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Resumo:
O estudo centra-se na relação da resolução de problemas com conexões matemáticas, procurando
determinar quais as estratégias que são usadas pelos alunos na resolução de tarefas que envolvem
conexões matemáticas e de que forma estas contribuem para a compreensão de conceitos do
tópico de funções. A recolha de dados foi realizada no contexto da prática letiva supervisionada
do Mestrado em Ensino de Matemática, no ano letivo 2022/2023, numa escola da região de
Lisboa. A investigação assentou numa metodologia de natureza qualitativa e de caráter
interpretativo. A estratégia metodológica usada foi o estudo de caso e os instrumentos de recolha
de dados aos quais se recorreu foram a observação participante, a entrevista semiestruturada, o
diário de bordo e a recolha documental. Concluiu-se que o facto de os alunos
concretizarem/materializarem os objetos matemáticos facilita a deteção de erros na resolução de
problemas e contribui para a compreensão dos alunos de conceitos matemáticos associados ao
tópico de funções.
Palavras-chave: Conexões matemáticas, Resolução de problemas, Funções reais de variável real.
Abstract:
The present study focuses on the relation between problem solving and mathematical connexions,
with the aim of identifying which strategies students use when doing tasks with mathematical
connexions and understanding how mathematical connexions add to the students’ understanding
on the concepts of functions. The data collection was done in the context of the pedagogical
internship of the Master in Mathematics Education, in the 2022/2023 school year, in a school
located in Lisbon. The study was settled on a qualitative and interpretive research methodology.
The used methodological strategy consisted on a case study and the data collection techniques
that were used were the participant observation, the individual semi-structured interview, the
logbook and the documental collection. The study concluded that when students
concretize/materialize mathematical objects it becomes easier for them to find their mistakes
during problem solving and adds to the students’ understanding on mathematical concepts related
to the topic of functions.
Keywords: Mathematical connexions, Problem solving, Real-valued functions of a real variable.
Introdução
As conexões matemáticas são um conceito que tem vindo a ganhar uma progressiva
importância no ensino da Matemática. Canavarro (2017) confirma esta realidade,
apontando, por um lado, para a adoção de um termo específico que o designa e, por outro
lado, para o facto de as conexões terem adquirido um estatuto idêntico a pilares do ensino
da Matemática como a resolução de problemas e o raciocínio matemático. Estes
acontecimentos, segundo a autora, ajudaram a conferir às conexões matemáticas a
preponderância que estas têm presentemente no currículo da disciplina.
Para categorizar as conexões matemáticas, Ferreira (2012) organiza-as da seguinte forma:
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Contexto e metodologia
O trabalho de investigação decorreu no ano letivo de 2022/2023, no âmbito da dissertação
de mestrado, tendo sido levado a cabo um estudo de caso com cinco alunos de uma turma
do 10.º ano de escolaridade, acompanhada ao longo do estágio pedagógico do primeiro
autor deste artigo (Autor, 2023). O estudo foi desenvolvido em torno do tópico de
funções. Mais especificamente, foram abordados os subtópicos sobre a função quadrática,
as funções definidas por ramos e a função-módulo.
A investigação assentou numa metodologia de natureza qualitativa e de caráter
interpretativo (Bogdan & Biklen, 1994). A estratégia metodológica pela qual se optou foi
o estudo de caso (Yin, 2003) e os instrumentos de recolha de dados aos quais se recorreu
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O aluno é confrontado com os obstáculos que situações problemáticas da vida real podem
acarretar, uma vez que os dados a tratar são de uma quantidade muito superior à de
problemas ou exercícios normalmente presentes nos manuais escolares. Esta
característica leva o aluno a envolver-se mais profundamente no problema, tendo de
organizar os dados fornecidos de forma a poder compreender a situação exposta,
podendo, assim, dar resposta às questões colocadas (figura 2).
São apresentados dois esquemas ao aluno, um com a perspetiva de cima, que ilustra a
trajetória retilínea da bola em direção à baliza, passando pela barreira, e outro com a
perspetiva lateral, que expõe a trajetória vertical da bola. Estes esquemas, em articulação
com os quatro cenários admissíveis, fornecem ao aluno as ferramentas necessárias à
realização de um raciocínio, desde que a interpretação e o tratamento dos dados sejam
feitos corretamente.
