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1 INTRODUÇÃO
Sabe-se que, o apóstolo Paulo escreveu a Carta aos Efésios enquanto passava
por uma de suas prisões (Ef 3.1; 4.1), portanto, além da teologia aprofundada, esta
carta possui uma importante peculiaridade: a experiência da fé nas dificuldades da
vida. Apesar de a Carta ter sido endereçada aos Efésios, há grandes indícios de que
ao ser escrita, o objetivo era que fosse lida em várias comunidades cristãs da Ásia
menor, como: Laodicéia, Hierápolis e a própria Éfeso.
Quanto a autoria paulina de Efésios e os argumentos que tem mais força para
sustentá-la, os comentaristas neotestamentários, Carson, Moo & Morris afirmam que:
A carta diz ter sido escrita por Paulo, não somente na introdução (1.1), mas
também no corpo da carta (3.1). Afirma-se que deve se considerar que
qualquer carta da antiguidade foi escrita pelo autor que ela menciona, a
menos que haja fortes indícios em contrário. Existem muitas notas pessoais:
por exemplo, o autor ouviu acerca da fé e amor dos leitores (1.15) e agradece
e ora por eles (1.6); ele chama a si mesmo de “o prisioneiro de Cristo” (6.19-
20). Esse tipo de coisa não é prova cabal, mas indica que o homem que
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Graduando em Bacharel em Teologia pelo Centro de Estudos Bet-Hakam.
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Graduando em Bacharel em Teologia pelo Centro de Estudos Bet-Hakam.
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Graduando em Bacharel em Teologia pelo Centro de Estudos Bet-Hakam.
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Bacharel em Teologia pelo Seminário Presbiteriano de Anápolis – GO (SPRBC); Bacharel em
Ciências Contábeis pela UFMA – MA e Licenciado em História pela UEMA – MA. Professor de
Teologia pelo Centro de Estudos Bet-Hakan.
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afirma ser Paulo era conhecido dos leitores e estava seguro de que essa
afirmação não seria repudiada. (CARSON; MOO; MORRIS, 1997, p. 336).
Como notamos, então, pelo comentário dos autores acima, há fortes indícios
que Efésios foi escrita pelo apóstolo Paulo quando este ficou em prisão domiciliar em
Roma, possivelmente, durante o reinado do imperador romano Nero (60-62 d.C), e as
evidências interna da Carta aos Efésios nos mostram a sua autoria paulina, sendo ela,
uma das chamadas “cartas da prisão”, juntamente com Colossenses, Filipenses e
Filemom.
O erudito Blomberg (2019) comentando, também, sobre a autoria paulina de
Efésios e o seu caráter circular nos diz que “por fim, uma sugestão frenquente tem
sido que Paulo compôs essa carta como uma encíclica ou carta circular, de modo bem
parecido com Apocalipse (veja Ap 2-3) dirigida tanto a Éfeso quanto as igrejas
próximas”.
Vemos também que Efésios possui várias semelhanças com a Carta aos
Colossenses, como nos quesitos de vocabulário e de temática. Marshall (2007)
comentando sobre isso, postula que “o formato geral de Efésios, com sua clara
divisão, entre doutrina e comportamento cristão, é o mesmo de Colossenses e
Romanos”. Porém, possui uma evidente diferença: enquanto Colossenses tem como
ideia central a identidade e a missão de Jesus Cristo, Efésios centraliza sua ideia na
identidade e a missão da Igreja. Quanto a isso, Blomberg elenca que:
(...) Em segundo lugar, Efésios e Colossenses se mostram bem mais
parecidas no conteúdo, na estrutura e, às vezes, até mesmo em fraseologia
exatamente igual do que qualquer outro par de cartas atribuídas a Paulo. Por
exemplo, ambas contêm regras da casa parecidas (E f 5.22— 6.9; Cl 3.18—
4.1) e pares de frases em que no texto grego até 32 palavras consecutivas
são idênticas (Ef 6.21,22; Cl 4.7,8; cf.tb. Cl 1.14 com E f 1.7). Mais de um
terço das palavras de Efésios reaparece em Colossenses Nota-se que a
estrutura da carta se divide da seguinte maneira: um endereçamento (1.1-2);
dois blocos principais: doutrinação (1.3-3.21) e exortação (4.1-6.20); e
considerações finais (6.21-24). (BLOMBERG, 2019, p.405).
