Você está na página 1de 17

Geração de Energia Elétrica

Aula 3: Geração termelétrica

Apresentação
Estudamos no capítulo anterior sobre a geração hidrelétrica, que é a principal forma de geração de energia elétrica do
Brasil.

Nesta aula, abordaremos as centrais termelétricas, seu princípio de funcionamento, os tipos de combustíveis empregados
para a geração de energia e seus impactos ambientais.
Objetivos
Explicar os impactos ambientais da geração termelétrica;

Definir o que são caldeiras e sua utilização no mercado de geração de energia elétrica;

Exemplificar o cálculo da potência gerada a partir de dados de uma turbina.

Palavras iniciais
As centrais termelétricas produzem energia elétrica em larga escala através da conversão da energia térmica em mecânica,
geralmente utilizando um fluido que, quando aquecido, expande-se e movimenta a turbina térmica.

Essa queima de combustíveis transforma um fluido líquido, normalmente água desmineralizada e adicionada a outros
componentes químicos numa caldeira, em vapor, que, uma vez superaquecido, passa por uma turbina acoplada a um gerador,
produzindo torque, convertendo assim a energia mecânica em eletricidade.

Normalmente, na saída das turbinas, o vapor superaquecido é resfriado, voltando ao estado líquido, reiniciando o círculo de
geração de energia.

 Central Termelétrica a vapor | Fonte: Shutterstock.com

Algumas centrais termelétricas podem trabalhar queimando combustíveis em um motor de combustão interna com o gerador
acoplado diretamente ao eixo desse motor. Elas não geram vapor para produzir eletricidade, a energia mecânica obtida pela
queima é transferida diretamente ao eixo, produzindo movimento no gerador.

As centrais termelétricas são classificadas de acordo com o método de combustível utilizado:

Combustão interna Combustão externa


Ocorre em turbinas a gás natural e em motores a diesel, Ocorre principalmente nas turbinas a vapor, onde o fluido
numa mistura ar- combustível, na presença de uma de trabalho, que normalmente é a água desmineralizada
centelha ou por compressão da mistura. e adicionada de produtos químicos, é transformado em
vapor através de uma caldeira. Nessa transformação, o
vapor se expande e é levado à turbina, que produz o
torque, movimentando o gerador.

A geração termelétrica está associada a uma grande variedade de uso de combustíveis renováveis e não renováveis. Dentre os
combustíveis não renováveis, podemos citar:

Diesel e óleo combustível (ambos derivados do petróleo) Carvão mineral

Gás natural Urânio, plutônio e outros elementos radioativos (usinas


nucleares)

Dentre os combustíveis renováveis, citamos a biomassa, obtida da madeira ou do bagaço da cana de açúcar etc., que são
repostos pela natureza em menor tempo do que os combustíveis não renováveis.
As centrais termelétricas que geram vapor são as movidas a óleo, carvão, biomassa e derivados de petróleo. As centrais que
não geram vapor, onde o gerador é acoplado diretamente no eixo da máquina térmica são movidas a gás natural e óleo diesel.

Impactos ambientais
Dentre os impactos ambientais da usina termelétrica, encontra se a emissão de gases que contribuem para o efeito estufa,
sendo as usinas movidas a derivados de petróleo e carvão mineral as maiores poluidoras.

Dos demais impactos ambientais, podemos citar:

Rejeitos sólidos
São as cinzas e poeiras resultantes do processo de queima de combustível.

Rejeitos líquidos
A água que, ao retornar do processo de geração, está com temperatura elevada em relação à água captada, podendo
causar interferência na flora e fauna local. Além disso, há os produtos químicos utilizados para tratamento da água e para a
limpeza das caldeiras, que podem ser poluidores do lençol freático.

Rejeitos aéreos
Dióxido de carbono (CO2), dióxido de enxofre (SO2), cinzas que são despejadas na atmosfera, óxidos de nitrogênio (NOx),
monóxido de carbono (CO) e hidrocarbonetos.

Atenção! Aqui existe uma videoaula, acesso pelo conteúdo online

Nas usinas nucleares, destacamos dois impactos ambientais mais importantes:

Contaminação causada por rejeitos radioativos - permanece ativa por milhares de anos. Os riscos estão na forma de
1 armazenar os descartes, onde são utilizados os containers ou recipientes de chumbo, concreto ou ambos;
Acidentes com vazamentos de material radioativo - a contaminação pode chegar a dezenas e até centenas de
2 quilômetros de raio da usina.

