriu
brado para deixar o trabalho
na roça, rotina que cum- No momento da prova Claudimar novas possibilidades de “bicos” aos fi-
pria desde pequeno ao estava em suposta desvantagem, pois nais de semana, em festas e eventos.
lado da família na Linha havia estudado até o 8º ano e enfren- Foi num casamento em que trabalhou
Novo Horizonte, loca- taria concorrentes com o ensino secun- como garçom que conheceu Janete,
lidade a 15 quilôme- dário completo. Como a escola da Linha convidada do noivo. Eles logo começa-
tros do centro da Novo Horizonte chegava apenas ao 4º ram a namorar.
pequena cidade ano e não havia opções de transporte Quando concluiu o curso no SENAI,
de Modelo, Oes- até a região central de Modelo, ele per- Claudimar ganhou um presente dos
te ca­tarinense. maneceu dos dez aos 15 anos longe dos pais – um Escort Hobby azul, usado.
estudos. Quando finalmente pôde cur- Dois dias depois, o rapaz trocou o carro
sar o 5º ano, era bem mais velho que a por um torno mecânico, ponto de parti-
maioria dos colegas. da para o projeto de abrir um negócio
Mesmo com os anos de estudo a ali mesmo em São Miguel do Oeste, pois
menos, Claudimar foi aprovado no tes- a cidade era bem maior que Modelo.
te, tornando-se um dos seis seleciona- Como incentivo ao jovem tão esfor-
dos entre os 53 candidatos – número çado, dois professores de Claudimar en-
que ele guarda até hoje na memória, traram como sócios, cada um deles com
como um troféu. No dia 18 de fevereiro 25%. Assim nasceu, em julho de 1993, a
de 1992, terça-feira, uma caçamba da Torfresma, nome composto pelas letras

54 SANTA CATARINA > NOVEMBRO > 2022 INDÚSTRIA & COMPETITIVIDADE 55


PERFIL

FOTOS: DIVULGAÇÃO
Crescendo 17% ao ano em média nos últimos
cinco anos, a Torfresma já projetou e instalou
mais de mil linhas industriais, atendendo
mais de 250 grandes indústrias

iniciais das três atividades às quais a Nos sete anos entre a fundação do hospital em que trabalhava para ma passou a pensar
Celebração em empresa se dedicaria: tornearia, fre- da empresa e a consolidação da par- integrar o time da Torfresma, que estrategicamente
família: Claudimar
e Janete vivem e sagem e manutenção. ceria com as agroindústrias da região àquela altura já somava dez funcio- no mercado global.
trabalham juntos Em 1999, quando Claudimar já Oeste catarinense, Claudimar respi- nários. Hoje, é a diretora financeira. Avanços importan-
há 22 anos
havia comprado a parte dos sócios e rou a Torfresma 24 horas por dia. E “Somos um raro casal que não ape- tes nessa direção
se tornado proprietário de 100% da não se trata de força de expressão: nas vive junto, mas trabalha junto há têm sido dados nos últimos anos,
empresa, uma encomenda da Aurora seu escritório era também seu quar- 22 anos. Janete é o grande pilar da como a fundação da Torfresma USA,
abriu um novo horizonte para o ne- to. Durante todo esse tempo, ele con- minha vida e da nossa família”, reco- em 2020, sediada no estado de Dela-
gócio. Tratava-se do desenvolvimento tinuou fazendo bicos como garçom e nhece Claudimar. Em 2002 nasceu a ware, e a abertura de um escritório no
de uma cadeira ergonômica para os trocando o almoço pelo trabalho do primeira filha do casal, Shayanne, e Chile, que em breve se transformará
trabalhadores da linha de desossa meio-dia às 13h, naquele mesmo res- em 2007 a caçula, Thávynni. também em unidade industrial.
suína. O projeto foi bem-sucedido e taurante dos tempos de estudante. Quanto mais frequentava os clien-
inspirou a oferta de produtos seme- tes, mais Claudimar percebia oportu-
lhantes para outras agroindústrias, Escala | Alguns acontecimentos nidades para construir ou aprimorar 50 anos, Claudimar
Prestes a completar
sempre com a possibilidade de adap- na virada do milênio mudaram essa equipamentos. A escala das encomen- ses um presente
recebeu há poucos me
tações às necessidades de cada clien- rotina. Além do crescimento dos das foi aumentando. Em 2008, a em- I: o torno em que
inesquecível do SENA
te. “Nesse período a gente consolidou negócios, os pais de Claudimar fo- presa participou da construção de um jetória – equipa-
ele começou sua tra
a vocação de desenvolver soluções ram morar em São Miguel do Oes- grande frigorífico da Sadia em Lucas s anos de serviços
mento que, após muito
customizadas para a indústria”, conta te e ele se casou com Janete, em do Rio Verde (MT). No ano seguinte, ndo de ser utiliza-
prestados, estava deixa
o empreendedor. 2000. Ela deixou de ser secretária passou a atuar na linha de maquiná- de ensino. Devida-
do como ferramenta
rios para a produção de hambúrgue- domo de acrílico,
mente protegido por um
res. Em 2010, também em resposta ao mais valiosas dos
a exemplo das peças
desafio apresentado por um cliente, locado bem na en-
museus, o torno foi co
a empresa desenvolveu seu primeiro rfresma, como inspi-
trada da fábrica da To
robô, dedicado à tarefa de paletização. ra toda a equipe.
ração permanente pa
Fundação Sede Colaboradores Presença global A partir da primeira contratação de
1993 São Miguel 437 12 países uma consultoria, em 2011, a Torfres-
do Oeste

