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DIREITO CIVIL

Teoria Contratual: Parte Geral – Parte I

SISTEMA DE ENSINO

Livro Eletrônico
DIREITO CIVIL
Teoria Contratual: Parte Geral – Parte I
Daniel Carnacchioni

Sumário
Teoria Contratual: Parte Geral - Parte I...................................................................................... 3
1. Noções Gerais sobre Contrato. Conceito e Evolução Histórica. . ........................................ 3
1.1. Noções Gerais do Contrato – Considerações Preliminares.............................................. 3
1.2. Contrato e Teoria Geral do Fato Jurídico.............................................................................. 5
1.3. Autonomia da Vontade e Autonomia Privada (Relevância Para a Teoria Contratual).7
2. Princípios Contratuais – Clássicos e Contemporâneos...................................................... 7
2.1. Introdução.. ................................................................................................................................. 7
2.2. Autonomia da Vontade............................................................................................................ 8
2.3. Obrigatoriedade (Pacta Sunt Servanda). . ............................................................................ 9
2.4. Relatividade dos Contratos.. ................................................................................................ 10
2.5. Princípio do Consensualismo. . .............................................................................................. 11
2.6. Princípios Contemporâneos (Função Social dos Contratos e Boa-Fé Objetiva –
Tutela da Confiança).. ..................................................................................................................... 11
3. Formação dos Contratos Paritários. Fases de Formação................................................. 28
3.1. Formação dos Contratos – Considerações Preliminares............................................... 28
4. Contrato Preliminar – Promessa de Contrato. . ................................................................... 39
4.1. Introdução e Considerações Preliminares: Evolução Histórica e Regulamentação
no Ordenamento Jurídico Brasileiro.......................................................................................... 39
Resumo............................................................................................................................................. 53
Questões de Concurso..................................................................................................................64
Gabarito............................................................................................................................................ 75
Gabarito Comentado..................................................................................................................... 76

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Teoria Contratual: Parte Geral – Parte I
Daniel Carnacchioni

TEORIA CONTRATUAL: PARTE GERAL - PARTE I


1. Noções Gerais sobre Contrato. Conceito e Evolução Histórica
1.1. Noções Gerais do Contrato – Considerações Preliminares
O contrato é o principal instrumento jurídico da vida privada, que faz parte do cotidiano das
pessoas. Por isso, este negócio jurídico sempre foi considerado um dos pilares do direito civil.
A sua repercussão e a sua relevância social tornaram-no um dos principais instrumentos das
relações intersubjetivas e privadas.
Desde os primórdios da civilização, o contrato sempre possuiu uma função social. Tal fun-
ção teve o caráter alterado ao longo dos tempos. Em tempos primitivos, estava relacionada
ao contrato como mero instrumento de circulação de riquezas. No liberalismo, este caráter
patrimonial da função social do contrato manteve-se presente.
Com a transição do Estado liberal para o social e democrático, a função social do contrato
suportou uma verdadeira metamorfose e, de instrumento econômico de circulação de rique-
zas (caráter patrimonial), tornou-se um instrumento de promoção da pessoa humana (caráter
existencial). Esta é a nova concepção da função social do contrato.
Atualmente, o contrato, para ter tutela estatal, deve, necessariamente, ter uma função so-
cial (instrumento de promoção e concretização de direitos fundamentais da pessoa humana).
O princípio da função social passa a interagir com os valores existenciais da pessoa humana,
fato que repercutirá na teoria contratual.
A função social, assim qualificada, altera toda a concepção e estrutura da teoria contratual,
pois submete este negócio jurídico especial à observância das questões existenciais da pes-
soa humana em detrimento de questões patrimoniais.
Portanto, o contrato moderno submete-se a valores constitucionais, envolve situações
existenciais e ainda transcende a relação jurídica subjetiva estabelecida entre os sujeitos para
repercutir na esfera jurídica de terceiros, estranhos e a ele alheios (tutela externa ou eficácia
externa do contrato). Embora o contrato seja fonte de circulação de riquezas, somente terá
tutela estatal e legitimidade se preservar a dignidade dos sujeitos contratantes e de terceiros
dele não integrantes, mas cujos efeitos possam repercutir em suas esferas jurídicas. Além
disso, deve existir a mútua cooperação entre os contratantes em decorrência do dever de soli-
dariedade e a relação contratual deverá ser equilibrada ou guardar a devida equivalência, tudo
para garantir a necessária igualdade substancial.
Este novo contrato tem como primado a justiça social e não mais a vontade. No Estado
liberal, o contrato foi forjado como acordo de vontade, por meio do qual pessoas livres vincu-
lam-se juridicamente.

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Na segunda metade do século XIX e no século XX, o contrato perde a sua concepção in-
dividualista e liberal. E em uma nova concepção de contrato, socializada, constitucionalizada
e funcional, a autonomia da vontade (desejo do sujeito e sua manifestação exterior) cede es-
paço para a autonomia privada, que corresponde ao poder de autodeterminação do sujeito,
respeitadas as limitações de normas de ordem pública, especialmente os princípios sociais
contratuais.
O individualismo cede espaço para a cooperação e a solidariedade nas relações privadas.
O paradigma voluntarista, baseado na plena liberdade contratual, na força obrigatória, na intan-
gibilidade dos contratos e na relatividade dos efeitos, restrito às partes, passa por um processo
de renovação, na medida em que o contrato, instrumento de tutela da pessoa humana, apenas
se legitima caso tais princípios clássicos venham a interagir com o solidarismo constitucional.
A funcionalidade do direito subjetivo acarreta a sua socialização e, por isso, a tutela do
interesse privado é condicionada à preservação e à proteção do interesse público e social.
O contrato, embora dependa da vontade (esse é o seu núcleo essencial), não é puro ato de
vontade, mas vontade dirigida a determinada finalidade. Vontade e função, origem e finalidade
caminham lado a lado nesta empreitada.
O estudo do contrato moderno deve ser orientado e baseado nos princípios constitucionais
da dignidade da pessoa humana, solidariedade social e igualdade substancial. Tais princípios
constitucionais, somados aos princípios da função social e da boa-fé objetiva, orientam todas
as relações jurídicas privadas, em especial as materializadas em contrato. Necessariamente,
como condição de sua legitimidade, devem interagir com os seus princípios clássicos, como a
autonomia da vontade, a obrigatoriedade e a relatividade, tornando o contrato instrumento de
justiça social e não mais um pacto para resguardar interesses estritamente individuais.

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A Professora Teresa Negreiros defende também a tese da relação entre os princípios clás-
sicos e contemporâneos, os quais devem ser harmonizados em caso de conflito:

Em caso de conflito, é preciso decidir sob que circunstâncias os princípios clássicos – autonomia
da vontade, a intangibilidade do conteúdo do contrato e a relatividade dos seus efeitos – devem
sobrepor-se aos princípios contemporâneos da boa-fé, do equilíbrio econômico e da função social.
(Teoria do contrato, novos paradigmas)

Segundo ela, deve-se buscar um novo paradigma, denominado por ela mesma “paradigma
da essencialidade”. Tal paradigma:

[...] constitui um instrumento para se distinguirem os contratos à luz das diferentes funções que
desempenham em relação às necessidades existenciais do contratante. Os contratos que tenham
por função satisfazer uma necessidade existencial do contratante devem se sujeitar a um regime
de caráter tutelar – ampliando-se, correlatamente, o campo de aplicação dos novos princípios. Ao
revés, os contratos que tenha por objeto bens supérfluos, destinados a satisfazer preferências que
não configuram necessidades básicas da pessoa, tais contratos são compatíveis com uma discipli-
na mais liberal, o que vale dizer que devem sofrer maior influência dos princípios clássicos.

Esta questão da essencialidade é um interessante parâmetro para estabelecer, à luz do


caso concreto, a devida ponderação entre os princípios clássicos e os modernos. Quanto mais
essencial para satisfazer uma necessidade existencial for o contrato, mais deve se aproximar
dos princípios modernos, preponderando os valores sociais constitucionais. Em sentido opos-
to, quanto menor a essencialidade para a satisfação de interesses existenciais, preponderarão
os princípios clássicos. A ideia é a busca do equilíbrio e da ponderação entre os princípios.
Assim, o contrato assume caráter de instrumento. É instrumento para a concretização de
questões existenciais, em especial do desenvolvimento da personalidade da pessoa humana,
nos seus mais variados aspectos e não como fim em si mesmo.
Em qualquer negócio jurídico, as questões existenciais, relativas à pessoa humana, sempre
preponderarão sobre questões as patrimoniais. E também, em razão da necessária função so-
cial, agora renovada por estes novos valores, os efeitos do contrato transcendem o interesse
dos contratantes para repercutir na esfera jurídica de terceiros dele não integrantes, dando-lhe
um novo sentido social, cuja legitimidade e conteúdo passam a interessar a toda a coletividade.

1.2. Contrato e Teoria Geral do Fato Jurídico

O fato jurídico, em sentido amplo, subdivide-se em fato jurídico em sentido estrito (eventos da
natureza com repercussão jurídica), ato-fato jurídico (atos humanos com consequência jurídi-
ca, sendo irrelevante a vontade em relação ao resultado previsto na norma jurídica) e, finalmen-
te, ações humanas, lícitas e ilícitas.

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A ação humana lícita é desdobrada em ato jurídico em sentido estrito (autonomia da von-
tade desprovida de poder ou autonomia privada, pois os efeitos jurídicos são predeterminados
pela lei) e negócio jurídico.

Fato Jurídico Sentido Amplo

3. Ação humana
3.1. Lícita (ato jurídico em sentido amplo)
1. Fato jurídico em 2. Ato-fato
 Ato jurídico em sentido estrito
sentido estrito jurídico
 Negócio jurídico (NJ)
3.2. Ilícita (ato ilícito)
O contrato é espécie de fato jurídico por ser o principal instrumento de viabilização dos
negócios jurídicos, sendo considerado o negócio jurídico por excelência. O contrato, como tipo
ou espécie de negócio jurídico, é um fato (evento humano) jurídico (com repercussão jurídica).
Por ser um negócio jurídico bilateral (para sua formação é indispensável a junção ou con-
vergência de duas vontades), aplica-se ao contrato toda a teoria do negócio jurídico, em es-
pecial o estudo da autonomia da vontade e da autonomia privada, regras e princípios relacio-
nados à interpretação do negócio jurídico, pressupostos de validade do negócio, a teoria da
representação, os defeitos do negócio jurídico, elementos secundários do negócio jurídico,
como a condição, o termo e o encargo, a teoria da invalidade do negócio jurídico (negócio nulo
e anulável), prescrição e decadência e a prova do negócio jurídico.
A parte geral do direito civil tutela o plano de validade do contrato (negócio jurídico). Em
função disso, os pressupostos de validade, os defeitos e a invalidade do negócio jurídico (e o
contrato é um negócio jurídico) estão vinculadas mais especificamente à origem e à formação
deste fato jurídico.
Já a teoria geral das obrigações e contratos disciplina as questões supervenientes à for-
mação do contrato, como a teoria do adimplemento e inadimplemento das obrigações.
O contrato, portanto, é espécie de fato jurídico, porque tem o poder de criar, modificar,
conservar ou extinguir relações jurídicas patrimoniais. É negócio jurídico, pois é baseado na
vontade ou na declaração de vontade. Esta vontade exteriorizada no contrato, por meio de uma
declaração, é direcionada à produção de resultado jurídico desejado pelos sujeitos contratan-
tes e tutelado pelo Estado.
Fato jurídico é igual a evento mais norma jurídica. O evento, no caso do contrato, é uma
declaração de vontade. Se a norma jurídica tutelar esta vontade exteriorizada, atribuindo-lhe
efeitos jurídicos, estaremos diante de um negócio jurídico.
No negócio jurídico, existe autonomia privada: as partes têm o poder de regular os seus
interesses e eleger o resultado ou os efeitos relativos a determinado negócio.
Se a ordem legal reconhecer a legitimidade deste resultado pretendido e atribuir-lhes efei-
tos jurídicos, teremos um negócio jurídico. Se este negócio jurídico, para ser formado e pro-
duzir efeitos, necessitou da junção ou da convergência de duas ou mais vontades, estaremos
diante de um contrato.

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O negócio jurídico, quanto à formação, pode ser bilateral ou unilateral. O contrato, quanto
à formação, sempre será negócio jurídico bilateral. O contrato depende da junção ou da con-
vergência de duas ou mais vontades para se formar. A norma jurídica também atribui efeitos
jurídicos à vontade unilateral (declarações unilaterais de vontade – promessa de recompensa,
gestão de negócios, pagamento indevido e enriquecimento sem causa e o testamento) e bila-
teral (contrato). Portanto, há negócios jurídicos que possuem natureza contratual e negócios
que não ostentam esta qualidade ou atributo.
O contrato é causa ou fato gerador de direitos e obrigações, podendo ser considerado
como a principal fonte de obrigações nas relações privadas. Aliás, no ordenamento jurídico
brasileiro, o contrato apenas gera obrigações, não sendo capaz de transferir direitos reais. A
transferência de direitos reais fundados em contrato ocorrerá no momento do adimplemento
ou na fase de execução do contrato.

1.3. Autonomia da Vontade e Autonomia Privada (Relevância Para a


Teoria Contratual)
O fundamento do contrato é a vontade, sem a qual ele não existe. Tal vontade expressa
o sentimento, o desejo, a motivação, a intenção e, principalmente, as pretensões do agente
responsável pela sua exteriorização. A vontade humana é a base de toda a teoria do contrato.
Na aula, foi realizada uma análise pormenorizada da autonomia da vontade e da autonomia
privada, aplicável à teoria contratual.

2. Princípios Contratuais – Clássicos e Contemporâneos


2.1. Introdução
Os princípios contratuais clássicos assentam-se no dogma da vontade. Com a consolida-
ção do Estado liberal, pós-Revolução Francesa, a força jurídica do contrato passou a derivar
diretamente da vontade exteriorizada por pessoas livres de interferências estatais.
Para preservar esta liberdade plena, a teoria clássica dos contratos passou a girar em torno
de três princípios, todos fundados no dogma da vontade, de onde o contrato extraía sua força
jurídica. Tais princípios clássicos são representados pela autonomia da vontade, obrigatorie-
dade dos contratos e relatividade das obrigações decorrentes do contrato.
Neste cenário liberal, a autonomia da vontade retratava a plena e irrestrita liberdade de con-
tratar, na medida em que as partes podiam contratar quando, como e com quem quisessem.
Estavam sujeitas apenas a limites impostos por raras normas de ordem pública. O princípio
da obrigatoriedade ou da intangibilidade do conteúdo do contrato tornava o vínculo indisso-
lúvel, equiparando o pacto à lei. E, finalmente, o princípio da relatividade restringia os efeitos
jurídicos obrigacionais às partes contratantes, não podendo prejudicar e tampouco favorecer
terceiros (res inter alios acta tertio neque nocet neque prodest).

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2.2. Autonomia da Vontade


O princípio da autonomia da vontade é o símbolo mais bem acabado do liberalismo predo-
minante no século XIX. Na teoria contratual clássica, a finalidade deste princípio era garantir,
de forma plena e quase absoluta, a liberdade dos sujeitos em relação à escolha do momen-
to para contratar, do parceiro contratual e, principalmente, do conteúdo e da substância do
contrato. A vontade era autônoma, independente e originária. A força jurídica de um contrato
decorrida de uma vontade exteriorizada por pessoas livres. É a denominada liberdade de con-
tratar. Os sujeitos passaram a ter o poder de autorregular os seus interesses, conforme as suas
conveniências.
No Estado social e democrático atual, a liberdade contratual ainda se apresenta com des-
taque na teoria dos contratos, mas mitigada por novos princípios fundados nos valores sociais
constitucionais da dignidade da pessoa humana, solidariedade social e igualdade substancial.
Quanto à liberdade de estabelecer o conteúdo do contrato, tal poder suportou uma limita-
ção de novos princípios, como a função social, a boa-fé objetiva e a equivalência material. Isso
porque o contrato passou de um modelo meramente estrutural, fundado na vontade, para um
modelo funcionalizado, embasado em valores sociais constitucionais e na proteção e tutela
da pessoa humana.
O Código Civil atual disciplina o princípio da liberdade contratual nos artigos 421 e 425. No
primeiro, dispõe que a liberdade contratual será exercida nos limites do princípio da função
social dos contratos, o que evidencia esta nova conformação da autonomia da vontade a de
valores mais caros e sensíveis da sociedade contemporânea.
Por outro lado, o artigo 425 é um desdobramento da nova concepção do princípio da au-
tonomia da vontade, ao permitir que as partes estipulem contratos atípicos, desde que sejam
observadas as normas gerais impostas pela legislação, como função social, boa-fé objetiva,
igualdade substancial. O conteúdo do contrato, mesmo atípico, passará por um controle de
merecimento. Na I JDC, foi aprovado o Enunciado n. 23, segundo o qual:

ENUNCIADO N. 23
a função social do contrato, prevista no artigo 421 do atual CC, não elimina o princípio da
autonomia contratual, mas atenua ou reduz o alcance desse princípio quando presentes
interesses metaindividuais ou interesse individual relativo à dignidade da pessoa humana.

A introdução de novos princípios à teoria contratual - a funcionalização dos negócios jurí-


dicos em geral e do contrato em particular, a necessidade de o contrato cumprir uma função
econômica, social e coletiva - alteram sobremaneira a concepção da autonomia da vontade,
para reduzir o poder de regulação dos interesses. Isso, ao contrário do que se pensa, valoriza
as relações privadas, que passam a se conformar a estes valores sociais constitucionais que
são a base da República.
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Em síntese, autonomia da vontade é a liberdade de contratar ou não, de fixar o conteúdo do


contrato, de escolher com quem contratar e a forma da contratação. É a liberdade de exterio-
rizar a vontade ou de agir com eficácia jurídica. A autonomia privada é a concessão de poder
para esta vontade, materializada no espaço livre deixado pelo Estado, a fim de que os sujeitos
possam regular os seus próprios interesses. É o poder de regulação.

2.3. Obrigatoriedade (Pacta Sunt Servanda)


O princípio da obrigatoriedade é uma decorrência lógica e necessária do princípio da au-
tonomia privada. O contrato, desde que obedecidos os requisitos legais, torna-se obrigatório
para os contratantes. Passa a ostentar força vinculante. O conteúdo do contrato passa a ser
intangível.
Entretanto, esta concepção de “obrigatoriedade” suportou consideráveis mutações ao lon-
go dos tempos, principalmente quando se compara o caráter deste princípio no Estado liberal
do século XIX, com a sua nova roupagem assumida no início do século XX até a consolidação
de um Estado social no final do século passado.
A concepção de que o princípio da obrigatoriedade leva à intangibilidade do conteúdo do
contrato; que impede a alteração do conteúdo do pacto mesmo pela superveniência de acon-
tecimentos determinantes para a ruptura do equilíbrio das prestações e de que o contrato faz
lei entre as partes, é contemporânea ao liberalismo.
Com a transição do Estado liberal para o Estado social, o princípio da obrigatoriedade,
pouco a pouco, perde o seu rigor e passa a se adaptar ao novo contexto social, econômico e
cultural em que o contrato é inserido.
Os contratos, na atualidade, também possuem força obrigatória. As obrigações contratu-
ais devem ser cumpridas por aqueles sujeitos que, livremente ou não, resolvem se vincular a
outro sujeito ou ao Estado por meio de um contrato. Jamais se pregou a eliminação deste prin-
cípio salutar para as relações privadas. Entretanto, assim como outros princípios clássicos, o
princípio da obrigatoriedade, passou a ter nova conformação, outra finalidade e fundamento
substancialmente diverso daquele que o caracteriza no liberalismo. Se, no liberalismo, o con-
trato era obrigatório porque decorrente de declarações de vontades emanadas de pessoas
livres, no Estado Social o contrato será obrigatório, porque é concretamente justo sob o ponto
de vista dos contratantes e da sociedade de uma maneira geral.
Esta é a questão principal. O princípio é exatamente o mesmo. O que muda é a sua concep-
ção e conformação. Agora, para que um contrato seja obrigatório, é essencial que o pacto não
apenas decorra de vontades livremente manifestadas, mas que, principalmente, esteja confor-
mado aos valores sociais constitucionais que se tornaram paradigmas das relações privadas,
como a dignidade da pessoa humana, a solidariedade social e a igualdade substancial. Tais
valores transportam para o conteúdo do contrato a ideia de justiça social. O dogma da vontade
é substituído pelo valor da justiça contratual.

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O princípio da obrigatoriedade foi relativizado por princípios contemporâneos como a


função social, a boa-fé objetiva e o equilíbrio contratual, bem como por novos valores que
fundamentam as relações privadas, extraídos diretamente do texto constitucional.
O estopim para esta nova concepção do princípio da obrigatoriedade do contrato foi a
Primeira Guerra Mundial,1 quando se verificou a necessidade de o Estado intervir nas relações
privadas. Os preços tornaram-se excessivamente onerosos com a guerra e o princípio da obri-
gatoriedade passou a ser um obstáculo para se ajustar os contratos a este novo cenário eco-
nômico. Em razão disso, houve a percepção generalizada de que o princípio da obrigatoriedade
tinha de ser relativizado e essa relativização gradual ainda não fechou o seu ciclo. O contrato
está em constante mutação e deve ser adaptado ao contexto social, econômico, legal, cultural
e até internacional em que ele está inserido.
A palavra empenhada não é mais irreversível. O contrato tem força obrigatória, desde que
esteja conformado com os novos valores sociais constitucionais e os princípios contempo-
râneos da teoria contratual, os quais conferem ao princípio da força vinculante dos contratos
um novo caráter ou uma nova concepção. O fundamento da obrigatoriedade deixa de ser a
vontade e a lei (de acordo com os positivistas) para ser a justiça contratual, que torna o pacto
um processo dinâmico, funcional, complexo, em que as partes, de forma cooperativa, agregam
ao conteúdo do contrato um significado de justiça e utilidade.

