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PRINCÍPIOS

DE GENÉTICA
FORENSE
FRANCISCO CORTE-REAL
DUARTE NUNO VIEIRA
17

Capítulo 1
COLHEITA E ACONDICIONAMENTO DE AMOSTRAS
BIOLÓGICAS PARA IDENTIFICAÇÃO GENÉTICA

Maria João Anjos Porto


Delegação do Centro do Instituto Nacional de Medicina Legal e Ciências Forenses, I.P.
Cencifor – Centro de Ciências Forenses
DOI | HTTP://DX.DOI.ORG/10.14195/978-989-26-0957-7_1
18 MARIA JOÃO ANJOS PORTO

RESUMO SUMMARY
Os avanços tecnológicos desenvolvidos nas últimas déca- Technological progresses in recent decades in the foren-
das na área forense, nomeadamente em genética forense, sic field, particularly in forensic genetics, have allowed
têm permitido a identificação genética de uma grande the genetic identification of a wide range of biological
diversidade de amostras biológicas, cujos resultados são samples, whose results are evaluated by the judicial
avaliados pelo sistema judicial. No entanto, as amostras system. However, samples collected at crime scenes or
recolhidas nas cenas de crime ou procedentes de cadáveres originating from cadavers or skeletal remains are often
ou restos cadavéricos encontram-se muitas vezes degra- degraded, contain inhibitors or have been subjected to
dadas, contêm inibidores ou foram sujeitas a condições adverse environmental conditions that alter the structure
ambientais adversas que alteram a estrutura do DNA, of the DNA, thereby lowering its quality and consequen-
diminuindo deste modo a sua qualidade e consequente- tly reducing chances of a successful genetic analysis.
mente reduzindo as hipóteses de sucesso da análise ge- Thus, the ability to properly collect, pack, preserve and
nética. Assim, a capacidade de recolher apropriadamente, analyze biological specimens is critical to the mainte-
acondicionar, analisar e preservar as amostras biológicas nance of its integrity.
é crucial para a manutenção da sua integridade. The selection and collection of samples to be sent to
A selecção e recolha das amostras a enviar aos laborató- forensic laboratories by qualified and specially trained
rios forenses deve ser efectuada por pessoal habilitado staff for this purpose should be performed, taking the
e com formação específica para o efeito, sendo neces- necessary precautions for the identification to ensure
sário tomar as necessárias precauções relativamente à its authenticity. The samples’ integrity must be safe-
identificação de modo a garantir a sua autenticidade. guarded through the packaging in suitable containers,
A integridade das amostras deverá ser acautelada atra- being crucial the maintenance of suitable conditions
vés do acondicionamento em embalagens apropriadas, for their storage in order to avoid becoming degraded.
sendo crucial a manutenção de condições adequadas ao Evidence subject to genetic analysis should also be
seu armazenamento de modo a evitar que se degradem. accompanied by appropriate documentation to include
As evidências sujeitas a exame genético deverão ainda ser its chain of custody.
acompanhadas de documentação apropriada que deve
incluir a respectiva cadeia de custódia.

PALAVRAS-CHAVE KEYWORDS
Colheita; acondicionamento; cadeia de custódia; identi- Collection; packaging; chain of custody; genetic
ficação genética. identification.
CAPÍTULO 1. Colheita e Acondicionamento de Amostras Biológicas para Identificação Genética 19

1. I N T RO D U Ç ÃO As amostras biológicas mais comuns num


laboratório forense são o sangue ou manchas de
A introdução de técnicas de biologia mo- sangue, saliva, sémen ou manchas seminais, ossos,
lecular (nomeadamente da PCR – Polymerase dentes, tecidos e órgãos, pêlos e cabelos, unhas
Chain Reaction) nos laboratórios forenses, tem e raspados subungueais, entre outras. Apesar
permitido garantir a identificação genética de de as técnicas actualmente utilizadas na identi-
um número cada vez maior de amostras bioló- ficação genética serem extremamente sensíveis e
gicas, as quais se encontram muitas vezes de- permitirem muitas vezes a obtenção de perfis de
gradadas ou contêm quantidades diminutas de DNA em amostras que contêm apenas algumas
DNA. O DNA encontra-se presente em todas as células tais como as impressões digitais, vários
células nucleadas existentes no material biológi- factores podem influenciar os resultados obtidos
co a identificar, o qual deve ser cuidadosamente nas evidências.
manipulado nas várias fases da investigação de A quantidade de DNA que se consegue
modo a poder ser obtida a correcta identificação extrair a partir do material recolhido varia de
das amostras, cujos resultados são muitas vezes acordo com a respectiva amostra, mas está tam-
um valioso contributo para a decisão judicial. bém muitas vezes dependente das condições
As amostras colhidas para fins forenses ambientais ou contaminação bacteriana a que
têm várias aplicações, nomeadamente as da esteve sujeita. A qualidade das amostras biológi-
investigação biológica da paternidade ou in- cas sujeitas a condições adversas pode diminuir
vestigações de parentesco, identificação de se o DNA se degradar (mesmo que se trate de
cadáveres e restos cadavéricos através da uma grande mancha de sangue), tornando-as
comparação com os seus possíveis familiares muitas vezes inúteis. Também o grau de pureza
e ainda a identificação de vestígios biológicos das amostras pode condicionar a obtenção de
criminais. As evidências recolhidas no local do resultados: sujidades, gorduras, determinados
crime podem associar ou excluir determinada corantes utilizados para tingir os tecidos, o áci-
pessoa da prática de um ilícito, nomeadamente do húmico e outras substâncias, podem inibir a
quando há transferência directa de material análise do DNA.
biológico entre distintos indivíduos ou para al- O sucesso ou insucesso da genotipagem
gum objecto relacionado (por exemplo a arma pode também ser influenciado pelos processos de
do crime). Deste modo, a análise de DNA dos recolha, preservação, acondicionamento e envio
vestígios biológicos criminais permite relacio- das amostras ao laboratório. Estes procedimentos
nar nomeadamente: deverão garantir a autenticidade e integridade das
amostras biológicas, bem como a privacidade e
1. O suspeito com a vítima e vice-versa; confidencialidade dos resultados nelas obtidos.
2. O suspeito e a vítima com o local do crime; É ainda fundamental acautelar a cadeia de custó-
3. Os objectos utilizados no crime com o dia de cada amostra para que possam ser aceites
local, suspeitos e vítimas. como prova pelo sistema judicial.
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2 . CO N S I D E R AÇÕ ES G E R A I S Sempre que se manipula material biológico


