Você está na página 1de 4

Drogas na gestação

Dr Luis Antonio G. Panucci

Ácido retinóico/Isotretinoína (Roacutan): pode causar anomalias do SNC, coração e orelhas.


Adoçantes artificiais: Sacarina é carcinogênica. Ciclamato é controverso (pode estar relacionado a câncer de
bexiga). Aspartame não tem contra-indicações. Obs: a maioria dos refrigerantes “diet” tem em sua composição
sacarina + ciclamato.
Álcool: em grandes quantidades está relacionado com RCIU, retardo mental, microcefalia, hipoplasia
maxilar, fissuras palpebrais, anomalias cardíacas.
Analgésicos: AAS, acetaminofeno e dipirona são bem tolerados. Os opióides causam depressão respiratória
e síndrome de privação no RN. Doses elevadas de AAS a partir do terceiro trimestre por inibirem a síntese de
prostaglandinas estão relacionadas a gravidez prolongada, oligoâmnio, dismorfoses faciais, fechamento precoce do
ducto arterioso com hipertensão pulmonar primária do RN, alterações no mecanismo de hemostasia fetal,
hemorragia peri-parto na gestante, petéquias, céfalo-hematomas, hemorragia sub-conjuntival.
Anorexígenos: anfetamina, anfepramona, femproporex, quitosana, sibutramina podem causar crescimento
intra-uterino retardado e prematuridade
Ansiolíticos e hipnóticos: benzodiazepínicos podem estar relacionados a lábio leporino e fenda palatina,
síndrome Floppy (hipotonia, hipotermia, letargia, diminuição de sucção) e por estarem presentes no leite materno
causam letargia e perda de peso no RN. Barbitúricos (Fenobarbital e Tiopental) podem determinar hemorragia por
deficiência de vitamina K no fígado do RN e síndrome de privação. A associação benzodiazepínicos + barbitúricos
ou álcool durante a amamentação pode causar no RN diferentes graus de síndrome de privação que vão desde
insônia, ansiedade, tremores, pesadelos até quadros mais dramáticos de alucinações, hipertermia e convulsões.
Antiácidos: por tempo prolongado sais de magnésio podem provocar hipermagnesemia. Sais de cálcio
provocam hipercalcemia.
Antiarrítmicos: digitális purpúrea, digoxina, disopiramida, procainamida e quinidina podem ser utilizados.
Lidocaína provoca depressão do SNC do recém-nascido. Amiodarona produz malformações em animais, e por
conter grande quantidade de iodo é contra-indicada no terceiro trimestre e amamentação.
Anticoagulantes: heparina é a droga de escolha. As heparinas de baixo peso molecular também podem ser
utilizadas com as vantagens de não necessitarem monitorização, aplicação 1 vez ao dia e pouca chance de
induzirem osteoporose materna. No segundo trimestre podem ser utilizados os derivados cumarínicos tipo
Warfarin. No primeiro trimestre os anticoagulantes orais causam hipoplasia nasal, malformações do SNC,
anomalias esqueléticas e oculares. Para a mãe podem causar: DPP, hemorragias pós-parto, hematoma de
episiotomia.
Antidepressivos: São seguros fluoxetina, nortriptilina, paroxetina, sertralina, e venlafaxina. Carbonato de
lítio provoca malformações cardiovasculares (Lithium babies = valvulopatia). Amitriptilina e imipramina também
causam malformações.
Antidiabéticos: utilizar somente insulina na gestação.
Antidiarréicos: loperamida pode ser utilizada (Imosec). Furazolidona e caolin/pectina causam anemia.
Antieméticos: apesar de não contarem com estudos controlados, metoclopramida (Plasil), dimenidrinato
(Dramin), domperidona (Motilium) e cisaprida podem ser utilizados com segurança. Evitar clorpromazina,
ondansetrona, tropisetrona e difenidol.
Antienxaqueca: Utilizar com cautela isometepteno (Neosaldina = cafeína + isometepteno + dipirona) e
propifenazona (Saridon = cafeína + propifenazona + paracetamol) somente após o primeiro trimestre. Todos os