56 SANTA CATARINA > NOVEMBRO > 2022 INDÚSTRIA & COMPETITIVIDADE 57


INOVAÇÃO

CORREÇÃO DE ROTA versos sensores, que des”, afirma João Vitor

PARA CHEGAR
podem ser instalados Librelato, coordenador
em diferentes pon- de Estratégia e Novos
tos ou equipamentos Negócios da empre-

MAIS RÁPIDO
de implementos, e se sa. “É comum que as
acoplam a um módulo transportadoras sai-
que concentra todos bam pouco sobre o de-
os dados e os trans- 10 mil sempenho dos imple-
mite para uma plata- Implementos mentos, embora eles
A Librelato começou projeto de P&D internamente, mas o forma de software em rodoviários fabricados concentrem o valor
sistema de telemetria para implementos rodoviários ganhou uma nuvem. por ano pela Librelato da carga, e não dispo-
tração após a criação de uma spin-off que se desenvolve dentro Lá, as informações nham de informações
do Instituto SENAI de Inovação em Sistemas Embarcados são processadas e os nem mesmo sobre os
resultados podem ser analisados por quilômetros que eles rodaram – em
Por Fabrício Marques meio de um aplicativo de celular. Dessa geral, o que se monitora é a quilome-
forma, os gestores de frotas poderão tragem do caminhão”, completa.

U
saber com precisão parâmetros como Com cerca de 1.600 funcionários e
ma parceria entre a Li- sistema de telemetria que vai for- o peso da carga que está sendo trans- unidades fabris em Içara e Criciúma, a
brelato, um dos princi- necer a motoristas de caminhão e portada, a temperatura e a pressão dos Librelato fabrica 10 mil implementos
pais fabricantes de im- gestores de frotas dados essenciais pneus, o uso do freio, o funcionamento rodoviários por ano e detém 14% do
plementos rodoviários para controlar desempenho e cus- do sistema hidráulico de basculantes mercado. É o segundo maior exporta-
do País, e o Instituto SE- tos de seus basculantes, cegonhas, – qualquer função do implemento ro- dor brasileiro destes produtos. Em anos
NAI de Inovação (ISI) em Sistemas tanques ou graneleiros. doviário que puder ser monitorada por recentes tem investido em sua transfor-
Embarcados, em Florianópolis, re- A solução tecnológica batizada sensores é elegível para ser incorpora- mação digital, com a aquisição de uma
sultou no desenvolvimento de um de FleetSense é composta por di- da ao serviço. nova central de dados e implantação de
A intenção não é comercializar o conceitos da Indústria 4.0 – um exemplo
hardware e os sensores, que seriam foi a aquisição da maior célula de solda
instalados sem custo para o cliente, robotizada da América Latina para a fá-
mas sim vender a donos e motoristas brica de Criciúma, capaz de soldar uma
de caminhões assinaturas de serviços, estrutura completa em 30 minutos.
que podem conter diferentes pacotes
de informação coletados nos imple- Cogitações | O projeto do FleetSen-
mentos. Testes da nova tecnologia es- se teve início em março de 2021, com fi-
tão sendo feitos com ao menos cinco nanciamento do programa federal Rota
clientes da Librelato, mas a solução 2030, voltado para o desenvolvimento
também poderá ser aplicada em imple- tecnológico da cadeia automotiva, e
mentos de outros fabricantes. apoio da Empresa Brasileira de Pes-
“Nosso objetivo é ajudar a desen- quisa e Inovação Industrial (Embrapii).
volver a cadeia logística como um Antes de recorrer ao ISI para desenvol-
todo. Queremos entender quais são as ver internamente um novo produto, a
dores dos clientes na ponta das ope- Librelato chegou a cogitar uma colabo-
SHUTTERSTOCK

