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Resenha Acadêmica Crítica – A cidadania após a redemocratização

Em Cidadania no Brasil, o autor José Murilo Carvalho aborda a questão dos direitos
civis no Brasil após o processo redemocratização da política do país. O autor destaca o
fato de a cidadania ter sido amplificada após o período da redemocratização, ele trás
números que evidenciam a maior participação política quanto a voto após períodos
assombrosos onde a liberdade de expressão era inibida.

José Murilo Carvalho trata sobre temas crucias para entendermos a sociedade na qual
estamos inseridos, uma sociedade que apesar de redemocratizada, pluripartidária, que
tem voto universal, ainda enfrenta uma estratificação social construída há séculos. Onde
existe um grupo supremacista que se sente digno de quebrar a lei tamanho poderio e
domínio sobre as classes sociais, uma classe média que possui trabalhadores de todo
tipo de raça, todos de carteira assinada, são pequenos proprietários, que ganham de 2 a
20 salários mínimos e por fim os cidadãos do “3° mundo”, que fazem parte da política
nacional e da sociedade brasileira apenas figuradamente.

O capítulo IV do livro é extremamente bem desenvolvido, rico em dados, em números


que são tornam o argumento do autor praticamente irrefutável, a análise social dele é
acurada e sua retórica é extremamente simples e didática. No trecho “Na eleição
presidencial de 1989, votaram 72,2 milhões de eleitores; na de 1994, 77,9 milhões; na
última eleição, em 1998, 83,4 milhões, correspondentes a 51 % da população,
porcentagem jamais alcançada antes e comparável, até com vantagem, à de qualquer
país democrático moderno. Em 1998, o eleitorado inscrito era de 106 milhões, ou seja,
66% da população.” o autor explica de forma breve e clara a evolução democrática do
país, só aqui é provado como os direitos de voto foram se ampliando por toda a
sociedade, em apenas um parágrafo, esse talvez seja o ponto de sucesso do autor, a
simplicidade juntamente com a riqueza de informação. Quando falando sobre corrupção
do governo Collor, o autor trás novamente poucas linhas e muita informação sobre o
imaginário popular brasileiro e a frustração do povo com o fracasso e o grande esquema
do líder que sofreu impetchmant.

É louvável como o autor consegue trazer dados que expõe os avanços de direitos civis
enquanto ainda faz duras críticas à estrutura do país. Ele mostra que o governo criou leis
que punem o racismo, a injúria racial e os crimes de raça em geral, mas no parágrafo
seguinte já introduz um "No entanto", e diz de forma explicita que os direitos civis são

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os que apresentam mais deficiência em termos de conhecimento, extensão e garantia. O
constraste imediato. É certamente um ponto positivo na estrutura textual. Ele consegue
falar sobre como a educação do país foi amplamente qualificada mas deixa claro que
"57% dos pesquisados não sabem mencionar um só direito civil que possui". E essa
característica literária do autor é um reflexo da estrutura do nosso país, que pode
melhorar significativamente, há otimismo, mas ainda tem problemas profundos,
fundamentais e essenciais que colocam o país longe da sonhada igualdade social (termo
que é até estranho de se ouvir já que ouvimos muito mais a palavra "desigualdade"
quando tratamos desse assunto no Brasil).

A tese principal do autor é resumida em somente um contraste. Há diversos avanços


civis na legislação, na política, na vida social, mas esses mesmos cidadãos,
parafraseando o autor: "Desconhecem seus direitos, ou, se os conhece, não tem
condições de os fazer valer". Essa é a condição da redemocratização do país, diversos
avanços para o cidadão, mas pouco conhecimento do cidadão sobre esses diversos
avanços. Até por isso o autor aborda a questão da educação, entender o que são direitos
e deveres civis muda a forma como vivemos em sociedade. E cabe ao Governo, através
do Ministério da Educação, dar o conhecimento de cidadania ao povo brasileiro, de
pertencimento a uma sociedade de legislação coesa, dar o sentimento de que o estudante
é detentor desses direitos e portanto instigar uma vontade de interior de que esse
busque, estude e deseje conhecer mais da sua cidadania.

"Essa organização militarizada tem-se revelado inadequada para garantir a segurança


dos cidadãos. O soldado da polícia é treinado dentro do espírito militar e com métodos
militares. Ele é preparado para combater e destruir inimigos e não para proteger
cidadãos. Ele é aquartelado, responde a seus superiores hierárquicos, não convive com
os cidadãos

que deve proteger, não os conhece, não se vê como garantidor de seus direitos". Lendo
esse conteúdo sobre segurança coletiva, sobre a sensação de vivermos em um país
inseguro, sobre a militarização do governo tratados na página de 213 só me vinha à
mente uma canção composta por César MC, um rapper negro que vive nas favelas do
Espírito Santo, a obra "Canção Infantil" trás duras críticas ao governo militar atual.
Frases impactantes como: "Como explicar para uma criança que 80 tiros foi engano", se
referindo ao assassinato da polícia militar à um homem negro dentro de um carro, onde

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os responsáveis alegaram inocência no crime. "Como explicar para uma criança que a
segurança dá medo" exemplificam o temor que as classes marginalizadas sociedades
sentem em relação a polícia brasileira. Exemplos citados, como o "Carandiru" expõe
mais ainda a fragilidade que a segurança nacional brasileira enfrenta. E é mais um
contraste do autor entre avanços democráticos em uma sociedade que aparenta ser
retrógrada.

O capítulo IV do livro “A cidadania após a redemocratização”, com os títulos A


expansão final dos direitos políticos; Direitos sociais sobre ameaça; Direitos civis
retardatários (páginas 198 a 218) evidencia exatamente avanços democráticos em uma
sociedade marcada por danos em sua estrutura.

A obra é sensacional, didática, fácil de ler, bem exemplificada e com argumentos


extremamente válidos, á provados dentro de um texto que cita diversos números,
estatísticas e dados. Não há inconsistências no texto do autor, apesar de ser confusa a
maneira como ele aborda a sociedade de maneira pessimista e otimista, isso é um
reflexo mais das incoerências da estrutura do país do que do texto do autor.

Por fim o autor consegue legitimar a ideia de que uma sociedade redemocratizada não é
sinônimo de uma sociedade igualitária. Portanto é crucial que esse artigo seja lido e
estudado, para que entendamos a nossa sociedade e seus problemas estruturais, a leitura
simples também facilita a sua leitura nas escolas, tanto no ensino fundamental quanto no
médio.

Kevyn Ricardo, estudando do 3° ano do Ensino Médio do Colégio Batista Mineiro.

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