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UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA

INSTITUTO DE ECONOMIA E RELAÇÕES INTERNACIONAIS

ARTHUR ARANTES RIBEIRO


MATRÍCULA: 11911ECO043

A POLÍTICA DE PARIDADE INTERNACIONAL DE PREÇOS DO PETRÓLEO E SEUS


IMPACTOS NA COMPOSIÇÃO DOS PREÇOS DOS COMBUSTÍVEIS DE 2016 A 2021
NO BRASIL

UBERLÂNDIA
2022
UNIVERSIDADE FEDERAL DE UBERLÂNDIA
INSTITUTO DE ECONOMIA E RELAÇÕES INTERNACIONAIS

ARTHUR ARANTES RIBEIRO

A POLÍTICA DE PARIDADE INTERNACIONAL DE PREÇOS DO PETRÓLEO E SEUS


IMPACTOS NA COMPOSIÇÃO DOS PREÇOS DOS COMBUSTÍVEIS DE 2016 A 2021
NO BRASIL

Artigo de conclusão de curso apresentado ao


Curso de Ciências Econômicas do Instituto de
Economia da Universidade Federal de
Uberlândia, como requisito parcial à conclusão
do curso.

Orientador: Prof. Dr. Cássio Garcia Ribeiro Soares da Silva

UBERLÂNDIA
2022

1
“...estejam sempre vigilantes em torno da Petrobras.
Quanto maior for seu desenvolvimento, maior serão as
investidas dos trustes internacionais, através de seus
porta-vozes em nosso país, para negar o prestígio da
empresa e incompatibilizá-la com a opinião pública, a
fim de abrirem uma brecha por onde possam colocar as
mãos em nosso petróleo.”

2
SÍMBOLOS, ABREVIATURAS, SIGLAS E CONVENÇÕES

ANP - Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis


BNDES - Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social
BNDESPAR - BNDES Participações S.A.
CEDPEN - Centro de Estudos e Defesa do Petróleo e da Economia Nacional
CFCE - Conselho Federal de Comércio Exterior
CNP - Conselho Nacional do Petróleo
PPI - Preço de Paridade de Importação

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Sumário

Introdução 4

Intervenção estatal no setor petrolífero brasileiro 4


Empresas Estatal de Economia Mista 7
Análise da Política de Paridade Internacional 12
Impactos na economia brasileira de 2016 a 2021 12
Considerações Finais 12
Referências Bibliográficas 12

4
1. Introdução

No mundo, é comum a utilização de empresas estatais como instrumento de política


econômica de curto prazo. No segmento de petróleo o governo influenciou os preços que são
livres desde 2000, utilizando o controle acionário da Petrobras, não repassando integralmente
os preços internacionais ao consumidor. Como a empresa é detentora da maior parte do refino
e da importação dos derivados de petróleo, o governo determina os preços dos combustíveis
no mercado nacional.
Cabe observar que quando se aplica uma política de preços dos combustíveis voltada
para o controle da inflação há impactos econômicos para a empresa, e sendo esta uma
sociedade de economia mista, composta por capital público e privado, inicia-se uma discussão
sobre qual caminho ou política a empresa deveria praticar. Ou seja, se por um lado o governo
possui uma empresa estratégica e forte o suficiente para controlar a inflação beneficiando o
público geral, por outro, os sócios particulares desejam a incessante busca pela maximização
dos lucros.
Com uma mudança na política de precificação, priorizando a rentabilidade da
companhia, em 2016 a Petrobras passou a adotar o chamado preço de paridade de importação
(PPI), repassando ao consumidor os preços internacionais de forma integral. Guiada pela
lógica privada de maximização de lucros, tal política gerou impactos positivos para os cofres
da empresa, bem como altos dividendos para seus acionistas, entretanto, elevou os preços dos
derivados a patamares altíssimos impactando negativamente o consumidor final.
Na primeira seção deste trabalho, busca-se entender a visão desenvolvimentista que
levou o Estado a monopolizar o setor petrolífero, bem como a importância do setor como
indústria motriz para o desenvolvimento econômico e industrial do país. Já na segunda seção
a discussão gira em torno da composição de empresas mista com monopólio governamental, e
apresenta a duplicidade de interesses inerente a este tipo de sociedade devido a sua
composição público/privado por através de revisão bibliográfica que evidencia esta disputa
desde o momento da criação da Petrobras.
Terceira
Quarta
Quinta

