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CAPÍTULO 1
“Peguei!” Kopa saltou em meio ao ar pra cima de seu alvo, um hírax chamado Pimbi. Perfeito,
Kopa pensou, muito perfeito.
Mas Pimbi se mexeu.
Kopa pousou na terra de cara. “Droga!”
murmurou ele.
Pimbi tremia de tanto rir. “Você nunca vai me
pegar desse jeito,” disse ele. “Que belo rei você vai
ser.”
Kopa tirou a poeira de seu pelo dourado macio.
“Tá sabendo bem,” ele disse. “Um dia, serei rei das
terras do reino!” O pai de Kopa era Simba, o Rei
Leão.
Pimbi riu. “Não se você não aprender a atacar
melhor.”
“Meu pai disse que vai me dar mais aulas. Aí, sim,
eu---“ Kopa parou. “Acabei de lembrar de algo,” ele
gritou. “Meu pai prometeu me mostrar uma coisa
especial hoje!”
“O que?” perguntou Pimbi.
“Te conto amanhã,” Kopa disse, indo pra casa. “Até lá!”
Kopa correu pela base de uma colina de pedra. Esta era a Pedra do Rei, o ponto mais alto de
todas as terras do reino.
Kopa não conseguia parar de sorrir. Seu pai havia prometido lhe mostrar o reino todo do
topo da Pedra do Rei.
“Meu pai fez o mesmo quando eu era filhote,” Simba havia dito a Kopa. “É tradição.”
Kopa não chegou a conhecer seu babu, seu avô, Mufasa, mas já ouviu falar dele direto do
mordomo do seu pai, o calau Zazu, e dos animais mais velhos. Todos diziam que Mufasa havia
sido um grande rei.
Agora, Simba, filho de Mufasa, era o Rei Leão. Kopa também achava que seu pai era um
grande rei, mesmo que essa função o mantivesse ocupado. Tão ocupado que Simba não
passava muito tempo com Kopa.
Mas, hoje seria diferente.
Quando Kopa chegou aonde sua família dormia, sua mãe, Nala, estava deitada em uma
pedra plana observando as planícies de grama abaixo.
“Brincou muito com o Pimbi?” perguntou Nala.
Kopa parou numa derrapada e balançou a cabeça. “Como você sabia o que eu estava
fazendo?” ele perguntou.
Nala lambeu seu rosto. “Você nunca está distante de minha vista ou proteção,” ela
respondeu. “Consigo ver tudo que se move nas planícies.”
Kopa franziu as sobrancelhas. “Bizarro.”
CAPÍTULO 2
“Nesta época, as terras do reino estavam com grandes problemas,” disse Rafiki. “Uma seca
abateu as terras, que se tornaram poeira. Os animais lutaram não só por água mas por comida
e espaço também. Foi nesta terra que eu, Rafiki, entrei quando...”
Rafiki viajava já fazia muitas horas. Ele estava com calor e cansado.
Um calau colorido sobrevoou Rafiki. “Você parece esgotado,” ela disse. “Por que não se
senta na sombra?” Ela pousou de pé.
“Eu adoraria, senhorita... é... senhorita...” Rafiki hesitou.
“Zuzu é meu nome,” ela retrucou. “Tem sombra debaixo daquela colina, nas Cinco Pedras,”
ela disse. “Bom, tenho que ir voando. Tanto pra se fazer com tão pouco tempo.” Ela decolou e
sumiu de sua vista.
Rafiki encontrou as Cinco Pedras facilmente. Na verdade, era a única sombra em quilômetros
de distância, em meio a cinco pedras em forma de ovos, juntas, como se fossem um ninho
gigante.
Porém, se aproximando das Cinco Pedras, Rafiki teve a impressão de estar sendo observado.
Ele se virou e deu de cara com três hienas gargalhando vindo direto pra cima dele.
“Almoço!” uma delas gritou.
Rafiki encostou as costas numa pedra e preparou seu
cajado, mesmo que isso não lhe adiantasse muito
contra elas.
Quando se aproximaram, Rafiki ouviu um enorme
rugido. As hienas congelaram.
Rafiki olhou pra cima e viu um leão em cima das
pedras. Ele tinha uma juba longa e escura e olhos
verdes brilhantes. Era Ahadi, o Rei Leão. Dois jovens
leões estavam com ele. Um parecia pronto para lutar.