2.4. Relatividade dos Contratos


O princípio da relatividade, em termos clássicos, também é uma decorrência da concepção indi-
vidualista e egoísta que fundamentou as relações jurídicas privadas durante o Estado liberal.
Segundo este princípio, o contrato apenas gera efeitos jurídicos obrigacionais aos contra-
tantes, não podendo prejudicar ou beneficiar terceiros que não integraram a relação jurídica
contratual. Portanto, no modelo liberal de contrato, o princípio da relatividade foi forjado para
garantir que a relação entre os contratantes não suportasse os influxos de questões externas
ao contrato e impedisse que o contrato transcendesse o pacto entre os sujeitos para repercutir
na coletividade. O contrato, naquela concepção clássica, era uma relação jurídica enclausura-
da, que interessava apenas aos contratantes.
A funcionalização do contrato, o caráter de interatividade com a coletividade e a transcen-
dência dos efeitos acabaram por mitigar, e muito, o princípio da relatividade. Não há dúvida de
que o contrato tem eficácia interna, ou seja, os efeitos jurídicos obrigacionais de um contrato
repercutem na esfera jurídica dos contratantes. No entanto, para que o contrato tenha tutela
estatal, é essencial que tenha um significado social, uma função social e uma utilidade coleti-
va. Não basta que os interesses econômicos dos contratantes sejam preservados. É essencial
que o contrato não repercuta, de forma negativa, na coletividade.

1
Na França, os contratos tornaram-se onerosos com a deflagração do primeiro conflito mundial. A Lei Failliot, de 21 de maio
de 1918, permitiu a revisão de contratos mercantis antes de 1 de agosto de 1914, cuja execução se prolongasse no tempo,
em razão do estado de guerra.

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O responsável por esta revolução em relação ao princípio da relatividade é o princípio da


função social dos contratos que, como uma das principais contribuições para a teoria contra-
tual, confere a todo o contrato uma eficácia externa. O contrato deixa de ser um instrumento
individual de circulação de riquezas para ser instrumento de promoção e tutela da pessoa hu-
mana, que interessa a toda a coletividade.
Tal fato tem, como consequência, por exemplo, possibilitar que terceiros que não são propriamente
parte do contrato possam nele influir, em razão de serem por ele atingidos de maneira direta e indireta.
Nesse sentido, é pertinente o Enunciado n. 21 da I JDC:

ENUNCIADO N. 21
A função social do contrato, prevista no artigo 421, CC, constitui cláusula geral a impor a
revisão do princípio da relatividade dos efeitos do contrato em relação a terceiros, impli-
cando a tutela externa do crédito.

2.5. Princípio do Consensualismo


O consensualismo não pode ser considerado propriamente um princípio, mas um modelo
para que o contrato se forme ou se aperfeiçoe. Pelo denominado “princípio” do consenso, o
acordo de duas ou mais vontades é suficiente para o aperfeiçoamento e a formação de um
contrato. Basta o consenso, a justaposição ou as declarações convergentes de vontade para
que tenha formado um contrato.
O contrato, no Liberalismo, formava-se pelo mero consenso (acordo de vontades). Trata-
va-se de desdobramento da valorização da vontade, com a exaltação de princípios que gira-
vam em torno deste dogma, como a autonomia da vontade, o princípio da obrigatoriedade e a
relatividade. O contrato consensual generalizava a ideia de que qualquer ajuste, como decor-
rência do acordo de vontades, tem força cogente.
Estes princípios clássicos são pautados no dogma da vontade. Com o fim do liberalismo e a
imposição de deveres de prestação ao Estado, foi construída uma nova teoria contratual, forjada em
valores sociais constitucionais, fato que torna possível o reconhecimento de direitos fundamentais
aos contratantes, desde a formação, durante a execução e mesmo após a extinção dos contratos.

2.6. Princípios Contemporâneos (Função Social dos Contratos e


Boa-Fé Objetiva – Tutela da Confiança)
2.6.1. Contrato e o Princípio da Função Social

O princípio da função social sempre esteve vinculado à teoria geral dos contratos. A função
social é fator de legitimação da liberdade contratual (de estabelecer o conteúdo do contrato), que
passa por um controle de merecimento. O contrato somente terá tutela estatal se ostentar a função
social adaptada aos valores constitucionais que fundamentam o Estado e dão suporte à sociedade
contemporânea (dignidade da pessoa humana, solidariedade das relações e igualdade substancial).

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Em tempos recentes, a função social do contrato deverá interagir com princípios da liberda-
de econômica. A Lei Federal n. 13.874/2019, que instituiu a declaração de direitos de liberdade
econômica, entre outras disposições, com a finalidade de potencializar e disciplinar o princípio
da livre iniciativa, alterou o artigo 421 do Código Civil. Veja a sua atual redação:

Art. 421. A liberdade contratual será exercida nos limites da função social do contrato.
Parágrafo único. Nas relações contratuais privadas, prevalecerão o princípio da intervenção mínima
e a excepcionalidade da revisão contratual.

A função social integra o conteúdo e confere legitimidade a qualquer contrato. A norma


apenas explicita o que já é previsto na própria CF, artigo 170. Segundo a referida norma consti-
tucional, a ordem econômica, fundada na livre iniciativa, tem por finalidade assegurar a todos,
contratantes e coletividade, a dignidade. Portanto, por imposição constitucional, o contrato é
meio para a concretização de direitos fundamentais existenciais da pessoa humana, como
instrumento da ordem econômica.
Logo, a noção de “função social” deve ser extraída dos valores constitucionais que con-
ferem ao contrato legitimidade. Tal função social impõe a conciliação entre questões exis-
tenciais da pessoa humana e os princípios da livre iniciativa. O contrato terá função social se
não violar a dignidade dos contratantes e de terceiros, se houver entre os sujeitos a necessária
cooperação e solidariedade, se houver um equilíbrio material na relação jurídica contratual e,
ao mesmo tempo, forem observados os princípios da livre iniciativa.
A função social impõe que o contrato tenha uma causa. Esta causa ou finalidade é a con-
cretização do interesse dos contratantes, o qual deve ser digno de tutela e será quando for
compatível com os valores fundantes do Estado democrático de direito.
O artigo 421 retrata cláusula geral, pois não há definição sobre a função social. Por isso, o
intérprete deverá integrar o conteúdo desta norma com valores jurídicos, sociais, econômicos
e morais, de acordo com o contexto social, a complexidade do contrato e os sujeitos nele en-
volvidos. Esta cláusula geral concretiza a ideia de operabilidade que inspirou os idealizadores
do atual Código Civil.

A redação do art. 421 do CC é genérica, mas dela pode-se extrair que a possibilidade de con-
tratar é livre, mas a liberdade contratual ou a de estabelecer o conteúdo do contrato é limitada,
porque deve estar ajustada à observância desta função social.

Em resumo, a função social integra o conteúdo do contrato, legitima-o e justifica-o. A liber-


dade contratual mencionada pela norma é justamente a liberdade de estabelecer o conteúdo
do contrato, que passa por controle de merecimento, por imposição da função social.

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O contrato contemporâneo não pode ser compreendido apenas sob a perspectiva estru-
tural, que marcou o direito civil clássico. Além da vontade humana (contrato é consequência
de acordo – resultado de proposta e aceitação), objeto e eventualmente forma, é essencial
verificar a finalidade, as razões que levaram os sujeitos a contratarem, porque a função social
impõe a necessária adequação de qualquer contrato aos valores sociais constitucionais, como
dignidade da pessoa humana, igualdade substancial e solidariedade social. O paradigma estru-
turalista cede espaço para o paradigma funcional.
O parágrafo único do artigo 421 apenas e tão somente destaca que a função social, que
integra o conteúdo do contrato, como limite positivo (controle de merecimento), deve harmo-
nizar-se com os princípios da livre iniciativa, como a intervenção mínima do Estado e a excep-
cionalidade da revisão do contrato.
Além de valorizar a autonomia privada, pretende-se impor maior responsabilidade dos con-
tratantes em relação ao conteúdo do contrato. A função social, como limite interno da liberda-
de contratual, impõe finalidade ajustada a valores maiores do ordenamento, que condicionarão
a legitimidade, validade e eficácia do contrato.
Em razão da função social, os efeitos do contrato transcendem a relação jurídica entre os
contratantes, para repercutir na esfera de terceiros, seja para protegê-los, quando vítimas da
relação contratual, ou para sancioná-los, quando aliciam um dos contraentes. A proteção dos
contratantes contra ação ilícita de terceiro ou do terceiro contra os efeitos de um contrato é o
que se convencionou denominar de tutela externa do crédito.

2.6.2. A Função Social e os Limites à Autonomia Privada

O art. 421 faz referência “aos limites” da função social. O que isso significa?

A autonomia privada confere às partes o poder de regular seus próprios interesses. Este poder
é restringido pelo princípio da função social. Tal limitação de poder tem um sentido negativo e po-
sitivo. Para que o contrato atinja a sua necessária função social, os contratantes devem abster-se
de inserir no contrato cláusulas que violem os valores constitucionais (limite negativo – um exem-
plo disso é a cláusula em contratos de assistência à saúde que restringe a internação do paciente
em UTI), bem como incluir no pacto cláusulas essenciais para que o contrato possa atingir a sua
necessária função social (limites positivos – no contrato de assistência à saúde, por exemplo,
deve ser garantido ao paciente o mais pleno tratamento para que possa ter uma vida digna).
A Lei n. 13.874/2019 também acrescenta ao CC o artigo 421-A que, de igual forma, renova
e potencializa a autonomia privada com a presunção, relativa, é verdade, de que:

Art. 421-A. Os contratos civis e empresariais presumem-se paritários [resultam de processo de ne-
gociação entre partes que estão em condições de igualdade] e simétricos [equilíbrio e equivalência
no conteúdo das disposições contratuais] até a presença de elementos concretos que justifiquem
o afastamento dessa presunção, ressalvados os regimes jurídicos previstos em leis especiais, ga-
rantido também que:

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No caso, foram ressalvados os regimes jurídicos previstos em leis especiais, em que não
incide a referida presunção, como os contratos de incorporação imobiliária, propriedade fiduci-
ária imobiliária ou mobiliária, entre outros, com intensa regulação normativa.
Em razão da presunção relativa de paridade e simetria, com base na autonomia privada, as
partes podem estabelecer parâmetros objetivos para a interpretação das cláusulas contratu-
ais, bem como para os pressupostos legais que admitem a revisão e a resolução do contrato
(inciso I), até porque os riscos alocados pelos sujeitos devem ser respeitados e a revisão con-
tratual é excepcional e limitada, o que está em consonância com os princípios (artigo 2º) da
declaração de direitos da liberdade econômica.
É certo, como enuncia a norma, que haverá circunstâncias em que esta presunção deve
ser afastada. Portanto, presumem-se paritários, até a presença de elementos concretos que
justifiquem o afastamento desta. Tais elementos concretos capazes de afastar tal presunção e
torná-los contratos por adesão, com alteração do modo de interpretação e submissão a regras
especiais (artigo 423 e 424), dependerão de outros fatores, como natureza do contrato, finali-
dade, condição dos sujeitos, pessoalidade e economia, entre outros.
A alocação de riscos, definida pelas partes, deve ser respeitada e observada (inciso II). Tal
norma conecta-se com a regra interpretativa da vontade presumível, inciso V, § 1º, do artigo
113, do CC. Portanto, observar os riscos assumidos e alocados pelas partes será parâmetro de
interpretação e revisão do contrato. A interpretação e a revisão devem ser pautadas na lógica
econômica do negócio, ou seja, qual o fato que, em termos econômicos, estimulou os sujeitos
a realizarem o negócio jurídico.
O inciso III apenas enuncia que a revisão contratual somente ocorrerá de maneira excep-
cional e limitada, na esteira do princípio básico de intervenção mínima do Estado nas relações
privadas previsto na Lei n. 13874/2019.

2.6.3. A Função Social e a Sua Relação com os Princípios Clássicos

O princípio da função social não elimina, mas mitiga ou reduz o alcance dos princípios con-
tratuais clássicos: autonomia da vontade, obrigatoriedade dos contratos e relatividade.
Em relação à autonomia da vontade, essa implica a liberdade de contratar. Tal concepção
foi substituída pela autonomia privada, que consiste na liberdade contratual ou no poder de
estabelecer o conteúdo do contrato. Em razão dos limites positivos e negativos impostos pelo
princípio da função social, a autonomia privada ou poder de regulação passa a subordinar-se
aos valores constitucionais já assinalados, sempre na busca de resguardar situações existen-
ciais da pessoa humana.
Em relação ao princípio da obrigatoriedade, a função social quebra a ideia de intangibilidade
e imutabilidade que sempre o norteou. O contrato é obrigatório e deve ser cumprido, desde que
não viole a dignidade dos contratantes e de terceiros e ele alheios, que as partes tenham um
comportamento ético durante todo o processo contratual, que não se caracterize qualquer dos
defeitos do negócio jurídico, que não haja desequilíbrio econômico da relação por fatos superve-
nientes à formação, que não caracterize onerosidade excessiva, dentre muitas outras condições.

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O contrato é obrigatório apenas se o seu conteúdo estiver afinado com os princípios consti-
tucionais que o fundamentam. Tais valores constitucionais condicionam a obrigatoriedade do
pacto. No entanto, como bem ponderou Teresa Negreiros, deve haver um equilíbrio e harmonia
entre os princípios clássicos e contemporâneos (teoria do contrato). A devida ponderação e a
prevalência de uns sobre os outros deve ter como paradigma a essencialidade ou não do con-
trato para a satisfação das necessidades existenciais do contratante.
É nesse sentido que deve ser interpretado o parágrafo único do artigo 421 do CC. A inter-
venção do Estado em relação aos contratos será maior ou menor, a depender dos valores envol-
vidos na relação contratual. O contrato, quanto mais essencial para a satisfação de questões
existenciais, suportará maior controle e intervenção estatal e, quanto menos essencial para
tais situações (com finalidade marcadamente econômica), menor será a intervenção Estatal.
No mais, a função social interage com o princípio da relatividade para mitigá-lo. O contrato
não é mais uma relação enclausurada entre dois sujeitos, mas uma relação jurídica cooperativa
com repercussão social. Isso significa que o contrato não apenas ostenta uma eficácia interna,
mas, principalmente, uma eficácia externa. É o que será objeto de análise no próximo tópico.

2.6.4. Função Social: Eficácia Interna e Externa do Contrato

Por fim, na relação com o princípio da relatividade, verifica-se a maior transformação pro-
vocada pelo princípio da função social. Neste momento, deve ser ressaltada a eficácia interna
e externa dos contratos em decorrência da interatividade entre os princípios da função social
e relatividade.
No liberalismo, a relatividade dos contratos significava que estes somente geravam efeitos
entre os contratantes, ou seja, não prejudicavam e tampouco beneficiavam terceiros não parti-
cipantes da relação contratual. Era a denominada eficácia interna.
Por conta da função social, terceiros, que não sejam propriamente partes do contrato, po-
dem nele influir, porque o contrato é visto como fator de alteração da realidade social, não sen-
do mais restrito ao interesse exclusivo dos contratantes. Com isso, torna-se relativo o princípio
da relatividade dos contratos.
A função social desafia a concepção clássica de que os contratantes tudo podem fazer,
porque estão no exercício da autonomia privada. Ao contrário disso, a sua atividade é contro-
lada por preceitos de ordem pública.
Com o princípio da função social, aquela eficácia interna foi reforçada e, mais importante
do que isso, o contrato passou a ostentar uma eficácia externa ou transcendente, passando a
gerar efeitos na esfera jurídica de terceiros alheios à relação contratual, ou seja, terceiros que
não integraram a relação jurídica base.
Quanto à eficácia interna, impõe-se que o princípio da função social atue primeiro entre as
partes, a fim de assegurar a preservação da dignidade dos contratantes, a equivalência ma-
terial e a preservação de uma causa legítima (os interesses perseguidos pelos contratantes

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devem ser dignos de tutela e tal questão está diretamente conectada à função social). Tal efi-
cácia interna foi ressaltada no Enunciado n. 360, da IV Jornada de Direito Civil: “O princípio da
função social dos contratos também pode ter eficácia interna entre os contratantes”.
A doutrina sempre divergiu sobre a função social interna do contrato, tendo em vista que
o princípio da boa-fé objetiva seria suficiente para resguardar e tutelar os interesses dos con-
tratantes. Até pelo caráter horizontal da boa-fé objetiva, exige-se uma recíproca cooperação e
proteção dos contratantes e, nessa toada, admitir a função social interna poderia levar a uma
indevida sobreposição de princípios, fato que esvaziaria uma das acepções ou vertentes da
boa-fé objetiva.
Após uma profunda reflexão, vemos que não há perigo deste esvaziamento ocorrer. Isso
porque haverá situações em que a boa-fé objetiva, de forma isolada, não conseguirá tutelar.
Por exemplo, em contratos que tenham por objeto o direito da personalidade da pessoa hu-
mana (cessão de imagem, por exemplo), é possível cogitar lealdade, proteção e cooperação
recíproca. As partes atuam de boa-fé, agem com correção, honestidade e ética. Todos sabem
os limites e a extensão do contrato. Não há informações ocultas. Por isso, se a dignidade de
um dos contratantes estiver em risco, não se pode cogitar ausência de boa-fé.

O que poderia proteger a dignidade em contratos desta natureza em que a ética é


recíproca?

A função social. Tal princípio condiciona a legitimidade dos contratos à salvaguarda da dig-
nidade dos contratantes. Não se pode esquecer que a função social é causa do negócio jurídico.
Exemplo disso é o Enunciado n. 166 da III JDC:

ENUNCIADO N. 166
A frustração do fim do contrato, como hipótese que não se confunde com a impossibili-
dade da prestação ou com a excessiva onerosidade, tem guarida no Direito brasileiro pela
aplicação do art. 421 do Código Civil.

A função social está conectada à socialidade e, no âmbito interno, complementa o prin-


cípio da boa-fé objetiva. A eficácia interna também pode ser concretizada na proteção dos
vulneráveis contratuais, como nos casos de contratos por adesão que ostentem cláusulas de
renúncia antecipada a direito do aderente. Como exemplo veja o que diz os Enunciados n. 172
e 433 das JDC.

ENUNCIADO N. 172
As cláusulas abusivas não ocorrem exclusivamente nas relações jurídicas de consumo.
Dessa forma, é possível a identificação de cláusulas abusivas em contratos civis comuns,
como, por exemplo, aquela estampada no art. 424 do Código Civil de 2002.

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ENUNCIADO N. 433
A cláusula de renúncia antecipada ao direito de indenização e retenção por benfeitorias
necessárias é nula em contrato de locação de imóvel urbano feito nos moldes do con-
trato de adesão.

Também pode ser citada a nulidade de cláusulas contratuais antissociais, como aquela que
limita o período de internação em UTI, já considerada nula pelo STJ, por meio da Súmula n. 302:

SÚMULA N. 302
É abusiva a cláusula que limita no tempo a internação do segurado, o qual prorroga a sua
presença em unidade de tratamento intensivo ou é novamente internado em decorrência
do mesmo fato médico, fruto de complicações da doença, coberto pelo plano de saúde.

Assim como aquela que repassa ao consumidor os custos administrativos do contrato:

ENUNCIADO N. 432
Em contratos de financiamento bancário, são abusivas cláusulas contratuais de repasse
de custos administrativos (como análise do crédito, abertura de cadastro, emissão de
fichas de compensação bancária, etc.), seja por estarem intrinsecamente vinculadas ao
exercício da atividade econômica, seja por violarem o princípio da boa-fé objetiva.

