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CENTRO UNIVERSITÁRIO UNIVATES

CURSO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL

RESPONSABILIDADE SOCIAL EMPRESARIAL: UM ESTUDO DAS


AÇÕES SOCIOAMBIENTAIS DA AGCO DO BRASIL

Alessandra Maina Santos

Lajeado, novembro de 2013


Alessandra Maina Santos

RESPONSABILIDADE SOCIAL EMPRESARIAL: UM ESTUDO DAS


AÇÕES SOCIOAMBIENTAIS DA AGCO DO BRASIL

Monografia apresentada no Curso de


Comunicação Social com Habilitação em
Relações Públicas, do Centro Universitário
Univates, como exigência parcial para
obtenção do título de Bacharel em Relações
Públicas.

Orientadora: Dra. Jane Márcia Mazzarino

Lajeado, novembro de 2013


2

AGRADECIMENTOS

Agradeço aos meus pais, que sempre me ofereceram todo o apoio


necessário, acreditando que eu conseguiria alcançar os objetivos e superar os
obstáculos para a minha formação em Relações Públicas, por me auxiliarem
financeiramente nos meus estudos e, principalmente, por estarem sempre ao meu
lado.

Às minhas irmãs, pelo simples fato de fazerem parte da minha vida.

Ao meu namorado, pela força e paciência dedicadas enquanto eu elaborava


essa monografia.

À minha orientadora, Jane Márcia Mazzarino, por acreditar neste trabalho e


dividir comigo seu tempo e saber. Sinto-me honrada por ter sido orientada por essa
profissional.

Aos meus amigos, por terem sempre confiado em meu potencial e


compreendido que nem sempre eu podia estar presente.

Aos professores e ex-professores da Univates, que tanto contribuíram para a


minha formação. Não cito nomes para não esquecer ninguém. Foram muitos e foram
especiais.

À AGCO, na pessoa de Roberta Vieira, que se dispôs a colaborar para a


realização dessa monografia.
Aos meus colegas da Rede Imec, representados pela minha diretora Clara
Bandeira, que foram flexíveis e entenderam as minhas ausências no trabalho.

E a minha sogra que, atenciosamente, revisou os textos que seguem.


“Quando um homem planta árvores, sob cuja
sombra sabe que nunca haverá de sentar-
se, começou a entender o sentido da vida.”

Silene Matos
RESUMO

O presente trabalho tem por objetivo investigar como a AGCO do Brasil tende a
minimizar os impactos causados na sociedade e meio ambiente. A metodologia
utilizada, a partir dos objetivos propostos nesta monografia, foi um estudo
exploratório baseado em um caso, com ida a campo, em que se relacionou o
referencial teórico com a entrevista semiestruturada e a pesquisa documental. As
informações obtidas através da coleta e análise dos dados auxiliaram na
compreensão das ações de responsabilidade socioambiental desenvolvidas pela
organização, identificando indicadores e entendendo melhor a relação da área social
e ambiental nas empresas e o papel do profissional de relações públicas. Desta
forma, concluiu-se que, cada vez mais, as organizações buscam realizar ações de
responsabilidade socioambiental. No entanto ainda há muito por fazer. As empresas
começam a ter consciência da importância dessas ações e o profissional de
relações públicas tem papel fundamental nesse processo.

Palavras–Chave: Relações Públicas. Responsabilidade Socioambiental.


Responsabilidade Empresarial. Estudo Exploratório.
LISTA DE QUADROS

Quadro 1 – Apresentação dos Valores AGCO ...................................................... 42


Quadro 2 – Produção Mais Limpa AGCO .............................................................. 49
Quadro 3 – Campanhas Internas Preventivas e Educativas AGCO .................... 61
SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO ......................................................................................................... 8

2 REFERENCIAL TEÓRICO..................................................................................... 11
2.1 Responsabilidade Social Empresarial ............................................................. 13
2.2 Meio Ambiente e Sustentabilidade .................................................................. 18
2.3 A aplicação da Responsabilidade Social Empresarial ................................... 21
2.4 Responsabilidade Socioambiental e seus indicadores ................................. 27
2.5 Relações Públicas e Responsabilidade Socioambiental ............................... 31

3 MÉTODO................................................................................................................ 37

4 CONTEXTUALIZAÇÃO: A EMPRESA AGCO ...................................................... 40

5 ANÁLISES ............................................................................................................. 45
5.1 Ações ambientais .............................................................................................. 46
5.2 Ações sociais .................................................................................................... 57
5.3 Ações de responsabilidade social da AGCO no contexto das relações
públicas .................................................................................................................... 65

6 DISCUSSÃO .......................................................................................................... 69

7 CONSIDERAÇÕES FINAIS ................................................................................... 76

REFERÊNCIAS ......................................................................................................... 78

APÊNDICES ............................................................................................................. 81
Apêndice 1 – Análise das ações socioambientais da AGCO .............................. 82
8

1 INTRODUÇÃO

O termo responsabilidade socioambiental (RSA) vem sendo discutido desde o


século XX, mas foi a partir de 1950 que o tema começou a ganhar atenção. Os
problemas decorrentes da industrialização fizeram com que a sociedade exigisse
cuidados e responsabilidades no âmbito social e ambiental das empresas e
governos.

Contudo, muitas empresas ainda não estão voltadas a essa causa. Apesar de
conhecerem sua importância, priorizam aspectos econômicos. Isso se dá,
principalmente, por não conhecerem os benefícios de se trabalhar com ações de
responsabilidade socioambiental e que, ao fazê-las, podem gerar um retorno positivo
tanto à comunidade quanto à imagem da organização.

Da mesma forma que muitas empresas ainda não aderiram a ações de


responsabilidade socioambiental, outras já trabalham efetivamente nessa área, seja
com ações pontuais ou que perduram durante anos. É o caso da AGCO do Brasil,
empresa voltada para o ramo de negócios agrícolas e que foi escolhida para este
estudo pela razão de já se ter um contato com a organização, o que é
importantíssimo no processo de elaboração de uma monografia. Outro fator
determinante para a escolha foi o entendimento de que a AGCO representa uma
oportunidade para a construção de um trabalho científico, interessante e valioso.

Também por produzir um grande número de máquinas, a empresa gera


material que leva anos para se decompor e que, ao ser usado nas atividades rurais,
despeja resíduos no meio ambiente. No entanto, a AGCO se diz comprometida com
9

a comunidade onde está inserida e com o meio ambiente, apresentando ações para
minimizar o impacto de suas atividades, como a Produção Mais Limpa e o Projeto
I.S.C.A - Inclusão Social, Capacitação e Acessibilidade, dentre várias outras ações
que chamaram a atenção desta acadêmica.

Neste sentido questiona-se como as ações de responsabilidade


socioambiental de uma empresa multinacional como a AGCO, encaixam-se na
estratégia organizacional? Por que é importante implantar ações socioambientais
nestas empresas? Como as empresas de grande porte realizam ações de
responsabilidade socioambiental? Qual o foco principal? É social, ambiental ou
econômico? Essas ações são realizadas de forma sazonal ou contínua, obrigatória
(legal) ou espontânea? Essas empresas difundem o valor socioambiental para o
público interno? Qual o papel das ferramentas de relações públicas para práticas de
responsabilidade socioambiental?

O objetivo geral é investigar como a AGCO do Brasil tende a minimizar os


impactos causados na sociedade e meio ambiente para a obtenção do bem-estar
social.

O presente trabalho tem por objetivos específicos:

– Conceituar responsabilidade social, empresarial, ambiental e a importância


estratégica da mesma para as organizações;

– Identificar e analisar ações de responsabilidade social e ambiental na


empresa AGCO do Brasil, bem como a utilização de indicadores e divulgação das
mesmas, visando, também, avaliar se a organização pode ser considerada uma
empresa cidadã, social e ambientalmente responsável.

– Verificar o papel da área de relações públicas para planejar e realizar ações


voltadas para a responsabilidade socioambiental;

– Verificar se há ações voltadas ao público interno da organização, com foco


na conscientização do papel do indivíduo nos resultados das ações socioambientais
da ACGO na comunidade.
10

Este trabalho será importante para compreender o que é responsabilidade


socioambiental e o valor de suas ações para as organizações. Também se propõe a
disseminar o tema para que outras organizações possam planejar ações de
responsabilidade socioambiental e, assim, beneficiar suas comunidades e o meio
ambiente.

A acadêmica de relações públicas, tem consciência de que nesta área é


possível desenvolver ações de responsabilidade socioambiental, por entender que a
reputação e o reconhecimento da organização estão ligados diretamente a atitudes
desenvolvidas por ela. Portanto, este trabalho proporcionará um aprofundamento em
uma área de atuação do profissional de relações públicas e ações realizadas em
outras empresas, podem servir de exemplo para o planejamento de atividades nessa
área.
11

2 REFERENCIAL TEÓRICO

Durante o estudo, identificaram-se diversos termos envolvendo o objetivo


geral proposto nesta monografia, entre eles os mais citados: responsabilidade social
(RS), responsabilidade socioambiental (RSA) e responsabilidade social empresarial
(RSE). É importante apresentar o conceito de cada uma para que se diferencie e
compreenda melhor os capítulos que seguem.

O termo responsabilidade social (RS) é usado por muitos autores, de forma


generalizada, referindo-se às ações envolvendo tanto a sociedade, quanto o meio
ambiente. Pode-se dizer que responsabilidade social é o compromisso de instigar o
desenvolvimento do indivíduo e fomentar a cidadania pessoal e coletiva, além do
uso consciente de recursos humanos ou materiais.

Já o termo responsabilidade socioambiental (RSA) é utilizado por autores que


estudam com maior profundidade as questões ambientais, os impactos causados
pelas organizações empresariais e governos no meio ambiente e na sociedade. O
termo pode ser utilizado da mesma forma que a RS.

A responsabilidade social empresarial (RSE) é voltada exclusivamente para


as ações e responsabilidade das empresas acerca de seus resultados e impactos
causados durante a realização de suas atividades. Esse termo inclui, como a
responsabilidade social, os dois pilares: sociedade e meio ambiente. Esse termo
refere-se não só à responsabilidade das organizações com o público externo e com
o meio onde está inserida, mas também com o público interno. Por exemplo, inclui
tanto a atenção à produção de lixo, gerado pela fabricação de seus produtos, quanto
12

ao tratamento dado aos seus colaboradores durante o processo de trabalho, assim


como a utilização de equipamentos de segurança.

Como o objetivo geral deste estudo é investigar de que forma a AGCO tende
a minimizar os impactos na sociedade e meio ambiente para a obtenção do bem-
estar social, escolheu-se o termo responsabilidade social empresarial como foco de
estudo, por incluir a dimensão ambiental, apesar de não explicitá-la no conceito em
si. Mesmo assim, quando necessário, serão mencionados os dois termos citados
acima, RS e RSA.

Neste capítulo, inicialmente explana-se como surgiu o termo responsabilidade


social empresarial e por que se começou a exigir das empresas um maior
comprometimento com a comunidade e meio ambiente. Em seguida, é apresentado
de que modo a responsabilidade social - termo utilizado por Tenório (2004), autor
escolhido para guiar o assunto RSE nesse subcapítulo - está inserida nesse
contexto e as formas de atuação das empresas nessa área.

Na sequência, trata-se do meio ambiente e sustentabilidade, temas muito


discutidos entre aqueles que defendem a responsabilidade socioambiental. Nesse
subcapítulo é explicado como as empresas podem aplicar seus recursos acerca do
cuidado com o meio ambiente e o seu papel para a diminuição dos impactos
ambientais.

Na terceira parte do referencial teórico discute-se de que forma as empresas


aplicam a responsabilidade social empresarial, como as empresas iniciam esse
processo, por quais motivos e como desenvolvem ações nessa área. No quarto
subtítulo desse estudo, apresentam-se argumentos sobre a importância de se
realizar ações de responsabilidade socioambiental nas organizações e alguns
indicadores utilizados por elas.

Por fim, apresenta-se a relação que há entre a área de relações públicas com
o termo e ações de responsabilidade socioambiental, alcançando, assim, alguns dos
objetivos específicos propostos nesse projeto.
13

2.1 Responsabilidade Social Empresarial

Há inúmeros livros que tratam sobre o conceito de responsabilidade social,


cidadania empresarial, responsabilidade corporativa, responsabilidade
socioambiental, entre outros termos usados nessa área. Mas, antes de buscar
entender o que significa cada um desses termos, é necessário conhecer como
surgiu o estudo em torno desse conceito de responsabilidade social empresarial e o
desenvolvimento do mesmo ao passar dos anos.

Em um primeiro momento, no início do século XX, acreditava-se em uma ideia


diferente sobre a responsabilidade das empresas no âmbito social em que “o Estado
seria responsável pelas ações sociais, pela promoção da concorrência e pela
proteção da sociedade. Já as empresas deveriam buscar a maximização do lucro,
geração de empregos e o pagamento de impostos” (TENÓRIO, 2004, p. 14). Seria
dessa forma que as empresas exerceriam sua atividade social.

O liberalismo, sistema político-econômico que vigorava naquela época, não


estimulava a prática de ações sociais, e tudo que era criado, planejado e pensado
no âmbito das empresas tendia a ter como objetivo maximizar o lucro. Entendia-se
que ações de responsabilidade socioambiental não contribuíam para o
desenvolvimento da sociedade e acabavam se prendendo em doações a entidades,
limitando-se apenas ao ato filantrópico.

Com o avanço tecnológico e a aplicação da ciência na organização do


trabalho, houve a necessidade de discutir com maior profundidade o papel da
empresa em relação ao seu empregado e na comunidade onde está inserida,
surgindo assim o interesse maior pelo tema: responsabilidade social empresarial
(RSE).

O processo de industrialização que se inicia naquela época ocasionou


problemas com a qualidade de vida, meio ambiente e a precariedade das relações
de trabalho. É a partir desse momento que a sociedade inicia uma mobilização,
pressionando o governo e empresas a solucionarem esses problemas gerados pelo
desenvolvimento industrial.

Verificou-se, assim, maior controle social da atividade empresarial. Logo, o


conceito de responsabilidade social empresarial passou a incorporar alguns
14

anseios dos principais agentes e a ser entendido não apenas como a


geração de empregos, o pagamento de impostos e a geração de lucros,
mas também como o cumprimento de obrigações legais referentes a
questões trabalhistas e ambientais (TENÓRIO, 2004, p. 17).

A partir desse momento teve início uma mudança no entendimento das


obrigações sociais das empresas e governos. A economia americana passava por
um período de crescimento iniciado a partir de 1930, o que ajudou na consolidação
do modelo industrial e no desenvolvimento da sociedade pós-industrial: “Esses
acontecimentos geraram questionamentos da sociedade quanto ao objetivo de
maximização de lucros das empresas e do papel das companhias nessa nova
sociedade, além de ampliar o conceito de responsabilidade empresarial” (TENÓRIO,
2004, p. 18).

Tenório cita Toffler1, autor que afirma que a sociedade industrial buscava
basicamente o crescimento econômico. Já a sociedade pós-industrial, “preocupa-se
com a qualidade de vida, a valorização do ser humano, o respeito ao meio ambiente,
a organização empresarial de múltiplos objetivos e a valorização das ações sociais,
tanto das empresas quanto dos indivíduos” (TENÓRIO, 2004, p. 19- 20).

Assim, os estudos feitos sobre RSE surgiram na década de 50, e foi a partir
de 1970, com a sociedade pós-industrial, que as ações desenvolvidas a respeito do
assunto ganham destaque.

Nessa nova concepção, entende-se que as empresas fazem parte de um


ambiente e suas atividades refletem sobre diversos públicos, sejam internos ou
externos. Tenório (2004) explica que a orientação do negócio visando atender
apenas aos interesses dos acionistas torna-se insuficiente, sendo necessária a
incorporação de objetivos sociais no plano de negócios, como forma de integrar as
companhias à sociedade.

E por que o compromisso da organização vai além de gerar empregos,


impostos e lucros que se inicia o interesse das empresas pela responsabilidade
social. Segundo Souza (2002 apud TENÓRIO, 2004), toda grande empresa é, por
definição, social. Uma empresa que não leve em conta as necessidades do país, a

1
TOFFLER, Alvim; TOFFLER, Heidi. Criando uma nova civilização: a política da terceira onda. Rio de
Janeiro: Record, 1995.
15

crise econômica, que seja absolutamente indiferente à miséria e ao meio ambiente,


é uma empresa antissocial.

Nas duas últimas décadas houve uma crescente procura pelas empresas
para realizar ações voltadas ao social, por entenderem que há um reconhecimento e
um retorno importante aos negócios. Segundo Tenório (2004), a partir da década de
1990 esse movimento se fortaleceu no Brasil com o surgimento de diversas
organizações não governamentais e com o desenvolvimento do terceiro setor.

Com o intuito de mostrar a importância das ações sociais para empresas e


sociedade, foram criadas várias instituições como a Fundação Abrinq; o Grupo de
Institutos, Fundações e Empresas (GIPE); o Instituto Ethos de Responsabilidade
Social e a Rede de Informação do Terceiro Setor (Rits); entre outras.

Com isto, termos e expressões como filantropia, cidadania empresarial, ética


nos negócios, voluntariado empresarial e responsabilidade social foram incluídos ao
vocabulário corporativo. Mas afinal, o que é responsabilidade social? Zenisek (1979
apud ARAGÃO; KARKOTLI, 2004) conceitua responsabilidade social como uma
preocupação das empresas com as expectativas do público. Seria, então, a
utilização de recursos humanos, físicos e econômicos para fins sociais mais amplos,
e não simplesmente para satisfazer interesses de pessoas ou organizações em
particular.

