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MATERIAL DE APOIO

Disciplina: Direito Processual Penal


Professor: Paulo Henrique Fuller
Aulas: 03 e 04

ANOTAÇÃO DE AULA

SUMÁRIO

COMPETÊNCIA (continuação)
1. Competência Comum Federal
1.1. Artigo 109 e incisos da Constituição Federal
1.2. Incidente de deslocamento de competência

COMPETÊNCIA

1. Competência Comum Federal

1.1. Artigo 109 e incisos da Constituição Federal (continuação)

Art. 109. Aos juízes federais compete processar e julgar:


(...)
IV - os crimes políticos e as infrações penais praticadas em detrimento
de bens, serviços ou interesse da União ou de suas entidades
autárquicas ou empresas públicas, excluídas as contravenções e
ressalvada a competência da Justiça Militar e da Justiça Eleitoral;

Os crimes praticados por ou contra servidores públicos federais também incidirão na competência da Justiça
Comum Federal. Caso o servidor seja réu é imprescindível que o crime tenha sido cometido no exercício de sua
função, por exemplo, no caso da prática do crime de peculato (artigo 312 do Código Penal), crime de concussão
(artigo 316 do Código Penal) ou ainda corrupção passiva (artigo 317 do Código Penal). Utiliza-se a súmula 254 do
antigo e extinto Tribunal Federal de Recursos (hoje STJ), aplicando-se o mesmo entendimento:

Súmula 254/TFR: “Compete à Justiça Federal processar e julgar os


delitos praticados por funcionário público federal no exercício de suas
funções e com estas relacionados.” 26/10/2015. Competência. Justiça
Federal. Delito praticado por funcionário público federal no exercício
da função. CF/67, art. 125, IV.

Caso o servidor público federal seja vítima é necessário que o crime tenha nexo com a função federal deste para
que incida na competência da Justiça comum Federal, por exemplo no caso do crime de desacato (artigo 331 do
Código Penal). Da mesma forma Utiliza-se a súmula 147 do STJ, vejamos:

STJ - Súmula 147: Compete à Justiça Federal processar e julgar os


crimes praticados contra funcionário público federal, quando
relacionados com o exercício da função.

Igualmente, caso ocorra a prática de homicídio (artigo 121 do Código Penal) contra funcionário público federal, a
competência será da Justiça Comum Federal.

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Em suma, se o crime não possuir nexo com a função pública federal não haverá interesse da União e a competência
será da Justiça Comum Estadual.

O crime de falsificação de moeda (artigo 289 do Código Penal) afeta a fé pública da União e possui competência da
Justiça comum Federal, entretanto, se a falsificação for grosseira, ou seja, se for inapta a enganar o homem médio,
ensejará crime impossível (artigo 17 do Código Penal), logo, fato atípico.

Atenção: mesmo que a falsificação seja grosseira esta ensejará o crime de estelionato (artigo 171 do Código Penal),
e a competência será da Justiça Comum Estadual, pois não afeta diretamente o interesse da União (“B.I.S.” da
União, conforme explicado na última aula). Assim dispõe a súmula 73 do STF:

STJ - Súmula 73: A utilização de papel moeda grosseiramente


falsificado configura, em tese, o crime de estelionato, da competência
da Justiça Estadual.

O inciso V do artigo 109 da Constituição Federal/88 aponta dois requisitos para gerar competência da Justiça
comum Federal, vejamos:

Art. 109. Aos juízes federais compete processar e julgar:


(...)
V - os crimes previstos em tratado ou convenção internacional, quando, iniciada a
execução no País, o resultado tenha ou devesse ter ocorrido no estrangeiro, ou
reciprocamente;

O primeiro deles aponta que deve tratar de crime cuja repressão seja prevista em tratado ou convenção
internacional. O segundo aponta a necessidade de ser considerado crime a distância (crime de espaço máximo).
Considera-se crime a distância aquele cuja execução se inicia em um país e sua consumação ocorre, ou deveria
ocorrer, em outro território, por exemplo, no caso de tráfico internacional de drogas. Vejamos a súmula 522 do STF
e o artigo 70 da Lei 11.343/2006:

SÚMULA 522
Salvo ocorrência de tráfico para o Exterior, quando, então, a
competência será da Justiça Federal, compete à Justiça dos Estados o
processo e julgamento dos crimes relativos a entorpecentes.