rações de transporte e ajudar a dar ração com uma empresa da área de co-
respostas rápidas às suas necessida- nectividade, mas a ideia foi descartada

58 SANTA CATARINA > NOVEMBRO > 2022 INDÚSTRIA & COMPETITIVIDADE 59


INOVAÇÃO

porque experiências anteriores não tos, envolvendo cocriação e codesen- vimento foi transfe- “Trabalhamos item obrigatório.
haviam alcançado a sinergia e os re- volvimento, unindo as competências rido para a Sigaway, em modelo de Os equipamentos que
sultados esperados. Outra possibili- técnicas dos pesquisadores à experti- hoje com cinco fun- codesenvolvimento. tornam os implementos
dade seria comprar uma empresa de se do negócio do cliente. “Trazemos o cionários e sediada Temos nossos mais inteligentes e criam
base tecnológica, mas os custos e os cliente para dentro do projeto e faze- nas dependências pesquisadores e dados, que se somam
riscos foram considerados altos. mos o trabalho conjuntamente”, diz do ISI em Florianó- nossas competências aos dados captados pe-
A expertise dos pesquisadores Violada, que também ganhou assen- polis. A startup está técnicas, mas quem los sensores do FleetSen-
do Instituto foi fundamental para to no comitê de inovação da Librelato formando ela própria tem a expertise do se. “O desenvolvimento
a criação da plataforma. “Fomos para ajudar a orientar novas estraté- alguns de seus qua- negócio é o cliente” da plataforma será aper-
responsáveis, por exemplo, pelo gias, principalmente as relacionadas dros graças ao apoio feiçoado continuamente
desenvolvimento de sensores e de à Indústria 4.0. dos desenvolvedores
Paulo Violada ao trabalhar, por meio
pesquisador-chefe do
hardware. Vários projetos já usa- A trajetória até o desenvolvimento seniores do Institu- Instituto SENAI de Inovação de algoritmos e de inteli-
ram esse tipo de competência dos do FleetSense envolveu uma correção to, que se tornaram em Sistemas Embarcados gência artificial, o grande
nossos pesquisadores, mas foi a pri- de rota importante, diante da percep- mentores dos funcio- volume de dados obtidos
meira vez que isso envolveu a ela- ção de que não se alcançaria rapida- nários que ingressaram na Sigaway. em tempo real nas estradas brasilei-
boração de um dispositivo aplicado mente um produto comercialmente A Librelato enxergou essa opor- ras”, diz Paulo Violada.
à mobilidade”, conta Paulo Violada, viável. Em novembro do ano passado, tunidade de negócios ao observar O uso desses recursos acompa-
Sprícigo: pesquisador-chefe do ISI em Siste- sete meses após o início do projeto, uma mudança de perfil nos produ- nha uma evolução no perfil tanto
startups
precisam ser mas Embarcados. a Librelato decidiu criar uma startup, tos que fabrica. Os sistemas eletrô- das empresas de logística quanto
ágeis para dar O trabalho segue o modelo de a Sigaway, dedicada integralmente nicos embarcados há tempos estão dos motoristas de caminhão. “O mo-
resultados
colaboração que é padrão nos Institu- ao aperfeiçoamento do sistema e presentes nos caminhões, mas não torista está se tornando um gerente
à sua comercialização, para que os nos implementos. Recentemente, de produto. Ele cuida de um ativo
responsáveis pelo projeto tivessem tanques, bas­ cu­lantes e graneleiros que custa mais de R$ 1,5 milhão, fora
DIVULGAÇÃO