A outra vertente da eficácia da função social é a sua repercussão externa. É a denominada


eficácia externa ou tutela externa do crédito. A função social torna o contrato “interativo”, pois
tal negócio jurídico interage com a coletividade de um modo geral. Por esta razão, se o con-
trato entre dois sujeitos violar interesses coletivos, os interesses econômicos individualizados
serão sacrificados para salvaguardar o interesse público. Em matéria contratual, o interesse
público sempre prevalecerá sobre interesses econômicos individualizados. Esta repercussão
do contrato na sociedade decorre dos seus efeitos transcendentes diante da renovação impos-
ta pelo princípio da função social ao princípio da relatividade dos contratos.
A partir desta eficácia externa, os interesses privados de terceiros não integrantes da rela-
ção contratual estarão assegurados caso aquele contrato venha a repercutir negativamente na
esfera jurídica dos mesmos. A revolução provocada pela função social no aspecto relacionado
aos efeitos transcendentes pode ser visualizada em várias situações, a seguir exemplificadas.
O Enunciado n. 21 da I JDC, ressalta esta nova característica do contrato em decorrência
do princípio da função social:

ENUNCIADO N. 21
A função social do contrato, prevista no art. 421 do CC, constitui cláusula geral a impor a
revisão do princípio da relatividade dos efeitos do contrato em relação a terceiros, impli-
cando a tutela externa do crédito.
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Em resumo, a “tutela externa do crédito” decorre ou deriva do princípio (cláusula geral) da


função social (externa) dos contratos. Em tempos de socialidade e funcionalização dos direi-
tos, os contratos passam a ser oponíveis a toda a coletividade e, como consequência, com
eficácia perante terceiros (não para impor deveres contratuais a estes). O objetivo principal é
proteger o direito/crédito dos contratantes contra atos ilícitos de terceiros (que não integraram
a relação contratual). O princípio da relatividade perde a condição de dogma (a regra res inter
alios acta, o contrato não traz benefícios ou prejuízos a terceiros, deve ser revista).
Em razão desta eficácia ultra partes (transcendente), terceiros podem interagir com deter-
minados contratos a partir de duas perspectivas: 1. na condição de vítimas (ofendidos) de re-
lação contratual da qual não fizeram parte (o direito do terceiro é violado); e 2. na condição de
autores (ofensores), quando atuam para interferir ilicitamente na relação contratual (terceiro
provoca o inadimplemento contratual).
Nestas perspectivas, a tutela externa do crédito significa conferir proteção jurídica (tute-
la) ao direito subjetivo/interesse (crédito) de terceiro (externa) vítima de contrato ou proteger
(tutela) os contratantes (crédito) por força da atuação de terceiro (externo) que interfere em
contratos ou situações jurídicas em andamento. Apesar da relatividade, o contrato projeta sua
eficácia perante terceiros e, por isso, impõe deveres de abstenção (proíbe que terceiro interfira
em contrato – estes devem respeitar situações jurídicas consolidadas) ou protege as vítimas
(terceiros) de qualquer relação contratual.
Ainda que também associada à proteção de vítimas de contratos (terceiro ofendido), a
tutela externa do crédito, de fato, tem como objetivo central proteger os contratantes contra
atos ilícitos de terceiros. A tutela do direito de crédito é interna (teoria do adimplemento/ina-
dimplemento) e externa (ílcito genérico – neminem laedere – pela imposição do dever geral de
abstenção).
O direito de crédito deve ser protegido contra aliciadores de contratantes. O terceiro ofensor
será responsabilizado pela violação do dever geral de abstenção. A violação ocorrerá quando o
terceiro convencer um dos contratantes a romper o contrato e celebrar outro com ele (terceiro),
incompatível com o primeiro.
Em terras tupiniquins, os exemplos de aliciadores, que provocam o inadimplemento de
contratos em andamento, são abundantes. Nestas situações, o contratante vítima do alicia-
mento terá direito à indenização contra o terceiro ofensor, com base na teoria do ato ilícito
(responsabilidade extracontratual), sem prejuízo de exigir os encargos decorrentes do inadim-
plemento contra o contratante seduzido pelo aliciador (responsabilidade contratual), gerando
reparações distintas e autônomas.
A eficácia externa, ou “tutela externa do crédito”, funciona como gênero da tutela de inte-
resses transindividuais, do terceiro ofendido e do terceiro ofensor.

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Interesses Transindividuais

No caso dos interesses transindividuais, em razão da eficácia externa decorrente da neces-


sária função social do contrato, caso este viole tais interesses difusos ou coletivos, qualquer
dos legitimados do artigo 82 do CDC poderá pleitear a invalidação, a ineficácia ou a conforma-
ção do contrato aos valores constitucionais, para que ostente a função social imposta pela lei.
Os interesses ou direitos difusos são aqueles de natureza indivisível, de que sejam titu-
lares pessoas indeterminadas e ligadas por circunstâncias de fato (inexistência de relação
jurídica base entre os sujeitos e indivisibilidade do bem jurídico), como, por exemplo, questões
ambientais.

 Obs.: Nas relações de consumo, tais interesses difusos podem estar relacionados à publici-
dade enganosa ou abusiva ou à colocação no mercado de produtos com alto grau de
periculosidade ou nocividade à saúde ou segurança dos consumidores. Nestes exem-
plos, o bem jurídico tutelado é indivisível e uma única ofensa é suficiente para a lesão
de todos os consumidores. Neste caso, embora os interesses econômicos dos con-
tratantes estejam preservados, a eficácia transcendente (repercussão dos efeitos do
contrato na coletividade) pode levar à invalidação ou à imposição de penalidades para
a necessária conformação do contrato ao princípio da função social. Isso é possível
em razão da eficácia externa do contrato.

Os interesses ou direitos coletivos são de natureza indivisível, de que seja titular um gru-
po, categoria ou classe de pessoas ligadas entre si ou com a parte contrária por uma relação
jurídica base. A relação jurídica base é preexistente à eventual lesão. Assim, interesses deste
grupo ou classe que sejam atingidos por contratos firmados por membro do mesmo grupo ou
classe poderão ser questionados em razão da eficácia externa e da repercussão dos efeitos do
contrato em suas esferas jurídicas, ainda que não tenham integrado o contrato.
De acordo com o Enunciado n. 23 da I JDC, a função social reduz o alcance do princípio da
autonomia privada, quando presentes interesses metaindividuais.

Terceiro Ofendido

A tutela externa do crédito ou eficácia externa do contrato sob a perspectiva do direito


subjetivo de terceiro ofendido pela relação contratual da qual não participou também merece
destaque. Nesta situação, um sujeito qualquer, estranho e alheio à relação jurídica de direito
material (contrato), vê o seu direito subjetivo violado ou lesado (por isso se diz terceiro “ofen-
dido”) por um contrato. Há vários exemplos que podem ilustrar tal situação:
Em primeiro lugar, o consumidor por equiparação (chamados também de bystanders),
objeto do art. 17 do CDC. O artigo está inserido em seção que trata da responsabilidade do
fornecedor por fato do produto ou serviço, os denominados “acidentes de consumo”. Se os

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defeitos em produto decorrentes de projeto, fabricação, construção, montagem, fórmulas, ma-


nipulações, apresentação ou acondicionamento de seus produtos, bem como por informações
inadequadas ou insuficientes sobre sua fruição e risco e, ainda, os defeitos relativos à presta-
ção de serviços, violarem direito de terceiro que não integra a relação de consumo, este sujeito
poderá exigir a reparação dos danos suportados, como se consumidor fosse.
Outra situação é a do sujeito vítima de um contrato de seguro. De acordo com o art. 757 do
CC, o segurador obriga-se a garantir interesse legítimo do segurado, relativo à pessoa ou coisa,
contra riscos predeterminados. No caso de seguro de dano ou responsabilidade civil, o segura-
dor deve garantir o pagamento de perdas e danos devidos pelo segurado a terceiro, conforme
redação expressa do art. 787 do CC. Como se vê, o segurador tem a obrigação de indenizar,
diretamente, o terceiro ofendido pelo segurado, embora não haja relação jurídica material entre
a vítima (terceiro) e a seguradora.

Qual a razão disso?

Função social ou eficácia externa do contrato, a qual acarreta a transcendência dos efeitos
do contrato, fazendo-o repercutir na esfera jurídica de terceiros. O segurador garante o paga-
mento de indenização ao terceiro e não apenas ao segurado.
Apesar da responsabilidade da seguradora, neste caso, o STJ possui súmula, segundo a qual

SÚMULA N. 529
No seguro de responsabilidade civil facultativo, não cabe o ajuizamento de ação pelo ter-
ceiro prejudicado direta e exclusivamente em face da seguradora do apontado causador
do dano.

Assim, faz-se mister a participação do segurado no polo passivo, como condição para a
responsabilização direta da seguradora. O fundamento deste entendimento é que a ausência
do segurado poderia prejudicar ou dificultar a defesa da seguradora.
Em outra súmula, o STJ firmou entendimento de que

SÚMULA N. 537
Em ação de reparação de danos, a seguradora denunciada, se aceitar a denunciação ou
contestar o pedido do autor, poderá ser condenada, direta e solidariamente junto com o
segurado ao pagamento de indenização devida à vítima, nos limites da condenação deste
na ação regressiva.

O próprio artigo 128 do CPC/2015 admite e permite execução direta contra o denunciado,
nos casos de denunciação.

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Outro exemplo de terceiro ofendido poderia ser localizado no art. 456 do CC, que tratava
da denunciação da lide em caso de evicção. A novidade do dispositivo era a denominada de-
nunciação “por saltos”, uma vez que a norma permitia a denunciação de alienantes anteriores,
ou seja, de sujeito com quem o denunciante adquirente jamais teve relação jurídica de direito
material (os verbos estão sendo utilizados no passado porque este artigo foi revogado pelo
CPC/2015).
Por fim, outro exemplo de tutela do terceiro ofendido é a Súmula n. 308 do STJ, segundo a qual

SÚMULA N. 308
a hipoteca firmada entre a construtora e o agente financeiro, anterior ou posterior à cele-
bração da promessa de compra e venda, não tem eficácia perante os adquirentes do
imóvel.

Trata-se da aplicação do princípio da função social para proteger adquirentes de imóvel


que não participaram do contrato de financiamento entre a construtora e o agente financeiro.
Os adquirentes de imóvel hipotecado são terceiros em relação a estes contratos e, como tais,
diante da eficácia externa do contrato, não podem ser prejudicados por um contrato do qual
não participaram. O direito de crédito do financiador pode ser exercido contra a devedora/
construtora, mas não contra os adquirentes, que são terceiros ofendidos e não podem ser
prejudicados pelo inadimplemento da construtora a qual não efetivava o repasse dos recursos
para a financiadora.
No caso, há duas relações jurídicas distintas e inconfundíveis. A primeira, de financiamento
entre os bancos investidores e as construtoras. A segunda, de compra e venda e, em alguns
casos, também de financiamento, entre a construtora e os adquirentes de unidades imobiliá-
rias. Não se pode exigir dos adquirentes garantia que não anuíram e não deram causa. Neste
sentido, é o REsp 468.062/CE, de relatoria do Min. Humberto Martins, julgado em 11.12.2008.

Terceiro Ofensor

A tutela externa do crédito ou eficácia externa do contrato sob a perspectiva do terceiro


ofensor também deve ser ressaltada. O terceiro ofensor é o sujeito que interfere ilicitamente
em uma relação contratual em pleno processo de execução, causando o inadimplemento des-
ta. A eficácia externa impõe que terceiros ou a coletividade abstenha-se de violar os direitos
dos contratantes, mediante interferências indevidas. Caso isso ocorra, este terceiro ofensor
será penalizado.
Segundo a professora Teresa Negreiros,

A oponibilidade dos contratos traduz-se, portanto, nesta obrigação de não fazer, imposta àquele
que conhece o conteúdo de um contrato, embora dele não seja parte. Isto não implica tornar as
obrigações contratuais exigíveis em face de terceiros (é o que a relatividade impede), mas impõe
a terceiros o respeito por tais situações jurídicas, validamente constituídas e dignas de tutela do
ordenamento (é o que a oponibilidade exige). (Teoria do contrato)

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O exemplo citado pela referida professora de terceiro ofensor diz respeito aos contratos
de exclusividade que as distribuidoras de gasolina mantêm com os postos que exibem a sua
“bandeira”. A celebração de contratos com postos vinculados a outra distribuidora, em termos
de exclusividade, implica responsabilidade do terceiro (distribuidora) que provocou o rompi-
mento do contrato. No caso, a responsabilidade é do terceiro em relação ao contratante pre-
judicado, sem prejuízo deste último exigir do contratante que optou por vincular ao terceiro os
encargos previstos no contrato, em decorrência deste rompimento injustificado (provocado
pelo terceiro).
Outro exemplo de terceiro ofensor, expressamente disciplinado no art. 608 do CC, envolve
o aliciamento de contratantes por terceiros em contrato de locação de serviços. Segundo o re-
ferido dispositivo, aquele que aliciar pessoas obrigadas, em contrato escrito, a prestar serviço
a outrem, pagará a este a importância que ao prestador de serviço, pelo ajuste desfeito, houver
de pagar durante dois anos. A conduta do terceiro aliciador provoca o rompimento do contrato
e, no caso, tal terceiro, pelo ajuste desfeito, responderá pela indenização prevista no artigo ao
contratante prejudicado, sem prejuízo deste exigir do seu parceiro contratual os encargos de-
correntes deste inadimplemento.
O grande avanço na temática consiste na possibilidade de o ofendido, pela quebra de seu
contrato, demandar diretamente contra terceiro ofensor, mesmo não havendo avença entre
eles (Direito dos contratos).

 Obs.: Em conhecido caso da mídia, o cantor Zeca Pagodinho, que era garoto propaganda
de uma cervejaria, por conta de aliciamento de terceiro (Ambev), rompeu o contrato
de exclusividade para assinar outro contrato com o terceiro que o aliciou. Neste caso,
que chegou aos tribunais, a conduta da Ambev foi considerada abusiva, pois, embora
não tenha sido parte no contrato entre o cantor e a Schincariol, interferiu ilicitamente
em contrato alheio ao não observar o pacto de exclusividade, o que gerou um dano
indenizável.

Na V JDC, foi aprovado o Enunciado n. 431 para registrar que a ausência de função social
poderá conduzir à invalidade ou à ineficácia do contrato ou de cláusulas contratuais, a depen-
der do momento e das circunstâncias do caso concreto.
Aliás, por ser preceito de ordem pública, ao teor do disposto no parágrafo único do art.
2.035 do CC, a função social permite a atuação do juiz de ofício e a intervenção do Ministério
Público. Por tal razão, incompreensível, a Súmula n. 381 do STJ, veda ao juiz conhecer de ofício
a abusividade em contratos bancários. Em relação de consumo, a súmula torna-se incompatí-
vel com o sistema que impõe a nulidade de pleno direito de cláusulas abusivas. Nas relações
civis, a súmula viola o parágrafo único do artigo 2.035, na medida em que a abusividade de
cláusulas de contratos, em especial bancários, viola o princípio da função social, cuja cláusula
geral permite ao juiz intervir, de ofício.

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A responsabilidade do terceiro ofensor é extracontratual, porque não há relação jurídica


material e individualizada entre ele e a vítima da ofensa. A conduta do terceiro viola o dever
genérico legal, que impõe a todos a observância de determinado comportamento. Em regra,
aplica-se a teoria do ato ilícito que é fundada na culpa, tudo nos termos dos artigos 186 e 927,
ambos do CC.

2.6.5. Princípio da Boa-Fé Objetiva e Tutela da Confiança Como Direito Fun-


damental

Na teoria geral dos contratos, a cláusula geral da boa-fé objetiva está inserida no art. 422
do CC, segundo o qual

os contratantes são obrigados a guardar, assim na conclusão do contrato, como em sua execução,
os princípios de probidade e boa-fé.

A ética é um dos paradigmas da codificação civil de 2002 e tal princípio é retratado no


sistema pela boa-fé objetiva, que não se confunde com a boa-fé subjetiva (relacionada a fato-
res psicológicos). A boa-fé objetiva compreende um modelo de eticização de conduta social,
verdadeiro standard jurídico ou regra de comportamento, caracterizado por uma atuação de
acordo com determinados padrões sociais de lisura, honestidade e correção, de modo a não
frustrar a legítima confiança da outra parte (Direito dos contratos).
A boa-fé objetiva tem três funções bem delineadas e definidas no sistema civil:
• A primeira é a função interpretativa/integrativa, por servir como parâmetro de interpre-
tação e integração de lacunas dos negócios jurídicos em geral e do contrato em particu-
lar, objeto de disciplina no art. 113 do CC (Direito dos contratos).
• A segunda função é a imposição de limites éticos para o pleno exercício de direitos
subjetivos e potestativos, a qual é retratada no art. 187 do CC, dispositivo que regula a
teoria do abuso de direito.
• A terceira função do princípio da boa-fé objetiva é a criação de deveres anexos, colate-
rais ou secundários, como lealdade, imposição de comportamento honesto, dever de co-
laboração e solidariedade recíprocas, informação, que podem ser sintetizadas na ética e
probidade, conforme art. 422 do CC (Deveres de proteção, de cooperação e deveres de
esclarecimento ou informação).

As três funções relacionadas ao princípio da boa-fé objetiva devem ser observadas na te-
oria contratual. O sentido e significado do contrato devem levar em conta a conduta e o com-
portamento dos sujeitos. Portanto, a interpretação de um contrato é realizada à luz do princí-
pio da boa-fé objetiva. Por outro lado, o contrato é fonte geradora de direitos e, ao exercer os
direitos originados de um contrato, nenhum dos contratantes pode agir com abuso, sob pena
de violação do princípio ético da boa-fé objetiva, o que caracteriza o ilícito pelo abuso de direito
(artigo 187).
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E, por fim, o no âmbito da formação e durante todo o processo contratual que finalizará
com o adimplemento, impõem-se às partes contratantes deveres de conduta e comportamen-
to, conforme art. 422 do CC. Tais deveres podem ser resumidos em dever de proteção recí-
proca, lealdade, informação e cooperação. Todo e qualquer outro dever estará relacionado a
um destes.
Na proteção, os contratantes devem criar condições contratuais para que seu parceiro não
seja prejudicado por intercorrências externas, imprevistos que desequilibrem o contrato e não
suporte violação de seus direitos existenciais (dignidade da pessoa humana).
A lealdade implica tratar o contratante como parceiro. Os contratantes devem possuir inte-
resses convergentes, como condição de legitimidade de um contrato.
O dever de informação é a essência dos denominados deveres anexos, colaterais ou secun-
dários impostos aos contratantes pelo artigo 422 do CC. A informação clara e precisa sobre os
termos, limites, condições, imprecisões, vícios, ônus, sujeições, dentre outros, é essencial para
a plena concretização da boa-fé.
A cooperação recíproca poderia ser considerada o resumo de todos os demais deveres.
Nesta perspectiva, o contratante confia na sinceridade da vontade manifestada pelo parceiro
por ocasião da formação de qualquer contrato e, em razão disso, nasce uma expectativa le-
gítima elevada à condição de direito fundamental, capaz de ser oposto em qualquer relação
privada. Esta confiança e expectativa devem ser tuteladas.
A confiança foi elevada à categoria de direito fundamental nas relações privadas, em de-
corrência do princípio da boa-fé objetiva. Em qualquer ato ou negócio jurídico, em geral, e no
contrato, em particular, a confiança extraída do comportamento ou da conduta de um dos
sujeitos é digna de tutela. A confiança é uma crença efetiva no comportamento alheio e tem
como fundamento a boa-fé.
A exigência de comportamento leal foi objeto do Enunciado n. 26, da I JDC:

ENUNCIADO N. 26
A cláusula geral contida no art. 422 do Código Civil impõe ao juiz interpretar e, quando
necessário, suprir e corrigir o contrato segundo a boa-fé objetiva, entendida como a exi-
gência de comportamento leal dos contratantes.

Na aplicação da boa-fé, deve-se verificar a natureza do contrato, as circunstâncias do negó-


cio, o histórico dos contratantes, os valores da sociedade, o tempo, o espaço, como condição
para observar se a atuação humana, no caso concreto, é compatível com o sentimento ético
da sociedade ao tempo do contrato. A boa-fé objetiva é um princípio em constante transfor-
mação, que deve sempre ser adaptado aos valores da sociedade no tempo do contrato. Ao
contrário da “equidade”, que busca um sentimento de justiça e afasta o aplicador das regras e
princípios jurídicos positivados, a boa-fé objetiva é avaliada à luz destes valores positivados.
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O art. 422 do CC, conforme tratado no capítulo sobre obrigações, amplia o conceito de
adimplemento, pois o princípio da boa-fé objetiva impõe aos contratantes, ao lado do dever
principal de prestação, alguns deveres de conduta (proteção, colaboração, informação, etc.),
os quais, se não observados, levarão ao inadimplemento do contrato, o que se convencionou
denominar de violação positiva do contrato. Nesse sentido está o Enunciado n. 24, da I JDC:

ENUNCIADO N. 24
Em virtude do princípio da boa-fé, positivado no art. 422 do novo Código Civil, a violação
dos deveres anexos constitui espécie de inadimplemento, independentemente de culpa.