2. Intervenção estatal no setor petrolífero brasileiro

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Ao longo da história econômica mundial, o petróleo tem tido um peso importante na
dinâmica da economia mundial. Assim, sua ligação com o Governo se tornou um dos assuntos
mais discutidos e recorrentes. No Brasil, mais do que uma relação próxima, a principal
empresa do setor de petróleo e gás é uma estatal, tal fato acaba gerando impactos nas decisões
da empresa e claro consequências para a economia como um todo. Não é difícil identificar
uma polarização entre grupos que acreditam que o Estado é a causa para os males da
economia e aqueles que defendem sua intervenção como essencial para o desenvolvimento.
(OMAR, 2001; RIBEIRO; NETO; SENE, 2018).
Na literatura econômica, Smith (1996), empregava sua famosa expressão “laissez-
faire“ contra a intervenção do Estado. Para ele o esforço individual para melhoria da própria
condição quando realizado em liberdade, levaria a sociedade à prosperidade. Entretanto, a
própria teoria neoclássica que considera o mercado competitivo como alocador eficiente de
recursos, percebeu falhas que justificavam a intervenção governamental. Indo além, e
analisando o tema sob uma perspectiva desenvolvimentista, é possível, ainda, observar que a
intervenção Estatal pode ser mais que regulatória. Considerando o estágio de
desenvolvimento no qual o país se encontra, podem ser implementadas políticas ativas para
promover e sustentar o desenvolvimento a longo prazo. (FERRAZ; de PAULA; KUPFER,
2012; BOYER, 1999).
Assumindo que o Estado possui relevância no processo de desenvolvimento, cabe ao
governo escolher como intervir. (OMAR, 2001). Sob a ótica desenvolvimentista, a
intervenção do Estado varia com o grau de industrialização da nação. Assim, pode-se concluir
que países que apresentam uma industrialização tardia, terão uma intervenção muito forte em
sua economia. (FERRAZ; de PAULA; KUPFER, 2012).
Segundo Giambiagi e Além (2011), até o século XVIII a intervenção Estatal era
mínima, devido ao desinteresse de Portugal por sua colônia. A descoberta do ouro chamou a
atenção de Portugal, e algo que pode ser considerado o início de algum desenvolvimento, foi a
criação do primeiro Banco do Brasil. Ainda de acordo com os autores, naquele momento, o
país era essencialmente agrícola, e mais de 100 anos depois, em 1919, a indústria ainda era
muito pequena sendo constituída basicamente pela produção de têxteis e alimentos. A virada
de chave para o desenvolvimento só ocorreu a partir dos anos 1930, quando o modelo
primário-exportador é substituído pela industrialização substitutiva de importações.
A crise evidenciou a necessidade de proteger a economia nacional de impactos
externos, o que foi feito através da adoção do modelo de industrialização por substituição de
importações, buscando favorecer a produção da indústria nacional preexistente. Porém,
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segundo FURTADO (1980), a indústria de insumos básicos e de equipamentos continuava no
exterior, restando ao Estado criar a indústria de base para promover o sistema industrial.
Nesse ponto, o Estado amplia sua atuação, e favorece o processo com a criação de empresas
estatais, principalmente nos setores nos quais havia pontos de estrangulamento, devido à falta
de interesse ou incapacidade financeira do setor privado, promovendo estímulo ao mercado na
maioria das atividades econômicas. (BOYER, 1999)
No processo de industrialização brasileiro, o Estado assumiu o papel de Estado-
desenvolvimentista, agindo como planejador e como investidor. Sua maior intervenção não
veio de um plano que visava instituir o socialismo no país, pelo contrário, através de sua
intervenção o objetivo era basicamente fortalecer o sistema capitalista, que internamente se
encontrava com um setor privado muito pequeno, sem o fôlego necessário para a realização
de projetos industriais de grande envergadura. Além disso, nesse período é possível observar
uma penetração grande do discurso nacionalista entre diversos setores da sociedade brasileira,
o qual preconizava a importância do intervencionismo do governo, especialmente em setores
estratégicos, seja do ponto de vista econômico, seja em termos de segurança nacional. Tal
