Você está na página 1de 23

FATORES DETERMINANTES

DE ESCOLHA
PARA COMEÇAR...
• Fator determinante de escolha é qualquer elemento que componha as circunstâncias e o momento de cada
escolha de vida e profissional, contribuindo para configurar a relação entre a pessoa e o trabalho.
• Não existe escolha que não seja atravessada por fatores de diferentes ordens.
• Isso não quer dizer que as escolhas sejam predeterminadas ou enrijecidas.
• Por mais que não exista processo decisório livre de qualquer influência, também não existe um caminho
traçado previamente a ser seguido a risca, até porque as forças que atravessam a pessoa em processo de
escolha estão em constante disputa, além disso, existem também as formas de resistência.
• Na OP, investimos no processo de conscientização, a respeito desses fatores que atravessam o sujeito e suas
escolhas.
• São exemplos de fatores determinantes de escolha, os aspectos sociais, econômicos, culturais, políticos,
educacionais, familiares, religiosos, psicológicos, midiáticos.
• É possível fazer essa divisão para fins didáticos, mas estão todos inter-relacionados.
• Os fatores interferem nas escolhas das pessoas, mas também podem ser transformados por as pessoas.
• “...é impossível pensar o homem como algo separado do seu meio
social, não vê-lo como determinado historicamente e portanto
determinado ideologicamente. Por outro lado, ao vermos o homem
apenas como determinado estamos nos esquecendo de pensar que é o
próprio homem quem faz essa história, quem escreve a sua história e a
de seu grupo social. Portanto, ele também deve ser visto como um
elemento do processo de mudanças sociais que caracteriza o meio no
qual vive e se projeta”.

• SOARES, D. H. P. A escolha profissional: do jovem ao adulto. São Paulo:


Summus, 2002, p. 44-45).
‘RELAÇÕES DE PODER E PROFISSÃO’, DE SONIA MANSANO
(2003)

• As relações de poder são complexas e envolvem tanto a rede poder-saber quanto as


estratégias de resistência.
• Rede poder-saber:
• Um dos seus efeitos é a consolidação da noção de indivíduo que foi construída ao longo da
história.
• Enquanto essa noção foi sendo construída, sob o efeito de diversos dispositivos de poder, a
sua consolidação foi sendo favorecida.
• A noção de indivíduo é ligada a uma identidade, que por sua vez, passa a ser considerada
uma categoria de reconhecimento e inserção social.
• Simultaneamente, a identidade passa a ser um dispositivo de controle, definindo o que o
sujeito é, atribuindo-lhe uma unidade e conferindo continuidade à sua história individual.
• “A atividade profissional é uma das dimensões que ajuda a compor essa
unidade na medida em que o indivíduo se torna reconhecido a partir
daquilo que faz” p.50

• “...com a escolha profissional, é possível produzir um discurso de verdade


sobre o sujeito e supostamente garantir a sua produtividade por meio do
trabalho” p.50

• “...a atividade profissional acaba sofrendo uma naturalização, que serve


para estreitar a ligação entre indivíduo, trabalho e identidade” p.50
• A rede poder-saber atua pela positividade, e não apenas pela repressão, produzindo e
difundindo efeitos positivos, a nível do desejo e a nível do saber, sobre o cotidiano do
indivíduos.
• O próprio indivíduo passa a desejar a posse de uma identidade.
• Existem dispositivos de controle (fruto da articulação realizada pela rede poder-saber) que
atravessam diretamente a questão profissional.
• “...na sociedade de controle, não temos uma instituição específica incidindo
exclusivamente sobre a escolha da profissão”, mas sim “um entrecruzamento complexo da
rede poder-saber que monitora esse processo de decisão” (p. 51) – para isso a autora
chama de atravessamentos
• Cada atravessamento envolve uma complexidade de forças de diferentes tipos, que estão
em constante luta.
• O sujeito está o tempo todo atravessado e afetado por diversas forças.
• As escolhas emergem desse embate.
• A rede poder-saber coexiste e se confronta com as estratégias de resistência
ao poder
“É justamente pelas formas de resistência ao poder que se torna possível
encontrar espaços para fugir ao projeto que busca tornar a vida humana
controlável pelas instâncias que se apresentam como produtoras dos saberes e
dos discursos de verdade” (MANSANO, 2003, p. 61).
• É a resistência que torna possível a articulação de diferentes formas de
construção subjetiva, no lugar de apenas reproduzir os valores difundidos
pelas redes de poder.
• As formas de resistência provocam rupturas na aparente continuidade nos
projetos de vida profissionais.
• Normalmente essas rupturas são temidas e interpretadas “como momentos
de crise a serem superadas com o tempo”. p.63
APROXIMANDO DO TEMA FATORES DETERMINANTES DE
ESCOLHA

