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Heresia de Simão Mago

Orlando Fedeli

(São Pedro e Simão Mago, do século 15 (tempura na madeira))


A heresia de Simão Mago foi a primeira heresia que surgiu. Vários
padres contam que logo nos Atos dos Apóstolos é contado que os primeiros
cristãos em Jerusalém tinham tudo em comum, ninguém tinha propriedade. O
que é mentira. O voto de pobreza é apenas para os monges. Nos Atos dos
Apóstolos é contado que havia um casal chamado Ananias e Safira, que
combinaram de dar tudo pros apóstolos. Ananias entregou o dinheiro para São
Pedro, que falou que o pecado dele não era segurar o dinheiro dele para ele,
mas de mentir, falando que deu tudo.

Nicolau era um diácono que dizia que Cristo mandou entregar tudo para
Deus. Ele dizia que em Jerusalém tudo era de todos (inclusive a mulher e filha),
e pregava a igualdade completa, ninguém manda. Também era contra a
castidade e a favor do amor livre. Outros eram os Ebionistas, e o judeu Ebion
defendiam pobreza geral de todos. O que teve Jerusalém foi um exagero
porque muita gente fez voto de pobreza. Houve uma porção de hereges que
eram a favor do amor livre, contra o casamento e a favor do aborto.

Havia outros pontos que poderia haver exagero, como o milagre. O


milagre tem dois exageros: um é falar que não existe milagre, e outros é falar
que tudo é milagre. O capítulo 8 dos Atos dos Apóstolos conta uma história
interessante.

A magia é um ato em que o efeito é maior que a causa, ou fazer um ato


que não pode obter esse efeito e obter esse efeito. Simão Mago fazia magia, e
ele dizia que era um grande personagem. Aderiram a ele pelo fato de os vir
assombrando havia bastante tempo com as artes mágicas. Ele vai enfrentar
São Pedro e dizer: “Me ensina como faz isso! Eu te pago! Me ensina que eu te
pago.”. Ele pedia para São Pedro ensiná-lo a fazer milagres, mas se pedia para
ensinar a fazer milagre então não era milagre. Daí São Pedro o amaldiçou e
surgiu o pecado de simonia, que é querer comprar com dinheiro o poder
sobrenatural. Ex: alguém compra os cardeais para ser eleito papa.

Depois São Pedro foi à Roma e Simão Mago foi também e fazia proezas
enormes. Dizem que ele fez o milagre de sair voando. Mas há pessoas que
voaram, como São José de Cupertino. Ele era exibido e ninguém vaidoso e
exibido é de Deus, então era o diabo que fazia Simão Mago voar.

Simão Mago se dizia o Messias, ele andava com uma prostituta Inanna
que tinha encontrado num prostíbulo da cidade de Tiro. Segundo o mago, era a
encarnação de Sophia e de Helena de Troia. Ele dizia que ela era a ovelha
perdido de Cristo e era o pensamento de Deus. E ele Simão era a grande
potência de Deus.
(representação de Inanna)

Há vários santos que falam da heresia de Simão Mago, como São


Justino, Santo Irineu, Santo Hipólito de Roma, Santo Epifânio, etc. Nos Atos
dos Apóstolos, Tomé.

Simão Mago dizia que havia a divindade, que era a Unicidade, o Um


absoluto, um pensamento pitagórico. Esse absoluto não tinha nenhuma
composição e do absoluto houve uma divisão de cima em baixo que produziu
duas coisas. Primeiro produziu o intelecto divino (nous) que era o pai, o
masculino, e depois a Epinoia, o pensamento de Deus, que era a mãe, o
feminino. Uma contrária da outra, ou seja, dialética. E era na doutrina dos
fariseus que se dizia que a divindade se dividia em dois espíritos, um
masculino e outro feminino.

É um absurdo pensar que Deus teria uma parte feminina, ou pudesse


ser referido no feminino como “Mãe nossa que estás no céu”. A mãe é ligada
ao filho por meio do cordão umbilical, e se Deus fosse mãe nós teríamos uma
ligação substancial com Deus e teríamos a mesma substância de Deus, então
seríamos deuses (Panteísmo). E isso faz admitir que Deus tem materialidade.

Simão Mago dizia que o pensamento de Deus pensando no intelecto


divino, o pensamento captava o intelecto. E então havia a fusão do masculino e
feminino em Deus. Então o pensamento de Deus se tornava Pai e Mãe junto,
ou seja, passava a ser Andrógino. E aí vem a noção de que a divindade é
sexual ou homossexual. Ele afirma a igualdade dos contrários (Dialética), a
igualdade de Pai e Mãe. Essa primeira heresia é uma heresia gnóstica,
cabalística, dialética e evolutiva. A divindade evoluiu do 1 pro 2, e o 2 se fundiu
com o 1 e passou a ser ao mesmo tempo 1 e 2. E na Evolução o pensamento
de Deus se transformou nos anjos, que se transformaram nas criaturas do
mundo. E o pensamento de Deus por Evolução foi se transformando no mundo,
o mundo é o próprio Deus evoluído. E tudo que possui o masculino e feminino
vai evoluindo dos minerais, vegetais, animais, homens, super-homem e retorna
a Deus.

Simão acreditava na Reencarnação e que o elemento Fogo é a raiz de


todas as coisas, nomeadamente a origem da Alma. Em suas viagens
na Judeia, o mago explicava que o conhecimento é a única chave para a
ascensão aos Céus. Descobrimos também que o sistema filosófico de Simão
parecia baseado numa cosmogonia sírio-fenícia e compreendia uma elaborada
aneglologia e astrologia.

Deus caiu no mundo, a divindade está presa na Terra. Simão Mago


contava uma história do Hino da Pérola. O hino conta a história de um rapaz,
"filho do rei dos reis", que é enviado ao Egito para recuperar uma pérola de
uma Serpente. Durante esta missão, ela é seduzida pelos antigos egípcios e
esquece a sua origem e sua família. Entretanto, uma carta enviada pelo rei dos
reis para ele lembrando-o de seu passado. Quando o garoto recebe a carta, ele
se lembra de sua missão, recupera a pérola e retorna. O fato de o garoto ser
implicitamente Tomé ao invés de Jesus é indicado por eventuais assertivas que
ele é o próximo na linhagem do seu irmão mais velho, este não sendo
mencionado no texto.

A pérola representa a semente divina dentro do homem e ele era um


estrangeiro no Egito, assim como para a gnose o homem é um estrangeiro no
mundo. Ele adotou as roupas dos egípcios, caiu na materialidade, passou a
viver como os pagãos, esqueceu sua origem divina. Para não ser dominado
pelo rei do Egito, o rei do mundo, ele precisava não cair no sono, não sonhar
com esse mundo, mas lembrar-se que ele vinha de Deus. Ele tinha que
despertar para renovar nele a divindade. Até que depois de um monte de coisa
ele consegue adormecer a serpente e recuperar a pérola. Ele é preso mas
consegue escapar, se libertado do mundo (Egito) e volta para a divindade.
("A morte de Simão Mago" na Crónica de Nuremberg ("Liber Chronicarum",
1493).)

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