discurso, bastante difundido entre os países desenvolvidos e em desenvolvimento no pós-II
Guerra Mundial antagonizava com as ideias liberais e se aproximava do pensamento
keynesiano-desenvolvimentista. (GIAMBIAGI; ALÉM, 2011).
Conforme já destacado, a existência de um setor privado nacional frágil exigiu um
maior intervencionismo estatal. Essa atuação ocorreu de diversas formas, mas para este artigo,
nos concentramos na intervenção direta por meio da criação de Empresas Estatais, utilizadas
para preencher espaços vazios nos setores considerados estratégicos ao desenvolvimento. Tais
espaços não atraiam investimentos do capital privado nacional devido à necessidade de
vultosos investimentos em contraste com o longo prazo de maturação, características das
indústrias de base, como telecomunicações, eletricidade, siderurgia, petróleo dentre outros.
(GIAMBIAGI; ALÉM, 2011).
De fato, o Brasil sempre foi um país com características agroexportadoras, e seu
contato com o crescente mercado exterior do petróleo se deu através de importadores
individuais. Tais agentes começaram a negociar o querosene, utilizado para iluminação, com
os Estados Unidos em 1871. De acordo com Dias e Quaglino (1993), houve tentativas por
parte de empresas estrangeiras para implantar refinarias de petróleo crú com o objetivo de
dominar o mercado brasileiro e facilitar a distribuição. Porém, estas investidas fracassaram
devido ao grande acirramento da concorrência, tanto na busca por matérias primas quanto
pelo refino.
7
Com o fim da Primeira Guerra Mundial e o crescimento potencial da frota de veículos
que utilizavam a gasolina como combustível, as grandes empresas de petróleo, direcionaram
investimentos à América Latina, diminuindo a participação de importadores independentes
nacionais, e concentrando o mercado brasileiro de petróleo na década de 1920 nas mãos de 4
empresas, a Standard Oil (49,11%), a Anglo Mexican (18,01%), a Texas Company (16,72%),
e a Atlantic refining Company (12,04%). Apenas 4,12% estava nas mãos de importadores
independentes. É neste momento que se inicia as discussões sobre o setor petrolífero nacional.
Primeiramente é tratado como um setor de grande importância, que a princípio não
apresentava necessidade de controle sobre a comercialização de seu produto. (DIAS e
QUAGLINO, 1993).
Com reconhecimento da importância do setor, aliado à necessidade de criação de uma
indústria de base, a questão foi efetivamente tratada como segurança nacional, já no fim da
década de 1920. Logo no início da década de 1930, o Conselho Federal de Comércio Exterior
(CFCE) já enfrentava problemas com a alta dos preços dos derivados de petróleo, ligados
principalmente às variações cambiais. Neste primeiro momento de embate, o governo decidiu
por dar vantagem ao social, rejeitando as “soluções” apresentadas pelas empresas. Isso
demonstra que o governo, tinha o entendimento da grandeza do poder das companhias
petrolíferas. Desse modo, o abastecimento de petróleo nacional foi reconhecido como um
serviço de utilidade pública, através de um decreto publicado por Getúlio Vargas em 29 de
abril de 1938, que também abordava a criação do Conselho Nacional do Petróleo (CNP) para
a regulação do abastecimento. (DIAS e QUAGLINO, 1993).
A criação do CNP, marcou o início de um período gestacional da indústria petrolífera
brasileira. Através do órgão, o governo passou a ter maior controle sobre as atividades da
cadeia produtiva e distributiva do setor. Cabia à CNP, a realização de estudos estatísticos
sobre o abastecimento e o consumo nacional de petróleo, além de ter poder para propor a
criação ou alteração nas taxas e impostos incidentes sobre a comercialização de petróleo e
seus derivados. (DIAS e QUAGLINO, 1993). Além disso, o fim da segunda guerra mundial,
deixou ainda mais evidente o caráter estratégico de possuir uma indústria petrolífera, seja para
preservar a posição de domínio econômico ou para alavancar posições através do efeito de
encadeamento industrial. (PINTO JR. et al, 2007).
Depois de um longo período de gestação, em 3 de outubro de 1953 é assinada pelo
então presidente Getúlio Vargas a Lei de Criação da Petrobras, como uma sociedade por
ações cujo sócio majoritário era a União. (MORAIS, 2013). Como missão a empresa estava