humano deve ter-se em conta que se pode estar
A recolha de amostras biológicas, quer sejam na presença de material contaminado com agentes
amostras de referência ou evidências relacionadas patogénicos e potencialmente transmissores de
com um crime, deve ser efectuada por pessoal doenças, pelo que devem ser tomadas precauções
habilitado com formação, conhecimentos técni- que minimizem o risco de infecção do operador.
cos e experiência adequada para o desempenho No entanto, tão importante como proteger o opera-
desta função. Esta fase é crucial no processo de dor do material biológico que está a manipular, será
investigação e representa muitas vezes um desafio proteger as amostras de contaminação externa. A
dado que as cenas de crime podem ser complexas integridade das amostras pode ser afectada de vá-
e caóticas. O reconhecimento e a identificação das rias maneiras, podendo a deterioração das mesmas
amostras que servem de prova é muitas vezes um ocorrer durante a recolha, embalagem ou envio das
trabalho árduo dado que, muitas vezes, existem amostras ao laboratório. Assim, deve ser evitada:
em grande quantidade, tendem a ser redundantes
e podem não permitir o relacionamento entre a Contaminação por material biológico
vítima e o suspeito. humano, que pode ocorrer numa fase posterior
Antes de os vestígios serem recolhidos de- à produção do crime e pode contaminar o local,
verão ser efectuadas fotografias e/ou vídeos que os objectos nele existentes, e ainda o corpo da
demonstrem a posição relativa entre eles na cena vítima. Pode ser causada por pessoas estranhas
do crime. Deverão também ser retiradas notas à investigação como familiares ou curiosos, ou
acerca da condição em que cada amostra é en- por elementos que colaboram na investigação
contrada e ainda ser efectuados esquemas ou que de forma acidental ou por desconhecimento
desenhos que permitam mais tarde relacionar produzem a contaminação. É frequente durante
cada uma delas com outros objectos do local. o processo de recolha ou numa deficiente em-
O método de recolha poderá depender da balagem das amostras;
condição em que o material biológico se encontra.
Em geral e sempre que possível, deve ser recolhi- Transferência de indícios biológicos da
da uma quantidade significativa de amostra que localização original para uma outra, que ocorre
permita a recuperação de suficiente DNA para a normalmente de uma forma acidental e pode
identificação genética, devendo no entanto ter- provocar contaminação ou a perda de uma prova.
-se o cuidado de evitar a recolha de sujidades, Os pêlos e cabelos são os vestígios que mais são
gorduras, fluidos ou outras substâncias que pos- afectados com a mudança de localização;
sam ser inibidoras dos métodos de análise. Cada
evidência deve ser embalada apropriadamente e Contaminação microbiológica que ocor-
enviada o mais rapidamente possível ao laborató- re pela proliferação de microorganismos, a qual
rio, devendo ser preservadas em ambiente seco e pode ser favorecida pela humidade ou pelas altas
fresco de modo a minimizar a sua deterioração. temperaturas. Normalmente acontece quando
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a embalagem ou as condições de conservação – Deixar as amostras secar à temperatura


das amostras não são as apropriadas até à sua ambiente (manchas de sangue ou sémen,
chegada ao laboratório; entre outras), em local protegido, antes de
as embalar, selar e enviar ao laboratório;
Contaminação química que se deve à – Embalar cada amostra separadamente de
presença de produtos químicos que dificultam a modo a evitar a potencial transferência
análise genética, nomeadamente a extracção e de material biológico ou contaminação
amplificação do DNA. Acontece quando as amos- entre cada uma delas;
tras são imersas em produtos conservantes como o – Sempre que possível, embalar as amostras
formol ou quando são realizados estudos prévios depois de secas em envelopes de papel
com substâncias químicas. ou caixas de cartão. Os sacos de plástico
devem ser evitados pois permitem a con-
Devem ainda ser tomadas as precauções densação nomeadamente quando contêm
básicas de modo a evitar ou minimizar os riscos vestígios húmidos (p.e. peças de roupa), o
de contaminação referidos e que incluem: que potencia o aumento da degradação
das amostras;
– Isolar e proteger o mais rapidamente – Uma vez terminada a recolha das amos-
possível a cena do crime e, salvo se al- tras biológicas, colocar todo o material
guma circunstância o impeça tal como descartável utilizado (luvas, pinças, pi-
acontece quando é necessário socorrer petas, etc.) em contentores apropriados,
vítimas, os vestígios biológicos devem cuja eliminação deve ser efectuada de
ser os primeiros a ser recolhidos; acordo com as normas de destruição de
– Usar luvas limpas que devem ser trocadas resíduos biológicos.
com frequência, nomeadamente quando
se manipulam vestígios biológicos que se
suspeita poderem ser de distintas origens; 3 . D O C U M E N TAÇ ÃO
– Evitar falar, tossir ou espirrar sobre as
amostras e usar máscara; A localização, a condição em que se encon-
– Usar bata ou outro tipo de roupa pro- trava ou outra informação relevante de qualquer
tectora; vestígio biológico deve ser bem documentada
– Utilizar material descartável ou estéril antes de se proceder à sua recolha. Em qualquer
(p.e. pinças, tesouras, etc.) na recolha investigação, quer seja de âmbito criminal ou ci-
sempre que possível, ou limpá-lo bem vil, a documentação tem uma grande relevância
antes de proceder à recolha de cada ves- dado que as amostras são mais tarde sujeitas a
tígio (p.e. com uma solução de lixívia a apreciação judicial.
10% ou álcool); De modo a permitir uma abordagem técnica
– Não adicionar conservantes às amostras; adequada no laboratório forense, as amostras
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biológicas devem estar acompanhadas de docu- 3.1.1.2. Identificação das amostras


mentação específica.
Todos os formulários devem identificar e
3.1. DOCUMENTAÇÃO EM CASOS descrever brevemente as amostras enviadas:
DE INTERESSE CRIMINAL 1. Lista das amostras de referência onde
deve constar:
3.1.1. Documentação necessária – Número de referência da amostra;
– Tipo de amostra (sangue, saliva, pêlos,
3.1.1.1. Formulário de envio de amostras etc.). Se a amostra enviada é sangue líqui-
do, especificar o tipo de anticoagulante
Neste formulário deve constar: utilizado;
1. A investigação solicitada (p.e. identifica- – Identificação da pessoa que realizou a
ção de restos cadavéricos, pesquisa de colheita;
vestígios hemáticos, pesquisa de manchas – Relação com o caso (vítima, suspeito, etc.)
de sémen etc.) 2. Lista dos vestígios biológicos onde deve
2. Antecedentes e dados de interesse sobre constar:
o caso: – Número de referência da amostra;
– Causa dos factos; – Tipo de amostra com uma descrição breve
– Local dos factos; (p.e. zaragatoa vaginal, camisa azul, faca
– Data dos factos; com cabo de madeira, pêlos, etc.);
– Instrumento utilizado na agressão; – A quem pertencem as amostras (vítima/
– Se houver cadáver: antiguidade, estado suspeito) e onde se encontravam (auto-
de conservação, etc. móvel, garagem, corpo da vítima, etc.);
3. Dados da(s) vítima(s): – Qual o material biológico que se preten-
– Nome e apelido (se identificada); de identificar (sémen, sangue, saliva,
– Idade; etc.).
– Sexo;
– Grupo populacional; 3.1.1.3. Cadeia de custódia
– Causa da morte (se aplicável) ou existência
de lesões; Todos os formulários devem ter um espaço
– Relação com o suspeito. reservado aos dados da cadeia de custódia onde
4. Dados do(s) suspeito(s): deve constar:
– Nome e apelido; – Nome e assinatura da pessoa que realizou
– Idade; a colheita;
– Sexo; – Data e hora da colheita;
– Grupo populacional; – Condições de armazenamento até ao seu
– Existência de lesões, traumatismos, feridas, etc. envio ao laboratório.
CAPÍTULO 1. Colheita e Acondicionamento de Amostras Biológicas para Identificação Genética 23