Quanto a estrutura literária da Carta aos Efésios, no primeiro bloco (Ef 1.1-
3.21), é destacado o mistério da salvação, que foi preparado, anunciado e consumado
em Jesus Cristo. Vemos, portanto, nesse bloco que Paulo louva a Deus por ter
predestinado os crentes e pela obra de Cristo Jesus que os redimiu através da sua
obra expiatória na cruz, assim como, o papel do Espirito Santo em selar os eleitos. O
erudito bíblico neotestamentário, refletindo sobre os aspecto soteriologicos da
abertuda da Cartas ao Efésios que perpassa por todo primeiro bloco, pontua
brilhantemente que:
A berak é uma declaração de louvor a Deus, identificando como o Pai de
Cristo (conforme 2 Co 1.3; 1 Pe 1.3; Rm 15.6; Cl 1.13), e os vários feitos de
Deus são todos relacionados com Cristo, como o seu agente. Ao término da
declaração, temos também uma referência ao Espírito, cuja a presença nos
crentes é como um selo que confirma serem eles propriedade de Deus.
(MARSHALL, 2007, p. 330).
No segundo bloco, vemos que no bloco literário (Ef 4.1-6.20), Paulo expõe
sobre as responsabilidades espirituais da Igreja e de forma veemente todos os fiéis
para que vivam com dignidade a vocação recebida como discípulos de Jesus, que é
o esposo e cabeça da Igreja, que é seu Corpo. Assim, comentando sobre a ideia
central desse segundo bloco literário de Efésios, Marshall postula que:
O versículo de abertura de Efésios 4 indica o tema geral da segunda parte da
carta, em que se ensinará a conduta adequada ao evangelho apresentado na
primeira parte (cf. Colossenses). A questão proposta em seguida resulta
diretamente do que veio antes; a necessidade de preservar a unidade da
igreja, uma vez que a igreja é única, com um só Deus e possui esperança
para o futuro. (MARSHALL, 2007, p. 335).
Por outro lado, a palavra “esposa” aparece nove vezes, já a palavra “esposo”
aparece seis vezes, ambas só no primeiro bloco. Argumentando sobre isso, o erudito
neotestamentário Brown elenca que:
Ef 5,21-6,9 especifica modo de vida cristão em um código doméstico para
esposas/mulheres,filhos/pa\s, servos!senhores. O padrão geral de sujeição/
obediência da primeira parte e a obrigação da segunda parte (a quem se deve
a submissão) de demonstrar os traços distintivos de Cristo são os mesmos
do código doméstico de Cl 3,18-4,1; código de Efésios, porém, é um terço
mais longo do que de Colossenses, e existem diferenças interessantes. Ef
5,21 contém uma instrução à mútua sujeição por reverência a Cristo; isso, é
claro, diz respeito aos esposos em relação às esposas, bem como às
esposas em relação aos maridos.
Assim sendo, aos casais, Paulo indicou um novo padrão e modelo a ser
seguido: “Submetei-vos uns aos outros com o temor de Cristo” (Ef 5.21). Concedeu-
se uma nova cosmovisão que ultrapassa a relação humana: o amor de Cristo pela
Igreja e da Igreja por Cristo.
Esse amor, portanto, direciona o modo de compreender e de seguir as
exigências e funções dadas aos membros da família. Desse modo, tornava-se
possível redefinir as relações entre esposas e esposos, filhos e pais, servos e
senhores e, consequentemente, entre todos os cristãos membros da Igreja.
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Isto faz recair sobre o esposo a obrigação de como “cabeça”, isto é, condutor
da família, oferecer sua vida pela esposa. Uma vez que, na época, não era possível
inverter as relações, não era o esposo que dependia da esposa, mas o contrário.
Assim, como a Igreja depende de Cristo, e Cristo é a cabeça da Igreja e o seu
salvador, do mesmo modo, o esposo é a cabeça da esposa e o seu salvador.
Argumentando sobre isso, o comentarista neotestamentário Bryan Chapell
comenta que:
Vamos começar estabelecendo o que a liderança como cabeça não é.
“Cabeça” (kefalh) pode significar nada. Quando Paulo diz que Cristo não é o
“cabeça” da igreja (Ef 5.23), sabemos que o termo é importante é não nada.