Uso de recursos
mais autonomia e menos burocracia. passaram a ter recursos eletrônicos o valor da carga, e precisa cada vez em implementos
“Tiramos da empresa para ganhar como itens opcionais, a exemplo de mais ter parâmetros que ajudem a ajuda a prevenir
problemas e
agilidade, porque quando as empre- freios eletrônicos que evitam o tom- prevenir problemas e reduzir custos”, reduzir custos
sas se tornam muito grandes acabam bamento. E a tendência é que outros afirma Willians Zanoli.
incorporando muitos processos. Já a itens sejam incorporados. A partir
startup é ágil, suas decisões precisam de 2025 todo implemento rodoviá-
ser rápidas”, diz José Carlos Sprícigo, rio deverá ter freio eletrônico como
CEO da Librelato.
A Sigaway tornou-se, assim, uma DIVULGAÇÃO

spin-off da Librelato, derivada da


empresa-mãe para explorar uma
nova tecnologia e um novo mer-
cado. “O core da Librelato é a área
de mecânica, e o projeto, da área
de mecatrônica e de tecnologia de
informação, exigia competências
novas e específicas”, informa o en-
genheiro mecânico Willians Zanoli,
gerente de Produto da Sigaway.
O projeto de Pesquisa e Desenvol-

60 SANTA CATARINA > NOVEMBRO > 2022 INDÚSTRIA & COMPETITIVIDADE 61


NEGÓCIOS

O gasosão
que RESISTE
aoTEMPO

FOTOS: DIVULGAÇÃO
Pureza Refrigerantes, de Rancho Queimado, do de carbono, o insumo responsável em 1905 como fabricante de bebidas
mantém praticamente a mesma fórmula de pelas borbulhas do refrigerante, afe- alcoólicas – licores, bitter e também Fábrica antiga:
memória
seu guaraná há mais de 100 anos e conta tou a produção de praticamente todos cerveja. A partir de 1917 a pequena afetiva perpassa
gerações e
com consumidores fiéis – e exigentes – os fabricantes regionais. “Os clientes fábrica passou à era do “gasosão”,
relação com
sentiram menos gás no refrigerante e comercializando refrescos de limão e
na região da Grande Florianópolis produto é
pessoal
ligavam para a fábrica para reclamar”, framboesa, e em 1925 chegou à fór-
Por Marco Britto conta Sérgio Sell, diretor administrati- mula de uma cerveja doce, bebida

C
vo e representante da quinta geração não alcoólica feita com as sobras da
ontar com um patrimônio centená- da família de proprietários, que pro- matéria-prima da fabricação da “Tira-
rio é privilégio de poucas empresas cura responder pessoalmente a cada -Prosa”, pilsen que levava em seu ró-
brasileiras. Em Santa Catarina, um reclamação recebida. “Na região da tulo o Barão do Rio Branco, emblema
exemplo vívido deste tipo de tradi- Grande Florianópolis, a memória afe- da então Cervejaria Rio Branco, como
ção encontra-se em Rancho Quei- tiva passou para as novas gerações. A inicialmente se chamava a empresa.
mado, a 60 quilômetros de Florianópolis, relação do cliente com nosso produto Hoje os descendentes do funda-
onde a Bebidas Leonardo Sell fabrica a Pu- é pessoal”, afirma. dor preparam um retorno às raízes.
reza, um refrigerante de guaraná que segue Apesar de ter uma formulação Há cerca de dois anos vem sendo de-
ainda hoje a receita original dos anos 1920, para o guaraná praticamente into- senhado um projeto para retomar a
e se mantém como um dos favoritos do cável (a fábrica tem fornecedor com produção de cerveja. O desejo maior é
público no Estado. 80 anos de parceria), a Pureza vem produzir a pilsen Tira-Prosa, porém há
A trajetória de sucesso do produto se adaptando aos tempos adotando obstáculos. O nome “prosa” está regis-
desde os tempos de “gasosão” – o anti- novas embalagens, como a Purezinha trado por outro fabricante, e a figura
go nome para os refrigerantes – faz com de 200 ml, e ainda as versões de 1 li- do Barão do Rio Branco é protegida
que a Pureza tenha lugar na memória tro e em lata – este último um forma- por direito de imagem, detido pela fa-
afetiva dos consumidores, um ativo valio- to pedido nas redes sociais –, além da mília do célebre diplomata brasileiro.
so e que demanda cuidado constante. O versão light. Os refrigerantes também A empresa mantém negociações
apreço pelo sabor clássico do refrigerante são fabricados nos sabores laranja, li- com potenciais parceiros para pro-
implica uma expectativa que jamais deve mão, abacaxi e morango. duzir a cerveja, pois a atual planta da
ser frustrada, por isso mesmo qualquer Mesmo em sua região de origem Leonardo Sell, totalmente dedicada à
alteração na fórmula é considerada crítica. poucos sabem que a Pureza começou produção de 1 milhão de litros de Pu-
Um exemplo ocorreu neste ano, quan- rotulada como cerveja. O fundador, Al- reza por mês, opera no limite logístico.
do uma crise de abastecimento de dióxi- fredo Sell, iniciou o negócio da família A produção de refrigerante em lata,