3.1.2. Documentação recomendável – Residência;


– Grupo populacional.
1. Informação preliminar da autópsia (se 2. Antecedentes clínicos:
aplicável) – Transfusões de sangue recentes;
2. Informação clínica (se relevante) – Transplantes recentes;
3. Informação ou dados da inspecção ocular – Se conhecidas, doenças que possam
(se relevantes) influenciar a valorização dos resultados
4. Documentação adicional sobre a localiza- (p.e. trissomias).
ção das amostras ou vestígios biológicos
no local dos factos ou no corpo da vítima 3.2.1.2. Identificação das amostras
com esquemas, desenhos, vídeos, etc.
5. Fotografias dos vestígios biológicos, que Todos os formulários devem identificar e des-
devem ser tiradas antes de serem recolhidas crever brevemente as amostras, onde deve constar:
do local dos factos ou do corpo da vítima. – Número de referência da amostra;
– Tipo de amostra (sangue, saliva);
3.2. DOCUMENTAÇÃO EM CASOS – Relação com o caso (mãe, filho, pai pre-
DE INVESTIGAÇÃO BIOLÓGICA tenso pai, etc.).
DA PATERNIDADE E OUTRAS – Identificação da pessoa que realizou a
INVESTIGAÇÕES DE PARENTESCO colheita;

As perícias de investigação biológica da pa- 3.2.1.3. Cadeia de custódia


ternidade e outras investigações de parentesco
devem ser acompanhadas de informação precisa Todos os formulários devem ter um espaço
que especifique quer o tipo de perícia solicitada, reservado aos dados da cadeia de custódia onde
quer os intervenientes nela envolvidos. deve constar:
– Nome e assinatura da pessoa que realizou
3.2.1. Documentação necessária a colheita;
– Data e hora da colheita;
3.2.1.1. Formulário de envio das amostras – Condições de armazenamento até ao seu
ou com informação recolhida no laboratório envio ao laboratório.
que realiza as colheitas

Neste formulário deve constar: 4 . R ECO L H A D E A M OS T R A S


1. Identificação do indivíduo: D E R E FE R Ê N C I A
– Nome e apelido;
– Dados do documento de identificação; As perícias realizadas nos laboratórios de
– Data de nascimento; genética forense requerem material biológico de
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referência das vítimas e dos suspeitos no caso de armazenado directamente na zaragatoa ou ser
se pretender a identificação de vestígios biológicos transferido para um cartão de papel absorvente
criminais. Amostras de referência de familiares específico para o efeito onde será então arma-
podem ser utilizadas em investigações de pater- zenado. Nestes casos a zaragatoa para além de
nidade ou investigações de parentesco biológico, recolher células da mucosa bucal deverá ainda
na investigação de pessoas desaparecidas e na ser impregnada com a saliva que se encontra
identificação de vítimas de desastre de massa. depositada na parte inferior da boca, junto aos
A realização da colheita de amostras de refe- dentes e debaixo da língua. Devido à falta de
rência em pessoas vivas deve ser efectuada com o coloração da saliva existem também cartões de
consentimento livre e informado das mesmas, sendo papel absorvente coloridos que em contacto com
necessária a assinatura de um documento que auto- este material biológico mudam de cor, o que per-
rize expressamente a utilização da amostra recolhida mite ao operador assegurar que efectuou uma
para fins de identificação genética. Os serviços que recolha eficaz.
procedem à recolha das amostras biológicas de re- Após a realização da colheita, as zaragatoas
ferência deverão assegurar a autenticidade da iden- ou cartões de papel correctamente identificados,
tificação do examinado, nomeadamente mediante devem ser secos à temperatura ambiente, em local
apresentação do documento de identificação, do protegido, antes de serem armazenados, uma vez
qual é feita cópia a integrar no processo. que na saliva existem bactérias que proliferam
rapidamente com a humidade degradando o DNA.
4.1. AMOSTRAS DE REFERÊNCIA As zaragatoas podem também ser congeladas.
EM PESSOAS VIVAS
4.1.2. Sangue
4.1.1. Células da mucosa bucal (saliva)
Actualmente a recolha de sangue é efectua-
É um método rápido, indolor e não invasivo, da através de punção dactilar, sendo utilizada uma
que consiste na utilização de uma zaragatoa para lanceta para efectuar uma pequena picada na face
recolher algumas células da mucosa bucal, vulgar- anterior de um dos dedos da mão (preferencial-
mente denominado por recolha de saliva. Cada mente onde a pele estiver mais macia). Algumas
um dos lados da zaragatoa deve ser esfregado na gotas de sangue são depositadas num cartão de
parte interna das bochechas (cerca de seis vezes papel absorvente até que fique bem impregna-
de cada lado). No caso de ser o único material do, o qual depois de correctamente identificado
biológico de referência a ser colhido, será pre- deve ser seco à temperatura ambiente, em local
ferível recolher duas zaragatoas bucais para que protegido, antes de ser armazenado. Nas crianças
possam ser processadas em duplicado. Durante de tenra idade a picada pode ser efectuada no
a recolha devem ser evitados restos alimentares. pé (dedo polegar ou calcanhar) de modo a que
Existem zaragatoas específicas para a reco- seja mais eficaz, dado que normalmente se obtém
lha de saliva, podendo o material biológico ser um maior fluxo sanguíneo.
CAPÍTULO 1. Colheita e Acondicionamento de Amostras Biológicas para Identificação Genética 25