Uma vez que Cristo é o cabeça da igreja, sua noiva, ele age como seu
Salvador (Ef 5.23).4 Jesus se entregou por amor, para tornar a igreja santa,
gloriosa e sem mácula (Ef 5.25-27). Portanto, em certo aspecto, a função de
cabeça transmite o sentido de alguém assumir responsabilidade pelo que
Deus confia aos seus cuidados. (CHAPELL, 2018, p. 318).
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Vemos então que a expressão “cabeça” que denota a relação conjugal entre o
marido e sua esposa, tendo como paradigma a relação de Cristo e sua igreja como “o
cabeça” dela, vemos que tal expressão denota o sentido de liderança, que agora,
tendo como alicerce a liderança de Cristo sobre sua Igreja, está baseada no amor
“ágape”.
Acerca desse pensamento, Hendriksen elenca que:
A comparação com Cristo como cabeça da igreja (cf. 1.22;4.15; Cl 1.18)
revela em que sentido o esposo é a cabeça da esposa. Ele é sua cabeça no
sentido de estar vitalmente interessado no bem-estar dela. E o protetor dela.
Seu padrão é Cristo que, como cabeça da igreja, é seu Salvador!
(HENDRIKSE, 2004, p. 295).
Portanto, Paulo deixa muito claro que a liderança que o marido cristão exercerá
sobre sua mulher será uma liderança sacrificial e não mais fundamentada na
imposição sociocultural, que marcava a cultura patriarcal grego-romana, que colocava
a liderança do marido sobre a mulher de forma impositiva e opressiva.
Refletindo sobre isso, Chapell elenca que:
A liderança como cabeça não indica superioridade espiritual ou pessoal do
marido no sentido de lhe conferir o direito de governar de modo arbitrário,
egoísta, arrogante ou caprichoso. Esse fato fica claro na maneira como o
apóstolo se expressa: “Maridos, amai vossa mulher” (Ef 5.25). Em parte
alguma a Bíblia define amor como aproveitar-se de outros para benefício
próprio – como fica evidente nas palavras subsequentes do mesmo versículo:
“amai [...] como também Cristo amou a igreja e a si mesmo se entregou por
ela”. Essas palavras devem trazer à nossa mente o ministério sacrificial de
Jesus, que abriu mão da glória celeste, viveu em pobreza, lavou os pés de
outros e sofreu numa cruz. A liderança como cabeça não significa exercer
domínio ou poder em benefício próprio. (CHAPELL, 2018, p. 320).
Por esta razão, recai sobre o esposo uma grande exigência, colocando-o em
uma posição longe de privilégios se comparado à esposa. A recomendação dada aos
esposos é mais ampla que a dada às esposas, uma vez que a responsabilidade é
maior: “amai as vossas esposas, como também Cristo amou a Igreja e se entregou
por ela”.
Refletindo sobre o amor sacrificial do marido cristão pela sua esposa tendo
como parâmetro o amor soteriologico de Cristo pela sua Igreja, Patzia elenca que:
Só Cristo pode ser considerado o salvador do corpo, por causa de sua obra
em prol do corpo e seu relacionamento de amor para com ele. Entretanto, “a
preocupação sacrificial do Senhor quanto à salvação da Igreja deve ter um
paralelo, ainda que num nível muito inferior, na preocupação amorosa e
sacrificial do marido pelo bem-estar de sua esposa”. (PATZIA, 1984, p. 259).
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Em outras palavras, os esposos devem dar continuidade ao que Deus fez por
Israel e ao que Cristo fez pela Igreja, em uma demonstração do amor incondicional de
Cristo pela Igreja. Essa atitude provém do verbo agapao, que significa um amor de
total entrega, sem restrições.
No contexto da Carta, um homem cumpria bem o seu papel de esposo,
garantindo uma boa imagem na sociedade, quando respeitava, cuidava, alimentava e
não deixava faltar nada de material e, principalmente, não difamava ou traía sua
esposa.
Além de tudo isso, o esposo cristão é exortado na Carta aos Efésios a se doar
de forma sacrificial, motivado não apenas no bem-estar físico e emocional da sua
esposa, mas também, no que tange ao dom integral da sua vida por ela.