!1
demais são contra-indicados, principalmente os derivados do ergot (vasoconstritores). Lembrar que quase todos são
associações, como por exemplo o Tonopan : cafeína + propifenazona + ergotamina
Antiepiléticos (anticonvulsivantes): preferir sempre a Carbamazepina ou Fenobarbital (Gardenal) como
monoterapia pois causam malformações menores. Clobazam causa hipotonia do RN. Ácido valpróico, fenitoína e
primidona causam malformações múltiplas (defeitos abertos do tubo neural, alterações cardiovasculares, de vias
urinárias, hidrocefalia). Na amamentação a regra é o contrário: devem ser evitados Fenobarbital e Clonazepan
(Rivotril), preferindo-se Fenitoína, Carbamazepina e Ácido Valpróico. O sulfato de magnésio utilizado em pré-
eclâmpsia pouco antes do parto pode causar letargia, hipotonia e hipermagnesemia no RN.
Anti-flatulentos: dimeticona é segura (Luftal).
Anti-helmínticos: utilizar somente após segundo trimestre.
Anti-histamínicos: podem ser utilizados azatidina, loratadina (Claritin) e prometazina (Fenergam).
Terfenadina causa abortamento, polidactilia e redução de membros. Feniramina causa malformações oculares e da
orelha. Clorfeniramina, dexclorfeniramina (polaramine), fexofenadina (Allegra) e hidroxizina não têm estudos
controlados. Cuidado: a maioria dos anti-histamínicos comercializados vem na forma de associações.
Antiinflamatórios: todos os não hormonais (diclofenaco, piroxicam, ácido mefenâmico, etc) somente podem
ser utilizados até 32 semanas de gestação. Após esta fase causam prolongamento da gestação, oligoâmnio,
disfunção renal, hipertensão pulmonar primária do RN por fechamento precoce do ducto arterioso. Os
antiinflamatórios hormonais (betametasona, beclometasona, cortisona, dexametasona, predisona e prednisolona)
podem ser utilizados por curtos períodos em qualquer fase da gestação.
Antineoplásicos: por serem em sua grande maioria mitostáticos e/ou antagonistas do ácido fólico, são
classicamente teratogênicos. Avaliar o risco / benefício.
Antipsicóticos: podem ser utilizados haloperidol, clorpromazina e promazina.
Antitireoidianos: a droga de escolha em hipertiroidismo é o propiltiouracil, principalmente no puerpério.
Metimazol pode ser utilizado na gestação, mas evitado no puerpério. Propranolol deve ser evitado.
Hormônios tireoidianos (Hipotiroidismo): podem ser utilizados levotiroxina, liotironina e liotiroxina (têm
dificuldade em atravessar a placenta), assim como calcitonina e protirrelina. Ao engravidar deve ser mantida a
mesma dosagem do hormônio tiroidiano prévio à gestação.
Obs: A tiróide fetal tem avidez pelo Iodo 50 vezes maior que a materna, portanto doses terapêuticas ou
diagnósticas de iodo podem causar: hipotiroidismo congênito, leucemia, microcefalia e retardo mental. O Iodo 131
(radioativo) pode até destruir a tiróide do concepto (cautela com cintilografia e exames radiológicos contrastados).
Antiulcerosos: podem ser utilizados a cimetidina, famotidina, nizatidina, ranitidina, pantoprazol e
rabeprazol. Evitar omeprazol e lanzoprazol (não tem estudos controlados).
Bloqueadores dos canais de cálcio: nifedipina pode ser utilizada com cautela por curto espaço de tempo,
somente em crise hipertensiva (pode causar redução do fluxo útero-placentário).
Bloqueadores dos receptores alfa e/ou beta adrenérgicos: preferir pindolol. Propranolol e atenolol causam
crescimento intra-uterino restrito, bradicardia, depressão respiratória, hipoglicemia neonatal, hiperbilirrubinemia e
policitemia. A metildopa (inibidora central dos receptores alfa-adrenérgicos) não apresenta efeitos adversos no feto
(droga de escolha no tratamento de hipertensão na gravidez).
Broncodilatadores: preferir aminofilina, bamifilina, fenoterol (Berotec) e brometo de ipratrópio (Atrovent).
Evitar no primeiro trimestre acebrofilina (Brondilat), salbutamol (Aerolin), teofilina (Teolong), terbutalina
(Bricanyl). Não possuem estudos controlados a ambufilina, carbocisteína, cetotifeno, formoterol, montelucasto e
zafirlucasto.
Canabis (maconha): relacionada com RCIU.
Cocaína: relacionada com abortamento, prematuridade, microcefalia, infarto cerebral, anomalias
urogenitais, distúrbios neuro-comportamentais.
Corticóides: podem causar lábio leporino (controverso), portanto devem ser evitados no primeiro trimestre.