O outro, entediado.
“Vocês já comeram,” disse Ahadi as hienas.
Duas das hienas abaixaram a cabeça tremendo. “Sim,
senhore,” disseram. A terceira hiena cobriu a cara com
as patas dianteiras e riu.
A hiena fêmea riu para o rei. “Mas, Ahadi”---sua voz
arranhava---“não tinha muita carne naquele mísero---“
“Silêncio, Shenzi!” disse Ahadi. “Você ia matar por
diversão. Isto não é permitido nas terras do reino.
Agora, vão embora!”
As hienas fugiram.
“Você podia ter deixado elas comerem este pobre velho,” o leão entediado disse. Ele saltou e
circulou Rafiki. “Embora eu receio que a carne seria ruim, até pra mim.”
“Deixe-o em paz, Taka,” disse o outro jovem leão. Ele saltou ao lado de Rafiki. “Meu nome é
Mufasa. O ignorante é meu irmão. E este é meu pai, Ahadi, o Rei Leão.”
“O que lhe traz às terras do reino?” Ahadi perguntou a Rafiki.
“Me chamo Rafiki, e busco conhecimento,” ele respondeu. “Eu estudo a terra africana---sua
magia, seus mitos, suas lendas. Aprendi muito sobre as propriedades de cura das plantas.”
Taka bocejou, “Que divertido.”
“Você pode lucrar com tal jornada,” disse Ahadi.
Taka resmungou.
“Gostaria de conversar com você sobre nossos problemas,” disse Ahadi a Rafiki. “Talvez seu
conhecimento possa nos ajudar.”
Rafiki seguiu o Rei Leão e seus filhos de volta a Pedra do Rei. Taka mudou de rumo. Ahadi
disse a Rafiki que sua esposa, Uru, estava fora, caçando novas fontes de comida e água.
Rafiki e Ahadi conversaram por muitas horas. Quando caiu a escuridão, Ahadi convidou Rafiki
para dormir por lá esta noite. Rafiki fez uma cama de folhas na beirada de onde os leões
dormiam.
As terras do reino lá embaixo vistas da beirada eram vastas. A grama era interminável, mas
era interrompida por furos d’água secos, pedras e alguns troncos de árvores. À distância, as
colinas azuis desapareciam em meio ao céu ao anoitecer. O poderoso Rio Zuberi era apenas
um fio d´água prateado sob a luz da lua.
“Gosto de dormir sob as estrelas,” disse Rafiki a Mufasa, “e conversar com os sábios do
passado.”
Mufasa deitou-se ao lado de Rafiki na beirada. “Eu converso com os antigos Reis Leões, que
também vivem entre as estrelas.”
“Seu irmão também faz isso?” Rafiki perguntou. “Ele ainda não chegou.”
“Não,” disse Mufasa. “Taka não gosta de fazer quase nada. Ele e meu pai não se dão bem.”
Mufasa apoiou a cabeça em suas patas dianteiras. “Taka também não gosta muito de mim.”
“Você gosta dele?” perguntou Rafiki.
“Ele é meu irmão mais novo,” suspirou Mufasa. “Eu tomo conta dele.”
Depois de um tempinho, Rafiki e Mufasa disseram boa noite e dormiram rapidamente.
Porém, o sono de Rafiki foi interrompido. Alguma coisa se movia entre as folhas de sua cama.
Quando abriu os olhos, uma cobra cuspidora lhe encarava. Seus olhos brilhavam a luz do luar,
e sua cabeça estava ereta. Pronta para dar o bote.
CAPÍTULO 3
“A cobra te picou?” perguntou Kopa.
“Não, Jovem Príncipe,” respondeu Rafiki. “A cobra não picava. Ela cuspia.”
Kopa enrugou a testa. “Nojento.”
“Posso continuar meu conto?” perguntou Rafiki. Quando Kopa balançou a cabeça ansioso,
ele prosseguiu.
alta. Ele estava terminando sua refeição quando ouviu vozes lá embaixo.
Três hienas se reuniram na base da árvore. Eram as mesmas que haviam lhe atacado um dia
antes.
“Cansei do Ahadi ficar mandando na gente, Banzai,” disse a que se chamava Shenzi. “Quem
ele pensa que é?”
