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Novos Actores Na Formação para Grupos Sociais Desfavorecidos
Novos Actores Na Formação para Grupos Sociais Desfavorecidos
João Passeiro
formação para grupos Victor Almeida
sociais desfavorecidos Técnicos superiores
/investigadores na célula do
projecto “Métodos de forma-
Introdução O conceito de exclusão social, enquanto
ção e desenvolvimento de
conceito com destaque teórico no campo
programas de ensino” do
De um modo geral, as ofertas oficiais de da sociologia, “substituiu o conceito de
INOFOR- Instituto para a
formação em Portugal, tanto a nível escolar pobreza no debate social, pretendendo
inovação na formação
como profissional, têm tido alguma dificul- acentuar aspectos mais complexos do que
dade em dar resposta às necessidades especí- o das condições económicas de vida”.
ficas das pessoas em situação de exclusão
social. As razões de algum insucesso forma- Para Bruto da Costa, a noção de exclusão
tivo com estes indivíduos estão muito para está correlacionada com a existência de
além do discurso comum da “falta de voca- um conjunto integrado de sistemas sociais
ção”, da “ausência de vontade de aprendiza- básicos, e domínios correlacionados, em
gem” ou do “demérito” do formando. relação aos quais existem diferentes níveis
de inacessibilidade. Neste entendimento, a
Neste sentido, e tendo em conta a específica noção de exclusão está, também, correla-
realidade portuguesa, de sub-escolarização e cionada, por oposição, com a noção de ci-
sub-qualificação face à União Europeia, co- dadania. Esta, ao contrário da ideia de ex-
clusão, é caracterizada por Bruto da Costa
locava-se aos organismos de investigação
como um acesso efectivo a um conjunto
nacional, e em particular ao INOFOR, como
de sistemas sociais básicos (Bruto da Cos-
entidade pública que visa promover a inova-
ta, 1998), que podem ser agrupados em
ção e a qualidade no domínio da formação
cinco grandes domínios: “o social, o eco-
profissional em Portugal, o particular desafio
nómico, o institucional, o territorial e o
de poder contrariar, através da identificação
das referências simbólicas” (Bruto da Cos-
e disseminação de “boas práticas” formati-
ta, 1998, p. 14).
vas, o discurso da impossibilidade de se in-
tervir sobre o problema da formação para
A falta de acesso a esses sistemas sociais de A necessidade de introduzir mais
públicos vulneráveis à exclusão social. base produz um conjunto de factores de risco eficácia em alguns dispositivos ou
categorias de formação destinados
de exclusão social: baixos níveis de rendi-
O estudo “Perfis Emergentes de Formação aos grupos sociais desfavorecidos
mentos, desemprego, baixos níveis de esco- levou alguns promotores a aplicar
para Grupos Sociais Desfavorecidos”, elabo- laridade, emprego precário, instabilidade novas formas de concepção e orga-
rado no âmbito da iniciativa comunitária familiar, (instabilidade principalmente dos nização da formação profissional em
“EMPREGO” /eixo INTEGRA e desenvolvi- casamentos), carências habitacionais (exí- Portugal. Conscientes dessa evolu-
mento pelo INOFOR, teve como objectivo a ção, estudámos alguns casos de «boas
gua, sem condições sanitárias, inacabada), práticas» particularmente eficazes,
pesquisa qualitativa de alguns casos de inova- fraca saúde física e psicológica, alcoolismo, pela boa adaptabilidade das suas
ção, no domínio das novas dimensões e figu- toxicodependência, pessoas a cargo, isola- intervenções às necessidades especí-
ras formativas adaptadas ao contexto da for- mento social e trajectórias de pobreza (ver ficas desses grupos.
mação para grupos sociais desfavorecidos. O estudo “Perfis Emergentes de
Hespanha et al., 2000). Os grupos ameaça-
Formação para Grupos Sociais Des-
dos de exclusão social, a que podemos cha- favorecidos”, desenvolvido pelo INO-
Um novo entendimento mar grupos sociais desfavorecidos (Capu-
cha, 1998), apesar de submetidos aos mesmos
FOR, tinha como objectivo mostrar
alguns exemplos de inovação e en-
da exclusão social factores de risco de exclusão social, não cons- contrar novas dimensões da forma-
ção, bem como os novos perfis de
tituem mesmo assim um grupo homogéneo, intervenientes adaptados a essa for-
O termo “desfavorecido” aplica-se a todos fazendo face a dificuldades específicas da mação destinada aos grupos sociais
os indivíduos em situação de exclusão. sua situação individual concreta. desfavorecidos.