!2
Descongestionantes: podem ser utilizados oximetazolina (Afrin) e xilometazolina (Otrivina). Evitar
fenilefrina (Decongex), fenoxazolina (Aturgyl) e nafazolina (Sorine Adulto). A maioria destes tem como
conservante o cloreto de benzalcônio que não causa problemas, porém sempre é bom prestar atenção às
associações.
Diuréticos: todos podem causar malformações no primeiro trimestre e em qualquer fase da gestação causam
hipoglicemia, hiponatremia, hipocalemia e oligoâmnio. Não há justificativa para utilizar diuréticos em gestantes
para controle de hipertensão.
Expectorantes: evitar no primeiro trimestre cetilpiridínio e guaifenezina. A administração de iodeto de
potássio a partir de 20 semanas é contra-indicada. Mucolíticos: podem ser utilizados o ambroxol e bromexina
(Bisolvon, Mucosolvam). Não possuem estudos controlados acebrofilina, acetilcisteína (Fluimucil), carbocisteína,
dornase alfa, erdosteína e sobrerol.
Hanseniostáticos: Talidomida é totalmente contra-indicada. Dapsona provoca anemia hemolítica.
Clofazimina não tem estudo controlado.

Inibidores da enzima conversora de angiotensina (IECA): captopril e enalapril não mostraram ser deletérios
no primeiro trimestre, porém a partir do segundo trimestre inibem o efeito vasoconstritor da Angiotensina levando
à hipotensão que leva a hipofluxo renal fetal, que cursa com anúria e oligoâmnio, hipoplasia pulmonar,
deformidades faciais, contratura de membros, retardo de crescimento intra-uterino, prematuridade (iatrogênica),
hipotensão neonatal e persistência do ducto arterioso. Os outros medicamentos desse grupo também devem ser
evitados pela falta de estudos controlados. Captopril e Enalapril são compatíveis com amamentação.

Vacinas: podem ser utilizadas dupla adulto (Tétano e Difteria), hepatite B, Influenza (gripe), Meningococo,
Raiva.
Vasodilatadores: a hidralazina pode provocar sangramento no RN, porém é uma das drogas de escolha no
tratamento de hipertensão em gestantes (primeira opção em crise hipertensiva). São contra-indicados diazóxido,
minoxidil, fentolamina. Não tem estudos controlados dipiridamol, isossorbida, nitroglicerina, milrinona e
nitroprussiato (há evidências que o nitroprussiato causa intoxicação por cianeto no RN).
Antibióticos:
Aminoglicosídeos: como regra geral, todos os aminoglicosídeos causam nefro e ototoxicidade (amica/tobra/
genta/kana/netilmicina).
Estreptomicina: ototóxica na gravidez. Liberada na amamentação.
Cefalosporinas: podem ser utilizadas as cefalosporinas de qualquer geração em qualquer fase da gestação e
amamentação.
Penicilinas: todas compatíveis com gestação inclusive as associações Amoxacilina/ac. Clavulânico
(Clavulin), Ampicilina/Sulbactam (Unasyn).
Azitromicina e Aztreonam: não há estudos controlados na gestação. Liberados na amamentação.
Quinolonas (cipro/levo/ofloxacina/lomefloxacina/gatifloxacina): devem ser evitados na gestação, pois
causam lesões de cartilagens em animais. Se necessário, preferir norfloxacina. Nitrofurantoína (Macrodantina) e
ácido nalidíxico (Wintomylon) podem ser utilizados.
Claritromicina: evitar na gestação. Liberada na amamentação.
Clindamicina (macrolídeo): pode ser utilizada na gravidez e amamentação.
Cloranfenicol: na gravidez causa “síndrome cinzenta do RN”: colapso cardiovascular, cianose e pode
evoluir para óbito. Liberada na amamentação.
Eritromicina: liberada na gravidez e amamentação.
Espiramicina: liberada na gravidez e amamentação.
Imipenem/cilastatina: não há estudos controlados na gravidez e lactação.
!3
Lincomicina: compatível com gravidez e lactação.
Meropenem: não há estudos controlados.
Metronidazol: evitar no primeiro trimestre. Liberado no 2º e 3º trimestres e amamentação.
Nistatina: compatível com gravidez e amamentação (uso tópico).
Oxacilina: compatível com gravidez e amamentação.
Tetraciclina ( Doxiciclina ): na gravidez causa descolamento do esmalte dentário na 1ª dentição, inibição do
crescimento de fíbula, prematuridade e OFIU. Compatível com amamentação.
Sulfonamidas: sulfametoxazol e sulfadiazina competem com a bilirrubina na ligação com as proteínas
plasmáticas, causando icterícia neonatal e até kernicterus : evitadas no 3º trimestre.
Trimetoprima: pode ser teratogênica no 1º trimestre (antagonista do ác. fólico).
Obs: Bactrim = sulfametoxazol + trimetoprima, portanto proibido no primeiro e terceiro trimestres.
Tinturas para cabelo: O maior risco encontra-se nas “misturas de salão” onde não se sabe que compostos
resultam das inúmeras combinações possíveis. As vendidas em farmácia geralmente não apresentam riscos após 2º
trimestre.

!4

Você também pode gostar