“O rei, o chefe, o gatão,” replicou Banzai.
A terceira hiena riu.
“Acha engraçado, Ed?” disse Shenzi. Ela se virou e jogou um pedaço de carne podre na cara
de Banzai.
Ed riu de novo.
“Você entendeu, Banzai,” Shenzi rosnou. “Ele sempre acaba com nossa graça.”
“Bom, mas as coisas vão mudar,” disse Banzai, limpando o rosto. “E então nada vai ficar em
nosso caminho.”
Rafiki não gostou do tom de voz de Banzai. Estas criaturas estão tramando mais do que
suspeitam, pensou.
“Ahadi não vai viver pra sempre,” disse Shenzi. Banzai concordou. “E se algo acontecesse
com Mufasa”---“Hee-hee-hee,” ria Ed---“seremos os donos do pedaço.”
“As hienas do pedaço,” disse Banzai.
Shenzi mostrou seus dentes afiados. “Um dia,” ela disse, “vamos caçar quando, aonde e o
que quisermos. As terras do reino serão nossas.”
“Hee-hee-hee!”
CAPÍTULO 4
A mente de Rafiki estava a mil. O que eles planejavam? ele pensava. Seja lá o que fosse, ele
sabia que era problema para Ahadi e sua família.
Depois que Shenzi e seus companheiros foram embora, Rafiki correu para a Pedra do Rei.
Estava ansioso para contar a Ahadi o que ele tinha ouvido.
No entanto, quando ele chegou, Ahadi estava enfrentando uma crise diferente. Girafas,
zebras, javalis, e outros animais estavam gritando, batendo os pés e reclamando. Mufasa
sentou-se ao lado de seu pai. Taka estava no chão, uns metros mais longe.
“Quase não se tem mais folhas, graças às girafas,” disse um antílope.
“Elas são gananciosas,” disse uma zebra. “É a verdade!”
“Nem tudo é preto no branco,” disse uma girafa. Ele apontou o nariz para o ar. “Temos que
comer também.”
“Mas e água?” rosnou um leopardo. “Só restou um furo d´água, e Boma e os outros búfalos
africanos não me deixam nem chegar perto.”
Uma avestruz nervosa puxou uma de suas próprias penas. “E aquelas hienas nojentas? Elas
ameaçam a mim e a meus filhos.”
“É mesmo,” disse uma voz familiar. Rafiki olhou pra cima e viu Zuzu sentada em uma árvore.
“Elas atacam tudo que se move, os macacos, os pica-paus, as cabras-de-leque, as gazelas, as-
--“
“Asante sana. Obrigado, Zuzu,” disse Ahadi. “Eu cuido das hienas---“
“Quando?” perguntou a avestruz. “Elas estão acabando com as únicas fontes de comida que
temos.”
“Agora mesmo,” declarou Ahadi.
“Ah, pai”---Taka estudava suas garras---“você não prometeu que ia comigo, digo, comigo e
com Mufasa, caçar esta manhã?” Taka olhou para a avestruz e lambeu os lábios.
“Sim, prometi,” disse Ahadi. “Porém receio que vão ter que esperar.”
Taka bateu o pé. “Cansei de esperar!” ele rosnou.
“Sempre aparece alguma coisa mais importante
quando você vai me levar pra algum lugar.”
“Isso não é verdade,” disse Ahadi. “Além disso, ser o
Rei Leão exige grandes responsabilidades.” Ahadi
olhou para Mufasa. “Seu irmão parece compreender
estas coisas.”
“Mufasa recebe toda atenção!” gritou Taka. “Afinal,
o favorito do papai vai ser o próximo Rei Leão.”
“Olha como fala comigo,” Mufasa advertiu o irmão.
“E os nossos problemas?” chamou um papagaio. “E
comida e água? Não importa quem vai ser coroado se
a gente morrer de fome!”
A discussão rolou como um grande ruído. Ahadi
jogou a cabeça pra trás e rugiu, “Basta!” Todos ficaram
quietos.
“Farei o que puder com as hienas,” disse Ahadi.
“Porém não controlo o tempo. Não posso fazer chover. Uru foi atrás de novas fontes de água e
comida para nós. Devemos ter paciência até ela retornar.”