Art. 70. O processo e o julgamento dos crimes previstos nos arts. 33 a


37 desta Lei, se caracterizado ilícito transnacional, são da competência
da Justiça Federal.

O inciso VI do artigo 109 da Constituição Federal/88 aponta a Competência Federal para os crimes cometidos contra
a organização do trabalho e em casos previstos em lei contra sistema financeiro e a ordem econômico-financeira.

Art. 109. Aos juízes federais compete processar e julgar:


(...)

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VI - os crimes contra a organização do trabalho e, nos casos
determinados por lei, contra o sistema financeiro e a ordem
econômico-financeira;

No tocante aos crimes contra a organização do trabalho, previstos nos artigos 197 à 207 do Código Penal, o STF
entende que o dispositivo constitucional abarca também o artigo 149 do mesmo diploma legal, que dispõe sobre o
crime de redução à condição análoga a escravo.

Ademais, o STJ entende que, para ensejar competência da Justiça Comum Federal, é necessário que haja uma lesão
coletiva aos direitos dos trabalhadores, e que as lesões havidas na esfera individual serão de competência da Justiça
Comum Estadual. Assim dispõe a súmula 115 do antigo e extinto Tribunal Federal de Recursos:

Súmula 115/TFR: Compete à Justiça Federal processar e julgar os


crimes contra a organização do trabalho, quando tenham por objeto a
organização geral do trabalho ou direitos dos trabalhadores
considerados coletivamente. 26/10/2015. Crimes contra a
organização do trabalho. Competência. Justiça do Federal.

A segunda parte do inciso VI do referido dispositivo determina que o crime concomitantemente afete a ordem
econômica ou o sistema financeiro e exista determinação legal desta competência (federal) em lei própria. Ou seja,
para ser competência da justiça comum Federal não basta o crime ser contra a ordem econômica ou contra o
sistema financeiro, pois é preciso que a lei própria determine a competência da justiça federal para apreciação de
tais crimes.

A única lei que satisfaz esses requisitos é a Lei dos Crimes Contra o Sistema Financeiro Nacional (Lei 7.492/86), que
em seu artigo 26 coloca todos os crimes sujeitos à competência da Justiça Comum Federal.

Art. 26. A ação penal, nos crimes previstos nesta lei, será promovida
pelo Ministério Público Federal, perante a Justiça Federal.

Atenção: embora seja contra a ordem econômica, os crimes previsto no artigo 4º da Lei 8.137/90 serão de
competência da Justiça Comum Estadual. Isso porque a referida lei não determina a competência federal.

O STF manteve a competência da Justiça Comum Estadual para os crimes contra a economia popular (Lei 1.521/51):

SÚMULA 498
Compete à Justiça dos Estados, em ambas as instâncias, o processo e
o julgamento dos crimes contra a economia popular.

O artigo 109 da Constituição Federal, em seu inciso IX, prevê a competência da Justiça Comum Estadual para crimes
cometidos à bordo de navios e aeronaves. Nesse sentido, é importante ressaltar que não se trata de qualquer
embarcação, e sim embarcações de grande porte que possuem potencial de deslocamento internacional. Se o
crime, por exemplo é cometido em uma lancha, a competência não será federal e sim estadual.

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Diferentemente, tratando-se de aeronave não se discute o tamanho e sim se o crime é cometido abordo da
aeronave em solo ou em voo. Entende-que que basta estar abordo, ainda que aeronave esteja em solo.

Atenção: Contravenção penal é sempre de competência da Justiça Comum Estadual, ainda que praticada abordo
de navio ou aeronave.