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A selecção dos entrevistados para os estu- Pudemos, assim, desenhar os perfis profis-
dos de caso não decorreu da utilização de sionais desses actores a partir da metodo-
uma filosofia aleatória. Pelo contrário, tí- logia utilizada em Portugal pelo INOFOR
nhamos a preocupação de articular a visão para a elaboração de referenciais de infor-
de conjunto do projecto formativo, detida mação por sector de actividade1.
normalmente pelo coordenador, com a vi- Estas informações têm como objectivo ser-
são mais pormenorizada das intervenções vir especialmente os profissionais ligados
em domínios mais específicos do processo à formação para públicos desfavorecidos,
formativo. Construímos assim um guião para a eventualidade de virem a utilizar no
de entrevista para aplicar à figura do coor- seu trabalho algumas das dimensões for-
denador de cada um dos projectos seleccio- mativas e/ou os intervenientes a elas asso-
nados e um outro guião de entrevista para ciadas nestes projectos2.
aplicar a cada uma das diferentes figuras Apresentamos os novos actores de forma-
formativas em estudo. ção seleccionados a partir dos diversos
estudos de caso estudados, com as organi-
A construção dos tópicos de entrevista não zações onde trabalham, e as respectivas
foi independente dos referenciais teóricos funções.
utilizados pela equipa. De um modo geral,
pretendeu-se saber não só o que diferentes Animador de Balanço de Competências
actores da formação pensavam sobre um (ANOP- Associação Nacional das Ofici-
determinado processo formativo onde se nas de Projecto)
inseriam e intervinham, mas também o
que pensavam esses actores face a um de- O Animador do Balanço de Competências
terminado conjunto de linhas de questio- deve assumir a função de facilitador dos
namento sugeridas pelas particulares leitu- estados afectivos, proporcionando aos par-
ras, experiências e reflexões da equipa. ticipantes o contexto necessário para me-
Compreende-se, então, que as entrevistas lhorar a auto-estima e a confiança em si
não tenham seguido um modelo completa- próprios. Deve também criar um ambiente
mente aberto e tenham seguido antes, um de segurança que lhes permita tomar ini-
modelo semidirectivo, com o propósito de ciativas, e realizar um acompanhamento e 1
O INOFOR, através do projecto “
“levar os entrevistados a aprofundarem o apoio ao formando ao longo de toda a Ofi- Evolução das Qualificações e Dia-
seu pensamento ou a explorarem uma cina de Formação, mantendo uma presen- gnóstico das Necessidades de Forma-
questão nova de que não falam espontane- ça que estruture a relação com os restantes ção”, elabora, no contexto nacional,
amente.” (Albarello, et al. 1997, p.110). elementos da equipa formativa. referenciais de informação por sector
de actividade que possibilitam e apoiam
a apreensão da evolução das qualifi-
O processo do Balanço de Competências
Novos perfis dos actores ocorre no início da formação e desenvol-
cações, o diagnóstico das necessida-
des de formação e a reorientação da
da formação ve-se em três fases: formação profissional. Suleman F.,
Morais M. F., Fernandes M. M.
(1999), Estudos Sectoriais Prospecti-
O alargamento da concepção de formação 1) no acolhimento, começa-se por clarificar, vos: manual metodológico, Lisboa,
pressupõe a respectiva extensão da equipa com o candidato, a natureza do seu pedido, INOFOR.