4.1.3. Cabelos de correctamente identificado, deverá ser seco à


temperatura ambiente, em local protegido, antes
É uma amostra que não é realizada por de ser armazenado.
rotina. No entanto, devem ser recolhidos 10-15
cabelos arrancados pela raiz, se houver necessi- 4.3.2. Músculo esquelético
dade de recolher este tipo de material biológico.
Quando não for possível recolher sangue,
4.2. Amostras de referência poderá ser efectuada uma zaragatoa ou um
em pessoas sujeitas a transfusão “print” em cartão de papel absorvente a partir
sanguínea ou transplantes do tecido muscular, ou serem recolhidos dois
fragmentos de músculo esquelético da zona
No caso de ser necessário recolher amostras mais bem conservada (cerca de 10-15 g), que
de referência a pessoas que tenham sido sujeitas a se introduzem num recipiente de plástico com
uma transfusão de sangue recente, deve ser efec- boca larga e tampa de rosca, sem qualquer
tuada uma zaragatoa bucal ou serem recolhidos líquido fixador.
cabelos com raiz, para que não haja o risco de Normalmente recorre-se ao músculo car-
se poder detectar no sangue uma mistura com díaco, podendo no entanto ser recolhidos ou-
o perfil genético do dador. tros tecidos como os músculos mais profundos
O mesmo se passa em relação a transplantes da coxa, a próstata nos homens e o útero nas
bem sucedidos, nomeadamente os de medula mulheres que, por se encontrarem mais pro-
óssea. Deverão ser colhidos distintos materiais tegidos, se tornam também mais resistentes à
biológicos já que pode ser detectado o perfil do putrefacção.
dador no sangue do indivíduo sujeito a trans-
plante e um perfil de mistura (dador/receptor) na 4.3.3. Dentes e ossos
saliva. Nestes casos deverão ser colhidos cabelos
(de acordo com o recomendado em 4.1.3.) pois No caso de existir alguma dúvida relativa-
este material biológico apresenta apenas o perfil mente ao estado de conservação do cadáver de-
do receptor. verão ser extraídos pelo menos quatro dentes,
de preferência molares não cariados ou tratados,
4.3. AMOSTRAS DE REFERÊNCIA ou um fragmento ósseo (preferencialmente o fé-
EM CADÁVERES EM BOM ESTADO mur) limpo de tecidos moles, que deverão ser
DE CONSERVAÇÃO colocados em sacos ou recipientes apropriados
ao seu tamanho. Estas amostras poderão evi-
4.3.1. Sangue tar uma possível exumação nos casos em que as
amostras anteriormente referidas se encontram
Efectuar uma mancha de sangue do cadá- tão degradadas que inviabilizam a identificação
ver num cartão de papel absorvente que, depois genética do cadáver.
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4.4. AMOSTRAS DE REFERÊNCIA EM CADÁ- dado que o DNA é uma molécula estável a altas
VERES EM AVANÇADO ESTADO DE PUTRE- temperaturas. Deste modo, quando a carboni-
FACÇÃO OU ESQUELETIZADOS zação não é total, pode ser possível recolher
sangue ainda existente nas cavidades cardía-
4.4.1. Ossos cas (devendo ser efectuada uma mancha) ou
fragmentos de músculo esquelético de zonas
Os ossos devem estar limpos de tecidos mo- profundas (proceder de acordo com o referido
les e sempre que possível, devem ser selecciona- em 4.3.2.).
dos ossos longos, preferencialmente o fémur, que A recolha de amostras biológicas em cadá-
deverão ser colocados em sacos ou recipientes veres carbonizados depende do grau de carbo-
apropriados ao seu tamanho. Se esta amostra nização e, quando as amostras anteriormente
não estiver disponível, o laboratório de genéti- referidas já não estão disponíveis, poderão ser
ca forense deverá ser contactado para que, de retirados se disponíveis, fragmentos ósseos
acordo com a situação e consoante as amostras (fémur de preferência), dentes ou unhas (as
disponíveis, possa ajudar a seleccionar as amostras menos afectadas), de acordo com o referido
mais adequadas para a identificação genética. em 4.4.).
O laboratório de genética forense deverá ser
4.4.2. Dentes contactado para que, de acordo com a situação e
consoante as amostras disponíveis, possa ajudar
Devem ser extraídos pelo menos quatro a seleccionar as amostras mais adequadas para
dentes, de preferência molares não cariados ou a identificação genética.
tratados, que deverão ser colocados em sacos ou
recipientes apropriados ao seu tamanho. 4.6. AMOSTRAS DE REFERÊNCIA
EM CADÁVERES EMBALSAMADOS
4.4.3. Unhas
Os cadáveres embalsamados são conser-
Devem ser extraídas as unhas das mãos ou vados artificialmente através da utilização de
pés, que devem ser colocadas em papel absorven- conservantes como o formol, fazendo com que
te e posteriormente em recipientes apropriados o DNA se degrade o que torna muito difícil a
ao seu tamanho. sua análise. Nestes casos deverá o laboratório
de genética forense ser contactado para que,
4.5. AMOSTRAS DE REFERÊNCIA de acordo com a situação (técnica de embal-
EM CADÁVERES CARBONIZADOS samamento, antiguidade, etc.), possa ajudar a
seleccionar as amostras mais adequadas para a
Ao contrário do que a aparência externa identificação genética.
possa indicar, é muitas vezes possível efectuar a
identificação genética de cadáveres carbonizados
CAPÍTULO 1. Colheita e Acondicionamento de Amostras Biológicas para Identificação Genética 27

4.7. OUTRAS AMOSTRAS DE REFERÊNCIA normalmente cedidos pela família que, em muitas
DE PESSOAS FALECIDAS situações, é também parte interessada no proces-
so judicial. Deste modo, é conveniente autenticar
Nos casos em que não é possível recorrer à estas amostras através do estudo comparativo
exumação do cadáver para recolher amostras de com familiares.
referência ou quando é necessário identificar um
cadáver e não existem familiares vivos disponíveis
para a realização da perícia, pode recorrer-se a: 5 . R ECO L H A D E A M OS T R A S
B I O LÓ G I C A S N A C E N A D E C R I M E
4.7.1. Análise de material biológico do cadá-
ver existente em centros hospitalares 5.1. MANCHAS SECAS EM AMOSTRAS DE RE-
DUZIDA DIMENSÃO E DE FÁCIL TRANSPORTE
Se existentes, a identificação genética do
falecido pode ser efectuada através de amostras Em geral, estas amostras deverão ser reco-
biológicas que tenham sido colhidas para fins clíni- lhidas e introduzidas separadamente, em sacos
cos, nomeadamente amostras de sangue, biopsias de papel ou caixas de cartão, utilizando pinças
em parafina, preparações histológicas, etc. As limpas. Algumas das amostras que com mais fre-
amostras conservadas em formol não deverão quência são recebidas num laboratório forense
ser utilizadas dado que este produto degrada o são as seguintes:
DNA, dificultando ou inviabilizando a obtenção
de resultados. – Beatas;
– Bilhetes, papéis, pequenos cartões, etc.;
4.7.2. Análise de material biológico do cadá- – Chaves, moedas, luvas, etc.;
ver existente em ambiente familiar – Envelopes e selos;
– Pedras, ramos, folhas, etc.;
A identificação genética do cadáver pode ser – Armas brancas, etc.
efectuada através dos vestígios biológicos exis-
tentes nos objectos pessoais, tais como escovas Relativamente às armas brancas deve exis-
de cabelo, pentes, escovas de dentes, máquinas tir um especial cuidado na recolha dos vestígios
de barbear, envelopes, selos, etc. No entanto este biológicos existentes para que não se afectem as
tipo de amostras na maioria das vezes, não permi- impressões digitais, no caso de não terem sido ain-
te obter uma quantidade suficientemente grande da objecto de estudo. As caixas de cartão devem
de DNA para permitir a identificação. ter um tamanho apropriado e o objecto deverá
Há no entanto que ter algum cuidado estar bem acondicionado para que, durante o
quando se utiliza este tipo de amostras. Por um transporte, não haja perda do material biológico
lado poderão ter sido também utilizadas pelos que eventualmente a ele possa estar aderente. Na
seus familiares e, por outro lado, são objectos ausência deste tipo de embalagem, poderão as
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armas brancas ser acondicionadas em envelopes húmidos, nomeadamente manchas de sangue,


de papel desde que a lâmina esteja bem protegida. podendo no entanto existir noutro tipo de
Existem no entanto amostras nas quais a objectos tais como roupas de cama, toalhas,
experiência e bom senso do perito que efectua cortinas, etc. Nestes casos, os objectos ou as
a recolha determinam que se utilizem recipientes manchas que vão ser estudadas devem ser trans-
de plástico, como é o caso das pastilhas elásticas, feridos do local do crime para as instalações
entre outras. dos peritos que procedem à recolha, onde os
deverão deixar secar em local protegido, sobre
5.2. MANCHAS SECAS EM uma superfície limpa. Uma vez secas, as amos-
AMOSTRAS DE GRANDE DIMENSÃO tras deverão ser acondicionadas em separado,
E NÃO TRANSPORTÁVEIS em sacos de papel.

A recolha destas amostras depende do su- 5.4. VESTÍGIOS LÍQUIDOS


porte em que as mesmas estejam depositadas:
5.4.1. Sangue
Suportes não absorventes (vidros, portas,
paredes, chão, móveis, etc.). A recolha pode ser Sangue em grande quantidade:
efectuada recorrendo a: Recolher com uma pipeta de plástico, des-
– Zaragatoa estéril, ligeiramente humede- cartável, e efectuar uma mancha em cartão de
cida em água destilada; papel absorvente. Poderá também ser introduzido
– Bisturi para raspar a mancha, que deve num tubo com anticoagulante (p.e. EDTA).
ser colocada em pequenos envelopes ou
sacos de papel. Sangue em escassa quantidade:
Efectuar a recolha com uma zaragatoa estéril.
Suportes absorventes (tapetes, alcatifas,
sofás, estofos de automóvel, etc.): Sangue coagulado:
A mancha deve ser recortada com uma te- Recolher com uma colher de plástico ou
soura ou bisturi e introduzida em envelopes ou outro objecto, e introduzir em tubo ou frasco
sacos de papel. de plástico.