 Usina nuclear | Fonte: Shutterstock.com

Caldeiras de vapor
Segundo a Norma Reguladora nº 13 da Secretaria de Inspeção do Trabalho, caldeiras são definidas como equipamentos
destinados a produzir e acumular vapor sob pressão superior à atmosférica.

Concluímos então que são máquinas que trabalham com alta pressão onde o vapor se acumula, armazenando energia capaz
de alimentar e movimentar peças móveis de diversos tipos de equipamentos e máquinas ou motores.

 Fonte: Shutterstock.com

 Classificação das caldeiras

 Clique no botão acima.


Classificação das caldeiras
São classificadas, segundo a troca térmica, em flamotubular (ou fogotubular) e aquatubular.

Caldeiras flamotubulares
São aquelas em que os gases da combustão (gases quentes) circulam no interior dos tubos da caldeira, ficando por
fora, a água a ser aquecida ou vaporizada. Podem ser verticais, porém as mais comumente usadas são as horizontais
de fornalhas lisas ou corrugadas.

Possuem limitada capacidade de geração de vapor e só produzem vapor saturado (vapor com gotículas de água), o
que as torna próprias apenas para a geração de vapor de aquecimento, o que muitas vezes não interessa às indústrias
de grande porte, pois requerem vapor para acionamento de máquinas de processo como bombas, turbinas etc.

 Esquema de Caldeira Flamotubular

Caldeiras aquatubulares
São caldeiras em que a água está presente no interior da tubulação e os gases quentes oriundos da combustão
circulam pela parte externa das tubulações. Como nessas caldeiras temos maior área de produção de calor, a
quantidade de vapor produzido é aumentada e sai da caldeira a uma temperatura mais elevada do que nas
flamotubulares.
O vapor que esta caldeira produz é chamado de vapor superaquecido porque não tem gotículas de água, todo o fluido
é convertido integralmente em vapor. Por isso, essa é a caldeira utilizada nos processos de produção de energia
elétrica.
Por terem grande produção de vapor, essas caldeiras têm tamanhos consideráveis, podendo chegar a 20 ou 30 metros
de altura. Nas caldeiras aquatubulares, devem ser adicionados produtos químicos na água utilizada, pois facilitam a
troca térmica e evitam incrustações nas tubulações internas.

 Esquema de caldeira aquatubular

Caldeira de recuperação
Essa caldeira gera eletricidade, produzindo vapor através do calor obtido pela descarga dos gases da turbina a gás.
Utilizando caldeiras convencionais, podemos queimar combustível para produzir vapor e gerar energia, mas nas
caldeiras de recuperação, é utilizado o calor dos gases de exaustão da primeira caldeira como fonte de energia,
gerando novamente vapor para produzir mais eletricidade.
Em plantas de geração de ciclo combinado (ou cogeração) essa caldeira é o principal elemento, aumentando a
produção de energia sem necessariamente aumentar o gasto de combustível queimado, aproveitando apenas o calor
do primeiro ciclo.

 Caldeira de recuperação

Turbinas
Turbinas a gás
São de construção relativamente recente, possuindo ciclo térmico com alta eficiência termodinâmica, pois sua temperatura de
trabalho é em torno de 1.260⁰C. São melhor utilizadas em plantas estacionárias para geração de energia elétrica. Essa turbina
possui vantagem de permitir o aproveitamento do calor para instalação de uma caldeira de recuperação, num ciclo combinado
como vimos anteriormente, configurando uma cogeração de energia elétrica.
 Fonte: Shutterstock.com

Existem dois tipos de turbina a gás: Turbinas aeroderivativas e Turbinas Heavy Duty 1 .

Turbinas a vapor
São projetadas com formato radial utilizando lâminas de formato aerodinâmico, presas a um eixo. Quando o vapor passa pela
turbina, temos uma área de maior pressão e menor velocidade na parte inferior da lâmina e uma área de baixa pressão e maior
velocidade do fluido na parte superior da lâmina, produzindo o torque necessário para a turbina girar. Nesse aspecto, as
lâminas se assemelham a asas de um avião, que obtém sua sustentação por princípio físico semelhante. Para geração de
eletricidade essa turbina é acoplada ao gerador.