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encarregada de explorar, refinar e distribuir petróleo em território nacional. (COELHO, 2006
apud VITA; ANDREOTTI, 2014).

3. Empresas Estatal de Economia Mista

As empresas estatais não são produtos de uma ideologia autoritária, elas surgiram
como resposta a necessidades criadas por mudanças estruturais. Sob o governo Getúlio
Vargas o Estado passa a capitanear a industrialização em setores considerados estratégicos.
Ao criar a Petrobras o governo realiza uma intervenção direta na economia, atuando agora
como agente econômico, participando ativamente da produção de petróleo. Ao competir com
empresas privadas nacionais e internacionais, aparecem dilemas sobre a própria identidade da
sociedade de economia mista (BONFIM, 2011).
As empresas de economia mista se caracterizam pela conjugação de capital público e
privado. Neste ponto existe um confronto de interesses, por um lado os sócios privados
buscam a maximização dos lucros, por outro, há o interesse público, que exige dessas
empresas a execução de sua função pública, salvaguardando o interesse geral. Ou seja, a
empresa criada sob esta estrutura convive com exploração lucrativa da atividade econômica a
qual se insere, mas não pode se afastar da missão que causou sua criação (BONFIM, 2011).
De acordo com o caput do artigo 173 da Constituição Federal, a intervenção direta do
Estado na exploração de alguma atividade econômica, “só será permitida quando necessária
aos imperativos de segurança nacional ou relevante ao interesse coletivo”. (BRASIL, 1988).
No Brasil a sociedade de economia mista é criação da lei, e deve estar vinculada a um
determinado fim e, portanto, deve persegui-lo, desde seu nascimento até seu fim, sem incorrer
em riscos de desvio de finalidade. Desse modo, a Petrobras surge como uma empresa de
economia mista submetida ao regime jurídico próprio das empresas privadas, que embora não
seja uma prestadora de serviços públicos, oferece recursos valiosos e atendente aos interesses
do setor privado, bem como os objetivos de segurança nacional almejados pelo Estado no
momento de sua criação (FERREIRA, 1956 apud BONFIM, 2011; VITA; ANDREOTTI,
2014).
Conforme expresso no artigo 4° da Lei 13303/2016, que dispõe sobre o estatuto
jurídico de empresas mista:

Art. 4° - Sociedade de economia mista, é a entidade dotada de personalidade jurídica


de direito privado, com criação autorizada por lei, sob a forma de sociedade
anônima, cujas ações com direito a voto pertencem em sua maioria à União, aos

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Estados, ao Distrito Federal, aos municípios ou a entidade administrativa indireta.
(BRASIL, 2016 Art. 4).