5.3. VESTÍGIOS HÚMIDOS 5.4.2. Sémen

Roupas ou outros objectos com vestígios Preservativos com sémen líquido:


húmidos: Devem ser manipulados com particular cui-
dado já que podem permitir a identificação da
As peças de vestuário são os objectos que vítima no material biológico depositado no lado
mais frequentemente podem conter vestígios externo, o qual pode ser facilmente contaminado
CAPÍTULO 1. Colheita e Acondicionamento de Amostras Biológicas para Identificação Genética 29

com o eventual sémen do agressor depositado 5.6.2. Restos cadavéricos


no lado interno. Deste modo, depois de colhidos, em avançado estado de putrefacção
atar para que não derramem o seu conteúdo e ou esqueletizados
introduzir em frasco de plástico.
Deverão ser seguidas as indicações referidas
Sémen em escassa quantidade: em 4.4. No entanto, se houver a suspeita da
Efectuar a recolha com uma zaragatoa estéril. existência de restos cadavéricos pertencentes a
mais de um indivíduo, as várias amostras deverão
5.4.3. Líquido amniótico ser enviadas em separado.

Recolher uma amostra com aproximadamen- 5.6.3. Restos cadavéricos carbonizados


te 10 ml, que se coloca em tubo ou frasco.
Deverão ser seguidas as indicações referidas
5.4.4. Urina ou outros fluidos biológicos em 4.5. No entanto, se houver a suspeita da
existência de restos cadavéricos pertencentes a
Recolher com uma pipeta de plástico, des- mais de um indivíduo, as várias amostras deverão
cartável, e introduzir em tubo ou frasco. ser enviadas em separado.

5.5. PÊLOS E CABELOS 5.7. RESTOS FETAIS E PLACENTÁRIOS

Recolher com pinças limpas, colocando cada A recolha deve ser efectuada com pinças
pêlo ou grupo de pêlos em pequenos envelopes limpas e as amostras deverão ser introduzidas em
ou sacos de papel. recipiente de plástico com boca larga e tampa de
rosca, sem qualquer líquido fixador.
5.6. RESTOS CADAVÉRICOS

A recolha estará condicionada ao tipo de 6 . R ECO L H A D E A M OS T R A S


restos cadavéricos que forem encontrados: B I O LÓ G I C A S N O CO R P O
DA V Í T I M A
5.6.1. Restos cadavéricos em bom estado de
conservação 6.1. MANCHAS DE SANGUE, SÉMEN
E OUTROS FLUIDOS BIOLÓGICOS
Deverão ser seguidas as indicações referidas
em 4.3. No entanto, se houver a suspeita da A recolha deve ser efectuada com uma zara-
existência de restos cadavéricos pertencentes a gatoa estéril, ligeiramente humedecida em água
mais de um indivíduo, as várias amostras deverão destilada, limpando toda a área onde se encontra
ser enviadas em separado. a mancha.
30 MARIA JOÃO ANJOS PORTO

6.2. SALIVA EM MARCAS DE MORDEDURA de genética forense, necessitam de um tratamento


particular quer relativamente à informação que
As marcas de mordedura devem ser previa- deve ser obtida durante o exame sexual, quer
mente fotografadas e a recolha deve ser efectuada relativamente às amostras que são necessárias
com uma zaragatoa estéril, ligeiramente hume- para realizar este tipo de perícia.
decida em água destilada, limpando a área onde
se encontra a marca deixada pelos dentes, bem 7.1. DOCUMENTAÇÃO NECESSÁRIA
como toda a zona interior por eles delimitada.
A recolha de amostras neste tipo de delitos
6.3. MÃOS E UNHAS deve obedecer a protocolos previamente estabe-
lecidos e, de modo a se poder fazer uma selecção
Com uma pinça limpa, recolher os pêlos ou adequada das amostras para análise e valorizar
fibras que se encontrem nas mãos ou unhas da convenientemente os resultados obtidos, é ne-
vítima e colocar em pequenos envelopes ou sacos cessário recolher informação relevante quer dos
de papel. Se possível, cortar as unhas para que factos quer da vítima. Para tal, será necessário que
se analisem eventuais restos de sangue ou pele o perito que faz a recolha das amostras preencha
do agressor, recolhendo em separado as unhas de um formulário específico para este tipo de situa-
ambas as mãos que deverão ser colocadas em pe- ções, onde deverá constar a seguinte informação:
quenos envelopes ou sacos de papel. No caso de não
existirem unhas que se possam cortar, efectuar um 1. Dados da vítima:
raspado subungueal recorrendo a uma zaragatoa – Idade;
estéril ligeiramente humedecida em água destilada – Sexo;
(no caso de pessoas vivas) ou recorrendo a um bisturi – Grupo populacional;
(no caso de cadáveres) que poderá ser acondiciona- – Relações sexuais próximas da agressão
do em vidros de relógio ou caixas de petri. (especificar o tipo, data e hora);
– Utilização de produtos vaginais (lubrifi-
6.4. PÊLOS cantes, espermicidas, etc.);
– Se previamente ao exame procedeu à
Recolher com pinças limpas, colocando cada lavagem das zonas afectadas na agressão;
pêlo ou grupo de pêlos em pequenos envelopes – Se vomitou, urinou ou defecou;
ou sacos de papel. – Se mantém a roupa da agressão;
– Dados ginecológicos que possam ser re-
levantes.
7. AG R ESSÕ ES SE XUA I S
2. Dados da agressão:
As agressões sexuais, sendo um dos crimes – Local da agressão;
que com maior frequência chega aos laboratórios – Data e hora da agressão;
CAPÍTULO 1. Colheita e Acondicionamento de Amostras Biológicas para Identificação Genética 31

– Tempo decorrido entre a agressão e a debaixo da língua). Deverá ser a primeira


recolha de amostras; colheita a ser realizada uma vez que os
– Tipo de agressão (vaginal, anal e/ou bu- vestígios de sémen tendem a desaparecer
cal); rapidamente.
– Se houve introdução de objectos (vaginal 2. Recolhas na superfície corporal. Procurar
ou anal); manchas de sémen ou saliva, bem como
– Número de agressores; possíveis marcas de mordedura, que de-
– Se houve utilização de preservativos; vem ser recolhidas recorrendo a zaraga-
– Se houve ejaculação (interior ou exterior); toas estéreis de acordo com o referido
– Relação de parentesco entre a vítima e em 6.1. e 6.2.
o agressor. 3. Penteado púbico e recolha de pêlos sus-
peitos de pertencerem ao agressor, que
3. Lista das amostras de referência e dos deverão ser colocados em pequenos en-
vestígios biológicos enviados, com a in- velopes ou sacos de papel.
formação referida em 3.1.1.2. 4. Zaragatoas cervicais, vaginais e dos ge-
nitais externos, que se realizam com za-
4. Dados da cadeia de custódia, referidos ragatoas estéreis, limpando cuidadosa-
em 3.1.1.3. mente o colo uterino, a cavidade vaginal
e a região vulvar, respectivamente.
7.2. RECOLHA DE VESTÍGIOS BIOLÓGICOS 5. Zaragatoas anais e da margem anal, que
se realizam com zaragatoas estéreis, lim-
A recolha de amostras é efectuada tendo em pando cuidadosamente o canal rectal e
conta a ocorrência e os dados fornecidos pela a margem anal, respectivamente.
vítima, o mais rapidamente possível, para permitir 6. Recolhas nas mãos e unhas da vítima, de
uma maior taxa de sucesso na análise das amostras. acordo com o referido em 6.3., nomeada-
Quando se efectua mais de uma zaragatoa em cada mente nos casos em que a vítima referir
local, é fundamental numerá-las para que a análise que pode eventualmente ter agredido o
se inicie pela que foi realizada em primeiro lugar. suspeito.
Poderão ser recolhidos os seguintes vestígios 7. As peças de vestuário utilizadas pela vítima
biológicos: no momento ou após a agressão, que
deverão ser embaladas separadamente
1. Zaragatoas bucais. Os eventuais vestígios em sacos ou envelopes de papel. Recolher
de sémen recolhem-se com zaragatoas apenas as roupas que, de acordo com a
estéreis, que se passam suavemente nos ocorrência, possam conter eventuais vestí-
espaços entre os dentes e nas zonas onde gios biológicos do agressor evitando deste
os espermatozóides têm tendência a de- modo uma recolha indiscriminada que di-
positar-se (zona inferior das gengivas e ficulta o trabalho laboratorial e em nada
32 MARIA JOÃO ANJOS PORTO