Ahadi falou com calma com Taka. “Por favor, tente entender.”
“Você quebrou sua promessa,” disse Taka. Seus olhos faiscavam. Rafiki estava certo de que
ele ia rugir do fundo de seus pulmões.
Porém a raiva sumiu como uma nuvem ao sol. Taka resmungou e virou-se a Mufasa. “Que tal
eu e você sairmos pra caçar sozinhos? Melhor que nada. Vai ser divertido. Bem divertido.” Ele
ria.
Rafiki não gostou da maneira que ele riu. Parecia que Taka tinha um terrível segredo.
“Seria legal,” disse Mufasa.
“Ótimo,” disse Ahadi. “E eu vou cuidar das hienas.”
Ele se virou até o Rafiki. “Seria muito mais fácil se eu soubesse dos problemas antes de eles
se tornarem graves.” Ahadi saiu correndo pela planície empoeirada.
“O Rei Leão é tão corajoso,” disse Zuzu. Ela planou da árvore e pousou perto de Rafiki. “Já o
vi enfrentar tantas crises e perigos. Falando nisso,” ela sussurrou, “eu podia ter lhe contado
sobre o problema com o búfalo no furo d’água dias atrás.”
“Você já sabia?” Rafiki perguntou. O pássaro era cheio das surpresas.
“Ah, sim, sim,” Zuzu sussurrou. “Minha família e eu fazemos nossos voos de exercício por
todas as terras do reino. Vemos tudo, desde a Pedra do Rei até as colinas azuis.”
Isso podia ser útil, pensou Rafiki.
“Bom, tenho que voar,” disse Zuzu. “Muito a se fazer antes do dia esquentar.” Ela decolou e
logo se tornava um pássaro distante.
Uma ideia se formava na mente de Rafiki enquanto Zuzu ia embora. Pode ajudar Ahadi com
pelo menos um de seus problemas.
“Pronto pra caçar?” Rafiki ouviu Mufasa perguntar a Taka.
“Tenho que fazer uma coisa antes,” ele respondeu. “Me encontre nas Cinco Pedras daqui a
pouco.”
“Beleza,” disse Mufasa. E começou a papear com um leopardo que caminhava impaciente.
“Dormiu bem ontem?” Taka perguntou enquanto passava por Rafiki.
“Como uma pedra,” replicou Rafiki. “Essas coisinhas não me incomodam.”
Taka sacudiu o rabo em cima de Rafiki e correu na direção de algumas pequenas árvores à
distância.
Rafiki decidiu segui-lo. Não foi difícil. Ele o acompanhou ficando no alto das árvores, pulando
de galho em galho.
Finalmente, Taka parou próximo a um pequeno e seco furo d’água. Rafiki não soube decifrar
se ele estava pensativo ou decepcionado.
Taka fez um sinal. Três hienas rosnando pularam dos arbustos a sua frente.
Era Shenzi, Banzai e seu companheiro sorridente, Ed. Elas vieram em direção de Taka com as
cabeças baixas e com o sol da manhã brilhando em seus dentes brancos e mortais.
CAPÍTULO 5
“Por favor, chega de drama,” disse Taka, caminhando ao redor deles.
Começaram a rir.
“A gente te preocupou um pouco, não?” disse Shenzi.
Taka virou os olhos. “Ah, sim, meu pelo até ficou branco de medo. Agora, ouçam, seus
idiotas.”
As hienas pararam de rir e passaram a prestar atenção.
“Meu pai está atrás de vocês,” continuou Taka. “Então, sumam por um tempo até as coisas
esfriarem.”
“Eu até gostaria que esfriasse,” disse Banzai. “Se a gente fosse para as montanhas mais altas,
lá tem neve e---“
Taka e Shenzi deram um tapa nos bigodes de Banzai.
“Ai!” ele ganiu.
Ed riu.
“O que eu fiz? O que eu fiz?” Banzai perguntou.
Taka lambeu uma de suas patas. “Não é à toa que
me imploraram pra fazer parte da gangue de vocês.”
“Ei, quem que implorou?” Banzai falou.
“Ele tem razão,” disse Shenzi.
Ed riu com a cabeça, concordando.
Taka levantou a pata e liberou suas longas garras.
“O que diziam?”