62 SANTA CATARINA > NOVEMBRO > 2022 INDÚSTRIA & COMPETITIVIDADE 63


sumidores se veem diante de uma alta
média de preços de 13% nos bens de
consumo massivos como alimentos e
bebidas somente no primeiro trimes-
tre deste ano, de acordo com a consul-
toria Kantar.
Pelo lado das empresas, não está
fácil segurar os custos. Situações com-
Produtos
pioneiros:
binadas como a guerra na Ucrânia e as Sérgio Sell:
descendentes flutuações do dólar fizeram disparar cooperativa de

FOTOS: DIVULGAÇÃO
do fundador compras para
projetam retorno
os preços, por exemplo, do ácido cítri- baixar preços dos
às raízes co, que chegou a saltar de R$ 7 para insumos
R$ 48 em um intervalo de três meses.
“Montamos uma cooperativa entre fa-
por exemplo, ocorre no município de al fábrica apenas para cerveja e abrir bricantes do Brasil e compramos em fender os interesses das cerca de 100
Anta Gorda (RS), onde um parceiro en- um espaço para visitação, uma espé- conjunto para baixar o preço para R$ fabricantes regionais de refrigerantes
vasa o produto. A fabricação da água cie de museu da empresa, para contar 16,50”, conta Sell, que também é pre- existentes no País. Juntas elas produ-
natural gaseificada, outro produto da a história de empreendedorismo da sidente da seção estadual da Associa- zem 1 bilhão de litros por ano, ou 10%
companhia, é feita da mesma forma, família Sell. O projeto de expansão da ção dos Fabricantes de Refrigerantes do mercado nacional, mas respondem
com empresa parceira. estrutura considera também um cen- do Brasil (Afrebras). por quase metade dos empregos. Na
A estratégia é seguir desenvolven- tro de apoio logístico em Palhoça. A entidade
Faros - Revista Indústria foi -formada
& Competitividade para de-
edição de novembro.pdf Pureza,
1 21/10/2022 10:20:36 são 65 funcionários diretos.

do a linha de produtos
externamente – está Austeridade | Por enquanto, a em-
em estudo a produção presa se consolida no mercado local
de sucos e energéticos da Grande Florianópolis e ganha pre-
– até a instalação de sença no Sul do Estado, sendo ainda
uma nova fábrica em um desafio ocupar espaços onde o
Sede Rancho Queimado, um refrigerante não tem tanta popularida-
Rancho Queimado projeto com 10 mil me- de, como o Norte e o Oeste de Santa
Fundação tros quadrados e capa- Catarina. Mesmo diante das dificul-
1905 cidade de quintuplicar dades, o foco no mercado local vem
a produção de refrige- rendendo frutos. A Pureza registrou
Produção C

rante, além de alojar o R$ 40 milhões em faturamento no


1 milhão de litros/mês M

envasamento em latas ano passado e este ano a expectativa


Faturamento e a fabricação de água é aumentar em R$ 10 milhões o valor,
Y

R$ 50 milhões (2022) com gás. Contudo, a um crescimento de 25%. Ainda assim,


CM

MY

necessidade de inves- o ambiente é austero, sem espaço


CY

timento faz com que para grandes investimentos.