ajuda a investigação. As roupas devem ser


pouco manipuladas para evitar a perda de – Amostras de referência da vítima – seguir
eventuais vestígios e, sempre que possível, o recomendado em 4.1.1. e 4.1.2. No
devem ser registadas as zonas que com caso de a vítima ter sofrido penetração
maior probabilidade poderão conter ma- oral, efectuar apenas colheita de sangue,
terial biológico do agressor. dado que a zaragatoa bucal poderá estar
8. Lenços de papel, ou objectos íntimos (p.e. contaminada com material biológico do
pensos higiénicos) que a vítima possa ter agressor.
utilizado após a agressão, que deverão – Amostras de referência do suspeito – se-
estar secos antes de ser embalados em guir o recomendado em 4.1.1. e 4.1.2.
embalagens apropriadas, nomeadamente
sacos ou envelopes de papel e, os pre- Em determinadas situações poder-se-á jus-
servativos utilizados pelo agressor que tificar a recolha de cabelos ou pêlos púbicos da
deverão ser colhidos de acordo com o vítima para se proceder ao estudo das característi-
referido em 5.4.2. cas morfológicas e comparação com as dos pêlos
9. Se aplicável, as roupas de cama utilizadas considerados suspeitos de pertencerem ao agressor.
durante a agressão (p.e. lençóis, colchas,
cobertores, etc.) ou as utilizadas para a
vítima e/ou o agressor se limparem após a 8 . R ECO L H A D E A M OS T R A S E M
agressão (p.e. toalhas). No caso das rou- I N V ES T I G AÇÕ ES B I O LÓ G I C A S D E
pas de cama, indicar se possível a posição PA R E N T ESCO
relativa em que se encontravam dispostas
na cama, assinalar eventuais manchas que 8.1. PRETENSO PAI, FILHO E /OU MÃE VIVOS
tenham sido previamente detectadas ou
indicar as zonas prováveis para a existên- A grande maioria das investigações bioló-
cia de manchas de acordo com o relato gicas de parentesco refere-se a investigações da
da vítima. Este procedimento é uma mais paternidade biológica nas quais se apresentam
valia para o laboratório que tem de ana- a exame o pretenso pai, o filho e a mãe. Nestes
lisar peças de grande tamanho e nem casos, a cada interveniente no processo deve ser
sempre dispõe de superfícies adaptadas efectuada uma zaragatoa bucal e uma mancha
à dimensão destes objectos. de sangue devendo ser seguido o recomendado
em 4.1.1. e 4.1.2. Nos casos em que não é pos-
7.3. RECOLHA DE AMOSTRAS DE REFERÊNCIA sível efectuar a recolha de ambos os materiais
biológicos, deverá ser recolhido um deles em
Para efectuar o estudo comparativo com duplicado. O mesmo procedimento deverá ser
o material biológico recolhido durante o exame adoptado quando se investigam outras relações
sexual, será necessário dispor de: de parentesco.
CAPÍTULO 1. Colheita e Acondicionamento de Amostras Biológicas para Identificação Genética 33

8.2. PRETENSO PAI FALECIDO efectuada uma zaragatoa bucal e uma mancha
de sangue devendo ser seguido o recomendado
8.2.1. Análise a partir de ossos e dentes em 4.1.1. e 4.1.2.
procedentes do cadáver exumado
8.3. INVESTIGAÇÃO DE PATERNIDADE
Nos casos em que o pretenso pai já faleceu é A PARTIR DE RESTOS FETAIS
frequente recorrer-se à colheita de material bioló-
gico do cadáver exumado. As amostras que mais Seguir o recomendado em 5.7. para a reco-
resistem à degradação são os ossos e dentes, lha de restos fetais e em 4.1.1. e 4.1.2. para as
pelo que deverão ser colhidos de acordo com o amostras de referência do pretenso pai e da mãe.
recomendado em 4.4.1. e 4.4.2. Nos casos em que a recolha é realizada na
Nalgumas situações excepcionais é ain- sequência de um abortamento clínico, p.e. efec-
da possível efectuar a recolha de algum tecido tuado em casos de investigações de paternidade
muscular mais resistente à putrefacção, podendo criminais, a colheita de material biológico do em-
também este material biológico ser objecto de brião/feto deve ser cuidadosa de modo a prevenir
estudo dado que permite obter resultados de uma eventuais contaminações com material biológico
forma mais rápida e menos onerosa, quando a materno. Quanto mais reduzido for o tempo de
quantidade/qualidade de DNA é suficiente para gestação mais difícil será fazer a colheita, nomea-
tal (seguir o recomendado em 4.3.2.). No caso damente nos casos em que o embrião se encontra
de o cadáver ainda se encontrar com unhas, esta ainda numa fase precoce do seu desenvolvimen-
amostra deverá ser recolhida de acordo com o to; nestas situações a separação entre o material
descrito em 4.4.3. fetal e o material materno deve ocorrer durante
a colheita, com a ajuda do médico obstetra ou
8.2.2. Análise a partir de amostras de um patologista. Quando o tempo de gestação
biológicas existentes em centros o permitir, poderá ser realizada uma mancha de
hospitalares ou em ambiente familiar sangue do feto a partir das cavidades cardíacas.

Se disponíveis, poderá recorrer-se a amostras


armazenadas em centros hospitalares ou exis- 9. R ECO L H A D E A M OS T R A S
tentes em ambiente familiar (ver 4.7.1. e 4.7.2.). E M G R A N D ES C ATÁ S T RO FES
O U D ESA S T R ES D E M A SSA
8.2.3. Análise a partir de amostras biológicas
provenientes de familiares do falecido Nas grandes catástrofes ou desastres de
massa é necessário recolher material biológico
O perfil genético do pretenso pai poderá de todos os cadáveres e restos humanos para
ser deduzido a partir dos seus familiares. Nestes uma eventual análise de DNA, mesmo que al-
casos, a cada interveniente no processo deve ser gumas vítimas estejam já identificadas através
34 MARIA JOÃO ANJOS PORTO

do reconhecimento pelos seus familiares (pelas devem relacionar as respectivas amostras