Comentando sobre isso, Hendriksen elenca que:
Quando um esposo crente ama sua esposa dessa forma, a obediência por
parte da esposa crente será fácil. Pode-se apresentar uma ilustração tirada
da vida: “Meu esposo me ama de forma tão profunda e é tão bom para comigo
que à primeira oportunidade me apresso em obedecer-lhe.” Que lindo
relacionamento é este! (HENDRIKSEN, 2004, p. 297).
Por outro lado, vemos que Paulo exorta os pais a corrigirem seus filhos com
amor compassivo e firmeza doutrinária, já que ele usa a expressão “no Senhor”,
referindo-se a disciplina dos filhos por intermédio da própria Palavra de Deus.
Portanto, é requerido dos pais, mais especificamente do homem (Ef 6.4), o uso da
autoridade corretiva com sabedoria. Logo, os filhos devem obedecer aos pais “no
Senhor”, e os pais devem educar “na disciplina e doutrina do Senhor”.
Refletindo sobre isso, Chapell comenta que:
Os pais honram a Deus quando, por meio do abraço compassivo ou da
disciplina controlada, cultivam ou corrigem o desenvolvimento espiritual dos
filhos. Servir na função de pais não é uma questão de ceder aos caprichos
do filho, mas de usar a nossa autoridade e os nossos recursos para seu bem-
estar. Lideramos ao usar autoridade para buscar o bem de outros.
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Por vezes, a submissão da Igreja a Cristo não se mostra apenas nas suas
ações e palavras, mas no processo de submissão de cada cristão a Cristo, seja ele
clérigo ou leigo. Na base do processo de submissão da Igreja a Cristo, está a completa
submissão do Filho ao Pai.
Assim sendo, seria negar a realidade se afirmarmos que não há influências, em
nome da obediência a Cristo, que levam a Igreja e, nela, os fiéis, a se comportarem
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de maneira que revelam uma falsa submissão. A razão para isso é que o ser humano
pode cegar-se e fazer escolhas não condizentes com a Palavra de Deus.
É necessário falar da magnitude do mistério da encarnação do amor, uma vez
que, o amor de Cristo pela Igreja é, concomitantemente, divino e humano. Esse amor
é eterno e constante, e deve ser a motivação primordial para os fiéis exercerem o
amor uns pelos outros sem desmotivar, sobretudo na vida familiar. Logo, a finalidade
do comportamento do esposo em amar sua esposa se manifesta na grandeza do amor
de Cristo pela igreja, justificando o peso dessa exigência.
O comentarista neotestamentário Fulkes, elenca pontos interessantes sobre o
amor ágape que Paulo usa para demonstrar a qualidade do amor de Cristo pela sua
Igreja e qual deve ser agora a qualidade do amor do marido cristão pela sua esposa,
assim ele afirma:
Havia a palavra erao que expressava a profunda paixão sexual do homem
pela mulher, e também a palavra phileo que era empregada para referir-se à
afeição existente no seio da família. Mas nenhuma destas duas palavras foi
usada; pelo contrário, Paulo escolhe a palavra tipicamente cristã agapao,
amor que não guarda qualquer resquício de egoísmo, que não procura a
satisfação própria, nem mesmo afeição como resposta à afeição, irias que
luta pelo mais alto bem da pessoa amada. Este amor tem por padrão e
modelo o amor de Cristo para com Sua Igreja. Já se ensinou ser dever de
cada cristão manifestar tal amor em todas as suas relações. (4:2,15; 5:2).
Agora é empregado para lembrar os maridos que não devem pensar no que
esperam lhes seja devido pelas esposas, mas no que eles devem fazer em
sacrifício e devoção. (FULKES, 2011, p. 130)
Vemos, então, qie o amor do esposo pela esposa deve ser incondicional assim
como é o amor de Cristo pela Igreja e vice-versa. Desse modo, o esposo que ama a
sua esposa como Cristo ama a Igreja, está amando a si mesmo e realizando o mistério
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CONSIDERAÇÕES FINAIS
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CARSON, D.A; MOO, Douglas J.; MORRIS, Leon. Introdução ao Novo Testamento.
São Paulo: Vida Nova, 1997.
FALKES, Francis. Efésios: introdução e comentário. São Paulo: Vida Nova. 2011.
MARSHALL, Howard I. Teologia do Novo Testamento. São Paulo: Vida Nova, 2007.