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Atendendo ao nível de ensino dos participantes (10.º ano), a alínea a), que pede a altura
máxima atingida pela bola, pode ser resolvida recorrendo a duas estratégias. Como a
altura da bola é descrita por uma função quadrática, determinar a altura máxima equivale
a determinar a ordenada do vértice da parábola que a representa. Para tal é possível, ou
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recorrer às fórmulas das coordenadas do vértice de uma parábola (𝑥𝑉 = 45 − 2𝑎 , 𝑦𝑉 =
𝑓(𝑥𝑉 )), ou recorrer à técnica do completamento do quadrado, uma vez que colocando a
expressão quadrática na forma 𝑎(𝑥 − ℎ)2 + 𝑘, os valores de ℎ e de 𝑘 são, respetivamente,
a abcissa e a ordenada do vértice. Para a resolução da alínea b) é necessário averiguar o
valor lógico de duas desigualdades. Mediante o contexto do problema, é preciso avaliar
se a bola passa pela barreira – equivalente a saber se a altura da bola é superior à altura
do jogador mais alto da barreira (isto é, se 𝑓(9,15) > 1,93𝑚) – e avaliar se a bola entra
na baliza – equivalente a saber se a altura da bola é inferior à altura da baliza (isto é, se
𝑓(25) < 2,44𝑚). Se se verificarem as duas desigualdades, o livre resulta em golo. Por
último, a alínea c), que pede a distância da bola à linha da baliza, quando esta se encontra
à altura máxima, tem igualmente duas estratégias de resolução. Uma estratégia que
recorre apenas à expressão da função e que consiste na resolução da equação 𝑓(𝑥) = 2,56
e uma outra que recorre ao teorema de Pitágoras, tratando-se de uma abordagem
geométrica.
Apresentam-se agora algumas resoluções de três dos cinco casos que participaram no
estudo. Quanto à caracterização dos participantes, Mercúrio é uma aluna com um nível
de aproveitamento muito bom na disciplina de Matemática e realiza um estudo regular.
Revela não só destreza na componente mais mecanicista da disciplina, como também
aptidão para interpretar situações novas e fora do comum, nas quais faz um uso proficiente
dos conhecimentos adquiridos e procura obter uma compreensão mais profunda e
holística. Vénus é um aluno dedicado com um nível de aproveitamento bom na disciplina
de Matemática. A sua zona de conforto está circunscrita à memorização dos mecanismos
algébricos e das fórmulas. O aluno revela menos destreza e segurança no que toca à
transição dos objetos/conceitos matemáticos para o seu significado em diferentes
contextos reais. Saturno é um aluno dedicado que demonstra consistentemente formas de
pensamento que divergem do comum, fornecendo, muitas vezes, resoluções “fora da
caixa” e não expectáveis. Este aluno procura ir sempre mais longe na busca pela razão de
ser das coisas e não se contenta com um só método de resolução para um determinado
problema. Além disso, o seu nível de aproveitamento na disciplina de Matemática é muito
bom.
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Na terceira alínea, a aluna opta por recorrer à abordagem algébrica do problema (figura
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Após incorrer num erro de transcrição (a parcela 32𝑥 deveria ser 0.32𝑥), Mercúrio não
consegue chegar ao que se pretendia (figura 6).
A equação inicial, 𝑓(𝑥) = 2,56, decorre da relação entre 𝑓, que representa a altura da
bola quando a sua projeção se encontra a 𝑥 metros do local do remate, e 2,56, que é a
altura máxima que a bola atinge. No entanto, assim que se inicia a manipulação algébrica,
cessa a possibilidade de estabelecer relações entre as parcelas e/ou termos da equação.
Uma potencial desvantagem da abordagem algébrica reside na dificuldade em estabelecer
conexões com a situação problemática que se está a trabalhar. A abordagem geométrica
ao problema, para além de conduzir de forma mais natural à solução, auxilia ao manter
presente a situação descrita.
Em contexto de entrevista, Mercúrio partilha a sua visão relativamente ao tipo de tarefas
realizado e ao que estas podem acrescentar à aprendizagem matemática:
I: Olhando para o tipo de tarefas que realizámos, que benefícios ou
desvantagens achas que o uso das mesmas pode trazer, não só para a
aprendizagem, mas também para o aprofundamento da compreensão das
situações matemáticas apresentadas?