Banzai tremia. “Que foi ótimo termos pedido a
você para se juntar a nós,” ele disse.
Taka sorriu.
Shenzi zombou, “achei que você ia caçar com o
papai.”
“Mudança de planos,” retrucou Taka.
“Ele te deixou de fora de novo?” ela disse.
“Ninguém me deixa de fora!” Taka rugiu.
As hienas caíram uma em cima das outras
tentando se afastar de Taka.
“Claro que não!” Shenzi disse, enquanto Taka as encurralava em uma árvore. “É que você
falou que ele sempre escolhe o Mufasa em vez de você.”
“Isso, isso,” disse Banzai, nervoso. “Ele sempre divide vocês.”
“Hee-hee-hee,” disse Ed.
“Que que tem?” Taka urrou.
“É só que... bom, eu iria me vingar, se fosse você, só isso.” Shenzi parecia com medo.
“Eu vou.” Taka encostou o rosto na orelha dela. “Vou caçar com Mufasa e trazer problema de
verdade. Assim, meu pai vai ver que Mufasa não é perfeito.”
Shenzi lambia os lábios. “Isso é legal, mas por que não fazer algo que faz o Mufasa parecer
fraco? Talvez, Ahadi perceba que você deve ser o próximo Rei Leão.”
Ed balançou a cabeça rindo, concordando.
CAPÍTULO 6
A primeira coisa que Rafiki ouviu foi o vento nas árvores. Era bem relaxante. E então uma voz
esganiçada o despertou de vez.
“Um símio da sua idade não devia estar se aventurando nos galhos igual criança.”
Era Zuzu. Ela estava ao lado de Rafiki no chão, balançando a cabeça.
“Sorte sua de não ter quebrado nada, e que eu estava voando próximo, e te vi, e---“
“Obrigado pela ajuda,” disse Rafiki.
Com o auxílio de Zuzu, Rafiki ficou de pé. “Estive apagado por muito tempo?”
“Não muito,” ela disse.
Mas era tempo o bastante para o Taka estar bem a frente, Rafiki deduziu. Como ele podia
encontra-lo? Então ele se lembrou dos voos de exercício de Zuzu com sua família. “Nós vimos
tudo,” ela dizia.
“Você viu Taka, Mufasa ou o Rei Leão?” Rafiki perguntou.
“Ahadi está no cemitério de elefantes,” ela disse, batendo na pelugem de Rafiki. “As hienas
se escondem por lá de vez em quando. O Taka eu não vi,” ela murmurou. “Mas o Mufasa, eu o
vi indo até as Cinco Pedras.”
“Por favor, vá atrás do Rei Leão e peça que ele procure seus filhos,” implorou Rafiki à Zuzu.
“É urgente.”
“Aonde?”
“Pede pra ele começar pelas Cinco Pedras,” disse ele.
Zuzu aprovou, decolou e se foi.
Desta vez, Rafiki foi correndo pelas planícies. Passou por pedras, terra rachada e seca, e
arbustos cheios de espinhos.
Nas Cinco Pedras, Mufasa não estava por lá, porém Rafiki captou seu cheiro no ar.
E o de Taka também.
Rafiki freneticamente procurou pelo chão, indo atrás de seus rastros, e os seguiu o mais
rápido possível.
Eles corriam. Rafiki notou pela largura dos passos. E deviam estar bem adiante. Qual seria o
plano do Taka? Pra onde ele levaria seu irmão?
A trilha deles deu no topo de uma colina. Rafiki parou para recuperar o fôlego. Lá embaixo,
ele viu uma poça d’água. O último furo d’água, ele supôs.
Dentro da poça, com água até a barriga, estava o maior búfalo africano que Rafiki já tinha
visto. E por volta da poça estava Mufasa. Ele não se escondia do búfalo, mas tomava cuidado.
Taka não estava por perto.
Rafiki correu descendo a colina e alcançou Mufasa assim que ele encostou na água.
O búfalo olhou para os dois. Sua grossa sobrancelha parecia uma enorme taturana debaixo
de seus longos e curvados chifres.
“O que está fazendo aqui?” Rafiki perguntou a Mufasa.
“Ajudando meu pai,” ele disse. “Se nós conseguirmos convencer Boma a dividir a água, vai
ser melhor para todos os animais.”