Portanto, a lesão aos deveres de proteção, informação e cooperação caracterizam a viola-


ção positiva do contrato, espécie do gênero inadimplemento.
Ainda conectado ao dever de comportamento leal e honesto, em especial aos deveres de
proteção e colaboração, o princípio da boa-fé objetiva impõe que o contratante aja rapidamen-
te para mitigar as perdas ou evitar o agravamento do próprio prejuízo.
Em resumo, o princípio da boa-fé objetiva é princípio que materializa e concretiza, no mundo dos
fatos, o paradigma da eticidade. Tal princípio impõe aos sujeitos, em especial em relações jurídicas
obrigacionais, padrão de conduta e comportamento, em todas as fases: preparação (antes); for-
mação e execução (durante) e, extinção (após). O sujeito deverá atuar de acordo com determinado
padrão de honestidade e correção, o que somente poderá ser apurado no caso concreto. O modo e o
padrão de conduta dependerão da natureza da obrigação, do contexto social e da condição dos su-
jeitos, entre outras circunstâncias que podem estar presentes no caso concreto (ética da situação).
A boa-fé objetiva, portanto, é analisada externamente, pois é irrelevante a sua convicção ou
intenção (boa-fé subjetiva). Também se relaciona com a segurança jurídica, porque preserva a
coerência e confere estabilidade para os comportamentos que geram expectativa e confiança.
Em conclusão, a boa-fé objetiva impõe comportamento ético, correção no modo de agir.
De acordo com o artigo 422, as partes devem comportar, tanto nas negociações que an-
tecedem o contrato, como durante a execução deste, o princípio da boa-fé. A boa-fé também
deve ser observada na fase pós-contratual. Neste sentido, o Enunciado n. 170, da III JDC afirma

ENUNCIADO N. 170
A boa-fé objetiva deve ser observada pelas partes na fase de negociações preliminares
e após a execução do contrato, quando tal exigência decorrer da natureza do contrato.

Portanto, a boa-fé passa a integrar o conteúdo das relações jurídicas obrigacionais, em


especial no âmbito contratual.

TRT-PR-18-01-2012 CLÁUSULA GERAL DA BOA-FÉ OBJETIVA. DANO MORAL. FASE PÓS-CONTRATUAL.


DESQUALIFICAÇÃO OBREIRA PERANTE TERCEIROS. A cláusula geral da boa-fé objetiva, disciplinada
pelo art. 422 do CC, exige também lealdade e probidade aos sujeitos envolvidos na fase pós-contratual,
buscando a proteção do patrimônio (tanto material quanto moral) dos contratantes. O dano pós-contra-
tual (ou culpa “post pactum finitum”) encontra-se dentro da responsabilidade civil contratual.

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Proibição do Comportamento Contraditório (Venire Contra Factum Pro-


prium), Supressio (Verwirkung), Surrectio (Erwirkung) e Tu Quoque

São decorrências do princípio da boa-fé objetiva, como standard de comportamento, cer-


tos subprincípios, que norteiam a análise realizada pelo julgador da conduta das partes.

O venire contra factum proprium veda o comportamento contraditório e a incoerência do su-


jeito em determinada relação privada. Por isso, se o sujeito se orienta no início do negócio
jurídico de uma forma e, no decorrer do negócio, sem qualquer justificativa, passa a ter uma
conduta incompatível e contrária à conduta inicial, restará caracterizado o abuso de direito.
O objetivo deste instituto é a tutela da confiança do sujeito que acreditou no comportamento
inicial da outra parte.
A supressio, a surrectio e o tu quoque são desdobramentos da nemo potest venire contra fac-
tum proprium, estando, portanto, integradas na teoria do abuso de direito.
A supressio implica a supressão de direitos ou de situações jurídicas em função de um deter-
minado comportamento, de uma omissão, que gera na outra parte uma legítima expectativa de
que o sujeito omisso não tem mais interesse no direito.
A surrectio seria o lado oposto, representando o surgimento de um direito, aquisição de um
direito e razão do comportamento continuado da outra parte (supressio e surrectio são lados
opostos de uma mesma moeda).
Por fim, o tu quoque representa a adoção de critérios diferentes para situações assemelhadas.
Então, a pessoa, diante da mesma situação, adota comportamentos diferentes em relação
a cada um dos sujeitos. É a prática de “dois pesos e duas medidas”, como o caso em que
uma parte, após violar a norma, pretende exercer posição jurídica que esta mesma norma
lhe assegura.

2.6.6. Duty to Mitigate the Own Loss

O dever de mitigar a própria perda foi inspirado no direito anglo-saxão, que tem natureza de
dever e recebe o nome de duty to mitigate the own loss. Ele tem total ligação com o princípio
da boa-fé objetiva, na realidade, sendo dele decorrente. Está relacionado a uma conduta omis-
siva e abusiva do titular de um direito subjetivo, o qual, diante do inadimplemento do parceiro
contratual, não adota o comportamento esperado dos credores em situações desta natureza
(a exigência do direito). Ao contrário, retarda, abusivamente, o exercício do direito subjetivo
com a finalidade de aumentar o passivo do seu parceiro.
A mitigação do próprio prejuízo constitui um dever de natureza acessória, anexo, decorrente
da boa conduta que deve existir entre os negociantes. Faz parte, portanto, do dever de colabora-
ção entre as partes contratantes. Além de caracterizar conduta abusiva por omissão, tal compor-
tamento viola o artigo 422, na medida em que não há a devida colaboração e proteção do outro
contratante, deveres fundamentais a serem observados antes, durante e após o contrato.

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Nesse sentido é o Enunciado n. 169, da III Jornada diz “Art. 422. O princípio da boa-fé objetiva
deve levar o credor a evitar o agravamento do próprio prejuízo”.
Os direitos subjetivos, principalmente de natureza patrimonial, quando violados, devem ser
salvaguardados pelo legítimo titular em tempo razoável, pois o retardamento prolongado e
injustificado que leva ao agravamento do prejuízo poderá, a depender das circunstâncias, do
caso e da natureza do negócio, violar o princípio da boa-fé objetiva.
A parte que invocar o inadimplemento do contrato deverá tomar as medidas que forem
razoáveis, de acordo com as circunstâncias, para diminuir os prejuízos resultantes do des-
cumprimento, incluídos os lucros cessantes. Caso não adote estas medidas, a outra parte
poderá pedir redução na indenização das perdas e danos, no montante da perda que deveria
ter sido mitigada.
O Superior Tribunal de Justiça, no ano de 2010, no julgamento do REsp 758.518/PR, de re-
latoria do Min. Vasco Della Giustina, julgou um leading case em matéria relacionada ao dever
de mitigar a própria perda.

2.6.7. Princípio do Equilíbrio Contratual ou Equivalência Material

O equilíbrio contratual é uma especialização ou vertente da cláusula geral da função social


dos contratos. O contrato, dentre outros aspectos, ostentará função social quando a relação
jurídica material e substancial for equilibrada economicamente. O equilíbrio contratual ou a
equivalência material é uma exigência do princípio da função social e do valor constitucional
“igualdade substancial”.
O instituto da lesão, previsto no art. 157 do CC, a teoria da imprevisão, disciplinada no art.
317, a teoria da onerosidade excessiva objeto do artigo 478 e a vedação da cláusula penal
excessiva, constante no art. 413 da Lei Civil, são algumas normas que visam a concretizar
a igualdade substancial e material e, em consequência, garantir o equilíbrio e a equivalência
do contrato.
O importante a ressaltar é que o fundamento deste princípio está na Constituição. A ve-
dação a que as prestações contratuais expressem um desequilíbrio real e injustificável entre
as vantagens obtidas por um e por outro dos contratantes ou, em outras palavras, a vedação
a que se desconsidere o sinalagma contratual em seu perfil funcional, constitui expressão do
princípio consagrado no art. 3º, III, da CF/1988: o princípio da igualdade substancial (Teoria do
contrato, p. 158).
Tal princípio pretende tornar justa a circulação de riquezas e as trocas úteis de valores
entre os sujeitos. Este equilíbrio é pressuposto inerente a qualquer contrato e a equivalência
material nada mais é do que a concretização da função social e do dever de proteção relacio-
nados ao princípio da boa-fé objetiva.

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O contrato deve nascer equilibrado e permanecer nesta condição durante todo o processo
obrigacional até o efetivo inadimplemento. O desequilíbrio originário poderá acarretar sua
invalidação pelo instituto da lesão e alteração das circunstâncias por fato superveniente, que
levem ao desequilíbrio material, poderá gerar sua revisão ou resolução, conforme as circuns-
tâncias. O fato é que o equilíbrio contratual é a versão econômica do princípio da função social,
como exigência da igualdade material e substancial nas relações privadas, em especial no
âmbito dos contratos.
O princípio desenvolve-se em dois aspectos distintos: subjetivo e objetivo. O aspecto sub-
jetivo leva em conta a identificação do poder contratual dominante das partes e a presunção
legal de vulnerabilidade. A lei presume juridicamente vulneráveis o trabalhador, o inquilino, o
consumidor, o aderente do contrato de adesão, entre outros. O aspecto objetivo considera o
real desequilíbrio de direitos e deveres contratuais, que pode estar presente na celebração do
contrato ou na eventual mudança do equilíbrio em virtude de circunstâncias supervenientes
que acarretem a onerosidade excessiva para uma das partes (Direito Civil, Contratos, p. 70-71).
Tal equivalência é objetivamente aferida e concretizada quando o contrato, na formação
ou durante a execução, realiza a equivalência das prestações, sem vantagens ou onerosidades
excessivas originárias ou supervenientes para uma das partes.

3. Formação dos Contratos Paritários. Fases de Formação


3.1. Formação dos Contratos – Considerações Preliminares
O contrato, quanto à formação, é negócio jurídico bilateral. A formação do contrato depen-
de, necessariamente, de acordo ou junção de vontades. A exteriorização unilateral de vontade,
por si só, não é suficiente para a formação ou a consolidação do contrato como espécie de
negócio jurídico. A declaração unilateral de vontade poderá produzir efeitos jurídicos, como,
por exemplo, a promessa de recompensa, a gestão de negócios, o pagamento indevido e o
enriquecimento sem causa (declarações unilaterais de vontade – art. 854 a 886 do CC).
No entanto, o contrato, para a sua formação, depende de duas vontades convergentes so-
bre os mesmos pontos, da reciprocidade. O sujeito exterioriza a vontade e o destinatário adere
a esta vontade. A partir da adesão (este é o momento principal), estará consumado e formado
o contrato, que produzirá os efeitos jurídicos desejados pelas partes contratantes.
Neste momento, é essencial fazer uma distinção entre a bilateralidade ou unilateralidade
do contrato no âmbito da formação e dos efeitos.
Em relação à formação, o contrato sempre será negócio jurídico bilateral (ou plurilateral),
ou seja, dependerá da junção de vontades ou do encontro de duas declarações convergentes
de vontade para se formar e produzir efeitos jurídicos. Não é possível se formar um contrato
apenas com declaração unilateral de vontade. O acordo ou o ajuste de vontades é pressuposto
deste negócio jurídico.

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Todavia, em relação aos efeitos e, pressupondo a formação do contrato (ajustado pelo en-
contro de vontades em que os sujeitos possuem interesses em comum), este negócio jurídico
poderá ser bilateral ou unilateral.
No contrato bilateral há reciprocidade de direitos e obrigações, sendo que a obrigação de
um dos contratantes é a causa da obrigação do outro. Há um nexo de dependência entre as
prestações opostas, como é o caso do contrato de compra e venda. No contrato de efeito uni-
lateral, uma parte somente terá direitos e outra apenas suporta obrigações. Neste último caso,
não há reciprocidade de direitos e obrigações.
Portanto, o contrato, para se formar, dependerá da coincidência ou convergência de von-
tades. Formado o contrato, em relação aos efeitos, pode ser classificado como bilateral ou
unilateral. Tal classificação não tem qualquer repercussão na formação deste negócio jurídico.
O Código Civil, nos art. 427 a 435, regula a formação dos contratos, em especial a disciplina
jurídica da proposta e da aceitação, fases para a formação. A formação do contrato pressupõe
fases ou etapas, as quais podem ser divididas em três: negociações preliminares, proposta e
aceitação.
A formação consumar-se-á com o ajuste, acordo ou a convergência das vontades. O mo-
mento exato da formação do contrato dá-se com a adesão do oblato ou aceitante à vontade
exteriorizada pelo proponente ou policitante. Aceita a proposta, estará formado o contrato,
produzindo os efeitos jurídicos desejados. Antes da proposta e da aceitação, ainda há a fase
de negociações preliminares, não disciplinada pelo CC.
As fases de formação do contrato estão diretamente relacionadas com a classificação
dos contratos quanto à formação (consensuais e reais) e a classificação quanto ao método de
contratação (paritários e adesão).
O contrato paritário é resultado de processo de negociação (puntuação – negociações
preliminares), já no de adesão, a fase de negociações preliminares é restrita a convencimento
(não há discussão sobre o conteúdo do contrato). Os contratos consensuais formam-se pelo
consenso (proposta e aceitação), ao passo que os reais, além do consenso, exigem a entrega
do objeto, como pressuposto para a existência e constituição
O contrato, no ordenamento jurídico brasileiro, é a principal fonte de obrigação. Não é apto
para transferir direitos reais, o que está relacionado à execução de um contrato já formado. As-
sim, independentemente da transferência de direitos reais, o contrato produz efeitos jurídicos
obrigacionais. A transferência de direitos reais pode ocorrer imediatamente após o acordo de
vontades, mas sempre pressupõe contrato formado.

 Obs.: Por exemplo, se “A” oferece a “B” um veículo e este compra o veículo, há duas relações
jurídicas distintas neste negócio, uma de caráter obrigacional e outra de caráter real.
No momento em que “A” e “B” chegam a um consenso sobre o objeto e o preço, está
formado o contrato de compra e venda que produzirá efeitos jurídicos obrigacionais,

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independentemente da tradição. O direito real, transferência da propriedade, depende


da tradição. No entanto, esta tradição ou a transferência do direito real pressupõe con-
trato formado. Por isso, a tradição integra a fase de execução do contrato (teoria do
adimplemento). No momento em que “A” entrega o veículo a “B”, haverá transferência
do direito real de propriedade por meio da tradição, mas o contrato já estava formado
e produzindo efeitos jurídicos obrigacionais, independentemente desta tradição. A for-
mação do contrato independe da transferência da propriedade.

A transferência da propriedade é superveniente à formação, ainda que por alguns segun-


dos. O direito real pressupõe contrato formado. O contrato produz efeitos jurídicos obriga-
cionais e, dentre estas obrigações, está a de transferir o direito real. No exemplo acima, se
as partes chegam a um acordo, mas “A” não entrega o veículo a “B”, não houve cumprimento
das obrigações contratuais e, por isso, a propriedade não foi transferida. No entanto, como o
contrato produz efeitos jurídicos obrigacionais, “B” pode exigir que “A” cumpra o contrato e en-
tregue o veículo prometido. A questão da transferência do direito real, com base em contratos,
relaciona-se ao adimplemento ou inadimplemento destes, não integrando a sua formação.
Após estas considerações preliminares, passaremos à análise pormenorizada de cada
uma das fases necessárias para a formação de um contrato: negociações preliminares, pro-
posta e aceitação.

3.1.1. Negociações Preliminares

As negociações preliminares (ou fase de pontuação), primeira fase para o aperfeiçoamento do


vínculo obrigacional, representam as conversações prévias antecedentes à formação do contrato.
As partes passam a conhecer-se e obter informações sobre o negócio jurídico a ser celebrado.
Na fase das negociações preliminares não há deveres jurídicos contratuais, pois ainda não
há contrato. Portanto, nesta fase, as partes não se vinculam às futuras e eventuais obrigações
que pretendem pactuar. Esta fase de conversas prévias, sondagens, aproximação, contatos
preliminares e debates não vincula ou obriga as partes (em termos contratuais – simplesmen-
te porque ainda não há contrato).
A fase de negociações preliminares não se confunde com o denominado contrato prelimi-
nar. No contrato preliminar, também haverá negociações preliminares, proposta e aceitação.
Ele é um contrato autônomo, denominado por muitos de promessa de contrato definitivo, com
obrigações e deveres para os contratantes e, portanto, com força vinculativa. As negociações
preliminares retratam a primeira fase do contrato preliminar ou do contrato definitivo. Como
ressaltado, as negociações preliminares não vinculam, pois ainda não há contrato.
Todavia, embora ausente a obrigatoriedade ou qualquer vinculação nesta primeira fase
para os sujeitos participantes das negociações preliminares, em função do princípio da boa-fé
objetiva, há deveres jurídicos éticos a serem observados, sob pena de responsabilidade civil
em decorrência da violação deste princípio.

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Segundo o art. 422 do CC, os contratantes são obrigados a guardar, assim, na conclusão
do contrato, como em sua execução, os princípios de probidade e boa-fé. Tal artigo retrata uma
das principais funções do princípio da boa-fé objetiva no direito civil, justamente a criação de
deveres anexos, colaterais, secundários nas relações privadas, como lealdade, cooperação,
informação correta, sigilo, ética, dentre outros. Estes deveres anexos incidem principalmente
na fase pré-contratual, que é a das tratativas preliminares, embora seja omisso a respeito o
Código Civil, no art. 422.
Por isso, os pretensos contratantes poderão responder civilmente por qualquer problema
relacionado a esta primeira fase, em caso de violação do princípio da boa-fé objetiva. Neste
sentido, aliás, estão os Enunciados n. 25 e 170, respectivamente, da I e III JDC.

ENUNCIADO 25
O art. 422 do Código Civil não inviabiliza a aplicação pelo julgador do princípio da boa-fé
nas fases pré-contratual e pós-contratual.
ENUNCIADO 170
A boa-fé objetiva deve ser observada pelas partes na fase de negociações preliminares
e após a execução do contrato, quando tal exigência decorrer da natureza do contrato.

Durante as conversações prévias ou tratativas preliminares, antecedentes à formação do


contrato, os contratantes devem pautar as suas condutas no princípio da boa-fé objetiva, ou
seja, agir com ética, sem frustrar as legítimas expectativas criadas na parte contrária.
Nesta fase, os candidatos ao contrato devem ser leais, honestos e probos, esclarecendo
um ao outro todas as circunstâncias do negócio jurídico. Trata-se de um dever jurídico gené-
rico (pois, ainda não há obrigação), decorrente da cláusula geral de boa-fé objetiva, materiali-
zada no art. 422 do CC. Este dever é imposto pelo ordenamento jurídico a todas as pessoas
de agirem com ética e terem um comportamento adequado e coerente. Em caso de violação
deste dever jurídico genérico (ou obrigação genérica) por qualquer das partes, o prejudicado
poderá exigir a devida compensação financeira, em caso de prejuízo econômico (dano mate-
rial) ou violação dos direitos decorrentes da personalidade (dano moral).
Como ainda não há contrato formado, a violação da ética na fase das negociações prelimi-
nares não caracteriza inadimplemento, mas pode ser fonte de responsabilidade civil, denomi-
nada extracontratual. Durante as tratativas, ainda não há proposta, mas apenas atos tendentes
a uma futura e possível proposta. Na proposta, um dos sujeitos exterioriza a vontade de contra-
tar, ao esboçar o projeto que pretende do futuro contrato, caso venha a se consumar.
A responsabilidade civil extracontratual possui como fonte a violação de um dever jurídico
genérico e a responsabilidade civil contratual tem como fato gerador ou fonte a violação de um
dever jurídico específico. O inadimplemento relaciona-se apenas com a violação de deveres
jurídicos específicos, pois pressupõe a existência de uma relação jurídica de direito material
prévia e preexistente entre os contratantes.
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No caso das negociações preliminares, como ainda não há relação jurídica de direito mate-
rial vinculando as partes previamente, eventuais violações de deveres jurídicos genéricos não
serão tratadas no âmbito do adimplemento ou inadimplemento do contrato e sim como mero
descumprimento de dever jurídico genérico, ou seja, o dever que todos têm de pautar o seu
comportamento, em qualquer negociação preliminar, na ética. Portanto, as partes, na fase de
negociações preliminares, possuem o dever jurídico genérico de agir com ética, honestidade,
probidade e lealdade. Caso este dever jurídico genérico seja violado nesta fase e se estiverem
presentes os pressupostos legais (nexo de causalidade e dano), poderá acarretar responsabi-
lidade civil extracontratual.
É o dano à confiança, relacionado aos interesses negativos (prejuízos relacionados à não
conclusão do contrato), decorrente do rompimento injustificado das tratativas preliminares
após gerar expectativas no outro contratante. A confiança é objeto de tutela também e, princi-
palmente, no âmbito das negociações preliminares.

3.1.2. Proposta

A proposta é a segunda fase no caminho para a formação do contrato. Ao contrário das


negociações preliminares, a proposta tem força vinculativa, pois já obriga o proponente a
cumpri-la.
O Código Civil disciplina a proposta nos art. 427 a 429 e, como mencionamos no início do
capítulo, o novo ordenamento civil traz como novidade a denominada proposta ao público.
A formação do contrato depende da coincidência de duas vontades convergentes em rela-
ção a um mesmo ponto, em que as partes desejem resultados e efeitos jurídicos bem defini-
dos, de acordo com seus interesses. No entanto, antes do acordo de vontades ou do consenso,
existe uma proposta dirigida a um sujeito determinado ou a sujeitos indeterminados. Neste
último caso, como acontece com a proposta ao público, prevista no art. 429 do CC.

Requisitos da Proposta

O Código Civil apenas prevê a força para a vinculação da proposta, mas não disciplina seus
requisitos. Para ter o poder de vincular o proponente ou policitante e ser qualificada como pro-
posta, esta declaração de vontade deve ostentar requisitos e pressupostos materiais e formais.
Em relação aos requisitos materiais, a proposta deve ser precisa, contendo os elementos
essenciais e estruturais do negócio jurídico a ser celebrado. Deve ser idônea, para a compre-
ensão de toda a extensão do futuro contrato, ou seja, exige-se que ela seja autossuficiente e
digna de receber a tutela do Estado. Ela vinculará o proponente apenas se for clara, com con-
tornos precisos e bem definidos, de fácil compreensão pelo destinatário. Proposta precisa é
aquela em que se dispensa qualquer outro elemento para a compreensão do negócio jurídico.
Ela basta por si.