Froes e Neto (2001) ressaltam que o objetivo da responsabilidade social é


estimular o desenvolvimento do cidadão e fomentar a cidadania individual e coletiva.
Sua ética social é centrada no dever cívico.

As ações de responsabilidade social são voltadas a toda sociedade –


indivíduos, governos, organizações, grupos e movimentos sociais, igrejas, partidos
políticos, entre outros. Entende-se que a responsabilidade social baseia-se na
construção de relações confiáveis e duradouras, portanto a RSE é um produto da
cultura da organização. “As empresas que só se preocupam com os benefícios
comerciais da gestão socialmente responsável acabam por cair em descrédito e não
colhem os benefícios esperados” (TENÓRIO, 2004, p. 129).
16

Para esse autor, as empresas que realmente acreditam na sua


responsabilidade social querem disseminar a ideia para outras organizações,
principalmente em sua cadeia produtiva, pois acreditam nesses valores e querem
seus parceiros sintonizados com eles.

Segundo Tenório (2004), há três formas de atuação social empresarial:


filantropia empresarial, cidadania empresarial e responsabilidade social corporativa.

Filantropia pode ser conhecida também como caridade. O significado de


Filantropia Empresarial apresenta uma essência parecida.

A ação filantrópica empresarial pode ser caracterizada como uma ação


social de natureza assistencialista, caridosa e predominantemente
temporária. A filantropia empresarial é realizada por meio de doações de
recursos financeiros ou materiais à comunidade ou às instituições sociais
(TENÓRIO, 2004, p. 28-29).

Para Froes e Neto (2001), a filantropia pode ser considerada uma “simples
doação”, da maior sensibilidade e consciência social do empresário. A filantropia não
busca retorno, apenas conforto moral e pessoal de quem a pratica.

É importante que as empresas saibam que a ação filantrópica não garante


que estejam respeitando o meio ambiente, seus colaboradores ou desenvolvendo a
cidadania. Segundo Azambuja (2001 apud TENÓRIO, 2004), por mais que seja
louvável uma empresa construir uma creche ou um posto de saúde em sua
comunidade, a sua generosidade em nada adiantará se, ao mesmo tempo, estiver
poluindo o único rio local ou utilizando matéria prima produzida em fábricas
irregulares.

Já a cidadania empresarial pode ser compreendida como um conjunto de


direitos e deveres que a empresa assume e realiza em sua cidade e comunidade. O
termo cidadania empresarial é muito utilizada para “demonstrar o envolvimento da
empresa em programas sociais de participação comunitária, por meio de incentivo
ao trabalho voluntário [...] e do investimento em projetos sociais nas áreas de saúde,
educação e meio ambiente” (TENÓRIO, 2004, p. 29-30).

A terceira forma de atuação social empresarial, citada anteriormente, é a


responsabilidade social corporativa. Aragão e Karkotli (2004) explicam que a
responsabilidade social corporativa deve ser entendida como a obrigação da
17

empresa em responder por ações próprias ou de quem a ela estiver ligada. Isso
significa que a empresa segue uma conduta que vai da ética nos negócios às ações
desenvolvidas na comunidade, até a relação que têm com seus colaboradores,
acionistas e fornecedores.

Pode-se entender que uma organização também é um agente de


transformação social. Ela influencia e sofre influências da sociedade. Da mesma
forma que tem o direito de se instalar e se desenvolver em determinado lugar,
também precisa atuar no desenvolvimento e bem-estar daqueles que a rodeiam.

Segundo Aragão e Karkotli (2004, p. 46), existem múltiplos aspectos que


podem identificar as obrigações da organização que são voltadas à responsabilidade
social, entre as quais, pode-se destacar:

1) Gerar valor para seu público interno, para que, em primeiro lugar, se
justifiquem os recursos financeiros, humanos e materiais utilizados pelo
empreendimento;

2) Gerar valor para a sociedade, ou seja, seu público externo como


governo, consumidores, entre outros, disponibilizando bens e serviços
adequados, seguros e de algum significado para melhorar a vida das
pessoas;

3) Prestar informações confiáveis;

4) Promover comunicação eficaz e transparente para com colaboradores e


agentes externos;

5) Recolher tributos devidos;

6) Racionalizar, ao máximo, a utilização de recursos naturais e adotar


medidas de proteção e preservação do meio ambiente;

7) Incentivar a participação de dirigentes e colaboradores, enquanto


cidadãos, na solução de problemas da comunidade.

8) Formar parcerias com outros organismos, de governos e da sociedade


civil, para identificar deficiências e promover o desenvolvimento da
comunidade onde está instalada.

9) Transacionar de forma ética em toda a cadeia de relacionamento e outras


partes interessadas como fornecedores, colaboradores, clientes, entidades
associadas representativas, governos, entre outros (ARAGÃO; KARKOTLI,
2004, p. 46).

Não basta atender bem o cliente, oferecer produtos de qualidade e com


garantia para assegurar uma empresa no mercado competitivo. O “consumir” exige
18

algo além do convencional e é importante que as empresas estejam cada vez mais
cientes disso, adequando-se a esse novo modelo empresarial.

2.2 Meio Ambiente e Sustentabilidade

Da mesma forma que surgiu uma atenção maior aos problemas sociais, o
meio ambiente tornou-se foco de diversas ações acerca de responsabilidade das
empresas. Pode-se entender também que as questões ambientais estão incluídas
intrinsicamente na responsabilidade social, por isso usou-se nesta monografia a
palavra Socioambiental.

Segundo d’Arc e Félix (2009), no final do último século, a conservação do


Planeta passou a despertar maior preocupação, à medida que aumentava o grau de
compreensão da sociedade acerca das consequências negativas da degradação
ambiental.

O consumo pode ser considerado o grande causador da degradação


ambiental. D’Arc e Félix apresentam entre outras causas de problemas ambientais o
uso ininterrupto dos recursos naturais, a desenfreada produção de resíduos, o
desperdício, o consumo inconsciente vertiginoso e o ato de não saciar-se, num
modo de vida insustentável.

Começou-se a questionar qual a capacidade de suporte que os recursos


ambientais poderiam suportar com o desenvolvimento econômico. Foi então que nos
anos 60 e 70 surgiram as grandes organizações ambientalistas internacionais como
a WWF, em 1961; Amigos da Terra, em 69; Greenpeace, em 71. E, com elas,
surgem importantes mudanças de valores na sociedade civil.

Conforme Maimon (1994), na década de 80 a responsabilidade voltada para


as questões com o meio ambiente passa, gradativamente, a ser encarada pelas
organizações como uma necessidade de sobrevivência, constituindo um mercado
promissor, diferenciando a política de marketing e de competitividade. Essa
mudança de comportamento se deu, devido a alguns fatores, como a opinião pública
sensível aos assuntos relacionados ao meio ambiente - afetando os negócios de
19

várias maneiras, entre elas a resistência de consumidores - e a expansão do


movimento ambientalista como citado no parágrafo anterior.

Além disso, foi com o avanço das comunicações que as informações


começaram a chegar aos indivíduos. Os resultados negativos do “estrago” no meio
ambiente passaram a ser percebidos mais rapidamente em todo o mundo.
Denúncias sobre os efeitos maléficos do descaso com o meio ambiente eram
divulgadas na mídia através de noticiários, reportagens, filmados e transmitidos cada
vez em maior escala.

Com isso, a cobrança feita pela sociedade às organizações e aos governos


aumentaram, principalmente entre os jovens, potenciais consumidores do presente e
futuro e formadores de opinião. Eles exercem “forte pressão das mudanças de
postura das empresas e governos que dependem da imagem institucional para
ganhos de mercado” (D’ARC; FÉLIX, 2009, p. 7).

Para D’arc e Félix (2009, p. 13), o papel das empresas é fundamental para a
diminuição dos impactos ambientais, responsabilizando-se pelo seu papel social e
ambiental.

Cabe à empresa estabelecer uma relação justa com seus funcionários,


consumidores, fornecedores e sociedade na qual está inserida, trazendo
ganho às partes envolvidas nas trocas de capital, serviços e produtos.
Deve, também, perceber-se como parte do Planeta, buscando reavaliar
constantemente suas ações e conduta, de forma a garantir a
sustentabilidade em curto, médio e longo prazo. A empresa deve monitorar
sua forma de gestão dos negócios, incorporando instrumentos e
ferramentas que facilitem o diagnóstico e a mudança positiva na redução
dos impactos e ampliação dos resultados sociais e ambientais (D’ARC;
FÉLIX, 2009, p. 13).

Com isso, as empresas podem buscar um crescimento voltado à


sustentabilidade, pois mostra a importância que a mesma dá ao processo de suas
atividades e às consequências que gera no meio ambiente. Segundo, Paduam e
Cassiano (2010), entende-se que sustentabilidade é a capacidade de um indivíduo
ou empresas e aglomerados produtivos, em geral, têm de se manterem inseridos
num determinado ambiente, sem impactar ou destruir o mesmo, ou ao menos
impactando o mínimo.
20

Melo (2003 apud DANTAS, 2009) diz que não se deve pensar em
sustentabilidade como algo restrito ao meio ambiente, assim como responsabilidade
social não se limita a ações ou investimentos em projetos sociais.

O desenvolvimento sustentável ocorre como um processo socioeconômico


em que “se minimiza o uso de matéria e energia (...), se minimizam os impactos
(lançamento de dejetos) ambientais (...), se maximiza o bem-estar ou atividade
social, sem ameaça de retrocessos, e atinge uma eficiência máxima no uso dos
recursos (...)” (CAVALCANTI, 2012, p. 46).

Estes elementos do desenvolvimento sustentável referem-se à atuação de


empresas que ressaltam questões relativas à economia ecológica caracterizando a
gestão ambiental nas empresas. Boulding (1964 apud FUKS, 2012) foi enfático
quanto à necessidade de transformação no comportamento econômico da
humanidade. Há inúmeros fatores que auxiliam para essa transformação, como a
revisão exacerbada da extração dos recursos naturais pelo sistema econômico
moderno, que resulta na diminuição desses recursos para as gerações futuras.
Outro elemento a ser discutido é o aumento da população no Planeta,
consequentemente elevando o nível de consumo.

Existem ferramentas que ajudam na diminuição desses impactos, de modo a


criar processos capazes de manter a base de recursos, utilizando tecnologias que
minimizem o consumo e produção. Essas ferramentas são a base da economia
ecológica, um exemplo é o fluxo de energia solar, visando reduzir os efeitos
causados pela geração atual.

Para que a economia ecológica aconteça, apresentam-se certas condições


mínimas para a sustentabilidade nas organizações, governos e afins:

i) a taxa de extração de um recurso renovável deve ser igual à sua taxa de


regeneração; ii) a taxa de emissões de resíduos não deve ser superior à
capacidade de assimilação do meio ambiente onde eles são despejados; iii)
a taxa de extração dos recursos não renováveis deve ser equivalente à sua
substituição por recursos renováveis (DALYM 1990b; PEARSON; TURNER,
1994, apud FUKS 2012, p. 111).

Tendo o discurso acadêmico, e geral, voltado cada vez mais às questões


ambientais, algumas organizações estão com suas atenções voltadas para um novo
tipo de gestão, a gestão ambiental.
21

Como dito anteriormente, com o grande avanço das indústrias, crescimento


da população, aumento da produção e consumo, o meio ambiente não consegue
mais absorver a quantidade de poluição emitida pelo sistema econômico global.

Com isso, segundo Fuks (2012), iniciou-se uma série de reações, como uma
gradual conscientização social, o maior comprometimento em relação ao meio
ambiente por parte das instituições políticas e a crescente aceitação por parte do
setor empresarial de que a implementação de Sistemas de Gestão Ambiental (SGA),
pode ser uma estratégia eficiente. Acreditando-se, então, que o SGA pode lidar com
os efeitos socioambientais negativos provocados pelas empresas em suas
operações, de modo a torná-las agentes no processo de desenvolvimento
sustentável, baseado em uma economia ecológica.

É importante ressaltar que, embora haja, ou deveria haver, uma grande


preocupação com a situação ambiental, em razão do uso dos recursos para o
crescimento econômico, a natureza é finita, ou seja, aposta-se que não suportará o
crescimento acelerado das organizações e sistemas. Para isso, é essencial agir de
forma rápida e consciente, e tentar evitar e/ou minimizar os impactos causados por
esse desenvolvimento.

2.3 A aplicação da Responsabilidade Social Empresarial

Até o momento, o desenvolvimento do tema responsabilidade social e


ambiental em nossa sociedade, foi compreendido, bem como seu conceito e a forma
de atuação crescente das empresas. Neste capítulo, desenvolver-se-á aspectos da
responsabilidade social empresarial (RSE). Nesse termo, RSE, inclui-se tanto
responsabilidade social quanto ambiental. Após esse apanhado questiona-se, como
as empresas iniciam esse processo? Quais motivos fazem com que a organização
desenvolva ações nessas áreas? Como podem ser desenvolvidas essas atividades
sociais e ambientais?

Para Tenório (2004) há elementos que motivam as empresas na realização


de ações de responsabilidade social, entre eles cita as pressões externas, pela
forma instrumental ou por questões de princípios. De acordo com esse autor, as
22

pressões externas estão relacionadas às legislações ambientais, aos movimentos e


exigências dos consumidores, à atuação dos sindicatos trabalhistas e às
reivindicações das comunidades afetadas pelas atividades industriais.

As empresas prestam serviço aos seus públicos, mas é importante que elas
saibam que é dever atender ao interesse público. Por exemplo, podem os
consumidores fazer com que uma organização não fique indiferente à frente de um
problema social ou ambiental? Sim, e cabe ao consumidor exigir que a organização
atenda aos princípios da sustentabilidade. Pode, inclusive, organizar protestos
contra a marca ou ao produto, como ocorreu no caso da Arezzo 2 em 2011. Após
lançar sua nova coleção de bolsas e sapatos, chamada Pelemania, feita a partir de
peles de animais como coelho e raposa, a Arezzo recebeu diversas críticas nas
redes sociais. Suas páginas no Facebook e Twitter foram alvo de reclamação dos
consumidores e isso fez com que a Arezzo retirasse do mercado os produtos à
venda.

Esse tipo de manifestação faz com que a organização inicie um processo a


que ela não estava acostumada realizar, como relata Srour (2000 apud TENÓRIO,
2004) quando diz que a cidadania organizada pode levar os dirigentes empresariais
a agir de forma responsável, em detrimento, até, das suas convicções.

Conforme Tenório (2004), organismos internacionais como a Organização


Mundial do Comércio (OMC), e a própria Organização das Nações Unidas (ONU),
também incentivam as empresas de todo o mundo a seguir códigos de conduta e
princípios básicos relacionados à preservação do meio ambiente, às condições de
trabalho e do respeito aos direitos humanos.

Outro fator que influencia a prática de ações sociais por parte das
organizações é a forma instrumental, citada anteriormente. A forma instrumental
oferece algum tipo de benefício ou vantagem. “A natureza do benefício não precisa
ser necessariamente econômica, e as vantagens podem se traduzir, entre outras, no
aumento de preferência do consumidor e no fortalecimento da imagem da marca”

2
Disponível em: <https://www.natanaeloliveira.com.br/o-poder-das-redes-sociais-caso-arezzo>.
Acesso em: 10 set. 2013.
23

(TENÓRIO, 2004, p. 34). Uma das formas de benefício cedido pelos governos é o
incentivo fiscal.

Ao avaliar essas duas abordagens, pressões externas e forma instrumental,


podemos perceber que as organizações nesses dois momentos somente realizam
ações por serem pressionadas por terceiros ou recebem algo em contrapartida. Isso
não garante continuidade das ações, como avalia Tenório (2004, p. 35):

[...] ao que parece, não garantem a continuidade de investimentos sociais a


longo prazo. Como consequência, se houver diminuição das pressões da
comunidade em relação às questões ambientais, sociais e trabalhistas, ou
se as leis de incentivos fiscais forem revogadas, as empresas poderão
diminuir o montante de investimentos destinados a essas áreas.

Mas quando a RSE é motivada por questões de princípios, último fator citado
por Tenório (2004), as chances da descontinuidade dos investimentos sociais são
reduzidas, pois esses valores fazem parte da cultura da organização, guiando as
suas ações e orientando as relações com fornecedores, clientes, governo,
acionistas, meio ambiente, comunidades, entre outros.

Segundo Tenório (2004), quando as empresas começam a atuar de maneira


sócio e ambientalmente responsáveis, por questões de princípios, diminuem os
riscos referentes a greves, contingências ambientais e fiscais e vinculação da
imagem da empresa a escândalos.

É essencial que as empresas conheçam e entendam todo o processo quando


implantam as atividades voltadas à área de responsabilidade. Para Froes e Neto
(2001), as ações de responsabilidade social exigem periodicidade, método,
sistematização e, principalmente, o monitoramento ativo por parte das empresas-
cidadãs. De acordo com esses autores, uma empresa responsável atua em três
canais éticos: o vetor da adoção, da difusão e da transferência dos valores éticos.
Esta última considerada como a mais importante.

No vetor da adoção, “a empresa inicia a mudança em favor de uma cultura


empresarial voltada para o exercício da responsabilidade social. Ela simplesmente
cumpre com as obrigações éticas, morais, culturais, econômicas e sociais junto a
seus diversos públicos” (FROES; NETO, 2001, p. 133). Já no vetor da difusão, a
24

empresa, com uma cultura interna de responsabilidade social, planeja e desenvolve


ações para fins de aplicação em projetos sociais e ações comunitárias.