A lei define que o Estado é sócio majoritário, e que a companhia criada está sujeita ao
direito privado. Isso significa, que atuando como Estado-administrador, o governo se coloca
em igualdade com os demais sócios e com outros agentes econômicos, passando a uma
posição não só de regulador, mas também de regulado.
Como administrador, o Estado possui interesses que nascem da união público-privado,
ou seja, apesar de que o controle estatal tem a função de planejar o desenvolvimento
econômico nacional, ou seja, deve garantir a eficiência do setor, ao tomar decisões que vão
além do retorno financeiro da atividade, entretanto, precisa incorporar em suas decisões os
interesses dos sócios minoritários, pois, ela continua a ter fins lucrativos. (RÜCKERT, 1981;
DELCASTEL, 2011). Portanto, como Acionista Controlador, o Estado deve agir como
recomenda o Art. 16, parágrafo único da Lei N° 6.404/76 que dispõe sobre sociedades por
ações:

Parágrafo Único - O acionista controlador deve usar o poder com o fim de fazer a
companhia realizar o seu objeto e cumprir sua função social, e tem deveres e
responsabilidades para com os demais acionistas da empresa, os que nela trabalham
e para com a comunidade em que atua, cujos direitos e interesses deve lealmente
respeitar e atender. (BRASIL, 1976 Art. 16).

Assim, fica visível a duplicidade da atuação do Estado enquanto entidade pública


agindo sob a justificativa de atingir determinado interesse coletivo e, enquanto acionista
controlador, na busca pela maximização dos lucros. As atividades da companhia devem ser
orientadas de modo a atender o interesse público pelo qual foi criado, e mesmo que a
obtenção de lucros não seja seu objetivo final, a busca por lucratividade não deve ser
condenada em uma estatal de capital misto, conforme assevera a Lei 6.404/76, “Qualquer que
seja o objeto, a companhia é mercantil e se rege pelas leis e usos do comércio”. (BRASIL,
1976). Portanto, é permitido e desejável que a empresa pública busque também ser lucrativa,
beneficiando não apenas os acionistas particulares, mas também o Estado com remunerações
advindas do empreendimento.

3.1 Disputa de interesses na criação da Petrobras

A duplicidade de interesses internos ao próprio Estado, esteve presente em todo o


período de existência da Petrobras. Antes mesmo de sua criação, o tema petróleo já era palco

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de disputas político-ideológicas, no movimento que ficou conhecido como “O Petróleo é
Nosso”. Estas disputas partiam de um sentimento nacionalista que se intensificou após a
Segunda Guerra Mundial e o medo causado pela permanência de um conflito ideológico
durante a chamada “Guerra Fria”. Havia na sociedade brasileira, antes da criação da
Petrobras, uma divisão entre: i) os nacionalistas, que defendiam a manutenção da indústria do
petróleo nacional em mãos brasileiras e rejeitavam o domínio dos norte-americanos; ii)
aqueles que concordavam com os trustes americanos (denominados pelos nacionalistas de
“entreguistas” em virtude da incapacidade nacional de explorar o petróleo em todas as etapas
da cadeia produtiva.
Com o fim da segunda guerra mundial e início dos planos norte-americanos de
reerguimento da Ásia e da Europa, o governo Dutra tentou chamar a atenção do capital
estrangeiro através da liberalização do setor petrolífero no país. Esta decisão acabou por
acirrar ainda mais os debates em torno da questão, por permitir que capitais estrangeiros
participassem da indústria do petróleo, mesmo que de maneira “controlada” por diversas
restrições. Alguns defensores da entrada do capital estrangeiro, como o militar e político
Juarez Távora, colocava o monopólio do estado no setor como ideal, entretanto, como julgava
que o debate deveria ser resolvido de forma rápida, não via a capacidade do estado em
resolver a questão, principalmente por falta de recursos próprios (MARTINS, 2015).
A busca pelo lucro imediato é evidenciada pelas palavras do também militar e
Deputado Federal Odilon Braga, autor do Anteprojeto do Estatuto do Petróleo:

