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Resenha Crítica

Livro – “Cidadania do Brasil: um longo caminho”

No livro a "Cidadania do Brasil: um longo caminho", do historiador e cientista


político José Murilo de Carvalho, é retratada a importância histórica da Constituição de
1988, mas, também, as contradições de governos que foram e que ainda são
fundamentados nessa Constituição. A partir disso, durante as 226 páginas da obra, o
autor explicita diversas análises que foram baseadas em instituições de coleta e análise
de dados como: IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística -, PNAD -
Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios - e, por fim, IPEA - Instituto de Pesquisa
Econômica Aplicada.

Dessa forma, por intermédio dos dados fornecidos por essas relevantes
instituições, José Murilo de Carvalho explora os diversos motivos da não materialização
constitucional na sociedade brasileira. Assim, apesar da complexidade da Magna Carta
e do alto nível de abrangência democrática possibilitada por ela, o historiador aprofunda
as questões sociais, políticas e civis que entram em contradição com os dogmas desse
documento. Em suma, "Continuam os problemas da área social, sobretudo na educação,
nos serviços de saúde e saneamento, e houve agravamento da situação dos direitos civis
no que se refere à segurança individual".

A partir disso, valendo-se do primeiro governo democrático pós regime militar,


o governo de Fernando Collor, o cientista social explicita o sentimento populacional de
participação política. Isso ocorreu, pois, de acordo com o autor, os mesmos indivíduos
que almejavam eleições diretas foram os mesmos que depuseram o ex-presidente
Fernando Collor, apontando para uma suposta vitória democrática. Todavia, ao longo
do capítulo IV, e apropriando desse exemplo de governo, os sistemas de corrupção
patrimonialistas permaneceram no país mesmo com o impedimento do "Caçador de
Marajás". Essa prevalência contribuiu para a retenção de alguns direitos civis,
principalmente os relacionados ao âmbito jurídico, haja visto que a permanência da
grande desigualdade no país, aliada à desconfiança jurídica, devido a falta de
credibilidade no combate à corrupção, e, também, devido a péssima infraestrutura
jurídica do Brasil, proporcionou uma descredibilidade das instituições estatais. Por
conseguinte, apesar da Constituição, não houve uma extensão de fato dos direitos civis.

Ademais, no decorrer da obra, essa retenção dos direitos civis, no caso o direito
à integridade física e à segurança, é justificada pela não confiança da população em
relação às polícias civis e militares. O historiador José Murilo de Carvalho caracteriza
isso como consequência da herança militar deixada nas polícias devido à unificação ao
Exército durante o Período Militar: "O soldado da polícia é treinado dentro do espírito
militar e com métodos militares . Ele é preparado para combater e destruir os inimigos e
não para proteger cidadãos". Por fim, o autor qualifica essa desistência estatal como
fator oriundo do descaso governamental em relação ao sistema educacional, haja visto
que uma grande parcela da população não apresenta conhecimento sobre os seus
direitos, sendo que a maior porcentagem está relacionada aos grupos mais vulneráveis
da sociedade: os pobres e, em específico, os negros e os pardos.

Assim, a partir de toda essa progressão temática, fica indiscutível a necessidade


da obra de José Murilo de Carvalho para a abordagem das incongruências democráticas
no contexto brasileiro. É, portanto, de extrema importância a leitura desse livro, haja
vista a retração democrática que é caracterizada como consequência da extrema
desigualdade socioeconômica vivenciada pelos brasileiros deste território. Ler essa obra
é entender a importância da educação como viabilizadora dos direitos civis, políticos e
sociais, ou seja, como viabilizadora da cidadania, aspecto fundamental nas democracias
contemporâneas. Entender as inconsistências de nosso país é dar margem para a
possibilidade de mudança e, consequentemente, para a extensão da cidadania a todos os
brasileiros.

Estevão Henrique de Oliveira, estudante do Colégio Batista Mineiro

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