M: Como nós estamos habituados a fazer as tarefas de uma certa maneira,
quando fizemos estas, inicialmente foi um bocado um choque porque é
diferente do que estamos habituados a fazer e é difícil pensar nas situações
reais. Mas eu acho que, primeiro, torna as coisas mais divertidas e também
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Na resolução da segunda alínea do problema, contudo, o aluno não chega à resposta mais
completa que seria possível dar (figura 8).
Na resposta dada, pode ler-se: “Resulta em golo, caso a passagem da bola não seja
impedida pela barreira e/ou pelo jogador de 1,95m e caso não bata num dos postes.” Por
um lado, Vénus não se apercebe da possibilidade de dar resposta ao primeiro “caso”, isto
é, da possibilidade de confirmar se a bola passa pela barreira e/ou pelo jogador mais alto,
recorrendo ao valor lógico da desigualdade 𝑓(9,15) > 1,95. Por outro lado, também não
nota que o segundo “caso” não estava previsto nas quatro situações que o enunciado refere
que podem acontecer.
Um aspeto importante na resolução apresentada é o facto de o aluno não esboçar o
diagrama representativo da situação desta alínea. O não reconhecimento da possibilidade
de fornecer uma resposta mais completa ou, pelo menos, mais determinística, reforça a
importância e o potencial das representações múltiplas que Canavarro (2017) defende.
Esta observação é realçada na resolução da alínea seguinte.
Na alínea c), Vénus recorre a um raciocínio geométrico que conduz a uma compreensão
completa da situação. O aluno recorre a um diagrama que descreve a situação, levando-o
a compreender o enunciado, a realizar os raciocínios necessários e, por fim, a dar uma
resposta completa (figura 9).
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Na realidade, estas traduções complementam-se uma à outra, sendo que seria expetável
que o aluno apresentasse a afirmação em linguagem simbólica, traduzindo-a
posteriormente para linguagem corrente, envolvendo o contexto do problema. Em
primeiro lugar, partindo da desigualdade 2,09 > 1,95, concluiria que a altura da bola
quando esta passa pela barreira é superior ao jogador mais alto da barreira e, logo, que
esta passa por cima da barreira. E em segundo lugar, partindo da desigualdade 1,75 <
2,44, concluiria que a altura da bola é inferior à altura da barreira quando esta passa pela
linha da baliza.
Na resolução apresentada para a alínea c), Saturno interpreta que a distância pretendida é
a distância da zona de remate à projeção da bola relativa ao chão (figura 12).
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Considerações finais
Estratégias
Ao longo do estudo realizado, verificou-se o recurso a representações múltiplas de uma
mesma situação matemática no recurso a esboços ou diagramas auxiliares (Canavarro,
2017). Esta estratégia permite, numa primeira instância, uma compreensão mais profunda
da situação descrita no enunciado e, posteriormente, uma interpretação mais adequada às
questões colocadas. Tal decorre da vantagem de se poder visualizar o problema,
encarando o mesmo de perspetivas distintas (como o são a algébrica e a geométrica).
Como se pôde observar nas resoluções de Mercúrio na alínea b) (figura 4) e de Vénus na
alínea c) (figura 9), os diagramas auxiliares que os alunos representaram facilitaram a
construção do raciocínio. Essa facilitação deu-se tanto na associação dos valores com
aquilo que eles representam, como no reconhecimento da possibilidade de usar resultados
doutra área da matemática, como aconteceu com o teorema de Pitágoras.
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Face às dificuldades sentidas pelos alunos no tópico de funções, referidas por Ponte et al.
(2009), as conexões matemáticas com a realidade mostram-se como uma oportunidade
para tornar a simbologia mais compreensível, trazendo-a do abstrato para o concreto, uma
vez que esta surge frequentemente associada a um conceito real, como sendo o 𝑥 com
uma distância e o 𝑓(𝑥) com uma altura.
Para futuras investigações, sugerem-se duas questões orientadoras que poderão levar a
uma melhor compreensão do impacto que o uso de conexões matemáticas tem para o
ensino e a aprendizagem da Matemática:
i. Que a atitude deve adotar o professor na implementação de resolução de
problemas que envolvam conexões matemáticas, de modo a catalisar a
aprendizagem dos alunos?
ii. Que oportunidades oferecem as conexões matemáticas para desenvolver as
competências trabalhadas na resolução de problemas?
Referências
Autor (2023)
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