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Além de precisa, a proposta deve ser revestida de seriedade. Os gracejos ou as propostas


em tom de brincadeira não possuem força para vincular. No momento da proposta, exige-se
do proponente conduta compatível com a natureza do negócio a ser seu objeto. A seriedade
variará conforme a natureza, a complexidade, a extensão, a estrutura, os limites e o contexto
social em que ela estiver sendo exteriorizada. Por ocasião da proposta, o proponente deve de-
monstrar, de forma inequívoca, a intenção de obrigar-se. A conduta, o comportamento, a forma
de proceder e de exteriorizar a proposta evidenciarão, no caso concreto, se ela é séria ou não.
A proposta, como declaração receptícia de vontade, deve ser endereçada a um destinatário
certo, individualizado. A proposta clássica ou individual impõe tal obrigação do proponente.
Este deve direcionar a sua proposta para um sujeito determinado, para fins de eventual aceita-
ção ou adesão a esta proposta. Todavia, em evidente inovação, o Código Civil passou a admitir
a proposta dirigida ao público em geral ou a sujeitos indeterminados. Esta proposta ao público
é objeto do art. 429 do CC.

Proposta ao Público

Segundo o disposto no art. 429 do CC, a oferta ao público equivale à proposta quando
encerra os requisitos essenciais ao contrato, salvo se o contrário resultar das circunstâncias
ou dos usos.
No artigo em destaque, o CC, claramente, diferencia a oferta da proposta. Se a oferta ao
público contiver os requisitos essenciais do contrato a ser eventualmente celebrado, sendo ela
precisa, com as bases estruturais do negócio jurídico, ou seja, objeto bem definido, condições
de preço e a forma de adimplemento da obrigação, será equiparada à proposta e produzirá o
mesmo efeito jurídico desta.
A única diferença entre a proposta ao público e a proposta individualizada é o seu destina-
tário. Na proposta individualizada, o destinatário é sujeito certo e determinado, personalizado e
individualizado. Na proposta ao público, no momento da sua formulação, o sujeito destinatário
é indeterminado. Em razão da indeterminação do destinatário, a proposta ao público comporta
reservas, as quais são incompatíveis com a proposta individualizada.
Por outro lado, se a oferta ao público não ostentar os requisitos essenciais de uma propos-
ta, pois desprovida dos requisitos essenciais do contrato, como definição precisa do objeto e
preço, será considerada mera oferta, não tendo caráter vinculante.

 Obs.: Por exemplo, se “A”, pessoa natural, anuncia seu veículo para venda nos classificados
de um jornal, estará fazendo uma oferta pública. Tal oferta pública será equiparada
à proposta se “A” inserir no anúncio todas as características do veículo, como ano,
cor, estado de conservação, quilometragem e, principalmente, o preço. Sendo estes os
requisitos essenciais do contrato de compra e venda, tal oferta pública será equipara-
da à proposta e, por isso, vinculará o proponente anunciante. No entanto, se no anún-

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cio, “A” não insere as características principais do veículo e o preço, será mera oferta
e, portanto, um convite para fazer proposta. “A” estará fazendo um convite geral, por
meio de uma oferta pública, sem vinculação, para, em seguida, realizar proposta indivi-
dualizada para o sujeito que se interessar pelo anúncio.

O art. 429 do CC, em seu parágrafo único, dispõe que “pode revogar-se a oferta pela mes-
ma via de sua divulgação, desde que ressalvada esta faculdade na oferta realizada”. A oferta
ao público, com os requisitos essenciais do contrato, ou seja, quando equiparada à proposta,
pode ser revogada também pelo mesmo meio ou modo de comunicação da oferta inicial, des-
de que tal possibilidade de revogação tenha sido ressalvada pelo proponente por ocasião da
oferta inicial. Com isso, terceiros não terão qualquer expectativa em relação à proposta públi-
ca, pois, de antemão, já têm ciência de sua precariedade.

O art. 429 do CC não se aplica às relações de consumo, mas apenas às relações privadas civis.
Quando se tratar de relação de consumo, a oferta ao público é vinculante e obrigatória, nos
termos do art. 30 do CDC (nestas, mesmo a oferta, sem os requisitos essenciais do contrato
de consumo, será capaz de vincular o proponente ou o fornecedor de serviços). Em relação de
consumo, em que os interesses são mais sensíveis, qualquer informação ou publicidade “sufi-
cientemente precisa”, embora defeituosa ou incompleta, vincula e obriga o fornecedor.

A oferta ao público, no Código Civil, para ser equivalente a uma proposta, tem um rigor for-
mal em relação aos seus requisitos. No sistema civil, a oferta pública deve ser também precisa,
ou autossuficiente e inequívoca, e firme ou séria.
Em relação à tutela, o CDC é mais amplo. Caso o fornecedor de produto ou serviço recuse-se
a cumprir a oferta ao público, o consumidor, de acordo com o art. 35, poderá exigir o cumpri-
mento forçado da obrigação (tutela específica), nos termos da oferta, aceitar outro produto ou
serviço equivalente ou rescindir o contrato, com direito à restituição de valores antecipados, sem
prejuízo das perdas e danos. Segundo o Código Civil, em caso de recusa do proponente em dar
cumprimento à proposta, o oblato ou aceitante terá apenas o direito de exigir perdas e danos.
Apenas para finalizar, cumpre ressaltar que a oferta ao público comportará reservas como dispo-
nibilidade de estoque, condições financeiras do pretenso aderente, podendo o proponente impor res-
salvas em relação à escolha da outra parte, desde que não se caracterize o abuso de direito nesta es-
colha. A recusa não pode ser arbitrária, ou seja, deve estar fundada e motivada em razões plausíveis.

3.1.3. Proposta e Vinculação: Regras e Exceções

A proposta também é conhecida como oferta, oblação ou policitação. Trata-se de declara-


ção receptícia de vontade, ou seja, é aquela em que sua eficácia depende de que seja levada
ao conhecimento do destinatário.

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Por isso, a proposta deve ser inequívoca (vontade incontestável de contratar) ou firme, pre-
cisa ou completa, pois a adesão do destinatário será suficiente para a formação do contrato. A
proposta deve retratar, na plenitude, o conteúdo e os elementos essenciais e substanciais do
contrato a ser celebrado. Com estas características, a proposta será capaz de obrigar e vincu-
lar o proponente, conforme dispõe o art. 427 do CC.
A proposta ainda não traduz contrato, mas, quando séria e completa, acarreta força vin-
culante para o policitante que a promove. Antes da aceitação (momento da formação do con-
trato), a proposta, precisa, inequívoca e clara, obrigará o proponente, salvo em três hipóteses
arroladas nos arts. 427 e 428 do CC.
• 1.ª Hipótese: A proposta não terá força para obrigar e vincular o proponente quando o
contrário resultar dos termos dela. A ausência de obrigatoriedade resultará dos termos
da própria proposta, tornando-a precária. Se o proponente insere na proposta cláusula
de não vinculação, informando ao destinatário o fato de a proposta realizada não ter
caráter vinculante, ela deixa de ser obrigatória. O proponente, diante desta cláusula de
arrependimento, terá o direito potestativo de dela desistir a qualquer tempo, sem supor-
tar nenhuma sanção civil.
• 2.ª Hipótese: A proposta também poderá perder o caráter obrigatório para o proponente,
dependendo da natureza do negócio. Trata-se de conceito jurídico indeterminado, passí-
vel de análise apenas no caso concreto. Há negócios os quais, pela sua própria natureza,
comportam ressalvas em relação à vinculação do proponente. O exemplo mais próximo
é a proposta ao público, prevista no art. 429 do CC. A proposta ao público vincula o pro-
ponente quando ostenta os requisitos essenciais do contrato a ser celebrado, mas tal
vinculação é relativa, principalmente diante do direito do proponente de escolher ou re-
cusar eventual interessado que não tenha condições financeiras ou técnicas de cumprir
o futuro contrato.
• 3.ª Hipótese: Além destas duas hipóteses previstas no art. 427 do CC (acima dispostas),
a proposta também deixará de ser obrigatória nas situações previstas no art. 428 do CC.
As quais explicaremos a seguir.

A proposta pode ser feita a pessoa presente ou a ausente. O sujeito (destinatário) presente
está em contato direto com o proponente, mesmo por telefone ou qualquer meio de comuni-
cação. Por outro lado, o ausente é a pessoa que não tem condições de exteriorizar a vontade
ou a resposta imediatamente ao proponente. O ausente, destinatário da proposta, não tem
qualquer relação com o instituto da ausência, prevista nos art. 22 a 39 do CC. Em termos de
proposta, ausente é a pessoa para quem a proposta é enviada para tomar conhecimento de
seu conteúdo, mas não tem condições de responder imediatamente. É a mera impossibilidade
de resposta imediata que caracteriza a pessoa como ausente.

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O art. 428 do CC arrola quatro situações nas quais a proposta deixará de ser obrigatória,
tudo a depender de o destinatário estar em contato direto (presente) ou não (ausente) com o
proponente.
− Inc. I: Se a proposta for feita sem prazo a pessoa presente e, não sendo imediatamen-
te aceita pelo destinatário, deixa de ser obrigatória. Considera-se presente, segundo
este dispositivo, a pessoa que contrata por telefone ou por meio de comunicação
semelhante (inclusive via internet, quando o proponente está conectado diretamente
com o destinatário da proposta). Nesta hipótese, não há prazo para a resposta e as
pessoas estão em contato direto. Se o destinatário não aceitar imediatamente, ou
seja, se a resposta positiva não for exteriorizada logo em seguida à proposta, esta dei-
xa de ser obrigatória. Embora não haja previsão legal (até porque não há sentido em
fixar prazo para a pessoa presente), a proposta pode ser feita à pessoa presente com
prazo e, neste caso, caducará se não for dada a resposta ou manifestada a aceitação
no prazo convencionado.
− Inc. II: A proposta feita para pessoa ausente (sujeito que não tem condições de dar
resposta imediata à proposta), sendo sem prazo, deixa de ser obrigatória se tiver de-
corrido tempo suficiente para chegar a resposta ao conhecimento do proponente. O
problema neste inciso será definir qual é esse tempo suficiente, denominado pela
doutrina de prazo moral, o qual deve ser razoável e variará conforme a complexidade
do negócio, a distância entre os sujeitos, o meio de comunicação utilizado para enviar
a proposta, a realidade social, dentre outras situações analisadas no caso concreto.
− Inc. III: Este inciso trata da proposta endereçada à pessoa ausente, mas com prazo
para resposta. O prazo torna objetiva a questão, fazendo menos complexa a libera-
ção do proponente. Desta forma, se feita com prazo à pessoa ausente, a proposta
deixa de ser obrigatória, se a resposta não tiver sido expedida dentro do prazo dado
pelo proponente. A oferta estipulada com prazo, cria, para o destinatário, a legítima
expectativa de que sua aceitação naquele termo vinculará as partes. Daí que a irre-
vogabilidade da oferta acompanhada de prazo de aceitação é uma consequência do
princípio da confiança e da necessidade de seriedade e segurança no tráfego jurídico
e a retirada da oferta antes do prazo conduz à obrigação de reparação de danos (Di-
reito dos contratos, p. 68).
− Inc. IV: Neste inciso, a lei faculta ao proponente o direito de arrepender-se da proposta
feita. A retratação do proponente somente terá eficácia se chegar ao conhecimento
do destinatário antes ou simultaneamente à proposta. A retratação neutraliza os efei-
tos da proposta. No entanto, é essencial que a retratação chegue ao conhecimento do
destinatário antes da proposta ou, pelo menos, simultaneamente. Nestes casos, esta
deixará de ser obrigatória. Portanto, a proposta não é irrevogável.

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3.1.4. Aceitação

A última etapa para a formação do contrato dá-se com a adesão incondicional do destina-
tário da proposta, denominada oblato ou aceitante, aos seus termos.
A aceitação, assim como a proposta, é uma declaração receptícia de vontade, pois sua efi-
cácia depende do conhecimento do destinatário da resposta, qual seja, do proponente. A pessoa
a que se destina deve, necessariamente, ter conhecimento da resposta ou aceitação, como con-
dição de eficácia jurídica. Portanto, não basta a aceitação, sendo essencial que a aceitação seja
realizada nos exatos termos da proposta e que chegue ao efetivo conhecimento do proponente.
A aceitação deve ser incondicional, ou seja, a proposta, quando formulada, não pode ficar
na dependência de nova declaração de vontade do aceitante. No caso, ou o aceitante adere in-
tegralmente à proposta e o contrato estará formado ou imporá alguma restrição, caso em que
estará elaborando novo proposta, convertendo o proponente primitivo e aceitante. Por isso, a
aceitação não pode vir acompanhada de restrições ou imposições. A adesão à proposta deve
ser integral. A divergência do oblato indica o dissenso sobre aspectos principais ou secundários
do negócio. Neste sentido, o art. 431 do CC dispõe sobre a aceitação fora do prazo, com adi-
ções, restrições ou modificações, que importará nova proposta. É a chamada contraproposta.
O oblato, no momento da adesão à proposta, aceitando-a integralmente e sem restrições,
faz nascer o contrato. O contrato é puramente um acordo de vontades. E este acordo de von-
tades materializa-se ou é consolidado no momento da adesão do oblato à proposta formulada
pelo proponente ou policitante. Aceita a proposta, está formado o contrato.
A resposta ou adesão à proposta pode ser expressa ou tácita (comportamento inequívoco
em que o aceitante demonstra a intenção de aderir integralmente à proposta). Segundo o art.
432 do CC,

se o negócio for daqueles em que não seja costume a aceitação expressa, ou o proponente a tiver
dispensado, reputar-se-á concluído o contrato, não chegando a tempo a recusa.

Tal dispositivo trata de duas situações distintas. Na primeira hipótese, é admitida a acei-
tação tácita naqueles negócios em que o costume dispensa a aceitação expressa, como, por
exemplo, quando sujeitos já têm o costume de realizar contratos sem prévia comunicação. O
sujeito envia a mercadoria e o destinatário já tem o costume de enviar os valores. A declaração
de vontade pode ser tácita quando a lei não a exigir expressa e o costume admiti-la. Nesses
casos, a aceitação de proposta não é uma declaração de vontade, mas um comportamento
com finalidade prática.
Além desta hipótese, o art. 432 do CC também ignora a aceitação expressa quando o pro-
ponente tiver dispensado. Neste caso, reputar-se-á concluído o contrato, não chegando a tem-
po a recusa. A aceitação deve ser oportuna ou formulada dentro do prazo, para ter força obri-
gatória. É comum naqueles casos em que o proponente marca um prazo para a aceitação do
oblato e, decorrendo o tempo de resposta negativa e não sendo o caso de aceitação expressa,
estará concluído o contrato.
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Aceitação sem Eficácia Jurídica

O art. 430 do CC arrola hipótese em que a aceitação ou a resposta é dada no prazo con-
cedido pelo proponente, mas não será suficiente para a formação do contrato. Segundo este
dispositivo, mesmo a resposta tendo sido expedida dentro do prazo, não se formará o contrato,
estando o proponente desobrigado, se “a aceitação, por circunstância imprevista, chegar tarde
ao conhecimento do proponente”.
Embora refira-se à aceitação, o art. 430 do CC trata de mais uma hipótese de desvinculação
ou liberação do proponente, a qual deve ser somada àquelas previstas nos art. 427 e 428 do
CC. Nesta nova hipótese, o aceitante responde no prazo, mas, por circunstância imprevista, a
resposta chega tarde ao conhecimento do proponente.
Ainda que desvinculado e desobrigado, o proponente tem a obrigação legal de comunicar o fato
imediatamente ao aceitante, sob pena de responder por perdas e danos. A proposta, nesse caso, per-
de a força vinculante, mas o proponente tem o dever de comunicar a ocorrência ao aceitante, como
desdobramento do princípio da boa-fé objetiva nas relações privadas. Como pondera Tepedino:

Se o aviso por parte do proponente se dá instantaneamente, todas as despesas eventualmente já realiza-


das pelo aceitante, convicto que estava de que a expedição da resposta dentro do prazo havia consumado
o contrato, são prejuízos que terão de ser arcados pelo próprio. (Código Civil interpretado, vol. 2)

Sendo negligente, deverá o proponente arcar com perdas e danos.

Retratação do Aceitante

O oblato ou aceitante, após a expedição da resposta, também possui o direito potestativo


de se retratar. A aceitação, assim como a proposta, não é irrevogável. O arrependimento é per-
mitido nestas declarações receptícias de vontade.
O art. 433 do CC considera inexistente a aceitação, se antes dela ou com ela chegar ao
proponente a retratação do aceitante. Por ser declaração receptícia de vontade, somente pro-
duzirá efeito quando chegar ao conhecimento do proponente. A retratação tem o poder de
neutralizar, por completo, a aceitação, como se esta jamais houvesse sido emitida, pois a lei
menciona a inexistência.

3.1.5. Lugar da Celebração do Contrato

O lugar do contrato é o local da proposta. Segundo o art. 435 do CC, “Reputar-se-á celebra-
do o contrato no lugar em que foi proposto”.
O contrato entre ausentes, segundo o art. 434 do CC, forma-se no momento e no local da
expedição, mas o lugar do contrato é o local em que a proposta foi feita! O legislador deveria
fazer coincidir o lugar do contrato com o lugar da consumação do contrato ou com a sua for-
mação, pois, somente a partir de então, produzirá efeitos jurídicos.

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Por ocasião da proposta, ainda não há contrato, mas apenas uma declaração de vontade
exteriorizada por sujeito desejoso em contratar. A formação do contrato depende da adesão
do destinatário a esta proposta. O momento da formação deveria ser o lugar do contrato e
não o lugar em que ele foi proposto. Enfim, esta é a disposição legal.
Caio Mário destaca, com o que concordamos, ser esta norma de natureza dispositiva “a
regra tem sentido supletório e não cogente, prevendo o que vier a ser estipulado por expres-
so” (Instituições de Direito Civil, Contratos, vol. 3).
O contrato, entre presentes ou entre ausentes (o CC não faz distinção), reputar-se-á cele-
brado no lugar da proposta. O lugar da celebração do contrato, ressalvada cláusula de elei-
ção de foro, tem relevância para fins de fixação de competência territorial.
A LINDB, considerando a circunstância dos contratantes residirem em países diferentes,
traz regra específica sobre o lugar da celebração destes contratos internacionais, o que é
objeto do direito internacional privado. O art. 9º da LINDB dispõe sobre a lei aplicável às obri-
gações e aos contratos. Como regra geral, a lei estabelece a aplicação da lei do país onde
forem constituídas as obrigações para reger os efeitos jurídicos destas. É a lei do lugar da
celebração da obrigação, onde foi constituída. No entanto, nos termos do §2º do artigo em
referência, a obrigação resultante do contrato reputa-se constituída no lugar em que residir
o proponente.
A lei aplicável é a do local onde a obrigação foi constituída. Mas, se a obrigação resultar
de um contrato (a obrigação pode ter várias fontes, entre elas, o contrato), reputa-se consti-
tuída a obrigação não no local da celebração (ou da constituição), mas no local onde residir
o proponente (na residência deste).

4. Contrato Preliminar – Promessa de Contrato


4.1. Introdução e Considerações Preliminares: Evolução Histórica e
Regulamentação no Ordenamento Jurídico Brasileiro
O contrato preliminar foi positivado no CC/02. Tal modalidade de contrato está discipli-
nada na seção que integra as disposições gerais sobre os contratos (Teoria geral dos contra-
tos), sendo objeto dos artigos 462 a 466 da Lei Civil atual.
O Código Civil de 2002 amplia o contrato preliminar e transcende a compra e venda, com
regras gerais sobre este contrato, relativas a requisitos e pressupostos, efeitos e modalida-
des (bilateral e unilateral).
O contrato preliminar também é conhecido como pré-contrato, promessa de contrato,
compromisso, contrato preparatório, dentre outros. O CC elimina esta multiplicidade de de-
nominações para designá-lo, simplesmente, como contrato preliminar.

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4.1.1. Definição de Contrato Preliminar

O contrato preliminar decorre de um acordo de vontades no qual as partes ou apenas uma


delas assumem a obrigação de concretizar os termos e as cláusulas pactuadas, consolidan-
do-se o definitivo.
Tal contrato não pode ser confundido com o contrato definitivo, conforme adiante será ana-
lisado. O contrato preliminar é um contrato autônomo e independente do contrato definitivo,
que tem por objeto a obrigação (de fazer) assumida por uma ou ambas as partes de concluí-
rem outro contrato, este sim o definitivo.
Por exemplo, a promessa de compra e venda é um contrato preliminar. Na promessa de
compra e venda, ambas as partes ou apenas uma delas assume o compromisso de celebrar o
contrato definitivo, qual seja, o contrato de compra e venda.
São várias as razões capazes de levar o sujeito a pactuar um contrato preliminar para, poste-
riormente, concluir o contrato definitivo, como dificuldades momentâneas para o cumprimento
de requisitos formais, ausência de recursos para quitação de tributos, liberação de financiamen-
tos bancários, necessidade de garantir o negócio rapidamente sem as amarras formais do con-
trato definitivo (o qual, normalmente, é mais solene e formal), restrições jurídicas de qualquer das
partes para a obtenção de documentos indispensáveis para o contrato definitivo, dificuldades
físicas, enfim, qualquer motivo impeditivo do contrato definitivo ou até mera conveniência.
A promessa de compra e venda, como típico contrato preliminar, é hoje uma realidade, pois
se disseminou intensamente no comércio jurídico brasileiro.
Em síntese, nas precisas palavras de Caio Mário, o contrato preliminar origina-se de um acor-
do de vontades em que ambas as partes ou apenas uma delas se comprometem a celebrar, mais
tarde, outro contrato, que será o definitivo (Instituições de direito civil, Contratos, vol. 3). É, por-
tanto, um contrato perfeito e acabado, dotado de autonomia em relação ao contrato definitivo.

