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Ao nos propormos definir “narração” comummente dizemos se tratar de “um relato

feito por alguém acerca de algo, de uma sequência de acontecimentos, à qual damos o nome de
enredo num determinado espaço e tempo”.

Embora, na minha opinião, esteja correta esta definição, o que é facto é, na


qualidade de professores de português, conseguimos ir mais além. De acordo com o
dicionário de narratologia, poderá ser definido por “termo afetado por uma polissemia, a
narração é entendida frequentemente em aceções muito diversas: como processo de enunciação
narrativa, como resultado dessa enunciação, como escrita(v.) da narrativa, como procedimento
oposto à descrição (v.), mesmo como modo literário, em relação distintiva com o modo dramático
e o modo lírico…(…); a primeira das aceções apontadas é talvez a que hoje regista maior
acolhimento, beneficiando da sistematização operada no campo da narratologia (…)
sistematização centrada no estabelecimento de três grandes planos de reflexão teórica: o da
história (v.), o do discurso (v.) e o da produção deste último, a narração em ligação direta com
a enunciação (v.) e com aquele âmbito de análise que Genette designou como voz (v.).” (Reis C.
Dicionário de Narratologia, 1991: 239).
Contudo, e como nos diz Carlos Reis “ um outro sentido que há que ter em conta é o
abrangido pela díade narração/descrição (…); o critério opositivo passa pela dinâmica incutida
à narrativa, entendendo-se a narração em contraste com a descrição (v.) como aquele
procedimento representativo dominado pelo expresso relato de eventos e de conflitos que
configuram o desenvolvimento de uma ação” (v.) (Reis C. Dicionário de Narratologia, 1991: 240).
Se, no entanto, formos ver a diferença entre narração e descrição, no mesmo dicionário,
verificaremos que “embora tradicionalmente se considere que a descrição é uma ancilla
narrationis, na medida em que funciona como expansão dos núcleos narrativos propriamente
ditos, é, no entanto, difícil conceber um texto narrativo desprovido de elementos descritivos”
(Reis C. Dicionário de Narratologia, 1991: 87).
É, igualmente, a descrição que “confere (…) legibilidade e coerência ao texto narrativo
“(Reis C. Dicionário de Narratologia, 1991: 88).
A dinâmica da narração não dispensa, portanto, a descrição pelo que, na minha opinião,
a descrição e a narração estão de forma indelével ligadas. Narrar e descrever são dois termos que,
apesar de díspares têm em comum o facto de serem fundamentais a uma narrativa.
O narrador socorrer-se-á de elementos descritivos para melhor dar a conhecer os espaços
(sejam físicos os psicológicos ); o tempo (cronológico e/ou psicológico); as personagens ou
mesmo do narrador seja ele uma personagem, um observador ou alguém omnisciente.

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