 Turbina a vapor | Fonte: Shutterstock.com

Ao olhar para a imagem de uma turbina a vapor em corte, percebemos lâminas de tamanho diferentes que nos permitem obter
estágios na conversão da energia do vapor em torque no eixo. Esses estágios podem ser fixos ou móveis, e a turbina possui
essa construção, pois desta forma, é possível ter o maior rendimento.

Na entrada de vapor, onde a pressão é maior, as lâminas são chamadas de lâminas de impulso, já na saída, onde a pressão é
menor, as lâminas são chamadas de lâminas de reação e possuem tamanho maior para compensar a perda de pressão citada.
 Lâminas da turbina a vapor

Atenção! Aqui existe uma videoaula, acesso pelo conteúdo online

Motores de combustão interna


O motor de combustão interna é um equipamento que transforma calor e pressão obtidos por queima de combustível em
torque para seu eixo. Este possui uma câmara de combustão interna que recebe a mistura combustível-ar.
 Ilustração cortada de um motor de combustão interna, mostrando o pistão e as velas de ignição.

Normalmente, para geração em grande porte, esses motores são movidos a gás natural ou óleo diesel. Para haver a
combustão em motores a gás, é necessário haver uma centelha na mistura combustível-ar, ao que chamamos de ciclo Otto. Já
nos motores a diesel, essa combustão acontece por compressão da mistura.

Centrais a diesel
As plantas de geração a diesel são mais utilizadas com potências até 40MW, normalmente instaladas para atender sistemas
isolados em regiões mais afastadas (normalmente na região Norte do Brasil, principalmente nos estados do Amazonas e de
Rondônia).

Possuem as seguintes vantagens:

Ao serem solicitadas, entram em carga rapidamente;


Operação através de painel supervisório, simplificando a supervisão;
Fácil manutenção.

A maior desvantagem é o preço do combustível, mas podemos citar também a dificuldade na reposição de peças quando
estão instaladas em locais distantes.

Motores do ciclo Otto


São motores onde a mistura combustível-ar é injetada na câmara de combustão e para ocorrer a explosão e a produção de
trabalho nesse motor é necessário a centelha produzida por uma vela de ignição instalada na câmara de combustão. É o caso
de todos os motores movidos a gasolina, etanol, gás natural.

Atenção! Aqui existe uma videoaula, acesso pelo conteúdo online

Equipamentos de uma Central Termelétrica


Numa central termelétrica assim como outras centrais de geração de energia elétrica alguns equipamentos são utilizados para
o controle da geração. Atualmente com os avanços da tecnologia, os sistemas de supervisão são todos realizados através da
sala de controle, com dispositivos de automação e computadores onde, da tela do computador, o operador consegue todas as
informações importantes estão acontecendo com a caldeira, a turbina e o gerador de energia.

 Fonte: Shutterstock.com

Vale ressaltar a importância do controle da frequência elétrica na geração, que deve ser muito preciso. Quando a geração é
feita por máquinas síncronas, a rotação da máquina deve ser respeitada para que a tensão gerada tenha a frequência desejada.
Numa operação real, quando há um aumento da carga, percebemos que o
eixo do gerador se torna mais pesado, mais difícil de girar, promovendo a
redução da sua velocidade e, consequentemente, da frequência. Numa
redução da carga, o efeito é o inverso. A frequência nos dá parâmetros
importantes sobre a geração.

Os sistemas automáticos de controle de geração, no caso de aumento da carga, gerenciam uma maior injeção de combustível
(ou água para hidrelétricas) para compensar o sobrepeso do eixo, produzindo mais torque para manter a velocidade constante
para a geração de energia. Na ocorrência da redução da carga, o supervisório reduz a injeção de combustível.

Diferenças pequenas de frequência são compensadas pelo próprio sistema de potência onde estão conectadas, que por ser
muito mais robusto e de potência maior que o gerador individual, tenderá a puxar o eixo num processo natural.