de formadores, ampliando e diversifican- enquadrando-o no seu trajecto profissional.; 2
As fichas de perfil do Animador/a de
do as tipologias dos actores da formação em seguida, o candidato é informado sobre o
Balanço de Competências, Técnico/a
(Nunes, 2000). Torna-se assim necessário processo e os procedimentos do Balanço de de Acompanhamento da Formação em
identificar os novos perfis de formadores e Competências, bem como da Oficina do Contexto de Trabalho, Mediador/a,
outros actores da formação que trabalhem Projecto; por fim, formaliza-se um contracto Equipa de Desenvolvimento pessoal e
numa perspectiva de desenvolvimento pes- de intervenção onde são estabelecidos os social (Psicólogo/a, Técnico/a de Ser-
viço Social e Técnico/a de Serviço
soal, social e profissional para a integração objectivos a atingir no seguimento do pedido Social e Técnico/a de Desenvolvimen-
social e profissional dos públicos desfavo- feito, bem como a definição de papéis e res- to), e Técnico/a de Inserção no Merca-
recidos. ponsabilidades dos dois actores envolvidos do da Trabalho encontram-se disponí-
Usando a metodologia dos estudos de (sujeito e animador); veis, sob a forma descrita, no estudo
que serve de base a este artigo (“ Perfis
caso, identificámos e analisámos alguns Emergentes de Formação no Contexto
casos de inovação no domínio da forma- 2) na fase seguinte, realiza-se uma explora- da Formação para Grupos Sociais
ção para grupos sociais desfavorecidos. ção exaustiva do percurso formativo, pro- Desfavorecidos”, INOFOR, 2002).
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bito das reflexões em torno das experiên- formação e com os organismos locais
cias de formação e de vida. (cujo funcionamento conhece a fundo para
melhor ajudar os formandos).
O segundo tipo de acompanhamento, o
Acompanhamento Pedagógico, foi também Equipa de Desenvolvimento Pessoal e
objecto de sessões de trabalhado semanal Social (DPS) (CESIS-Centro de
com os formandos, onde se avaliaram as Estudos para a Investigação Social)
suas competências técnicas e relacionais,
evidenciadas no desempenho profissional A equipa de DPS está envolvida em todo o
no local de estágio. Os técnicos de acompa- processo formativo, intervindo um ou vá-
nhamento realizaram ainda um acompanha- rios dos seus elementos, em todas as di-
mento semanal das empresas, estabelecen- mensões da formação bem como na com-
do contactos com os seus responsáveis para ponente de formação sociocultural.
definir os objectivos pedagógicos, fazer o
levantamento do posto de trabalho, definir O essencial do seu trabalho situa-se na di-
o perfil de competências a adquirir, tentar a mensão de acompanhamento e na forma-
integração dos formandos, informar sobre ção sociocultural. Esta componente, de-
os incentivos à contratação, etc. signada pelos termos de Desenvolvimento
Pessoal e Social ou Programa de Competên-
Mediador (Associação Cultural cias Sociais e de Perspectivação do Futu-
“O Moinho da Juventude”) ro, foi dinamizada pelo psicólogo, pelas
técnicas do serviço social e por formado-
Neste projecto, o mediador assegura o res exteriores (convidados para o efeito). É
acompanhamento psicossocial dos jovens, oferecida durante as sessões temáticas
que passa pelo trabalho com estes, com as com um programa de formação com con-
suas famílias, com a equipa de formação e teúdos variados (tais como o contrato de
com outros actores locais, nos três níveis formação, os direitos e deveres dos for-
seguintes: mandos, saúde, puericultura, planeamento
familiar – esta formação destina-se a mães
o acompanhamento individual dos jovens adolescentes – , apresentação e preocupa-
nos momentos informais do curso de for- ção com a aparência, acesso ao Rendimen-
mação (almoços, intervalos, tempos livres), to Mínimo Garantido, acesso ao emprego,
nos quais têm lugar conversas que estabele- etc.). Esta abordagem temática foi com-
cem uma relação de confiança com os for- plementada por um acompanhamento dos
mandos. Quando necessário também ajuda formandos no decurso de todo o processo
a resolver problemas pessoais, familiares formativo, já que é essencialmente nas
ou escolares. O mediador pode ter de acom- sessões de grupo que os formandos e for-
panhar os jovens nas suas deslocações aos madores aprendem a conhecer-se, a terem
serviços administrativos locais, facilitar a confiança e a discutirem problemas parti-
comunicação e a resolução de assuntos, con- culares (em grupo ou em privado) que são
tactos com as famílias para pedir esclareci- depois objecto de um acompanhamento
mentos, ou para as convidar a cooperar na personalizado.
resolução dos problemas dos jovens.
