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ANOTAÇÃO DE AULA
SUMÁRIO
COMPETÊNCIA (continuação)
1. Competência Comum Federal
1.1. Artigo 109 e incisos da Constituição Federal
1.2. Incidente de deslocamento de competência
COMPETÊNCIA
Os crimes praticados por ou contra servidores públicos federais também incidirão na competência da Justiça
Comum Federal. Caso o servidor seja réu é imprescindível que o crime tenha sido cometido no exercício de sua
função, por exemplo, no caso da prática do crime de peculato (artigo 312 do Código Penal), crime de concussão
(artigo 316 do Código Penal) ou ainda corrupção passiva (artigo 317 do Código Penal). Utiliza-se a súmula 254 do
antigo e extinto Tribunal Federal de Recursos (hoje STJ), aplicando-se o mesmo entendimento:
Caso o servidor público federal seja vítima é necessário que o crime tenha nexo com a função federal deste para
que incida na competência da Justiça comum Federal, por exemplo no caso do crime de desacato (artigo 331 do
Código Penal). Da mesma forma Utiliza-se a súmula 147 do STJ, vejamos:
Igualmente, caso ocorra a prática de homicídio (artigo 121 do Código Penal) contra funcionário público federal, a
competência será da Justiça Comum Federal.
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Em suma, se o crime não possuir nexo com a função pública federal não haverá interesse da União e a competência
será da Justiça Comum Estadual.
O crime de falsificação de moeda (artigo 289 do Código Penal) afeta a fé pública da União e possui competência da
Justiça comum Federal, entretanto, se a falsificação for grosseira, ou seja, se for inapta a enganar o homem médio,
ensejará crime impossível (artigo 17 do Código Penal), logo, fato atípico.
Atenção: mesmo que a falsificação seja grosseira esta ensejará o crime de estelionato (artigo 171 do Código Penal),
e a competência será da Justiça Comum Estadual, pois não afeta diretamente o interesse da União (“B.I.S.” da
União, conforme explicado na última aula). Assim dispõe a súmula 73 do STF:
O inciso V do artigo 109 da Constituição Federal/88 aponta dois requisitos para gerar competência da Justiça
comum Federal, vejamos:
O primeiro deles aponta que deve tratar de crime cuja repressão seja prevista em tratado ou convenção
internacional. O segundo aponta a necessidade de ser considerado crime a distância (crime de espaço máximo).
Considera-se crime a distância aquele cuja execução se inicia em um país e sua consumação ocorre, ou deveria
ocorrer, em outro território, por exemplo, no caso de tráfico internacional de drogas. Vejamos a súmula 522 do STF
e o artigo 70 da Lei 11.343/2006:
SÚMULA 522
Salvo ocorrência de tráfico para o Exterior, quando, então, a
competência será da Justiça Federal, compete à Justiça dos Estados o
processo e julgamento dos crimes relativos a entorpecentes.
O inciso VI do artigo 109 da Constituição Federal/88 aponta a Competência Federal para os crimes cometidos contra
a organização do trabalho e em casos previstos em lei contra sistema financeiro e a ordem econômico-financeira.
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VI - os crimes contra a organização do trabalho e, nos casos
determinados por lei, contra o sistema financeiro e a ordem
econômico-financeira;
No tocante aos crimes contra a organização do trabalho, previstos nos artigos 197 à 207 do Código Penal, o STF
entende que o dispositivo constitucional abarca também o artigo 149 do mesmo diploma legal, que dispõe sobre o
crime de redução à condição análoga a escravo.
Ademais, o STJ entende que, para ensejar competência da Justiça Comum Federal, é necessário que haja uma lesão
coletiva aos direitos dos trabalhadores, e que as lesões havidas na esfera individual serão de competência da Justiça
Comum Estadual. Assim dispõe a súmula 115 do antigo e extinto Tribunal Federal de Recursos:
A segunda parte do inciso VI do referido dispositivo determina que o crime concomitantemente afete a ordem
econômica ou o sistema financeiro e exista determinação legal desta competência (federal) em lei própria. Ou seja,
para ser competência da justiça comum Federal não basta o crime ser contra a ordem econômica ou contra o
sistema financeiro, pois é preciso que a lei própria determine a competência da justiça federal para apreciação de
tais crimes.
A única lei que satisfaz esses requisitos é a Lei dos Crimes Contra o Sistema Financeiro Nacional (Lei 7.492/86), que
em seu artigo 26 coloca todos os crimes sujeitos à competência da Justiça Comum Federal.
Art. 26. A ação penal, nos crimes previstos nesta lei, será promovida
pelo Ministério Público Federal, perante a Justiça Federal.
Atenção: embora seja contra a ordem econômica, os crimes previsto no artigo 4º da Lei 8.137/90 serão de
competência da Justiça Comum Estadual. Isso porque a referida lei não determina a competência federal.
O STF manteve a competência da Justiça Comum Estadual para os crimes contra a economia popular (Lei 1.521/51):
SÚMULA 498
Compete à Justiça dos Estados, em ambas as instâncias, o processo e
o julgamento dos crimes contra a economia popular.
O artigo 109 da Constituição Federal, em seu inciso IX, prevê a competência da Justiça Comum Estadual para crimes
cometidos à bordo de navios e aeronaves. Nesse sentido, é importante ressaltar que não se trata de qualquer
embarcação, e sim embarcações de grande porte que possuem potencial de deslocamento internacional. Se o
crime, por exemplo é cometido em uma lancha, a competência não será federal e sim estadual.
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Diferentemente, tratando-se de aeronave não se discute o tamanho e sim se o crime é cometido abordo da
aeronave em solo ou em voo. Entende-que que basta estar abordo, ainda que aeronave esteja em solo.
Atenção: Contravenção penal é sempre de competência da Justiça Comum Estadual, ainda que praticada abordo
de navio ou aeronave.
O inciso X do dispositivo constitucional estudado trata do estrangeiro irregular, apontando a competência da Justiça
Comum Federal aos crimes previstos nos artigos 309 e 338 do Código Penal e 125 do Estatuto do Estrangeiro (Lei
6.815/80):
O artigo 109, XI, também atribui competência à Justiça Comum Federal aos crimes que envolvam disputas acerca
de Direitos indígenas:
Entretanto, não basta que o índio seja sujeito ativo ou passivo do crime. O crime, para subordinar-se à competência
da Justiça Comum Federal, deverá afetar a comunidade indígena como um todo, por exemplo, no caso em que 12
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índios foram vítimas de homicídio no ensejo de uma disputa pelas terras de uma reserva indígena. Vejamos a
súmula 140 do STJ:
O artigo 109, V-A e parágrafo 5º da Constituição Federal/88 dispõem acerca do incidente de deslocamento de
competência dos crimes da Justiça Comum Estadual para Justiça Comum Federal, também chamado de fenômeno
da federalização da competência.
O referido fenômeno ocorrerá nos casos de grave violação de Direitos Humanos a que o Brasil tenha se
comprometido, devendo o Procurador Geral da República propor perante o STJ o incidente a qualquer momento
da persecução penal, desde a fase de inquérito ou processo. Então, o STJ poderá julgar o incidente procedente,
deslocando a competência para Justiça Comum Federal, ou improcedente, para manter a competência da Justiça
Comum Estadual. Exemplo: caso Dorothy Stang.
Atenção: Apenas haverá o deslocamento da competência se for verificada a ineficácia ou inoperância da Justiça
Estadual. O incidente sempre deverá seguir o rito disposto no artigo constitucional.
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