Potência gerada e energia produzida


Segundo a metodologia apresentada por Reis (2011), a equação da energia gerada (EG) é:

EG=P.FC.8760

Onde:
EG = energia gerada
P = Potência instalada
FC= fator de capacidade
8760 = número de horas em um ano

A potência gerada (P) depende da pressão e volume do fluido da máquina, que possuem relação não linear entre si. A potência
pode ser calculada por:

P=m(h1-h2)

Onde:
P = potência disponível
m = massa do fluido passando pela transformação térmica, por unidade de tempo (Kg/seg)
h = entalpia específica do fluido por unidade de tempo, em (Kg/s), sendo h1 a entalpia na entrada e h2 na saída.

De maneira geral, a entalpia é calculada por:

µ+
p
h =
p
Onde:
µ = energia interna do fluido
p = pressão em que está submetido
ρ = densidade do fluido

O rendimento do processo, dado por: Preal=Pútil=m.(h1-h2')


A potência disponível é: Pdisp.=m(h1-h2)

Sendo os índices:

Transformação do fluido do estado 1 para o 2 na condição ideal.


1-2’ Transformação do fluido do estado 1 para o estado 2’ na condição real.

Esse desempenho e transformação podem ser avaliados através do diagrama de Mollier (entalpia x entropia) do vapor d’água.

 Diagrama de Mollier (de entalpia x entropia) do vapor d’água. Fonte: Reis, 2001

Atividade
1. Analise as afirmativas abaixo:

a) As centrais termelétricas para geração em larga escala, normalmente, utilizam um fluido que, quando aquecido, expande-se
e movimenta a turbina térmica.

b) O fluido utilizado para a geração de energia é, normalmente, a água, que é desmineralizada e agregada a outros
componentes químicos para evitar incrustações nas paredes das tubulações internas da caldeira e facilitar a troca térmica.

c) Normalmente, na saída das turbinas o vapor superaquecido é resfriado, voltando ao estado líquido, reiniciando novamente o
círculo de geração de energia.

Atribuindo “V” para a sentença verdadeira e “F” para falsa, teremos a seguinte sequência:

a) F, V, V
b) V,V,V
c) V, F, V
d) F, F, V
e) V, F, F

2. Analise as afirmativas abaixo:

a) As usinas termelétricas a carvão ou derivados de petróleo são as principais poluidoras pela emissão de gases que agravam
o efeito estufa.

b) Nos rejeitos líquidos das usinas, a água que retorna do processo de geração com temperatura elevada em relação à água
captada não causa interferência na flora e fauna local.

c) Nas usinas nucleares, ocorrendo um acidente, a contaminação causada pelos rejeitos radioativos permanece por milhares
de anos.

Atribuindo “V” para a sentença verdadeira e “F” para a falsa, teremos a seguinte sequência:

a) F, V, V
b) V,V,V
c) V, F, V
d) F, F, V
e) V, F, F

3. Assinale a alternativa que não é uma vantagem do emprego de turbinas aeroderivativas para geração de energia elétrica.

a) Tamanho reduzido.
b) Peso reduzido.
c) Baixa manutenção.
d) Alto rendimento.
e) Peças de reposição são facilmente encontradas no mercado nacional.

Notas

Turbinas aeroderivativas e Turbinas Heavy Duty 1


Turbinas aeroderivativas

Como o nome já diz, possui tecnologia similar à empregada para propulsão das aeronaves. Possui as seguintes vantagens:

Tamanho e peso reduzido;


Baixa manutenção;
Alto rendimento.

Por estes motivos são utilizadas para a geração de energia elétrica e para a cogeração..

Turbinas Heavy Duty

Mais resistentes a ambientes agressivos e é mais robusta.

Referências

BORGES NETO, M. R.; CARVALHO, P. C. M. Geração de Energia Elétrica – Fundamentos. São Paulo: Érica, 2012.

PINTO, M. O. Energia elétrica: geração, transmissão e sistemas interligados. 1. ed. Rio de Janeiro: LTC, 2014.

REIS, L. B. Geração de energia elétrica. 2. ed. São Paulo: Manole, 2011.

Próxima aula

Centrais termelétricas a vapor;

Explore mais

Aprenda mais um pouco sobre os princípios da Termodinâmica no livro:

Fundamentos da Física, vol. 2, capítulos 18, 19 e 20 de Halliday, Walker e Resnick (2012).

Você também pode gostar