Mas é através do último vetor, a transferência de valores éticos, que a


empresa exerce a responsabilidade social de maneira completa. Segundo Froes e
Neto (2001) ao transferir valores éticos aos seus públicos interno e externo, a
organização alcança a excelência na gestão da responsabilidade social. Os projetos
e ações desenvolvidos por ela tornam-se sustentáveis e as consequências obtidas
asseguram uma melhoria da qualidade de vida no trabalho e na comunidade.

As organizações que internalizam a responsabilidade social em suas


estratégias – do planejamento à ação – e passam a ter uma gestão
socialmente responsável estabelecem padrões éticos no relacionamento
para com seus diferentes públicos, os stakeholders, criando valor para a
sociedade (ARAGÃO; KARKOTLI, 2004, p. 37).

É crescente o número de empresas que criam fundações ou participam de


iniciativas de apoio a causas sociais e ambientais, como forma de retribuição à
sociedade. No que tange ao social, Froes e Neto (2001) classificam esse exercício
da responsabilidade de duas maneiras: os projetos sociais e as ações comunitárias.

Ambos apresentam características particulares. Por exemplo, os projetos


sociais são empreendimentos voltados para a busca de soluções de problemas
sociais que afligem a sociedade. Já as ações comunitárias “correspondem à
participação da empresa em programas e campanhas sociais realizadas pelo
governo, entidades filantrópicas e comunitárias ou por ambas” (FROES; NETO,
2001, p. 29). Os projetos sociais próprios têm sua atenção voltada às ações que
promovem o desenvolvimento social, enquanto nas ações comunitárias, predomina
a adoção e o apoio a campanhas.

As ações comunitárias, por serem desenvolvidas por terceiros, são


consideradas de natureza indireta. Por outro lado, os projetos sociais são de
natureza direta, pois é a própria organização que planeja e desenvolve as ações.
Além disso, nos projetos sociais próprios, há maior retorno social de imagem para a
empresa. Por estar inserida diretamente na comunidade, a organização estreita
laços com seus públicos, fortalece sua imagem, e obtém ganhos sociais
significativos, que refletem no aumento de seu faturamento, vendas e participações
no mercado.
25

O meio ambiente também é explorado nesse contexto de responsabilidade


social empresarial. Apesar de já existir anteriormente, o movimento socioambiental
nas empresas ganhou impulso maior após a década de 90, com os resultados da
Primeira e Segunda Conferência Mundial da Indústria sobre gerenciamento
ambiental. Mudou a postura das empresas em relação ao meio ambiente, como dito
no capítulo anterior, refletindo-se em importantes decisões e estratégias da mesma.

Para Froes e Neto (2001), tal postura empresarial fundamenta-se, entre


outros, nos seguintes parâmetros: bom relacionamento com os consumidores; bom
relacionamento com os organismos ambientais; estabelecimento de uma política
ambiental; eficiente sistema de gestão ambiental; garantia de segurança dos
empregados e das comunidades vizinhas; uso de tecnologia limpa; elevados
investimentos e proteção ambiental; definição de um compromisso ambiental;
associação das ações ambientais com os princípios estabelecidos na Carta para o
Desenvolvimento Sustentável; a questão ambiental como valor do negócio, e
contribuição para o desenvolvimento sustentável dos municípios circunvizinhos.
Seguindo esses parâmetros a empresa se torna socialmente responsável.

[...] o campo da preservação ambiental destaca-se pela sua excelência em


política e gestão ambiental, pela sua atuação como agente de fomento do
desenvolvimento sustentável local e regional, e de preservação da saúde,
da segurança e da qualidade de vida de seus empregados e da comunidade
situada ao seu redor, e pela inserção da questão ambiental como valor de
sua gestão e como compromisso, sob a forma de missão e visão do seu
desempenho empresarial (FROES; NETO, 2001, p.150)

Segundo Maimon (1994), a resposta das empresas, diante das pressões


internas e externas, assume basicamente três linhas de ação: adaptação à
regulamentação ou exigência do mercado, sem modificar a estrutura produtiva e o
produto; adaptação à exigência do mercado, modificando os processos e/ou os
produtos. O objetivo é prevenir a poluição, selecionando matérias-primas,
desenvolvendo novos projetos e/ou produtos, além da antecipação aos problemas
ambientais futuros, assumindo um comportamento proativo e de excelência
ambiental. O objetivo é integrar a função ambiental no planejamento estratégico da
empresa, o que é um objetivo social.
26

Para Freitas (1999 apud KUNSCH, 2003), ser social é preocupar-se com os
efeitos de suas atividades produtivas sobre o equilíbrio ecológico, a fim de assegurar
que se legará um planeta onde se possa viver às futuras gerações.

Embora as ações ambientais estejam em crescente expansão, uma pesquisa


realizada pelo Grupo de Institutos, Fundações e Empresas (GIFE, 2010), concluiu
que as grandes empresas brasileiras escolheram a educação como principal foco de
suas ações. Como exemplo de empresa brasileira, temos o Bradesco que
desenvolve ações na área da educação através da Fundação Bradesco.

Várias empresas seguem a mesma estratégia através de seus Institutos.


Conforme Froes e Neto (2001), tais ações focadas na educação da comunidade,
beneficiam indiretamente a empresa, pois esta recruta mão-de-obra na própria
comunidade.

É importante lembrar que podem ser realizadas ações de responsabilidade


social voltadas diretamente ao público interno da organização.

A maior parte das organizações, independentemente do porte, pode


desenvolver iniciativas de responsabilidade social que contribuam para a
satisfação dos seus colaboradores internos. Para citar alguns exemplos, tais
iniciativas podem ser expressas através do planejamento das atividades
que internamente são desenvolvidas, da adequação das instalações e
equipamentos, da qualidade e transparência da comunicação interna, das
oportunidades de desenvolvimento pessoal e de carreira que a organização
oferece (ARAGÃO; KARKOTLI, 2004, p. 40).

Também pode-se incluir nessas iniciativas o planejamento de atividades


culturais e recreativas, como festas de final de ano e gincanas, obtenção de planos
de saúde e odontológico, benefícios que podem ser aplicados aos empregados e
familiares, programas de conscientização e educação ambiental, entre outros.

É importante desenvolver um trabalho voltado ao público interno de uma


organização, para provar que “os valores que orientam as políticas de
responsabilidade social foram verdadeiramente internalizados e adotados como
princípios e não como instrumentos de marketing [...]” (NETO, 2010, p. 29).

Para o autor, é necessário idealizar a política de responsabilidade social a


partir de um processo que envolva, primeiramente, todos os colaboradores da
organização, pois essa será a única forma de validar a participação dos demais
27

públicos nos projetos e programas a serem desenvolvidos pela empresa nessa área.
O mesmo vale para as ações ambientais.

As empresas devem entender que é essencial a aplicação da


responsabilidade social interna, pois assim transferem a sua ética social interna para
a comunidade, promovendo a cidadania externa. Ações voltadas aos colaboradores
refletem nas atitudes com o público externo. Entende-se que o jeito que a empresa
trata seus empregados evidencia-se também no modo como ela trata seus clientes,
fornecedores, por exemplo.

Com ações voltadas ao público interno, a comunidade poderá constatar se a


responsabilidade social e ambiental exercida pela instituição é baseada em valores e
princípios éticos, ou se essas ações são movidas pelo desejo de obter publicidade
gratuita com a divulgação de apoios e patrocínios voltados a causas filantrópicas ou
assistencialistas.

Pode-se concluir que, de um modo geral, as empresas começam a aplicar


suas ações de responsabilidade social e ambiental a partir de uma abordagem
externa, ou seja, começam pela relação com a comunidade. Após, podem enveredar
para um processo interno. Tudo isso ocorre por consequência de fatores que, de
alguma forma, influenciam no posicionamento das organizações.

2.4 Responsabilidade Socioambiental e seus indicadores

Todas essas ações, aplicadas ao público interno ou externo e ao meio


ambiente, podem trazer um grande retorno para a organização. As empresas
devem, além de planejar e executar as ações de responsabilidade socioambiental,
monitorar e avaliar o resultado das mesmas. Isso auxilia no controle e pode justificar
o investimento feito pela organização no âmbito social e ambiental.

Há vários indicadores que podem ser utilizados pela empresa para analisar e
avaliar o que foi realizado pela organização. Esses indicadores são sistemas de
avaliação que permitem às empresas verificar seu nível de envolvimento em
questões socioambientais. Isso também possibilita a comunicação clara da empresa
com seus diferentes agentes.
28

Segundo Tenório (2004), os indicadores mais utilizados pelas empresas


atualmente são: balanço social, a demonstração do valor adicionado e as
certificações de responsabilidade social.

O balanço social refere-se a relatórios que apresentam informações de ordem


financeira, econômica e patrimonial. Tenório (2004) afirma que dentre os benefícios
da implementação do balanço social estão a identificação do grau de
comprometimento social da empresa com a comunidade, colaboradores e meio
ambiente; a evidenciação, através de indicadores, das contribuições à qualidade de
vida da sociedade; e a avaliação da administração através de resultados sociais, e
não somente financeiros.

Para Neto (2010), o balanço social em muito contribuirá para legitimar as


ações das instituições comprometidas com o desenvolvimento social através de
projetos voltados para a educação, preservação ambiental, inclusão social e resgate
da cidadania.

Já a demonstração do valor adicionado é um relatório que permite identificar


quanto de valor uma empresa agrega à sociedade e de que forma ele é repartido
entre os agentes.

A análise da distribuição do valor adicionado identifica a contribuição da


empresa para a sociedade e os setores por elas priorizados. Este tipo de
informação serve para avaliar a performance da empresa no seu contexto
local, sua participação no desenvolvimento regional e estimular ou não a
continuidade de subsídios e incentivos governamentais. E, em um contexto
maior, pode servir de parâmetro para definição do comportamento de suas
congêneres (RIBEIRO; LISBOA, 1999 apud TENÓRIO, 2004, p. 41).

Outro indicador é o certificado de responsabilidade social corporativo. São os


conhecidos certificados SA 8000, ISO 9000, ISO 14000, entre tantos outros que
surgiram para padronizar um conjunto mínimo de indicadores referentes aos
aspectos éticos e de responsabilidade social na condução dos negócios. O
certificado ISO 9000, por exemplo, é referente à qualidade dos produtos e o ISO
14000 às questões ambientais.

Para entender melhor o certificado de responsabilidade social corporativo,


pegamos como exemplo a ISO 14000, referente às questões ambientais. Em 1996,
foram publicadas as primeiras normas da série ISO 14000. O ISO 14000 é um
29

conjunto de normas que definem parâmetros e diretrizes para a gestão ambiental


para as empresas (privadas e públicas). Estas normas foram definidas pela
International Organization for Standardization - ISO ( Organização Internacional para
Padronização).3

Ao seguir as normas do ISO 14000, as empresas podem reduzir


significativamente os danos causados por suas atividades no meio ambiente e ainda
receber o certificado por sua conduta e política. “A ISO 14001, por exemplo, atesta
que a empresa possui um Sistema de Gestão Ambiental eficiente. É a mais popular
da série, havendo no mundo mais de 36 mil empresas com esta certificação”
(FELIZOLA; COSTA, 2010, p. 10).

[...] a implantação da ISO 14000, além de afirmar o cumprimento da


competitividade. Através de um sistema de gestão ambiental bem
legislação, ajuda a identificar e resolver problemas ambientais: Isto melhora
a imagem da empresa, bem como auxilia no incremento da sua estruturado,
é possível diminuir custos, como por exemplo, a redução do consumo de
energia e de matéria-prima. Além disso, a obtenção de um ISO 14000
facilita a comunicação de resultados alcançados, dentro e fora da
organização (FELIZOLA; COSTA, 2010, p. 11).

Pode-se perceber que o certificado de responsabilidade social corporativo é


um grande aliado das organizações, facilitando a divulgação da marca de forma
institucional e mercadológica, com isso aumenta o valor dessa marca diante dos
públicos interno e externo.

Mais especificamente nas ações voltadas ao meio ambiente, desde 1940 são
discutidos os indicadores de sustentabilidade. Uma das medidas, segundo Veiga
(2010), é a Medida de Bem-estar Econômico (ou MEW na sigla em inglês) que é
uma medida de consumo ao invés de produção. O primeiro passo é se voltar ao
produto líquido, não o bruto, considerando a absoluta necessidade de depreciações.

Logo depois é introduzida a ideia de um nível de consumo per capita que


não excede a tendência de aumento da produtividade do trabalho, chamado
pelos autores de "sustentável". Para eles, se o consumo per capita exceder
esse nível dito "sustentável", significa que ele está avançando sobre parte
dos frutos do progresso futuro. Na conclusão, comparam os resultados
obtidos para a medida de bem-estar econômico (MEW) aos dados sobre o
4
produto líquido (NNP na sigla em inglês), em vez de compará-los ao PNB
(GNP na sigla em inglês) (...) (VEIGA, 2010, p. 4).

3
SUA PESQUISA. Disponível em: <http://www.suapesquisa.com/o_que_e/iso_14000.htm>. Acesso
em: 07 set. 2013.
4
Produto Nacional Bruto
30

Essa medida foi publicada por Nordhaus & Tobin, em 1972, e para Veiga
atualmente é um indicador que pode ser considerado como o mais “remoto
ancestral”.

Após 17 anos da publicação de Nordhaus & Tobin, surgiu o "Índice de Bem-


estar Econômico Sustentável” (sigla em inglês ISEW) do economista ecológico
Herman E. Daly. O modelo proposto por Daly & Cobb Junior teve enorme
repercussão prática. Além de ser usado para calcular o índice em países como
Canadá, Alemanha, Reino Unido, Escócia, Áustria, Holanda, Suécia, Chile, Itália,
Austrália e Tailândia, “em 2004 se transformou no Indicador de Progresso Genuíno
(GPI na sigla em inglês), criado pela ONG americana Redefining Progress” (VEIGA,
2010, p. 5).

Segundo Veiga (2010), mesmo assim o modelo Isew não pode ser
considerado um indicador que efetivamente avalia a sustentabilidade, pois a
precificação de danos ambientais, trabalho doméstico ou voluntário e de ganhos de
lazer, por exemplo, continua a ser envolvida em grande especulação, por mais que
economistas convencionais e alguns ecológicos se esforcem em aperfeiçoar seus
métodos de valoração. “Sempre será um exercício arbitrário atribuir grandezas
monetárias a prejuízos ou ganhos que não têm preços determinados por mercados”
(VEIGA, 2010, p. 5).

Dos indicadores citados por Veiga (2010) até o momento, o que há de comum
é o fato de que para se chegar a algum indicador de bem-estar econômico, ou de
progresso genuíno, parte-se dos dados das contabilidades nacionais que,
tradicionalmente, visam ao cálculo do produto (seja ele interno ou nacional, bruto ou
líquido).

O autor cita a existência de vários indicadores de sustentabilidade, entre eles


o Índice de Sustentabilidade Ambiental (ESI na sigla em inglês), Índice de
Desempenho Ambiental (EPI na sigla em inglês), a Poupança Líquida Ajustada
(ANS na sigla em inglês) e a Pegada Ecológica (Ecological Footprint).

Dentre os índices citados pelo autor, ele esclarece que “o que é preciso reter
é a ideia básica de medir as várias pressões humanas sobre os ecossistemas para
compará-las à sua capacidade de suporte. Mas sem agregá-las” (VEIGA, 2010, p.
31

8). Segundo ele, indicadores de sustentabilidade tentam medir o desempenho


econômico, a qualidade de vida (ou bem-estar) e a sustentabilidade do
desenvolvimento.

Para Froes e Neto (2001), os resultados internos também podem ser


percebidos e identificados, sendo outro indicador para a organização dos resultados
das ações de responsabilidade. A empresa percebe quando sua produtividade
aumenta, quando os gastos com saúde dos funcionários diminuem, ou se a
organização consegue desenvolver o potencial, habilidades e talentos dos
funcionários, multiplicando as inovações.

Quanto aos resultados externos a empresa lucra socialmente com a maior


credibilidade e confiança do cliente em relação a ela, o que reflete no aumento da
venda de seus produtos e serviços; reforça, também, a imagem e aumenta a
capacitação profissional da mão-de-obra local.

Entende-se que, além de incorporar valores e fortalecer a imagem corporativa


de marcas e produtos, as ações sociais e ambientais fazem com que a empresa
ganhe o respeito, reconhecimento e simpatia dos clientes, fornecedores,
distribuidores e de toda a população. Portanto, “Praticando ações de
responsabilidade social, as empresas mantêm vínculos com o seu ambiente interno
e externo” (FROES; NETO, 2001, p. 73).

2.5 Relações Públicas e Responsabilidade Socioambiental

Dentro do campo da comunicação, há uma área cada vez mais voltada às


estratégias e implantações de ações socioambientais nas organizações. O processo
e as funções de relações públicas são amplos e incluem: assessoria, pesquisa,
planejamento, execução, avaliação e controle. O foco de seu trabalho se dá,
principalmente, na relação organização e seus diferentes públicos.

Mas como podemos aliar relações públicas e responsabilidade


socioambiental? É preciso, antes de tudo, entender qual o trabalho que esse
profissional desenvolve nas organizações.
32

Segundo Grunig (2003), o profissional de relações públicas trabalha, entre


outros, para empresas privadas, governos, associações de classe, organizações não
governamentais, escolas, universidades, hospitais e hotéis, para organizações de
pequeno e grande porte. Os departamentos de relações públicas colaboram para a
efetividade da organização, na medida em que constroem relacionamentos com
aqueles públicos que a afetam ou que são afetados por suas atividades.