suas características físicas ou pertences pessoais) com a vítima que se pretende identificar;
ou através de perícias de Antropologia Forense,
Dactiloscopia, Odontologia, ou Radiologia. – O procedimento de recolha e as pre-
A recolha de amostras para identificação cauções que devem ser tomadas para
genética tem particular relevância quando existem minimizar os riscos de contaminação;
situações de alto impacto em que as vítimas ficam
muito fragmentadas, permitindo deste modo fazer – A cadeia de custódia.
a associação ou exclusão de restos humanos e
de cadáveres, e também nas situações em que
existam dúvidas ou discrepâncias relativamente 9.1. AMOSTRAS POST-MORTEM
a outros métodos de identificação; permite ain-
da identificar outros familiares que possam estar Os cuidados tidos durante o processo de
desaparecidos. A identificação genética baseia- recolha das amostras post-mortem, a rapidez da
-se nos estudos comparativos efectuados a partir sua recuperação e o método de preservação a que
dos perfis de DNA obtidos nas amostras post- foram submetidas, determina o sucesso dos resul-
-mortem (dos cadáveres e restos cadavéricos) tados. Um dos grandes problemas relativamente
e nas amostras de referência (ante-mortem e à preservação das amostras coloca-se quando
familiares das vítimas). não é possível dispor de equipamentos de frio
A grande complexidade destas situações que permitam a conservação ou congelamento
leva a que a recolha tenha de ser efectuada por das mesmas de modo a travar os processos de
pessoal com formação específica nesta área, que degradação. Actualmente existem soluções de
deve ter particular cuidado com: conservação (p.e. Genofix), que permitem o arma-
zenamento à temperatura ambiente de amostras
– A identificação das amostras que deve biológicas para fins de identificação genética.
ser inequívoca e invariável ao longo de Quando as vítimas se encontram fragmen-
todo o processo de modo a evitar erros; tadas existe o risco de sangue ou tecidos de um
indivíduo se transferirem e agregarem a restos
– O preenchimento da documentação cadavéricos de outro indivíduo, o que pode levar
que as acompanha, devendo existir for- a associações erradas dos fragmentos dos cadá-
mulários específicos para o efeito referen- veres ou ainda à obtenção de perfis genéticos
tes a amostras post-mortem, amostras de de mistura. Este tipo de situações pode ocorrer
referência de familiares ou amostras ante- nomeadamente nos desastres de massa com alto
-mortem (objectos pessoais ou amostras impacto, como foi o caso do ocorrido nos EUA a
biológicas das vítimas). Os formulários 11 de Setembro de 2001. Nestes casos terá de ser
destinados a amostras de referência definido o tamanho mínimo do fragmento a ser
de familiares e amostras ante-mortem recuperado para análise (em geral de 1-10 cm),
CAPÍTULO 1. Colheita e Acondicionamento de Amostras Biológicas para Identificação Genética 35

que deverá permitir ao laboratório a obtenção das mesmas, sendo necessária a assinatura de
de informação genética relevante. um documento que autorize expressamente a
O tipo de amostra mais adequado para aná- utilização da amostra recolhida para fins de iden-
lise de DNA depende das características da catás- tificação genética. Deverá ainda ser assegurada
trofe e do estado em que se encontram os restos a autenticidade da identificação do examinado,
cadavéricos. As amostras que com mais frequência nomeadamente mediante apresentação do do-
se encontram disponíveis para análise são: cumento de identificação do qual é feita cópia
a integrar no processo, e ser bem estabeleci-
– Músculo esquelético; da a relação de parentesco entre o dador e a
– Fragmentos de órgãos; vítima mediante a elaboração de uma árvore
– Pele; genealógica. Devem ainda ser referidos outros
– Sangue. familiares que possam estar disponíveis como
dadores no caso de ser necessário recorrer a
Dependendo do estado em que o cadáver estudos complementares.
se encontra, deverão ser seguidas as recomenda- Deve ser realçado o facto de poderem existir
ções descritas em 4.3. (cadáveres em bom estado dentro do núcleo familiar relações não biológicas
de conservação), 4.4. (cadáveres em avançado (p.e. filhos adoptados ou exclusões da paterni-
estado de putrefacção) ou 4.5. (cadáveres car- dade), que deverão ser tidas em consideração de
bonizados). modo a haver uma correcta interpretação dos
Nos casos em que as amostras se encontram resultados.
degradadas, deverá também ser equacionada a
possibilidade de se poderem recolher amostras 9.2.1. Familiares mais adequados
de mais fácil extracção (nomeadamente zaraga-
toas) para além da recolha de ossos e dentes. A Os familiares mais adequados para permi-
identificação genética que eventualmente possa tir uma identificação positiva do cadáver, são os
ser conseguida nestas zaragatoas justifica todo seguintes, por ordem de prioridade:
o trabalho adicional que é requerido no acto de
recolha, dado que permite a obtenção de re- Ascendentes e descendentes directos
sultados num menor espaço de tempo e com
menos custos. – Pai e mãe biológicos do falecido – se não
for possível obter amostras de ambos os
9.2. AMOSTRAS DE REFERÊNCIA progenitores, efectuar a recolha a apenas
DE FAMILIARES um deles;

A colheita de amostras de referência de – Cônjuge e filhos do falecido – se não


familiares de pessoas desaparecidas deve ser for possível obter amostras do cônjuge,
efectuada com o consentimento livre e informado efectuar a recolha apenas aos filhos.
36 MARIA JOÃO ANJOS PORTO

Irmãos do falecido O laboratório de genética forense deve fazer uma


selecção dos objectos que à partida permitem um
– Fazer a recolha aos irmãos disponíveis, maior rendimento na extracção de DNA:
nomeadamente aos do sexo masculino
se a vítima for um homem, para averi- – Escovas de dentes;
guação da linhagem paterna, para além – Lâminas ou máquinas de barbear;
da materna. – Pentes e escovas de cabelo;
– Roupa interior;
Outros familiares – Dentes previamente extraídos (nomea-
damente dentes de leite);
– Se não for possível dispor de amostras de – Gorros;
referência dos familiares anteriormente – Copos;
descritos, deve ser feita a recolha nou- – Fronhas;
tros familiares que partilhem a linhagem – Relógios de pulso e joalharia;
paterna e/ou materna (avós, tios, primos, – Toalhas;
etc.). – Roupa exterior;
– Sapatos, etc.
9.2.2. Amostras biológicas
A utilização deste tipo de amostras como
Aos familiares das vítimas deverão ser colhi- sendo de referência da vítima deve no entanto
das amostras de saliva e sangue, de acordo com prever a eventualidade de poderem conter mate-
o referido em 4.1.1. e 4.1.2., respectivamente. rial biológico de outras pessoas do seu ambiente
familiar. Se possível, o perfil genético identificado
9.3. AMOSTRAS ANTE-MORTEM nos objectos pessoais deverá ser comparado com
familiares para assegurar que existem relações de
As amostras ante-mortem têm a vantagem parentesco. Os formulários respeitantes a este
de permitir uma comparação directa com os re- tipo de amostras deverão referir os familiares que
sultados obtidos no cadáver. Devem ser recolhidas eventualmente os possam ter utilizado.
individualmente, em recipientes adaptados ao seu
tamanho e, sempre que possível, em embalagens
de papel ou cartão. 9.3.2. Amostras de centros hospitalares
ou outros
9.3.1. Objectos pessoais em ambiente familiar
Deverá ser averiguada a possibilidade de
Os objectos pessoais são normalmente fáceis existirem amostras das vítimas em centros hos-
de obter, mas contêm muitas vezes quantidades pitalares, nomeadamente amostras de sangue
diminutas de DNA o que dificulta a sua análise. ou esperma, biopsias e tecidos para exames
CAPÍTULO 1. Colheita e Acondicionamento de Amostras Biológicas para Identificação Genética 37

histológicos. As bases de dados de perfis de DNA 10.1.1. Solicitação do exame por voluntário
para fins de identificação civil e criminal poderão ou por familiar de pessoa desaparecida
também ser utilizadas para fazer a identificação
das vítimas. O voluntário ou familiar de pessoa desapa-
recida solicita a realização da colheita da amostra
para obtenção do perfil de DNA às entidades
10 . R ECO L H A D E A M OS T R A S competentes para a análise laboratorial, de acordo
PA R A EFE I TOS DA BA SE com o anexo I.
D E DA D OS D E P E R F I S D E D N A
10.1.1.1. Informação
A Lei n.º 5/2008 de 12 de Fevereiro aprovou
a criação de uma base de dados de perfis de O sujeito que vai realizar a colheita de ma-
DNA para fins de identificação civil e criminal, terial biológico goza do direito de informação
regulamentada pela Deliberação n.º 3191/2008 pelo que, previamente à recolha de amostras,
de 3 de Dezembro. é entregue um documento com as informações
constantes do artigo 9.º da Lei n.º 5/2008 de 12
10.1. DOCUMENTAÇÃO de Fevereiro, de acordo com o anexo III.