4.1.2. Objeto

O contrato preliminar pode ter por objeto qualquer outro contrato, independentemente da sua
natureza jurídica. O contrato preliminar é classificado como consensual. Portanto, basta o acordo
de vontades para a sua formação e, em consequência, produção de efeitos jurídicos obrigacionais.

O que isso significa?

Os contratos podem ser consensuais, reais e formais. Para a formação do contrato real,
além do acordo de vontades, é indispensável a entrega da coisa (tradição). Um exemplo são
os casos de mútuo, depósito, comodato e contrato estimatório. Já em relação aos contratos
consensuais, a tradição não integra a fase de formação, mas a execução, momento posterior
e superveniente à formação. Por isso, a entrega ou tradição não interfere na formação do con-
trato consensual. Além disso, há os contratos consensuais formais e reais formais ou solenes.

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Teoria Contratual: Parte Geral – Parte I
Daniel Carnacchioni

O contrato preliminar é meramente consensual, ainda que tenha por objeto um contrato
definitivo consensual e formal ou real. Em primeiro lugar, é possível um contrato preliminar,
cujo objeto seja a celebração de um contrato definitivo real, como o mútuo (promessa de mú-
tuo), depósito (promessa de depósito), comodato (promessa de comodato) ou estimatório
(promessa de contrato estimatório). Em segundo lugar, é possível um contrato preliminar cujo
objeto seja um contrato definitivo consensual, mas formal ou solene.
Em relação a este segundo aspecto, temos um clássico exemplo: o contrato de compra e
venda é, em regra, consensual (art. 481 e 482 do CC). No entanto, a compra e venda de imóveis
de valor superior a trinta salários mínimos é formal, pois a escritura pública é requisito obri-
gatório de validade deste negócio jurídico (art. 108 do Código Civil). Neste caso, nada impede
um contrato preliminar ou uma promessa de compra e venda cujo objeto seja imóvel superior
a trinta salários mínimos, por instrumento particular.

Por quê?

O contrato preliminar é apenas consensual – não importa se o contrato definitivo é real


(formal ou informal) ou consensual e formal. O objeto ou conteúdo do contrato preliminar é
a elaboração de outro contrato, o definitivo, que, por sua vez, poderá ser de qualquer natureza
e espécie.

4.1.3. Contrato Preliminar e Negociações Preliminares

O contrato preliminar é dotado de autonomia jurídica em relação ao contrato definitivo,


com pressupostos e características próprias. Em razão desta autonomia, ele não se confunde
com as negociações preliminares.
No contrato preliminar, as partes comprometem-se a celebrar, mais tarde, outro contrato.
Há um acordo de vontades com finalidade específica e efeitos próprios deste pré-contrato. As
partes vinculam-se no contrato preliminar. As negociações preliminares, por outro lado, não
geram obrigações contratuais para as partes. A formação do contrato preliminar envolve as
mesmas fases do contrato definitivo: negociações preliminares, proposta e aceitação. As ne-
gociações preliminares integram a formação do contrato preliminar e só.
O contrato preliminar não é uma fase ou etapa do contrato definitivo. O seu objeto está
relacionado ao contrato definitivo (compromisso assumido pelas partes de pactuarem o con-
trato definitivo – obrigação de fazer outro contrato), mas tal fato não elimina a autonomia
jurídica do contrato preliminar. Tal contrato é qualificado como preliminar, porque já contém a
estrutura orgânica e os elementos essenciais do contrato definitivo, exceto eventual formali-
dade, mas seus pressupostos de constituição e os efeitos jurídicos próprios o distinguem do
pacto definitivo.

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Em resumo, as negociações preliminares integram a formação do contrato preliminar e do


contrato definitivo, sendo a primeira fase ou etapa destes pactos. Portanto, no contrato preli-
minar também há conversas prévias, contato inicial e aproximação antes da consumação ou
do acordo de vontades. As negociações preliminares também são essenciais para a formação
do contrato preliminar (razão pela qual não se confundem).

4.1.4. Pressupostos Requisitos

O contrato preliminar, para sua constituição e eficácia, deve ostentar elementos e requi-
sitos comuns a todos os negócios jurídicos, além de outros próprios, compatíveis com a sua
estrutura e finalidade.
Em relação aos requisitos comuns, o contrato preliminar também é um negócio jurídico e,
por esta razão, sua formação depende do preenchimento dos pressupostos de existência e
dos requisitos de validade dos negócios jurídicos em geral. Portanto, além de vontade, objeto
e forma (exteriorização da vontade), como requisitos substanciais de existência, o contrato
preliminar deve estar fundado em vontade livre e sem vícios, declarada por sujeito capaz e
legitimado. O objeto deve ser lícito, possível, determinado ou, ao menos, determinável e, final-
mente, sujeitar-se aos princípios sociais orientadores de toda a teoria contratual, sendo estes
os requisitos ou adjetivos que conferem validade ao contrato preliminar.
Em relação à forma ou à formalidade, faremos uma análise adiante. Portanto, são os mes-
mos pressupostos e requisitos de existência e validade de qualquer negócio jurídico.
No que tange aos elementos específicos, o contrato preliminar não pode ignorar os elemen-
tos essenciais para a formação do negócio almejado ou do contrato definitivo, exceto a forma,
nos termos do art. 462 do CC. Tal exigência está no art. 462 do CC: “O contrato preliminar, ex-
ceto quanto a forma, deve conter todos os requisitos essenciais ao contrato a ser celebrado”.
O contrato preliminar é dotado de autonomia estrutural em relação ao contrato definitivo.
Entretanto, considerando seu objeto, deve conter todos os elementos que seriam exigidos no
contrato definitivo, pois, em caso de inadimplemento, eventual sentença substitutiva da von-
tade das partes (art. 464 do CC), por ser um ato meramente processual, não poderia suprir, no
contrato preliminar, deficiências de direito material.
Por isso, não há dúvida de que o contrato preliminar deve ser um retrato do conteúdo subs-
tancial do contrato definitivo. Desta forma, deve especificar as características do bem, preço,
cláusulas especiais pertinentes, condições de pagamento, prazos, etc. O art. 462 do CC não
poderia ser mais claro quando diz que o contrato preliminar deve conter todos os requisitos
essenciais ao contrato a ser celebrado. As expressões todos e essenciais demonstram a co-
nexão entre o conteúdo do contrato preliminar e do contrato definitivo.
O único requisito ou elemento do contrato definitivo que se poderia dispensar no contrato
preliminar é a forma, conforme previsão expressa do art. 462 do CC. O contrato preliminar é,
por natureza, informal ou não solene. No entanto, a dispensa de formalidade não significa a

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dispensa de toda e qualquer formalidade. O art. 462 do CC deve ser interpretado de modo sis-
temático, a fim de ser harmonizado com as demais regras de direito civil, em especial na esfera
probatória. Algumas solenidades do contrato definitivo podem e devem ser dispensadas no
contrato preliminar, como o instrumento público, por exemplo. Todavia, alguma formalidade,
como o fato de ser escrito, talvez seja relevante para fins de prova e, por esta razão, não pode-
ria, simplesmente ser dispensada.
Na realidade, a intenção do legislador ao dispensar a forma no artigo 462 é afastar a neces-
sidade de instrumento público quando o contrato definitivo o exigir, não havendo intenção de
afastamento da forma meramente escrita por conta das regras sobre prova.
Em resumo: o contrato preliminar submeter-se-á aos pressupostos de existência, validade
e aos fatores de eficácia exigíveis para a análise de todo e qualquer negócio jurídico, que tem
no contrato sua fonte fundamental. Além disso, exige-se que tenha todos os requisitos do
contrato definitivo, pois o descumprimento gera uma decisão que produz os mesmos efeitos
do contrato definitivo. O ato processual não seria suficiente para sanar um defeito de direito
material, como o consentimento do cônjuge.
No que tange à exigibilidade, o art. 463 do CC apresenta requisito negativo: a ausência de
cláusula de arrependimento no contrato preliminar. Segundo o art. 463 do CC, concluído o con-
trato preliminar, com observância do disposto no artigo antecedente (462) e desde que nele
não conste cláusula de arrependimento, qualquer das partes terá o direito de exigir a celebra-
ção do definitivo, assinando prazo à outra para que o efetive.
Portanto, a conclusão do contrato preliminar dar-se-á com o preenchimento dos requisi-
tos genéricos e dos pressupostos específicos previstos no art. 462 do CC. Isso é o suficiente
para sua legitimidade, substância, conteúdo e estruturação orgânica. Todavia, se, além destes
requisitos de constituição, não houver cláusula de arrependimento, será possível a exigência
do cumprimento do contrato preliminar, por qualquer das partes, se bilateral, ou pelo credor, se
unilateral. A plena exigibilidade dependerá da ausência de cláusula de arrependimento ou da
impossibilidade de retratação. O direito de exigir a celebração do definitivo depende da ausên-
cia de cláusula de arrependimento.

A questão é, até quando poderá a parte se arrepender?

No contrato preliminar poderá haver um prazo e, nesse caso, deverá ser respeitado. Se não
houver prazo, o direito de arrependimento deverá ser efetivado em tempo razoável, que não im-
plique abuso de direito. O princípio da boa-fé objetiva não permite o exercício abusivo do direito
de arrependimento, razão pela qual o abuso poderá eliminar tal prerrogativa, neutralizando o
efeito da cláusula, garantindo a outra parte o direito de exigir o contrato definitivo. O direito de
arrependimento não poderá ser exercido se já consumada a execução do contrato ou, se ainda
não consumada, já estiver na iminência de se consumar. O caso concreto demonstrará se hou-
ve ou não abuso no exercício deste direito subjetivo de arrependimento.

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Por outro lado, há situações em que a aposição de cláusula de arrependimento no contrato


preliminar é expressamente vedada, como é o caso do art. 25 da Lei n. 6.766/1979, quando o
contrato preliminar versar sobre a aquisição de imóvel em loteamento urbano. Tal norma de
ordem pública não pode ser derrogada pelas partes. Trata-se de restrição à autonomia privada
no âmbito desta legislação.
Aliás, para alguns doutrinadores, a possibilidade ou não de retratação ou arrependimento
tem relação com as terminologias promessa e compromisso. A promessa seria a expressão
adequada para os contratos previstos no Código Civil, no qual o art. 463 permite a retratação
ou arrependimento. A expressão compromisso é diferente da promessa por não permitir a
retratação (art. 25 da Lei de Loteamentos). A retratação também seria vedada em relação aos
imóveis rurais, os quais continuam a ser regidos pelo Dec.-Lei n. 58/1937 (Súmula n. 166 do
STF: “É inadmissível o arrependimento no compromisso de compra e venda sujeito ao regime
do Dec.-Lei 58, de 10.12.1937”).

4.1.5. A Questão do Contrato Preliminar e Registro

As maiores controvérsias sobre o contrato preliminar estão relacionadas ao disposto no


parágrafo único do art. 463 do CC, cujo dispositivo, de forma impertinente e fora de contexto,
determina que o contrato preliminar seja levado ao registro competente. Segundo o art. 463,
parágrafo único, do CC: “O contrato preliminar deverá ser levado ao registro competente”.

Qual o significado desta disposição?

Neste ponto, o legislador retrocedeu de forma a prejudicar toda a construção jurispruden-


cial sobre a questão da necessidade ou não do registro em matéria de contrato preliminar. A
sentença substitutiva da vontade não pode, sob qualquer pretexto, ficar condicionada ao regis-
tro do contrato preliminar, quando o próprio legislador, no artigo 462, dispensa formalidades
mais intensas para a plena eficácia do contrato preliminar. O fato é que tal dispositivo ressus-
citou discussões que já estavam pacificadas.
Para entender tal artigo, deve-se fazer uma distinção entre a adjudicação compulsória,
de natureza real, e a ação de outorga de escritura, com efeitos meramente obrigacionais. Se
o contrato preliminar estiver registrado, o comprador terá direito à adjudicação compulsória,
com efeitos reais.
Já a promessa de compra e venda desprovida de registro, embora gere efeitos meramente
obrigacionais, pode ser objeto de execução específica (outorga de escritura pública, por exem-
plo). A vontade pode ser substituída no caso de inadimplemento para a confecção do contrato
definitivo. Em síntese, o STJ admite a execução específica, por meio da ação de outorga de
escritura, em relação à promessa de compra e venda desprovida de registro.

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Após a consolidação deste entendimento no âmbito do STJ, conforme retratado na Súmula


n. 239, o Código Civil retrocedeu ao fazer menção ao registro. Para adequar o Código Civil a
este entendimento jurisprudencial já consolidado e coerente com o sistema atual e, principal-
mente, com os efeitos obrigacionais do contrato preliminar, mesmo ausente o registro, passou-
-se a interpretar o parágrafo único do art. 463 do CC não como requisito para a exigibilidade do
contrato preliminar, mas como mero fato de eficácia perante terceiros. Nesse sentido está o
Enunciado n. 30, da I JDC, segundo o qual: “A disposição do parágrafo único do art. 463 do CC
deve ser interpretada como fator de eficácia perante terceiros”.
Com este entendimento, foi preservada toda a construção jurisprudencial sobre a promes-
sa de compra e venda (principal contrato preliminar), com admissão da execução específica e
outorga de escritura pública, mesmo ausente o registro competente. A única finalidade deste
registro seria dar publicidade ao contrato, para ter eficácia em relação a terceiros.

4.1.6. O Registro e a Questão do Disposto no Art. 1.418 Do CC

O registro não é requisito ou pressuposto de validade e eficácia do contrato preliminar (em


relação aos contratantes), como ressaltado. Ele apenas torna o contrato preliminar eficaz em
relação a terceiros, conferindo caráter real a este tipo de contrato.
Além disso, em razão do registro, no âmbito da promessa de compra e venda, se houver
inadimplemento, a parte prejudicada poderá ingressar com ação de adjudicação compulsória,
para fins de tutela específica (art. 464 do CC), cujo tema foi tratado no item relativo ao adim-
plemento e inadimplemento do contrato preliminar.
Estes são os possíveis efeitos do registro em relação ao contrato preliminar: eficácia em
relação a terceiros e possibilidade de adjudicação compulsória, com eficácia real (no caso de
promessa de compra e venda).
Em relação a este último efeito (adjudicação compulsória), há uma espécie de contrato
preliminar no qual o registro, somado a outros requisitos, acarretará o surgimento de um di-
reito real.

Qual seria este contrato preliminar?

A promessa de compra e venda de bem imóvel, o mais difundido e usual dos contratos
preliminares. Seria o contrato preliminar por excelência. O art. 1.225, VII, do CC, arrola como
espécie de direito real o “direito do promitente comprador do imóvel”. Tal direito real é discipli-
nado pelos artigos 1.417 e 1.418 do CC. Assim, se o objeto da promessa de compra e venda
for um bem imóvel, será possível a constituição de um direito real, desde que obedecidos os
requisitos do art. 1.417 do CC.

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O contrato preliminar ou a promessa, cujo objeto seja a compra e venda de imóvel, em que
não se pactuou cláusula de arrependimento e foi devidamente registrado junto ao CRI, além
dos efeitos obrigacionais, estará constituído o “direito real do promitente comprador”, expres-
samente previsto no art. 1.225, VII, do CC.
Portanto, o registro do contrato preliminar de compra e venda de imóvel, desde que ausen-
te cláusula de arrependimento, levará à constituição de um direito real. Por força deste direito
real, o promitente comprador poderá exigir de terceiros e do vendedor a outorga de escritura e,
em caso de recusa, a adjudicação compulsória, tudo nos termos do art. 1.418 do CC. Se o con-
trato preliminar de compra e venda de imóvel não for registrado, gerará efeitos meramente obri-
gacionais e, neste caso, aplicar-se-ão as regras gerais previstas nos artigos 462 a 466 do CC.
Em resumo, em relação ao contrato preliminar, cujo objeto seja a compra e venda de imó-
vel, a ausência de registro não impedirá a constituição e a plena eficácia da promessa, mas
gerará efeitos meramente obrigacionais. Neste caso, aplicam-se os artigos 462 a 466 do CC.
Se o contrato preliminar de compra e venda de imóvel for registrado, além de efeitos obriga-
cionais, o registro terá o condão de constituir o chamado direito real do promitente comprador
e possibilitará a adjudicação compulsória em relação a terceiros, inclusive nos termos do art.
1.418 da Lei Civil (sequela).
Por outro lado, em qualquer outro contrato preliminar, inclusive aquele que tenha por objeto
a compra e venda de bens móveis (os artigos 1.417 e 1.418 do CC aplicam-se apenas quando
o bem for imóvel), o registro apenas os tornará eficazes em relação a terceiros, gerando obriga-
ções, não sendo tal ato público suficiente para a constituição de direito real. A constituição do
direito real pelo registro somente tem relevância quando o contrato preliminar tiver por objeto
a compra e venda de imóvel.
O art. 1.418 do CC permite a adjudicação compulsória em caso de registro do contrato pre-
liminar de compra e venda de imóvel, ou seja, se houver a constituição do direito real, median-
te o preenchimento dos requisitos previstos no art. 1.417 do CC. Todavia, o art. 1.418 do CC
ostenta um erro substancial relevante, quando condiciona a constituição do direito real para
que o promitente possa exigir o cumprimento do contrato do promitente vendedor. Em relação
ao vendedor, para fins de tutela específica, não há necessidade da constituição do direito real.
Basta que o contrato preliminar gere efeitos obrigacionais, pois, neste caso, pode e deve ser
aplicado o disposto no art. 464 do CC.
Nesse sentido está o Enunciado n. 95, da I JDC:

SÚMULA N. 239 DO STJ


O direito à adjudicação compulsória (art. 1.418 do CC), quando exercido em face do pro-
mitente vendedor, não se condiciona ao registro da promessa de compra e venda no car-
tório de registro imobiliário.

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Apenas quando o pedido de adjudicação compulsória é manifestado em face de terceiros,


faz-se indispensável o direito real, em razão da sequela que o caracteriza. Por isso, perante
terceiros, para fins do art. 1.418 do CC, impõe-se o registro (Enunciado n. 253 da III Jornada: “O
promitente comprador, titular de direito real (art. 1.417 do CC) tem a faculdade de reivindicar
de terceiro o imóvel prometido à venda”).
A Súmula n. 239 do STJ também dispensa o registro para adjudicação compulsória de
imóvel (“O direito à adjudicação compulsória não se condiciona ao registro do compromisso
de compra e venda no cartório de imóveis”). A ausência do direito real constituído pelo registro
não impedirá o promitente comprador de exigir o cumprimento do contrato preliminar em face
do vendedor, com fundamento no art. 464 do CC, regra geral. Se não houver a constituição do
direito real, afasta-se a regra específica prevista no art. 1.418 do CC.
Em síntese, o registro do contrato preliminar, previsto no parágrafo único do artigo 463, não
é indispensável para a constituição deste contrato e para a sua plena eficácia. A ausência do
registro também não impedirá a exigibilidade do contrato definitivo, nos termos do artigo 464
do Código Civil. Tal registro, conforme os termos do Enunciado n. 30 da I JDC, apenas tornará
o pacto eficaz em relação a terceiros.
Em relação à promessa de compra e venda de imóvel, registra-se a relevante do STJ:

SÚMULA N. 543
Na hipótese de resolução de contrato de promessa de compra e venda de imóvel sub-
metido ao Código de Defesa do Consumidor, deve ocorrer a imediata restituição das par-
celas pagas pelo promitente comprador – integralmente, em caso de culpa exclusiva do
promitente vendedor/construtor, ou parcialmente, caso tenha sido o comprador quem
deu causa ao desfazimento.

4.1.7. Modalidades: Contrato Preliminar Bilateral e Contrato Preliminar


Unilateral

O Código Civil brasileiro prevê duas modalidades de contrato preliminar, em relação aos
efeitos. Quanto à formação, todo contrato preliminar é bilateral. Quanto aos efeitos, pode ser
bilateral ou unilateral.
O contrato preliminar de efeitos bilaterais é previsto no art. 463 do CC, quando este afirma
que qualquer das partes terá o direito de exigir a celebração do contrato definitivo. A expressão
qualquer das partes indica que as obrigações assumidas são recíprocas e interdependentes, ou
seja, que as partes são credoras e devedoras uma da outra. A reciprocidade de direitos e obriga-
ções desde a formação ou origem do contrato torna-o de efeitos bilaterais ou sinalagmáticos.
Nos contratos bilaterais, os contratantes são credores e devedores recíprocos. As obriga-
ções e os direitos são interdependentes e vinculados. Neles, a obrigação de um contratante é
a causa da obrigação do outro. Há uma dependência entre as obrigações, as quais se subordi-
nam reciprocamente.