• Existem dispositivos de controle que perpassam diretamente, na organização social


contemporânea, a questão profissional.
• A rede de poder-saber produz ‘atravessamentos’ nos processos de decisão profissional.
• Cada atravessamento é marcado pela existência de diferentes forças, que coexistem e que estão
em permanente disputa.
• A escolha ocorre neste entrecruzamento e na luta que acontece constantemente.
• “Nesse sentido, acreditamos não existir simplesmente um sujeito que realiza sua escolha
individualmente, mas um sujeito que está o tempo todo sendo atravessado e afetado por
diversas forças, de cujas afetações emergem as escolhas” (MANSANO, 2003, p. 52).
FAMÍLIA; MÍDIA;
MERCADO DE TRABALHO E ESCOLA.

DISPOSITIVOS DE CONTROLE CONTEMPORÂNEOS QUE ATRAVESSAM A ESCOLHA PROFISSIONAL


E AJUDAM A COMPOR MODOS DE SUBJETIVAÇÃO
FAMÍLIA
• É uma das instituições que ajuda a produzir os modos de subjetivação que vigoram
em nosso tempo.
• Historicamente construída e em constante transformação.
• Interfere em diversos setores da sociedade, sendo referência para a organização
econômica, política e social.
• Passou por transformações no decorrer do século XX: perda do sentido da tradição.
• “Uma vez que os papéis sociais pré-estabelecidos como referência já não encontram
uma adesão incondicional por parte da esfera social, constrói-se a ideia de que a
família se encontra em crise” p. 53
• Por ser afetada por diversas forças, desencadeia, de forma acelerada, rupturas e
mudanças no seu modo de funcionamento.
FAMÍLIA
• A questão econômica interfere diretamente na instituição familiar e atravessa a escolha:
1. independência financeira pelo ingresso no mundo do trabalho = libera gastos da família e corta as
preocupações com o futuro.
2. cresce demanda pela aprovação num curso universitário como forma de colocação profissional.

• Baseado em suas próprias histórias e em suas idealizações, pais almejam para seus filhos aquilo que
não tiveram oportunidade de concretizar em suas vidas.
1. gera uma série de conflitos.
2. para admitir que o desejo do filho é diferente do desejo dos pais, é demandado ao pais elaboração
sobre suas próprias experiências e sobre o vínculo que estabeleceram com a sua atividade profissional.
3. abrir-se para o adolescente implica o questionamento de seus próprios papéis de pais e das suas
escolhas, reabrindo conflitos.
FAMÍLIA
• “...por mais que as forças homogeneizadoras tendam a cristalizar e a hierarquizar os
papéis da família por interesses econômicos e políticos ligados à manutenção de sua
forma instituída, ainda assim as forças de resistência e de transformação se fazem
presentes nesta instituição.” p. 55

• “No entrecruzamento de forças com as quais o jovem se depara, em particular na


escolha profissional, os pais são mais uma entre tantas outras forças aí existentes.
Suas opiniões não representam uma referência exclusiva e única, apesar da
afetividade com que possam ser investidas. É justamente essa não-exclusividade que
coloca a instituição família num processo de transformação e sobretudo nos impede
de tomá-la como definidora da escolha do jovem” p. 55
MÍDIA

• Campo complexo.
• Fortemente em aliança com a rede poder-saber que vigora na sociedade.
• Ajuda a compor modos de subjetivação.
• Participa ativamente da construção da vida em sociedade.
• Segundo Hardt e Negri, “a mídia faz parte das novas ‘estruturas globais de
poder’, funcionando como veículo de difusão dos principais valores
capitalistas voltados para a produção e o consumo.” p. 55
MÍDIA

• Com relação às profissões


1. a mídia está sempre intervindo.
2. tenta “vincular a profissão às mercadorias e seus correlatos de sucesso, lucro e
poder” p. 56
3. elege de tempos em tempos as profissões mais valorizadas
4. provoca o consumo de um modo de vida, colocando à disposição dos
consumidores modelos de identidade profissionais.
5. o consumidor passa a reproduzir modelos ideais.
MÍDIA
• Apelo emocional utilizado para tensionar ainda mais a escolha:
1. associação da dúvida à crise e conflito; vende-se a ideia de que após a escolha
(quando a dúvida é superada) “o mal-estar será superado ou abolido, apontando
para um futuro promissor” p. 56
2. em algum momento, é sentida a distância entre o que é colocado pela mídia como
ideal e o que é vivido no trabalho ou na universidade, “dando margem para a
emergência da insatisfação ante a escolha profissional realizada” p. 56
MÍDIA

• A mídia é um veículo de comunicação utilizado para o controle e a massificação,


mas também é possível encontrar estratégias de resistência ou espaços de criação.