O relações públicas desenvolve atividades específicas de comunicação e


“realizam pesquisas para identificar questões críticas potenciais, estabelecer
objetivos de comunicação junto aos públicos estratégicos, especificar objetivos
mensuráveis para os programas de comunicação e utilizar métodos formais e
informais para avaliar a realização desses objetivos” (GRUNIG, 2003, p. 14).

Mas por que são atribuídas aos relações públicas todas essas atividades?
Quais os objetivos que querem atingir? Neto (2012), propõe os 4 R’s das relações
públicas como forma de apresentar interesses e de como suas atividades podem ser
úteis às organizações. Essas atividades realizadas pelo profissional da área ajudam
na manutenção ou obtenção de Reconhecimento, Relacionamento, Relevância e
Reputação. É a partir desse contexto que podemos entender um pouco mais de
relações públicas.

Desses quatro R’s, dois nos fazem entender por que essa profissão está cada
vez mais especializada na área de responsabilidade socioambiental. O primeiro é a
Relevância, algo importante no mercado competitivo, uma vez que faz a organização
ser diferente e distinta dos concorrentes. Entre as práticas adotadas pelos
profissionais de relações públicas para obter a relevância da empresa frente aos
seus públicos, é a prática de ações de responsabilidade.

O outro “R” das relações públicas, que é fator importante para a implantação
das ações de responsabilidade por esse profissional, é a Reputação. Segundo Neto
(2012), construir uma reputação é consequência de uma sucessão continuada de
atitudes, decisão, comunicação com o público e apoio a projetos de terceiros.
Conforme esse autor a coerência e o apego a princípios e valores, contribuem para
a construção de uma boa reputação.
33

Para Kunsch (2003), as organizações são convidadas a exercer novos papéis


na construção da cidadania, sendo muito grande o número de programas ligados a
projetos sociais e a parcerias com o terceiro setor. Para a autora, “os investimentos
feitos certamente estão dando grande retorno em termos de aperfeiçoamento do
conceito institucional e de construção de uma identidade corporativa mais forte e
perene” (KUNSCH, 2003, p. 133).

Vale lembrar que, em sua essência, os pressupostos teóricos da área são


válidos também no âmbito dos trabalhos voltados para as causas sociais. O mesmo
se pode dizer das técnicas e dos instrumentos disponíveis, mudando apenas a
forma, os recursos e a maneira de empregá-los.

Já na década de 80 era discutida a necessidade da profissão voltar-se para o


campo social. Uma forma das relações públicas “ultrapassarem as fronteiras de uma
prática voltada exclusivamente ao setor privado ou governamental e atuar numa
nova dimensão, pondo-se a serviço também das comunidades locais e das
organizações sem fins lucrativos” (KUNSCH, 2003, p. 134).

O profissional de relações públicas tem papel fundamental na conscientização


da empresa em relação a sua responsabilidade para com a sociedade e o meio
ambiente. Além disso, a grandeza social e o cultivo dos valores devem permear as
práticas desse profissional nas organizações, no contexto da sociedade
contemporânea. Para Kunsch (2003, p. 144), o trabalho voltado para o social tem de
ser guiado por alguns princípios:

Primeiro, que o profissional, como indivíduo e cidadão, tem de cultivar


conscientemente a solidariedade humana, e ajudar a construir uma
sociedade mais justa, minimizando os problemas dos grupos sociais
excluídos. Em segundo lugar, que ele precisa ter a ética como princípio
balizador, evitando envolver-se com projetos e programas que visem pura e
simplesmente a retornos mercadológicos e egoístas (KUNSCH, 2003, p.
144).

Conforme Nader e Oliveira (2006), as transformações que vêm ocorrendo na


sociedade precisam se refletir nas atividades de relações públicas, contribuindo com
o exercício da cidadania e com a valorização crescente da relação de transparência,
responsabilidade social, diálogo e confiança que se deve buscar entre organizações
e públicos. “E é agindo assim que as relações públicas podem ser consideradas
uma função intimamente ligada à educação com fim social, porque se propõe,
34

justamente, a estabelecer a relação entre organização e públicos de forma


consciente e ética” (NADER; OLIVEIRA, 2006, p. 104).

Para Carvalho (2007 apud KUNSCH; KUNSCH, 2007) as etapas que o


profissional de relações públicas cumpre na implantação de uma cultura de
responsabilidade social nas organizações, são:

1. Proposta de mudança comportamental: o profissional deve procurar


delinear o perfil da cultura da organização.

2. Definição de uma missão sinergicamente integrada com a visão da


organização: o profissional deve saber explorar a missão da organização com sua
razão de existir.

3. Determinação e divulgação dos objetivos sociais: o profissional deve


estabelecer os objetivos da participação da organização no campo social e divulgá-
los para a comunidade, funcionários, formadores de opinião, entre outros.

4. Motivação e reconhecimento do público interno: o profissional deve criar


estratégias que proporcionem um ambiente sadio e alegre aos colaboradores,
resultando em maior qualidade de vida.

5. Implantação de uma política de responsabilidade social: o profissional


viabiliza a adoção de uma cultura de responsabilidade social que conte com o
comprometimento de todos da organização, principalmente a diretoria.

6. Identificação de lideranças: atuando ao lado das chefias, o profissional


pode ajudar a identificar os funcionários que, por suas qualidades individuais,
possam assumir um papel de liderança nas causas sociais a serem implantadas.

7. Interpretação da responsabilidade social: o profissional deve interpretar o


significado de responsabilidade social e traduzi-lo para a organização - direção,
chefia, colaboradores - para que todos se tornem capazes de inserir esse conceito
em sua atividade, facilitando o alcance dos objetivos sociais da organização.

8. Desenvolvimento de parcerias entre a empresa, os clientes e os


fornecedores: deve propor um bom relacionamento com os clientes e fornecedores,
35

bem como estabelecer critério de seleção de parceiros que tenham postura


socialmente responsável em toda a sua cadeia produtiva.

9. Comunicação e divulgação dos fatos: é preciso que ele desenvolva um


sistema seguro de informações que incluam os dados relativos à área social.

10. Criação de um ambiente de empoderamento: no papel de comunicador, o


relações públicas divulga as metas da organização e seus objetivos, mantém canais
de informação, dirige sua atenção para uma cultura do “que fazer”, possibilitando
soluções criativas por parte dos funcionários.

11. Desenvolvimento de programas de relacionamento com as comunidades:


os projetos podem ser referentes a apoio/patrocínio, programas de educação
ambiental e de reciclagem, entre outros, dependendo do interesse da empresa e
atendendo as necessidades, exigências e expectativas da comunidade e do governo
local.

12. Criação de uma atmosfera de envolvimento total: o profissional deve


preocupar-se com a criação de condições para que haja um envolvimento total da
organização e de seus públicos com a responsabilidade social, pondo foco também
nos comunicadores e aqueles que fazem parte da cadeia produtiva.

13. Estabelecimento de uma metodologia de mensuração de suas práticas: o


profissional deve aprender a mensurar suas práticas e o que elas representam para
a organização.

Kunsch (2003) explica que é importante que as ações sejam planejadas


adequadamente e devem ser coerentes com as características, o ambiente social,
as necessidades e a realidade propriamente dita dessas organizações.

Portanto, a comunicação desempenha papel de grande relevância nas ações


sociais e ambientais. Conforme Dantas (2009), não basta que uma empresa
simplesmente adote uma postura socialmente responsável e que se empenhe de
fato, dedicando uma parcela de si à preservação do meio ambiente. As ações da
empresa só terão credibilidade se as pessoas tiverem consciência do seu empenho.
A comunicação leva às pessoas essa informação.
36

Como dito anteriormente, o relações públicas pode usar das ferramentas de


sua profissão para poder auxiliar as empresas na busca de ações de
responsabilidade que atendam seus diferentes públicos. Ao realizar pesquisas de
opinião e avaliá-las poderá conhecer as necessidades e planejar ações de melhorias
para o bem-estar da comunidade. A partir disso, também pode divulgar essas ações
para conhecimento dos seus públicos. Assim, evidencia-se que é necessário
desenvolver ações estratégicas de comunicação para que as ações das
organizações sejam reconhecidas em determinado segmento e as diferencie no
contexto mercadológico. O trabalho do profissional de relações públicas envolve
iniciativas de mobilização social em busca da corresponsabilidade. “Para tanto se
fazem necessários projetos abertos, multidirecionais, participativos e democráticos,
sem abrir mão do planejamento formal, como meio de coordenar e organizar as
iniciativas” (KUNSCH; KUNSCH, 2007, p. 117).

Para Mainieri e Moreira (2010), dentre os benefícios conquistados das ações


de relações públicas voltadas à responsabilidade social estão a motivação dos
funcionários e sua autoestima, lealdade com os clientes e a conquista de novos,
fortalecimento das relações com os públicos de interesse, fortalecimento da marca,
maior divulgação da organização na mídia e, consequentemente, maior
reconhecimento público.

No exercício da responsabilidade social é essencial o compromisso do


profissional de relações públicas no resgate da cidadania e na
transformação da realidade social, bem como seu posicionamento como
verdadeiro agente de mudanças, que contribui para a criação da empresa-
cidadã, disposta a colaborar para que todos tenham melhores
oportunidades, um diálogo permanente e uma participação na busca da
construção de uma sociedade mais justa (MAINIERI; MOREIRA, 2010, p. 6).

De fato, conforme visto até aqui, o profissional de relações públicas tem à sua
disposição ferramentas que podem contribuir para a construção de um novo
conceito de administração empresarial, em que a organização se torna
comprometida com a qualidade de vida do indivíduo e comunidade. Assim, será
capaz de estimular a prática responsável por parte da organização, reforçando seu
papel estratégico na empresa.
37

3 MÉTODO

Para que os objetivos propostos fossem atendidos e o objeto de estudo fosse


melhor analisado, essa monografia passou por quatro etapas essenciais. No
primeiro momento houve a pesquisa bibliográfica, que resultou na construção do
referencial teórico. A pesquisa bibliográfica é elaborada a partir de material já
publicado, constituído principalmente de livros, artigos de periódicos e, atualmente,
com material disponibilizado na Internet.

A partir da pesquisa bibliográfica pôde-se compreender o significado de


responsabilidade socioambiental, bem como sua importância, processos, formas de
análise e possíveis vertentes dentro de uma organização.

Além dos diversos conceitos e informações envolvendo o tema


responsabilidade social empresarial, foram analisadas formas como o relações
públicas, profissional especializado na construção da boa reputação organizacional
através de relacionamentos, pode participar do processo de planejamento e
implementação de ações referentes a essa área.

Na segunda fase, houve o contato com a empresa sobre a qual se decidiu


realizar o estudo exploratório, como forma de entender melhor o processo dentro de
uma organização que realiza ações de RSA. É importante explicar que a mesma
opta por apresentar suas ações como de responsabilidade social, não utilizando o
termo responsabilidade socioambiental, mas neste estudo optou-se por utilizar,
quando discutidas as ações da mesma, como responsabilidade socioambiental.
38

No estudo de campo, na organização, realizou-se uma entrevista


semiestruturada e observações durante a visita na unidade da AGCO, em Canoas.
Segundo Duarte (2008), as perguntas feitas em uma entrevista permitem explorar
um assunto ou aprofundá-lo, descrever processos e fluxos, compreender o passado,
analisar, discutir e fazer prospectivas.

Para viabilizar esse processo, tornando-o válido e confiável, e pelo acesso


disponibilizado pela organização, fez-se a seleção do seguinte informante: Roberta
Vieira, Orientadora de Projetos de Responsabilidade Social na empresa AGCO, em
Canoas, Rio Grande do Sul. Roberta faz parte da equipe que planeja, executa e
analisa as ações implantadas pela AGCO.

Os entrevistados devem ter envolvimento com o assunto escolhido, além de


disponibilidade e disposição em falar. “Uma boa pesquisa exige fontes que sejam
capazes de ajudar a responder sobre o problema proposto” (DUARTE, 2008, p. 68).
Grande parte da validade da pesquisa está relacionada à seleção dos informantes.

Na terceira etapa, realizou-se a pesquisa e análise documental, em que se


analisaram as ações realizadas pela AGCO e publicadas em seu site, além dos
indicadores de avaliação, como os certificados de ISO.

Segundo Moreira (2008), a análise documental compreende a identificação, a


verificação e a apreciação de documentos para determinado fim. As fontes dessa
pesquisa foram primárias, pois envolveram a divulgação das informações pela
própria empresa.

Na quarta etapa, procedeu-se à análise do conteúdo, tanto das entrevistas


quanto da pesquisa documental, cruzando-se esses dados com os elementos
teóricos.

Para a análise dos resultados colhidos durante as entrevistas, Duarte (2008)


explica que, na redação da descrição e análise, o pesquisador assume a posse das
informações e as articula de forma a conduzir a atenção do leitor.

A análise do conteúdo é um método organizado em três fases cronológicas,


segundo Fonseca Júnior:
39

(1) Pré-análise: consiste no planejamento do trabalho a ser elaborado,


procurando sistematizar as ideias iniciais com o desenvolvimento das
operações sucessivas [...]. (2) Exploração do material: refere-se à análise
propriamente dita [...]. (3) Tratamento dos resultados obtidos e
interpretação: os resultados brutos são tratados de maneira a serem
significativos e válidos (2005, p. 290).

Através da análise crítica das informações colhidas, pôde-se chegar às


respostas dos problemas apresentados e dos objetivos propostos neste estudo.
Chegando ao capítulo discussões, em que são explanados cada um desses
problemas e objetivos do trabalho.
40

4 CONTEXTUALIZAÇÃO: A EMPRESA AGCO

O capítulo apresenta estudo na empresa AGCO do Brasil, em uma de suas


unidades, localizada em Canoas, Rio Grande do Sul. Essa unidade foi escolhida
para aplicar a pesquisa porque o departamento que planeja e desenvolve as ações
de Responsabilidade Social da empresa, no Brasil, está localizado nessa cidade.

A AGCO foi formada em 1990, através da aquisição da empresa alemã Deutz


Allis, do grupo KHD. Atualmente a AGCO têm sua sede em Duluth, na Georgia,
EUA, sendo fabricante e distribuidora mundial de equipamentos agrícolas. Responde
por marcas conhecidas no setor agrícola, como Massey Ferguson e Valtra.

A empresa conta com mais de 2.600 concessionárias5 independentes,


estando seus produtos e máquinas presentes em mais de 140 países. Dentre seus
produtos podem ser listados tratores, colheitadeiras, equipamentos para fenação e
forragem, pulverizadores, implementos e peças de reposição.

No Brasil, a AGCO iniciou suas atividades em 1996, quando adquiriu a


Iochpe-Maxion, líder de mercado e responsável pelos tratores da marca Massey
Ferguson. Sua atuação aumentou ainda mais no país com a aquisição da Valtra do
Brasil, em 2005. Após, a ACGO assumiu o controle de diversas empresas do
segmento agrícola, com destaque em 2011, quando anunciou a entrada em um novo
nicho de mercado com a aquisição da GSI Hilding, fabricante mundial de

5
AGCO. Disponível em: <http://www.agco.com.br/empresa/sobre_agco.aspx>. Acesso em: 07 set.
2013.
41

equipamentos para armazenagem e secagem de grãos, com soluções para


aumentar a eficiência da produção de proteína animal.

As unidades brasileiras da AGCO estão localizadas em Jundiaí (SP), Mogi


das Cruzes (SP), Santa Rosa (RS), Ibirubá (RS) e Canoas (RS), onde está
localizada a maior planta da empresa na América Latina.

O posicionamento e a visão, assumidos pela AGCO, conforme exposto no


seu site, tem foco no fornecimento de soluções de alta tecnologia para os produtores
rurais que alimentam o mundo. Sua missão é o crescimento sustentável através do
atendimento ao cliente, inovação, qualidade e comprometimentos superiores. Dentre
seus valores estão:
42

Quadro 1 – Apresentação dos Valores AGCO

Criam soluções excelentes para os clientes, ouvindo


atentamente suas necessidades e excedendo suas
Foco no Cliente
expectativas.

A lucratividade da concessionária é o meio para o seu


Foco na Concessionária e Distribuidores sucesso e esperam ser o fornecedor preferido.

- Valorizar os funcionários.

- Ser o empregador preferido em seu segmento.

- Desenvolver funcionários altamente motivados que


sejam os mais instruídos e melhor treinados no
segmento.

- Desenvolver as habilidades e qualificações dos


funcionários.
Dimensões Humanas
- Almejar que seus líderes sejam pró-ativos e indiquem
a direção.

- Almejar que os líderes influenciem e estabeleçam as


regras.

- Alcançar vantagem competitiva através da agilidade,


qualidade e comportamento inovador.

Mais do que entregar alta qualidade em produtos e


Número Um na Qualidade Percebida pelo Cliente serviços, querem ser reconhecidos por isso.

- Agir de maneira ética como bons cidadãos


corporativos em todas as comunidades nas quais a
Companhia atua.

- Cuidar do meio ambiente.


Padrões Éticos
- Proteger o meio ambiente de influências nocivas,
conservar os recursos naturais e promover a
consciência ambiental.

Reconhecem a tradição e o valor das marcas, a


lealdade dos clientes e a identificação das
concessionárias e distribuidores com as marcas. A
Valores da Marca estratégia multimarcas da AGCO mantém o valor de
cada marca.

- Almejam alcançar crescimento lucrativo.

Agregar valor para o acionista - A AGCO administrará o negócio para oferecer retorno
superior a seus acionistas.

Fonte: Adaptado pela autora do site da AGCO.