“É justo,” disse Rafiki. “Mas não me parece que o Boma---“ Um terrível pensamento assolou
Rafiki. “Como assim, nós?” perguntou.
CAPÍTULO 7
Boma estava cada vez mais perto. Mufasa correu pra direita. “Por aqui!” gritou. Era uma
descida. Mufasa correu em direção a uma grande formação de pedras.
Rafiki o seguiu, e Boma também.
“Fuja, covarde!” Boma berrou.
O peito e as pernas de Rafiki doíam, e ele mal conseguia respirar. A queda e os quilômetros
que ele vinha correndo tinham finalmente lhe alcançado. Logo, ele não conseguiria correr
mais.
Logo a frente, um tronco bloqueava o caminho.
“Não vou conseguir,” Rafiki disse a Mufasa. “Vai sem mim.”
“Suba nas minhas costas!” gritou Mufasa.
“Isso vai te atrapalhar,” disse Rafiki.
“Sobe!” comandou Mufasa.
Rafiki pulou a bordo. Mufasa nasceu para ser rei. Seus músculos inchavam com o esforço de
manter a velocidade e carregar o babuíno. Mas ele conseguiu fazer os dois.
“Você não vai conseguir contornar aquele tronco,” Rafiki avisou Mufasa. “Boma está perto
demais.”
“Não preciso contorna-lo,” disse Mufasa.
Mufasa subiu no tronco. Com um impulso de suas poderosas patas, ele e o Rafiki voaram em
meio ao ar.
Rafiki entendeu qual era o plano de Mufasa. Tinha um desfiladeiro logo após o tronco.
Mufasa saltou por cima e pousou do outro lado.
Boma saltou. Seus olhos se arregalaram com o susto. Ele caiu no desfiladeiro fazendo
enorme barulho.
Mufasa derrapou e
parou. “Eu mesmo já caí
aí,” disse a Boma.
“Você vai pagar por
isso!” Boma gritou.
Mufasa suspirou. “Eu
não vim lutar com você.
Somos todos irmãos.
Irmãos no ciclo da vida.”
Porém, Boma não ouviu nada. “Vou te pegar, e os outros vão atrás do seu irmão!”
“Os outros?” perguntou Mufasa. Ele e Rafiki correram pra cima de umas pedras. Bem longe,
perto do furo d’água, Taka rolava de rir no chão. Três búfalos selvagens enormes surgiram em
meio a alta grama amarela atrás dele. É claro, pensou Rafiki, búfalos caminham em bandos.
“Meu irmão!” Mufasa gritou.
Taka começou a correr, mas os búfalos já estavam lhe alcançando.
“Tenho que ajuda-lo!” Mufasa correu descendo das pedras. Ele pulou o desfiladeiro direto
para o tronco e prosseguiu no caminho de volta.
“Eles vão te destruir também!” gritou Rafiki. Mas Mufasa não parou.
“Socorro! Socorro!” gritou Taka. Ele virou pra esquerda, depois direita, tentando fugir. Mas
CAPÍTULO 8
“Eu vou cuidar dele,” disse Rafiki. Ahadi virou para os búfalos. “É bom torcer para que não seja
nada grave,” ele rosnou. E então seguiu Rafiki e Mufasa.
“Não tem nenhum osso quebrado,” disse Rafiki à Ahadi depois de examinar Taka. “Mas ele
está com um grande corte no rosto.” Taka gemeu, e Ahadi encostou o focinho nele.
“Tenho umas ervas na minha trouxa lá na Pedra do Rei,” Rafiki disse. “Vão ajudar.”
“Então, vamos leva-lo pra casa.” Ahadi pediu para um dos elefantes que ele erguesse Taka
em sua tromba. O rei pediu para que outro elefante ajudasse a tirar Boma do buraco. Então,
Rafiki e os leões voltaram a Pedra do Rei, guiando o elefante que carregava Taka.
“Você vai sentir dor por uns dias,” disse Rafiki a Taka depois. “E vai carregar essa cicatriz pro
resto da vida.”
“Servirá como lembrança de como você foi descuidado,” disse Ahadi.
“Por que você irritou o Boma?” perguntou Mufasa a seu irmão.
“Para lhe envergonhar,” retrucou Taka. “E pra me vingar do pai por quebrar sua promessa!”