De modo a instruir o processo dos serviços 10.1.1.2. Consentimento


que realizam a análise das amostras com vista à
obtenção do perfil de DNA e posterior envio da A recolha de amostras em voluntários ou em
informação necessária para o ficheiro de dados parentes de pessoas desaparecidas para fins de
pessoais, a colheita de material biológico deve identificação civil, carece de consentimento livre,
ser acompanhada de documentação específica, informado e escrito e com autorização expressa
de acordo com o previsto na Lei n.º 5/2008 de para obtenção do seu perfil de DNA, inserção,
12 de Fevereiro e o publicado na Deliberação n.º comunicação e interconexão, prestado no ane-
3191/2008 de 3 de Dezembro (anexos I, II-A, xo II-A (voluntários) e anexo II-B (parentes de
II-B, II-C, II-D e III). pessoas desaparecidas).
As entidades que procedem à recolha de- Quando se trate de menores ou incapazes,
vem assegurar a autenticidade da identificação a recolha de amostras para fins de identificação
do examinado, efectuada através de: civil depende de autorização judicial.

– Apresentação do documento de identi- 10.1.2. Recolha de amostras para fins de


ficação, do qual é feita cópia; investigação criminal
– Recolha de impressão digital;
– Fotografia, para a qual tenha sido pre- A recolha de amostras para fins de in-
viamente solicitado o consentimento. vestigação criminal deverá ser ordenada por
38 MARIA JOÃO ANJOS PORTO

entidade competente para o efeito, de acordo 11. P R ESE RVAÇ ÃO DA S A M OS T R A S


com o previsto na Lei 5/2008 de 12 de Fevereiro, B I O LÓ G I C A S
acompanhada do acórdão condenatório nos
casos de condenados por crime doloso com A ausência de cuidados específicos durante
pena concreta de prisão igual ou superior a 3 o armazenamento e transporte das amostras
anos. Sempre que se pretenda a inserção do biológicas pode conduzir a uma deterioração
perfil genético do arguido na base de dados das mesmas e, no limite, à ausência de resulta-
de perfis de DNA, esta intenção deverá ser dos. No entanto, se as amostras forem preserva-
expressamente mencionada pelo magistrado das em condições ideais, o DNA nelas existente
que ordena a recolha. pode manter-se inalterável durante um longo
período de tempo. A degradação do material
10.1.2.1. Informação biológico leva a uma diminuição da integridade
das células e consequentemente à redução da
O sujeito que vai realizar a colheita de ma- quantidade e qualidade do DNA. As moléculas
terial biológico goza do direito de informação de DNA resistem melhor à degradação se es-
pelo que, previamente à recolha de amostras, tiverem secas e sem humidade, não devendo
é entregue um documento com as informações estar expostas a altas temperaturas, condições
constantes do artigo 9.º da Lei n.º 5/2008 de 12 que inibem também a proliferação bacteriana.
de Fevereiro, de acordo com o anexo III. Deste modo, uma amostra de sangue colhida
O anexo II-C (condenados) e o anexo II-D numa zaragatoa deve ser previamente seca à
(arguidos) deverão ser correctamente preenchidos, temperatura ambiente antes de ser embalada
sem rasuras. e selada para transporte.
As amostras biológicas deverão ser cor-
10.1.3. Cadeia de custódia rec tamente embaladas para garantir uma
adequada preservação até à sua chegada ao
Como em qualquer outro procedimento laboratório e os recipientes (adequados ao ta-
relacionado com a colheita de amostras biológi- manho das amostras), deverão estar selados e
cas, deve ser assegurada a respectiva cadeia de devidamente identificados de modo a garantir
custódia das amostras. a integridade e autenticidade das amostras.
Uma vez colhidas, as amostras deverão ser
10.2. AMOSTRAS BIOLÓGICAS rapidamente enviadas ao laboratório de ge-
nética forense para análise.
A recolha de amostras é realizada em du- Uma vez chegadas ao laboratório, as evi-
plicado através de método não invasivo, pelo dências poderão ser armazenadas a diferentes
que se deverão recolher duas zaragatoas temperaturas que vão desde a temperatura am-
bucais (proceder de acordo com o referido biente até aos -80ºC, dependendo do tipo de
em 4.1.1.) amostra. Dado o grande volume de espaço que
CAPÍTULO 1. Colheita e Acondicionamento de Amostras Biológicas para Identificação Genética 39

os vestígios biológicos podem ocupar, existe 12 . R EC E P Ç ÃO DA S A M OS T R A S


por parte dos laboratórios forenses alguma di- B I O LÓ G I C A S N O L A B O R ATÓ R I O
ficuldade no seu armazenamento em ambiente
refrigerado. Em amostras que necessitam de re- Após a recepção das amostras, o laboratório
frigeração, o mais comum é o armazenamento a deverá:
-20ºC, sendo a temperatura de -80ºC reservada – Manter a cadeia de custódia;
a amostras que se encontram já degradadas ou – Verificar se o material recebido confere
que se prevê poderem vir a degradar-se facil- com o formulário que as acompanha;
mente. A criopreservação através da utilização – Comprovar que as amostras estão bem
de azoto líquido seria desejável para um arma- acondicionadas e que as embalagens es-
zenamento prolongado, sendo no entanto im- tão íntegras;
praticável. De modo a minimizar a degradação – Verificar se a identificação das amostras
das amostras, devem ser evitadas as flutuações se encontra correcta;
de temperatura tal como acontece nos ciclos – Fotografar as amostras e verificar o seu
de congelação-descongelação. estado de conservação;
– Manter as condições apropriadas de ar-
Devem ser tomadas as necessárias precau- mazenamento.
ções para evitar destruir ou consumir totalmente
a amostra biológica que se pretende analisar, de
modo a que uma porção da mesma possa ficar
disponível para uma eventual re-análise, se ne-
cessário.

De um modo geral:

– As amostras que estejam completamen-


te secas (manchas de sangue, sémen e
saliva, crostas, raspados, unhas, pêlos,
dentes e ossos desprovidos de tecidos
moles, etc.), podem ser preservadas à
temperatura ambiente.
– Os vestígios líquidos, vestígios húmidos,
tecidos moles, órgãos, ossos com tecidos
aderentes ou contendo medula, dentes
com polpa etc., devem ser refrigerados
uma vez que sofrem uma rápida degra-
dação.
40 MARIA JOÃO ANJOS PORTO

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Série, nº 30), que aprova a criação de uma base de dados
de perfis de ADN para fins de identificação civil e criminal.

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