Pôde-se perceber nos valores éticos apresentados, o desejo de agir de modo


correto tanto como bons cidadãos corporativos, quanto cuidando e protegendo o
meio ambiente e promovendo a conscientizando ambiental. Sendo assim, a partir
43

disso, busca-se compreender melhor o posicionamento da AGCO quanto à sua


responsabilidade socioambiental no meio onde está inserida.

Em um vídeo disponível no site da AGCO, no qual a empresa apresenta um


posicionamento sustentável, é explanado que o objetivo da sustentabilidade
promovido pela organização é a oportunidade de contribuir para a melhora da
geração atual e futura. Para isso, a AGCO busca desenvolver um sistema de
alimentação mais sustentável, tendo como prioridade os clientes, comunidades,
fornecedores e operações no meio onde está inserida.

Além disso, no vídeo institucional o Presidente e CEO da AGCO Corporation,


Martin H. Richenhagen, diz que a AGCO tem como foco garantir uma empresa
sustentável, pretendendo desenvolver sistema de agricultura bem-sucedido em
termos econômicos, porém sempre levando em considerações aspectos ambientais.
Segundo as palavras do Presidente da AGCO Mundial, isso exige trabalho dentro e
fora da empresa.

Para isso, conforme a AGCO, busca-se a conscientização de clientes,


fornecedores, colaboradores e todos envolvidos direta ou indiretamente a empresa.
A AGCO do Brasil desenvolve diversas ações de responsabilidade social e
ambiental, apresentando em seu site várias delas. A empresa pratica também ações
que estão relacionadas às leis de incentivos fiscais, que não estão presentes na
web. Aos poucos serão apresentadas neste estudo as ações desenvolvidas,
analisadas conforme alguns autores apresentados, no referencial teórico, e outros
que contribuem para uma análise crítica.

Há na empresa um setor de Comunicação e Responsabilidade Social, junto


ao departamento de Recursos Humanos, que pensa, planeja e executa as ações de
RSA. Na pesquisa de campo foi entrevistada a Orientadora de Projetos Sociais,
Roberta Vieira, quando verificou-se que a empresa, além de ter uma equipe para
desenvolver essas ações, conta também com a Jade Consultoria Social, que presta
consultoria nas ações socioambientais para todas as unidades da AGCO na América
Latina.

Em cada unidade há uma equipe para desenvolver o que é planejado na


unidade de Canoas. Por exemplo, a equipe de Canoas é formada por cinco
44

profissionais sendo duas da Jade Consultoria, a Coordenadora de Projetos Sociais,


formada em Letras e a Orientadora de Projetos Sociais, estudante de Psicologia; da
AGCO fazem parte da equipe uma analista de recursos humanos sênior, formada
em Relações Públicas, uma estagiária, estudante de Relações Públicas e um
gerente de comunicação interna e responsabilidade social, formado em Jornalismo.

Por ser estudante de comunicação, acredita-se que é importante ter


conversado com os profissionais desta área que trabalham na AGCO, mas como
não houve retorno a esta solicitação, não foi possível realizar estas entrevistas.
Assim, somente foi realizada entrevista com a Orientadora de Projetos Sociais.

Em seguida serão apresentadas as linhas de atuação de responsabilidade


social e ambiental que a AGCO segue e que estão disponíveis em sua página na
internet, bem como as citadas na entrevista realizada. Como proposta desse
trabalho, essas ações também serão avaliadas de forma crítica, buscando entender
o benefício de cada uma, seja social, ambiental ou econômica.

Nas análises realizadas e apresentadas no próximo capítulo, serão


observadas as ações, projetos e programas, desenvolvidos pela empresa e quais os
públicos que pretendem atingir. Nos anexos, consta uma planilha com as ações e
grupos de interesse, características e parceiros, para complementar as análises
feitas.
45

5 ANÁLISES

Partindo do que foi explanado até o momento, é clara a importância de uma


atenção das organizações às consequências de suas atividades na sociedade e no
meio ambiente. É visto que o tema responsabilidade socioambiental assume maior
relevância com o passar dos anos, mas muitas vezes estas ações são confundidas
com atos filantrópicos ou, simplesmente, buscam atender as exigências legais.

A proposta apresentada nessa monografia é de avaliar de modo sistemático


uma organização, que se coloca como responsável socioambientalmente,
verificando se a mesma realiza essas ações de forma sazonal ou contínua,
obrigatória (legal) ou espontânea. Como dito por Froes e Neto (2001), capítulo 2.3
deste trabalho “A aplicação da Responsabilidade Socioambiental”, as ações de
responsabilidade exigem periodicidade, método e sistematização, por isso, será
verificado, também, de que forma as ações da organização escolhida são realizadas
e quais seus objetivos.

Há diferentes maneiras de se avaliar e averiguar se a empresa pratica ações


de responsabilidade socioambiental e se as mesmas geram resultados. Para isso,
será verificado como a organização escolhida faz uso de alguns indicadores, citados
no referencial teórico, capítulo 2.4 “Justificando a responsabilidade socioambiental e
seus indicadores”. Foram escolhidos os apresentados por Tenório (2004): balanço
social e as certificações de responsabilidade social. Esta escolha deve-se ao fato de
entendermos que são os mais utilizados pelas organizações, hipótese esta que se
apoia nas leituras realizadas e em observações aleatórias em empresas.
46

Além disso, por ser estudante de relações públicas, analisou-se a importância


de verificar se as ações de responsabilidade socioambiental são aplicadas
internamente. Tomar-se-á como base o que foi apresentado no capítulo 2.5
“Relações Públicas e Responsabilidade Socioambiental”, principalmente a partir de
contribuições de Carvalho, que afirma o papel do profissional de relações públicas
na implantação de uma cultura de responsabilidade social nas organizações. Focar-
se-ão aquelas voltadas ao público interno, assim será apurado se a organização
realiza atividades de conscientização para os colaboradores.

5.1 Ações ambientais

A inquietação sobre as consequências das atividades das empresas no meio


ambiente ganhou força a partir de 1960. Muitos estados brasileiros reagiram,
aprovando leis que estabeleciam novas diretrizes em relação ao ambiente.

Segundo Júnior e Gomes (2012), a primeira reação dos empresários às


legislações ambientais foi hostil, lenta, desorganizada, deixando sem solução os
problemas ambientais que geraram os questionamentos. Mesmo assim, ao longo do
tempo e como resultado de contínuos confrontos com o Estado, movimentos sociais
e ideias ambientalistas fizeram com que as corporações modificassem
consideravelmente suas estratégias e suas ações.

No texto de apresentação das ações de responsabilidade social da AGCO,


presente no site da empresa, é citada que em cada planta fabril da AGCO busca-se
conformidade com todos os regulamentos ambientais. Além disso, procuram de
forma proativa atender padrões ainda mais altos. A partir daí, começam a expor as
ações, projetos e programas desenvolvidos, principalmente, relacionados ao meio
ambiente.

Falou-se no capítulo 3.2 do referencial teórico deste trabalho sobre o Sistema


de Gestão Ambiental (SGA), o que é considerado uma estratégia eficiente do setor
empresarial. Acredita-se que, com esse sistema, as empresas possam lidar com os
efeitos socioambientais negativos provocados por elas em suas operações.
47

Segundo a AGCO do Brasil, para contribuir de forma responsável, garantindo


que o meio ambiente esteja ecologicamente equilibrado, em sintonia com os
processos e produtos da empresa, implantou-se o Sistema de Gerenciamento
Ambiental em todas as suas unidades. Nele incluem-se, também, atividades,
projetos, ações e programas na área ambiental.

Conforme Maimon (1994), existem empresas que contam com um


departamento de meio ambiente ou que desenvolvem funções ambientais. Essa
função ambiental nas organizações tem como responsabilidade controlar a
performance interna e externa da regulamentação ambiental através de
treinamentos e informações aos colaboradores, mensuração das emissões, do lixo
industrial e dos produtos e processos nocivos. Também elaboram planos de
emergência, medem contato com a comunidade e tentam influenciar a estratégia
política da organização.

No caso da AGCO é o setor de Comunicação e Responsabilidade Social que


cuida da parte relacionada às atividades, ações, projetos e programas voltados às
questões ambientais, segundo as informações passadas por Roberta Vieira.

Dentre as ações apresentadas pela AGCO do Brasil estão os projetos


tecnológicos de transmissões e motores que reduzem as emissões e os ruídos
enquanto melhoram a economia de combustível. A empresa, ainda, avança no uso
de combustíveis biodegradáveis e biodiesel, como, por exemplo, o combustível feito
da cana-de-açúcar.

O projeto Biocombustível e Ecologia, da AGCO, refere-se ao desenvolvimento


de motores que queimam misturas de diesel com óleos vegetais – retirados da soja,
girassol e outros gêneros alimentícios. Atualmente, a AGCO oferece motores que
queimam combustível B5 - diesel com 5% de matéria verde6.

Esse motor, desenvolvido pela AGCO, pode encaixar-se na categoria de


produtos “ecobusiness”. Segundo Maimon (1994) esse termo designa uma gama de
produtos cuja demanda cresce com a difusão da consciência ecológica. As
empresas deixam de considerar o meio ambiente como um adicional de custo e

6
Disponível em: <http://www.agco.com.br/empresa/responsabilidade_social.aspx>. Acesso em: 21
set. 2013.
48

passam a vislumbrar lucros como a criação e difusão de novos produtos e


mercados.

Para Júnior e Gomes (2012), as novidades tecnológicas de algumas


empresas são ostentadas pelas publicidades ambientais, buscando gerar no
indivíduo a sensação de grandes soluções e tranquilidade.

É no seu site que a AGCO do Brasil apresenta essas novidades tecnológicas,


principalmente as relacionadas ao biodiesel. Consideram como “Destaques
tecnológicos” as seguintes informações aos visitantes de sua página: “O biodiesel
apresenta benefícios tanto para a terra quanto para os produtores”; “O biodiesel
queima de maneira mais limpa e polui menos que outros combustíveis”; “O valor das
culturas usadas para a produção de biodiesel aumentou significativamente”.

Acredita-se que, desta forma, a empresa busca persuadir os clientes


mostrando para eles que, ao adquirirem suas máquinas, estão colaborando com o
meio ambiente. Fazendo-os pensarem que assim minimizam os impactos causados
por seus trabalhos, quanto a emissão de gás poluente ao utilizarem o trator, por
exemplo, no dia a dia do campo.

A AGCO do Brasil conta, também, em todas as suas unidades no Brasil, com


o Programa Produção Mais Limpa (PML) desde 1998. Para Silva Filho e Sicsú
(2003), a PML segue a postura que melhor contribui para a proteção ambiental.

A Produção Mais Limpa, segundo a UNEP (Programa das Nações Unidas


para o Meio Ambiente), consiste na aplicação contínua de uma estratégia
econômica, ambiental e tecnológica integrada aos processos e produtos,
que evita a geração, minimiza ou recicla os resíduos gerados pelos
processos produtivos, com a finalidade de aumentar a eficiência na
utilização das matérias-primas, água e energia e de reduzir os riscos para
as pessoas e para o meio ambiente (SILVA FILHO; SICSÚ, 2003, p. 4).

O Programa PML da AGCO atua em três níveis: eliminação ou redução na


fonte, reaproveitamento interno e reciclagem externa. Para isso, a empresa
desenvolve dentro de seu programa de Gestão Ambiental, ações que contemplam
todos os níveis. Para apresentar de forma mais visível esses níveis, segue o quadro
para representar o programa de PML da ACGO:
49

Quadro 2 – Produção Mais Limpa AGCO

RESÍDUOS SÓLIDOS,
EFLUENTES
ENERGIA ÁGUA LÍQUIDOS E
EMISSÕES
ATMOSFÉRICAS

Projeto de Redução de Resíduos


Iluminação Eficiente - busca de
nas Fontes Geradoras - busca de
alternativas racionais para
Uso da água de forma minimizada alternativas ambientais e
incrementar o nível de iluminação:
e eficiente - busca de alternativas economicamente viáveis para a
Utilização de telhas translúcidas
racionais para minimizar o redução da produção de resíduos
(Engenharia e Fábrica); Utilização
consumo da água, nas quais nas fontes geradoras, através do
de sensores de presença;
destaca-se: uso de matérias-primas menos
Substituição de lâmpadas de
Instalação de torneiras impactantes, tecnologias limpas e
mercúrio por vapor de sódio na 7
automáticas; Circuito fechado no housekeeping : Redução de
iluminação viária; Práticas de
teste do sistema de hidrante. resíduos sólidos, efluentes líquidos,
otimização da iluminação em
emissões atmosféricas e poluição
cabines de pintura.
sonora.

Práticas de aproveitamento da
Substituição da Matriz Energética -
água - Dentro da esfera dos
substituição dos equipamentos com
trabalhos voltados para a redução Projeto de Reaproveitamento
sistema de aquecimento elétrico
do consumo de água, uma das Interno - trabalho de
por sistema a gás: Substituição de
medidas desenvolvidas está reaproveitamento interno de
boilers elétricos para gás natural;
relacionada ao aproveitamento da materiais, visando o aumento da
Substituição das estufas elétricas
água da chuva para o processo vida útil dos mesmos:
por estufas a gás; Substituição da
industrial. Todas as águas do Reaproveitamento de materiais
máquina de lavar peças com uso
tratamento superficial e da lavagem diversos.
de energia elétrica por sistema com
das colheitadeiras são
aquecimento a gás natural.
provenientes da chuva.

Otimização de Equipamentos e Projeto de Reciclagem Externa - a


Instalações - melhoria da eficiência AGCO do Brasil têm suas ações
energética dos equipamentos e voltadas para o tema: Reciclagem
instalações da empresa: Remanejo de resíduos metálicos; Reciclagem
nas subestações; Substituir de óleos; Reciclagem de materiais
motores com baixo rendimento. diversos.

Gerenciamento de Energia - o
Sistema de Gerenciamento de
Energia tem como objetivo o
controle de demanda e
monitoração para as instalações da
AGCO, resultando em uma
economia significativa de energia
elétrica.

Fonte: Site AGCO.

7
Housekeeping: conservação da casa. É um programa voltado para a mobilização dos funcionários
através da implementação de mudanças no ambiente de trabalho, incluindo eliminação dos
desperdícios, limpeza e arrumação das salas. Disponível em: <http://www.folhavitoria.com.br>.
Acesso em: 14 out. 2013.
50

Há dois programas que fazem parte da PML que são destacadas pela AGCO
em seu site: Programa Reciclar para o Social e o Monitoramento dos Resíduos
Sólidos, Efluentes Líquidos e Emissões Atmosféricas.

O Programa Reciclar para o Social: uma atitude que faz a diferença, tem
como meta a promoção do desenvolvimento da consciência ambiental junto aos
colaboradores e a geração de renda para a comunidade carente. O programa
baseia-se num sistema de coleta seletiva que contempla o correto acondicionamento
e a separação os resíduos gerados na empresa, sendo realizada pelos próprios
colaboradores.

Após, o lixo é acondicionado na Central de Resíduos da AGCO e


direcionados, cerca de 1,5 toneladas de papel, papelão, plástico e vidro diariamente,
para a Associação de Reciclagem de Lixo Amigas Solidárias (ARLAS), em Canoas,
que trabalha com os resíduos possíveis de serem reciclados.

Conforme informações disponibilizadas pela AGCO em seu site, nessa


associação trabalham em torno de 40 pessoas. Na ARLAS os associados realizam
triagem e encaminham o material às empresas recicladoras, proporcionando uma
renda de aproximadamente R$ 700,00 por associado, proveniente dos resíduos da
AGCO.

Analisa-se que essa ação, ao mesmo tempo em que desenvolve a


consciência ambiental e social em seus colaboradores, ajuda também a comunidade
onde está inserida, cumprindo seu papel de Responsabilidade Social Corporativa
(RSC). Como já explicado por Aragão e Karkotli (2004), RSC deve ser entendida
como a obrigação da empresa em responder por ações próprias ou de quem a ela
estiver ligada. Afinal de contas, os resíduos estão sendo produzidos pela AGCO e
nada mais justo para uma empresa que se apresenta como tal, destinar de forma
correta estes resíduos.

O site não esclarece, mas pelo fato de ser com uma associação de Canoas,
pressupõe-se que essa ação é realizada somente na unidade dessa cidade. Acredito
que para esse projeto ser completo, ele deveria estender-se às demais filiais da
AGCO, e não somente em Canoas. Uma vez que esses resíduos são produzidos em
todos os processos de industrialização de seus produtos e atividades, independente
51

do local onde está inserida sua unidade. Parcerias poderiam ser feitas com
associações das demais localidades, realizando o projeto da mesma forma.

Quanto ao Programa de Monitoramento dos Resíduos Sólidos, Efluentes


Líquidos e Emissões Atmosféricas, além de monitorar, ele promove o gerenciamento
dos mesmos desde a geração dos resíduos até o destino final. Os efluentes líquidos
provenientes do processo fabril e os sanitários são tratados na Estação de
Tratamento de Efluentes (ETE). Medidas de controle avançadas garantem que as
emissões atmosféricas sejam eliminadas na origem8.

A ETE também auxilia na realização do Projeto Gestão Sustentável dos


Recursos Hídricos: Reuso de Água, que está implantado somente na fábrica de
tratores, em Canoas. O projeto contribui para o uso racional e a conservação
sustentável dos mananciais; busca a utilização mínima de água nos processos
produtivos e a máxima proteção ambiental com menor custo9. Isso é feito através da
Estação de Tratamento de Efluentes (ETE) e está em funcionamento desde abril de
2005.