O inciso X do dispositivo constitucional estudado trata do estrangeiro irregular, apontando a competência da Justiça
Comum Federal aos crimes previstos nos artigos 309 e 338 do Código Penal e 125 do Estatuto do Estrangeiro (Lei
6.815/80):

Art. 109. Aos juízes federais compete processar e julgar:


(...)
X - os crimes de ingresso ou permanência irregular de estrangeiro, a
execução de carta rogatória, após o "exequatur", e de sentença
estrangeira, após a homologação, as causas referentes à
nacionalidade, inclusive a respectiva opção, e à naturalização;

Art. 309 - Usar o estrangeiro, para entrar ou permanecer no território


nacional, nome que não é o seu

Art. 338 - Reingressar no território nacional o estrangeiro que dele foi


expulso

Art. 125. Constitui infração, sujeitando o infrator às penas aqui


cominadas: (Renumerado pela Lei nº 6.964, de 09/12/81)
(...)
XII - introduzir estrangeiro clandestinamente ou ocultar clandestino ou
irregular:
Pena: detenção de 1 (um) a 3 (três) anos e, se o infrator for
estrangeiro, expulsão.
XIII - fazer declaração falsa em processo de transformação de visto, de
registro, de alteração de assentamentos, de naturalização, ou para a
obtenção de passaporte para estrangeiro, laissez-passer, ou, quando
exigido, visto de saída:
Pena: reclusão de 1 (um) a 5 (cinco) anos e, se o infrator for
estrangeiro, expulsão.

O artigo 109, XI, também atribui competência à Justiça Comum Federal aos crimes que envolvam disputas acerca
de Direitos indígenas:

Art. 109. Aos juízes federais compete processar e julgar:


(...)
XI - a disputa sobre direitos indígenas.

Entretanto, não basta que o índio seja sujeito ativo ou passivo do crime. O crime, para subordinar-se à competência
da Justiça Comum Federal, deverá afetar a comunidade indígena como um todo, por exemplo, no caso em que 12

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índios foram vítimas de homicídio no ensejo de uma disputa pelas terras de uma reserva indígena. Vejamos a
súmula 140 do STJ:

STJ - Súmula 140


Compete à Justiça Comum Estadual processar e julgar crime em que o
indígena figure como autor ou vítima.

2. Incidente de deslocamento de competência

O artigo 109, V-A e parágrafo 5º da Constituição Federal/88 dispõem acerca do incidente de deslocamento de
competência dos crimes da Justiça Comum Estadual para Justiça Comum Federal, também chamado de fenômeno
da federalização da competência.

O referido fenômeno ocorrerá nos casos de grave violação de Direitos Humanos a que o Brasil tenha se
comprometido, devendo o Procurador Geral da República propor perante o STJ o incidente a qualquer momento
da persecução penal, desde a fase de inquérito ou processo. Então, o STJ poderá julgar o incidente procedente,
deslocando a competência para Justiça Comum Federal, ou improcedente, para manter a competência da Justiça
Comum Estadual. Exemplo: caso Dorothy Stang.

Art. 109. Aos juízes federais compete processar e julgar:


(...)
V-A as causas relativas a direitos humanos a que se refere o § 5º deste
artigo;
(...)
§ 5º Nas hipóteses de grave violação de direitos humanos, o
Procurador-Geral da República, com a finalidade de assegurar o
cumprimento de obrigações decorrentes de tratados internacionais de
direitos humanos dos quais o Brasil seja parte, poderá suscitar,
perante o Superior Tribunal de Justiça, em qualquer fase do inquérito
ou processo, incidente de deslocamento de competência para a Justiça
Federal. (Incluído pela Emenda Constitucional nº 45, de 2004)

Atenção: Apenas haverá o deslocamento da competência se for verificada a ineficácia ou inoperância da Justiça
Estadual. O incidente sempre deverá seguir o rito disposto no artigo constitucional.

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