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Por outro lado, o contrato preliminar de efeitos unilaterais está previsto no art. 466 do CC:

Se a promessa de contrato for unilateral, o credor, sob pena de ficar a mesma sem efeito, deverá
manifestar-se no prazo nela previsto, ou, inexistindo este, no que lhe for razoavelmente assinado
pelo devedor.

No contrato unilateral, não há reciprocidade ou correlação de obrigações. Em relação aos


efeitos, haverá um credor e um devedor. O contratante credor apenas é titular de direitos e o
contratante devedor de deveres jurídicos específicos (obrigacionais). Uma parte é detentora de
direitos e a outra apenas de obrigação.
Nesta hipótese, apenas uma das partes assume a obrigação de celebrar o contrato defi-
nitivo, ficando a outra livre para decidir se aceita ou não o contrato. A obrigação é apenas de
uma das partes. No caso, basta transportar todas as disposições do contrato unilateral para o
contrato preliminar unilateral.
Se a outra parte se recusar a celebrar o contrato pretendido, será cabível ação de emissão
de declaração de vontade, na forma do art. 464 do CC, podendo o juiz suprir a vontade do ina-
dimplente, conferindo caráter definitivo ao contrato preliminar. Aplica-se, portanto, ao contrato
preliminar unilateral, todas as normas relativas ao contrato preliminar bilateral.

4.1.8. Efeitos Jurídicos: Adimplemento e Inadimplemento

O contrato preliminar, devidamente concluído, com a observância de todos os requisitos


legais (pressupostos de existência, validade e condições para ter eficácia e estabelecimento
do conteúdo do contrato definitivo), produz efeitos jurídicos obrigacionais.
O adimplemento do contrato preliminar ocorrerá quando as partes contratantes cumprirem
as obrigações principais e secundárias do contrato. Tratam-se dos deveres de prestação e de
conduta. A obrigação principal, ou dever de prestação, será cumprida quando for materiali-
zado o contrato definitivo (o objeto do contrato preliminar é justamente a obrigação de fazer
outro contrato, o definitivo). A obrigação secundária, ou dever de conduta, está relacionada ao
princípio da boa-fé objetiva, que impõe às partes comportamento ético. Como visto, a conduta
honesta e a probidade passam a integrar a teoria geral do adimplemento. Em caso de violação
deste dever secundário, decorrente da boa-fé objetiva, pode caracterizar inadimplemento, ain-
da que a obrigação principal tenha sido cumprida.
No âmbito do contrato preliminar, as questões mais relevantes estão relacionadas às con-
sequências jurídicas previstas em lei para o caso de inadimplemento do contrato preliminar. O
assunto é disciplinado nos artigos 463, 464 e 465 do CC.
A Lei Civil, em considerável avanço, rompeu o antigo dogma de que não é possível exigir a
prestação de um fato, ao admitir, no art. 464 do CC, a tutela específica ou a possibilidade de
substituir a vontade da parte inadimplente, por meio de uma sentença judicial. Historicamente,
o inadimplemento de prestações de fatos (obrigação de fazer e não fazer) acarretava apenas
o dever de pagar perdas e danos.

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O Código Civil brasileiro, em matéria de contrato preliminar, rompe, em definitivo, com a


ideia da necessária vinculação do inadimplemento de obrigação de fazer ou de não fazer às
perdas e danos. Tal vinculação ainda é possível, mas agora em caráter subsidiário. Apenas se
não houver interesse do credor ou em caso de impossibilidade da tutela específica, a resolu-
ção da avença deve desaguar no rio poluído das perdas e danos. Ao contrário, havendo inte-
resse do credor e sendo possível a tutela específica, em substituição à declaração de vontade
da parte, deverá ser conferido, por sentença judicial, caráter definitivo ao contrato preliminar.
Esta possibilidade de substituição da vontade da parte inadimplente é prevista tanto na Lei
Civil, quanto no CPC, cujo diploma prevê uma regra geral aplicável a todas as obrigações de
emitir declaração de vontade, uma regra específica para a obrigação de concluir o contrato e
uma ainda mais especial referente à transferência de propriedade com contraprestação.
No CC, o art. 463 prevê a possibilidade de qualquer das partes (no contrato preliminar bi-
lateral) manifestar o direito de exigir da outra a celebração do contrato definitivo, assinando
prazo para o cumprimento das obrigações principal e secundária. Se a outra parte atender ao
pedido de cumprimento, haverá adimplemento e o contrato preliminar terá sido cumprido. No
entanto, em caso de recusa ou inadimplemento de qualquer das partes na promessa bilateral
ou do devedor no caso da promessa unilateral (art. 466 do CC), a parte prejudicada poderá optar
entre a tutela específica, prevista no artigo 464, ou perdas e danos, conforme o art. 465 do CC.
Em relação à tutela específica, dispõe o art. 464 do CC:

Esgotado o prazo, poderá o juiz, a pedido do interessado, suprir a vontade da parte inadimplente, con-
ferindo caráter definitivo ao contrato preliminar, salvo se a isto se opuser a natureza da obrigação.

Tal dispositivo, para sua plena eficácia, deve ser conjugado com as disposições do CPC
que tratam da possibilidade do ato processual (sentença substitutiva da vontade) produzir o
mesmo efeito da vontade

Na ação que tenha por objeto a emissão de declaração de vontade, a sentença que julgar proceden-
te o pedido, uma vez transitada em julgado, produzirá todos os efeitos da declaração não emitida.
(CPC, art. 501)

Este artigo possui íntima conexão com o disposto no artigo 464 do CC, o qual trata da
execução específica do contrato preliminar. Em caso de inadimplemento do contrato prelimi-
nar, conjugam-se os artigos 464 do CC e o 501 do CPC, para fins de tutela específica. A parte
que se comprometeu a concluir o contrato preliminar, não cumprindo a obrigação, poderá ser
demandada pelo prejudicado que, tendo interesse e sendo possível, poderá obter uma senten-
ça substitutiva da vontade do inadimplemento, a qual terá o mesmo efeito do contrato a ser
firmado. Como a sentença terá o mesmo efeito da vontade, o contrato preliminar, necessaria-
mente, deverá ostentar todos os elementos materiais e o conteúdo do contrato definitivo, pois
a sentença, como ato processual, não poderia suprir defeitos materiais no contrato preliminar.

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Portanto (e isso deve ficar bem claro), não é o caso de condenação à emissão de decla-
ração de vontade, mas de sentença substitutiva, a qual, na dicção do art. 464 do CC, conferirá
caráter definitivo ao contrato preliminar. A sentença substituirá a vontade do inadimplente, sen-
do dispensáveis atos posteriores de execução (executiva lato sensu). A sentença, de natureza
constitutiva, por si só, será suficiente para a confecção do contrato definitivo.
Em relação ao prazo assinado pela parte prejudicada pelo inadimplemento, previsto no art.
463 do CC, este não tem natureza processual. O contrato preliminar, na maioria das vezes, já
prevê um prazo para a conclusão do contrato definitivo.
Em caso de omissão sobre o prazo de conclusão do contrato definitivo, segundo o art. 463
do CC, “será assinado prazo à outra parte para que o efetive”. Para tanto, aplica-se o disposto
no art. 397 do CC, o qual trata da interpelação prévia para constituição em mora na obrigação
sem termo expresso ou certo de vencimento.
Ressalta-se que a existência de cláusula de arrependimento afasta a possibilidade de exe-
cução específica em relação ao contrato definitivo, pois um dos requisitos para as consequên-
cias previstas nos art. 464 e 465 do CC é a ausência de cláusula de arrependimento.
• Adjudicação compulsória e outorga de escritura

Para fins de tutela específica, nas promessas de compra e venda, qual a ação pertinente?

Há uma discussão intensa na doutrina e na jurisprudência relativas à identidade ou não


destas ações (adjudicação compulsória e outorga de escritura), para fins de execução especí-
fica do contrato preliminar. O STJ tem entendido que as ações possuem natureza diversa (Resp
195.236/SP). Para este tribunal superior, a adjudicação compulsória é cabível se o contrato
preliminar estiver registrado e a sentença, neste caso, levaria à transferência do direito real de
propriedade. Ausente o registro do contrato preliminar, a demanda seria de outorga de escritu-
ra pública, mas os efeitos seriam meramente obrigacionais.
Se assim considerarmos, haveria uma distinção em termos processuais. O pedido imedia-
to (provimento jurisdicional que se pretende obter) seria idêntico, mas haveria clara distinção
no pedido mediato das duas demandas (bem jurídico a ser tutelado): constituição de relação
jurídica meramente obrigacional na outorga de escritura e constituição de direito real na adju-
dicação compulsória.
• Perdas e danos

Por outro lado, em três situações a tutela específica poderá ser substituída pelas per-
das e danos.
Em primeiro lugar, se a natureza da obrigação não permitir a tutela específica. Tal situação
é ressalvada no art. 464 do CC. Por exemplo, nos casos de inadimplemento de obrigações
personalíssimas ou prestações de fazer infungíveis, haverá a resolução do contrato preliminar

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com o pagamento de perdas e danos. A prestação infungível é aquela em que o objeto só é


exequível pelo próprio devedor, em razão de suas qualidades essenciais. Na obrigação de fazer
infungível, embora o resultado seja relevante, o fato preponderante do contrato é a qualidade
pessoal do devedor. Por isso, neste caso, em caso de inadimplemento, o devedor incorrerá na
obrigação de pagar perdas e danos, ficando vedada a tutela específica.
Segundo o art. 247 do CC, o qual trata da prestação infungível, “incorre na obrigação de
indenizar perdas e danos o devedor que recusar a prestação a ele só imposta, ou só por ele
exequível”. Isso não significa que o devedor não possa ser constrangido, por meio de multa di-
ária, por exemplo, a cumprir prestação infungível, como a realização de um serviço ou trabalho
qualquer. No entanto, se a multa não for suficiente para convencê-lo a cumprir a prestação, não
será possível substituir o seu trabalho por outro a ser executado por terceiro. Restará apenas a
vala comum das perdas e danos.
A segunda exceção está relacionada à impossibilidade, superveniente à formação do con-
trato, do cumprimento da obrigação. Nesse caso, haverá substituição da tutela específica por
perdas e danos em caso de impossibilidade superveniente em relação ao cumprimento da
prestação. A impossibilidade física e superveniente à formação do contrato, absoluta (irreali-
zável por qualquer pessoa) ou relativa (irrealizável apenas pelo devedor), se for imputável ao
devedor, levará à indenização por perdas e danos. A pessoa que se compromete a prestar um
serviço por meio de contrato preliminar e, por sua exclusiva culpa, torna impossível a consu-
mação do contrato definitivo pela impossibilidade de realização do serviço, submete-se ao
pagamento de perdas e danos.
A terceira e última exceção vem prevista no art. 465 do CC e diz respeito à ausência de
interesse da parte prejudicada pelo inadimplemento: “Se o estipulante não der execução ao
contrato preliminar, poderá a outra parte considera-lo desfeito, e pedir perdas e danos”.
Nesta situação, o credor não tem interesse na execução específica da obrigação pactuada
e, por esta razão, o Código dá-lhe a prerrogativa de desfazer o contrato, exigindo perdas e da-
nos em decorrência do inadimplemento da outra parte.
Tal dispositivo deve ser analisado com a devida cautela, pois tal faculdade de opção não
poderá ser arbitrária, em violação aos princípios da função social e boa-fé objetiva. Se for pos-
sível a execução específica e, sendo tal contrato de interesse não só das partes, mas também
de terceiros que dele dependam, fica obstada a prerrogativa para, em atendimento à função
social do contrato, ser exigida a tutela específica, até porque a sentença substitutiva da vonta-
de da parte é um mecanismo rápido e eficaz para a conclusão do contrato definitiva.

 Obs.: Por exemplo, “A” e “B” celebram contrato preliminar de compra e venda. “A” é o compra-
dor e no local irá construir uma escola. Se “B” recusar-se a assinar o contrato definitivo
de compra e venda, lavrando a respectiva escritura pública, em regra, “A” poderá optar
pela resolução do contrato preliminar e por perdas e danos (art. 465 do CC).

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No entanto, se terceiros já adquiriram terrenos nas proximidades em função daquele em-


preendimento, confiando no projeto de “A”, este não poderá optar pela resolução do contrato
com perdas e danos, pois o contrato definitivo repercutirá na esfera jurídica de terceiros e, em
razão disso, a função social deste pacto imporá a tutela específica.
Além disso, o princípio da boa-fé objetiva impõe limites éticos ao exercício de direitos sub-
jetivos. Em caso de abuso no exercício destes direitos, haverá violação do princípio da boa-fé
objetiva, nos termos do art. 187 do CC. Dessa forma, embora a parte prejudicada tenha o di-
reito subjetivo de optar pelas perdas e danos, no caso concreto, tal opção poderá caracterizar
abuso de direito.
Por isso, o direito de resolução do contrato preliminar com perdas e danos deve ser anali-
sado à luz dos princípios da função social e boa-fé objetiva, limitadores da autonomia privada
e, em especial, do referido direito de opção. Apenas no caso concreto será possível apurar
eventual violação destes princípios, caso tal opção seja manifestada.

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RESUMO
1. Noções Gerais sobre Contrato

Contrato no Estado liberal: acordo de vontades com a finalidade de produzir efeitos jurídi-
cos obrigacionais: vontade como único fundamento. Tal modelo justificava-se por uma neces-
sidade política da classe burguesa. Ausência de preocupação com o ser humano.
As transformações das relações jurídicas da sociedade do século XX, o incremento da in-
dustrialização e o surgimento do consumo de massa dão ao contrato uma nova conformação.
A vontade, paradigma do liberalismo, paulatinamente é substituída pela moderna concepção
de justiça social.
O estudo do contrato moderno deve ser orientado e baseado nos princípios constitucionais
da dignidade da pessoa humana, solidariedade social e igualdade substancial.
Somente terá tutela estatal e legitimidade se preservar a dignidade dos sujeitos contratan-
tes e de terceiros dele não integrantes, mas cujos efeitos possam repercutir em suas esferas
jurídicas, deve existir a mútua cooperação entre os contratantes em decorrência do dever de
solidariedade e a relação contratual deverá ser equilibrada ou guardar a devida equivalência.
Este novo contrato tem como primado a justiça social e não mais a vontade. O individualis-
mo cede espaço para a cooperação e a solidariedade nas relações privadas.
O contrato assume caráter instrumento. É instrumento para a concretização de questões
existenciais, em especial o desenvolvimento da personalidade da pessoa humana, nos seus
mais variados aspectos, não sendo fim em si mesmo.
Contrato: acordo de duas ou mais vontades (negócio jurídico bilateral e formação), declaradas
em consonância com a lei, com a finalidade de produzir efeitos jurídicos obrigacionais e existenciais,
cujas vontades exteriorizadas terão tutela estatal se as partes estiverem de boa-fé (tutela interna do
crédito) e o ajuste conformar-se com o princípio da função social (tutela externa do crédito).
Nesta nova concepção, o contrato deverá levar em conta valores existenciais atinentes à
proteção da dignidade da pessoa humana. O contrato é baseado em valores constitucionais,
privilegia as situações existenciais e faz com que os efeitos da relação jurídica sejam transcen-
dentes. O contrato passa a ter um fundamento constitucional (art. 170 da CF/1988).
Definição moderna de contrato: primazia da justiça social. A sua referência normativa é a
Constituição Federal.
A solidariedade constitucional adicionou à autonomia privada a companhia de outros três
princípios: boa-fé objetiva, função social e justiça ou equilíbrio contratual. Estes princípios valori-
zam a autonomia privada. Há uma convivência simultânea e uma interação entre estes princípios.
O contrato é espécie de fato jurídico por ser o principal instrumento de viabilização dos
negócios jurídicos, sendo considerado o negócio jurídico por excelência. O contrato, como tipo
ou espécie de negócio jurídico, é um fato (evento humano) jurídico (com repercussão jurídica).

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Por ser um negócio jurídico bilateral (para sua formação é indispensável a junção ou con-
vergência de duas vontades), aplica-se ao contrato toda a teoria do negócio jurídico. Fato jurí-
dico equivale a evento mais norma jurídica.
O evento, no caso do contrato, é uma declaração de vontade. Se a norma jurídica tutelar
esta vontade exteriorizada, atribuindo-lhe efeitos jurídicos, estaremos diante de um negócio
jurídico. Se este negócio jurídico, para ser formado e produzir efeitos, necessitou da junção
ou da convergência de duas ou mais vontades, estaremos diante de um contrato. O contrato
sempre será negócio jurídico bilateral. O fundamento do contrato é a vontade, sem a qual este
não existe.
O contrato: acordo de vontades com a finalidade de produzir efeitos jurídicos obrigacionais.
O contrato é espécie do gênero negócio jurídico e, quanto à formação, é sempre bilateral ou
plurilateral, por exigir a presença de duas ou mais pessoas para se constituir.

2. Princípios Contratuais – Clássicos e Contemporâneos


• Autonomia da vontade - artigos 421 e 425, do CC: é o símbolo do liberalismo predomi-
nante no século XIX, é a liberdade de contratar ou não, de fixar o conteúdo do contrato,
de escolher com quem contratar e a forma da contratação. É a liberdade de exteriorizar
a vontade ou de agir com eficácia jurídica. A autonomia privada é a concessão de poder
para esta vontade, cujo poder se materializa no espaço livre deixado pelo Estado, a fim
de que os sujeitos possam regular os seus próprios interesses. É o poder de regulação.
A liberdade contratual será exercida nos limites do princípio da função social dos contra-
tos, o que evidencia a nova conformação da autonomia da vontade a valores mais caros
e sensíveis da sociedade contemporânea. O artigo 425 permite que as partes estipulem
contratos atípicos, desde que sejam observadas as normas gerais impostas pela legis-
lação, como função social, boa-fé objetiva, igualdade substancial.
• Obrigatoriedade (pacta sunt servanda): é uma decorrência lógica e necessária do prin-
cípio da autonomia privada. O contrato tem força obrigatória, desde que esteja confor-
mado com os novos valores sociais constitucionais e os princípios contemporâneos da
teoria contratual, os quais conferem ao princípio da força vinculante dos contratos um
novo caráter ou uma nova concepção. O fundamento da obrigatoriedade deixa de ser a
vontade e a lei (de acordo com os positivistas) para ser a justiça contratual, que torna o
pacto um processo dinâmico, funcional, complexo, em que as partes, de forma coopera-
tiva, agregam ao conteúdo do contrato um significado de justiça e utilidade.
• Relatividade dos contratos: também é uma decorrência da concepção individualista e
egoísta que fundamentou as relações jurídicas privadas durante o Estado liberal. O con-
trato apenas gera efeitos jurídicos obrigacionais aos contratantes, não podendo prejudi-
car ou beneficiar terceiros que não integraram a relação jurídica contratual. A funcionali-
zação do contrato, o caráter de interatividade com a coletividade e a transcendência dos

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efeitos acabaram por mitigar, e muito, o princípio da relatividade. Para que o contrato te-
nha tutela estatal, é essencial que tenha um significado social, uma função social e uma
utilidade coletiva. Não basta que os interesses econômicos dos contratantes sejam pre-
servados, é essencial que o contrato não repercuta, de forma negativa, na coletividade.
O responsável por esta revolução em relação ao princípio da relatividade é o princípio da
função social dos contratos. Tal fato tem, como consequência, por exemplo, possibilitar
que terceiros que não são propriamente parte do contrato possam nele influir, em razão
de serem por ele atingidos de maneira direta e indireta.
• Princípio do consensualismo: o acordo de duas ou mais vontades é suficiente para o
aperfeiçoamento e a formação de um contrato. O contrato, no liberalismo, formava-se
pelo mero consenso (acordo de vontades). Com o fim do liberalismo e a imposição de
deveres de prestação ao Estado, foi construída uma nova teoria contratual, forjada em
valores sociais constitucionais, fato que torna possível o reconhecimento de direitos
fundamentais aos contratantes, desde a formação, durante a execução e mesmo após
a extinção dos contratos. São princípios contemporâneos (função social dos contratos
e boa-fé objetiva – tutela da confiança).
• Contrato e o princípio da função social: no liberalismo, a função social do contrato rela-
ciona-se com a circulação de riquezas. No Estado social e democrático, com viés inter-
vencionista, contrato deve se ajustar aos valores constitucionais voltados para a tutela
e proteção do ser humano. As questões existenciais passam a preponderar sobre situa-
ções de caráter patrimonial e o contrato torna-se instituto fundamental para a concretiza-
ção do princípio da dignidade humana, ainda que mantenha sua finalidade econômica. O
contrato deixa de ser fim em si mesmo, para ser instrumento ou meio de proteger e tute-
lar as questões existenciais (em paralelo às patrimoniais), da pessoa humana. Tal função
social impõe a conciliação entre questões existenciais da pessoa humana e os princípios
da livre iniciativa. A função social integra o conteúdo do contrato, legitima-o e justifica-o.
Em razão da função social, os efeitos do contrato transcendem a relação jurídica entre os
contratantes, para repercutir na esfera de terceiros, seja para protegê-los (quando vítimas
da relação contratual) ou para sancioná-los (quando aliciam um dos contraentes). A pro-
teção dos contratantes contra ação ilícita de terceiro ou do terceiro contra os efeitos de
um contrato é o que se convencionou denominar de “tutela externa do crédito”.
• A função social e os limites para a autonomia privada: A autonomia privada confere às
partes o poder de regular seus próprios interesses. Este poder é restringido pelo prin-
cípio da função social. Para que o contrato atinja a sua necessária função social, os
contratantes devem abster-se de inserir no contrato cláusulas que violem os valores
constitucionais (limite negativo), bem como incluir no pacto cláusulas essenciais para
que o contrato possa atingir a sua necessária função social (limites positivos). A função
social do contrato renova e valoriza o princípio da autonomia privada.