O efluente tratado é reutilizado para descarga em todos os sanitários da


empresa, lavagens industriais, posto de lavagem de tratores, rede de hidrantes,
irrigação paisagística e preparação de emulsões oleosas. Segundo a empresa, essa
medida busca proporcionar economia de 70% da água, atualmente utilizada para
fins industriais. A meta é que chegue a 100%.

Este é outro projeto que não está presente em todas as unidades da AGCO,
mas poderia, visto que é uma multinacional e possui recursos suficientes para
implantar a ETE nas demais filiais. Esta informação foi retirada do site da empresa,
ou seja, caso as demais unidades da AGCO contassem com esse sistema ETE, o
mesmo seria divulgado no respectivo site, o que não ocorre.

Da mesma forma, somente em sua unidade de Santa Rosa a AGCO


desenvolve o Programa Lixo no Lixo, Santa Rosa no Capricho. O objetivo principal é
a promoção da educação ambiental e divulgação da prática da coleta seletiva em

8
Disponível em: <http://www.agco.com.br/empresa/rs_Acoes_Ambientais.aspx>. Acesso em: 22 set.
2013.
9
Disponível em: <http://www.agco.com.br/empresa/rs_Reuso_Agua.aspx>. Acesso em: 22 set. 2013.
52

parceria com a comunidade local. Esse programa lembra o Programa Reciclar para
o Social, mas tem suas próprias características, como a realização de palestras
ministradas por colaboradores voluntários em escolas de Santa Rosa, no Rio
Grande do Sul.

São também entregues coletores identificados para lixo seco e orgânico, além
da publicação de materiais impressos com dicas sobre a separação de lixo e o
calendário da coleta seletiva da cidade. Todo o material recolhido, possível de ser
reciclado, é classificado e comercializado por 30 Cooperativados da Região
Noroeste do Rio Grande do Sul10.

Tenório (2004) entende que as empresas que realmente acreditam em sua


responsabilidade social e ambiental querem disseminar a ideia, principalmente em
sua cadeia produtiva. Por isso, para o público interno, a AGCO desenvolve o
Programa de Capacitação Ambiental, em que busca estabelecer uma cultura pró-
ativa na área de meio ambiente, capacitando os colaboradores e tornando-os peças
chave para a manutenção e melhoria contínua do Sistema de Gestão Ambiental que
pratica. Para isso, a empresa realiza treinamentos através de intervenção teatral,
distribuição de folderes e cartilhas educativas. Esse programa é realizado em todas
as unidades da empresa.

É importante que se conceba uma política de responsabilidade social “a partir


de um processo que envolva primeiramente todos os funcionários da organização,
pois essa será a única forma de legitimar a participação dos demais públicos nos
projetos e programas a serem desenvolvidos nessa área” (NETO, 2010, p. 34).

A partir do momento que se investe em ações inclusivas do público interno


dentro da organização, as ações de responsabilidade que serão desenvolvidas na
comunidade se legitimam frente à sociedade, podendo ser assimiladas como valor
institucional. Afinal, quando se fala em responsabilidade para com a sociedade,
deve, antes de tudo, haver comprometimento com a qualidade de vida dos
colaboradores.

Para Maimon (1994), as empresas com performance ambiental são aquelas


de maior inserção internacional, uma vez que neste ambiente a sensibilização dos
10
Disponível em: <http://www.agco.com.br/empresa/rs_Pr_Lixo.aspx>. Acesso em: 22 set. 2013.
53

problemas ambientais vem implicando uma maior pressão dos acionistas,


consumidores e/ou órgãos de financiamento para uma nova postura empresarial.
Isso explica o fato de a AGCO, multinacional, apresentar tantos projetos de
responsabilidade relacionados ao meio ambiente.

Como forma de identificar resultados obtidos, a AGCO trabalha com alguns


indicadores. Os certificados ISO são indicadores usados pela empresa e divulgados
em seu site, mas o balanço social, que segundo Roberta Vieira, Orientadora de
Projetos Sociais da AGCO, também faz parte dos indicadores da empresa, não foi
disponibilizado para a análise deste estudo.

Segundo Kunsch (2003), o balanço social constitui um instrumento capaz de


demonstrar o montante de investimentos feito pelas organizações em ações
empreendidas em benefício do público interno, da cultura, da comunidade local e da
sociedade como um todo.

Acredito que, por se tratar da apresentação de valores, a AGCO prefere não


abrir seu balanço social para o público externo, quando isto poderia comprovar se,
de fato, é uma empresa responsável, que investe nas ações que melhoram a vida
dos cidadãos e meio ambiente.

Como já citado neste trabalho, os certificados ISO surgiram para padronizar


um conjunto mínimo de indicadores, referentes aos aspectos éticos e de
responsabilidade social na condução dos negócios. O certificado relacionado ao
meio ambiente, recebido pela AGCO desde 1999, é o ISO 14001.

O certificado ISO 14001 garante a redução da carga de poluição gerada pelas


organizações, porque envolve a revisão de um processo produtivo visando a
melhoria continua do desempenho ambiental, controlando insumos e matérias-
primas que representem desperdícios de recursos naturais11.

Em suas unidades no Brasil, a AGCO conta com esse certificado em Canoas,


Santa Rosa e Mogi das Cruzes. Ao receber o certificado do Sistema de Gestão
Ambiental, a AGCO tem a possibilidade de comprovar junto ao mercado e à

11
Disponível em: <http://www.abnt.org.br/m3.asp?cod_pagina=1006>. Acesso em: 23 set. 2013.
54

sociedade que adota um conjunto de práticas destinadas a minimizar impactos que


imponham riscos à preservação ambiental.

As empresas que possuem esses certificados obtêm um diferencial


competitivo e fortalecem suas ações no mercado. Isso porque, como já dito no inicio
desse trabalho, os consumidores estão cada vez mais exigentes quanto aos
processos realizados nas empresas, identificando se os mesmos provocam algum
tipo de consequência no meio ambiente e se as empresas buscam minimizá-los.

Os certificados ambientais promovem a aceitação da sociedade sobre as


atividades que a empresa realiza, fortalecendo a marca da organização e o bom
relacionamento na comunidade onde está inserida ou naquela onde quer oferecer
seus serviços ou produtos.

A AGCO recebe prêmios pelas suas atuações ambientais e dispõe, em seu


site, vários deles. Dos 57 prêmios divulgados, 31 levam em consideração as ações
ambientais da empresa, são eles12:

2012 - Assembleia Legislativa do Estado do Rio Grande do Sul - Categoria: Medalha


e o Certificado de Responsabilidade Social 2012 - Relatório Socioambiental AGCO
América do Sul

2011 - 18º Prêmio Expressão Ecologia - A AGCO América do Sul recebeu o prêmio
pelo case Gestão Corporativa de Meio Ambiente, Segurança e Saúde Ocupacional.

2011 - Ranking Benchmarking 2011 - Os Melhores da Gestão Socioambiental


Corporativa - AGCO - Unidade Valtra do Brasil Ltda., Projeto Integrado Biodiesel -
100% Biodiesel;

2010 - Troféu Onda Verde na 17ª edição do Prêmio Expressão de Ecologia, a maior
premiação ambiental da região Sul

2009 - 5º Prêmio Mogi News/Chevrolet de Responsabilidade Social – Categoria


Relação com a Comunidade, projeto Programa de Educação ambiental – unidade:
Mogi das Cruzes

12
Disponível em: <http://www.agco.com.br/empresa/premios.aspx>. Acesso em: 15 out. 2013.
55

2009 - 5º Prêmio Mogi News/Chevrolet de Responsabilidade Social – Categoria


Relação com o Meio Ambiente, projeto Gerenciamento de Resíduos – unidade: Mogi
das Cruzes

2009 - Prêmio Expressão Ecologia 17ª Edição como o projeto Gestão de Recursos
Hídricos na AGCO América do Sul

2009 - Prêmio Programa Benchmarking Ambiental Brasileiro – 7ª Edição, com o


projeto Reúso de Água – Unidade: Mogi das Cruzes

2009 - Prêmio Programa Benchmarking Ambiental Brasileiro – 7ª Edição, com o


projeto Práticas Eficazes na Gestão dos Resíduos Sólidos – unidade: Canoas

2008 - Prêmio Expressão de Ecologia - Categoria Gestão Ambiental / Gestão dos


Resíduos Sólidos

2008 - Prêmio Programa Benchmarking Ambiental Brasileiro - 6ª edição, com o


projeto Reciclar para o Social

2007 - Vencedor da 5ª edição do Programa Benchmarking Ambiental Brasileiro com


projeto Reuso de Água

2006 - Prêmio Expressão de Ecologia - Prêmio Destaque - Responsabilidade Social


Empresarial no Sul do Brasil

2006 - Destaque em Meio Ambiente da 2º Pesquisa de Meio Ambiente e Indústrias


do Rio Grande do Sul promovido pelo Conselho de Meio Ambiente da FIERGS e
Editora Expressão

2006, 2005 e 2004 - Reconhecimento Responsabilidade Social no prêmio Empresas


Socialmente Responsáveis da ONG Parceiros Voluntários e Câmara de Indústria,
Comércio e Serviços de Canoas/RS

2005 - Certificado de Responsabilidade Social da Assembléia Legislativa do Estado


do Rio Grande do Sul

2005 - Prêmio Expressão de Ecologia - Categoria Conservação de Insumos de


Produção/ Projeto Reuso da Água
56

2005 - Troféu Responsabilidade Ambiental RS promovido pela Secretaria do Meio


Ambiente do Estado do Rio Grande do Sul (SEMA)

2005 e 2004 - Parceiro Ambiental da Prefeitura Municipal de Canoas/RS

2004 - 3º Prêmio Balanço Social, promovido pela Aberje, Apimec, Instituto Ethos,
Fides e Ibase

2004 - Troféu Destaque Responsabilidade Social na categoria Grandes Empresas


da Assembléia Legislativa do Estado do Rio Grande do Sul

2003 e 2002 - Prêmio Expressão de Ecologia - Gestão Ambiental

2002 - Prêmio Sul de Energia da Revista Expressão - Conjunto de ações visando a


redução do consumo de energia

2001, 2000 e 1999 - Prêmio Expressão de Ecologia - Categoria Controle da Poluição


Industrial/ Gestão de Resíduos Industriais

1999 - Prêmio CNI de Ecologia - Categoria Conservação de Insumos de Produção,


promovido pela Confederação Nacional da Indústria.

Dentre os prêmios citados, pode-se destacar os que são oferecidos pela


Assembleia Legislativa, sendo um reconhecimento do Estado pelas atividades
desenvolvidas pela AGCO na área ambiental. Além disso, observa-se que não é
somente no Rio Grande do Sul que as ações da empresa são valorizadas, como no
caso do Prêmio Mogi News/Chevrolet, referente à unidade de Mogi das Cruzes.

A empresa busca divulgar suas ações, reforçando seu compromisso com a


causa. Mesmo assim, pode-se analisar esse tipo de divulgação com o intuito de
favorecer as marcas que fazem parte do grupo. Por exemplo, Valtra e Massey
Ferguson, pois isso favorece a relação de suas marcas com as causas ambientais
realizadas pela AGCO.

Analisando-se as ações ambientais apresentadas, verificou-se um total de


oito, cinco delas voltadas para os clientes. Quatro são voltadas ao relacionamento
com a comunidade, duas aos acionistas e cinco aos colaboradores. Percebe-se
melhor no quadro exposto no anexo.
57

As análises mostraram que a empresa divulga as ações e as realiza tendo em


vista o reconhecimento do cliente, o que compra seus produtos; e o colaborador,
aquele que desenvolve os produtos e é peça fundamental para que os mesmos
estejam bem fabricados e prontos para serem entregues aos clientes e
consumidores.

Mesmo assim, na área ambiental não se pode negar que a empresa


apresenta consideráveis projetos e que, de alguma forma, está contribuindo para a
diminuição de seus impactos no ambiente onde está inserida.

5.2 Ações sociais

Na visita feita à AGCO, e entrevista realizada pela autora deste trabalho à


Orientadora de Projetos Sociais da AGCO, Roberta Vieira, pode-se notar que dentre
as ações sociais da empresa, as mais destacadas pela entrevistada foram o Projeto
I.S.C.A e Pescar.

O Projeto Inclusão Social, Capacitação e Acessibilidade (I.S.C.A) é voltado


para a inclusão de pessoas com deficiência no mercado de trabalho, e, segundo
Roberta Vieira, tem por objetivo geral estabelecer um ambiente que reconheça,
respeite e acolha com dignidade e diversidade. Este projeto ocorre em todas as
unidades da AGCO no Brasil.

No Rio Grande do Sul este projeto é realizado em parceria com a Pestalozzi


(Canoas) e a APAE de Santa Rosa. Está em vigor há 10 anos e busca cumprir com
a lei brasileira que estabelece cotas por empresas que devem ser preenchidas por
pessoas com alguma deficiência, levando em consideração a quantidade de
colaboradores que a empresa possui; estimular o desenvolvimento destas pessoas;
e o preenchimento de 5% de cada setor da empresa com esses profissionais.

Na entrevista, Roberta admitiu que o projeto foi criado por exigência legal,
mas percebeu-se que a empresa poderia desenvolver algo que inspirasse outras
empresas e que servisse de exemplo para os seus colaboradores, visto que estes
teriam que desenvolver atitudes coletivas para ajudar o próximo na inicialização das
58

atividades profissionais. Todos os colaboradores participam desse processo de


inclusão.

Segundo Neto (2010), ao investir no respeito às diferenças, no exercício da


tolerância, aderindo ao principio do diálogo e do trabalho colaborativo, as
organizações se beneficiam com uma série de ganhos advindos destas práticas.
Neste caso pode-se citar a aproximação com a imprensa que, segundo Roberta
Vieira, procura a AGCO quando há pautas relacionadas ao assunto.

Além disso, pode haver outros ganhos como “(...) a construção de um bom
conceito diante da comunidade, o reconhecimento e aceitação pelo público
consumidor, a satisfação por parte dos empregados, um melhor desempenho
financeiro, uma maior produtividade, entre outros” (NETO, 2010, p.35).

Ao chegar à AGCO em Canoas, já na recepção, o visitante, fornecedor,


cliente, encontra um colaborador com Síndrome de Down, o que pode sensibilizar
quem se depara com tal situação, fazendo-o refletir sobre esse papel
desempenhado pela empresa.

Neto (2010) explica que ao possuir uma política que privilegie atender a
diversidade, a instituição respeita a sociedade na qual está inserida e com ela
encontra um maior espaço para o diálogo, facilidade de negociação e de aceitação
de seus serviços ou produtos, ganhando credibilidade e competitividade.

Atualmente a empresa continua contratando pessoas com deficiência, mesmo


tendo, por exemplo, em sua unidade de Canoas, duas pessoas além da cota
estabelecida pelo Ministério do Trabalho.

Claro que, o que mais é levado em consideração pelas as empresas é a


questão legal, afinal envolve multas no caso do não cumprimento das normas. De
qualquer forma, por estabelecerem, por conta própria, uma meta de 5% na
contratação de pessoas com deficiência para cada setor, a empresa demonstra
estar comprometida com essa causa.

O outro projeto que se destaca na AGCO é o Pescar. O objetivo e missão


geral do projeto é proporcionar o desenvolvimento profissional e pessoal para jovens
em vulnerabilidade social. O Projeto Pescar da AGCO foi implantado em 2003 e
59

formou cerca de 400 jovens em quatro unidades da AGCO no Brasil. As aulas


teóricas são ministradas por colaboradores voluntários. Após finalizar as aulas
teóricas, os jovens são encaminhados para a prática no ambiente de trabalho.

Atualmente, em cada planta industrial, são atendidos 15 jovens no curso de


Iniciação Profissional em Produção Mecânica, com duração de 11 meses e
contratação pela Lei 10.097/00 - Jovem Aprendiz. Desde o início do Projeto até o
final de 2013 a AGCO pretende atender 382 jovens, com idades entre 17 a 19 anos,
oriundos de famílias menos favorecidas13.

A Lei 10.097/00 - Jovem Aprendiz estabelece a cobertura da cota de 5% a


15% de aprendizes nas empresas que tiverem trabalhadores, cujas funções
demandem formação profissional14. Para isso, as empresas podem incluir qualquer
jovem que queira participar do Jovem Aprendiz. Mesmo assim, a empresa
aproveitou essa lei para incluir esses jovens no Projeto Pescar AGCO, em que, por
escolha da própria empresa, os jovens selecionados são de famílias em estado de
vulnerabilidade. Isso acaba por favorecer a imagem da empresa diante da
comunidade onde está inserida.

Outra ação social divulgada no site da AGCO é de Segurança e Saúde


Ocupacional, focada no público interno. São desenvolvidos trabalhos em saúde
preventiva, com programa de segurança do trabalho, voltado à prevenção de
acidentes e à eliminação dos riscos dos colaboradores da empresa. Campanhas e
exames são realizados ao longo do ano, com o intuito de orientar os colaboradores
sobre a importância da prevenção; atendimento de clínicos gerais e médicos
especialistas no próprio Serviço de Saúde do Trabalhador da empresa, além de
disponibilizar programas de assistência médica, auxílio - farmácia, palestras
especiais e acompanhamento.