esse seja um objetivo “Estamos em um preço intermediá-
CMY

de longo prazo, com rio entre as outras marcas regionais e K

previsão de funciona- as grandes marcas. Isso é ruim, porque


mento dentro de dez em tempos de aperto financeiro o con-
anos. Os planos consi- sumidor recorre ao preço mais baixo”,
deram ainda usar a atu- explica o empresário. De fato, os con-

64 SANTA CATARINA > NOVEMBRO > 2022 INDÚSTRIA & COMPETITIVIDADE 65


o
ARTIGO

Protagonistas da nova
REVOLUÇÃO

DIVULGAÇÃO
Alex Marson

INDUSTRIAL
CEO e conselheiro da holding
Christal e colíder da Filial
Santa Catarina do Instituto
Capitalismo Consciente Brasil

A
forma como vivemos, trabalhamos e nos relacionamos vem sendo profundamente
impactada pela aceleração da transformação tecnológica e social. Uma nova pers-
pectiva para a indústria, que encara o rebalanceamento das cadeias globais, em uma
ordem geopolítica dinâmica que altera o panorama competitivo e exponencializa ris-
cos e oportunidades.
Santa Catarina chega a este momento com o mais alto nível de desenvolvimento industrial
do País, sobressaindo-se também em competitividade.
É notório, no entanto, o gap que dificulta nosso protagonismo na reindustrialização do oci-
dente. O Brasil figura entre os últimos lugares em rankings de competitividade, e a participação
da indústria no PIB nacional retornou a patamares inferiores aos dos anos 1950, quando inicia-
mos o ciclo de agregação de valor às nossas commodities.
O momento atual apresenta a maior janela de oportunidade para reverter esse quadro. Nos-
sa indústria pode encarar o dilema, construindo soluções sustentáveis, ou negá-lo, fechando-se
e enfrentando as consequências. A dura travessia da pandemia nos livrou de muitas crenças
limitantes. Do outro lado encontramos um ambiente complexo, um universo em transformação
acelerada com o qual coletivamente temos dificuldades em lidar.
“Nossa melhor Os protagonistas da 4ª Revolução Industrial serão os que percebe-
versão de futuro rem primeiro que ela não poderá ser fundamentada naquelas cren-
emerge de ças obsoletas, mas em valores que nos engajem por traduzirem o que
ecossistemas importa para a humanidade, hoje, e o que faz sentido para cada um
conectados em de nós, individualmente. O modus operandi das organizações precisa
colaboração para acompanhar a jornada da evolução humana, para que ela se mantenha
encontrar, nos relevante e próspera.
maiores problemas As indústrias protagonistas da Nova Economia caminham a passos
do mundo, largos na convergência de tecnologias digitais, físicas e biológicas. Ro-
as melhores bôs integrados em sistemas ciberfísicos, interconectados pela Internet
oportunidades” das Coisas, com recursos de inteligência artificial, big data e computa-
ção em nuvem, estão transformando as fábricas.
O fenômeno transcende o salto tecnológico. Um ciclo de desenvolvimento próspero e sus-
tentável demanda novas formas de geração de valor e de relações que considerem que a mais
alta tecnologia não substituirá a potência humana. Empresas não mudam, quem muda são
as pessoas. Os resultados extraordinários que podemos produzir, nesta era de transformação
exponencial, dependem da transformação interna dos líderes.
As empresas protagonistas se desenvolverão a partir de lideranças conscientes, com pen-
samento sistêmico, que percebam a necessidade de harmonizar interesses de partes interde-
pendentes em sistemas sociais colaborativos. Que desenvolvam organizações adaptáveis para
navegar nas incertezas e na volatilidade da nossa era, com times autônomos engajados por um
propósito compartilhado.
Nossa melhor versão de futuro emerge de ecossistemas conectados em colaboração para
encontrar, nos maiores problemas do mundo, as melhores oportunidades de negócios.

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68 SANTA CATARINA > NOVEMBRO > 2022

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