Aquiescem os supremos chefes da indústria petrolífera norte-americana em ajudar-


nos e garantir-nos as vantagens presentes e futuras de uma justa participação nos
lucros dependentes de nossas prováveis jazidas e do desenvolvimento do mercado
interno, e do desenvolvimento do nosso mercado interno, e de bom grado lhe
facilitaremos o acesso às nossas províncias sedimentares e o ensejo de realizarem
conosco um bom negócio (MIRANDA, 1983, p. 116).

Outro militar muito influente na época, contrastava com esta opinião. Para Horta
Barbosa, um setor de dimensão estratégica como este não era compatível com atividade
privada. As dificuldades financeiras alegadas pelos “entreguistas” deveriam ser resolvidas
pela nacionalização do setor de refino, que pouparia divisas com a menor importação de
combustíveis e, já que esta é a etapa mais lucrativa da indústria do petróleo, geraria recursos
que deveriam ser destinados ao investimento nas atividades de maior risco e de menor
lucratividade (à época, já que esse cenário se modificou com o avanço tecnológico da
Petrobras em águas profundas) como prospecção e exploração (MARTINS, 2015)

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Apoiando o discurso de Barbosa, havia o conhecimento da nação sobre as
características monopolísticas da indústria do petróleo, evidenciada pela experiência
internacional na formação de monopólios e seu poder de interferir na política interna além de
seu peso decisivo na economia. A solução para o problema seria instituir o monopólio estatal
em benefício do povo, em todas as áreas - pesquisa, lavra, refinação, transporte e comércio,
sem qualquer tipo de concessão a empresas privadas nem mesmo a brasileiros. Ou seja, a
criação de uma empresa mista que comporta capital público e capital privado, não era vista
com bons olhos, sob o argumento de lesa-pátria, principalmente se este capital privado fosse
estrangeiro (MIRANDA, 1983; MARTINS, 2015).
No ano de 1950, a importação de petróleo pelo país já representava 11,6% das
aquisições internacionais, para 1951 as previsões marcavam 13%. Neste mesmo ano, no dia 6
de dezembro, o Presidente Vargas, através da Mensagem n. 469/51, apresentou ao Congresso
Nacional o projeto 1.516 que dispunha sobre a constituição da sociedade por ações,
denominada Petróleo Brasileiro S.A. Seu Artigo 13° dispunha sobre as permissões para a
participação na sociedade, “§ IV As demais pessoas jurídicas de direito privado, brasileiras,
até o limite de 20.000 ações ordinárias.” (BRASIL, 1951), permitindo às multinacionais
participarem da sociedade através de suas subsidiárias sediadas no Brasil. Além disso, o § 3
do Artigo 14° do projeto, permitia que esses trustes elegessem dois diretores se possuíssem
mais de 15% das ações (BRASIL, 1951).
Não bastasse a participação de estrangeiros, o projeto também não apresentava
regulação da distribuição, ponto evidenciado pelo Centro de Estudos e Defesa do Petróleo e
da Economia Nacional (CEDPEN):

“Ficou excluído desse falso monopólio o comércio atacadista dos produtos obtidos
do petróleo nacional, permitindo-se, deste modo, a entrega de um dos ramos
principais e mais lucrativos da indústria - a distribuição - a empresas com capitais
cem por cento estrangeiros, subsidiárias ou filiais dos trustes” (MIRANDA, 1983
p. ).