Campanhas preventivas e educativas são realizadas conforme datas


comemorativas ou épocas do ano, quando a empresa realiza campanhas para cada
área da saúde especificamente, com o objetivo de prevenção. Dentre elas estão:
Campanhas de Vacinação; Campanha Anti-Aids e Doenças Sexualmente

13
Disponível em: <http://www.agco.com.br/projetopescar/index.html>. Acesso em: 29 set. 2013.
14
Disponível em: <http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l10097.htm> Acesso em: 29 set. 2013.
60

Transmissíveis; Prevenção do Câncer de Mama e do Cólon do Útero; Dia Mundial


sem Tabaco; Capacitação em Primeiros-Socorros; Câncer de Próstata; Verão Legal;
Dia Mundial da Saúde; Programa De Bem com a Vida; e Incentivo ao Esporte.
61

Quadro 3 – Campanhas Internas Preventivas e Educativas AGCO

Campanha Objetivo

Realizadas sistematicamente, ocorrem uma vez por


Campanha de Vacinação
ano com aplicação gratuita de anti-gripal e anti-tétano.

Campanha Anti-Aids e Doenças Sexualmente Realizada anualmente, reforça os cuidados para evitar
Transmissíveis estas doenças.

Destaca a prevenção ao câncer e a importância do


Prevenção do Câncer de Mama e do Cólon do
autoexame. A empresa oferece exames preventivos
Útero
anuais às colaboradoras.

Lembrado anualmente, teve o lançamento, em 2003,


do Programa Antitabagismo. A meta é reduzir ainda
mais o número de fumantes (que na AGCO é de 10%
Dia Mundial sem Tabaco
dos colaboradores) através de mobilizações como
palestras explicativas, cursos que estimulam os
fumantes a deixar o vício e performances teatrais.

Realizado trimestralmente, atinge funcionários da área


médica, técnicos em Segurança do Trabalho e
integrantes das Brigadas de Emergência, além de
Capacitação em Primeiros-Socorros
membros da CIPA, promovendo o adequado preparo
para o atendimento dos funcionários, em casos de
emergência.

Campanha anual. O trabalho de prevenção inclui a


realização de exames de sangue gratuitos para os
Câncer de Próstata funcionários. Dependendo dos resultados, o paciente é
encaminhado para um médico especialista, para
exames mais detalhados.

Também realizada anualmente, com o objetivo de


informar e educar os colaboradores na prevenção da
Verão Legal desidratação e de problemas causados pelo calor,
além dos decorrentes da exposição em demasia ao
sol.

A data de 7 de abril sempre é lembrada e é usada para


divulgar os bons hábitos (alimentação adequada e
prática de exercícios físicos) que podem melhorar a
Dia Mundial da Saúde saúde e prevenir muitas doenças. Profissionais e
técnicos em saúde da AGCO se organizam para
fortalecer a informação e divulgar orientações sobre
hipertensão e diabetes.

Dirigido aos níveis gerenciais e de direção, tem por


objetivo estimular a cultura da saúde preventiva,
Programa De Bem com a Vida destacando esta postura para os líderes de equipes,
que multiplicam esta visão junto aos demais
funcionários.

Dentro dos programas de prevenção, a AGCO


incentiva a prática do esporte para combater o
sedentarismo e evitar a ocorrência de doenças mais
Incentivo ao Esporte
frequentes em indivíduos sedentários. As equipes
esportivas da AGCO, como as de vôlei e futebol, são
exemplos desta ação.

Fonte: Site AGCO.


62

A AGCO admite em seu site que, com estas ações, promove o envolvimento
dos colaboradores com a empresa, para obter bons resultados e, especialmente,
sua satisfação. Assim, fica evidente que o objetivo da AGCO vai além do bem-estar
do colaborador, pois também reconhece que colaborador “bem cuidado” é sinal de
maior produtividade. De qualquer forma, vale reconhecer que há investimentos para
essas campanhas, visto que diferente das ações iniciadas através das exigências
legais; estas, voltadas ao colaborador, são de iniciativa da empresa.

Já o Programa Contratação de Mão-de-Obra Presidiária é realizado através


de um convênio com a Superintendência dos Serviços Penitenciários (Susepe), na
unidade da AGCO em Santa Rosa. O Programa oportuniza a um grupo de apenados
deste município trabalho remunerado, reduzindo, também, um dia da pena para
cada três trabalhados. Eles trabalham com a produção de componentes e realizam
operações de manutenção de equipamentos na própria unidade penitenciária.

Além disso, a empresa treina os detentos para a realização das tarefas e


ministra palestras sobre segurança do trabalho e prevenção do meio ambiente,
oferecendo os equipamentos de proteção individuais necessários para a realização
do trabalho.

Este projeto pode ser enquadrado como sendo de cidadania empresarial.


Segundo Silva, Reis e Amâncio (2011), cidadania empresarial caracteriza o
envolvimento da empresa em programas sociais de participação comunitária,
podendo envolver o voluntariado, o compartilhamento de sua capacidade gerencial,
parcerias com associações ou fundações e investimentos em projetos
socioambientais.

Há de se considerar que nem todas as empresas oferecem esse tipo de


oportunidade, visto que existe preconceito em realizar parcerias com penitenciárias,
por duvidar da ética e responsabilidade daquele indivíduo que dela faz parte. Mesmo
assim, a AGCO insere estes trabalhadores nas atividades da empresa, aumentando
os resultados da produção e impactando na sua imagem.

Existem programas sociais que possibilitam a transferência de recursos


provenientes do Imposto de Renda, dentre os que a AGCO realiza estão o Programa
63

de Apoio ao Fundo Municipal dos Direitos da Criança e do Adolescente e Programa


Fundo do Milênio para Primeira Infância. Ambos são divulgados no site da empresa.

Começando pelo Programa de Apoio ao Fundo dos Direitos da Criança e do


Adolescente, a AGCO procura conhecer os projetos existentes nas comunidades
junto a suas fábricas e escolhe aquele que apoiará e assim, pode utilizar uma
porcentagem do valor que pagaria de imposto de renda, em projetos voltados às
crianças e adolescentes.

Já o apoio ao Programa Fundo do Milênio para a Primeira Infância é


concebido através do Banco Mundial em parceria com a Organização das Nações
Unidas para a Educação, Ciência e Cultura, a UNESCO. O Programa tem como
objetivo melhorar o atendimento em escolas de educação infantil do Rio Grande do
Sul e Santa Catarina.

No ano de 2012 diversas ações foram realizadas com base na Lei de


Incentivos Fiscais e que não foram divulgadas no site, mas informadas na entrevista
feita diretamente com a Orientadora de Projetos Sociais da AGCO, Roberta Vieira.
Dentre as ações apresentadas estão as parcerias com algumas entidades como:

 APAE de Ibirubá: inclusão digital e a compra de impressora de braile;


 Fundação Uma Luz no Amanhã (ULNA), de Viamão: investimento na
realização de manutenção da instituição;
 Associação de Familiares e Amigos de Pessoas com Necessidades
Especiais (AFAPENE), de Santa Rosa: investimento na manutenção da
instituição.
 APAE de Esteio: investimento na aquisição de carro Doblô adaptado.
 Signatures (da UFRGS) – Projeto Gestos que Falam: inclusão através de
oficinas de teatro para pessoas com deficiência auditiva.
 Associação de Proteção à Menina (APROMES), de Santa Rosa:
manutenção da instituição.
 Associação de Cegos do Rio Grande do Sul (ACERGS): promoção do
esporte paraolímpico para cegos.
64

Através destes e outros projetos, a AGCO aproveita a condição dada pelo


governo para utilizar os valores em ações sociais, culturais e educacionais. Isso
possibilita a divulgação de marca e fortalecimento das relações com a comunidade
da qual faz parte. Segundo Roberta, essas ações nem sempre são divulgadas pela
empresa, mas o boca a boca, realizado pelas próprias entidades atendidas, acaba
por levar o nome da AGCO adiante. No caso da APAE de Esteio, a associação
colocou por conta própria o logo da AGCO na Doblô adquirida pelo investimento da
mesma.

Pode-se incluir essas ações como sendo filantrópicas, pois conforme Silva,
Reis e Amâncio (2011), a filantropia empresarial é caracterizada como uma ação
social assistencialista, caridosa e, predominantemente, temporária. Ela costuma se
resumir a doações de recursos financeiros ou materiais. Mesmo assim, é bom
lembrar que essas ações não são totalmente voluntárias, isso porque a AGCO talvez
não as realizasse, caso não fosse por essa circunstância, proporcionada pela Lei de
Incentivos Fiscais.

O certificado relacionado à responsabilidade social que a empresa possui é o


de ISO 18001, referente ao Sistema da Segurança e Saúde Ocupacional. Este
sistema tem por objetivo assegurar o bom cumprimento de procedimentos e
cuidados que venham a garantir o gerenciamento dos riscos à saúde e segurança
em uma organização. Estando todos estes procedimentos funcionando, a
Certificação do Sistema da Segurança e Saúde Ocupacional serve ainda para
mostrar, tanto para os fornecedores, quanto para os consumidores, o grau de
seriedade do trabalho de uma organização15.

Da mesma forma que o certificado ambiental, nem todas as unidades da


AGCO possuem os certificados relacionados às ações de responsabilidade social.
Das unidades da AGCO, no Brasil, as de Canoas, Santa Rosa e Mogi das Cruzes
possuem esse certificado. É importante lembrar, como forma de análise crítica, que
no Brasil a AGCO possui cinco unidades, ou seja, o que falta nas demais unidades
para que as mesmas possam receber esses certificados? Estas ações não
poderiam, por se tratar de uma empresa multinacional, ser implantada em todas as

15
Disponível em: <http://www.abnt.org.br/m3.asp?cod_pagina=1006>. Acesso em: 29 set. 2013.
65

unidades da AGCO no Brasil e as de outros países? Por que a empresa não conta
com o certificado ISO 16001 já que conta com tantos programas sociais?

O ISO 16001 refere-se ao Sistema de Gestão da Responsabilidade Social,


que demonstra que a organização contribui com o desenvolvimento social, por meio
da realização profissional de seus colaboradores e da promoção de benefícios ao
meio ambiente e às partes interessadas, como a comunidade.

As perguntas feitas ao final dessas análises ficam sem respostas por parte da
empresa entrevistada, mas vale a reflexão. Ao analisar as ações sociais da AGCO,
pôde-se perceber que a maioria delas estão voltadas às comunidades e
colaboradores. Dos oito programas apresentados, quatro contemplam o colaborador
e seis a comunidade. Mesmo assim, ao divulgar essas ações, seja no site ou
imprensa, as ações estão indiretamente voltadas aos clientes.

5.3 Ações de responsabilidade social da AGCO no contexto das relações


públicas

Prestes a concluir a graduação na área de Comunicação Social, habilitação


em Relações Públicas (RP), é importante poder utilizar exemplos de outras
empresas para desenvolver bons trabalhos no mercado. Por isso, propõe-se a
análise das ações de responsabilidade socioambiental da AGCO, tendo em vista o
trabalho possível que o profissional de RP pode realizar. Também serão
apresentadas, conforme informação repassada pela própria empresa em entrevista,
as atividades desenvolvidas pelas profissionais de RP na AGCO. São levadas em
consideração as teorias levantadas por Carvalho (2007), e citadas por Kunsch e
Kunsch (2007), no referencial teórico, bem como de outros autores, que também
contribuem nesse estudo.

Mais especificamente, dos programas realizados pela AGCO, pode-se dizer


que grande parte deles encaixa-se nas atividades de um profissional de relações
públicas, e podem ser planejados e executados em parceria com outros
profissionais. Segundo Roberta, Orientadora de Projetos Sociais da AGCO, existem
66

na equipe de Comunicação e Responsabilidade Social, duas profissionais da área


de RP. Uma é formada e a outra é estudante.

Das atividades que exercem, e que estão ligadas às ações de


responsabilidade socioambiental, podem ser citadas o acompanhamento, o suporte,
o planejamento e execução de planos de ação nessa área. De qualquer forma,
pode-se enquadrar muitas outras atividades que este profissional pode realizar e
que contribuem para a prática eficaz das propostas sociais e ambientais.

Segundo Kunsch (2003), no dia a dia o profissional de RP realiza, entre


outras atividades, as relações com a mídia/assessoria de imprensa; programas
especiais para o público interno; projetos e ações sociais; balanço social; relatórios
de responsabilidade social; atividades em apoio ao marketing, como o marketing
social, por exemplo.

Considerando o que foi analisado, acredita-se que nas atividades realizadas


pela AGCO, as ações voltadas ao público interno competem ao profissional de RP.
Nas ações ambientais podem ser citados o Programa Reciclar para o Social: uma
atitude que faz a diferença, que busca desenvolver a consciência ambiental junto
aos colaboradores; o Programa Lixo no Lixo, Santa Rosa no Capricho que envolve o
colaborador, fazendo-o dedicar-se ao voluntariado e, assim, realizar palestras em
escolas de Santa Rosa, no Rio Grande do Sul; e Programa de Capacitação
Ambiental, voltado ao colaborador e buscando estabelecer uma cultura pró-ativa na
área de meio ambiente.

Nas ações sociais, destacam-se os programas de Segurança e Saúde


Ocupacional e as companhas preventivas e educativas como as campanhas De
Bem Com a Vida; Verão legal; Dia Mundial Sem Tabaco e Incentivo ao Esporte,
todas voltadas ao público interno da AGCO.

Para isso, pode-se usar diversos materiais institucionais elaborados pelo RP


para realizar e divulgar essas ações como mural, intranet, eventos, palestras,
treinamentos, entre outros. E através da comunicação integrada, utilizar folderes,
vídeos e revistas. Na AGCO, segundo Roberta, a ferramenta mais utilizada é a
televisão de LED. São fixadas em diversos locais de circulação dos colaboradores, e
nelas são reproduzidas campanhas, programas, informações sociais e ambientais.
67

O profissional de RP pode, também, servir de mediador entre os diversos


públicos envolvidos como no caso dos Programas I.S.C.A, em que há diversos
stakeholders16 como as entidades assistenciais, os colaboradores e a comunidade;
Produção mais Limpa, em que envolve acionistas, clientes, colaboradores e
comunidade; Projeto Pescar AGCO, que contam com grupo de interesse formado
por colaboradores, voluntários, acionistas e comunidade; entre outros.

Neto (2012) explica que nenhuma área do saber especializa-se como a de


relações públicas no aspecto de relação institucional, que envolve desde o contato
efetivo da organização até a comunicação com o mercado.

Além disso, para todos os programas o profissional se enquadra como


assessor de imprensa, pois pode participar e construir releases, matérias
institucionais, sugestões de pauta, com o objetivo de apresentar as atividades
realizadas pela empresa. Disseminando, ainda, essas informações para veículos de
comunicação como jornais, televisão e revistas, e, também, divulgando nos próprios
canais de comunicação da empresa, como no próprio site e redes sociais.

Outra atividade que Kunsch (2003) aborda como sendo de RP é o auxilio na


construção do balanço social e dos relatórios de responsabilidade social. Sabe-se
que a AGCO possui balanço social como sendo um indicador das ações de
responsabilidade da empresa, e observa-se que o profissional de RP pode
contribuir, com a experiência no planejamento e execução dessas atividades, na
construção do conteúdo desse balanço, juntamente com as áreas administrativa e
financeira.

Levando em consideração as etapas citadas por Carvalho (2007 apud


KUNSCH; KUNSCH, 2007), as quais o profissional de relações públicas cumpre na
implantação de uma cultura de responsabilidade social nas organizações, pode-se
dizer que, conforme informado por Roberta, as profissionais da área de relações
públicas da AGCO:

- Estabelecem os objetivos da participação da organização no campo social e


divulgam para os colaboradores da empresa.

16
São públicos de interesse com os quais toda e qualquer organização precisa relacionar-se em seu
dia a dia (NETO, 2012, p. 33)
68

- Criam estratégias que proporcionam um ambiente sadio e alegre aos


colaboradores, resultando em maior qualidade de vida.

- Identificam os colaboradores que, por suas qualidades individuais, possam


assumir um papel de liderança nas causas sociais a serem implantadas.

- Mantém canais de informação, dirigindo a atenção para uma cultura do “que


fazer”, possibilitando soluções criativas por parte dos colaboradores.

- Desenvolvem programas de relacionamento com as comunidades, como os


projetos de educação ambiental e de reciclagem.

Percebe-se, ao longo desse subcapítulo, o compromisso que o profissional de


RP assume quando se trata de responsabilidade social empresarial. As empresas
podem contar cada vez mais com esses profissionais à frente do planejamento,
execução, análise e divulgação das ações socioambientais. Segundo Neto (2012), a
atividade de RP deve ser pensada como elemento constitutivo do processo
organizacional.

É, também, a área de relações públicas quem enfrenta a comunidade


enfurecida pela poluição causada por uma falha no processo industrial e
quem dá explicações à opinião pública – por meio da imprensa – quando,
por exemplo, um alto executivo evolve-se em prática de corrupção (NETO,
2012, p. 91).

A atividade de relações públicas não pode ser entendida como uma função ou
departamento auxiliar, mas como parte de um contexto organizacional, em que suas
atividades podem ser inseridas nas estratégias organizacionais, capazes de garantir
resultados palpáveis, neste caso, voltadas para a proteção social e ambiental.
69

6 DISCUSSÃO

Ao longo deste trabalho, buscou-se responder algumas questões relativas ao


tema responsabilidade empresarial e sua importância para a empresa, comunidade
e meio ambiente. Para isso, realizou-se uma pesquisa de cunho qualitativo, baseada
nas pesquisas bibliográfica e documental, além da pesquisa de campo, de modo a
resolver os problemas e objetivos expostos na introdução.

A primeira questão levantada é como as ações de responsabilidade


socioambiental em uma empresa multinacional como a AGCO, encaixam-se na
estratégia organizacional. A empresa se posiciona no mercado, colocando-se como
uma empresa que busca o crescimento de forma sustentável.