“Em vez de nos magoar, você quase se matou,” disse Ahadi. “Você precisa se livrar da ira que
te domina, meu filho. Talvez a ferida que recebeu sirva como lembrança disso.”
Os olhos de Taka cheio de ódio, agora estavam limpos e calmos. “É verdade.” Ele sorriu de
canto para Mufasa. “A partir de hoje, me chamem de Scar. Pai, não vou esquecer do que
aconteceu hoje. Prometo.”
Mufasa, Ahadi e Rafiki se juntaram a Zuzu, que esperava por eles.
“Apesar do ataque de Taka, Boma e seu bando prometeram deixar os outros animais
dividirem a água,” disse Ahadi. “Isso vai diminuir a crise. Amanhã, cuido das hienas.” Ele
suspirou. “Se tivesse como eu saber desses problemas antes de se tornarem crises!”
“Tem como,” disse Rafiki ao rei. “Indique alguém que seja seus olhos e ouvidos no reino.
Alguém que lhe ajude a manter contato com seus assuntos.”
“Boa ideia,” disse Ahadi. “Mas quem?”
“Zuzu seria minha primeira opção,” disse Rafiki. “Se
não fosse ela, as coisas poderiam ter acabado de
outra maneira hoje.”
“Você aceitaria o trabalho, Zuzu?” perguntou Ahadi.
As penas de Zuzu se instigaram de orgulho. “Sim,
Majestade.”
“Então, pronto!” proclamou Ahadi. “Deste dia em
diante, você e sua família serão mordomos dos reis
das terras do reino.”
Zuzu fez reverência, e tomou voo. “Preciso contar
pra minha família. Meu filho vai ficar tão orgulhoso.”
“E você, sábio Rafiki,” continuou Ahadi, “será meu
professor.”
Agora, era Rafiki que ficou com vergonha. “Sua
Majestade, não posso ficar---“
Ahadi sorriu. “Rafiki, quero fazer das terras do reino
um lugar aonde todos os animais possam prosperar.
Isto será possível se cooperarmos. Você nos ajuda a atingir este objetivo?”
Rafiki ficou mudo. Ele estava acostumado a ser sozinho.
“Sim, ajudo!” finalmente decidiu. “Contanto que eu possa fazer minhas jornadas
ocasionalmente. Ainda há muito que desejo aprender.”
“Que seja!” Ahadi levantou-se e observou a planície a luz da lua. “Posso sentir,” ele disse.
“Este é o início de uma grande era para todos nós sob as estrelas.”
Rafiki abriu os olhos. Kopa estava de olhos arregalados ao lado de Simba e Nala.
“Choveu umas semanas depois, acabando com a seca,” disse Rafiki, concluindo sua história.
“Uau!” disse Kopa. “Meu avô e bisavô eram mesmo demais.”
“Isso eles eram,” Rafiki concordou. “Assim como também era sua bisavó, Uru. Ela descobriu
um lago na parte oeste das terras do reino, e muitos
animais não morreram de sede.”
Zazu estufou o peito. “Lembro do dia que minha mãe
chegou em casa e nos contou de sua nova função com o
Rei Leão.” Ele sorriu. “Ela tinha razão. Ficamos muito
orgulhosos.”
“E você serviu bem os reis desde então,” disse Simba.
“Uau! Essa história foi ótima.” Kopa pensou por um
instante. “Meu tio avô era bizarro.”
“Kopa,” disse Nala.
“Que foi? Ele era,” Kopa murmurou.
Simba virou até o Rafiki. “Obrigado pelo conto,” ele
disse. “Aprendi bastante.”
“Eu também,” disse Kopa.
“Me relembrou como tudo aconteceu para essa terra
ser o que é hoje.” Simba esfregou o focinho em Nala e
cafungou Kopa. “Também me relembrou como são importantes nossos entes queridos. E a
importância de uma promessa. O caminho do filho começa com os passos do pai.”
Kopa começou a pular. “Quer dizer?”
“Eu cuido do problema no furo d’água depois que levar meu filho e minha esposa pro topo
da Pedra do Rei.”
“Beleza!” Kopa curtiu.
“Afinal,” disse Simba, “é tradição.”
Rafiki sorriu. “E uma sábia tradição.”