O acompanhamento oferecido é essencial-
O mediador intervém também em activida- mente de natureza psicossocial e é organi-
des de grupo, tais como debates de temáticas zado de modo a promover o desenvolvi-
e actividades de expressão plástica, em sala mento de competências pessoais e sociais
de aula, através das quais fica a conhecer os necessárias à inserção socioprofissional.
formandos enquanto grupo e pode, se neces- Desenvolveu-se por um lado, através de
sário, gerir conflitos entre eles ou esclarecer um acompanhamento semanal em grupo,
dúvidas relativas ao curso de formação. em reuniões de “balanço da semana “ com
as formandas, para avaliar a situação das
Por último, o mediador assegura o contac- mesmas a diferentes níveis (aprendiza-
to com os outros membros da equipa de gem, relações interpessoais, níveis de sa-
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q revelar competências comunicacionais; Neste contexto, deve ser dada uma grande
atenção às práticas e reflexões das entida-
q demonstrar capacidade de adaptação às des privadas, nomeadamente as organiza-
situações e às pessoas; ções não governamentais que, como vimos
e verificámos com este estudo, vão tendo a
q demonstrar criatividade e espírito de margem de manobra para criarem e imple-
iniciativa na resolução das situações; mentarem estratégias e metodologias à
medida das necessidades sentidas no terre-
q demonstrar capacidades reflexivas e de no. Deve assim ser dada uma grande prio-
autocrítica, sobre si como pessoa e sobre o ridade a este diálogo profundo e continua-
seu trabalho; do entre as intervenções do Estado e as
intervenções das associações emergentes
q demonstrar capacidade de compreender da sociedade civil, na resposta às necessi-
os outros; dades formativas dos vários grupos social-
mente excluídos. Este estudo pretendeu
q demonstrar capacidade de trabalhar em também atingir esse objectivo, resultado
equipa, de aceitar outras ideias e integrá- da reflexão conjunta entre todos os parcei-
las na procura de estratégias de solução ros, que visa aumentar as sinergias das
para os problemas que se colocam; missões e das atribuições de todas as enti-
dades: de um lado o INOFOR, como insti-
q demonstrar confiança e autonomia na tuto publico de investigação sobre a for-
execução das tarefas; mação profissional, e do outro os restantes
parceiros nacionais e transnacionais, com
q demonstrar sensibilidade e abertura aos ampla experiência de terreno e de reflexão
problemas sociais locais e nacionais; sobre as suas práticas.
q revelar curiosidade geral; Neste sentido, é claro para nós que, man-
tendo a sua autonomia no desenvolvimen-
q revelar capacidade de diálogo e de rela- to de novas metodologias, seria de todo o
cionamento com os responsáveis das em- interesse que as entidades privadas pudes-
presas; sem beneficiar de apoios de mais longo
prazo com vista a colmatar a fraca, ou mes-
q revelar características pessoais tais mo a falta de continuidade das suas acções
como: idealismo, valores de solidariedade, e a instabilidade dos seus corpos técnicos,
empenho, persuasão, paciência; e a consequente perda de know-how nos
domínios da técnica e da organização. Por
É sobretudo importante compreender os outro lado, os organismos públicos, como
grupos com que se trabalha e os problemas o INOFOR, devem manter um diálogo
a eles associados, sob o paradigma de permanente com os outros promotores
“responsabilização” (empowerment). para uma reflexão conjunta com os que
estão no terreno e podem trazer importan-
Para além destes novos perfis, que é con- tes contributos sobre as boas práticas que
veniente seguir e difundir, devemos igual- cabem, em seguida, difundir.
mente mantermo-nos atentos à emergência
de novas práticas e novas dimensões com- Para finalizar, acrescentemos que este diá-
plementares aos processos formativos e, logo comum reflexivo e prático começa já
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a ser uma realidade. Com efeito, as inicia- xões feitas no trabalho das pequenas orga-
tivas oficiais mais recentes, que pretendem nizações privadas3. Um tal diálogo não
colmatar algumas das fragilidades referi- pode deixar de ser profícuo para bem dos
das, retomam certas experiências ou refle- grupos sociais desfavorecidos.
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Estudos sectoriais prospectivos: Manual Metodoló-
Guia de apoio ao utilizador: Acreditação de enti- gico. Lisboa: INOFOR, 1999.
3
A título de exemplo, e entre muitos
outros igualmente válidos, citemos os
Cursos de Educação e Formação de
Adultos, organizados pela ANEFA,
que contemplam um processo inicial
de reconhecimento e validação de
competências prévias, e que incluem
um mediador na sua equipa técnica.
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