Segundo Martins (2015), esta disputa colocava em xeque o nacionalismo do governo


Vargas. Neste ponto, através da análise do histórico exposto é possível perceber o interesse
público voltado ao setor privado quanto a algumas decisões tomadas pelo governo, mas
também um interesse nacionalista demonstrado pela opinião pública que ia na contramão dos
projetos “entreguistas” apresentados pelo governo. Em 1953, Getúlio Vargas assinava a
criação da Petrobras como uma empresa de economia mista, entretanto, sem a nacionalização

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do comércio distribuidor atacadista de combustíveis e lubrificantes líquidos. (MIRANDA,
1983).
A finalidade da Petrobras era alcançar a autossuficiência na produção de derivados de
petróleo, setor estratégico que nas mãos de estrangeiros apresentava riscos à economia
nacional. Atendendo ao disposto na lei de criação de empresas mista, a Petrobras não pode se
distanciar dos motivos que fundamentam sua criação, isto é, a busca pelo interesse coletivo
dos cidadãos.
Apesar das contradições apresentadas neste tipo societário, o Brasil apresentou êxito
em sua execução. A empresa é atualmente a 8° maior empresa de capital aberto do mundo,
presente em 7 países, com mais de 800.000 acionistas. A União Federal é controladora de
50,26% das ações ordinárias, além de 28,67% do capital social total, e mais 18,48% das ações
preferenciais e 7,94% do capital social através de acionistas como o Banco Nacional de
Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e BNDES Participações S.A (BNDESPAR).
O restante das ações ordinárias se divide em 41,16% controladas por investidores não
brasileiros e apenas 8,58% por investidores nacionais (PETROBRAS, 2021).

4. Produção de Petróleo pela Petrobras

5. Preços dos combustíveis

O aumento de preços dos derivados do petróleo sempre foi motivo de preocupação,


pois sua elevação afeta direta e indiretamente as famílias, pois ao influenciar sobretudo os
preços dos transporte, principalmente rodoviário, principal via de distribuição de produtos do
país. Devido a este alto poder inflacionário, desde a criação da indústria nacional, os produtos
derivados do petróleo sofrem alguma forma de controle pelo Estado. A regulação de preços
tem por objetivo manter os preços a um nível que possam promover a eficiência produtiva e
alocativa, variando entre modelos regulatórios, adequando suas estratégias a cada setor.
(MARTIN 1992 apud PINTO JR. et al, 2007; ROTAVA, 2019).
Até a década de 1990 o objetivo deste controle tinha por finalidade atender políticas
sociais e setoriais. Apenas em meados de 1991, ocorre uma liberalização gradual de preços,
comercialização, abertura de mercado e dos fretes ao longo de toda cadeia produtiva,
começando a adaptação do setor a uma economia de mercado. Os preços só passaram a ser
definidos pelas próprias unidades produtoras no início do ano 2002. Neste ano, os preços
antes controlados foram liberados em todo território nacional (SAINTIVE; CHACUR, 2006;
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SANTOS, 2021). Mesmo com a liberação, através do controle acionário, o Estado ainda
utilizou a operação da empresa para definir os preços dos derivados em território nacional, até
2015, considerando os aspectos sociais e constitucionais da Petrobras. (ALMEIDA;
OLIVEIRA; LOSEKANN, 2015; SANTOS, 2021).
Com as decisões direcionadas ao interesse público, as políticas adotadas para o
controle da inflação, impediram que a Petrobras repassasse os preços internacionais
integralmente ao consumidor, causando impactos econômicos negativos na receita da
empresa, que, de acordo com Almeida, Oliveira e Losekann (2015), perdeu cerca de R$ 98
milhões entre 2011 e 2014. Estes impactos comprometem a capacidade de investimento da
empresa e o aproveitamento das explorações, consequentemente o próprio crescimento do
país. (VITA; ANDREOTTI, 2014).

6. Análise da Política de Paridade Internacional


7. Impactos na economia brasileira de 2016 a 2021
8. Considerações Finais
9. Referências Bibliográficas

ALMEIDA, Edmar Luis Fagundes de; OLIVEIRA, Patricia Vargas de; LOSEKANN,
Luciano. Impactos da contenção dos preços de combustíveis no Brasil e opções de
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14
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