“...apesar de toda a tendência de reprodução dos valores dominantes, a mídia se


depara permanentemente com novas correlações de forças e diferentes dimensões
da vida e, nesse sentido, pode tornar-se uma potência por meio da qual seja possível
problematizar questões contemporâneas, abrindo espaços para rupturas e forma de
resistência” p. 57
MERCADO DE TRABALHO

“Numa sociedade onde a taxa de desemprego não para de subir, as regras que
movimentam o mundo do trabalho vigoram desde muito cedo” p. 57

• Ponto de vista do mercado: trabalhador empregável = perfil cada vez mais


elaborado e diferenciado.
• Exigências crescentes, quanto mais capacitado mais chance de ser aproveitado
no mercado, mercado cada dia mais excludente.
MERCADO DE TRABALHO
• Medo da exclusão:
1. trabalhador abre mão de pensar e de se posicionar mais criticamente.
2. é solicitado a dedicar à profissão toda sua energia e interesse.
3. uniformização da psique = o trabalhador se identifica com os valores do mundo do
trabalho, assumindo postura de adesão e reprodução.
4. valorização do trabalho acima de todas as outras possibilidades da vida, gerando o
empobrecimento da vida.
5. uma grande parcela dos trabalhadores tem internalizado esses valores, mas não
encontram espaço no mercado competitivo.
MERCADO DE TRABALHO

• As exigências do mercado são cada vez maiores:


1. desde o preparo intelectual e técnico até características físicas.
2. com a tecnologia avançando e substituindo a força humana de trabalho, as
exigências recaem sobre a subjetividade: qualidade total, erro zero, qualificação
permanente, intolerância ao que coloca em risco o ideal de perfeição.
3. aumento da competitividade e da vigilância dentro dos grupos de trabalho.
4. o futuro é mais trabalho, mais exigências e nível de qualidade mais distante de ser
alcançado = “a vida acaba sendo adiada para um depois que não se atualiza” p . 58
MERCADO DE TRABALHO
• A valorização da subjetividade abre espaço para o surgimento de novas forças que
ajudem a compor outros modos de se vincular com o trabalho:
“...ao incorporar a afetividade e a subjetividade de forma sistemática no mundo do
trabalho, mesmo que isso venha a aumentar os índices de produtividade, essas
dimensões da vida podem introduzir novas formas de resistência e possibilitar a
reinvenção do vínculo com a profissão” p. 59

• Jovens e adultos que não estão ainda no mercado de trabalho são atravessados
por ele, e isso lhes chega pela mídia, pelas pessoas próximas e pela escola.
ESCOLA
• Interpenetração entre empresas e escolas
1. o investimento na profissão se caracteriza como formação permanente.
2. trabalhador se sente sempre aquém das demandas de qualificação.

• O processo de formação permanente representa o novo sequestro da


subjetividade para o trabalho

• Sequestro do tempo livre também, pois a qualificação se dá fora da jornada de


trabalho.
ESCOLA

• Universidade = lugar privilegiado para a produção de saberes que podem se reverter


em novos dispositivos de controle a serem utilizados pela rede poder-saber /possui
responsabilidade ética e política.

• O processo educacional faz parte das relações de poder e seus efeitos têm
repercussão direta no direcionamento da vida em sociedade.
• “A produção dos modos de subjetivação (...) é atravessada por uma
complexa rede institucional que pretende se encarregar dessas
construções. Entretanto, a singularização não se reduz às formas de
poder difundidas por essa rede. Se acreditamos na construção social e
histórica da subjetividade, precisamos considerar que essa produção
não se processa apenas com base nos valores instituídos, mas comporta
outras dimensões que podem vir a recusá-los. Nessa direção
encontram-se o desejo, o gosto de viver e a vontade de construir um
mundo diferente, conforme nos aponta Guattari.” p. 64

• “A vitória de algumas forças sobre outras acontecem também no campo


profissional, mas essas composições sempre contam com uma duração,
visto que os embates não cessam. Enquanto há vida, há embate entre
as forças.” p.65

Você também pode gostar