Para Sardinha (2009), o conceito de desenvolvimento sustentável evoluiu


muito nos últimos anos, fazendo com que as empresas sejam obrigadas a adotar
postura de permanente monitoramento do seu ambiente, da sua cadeia produtiva e
da sua rede de logística. Para o autor, responsabilidade social e ambiental pode ser
considerada um dos pilares da sustentabilidade dos negócios.

Acredita-se que as ações estratégicas da AGCO voltadas ao social e


ambiental dirigem-se diretamente a alguns valores da organização, como os
divulgados em seus padrões éticos: “Agiremos de maneira ética como bons
cidadãos corporativos em todas as comunidades nas quais a Companhia atua;
70

Cuidamos do meio ambiente; Almejamos proteger o meio ambiente de influências


nocivas, conservar os recursos naturais e promover a consciência ambiental”17.

O segundo problema exposto neste trabalho é por que é importante implantar


ações socioambientais nestas empresas. Na verdade, percebe-se que é importante
que todas as organizações entendam que de alguma maneira suas atividades
impactam o meio ambiente e a comunidade onde estão inseridas, seja devido às
suas formas de produção ou pelo consumo de seus produtos e serviços.

Suas responsabilidades vão além das legais e econômicas.

McIntosh et al. (2001, apud Almeida, 2002) explicitam essas


responsabilidades:

- Responsabilidade econômica: Todas as organizações devem operar


segundo os preceitos econômicos, ser viáveis e balizar sua atuação dentro
dos parâmetros do seu contrato social.

- Responsabilidade legal: Todas as organizações devem operar dentro dos


princípios da lei e estar conscientes de suas restrições legais.

- Responsabilidade social e ambiental: Todas as organizações devem


pautar sua atuação por um senso de responsabilidade social e ambiental,
no qual as considerações sobre ética, justiça e igualdade social,
solidariedade e voluntariado, e harmonia com o ambiente natural, tornam-se
essenciais para a sua capacidade de operar (SARDINHA, 2009, p. 43).

Cabe a elas serem responsáveis por aquilo que produzem e que geram algum
tipo de resultado negativo na sociedade. Devem ajustar suas atividades levando em
consideração sua responsabilidade social e ambiental.

Como as empresas de grande porte realizam ações de responsabilidade


socioambiental é outra questão que foi levantada neste estudo. Como já dito
anteriormente, as multinacionais estão mais voltadas a esses tipos de ações, por
sofrerem maior pressão externa. Isso explica o grande número de projetos e
programas desenvolvidos pela AGCO, comparado, em observações feitas, a outras
empresas brasileiras e gaúchas.

Descobriu-se que a AGCO, uma empresa de grande porte, realiza essas


ações com auxilio de uma consultoria, e que também conta com uma equipe
específica para esses projetos e programas em cada unidade localizada no Brasil.

17
Disponível em: <http://www.agco.com.br/empresa/visao_missao_valores.aspx>. Acesso em: 06 out.
2013.
71

Além disso, algumas ações são realizadas em parceria com entidades, associações
e organizações que auxiliam no desenvolvimento das atividades propostas.

O quarto problema é referente ao foco principal da AGCO na realização


dessas ações, se é social, ambiental ou econômico. Essa questão foi levantada na
entrevista com a organização, no entanto não foi respondida. Mesmo assim, as
ações da empresa, quando analisadas, percebeu-se que dos 16 programas e
projetos apresentados, tanto no site, quanto na entrevista, 50% desses programas
são voltados ao meio ambiente e 50% ao social.

Como 99% das ações são divulgadas no site da empresa, observa-se que a
organização intenciona que suas ações sociais e ambientais sejam conhecidas,
gerando respeito e admiração dos clientes, fornecedores, acionistas, comunidade,
entre outros, gerando bons resultados econômicos, assim como para a imagem da
organização. Elementos estes que se inter-relacionam.

Referente à área de relações públicas, o questionamento feito foi sobre qual


seria o papel das ferramentas de RP para as práticas de responsabilidade
socioambiental. Percebeu-se que há um grande campo a ser explorado pelo
profissional de RP, e que ele pode contribuir de diversas maneiras, utilizando suas
ferramentas no desenvolvimento das ações socioambientais nas organizações.

Segundo Kunsch (2003), as técnicas e instrumentos disponíveis para a


atividade de relações públicas, mudando somente a forma, os recursos e a maneira
de empregá-los, são válidos também no âmbito dos trabalhos voltados às causas
sociais. Mais do que usar suas ferramentas como a assessoria de imprensa, na
divulgação das ações realizadas, no planejamento e execução de ações internas de
conscientização ambiental, a autora afirma que:

As relações públicas devem ajudar as organizações a se conscientizar de


sua responsabilidade para com a sociedade. Elas têm de se lembrar disso e
cumprir seu papel social, não se isolando do contexto onde se inserem, nem
querendo usufruir da comunidade apenas para aumentar seus lucros
(KUNSCH, 2003, p. 143).

Percebeu-se, neste estudo, que o papel das relações públicas é estratégico


como forma de nortear a melhor maneira de se aplicar as ações de responsabilidade
socioambiental e difundir o valor que esta responsabilidade agrega à imagem
72

organizacional tanto à direção quanto aos colaboradores, acionistas, ao cliente final


e outros públicos.

Dos objetivos específicos deste trabalho está conceituar responsabilidade


social, empresarial e ambiental, e a importância estratégica das mesmas para a
organização. Destes conceitos apresentados, pode-se entender que as empresas
têm o dever de agir em sintonia com a sociedade.

Conforme Kunsh (2003), só fabricar produtos e comercializar serviços não é


suficiente. É preciso desenvolver ações sociais e ambientais concretas para
minimizar os problemas que afligem a humanidade. Avalia-se que, em contrapartida,
as organizações ganham em respeito à marca e à empresa, por meio do
reconhecimento dos públicos envolvidos, ou não, em suas atividades.

Outro objetivo foi identificar e analisar ações de responsabilidade social e


ambiental na empresa AGCO do Brasil, bem como a utilização de indicadores e
divulgação das mesmas, visando também avaliar se a organização pode ser
considerada uma empresa cidadã, socialmente e ambientalmente responsável.

Foram identificados 16 projetos e programas voltados à responsabilidade


social e ambiental, em sua maioria divulgados no site da empresa. Não foi possível
verificar clippings e outras formas de divulgação, pois a empresa não informou
quando solicitado.

Pôde-se, também, identificar e analisar somente um tipo de indicador utilizado


pela empresa, e que também está disponível em sua página na internet, os
certificados ISO. O balanço social, não foi possível analisar, apenas foi identificada
sua existência quando perguntado em entrevista à organização, mas isto não foi
disponibilizado para a pesquisadora.

A empresa possui dois certificados ISO referente à responsabilidade social


empresarial, o ISO 14001 e ISO 18001. O ISO 14001, como dito anteriormente,
garante a redução da carga de poluição gerada pelas empresas. Isso significa que a
empresa que recebe esse certificado conta com programas para diminuir e controlar
os insumos utilizados através de suas atividades e que impacta o meio ambiente.
73

Dentre as ações realizadas pela empresa estão o Programa de Produção


Mais Limpa, que visa a aplicação contínua de estratégias para minimizar ou reciclar
os resíduos gerados pelos seus processos produtivos, e o Programa Reciclar para o
Social, que baseia-se num sistema de coleta seletiva que contempla o correto
acondicionamento e a separação dos resíduos gerados na empresa.

Quando uma empresa recebe o certificado ISO 18001, significa que a mesma
cumpre os procedimentos e cuidados que venham a garantir o gerenciamento dos
riscos à saúde e segurança em uma organização. A AGCO possui um Programa de
Segurança e Saúde Ocupacional que visa à prevenção de acidentes e a eliminação
dos riscos dos colaboradores na empresa. Além de realizar ações preventivas e
educativas, voltadas a área da saúde, com o objetivo da prevenção.

Referente ao objetivo de analisar se a organização pode ou não ser


considerada uma empresa cidadã, Chanlat (1999 apud KUNSCH, 2003) afirma que
a empresa deve agir enquanto ‘cidadã’ respeitando as regras instituídas pela
sociedade. Ou seja, entende-se por empresa cidadã aquela que promove seu
desenvolvimento e a preservação do entorno onde realiza sua atividade. Além disso,
cumprir suas obrigações como cidadão corporativo é uma forma de alcançar a
legitimidade na sociedade da qual faz parte18.

Analisando-se conforme os autores, pode-se deduzir que a AGCO realiza


suas ações sociais e ambientais não apenas por obrigações legais, mas também por
iniciativa da própria organização. Isso a torna uma empresa cidadã, visto que não foi
encontrada nenhuma informação, durante a pesquisa documental, que acusasse a
empresa de agir de forma não ética ou ilegal.

Para atingir outro objetivo proposto no estudo, verificou-se o papel de


relações públicas para planejar e realizar ações voltadas à responsabilidade
socioambiental, que, conforme citado anteriormente, percebeu-se ser um papel
estratégico, podendo trabalhar direcionado aos diversos públicos da empresa.

Na AGCO do Brasil, identificou-se que os profissionais dessa área trabalham


em parceria com outros departamentos, estando ligados diretamente ao setor de

18
Disponível em: <http://www.gestiopolis.com/canales5/fin/responsocial.htm>. Acesso em: 07 out.
2013.
74

recursos humanos e às ações de responsabilidade social. Seu trabalho é focado no


planejamento e desenvolvimento de planos de ação na área socioambiental,
principalmente com o público interno.

Dos objetivos específicos propostos, o último foi verificar se há ações voltadas


ao público interno da organização, com foco na conscientização do papel do
indivíduo nos resultados das ações socioambientais da AGCO na comunidade.

Verificaram-se diversas ações sociais e ambientais voltadas ao colaborador


ou que incluíssem o mesmo na realização das atividades, disseminando, assim,
conhecimento e informações. O Projeto Pescar, que conta com colaboradores
voluntários para ensinar aos jovens de baixa renda novas atividades, e o Programa
Lixo no Lixo Santa Rosa no Capricho, em que os colaboradores promovem a
educação ambiental na comunidade, são bons exemplos de ações que a AGCO
desenvolve neste sentido. Além destas, há ações voltadas especificamente para os
colaboradores, como as Campanhas preventivas e educativas. Estas ações se
refletem de modo indireto nas famílias e na comunidade em que os colaboradores
estão inseridos.

Com as ações voltadas ao público interno, a comunidade poderá constatar


que a responsabilidade social exercida pela instituição é baseada em valores e
princípios éticos, não se caracterizando em ações que têm como foco somente o
desejo de obter publicidade gratuita com a divulgação de apoios e patrocínios
voltados a causas filantrópicas ou assistencialistas.

Segundo Neto (2010), aos olhos dos públicos situados externamente à


organização, o funcionário será sempre a melhor testemunha dos valores e do
comportamento ético da empresa.

O objetivo geral da pesquisa foi investigar como a AGCO do Brasil tende a


minimizar os impactos causados na sociedade e no meio ambiente para a obtenção
do bem-estar social.

Observou-se e analisou-se que diversos projetos realizados pela AGCO


buscam diminuir alguns impactos causados pelas atividades da empresa e também
de seus produtos. Exemplo disso são os investimentos no projeto de biocombustível,
75

visando oferecer aos clientes motores que queimam misturas de diesel com óleos
vegetais, e a Produção Mais Limpa, que busca uma postura que melhor contribui
para a proteção ambiental.

Os problemas levantados e os objetivos propostos neste estudo foram


alcançados, levando em consideração todas as informações possíveis levantadas
junto à organização escolhida, bem como as pesquisas bibliográfica e documental.
Embora as expectativas e o interesse fossem grandes, nem tudo foi desvendado e
elucidado, o que será discutido nas considerações finais, mesmo assim, a autora
deste trabalho sente-se satisfeita pelos resultados obtidos e pelo conhecimento
adquirido ao longo desses 12 meses de estudo voltado ao trabalho de conclusão de
curso.
76

7 CONSIDERAÇÕES FINAIS

Ao iniciar este projeto buscou-se mostrar maneiras de uma empresa utilizar


seus recursos para desenvolver ações sociais e ambientais e minimizar seus
impactos na sociedade e meio ambiente. Percebeu-se, ao final, que é possível,
mesmo não sendo uma multinacional. Ações simples, como as que são voltadas aos
colaboradores e ações em parceria com outras entidades são plausíveis quando
bem planejadas.

Desde que foi proposta a realização deste estudo, sabia-se da dificuldade de


envolver uma empresa multinacional nas questões levantadas. Mesmo assim,
buscou-se o contato com o setor envolvido, através das relações que a autora tinha
com alguns departamentos da AGCO.

A organização, representada pela Coordenadora de Projetos Sociais e a


Orientadora de Projetos Sociais, sempre se mostrou disposta a ajudar e repassar
informações necessárias para o andamento deste trabalho. Infelizmente, com a
correria do dia a dia dos processos da empresa e da política de divulgação, não
houve a obtenção de muitos dados, e nem respostas a outros tantos
questionamentos o que acarretou numa mudança e direcionamento ao que foi
proposto inicialmente, com isso o trabalho seguiu um rumo mais de observação e
análise documental, do que uma pesquisa de campo, como estava previsto num
primeiro momento.

De qualquer forma, a visita feita à AGCO serviu de base para grande parte
das informações levantadas. Os detalhes observados durante a passagem pela
77

organização, por exemplo, não seriam possíveis de serem percebidos enviando um


questionário via e-mail.

A finalização deste trabalho trouxe a satisfação com os resultados obtidos e


com o uso das ferramentas utilizadas para a elaboração da pesquisa. E o melhor,
pôde-se desenvolver mais o lado crítico da autora através das observações e
análises.

Este estudo inspirou a autora para a prática de ações mais efetivas na


organização da qual faz parte, sugerindo e propondo projetos para serem
implantados, o que fará parte do planejamento do próximo ano da empresa.

Assim, é satisfatório saber que há espaço na área de responsabilidade


socioambiental para o profissional de relações públicas, visto ser um campo cada
vez mais importante para as organizações, e que, em contrapartida, contribui para o
bem-estar da sociedade e preservação do meio ambiente.

É interessante perceber a importância da profissão escolhida para o


desenvolvimento de uma nova mentalidade nas empresas. Basta o relações
públicas se propor a disseminar essa ideia de ser social e ambientalmente
responsável às organizações e mostrar quão valiosas essas ações são para o todo.
É um ganha-ganha para ambos os lados, organização, sociedade e meio ambiente,
que para ser deflagrado precisa ser proposto. Se for com embasamento científico,
melhor será.
78

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81

APÊNDICES
Apêndice 1 – Análise das ações socioambientais da AGCO

Filantropia,
Projetos Cidadania
sociais ou empresarial
Caracterís
Ações Público Parceiros ações ou
tica
comunitári Responsabili
as? dade Social
Corporativa

Responsabilid
Meio Projetos
Biocombustíveis e Ecologia Cliente AGCO ade Social
Ambiente Sociais
Corporativa

Responsabilid
Sistema de Gerenciamento Meio Projetos
Cliente AGCO ade Social
Ambiental Ambiente Sociais
Corporativa

Acionistas,
clientes,
Responsabilid
Meio colaborador Projetos
Produção Mais Limpa AGCO ade Social
Ambiente e Sociais
Corporativa
comunidad
e

Monitoramento dos resíduos Responsabilid


Meio Projetos
sólidos, efluentes líquidos e Cliente AGCO ade Social
Ambiente Sociais
emissões atmosféricas Corporativa

Responsabilid
Segurança e Saúde Colaborado Projetos
Social AGCO ade Social
Ocupacional r Sociais
Corporativa

Colaborado
res,
voluntários, AGCO e Projetos Cidadania
Projeto Pescar AGCO Social
acionistas e Pescar Sociais empresarial
comunidad
e
AGCO
Colaborado
I.S.CA. - Inclusão Social Pestalozzi
res e Projetos Cidadania
Capacitação e Social (Canoas) e
comunidad Sociais empresarial
Acessibilidade APAE (Santa
e
Rosa)
AGCO e Projetos
ARLAS Sociais
Colaborado (Associação
Programa Reciclar para o Responsabilid
Meio res, de
Social: uma atitude que faz ade Social
Ambiente comunidad Reciclagem
a diferença Corporativa
e. de Lixo
Amigas
Solidárias)

Continua
Conclusão

AGCO e Projetos
Susepe Sociais
(Superintendê
Programa Contratação de Comunidad Cidadania
Social ncia dos
Mão-de-Obra Presidiária e empresarial
Serviços
Penitenciários
)
Programa de Apoio ao
Comunidad
Fundo Municipal dos Projetos Cidadania
Social ee AGCO
Direitos da Criança e do Sociais empresarial
acionistas
Adolescente

AGCO,
Programa Fundo do Milênio Comunidad Banco Projetos Cidadania
Social
para Primeira Infância e Mundial e Sociais empresarial
UNESCO

Comunidad
Programa Lixo no Lixo, Meio ee Projetos Cidadania
AGCO
Santa Rosa no Capricho Ambiente colaborador Sociais empresarial
es.
Colaborado
Projeto Gestão Sustentável r, Responsabilid
Meio Projetos
dos Recursos Hídricos: acionistas, AGCO ade Social
Ambiente Sociais
Reúso de Água comunidad Corporativa
e e clientes

Responsabilid
Campanhas preventivas e Colaborado Projetos
Social AGCO ade Social
educativas res Sociais
Corporativa

AGCO,
Ações
Ações Leis de Incentivos Comunidad Apaes,
Social comunitária Filantropia
Fiscais e Instituições e
s
Associações.

Programa de Capacitação Meio Colaborado Projetos Cidadania


AGCO
Ambiental Ambiente res Sociais Empresarial

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