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• A função social e a sua relação com os princípios clássicos: O princípio da função social
não elimina, mas mitiga ou reduz o alcance dos princípios contratuais clássicos: auto-
nomia da vontade, obrigatoriedade dos contratos e relatividade. Em razão dos limites
positivos e negativos impostos pelo princípio da função social, a autonomia privada ou
poder de regulação passa a se subordinar aos valores constitucionais já assinalados.
O contrato é obrigatório apenas se o seu conteúdo estiver afinado com os princípios
constitucionais que o fundamentam. Tais valores constitucionais condicionam a obri-
gatoriedade do pacto. Quanto à relatividade, a função social interage com o princípio da
relatividade para mitigá-lo. O contrato não é mais uma relação enclausurada entre dois
sujeitos, mas uma relação jurídica cooperativa com repercussão social.
• Função social - eficácia interna e externa do contrato: na relação com o princípio da re-
latividade, verifica-se a maior transformação provocada pelo princípio da função social.
No âmbito interno, complementa o princípio da boa-fé objetiva.
− Eficácia externa ou tutela externa do crédito: a função social torna o contrato “inte-
rativo”, pois tal negócio jurídico interage com a coletividade de um modo geral; os
interesses privados de terceiros não integrantes da relação contratual estarão asse-
gurados caso aquele contrato venha a repercutir negativamente na esfera jurídica dos
mesmos.
− Interesses transindividuais: no caso dos interesses transindividuais, em razão da efi-
cácia externa decorrente da necessária função social do contrato, caso este viole tais
interesses difusos ou coletivos, qualquer dos legitimados do artigo 82 do CDC poderá
pleitear a invalidação, a ineficácia ou a conformação do contrato aos valores consti-
tucionais para que ostente a função social imposta pela lei.
− Terceiro ofendido: um sujeito qualquer, estranho e alheio à relação jurídica de direito
material (contrato), vê o seu direito subjetivo violado ou lesado (por isso se diz tercei-
ro “ofendido”) por um contrato.
− Terceiro ofensor: é o sujeito que interfere ilicitamente em uma relação contratual em
pleno processo de execução, causando o inadimplemento desta. A eficácia externa
impõe que terceiros ou a coletividade abstenham-se de violar os direitos dos contra-
tantes, mediante interferências indevidas. Caso isso ocorra, este terceiro ofensor será
penalizado.
• Princípio da boa-fé objetiva e tutela da confiança como direito fundamental: A confiança
foi elevada à categoria de direito fundamental nas relações privadas, em decorrência do
princípio da boa-fé objetiva. A boa-fé objetiva pressupõe uma relação jurídica capaz de
vincular duas ou mais pessoas e, como uma de suas principais funções, impõe mútuo
dever de conduta ou padrão de comportamento compatível com o ato ou negócio a ser
levado a efeito. A boa-fé objetiva assumiu a condição de valor supremo, fundado nos prin-
cípios da solidariedade social e da dignidade da pessoa humana. Em razão destes prin-

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cípios, impõe-se aos sujeitos conduta proba, honesta e correta, de modo a não frustrar a
confiança alheia neste comportamento. O princípio da boa-fé objetiva surge como corolá-
rio da proteção à dignidade da pessoa humana e serve como parâmetro para verificar se
o pacto é apto a atender as legítimas expectativas daqueles que contratam, tendo como
fundamento os princípios constitucionais orientadores das relações privadas. A proteção
da confiança, categoria especial de direito fundamental, é essencial para a credibilidade
e a plena efetividade das relações privadas. A confiança é norteada pelos valores mais
caros da república: dignidade da pessoa humana e solidariedade social. A boa-fé objetiva
representa a confiança adjetivada, uma crença efetiva no comportamento alheio, é um
princípio em constante transformação, que deve sempre ser adaptado aos valores da
sociedade no tempo do contrato. É princípio que materializa e concretiza no mundo dos
fatos o paradigma da eticidade. Proibição do comportamento contraditório (venire contra
factum proprium), supressio (verwirkung), surrectio (erwirkung) e tu quoque.
− Venire contra factum proprium: veda o comportamento contraditório e a incoerência
do sujeito em determinada relação privada. Tutela da confiança do sujeito que acredi-
tou no comportamento inicial da outra parte.
− Supressio: supressão de direitos ou de situações jurídicas em função de um determi-
nado comportamento, de uma omissão, que gera na outra parte uma legítima expec-
tativa de que o sujeito omisso não tem mais interesse no direito.
− Surrectio: surgimento de um direito, aquisição de um direito e razão do comporta-
mento continuado da outra parte.
− Tu quoque: representa a adoção de critérios diferentes para situações assemelhadas.
• Duty to mitigate the own loss: ligação com o princípio da boa-fé objetiva, na realidade,
sendo dele decorrente. Constitui um dever de natureza acessória, anexo, decorrente da
boa conduta que deve existir entre os negociantes. É uma conduta omissiva e abusiva
do titular de um direito subjetivo, o qual, diante do inadimplemento do parceiro contratu-
al, não adota o comportamento esperado dos credores em situações desta natureza (a
exigência do direito). Ao contrário, retarda, abusivamente, o exercício do direito subjetivo
com a finalidade de aumentar o passivo do seu parceiro. Segundo o Enunciado n. 169,
da III Jornada: “Art. 422. O princípio da boa-fé objetiva deve levar o credor a evitar o agra-
vamento do próprio prejuízo”.
• Princípio do equilíbrio contratual ou equivalência material: O equilíbrio contratual é uma
especialização ou vertente da cláusula geral da função social dos contratos. O contrato
ostentará função social quando a relação jurídica material e substancial for equilibrada
economicamente. O contrato deve nascer equilibrado e permanecer nesta condição du-
rante todo o processo obrigacional até o efetivo inadimplemento.
− Aspecto subjetivo: leva em conta a identificação do poder contratual dominante das
partes e a presunção legal de vulnerabilidade.

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− Aspecto objetivo: considera o real desequilíbrio de direitos e deveres contratuais, que


pode estar presente na celebração do contrato ou na eventual mudança do equilíbrio
em virtude de circunstâncias supervenientes que acarretem a onerosidade excessiva
para uma das partes

3. Formação dos Contratos Paritários. Fases de Formação


• Em relação à formação, o contrato sempre será negócio jurídico bilateral (ou plurilateral),
dependerá da junção de vontades ou do encontro de duas declarações convergentes de
vontade para se formar e produzir efeitos jurídicos.
• Em relação aos efeitos e, pressupondo a formação do contrato, este negócio jurídico
poderá ser bilateral ou unilateral. No contrato bilateral, há reciprocidade de direitos e
obrigações, sendo que a obrigação de um dos contratantes é a causa da obrigação do
outro. No contrato de efeito unilateral, uma parte somente terá direitos e outra apenas
suporta obrigações. Neste último caso, não há reciprocidade de direitos e obrigações.

A formação do contrato pressupõe fases ou etapas, as quais podem ser divididas em três:
negociações preliminares, proposta e aceitação.
• Negociações preliminares: primeira fase para o aperfeiçoamento do vínculo obrigacio-
nal. Representam as conversações prévias antecedentes à formação do contrato, não
há deveres jurídicos contratuais, pois ainda não há contrato. Esta fase de conversas
prévias, sondagens, aproximação, contatos preliminares e debates não vincula ou obriga
as partes. Em função do princípio da boa-fé objetiva, há deveres jurídicos éticos a serem
observados, sob pena de responsabilidade civil em decorrência da violação deste princí-
pio. Os contratantes são obrigados a guardar, tanto na conclusão do contrato, como em
sua execução, os princípios de probidade e boa-fé. Como ainda não há contrato forma-
do, a violação da ética na fase das negociações preliminares não caracteriza inadimple-
mento, mas pode ser fonte de responsabilidade civil, denominada extracontratual.
• Proposta: é a segunda fase no caminho para a formação do contrato. Tem força vincula-
tiva, pois já obriga o proponente a cumpri-la. Antes do acordo de vontades ou do consen-
so, existe uma proposta dirigida a um sujeito determinado ou a sujeitos indeterminados.
− São requisitos da proposta os requisitos materiais: a proposta deve ser precisa, con-
tendo os elementos essenciais e estruturais do negócio jurídico a ser celebrado; deve
ser idônea, para a compreensão de toda a extensão do futuro contrato. A proposta
vinculará o proponente apenas se for clara, com contornos precisos e bem definidos,
de fácil compreensão pelo destinatário.
− Proposta precisa: aquela em que se dispensa qualquer outro elemento para a com-
preensão do negócio jurídico. Ela basta por si. A proposta deve ser revestida de serie-
dade. Como declaração receptícia de vontade, deve ser endereçada a um destinatário
certo, individualizado.

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− Proposta ao público: a oferta ao público equivale à proposta quando encerra os requi-


sitos essenciais ao contrato, salvo se o contrário resultar das circunstâncias ou dos
usos. Se a oferta ao público contiver os requisitos essenciais do contrato a ser even-
tualmente celebrado, sendo ela precisa, com as bases estruturais do negócio jurídico,
ou seja, objeto bem definido, condições de preço e a forma de adimplemento da obri-
gação, será equiparada à proposta e produzirá o mesmo efeito jurídico desta. A dife-
rença entre a proposta ao público e a proposta individualizada é o seu destinatário.
− Proposta individualizada: o destinatário é sujeito certo e determinado, personalizado
e individualizado.
− Proposta ao público: no momento da formulação da proposta, o sujeito destinatário
é indeterminado.

Art. 429 do CC - pode revogar-se a oferta pela mesma via de sua divulgação, desde que ressalvada
esta faculdade na oferta realizada.

O art. 429 do CC não se aplica às relações de consumo, mas apenas às relações privadas civis.
Quando se tratar de relação de consumo, a oferta ao público é vinculante e obrigatória, nos
termos do art. 30 do CDC.

• Proposta e vinculação: declaração receptícia de vontade, ou seja, é aquela em que sua


eficácia depende de que sejam levadas ao conhecimento do destinatário, também é co-
nhecida como oferta, oblação ou policitação. A proposta deve ser inequívoca (vontade
incontestável de contratar) ou firme, precisa ou completa, pois a adesão do destinatário
será suficiente para a formação do contrato. Deve retratar, na plenitude, o conteúdo e
os elementos essenciais e substanciais do contrato a ser celebrado. Se possuir essas
características será capaz de obrigar e vincular o proponente. Antes da aceitação (no
momento da formação do contrato), a proposta, precisa, inequívoca e clara, obrigará o
proponente, salvo em três hipóteses - art. 427 e 428 do CC:

1. Quando o contrário resultar dos termos dela;


2. Dependendo da natureza do negócio;
3. Art. 428 do CC:
− Inc. I: se a proposta for feita sem prazo a pessoa presente e, não sendo imediatamen-
te aceita pelo destinatário, deixa de ser obrigatória.
− Inc. II: a proposta feita para pessoa ausente (sujeito que não tem condições de dar
resposta imediata à proposta), sendo sem prazo, deixa de ser obrigatória se tiver de-
corrido tempo suficiente para chegar a resposta ao conhecimento do proponente.

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− Inc. III: este inciso trata da proposta endereçada a pessoa ausente, mas com prazo
para resposta.
− Inc. IV: faculta ao proponente o direito de se arrepender da proposta feita. A retrata-
ção do proponente somente terá eficácia se chegar ao conhecimento do destinatário
antes ou simultaneamente à proposta.

A questão da morte do proponente antes da resposta: feita a proposta e aceita pelo desti-
natário, já há contrato formado e, neste caso, obviamente, em caso de morte de qualquer dos
contratantes, os herdeiros estarão obrigados, nos limites da herança.

Se, após a realização da proposta e antes da aceitação (portanto, antes da formação do


contrato), o proponente vier a falecer, os herdeiros do proponente se vinculam aos termos
da proposta?

Diante do princípio da boa-fé objetiva e o fato das vontades exteriorizadas gerarem expec-
tativas legítimas na esfera jurídica do destinatário da proposta, não tendo caráter personalís-
simo, a proposta vincula os herdeiros do proponente, limitada às forças da herança. Somente
não vinculará os herdeiros se o futuro contrato for intuito personae, ou seja, tiver caráter per-
sonalíssimo ou se o oblato estiver de má-fé.
• Aceitação: a última etapa para a formação do contrato é uma declaração receptícia de
vontade, pois sua eficácia depende do conhecimento do destinatário da resposta, qual
seja, o proponente. O oblato, no momento da adesão à proposta, aceitando-a integral-
mente e sem restrições, faz nascer o contrato. O contrato é puramente um acordo de
vontades.
− Aceitação sem eficácia jurídica - art. 430 do CC: rechaça a teoria da expedição, pois
não bastará a expedição da resposta dentro do prazo para a formação do contra-
to entre ausentes. Para a formação do contrato, exige-se expedição da resposta e
a recepção pelo proponente em tempo razoável. Se a resposta chegar tarde ao co-
nhecimento do proponente, este ficará desobrigado. A circunstância imprevista é
expressão indeterminada e aberta. Deve existir uma relação de causalidade entre a
circunstância imprevista e o atraso da resposta. Esta chegou tarde (consequência) ao
conhecimento do proponente em razão da circunstância imprevista (causa). Embora
desvinculado e desobrigado, o proponente tem a obrigação legal de comunicar o fato
imediatamente ao aceitante, sob pena de responder por perdas e danos.
− Retratação do aceitante: O oblato ou aceitante, após a expedição da resposta, tam-
bém possui o direito potestativo de se retratar. O art. 433 do CC considera inexistente
a aceitação se antes dela ou com ela chegar ao proponente a retratação do aceitante.

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Teoria Contratual: Parte Geral – Parte I
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− Aceitação e contrato entre ausentes: O momento da formação do contrato tem re-


levância na proposta entre ausentes, pois, nesse caso, diante da impossibilidade de
resposta imediata, deve ser apurado qual o momento da formação do vínculo contra-
tual. Na tentativa de justificar o momento da formação do contrato entre ausentes,
surgiram quatro teorias:

1. Informação: considera formado o contrato no momento do proponente tomar ciência da


aceitação do oblato;
2. Declaração: considera formado o contrato entre ausentes no momento exato em que o
oblato declara a vontade de aceitar a proposta;
3. Expedição: adotada pelo ordenamento jurídico brasileiro. Os contratos entre ausentes
tornam-se perfeitos desde que a aceitação seja expedida;
4. Recepção: considera formado, perfeito e acabado o contrato entre ausentes, no momen-
to da recepção da resposta pelo proponente.
• Lugar da celebração do contrato: art. 435 do CC: “Reputar-se-á celebrado o contrato no
lugar em que foi proposto”.

4. Contrato Preliminar – Promessa de Contrato


• Contrato preliminar: é um contrato autônomo e independente do contrato definitivo, que
tem por objeto a obrigação (de fazer) assumida por uma ou ambas as partes de conclu-
írem outro contrato, este sim definitivo.
• Natureza jurídica: obrigação de fazer prestação de fato (fazer outro contrato, o definiti-
vo). Este seria o objeto do contrato preliminar. Decorre de um acordo de vontades em
que as partes ou apenas uma delas assumem a obrigação de concretizar os termos e
cláusulas pactuadas, consolidando-se o definitivo. Tem por objeto qualquer outro con-
trato, independentemente da sua natureza jurídica.

O contrato preliminar é meramente consensual, ainda que tenha por objeto um contrato
definitivo consensual e formal ou real. Nele, as partes comprometem-se a celebrar, mais tarde,
outro contrato. Há um acordo de vontades com finalidade específica e efeitos próprios a este
pré-contrato.
Sua formação depende do preenchimento dos pressupostos de existência e dos requisitos
de validade dos negócios jurídicos em geral. Além de vontade; objeto e forma (exteriorização
da vontade), como requisitos substanciais de existência; o contrato preliminar deve estar fun-
dado em vontade livre e sem vícios, declarada por sujeito capaz e legitimado. O objeto deve
ser lícito, possível, determinado ou, ao menos, determinável e, finalmente, sujeitar-se aos prin-
cípios sociais orientadores de toda a teoria contratual, sendo estes os requisitos ou adjetivos
que conferem validade ao contrato preliminar.

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A conclusão do contrato preliminar dar-se-á com o preenchimento dos requisitos genéri-


cos e dos pressupostos específicos previstos no art. 462 do CC. No contrato preliminar, poderá
haver um prazo para se arrepender e, nesse caso, deverá ser respeitado. Se não houver prazo,
o direito de arrependimento deverá ser efetivado em tempo razoável, que não implique abuso
de direito.
Situações em que a aposição de cláusula de arrependimento no contrato preliminar é ex-
pressamente vedada, como é o caso do art. 25 da Lei n. 6.766/1979, quando o contrato prelimi-
nar versar sobre aquisição de imóvel em loteamento urbano. Tal norma de ordem pública não
pode ser derrogada pelas partes.
O art. 16 do Dec.-Lei n. 58/1937 estabeleceu as consequências da recusa do vendedor em
outorgar a escritura definitiva ao comprador:

Recusando-se os compromitentes a outorgar a escritura definitiva no caso do art. 15, o compro-


missário poderá propor, para o cumprimento da obrigação, ação de adjudicação compulsória, que
tomará o rito sumaríssimo.

O STF, por meio da Súmula n. 413, consolidou o entendimento sobre a garantia da tutela
específica em favor dos compromissários compradores. Segundo a Súmula,

SÚMULA N. 413
o compromisso de compra e venda de imóveis, ainda que não loteados, dá direito à exe-
cução compulsória, quando reunidos os requisitos legais.

Ainda, segundo o art. 463, parágrafo único, do CC: “O contrato preliminar deverá ser levado
ao registro competente”. A única finalidade deste registro seria dar publicidade ao contrato,
para ter eficácia em relação a terceiros. O registro não é requisito ou pressuposto de validade
e eficácia do contrato preliminar (em relação aos contratantes).
Em relação ao contrato preliminar, cujo objeto seja a compra e venda de imóvel, a ausência
de registro não impedirá a constituição e a plena eficácia da promessa, mas gerará efeitos
meramente obrigacionais.
Por outro lado, em qualquer outro contrato preliminar, inclusive aquele que tenha por objeto
a compra e venda de bens móveis (os artigos 1.417 e 1.418 do CC aplicam-se apenas quando
o bem for imóvel), o registro apenas tornará estes contratos eficazes em relação a terceiros,
mas gerará obrigações, não sendo tal ato público suficiente para a constituição de direito real.
• Contrato preliminar de efeitos bilaterais: art. 463 do CC afirma que qualquer das partes
terá o direito de exigir a celebração do contrato definitivo. Indica que as obrigações as-
sumidas são recíprocas e interdependentes, que as partes são credoras e devedoras
uma da outra. A reciprocidade de direitos e obrigações desde a formação ou origem do
contrato torna-o de efeitos bilaterais ou sinalagmáticos.

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Teoria Contratual: Parte Geral – Parte I
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• Contrato preliminar de efeitos unilaterais: art. 466 do CC:

Se a promessa de contrato for unilateral, o credor, sob pena de ficar a mesma sem efeito, deverá
manifestar-se no prazo nela previsto, ou, inexistindo este, no que lhe for razoavelmente assinado
pelo devedor.

Não há reciprocidade ou correlação de obrigações. Em relação aos efeitos, haverá um cre-


dor e um devedor.
O contrato preliminar, devidamente concluído, produz efeitos jurídicos obrigacionais. O
adimplemento do contrato preliminar ocorrerá quando as partes contratantes cumprirem as
obrigações principais e secundárias do contrato.
O art. 463 prevê a possibilidade de qualquer das partes (no contrato preliminar bilateral)
manifestar o direito de exigir da outra a celebração do contrato definitivo, assinando prazo para
o cumprimento das obrigações principal e secundária. Em caso de recusa ou inadimplemento
de qualquer das partes na promessa bilateral ou do devedor no caso da promessa unilateral
(art. 466 do CC), a parte prejudicada poderá optar entre a tutela específica, prevista no artigo
464, ou perdas e danos, conforme o art. 465 do CC.

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Teoria Contratual: Parte Geral – Parte I
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QUESTÕES DE CONCURSO
001. (QUADRIX/CRM-PR/ADVOGADO/2018) No que se refere às disposições sobre obriga-
ções, contratos e responsabilidade civil, julgue o item subsequente.
O ordenamento jurídico brasileiro, embora admita a formação de contratos não previstos em
lei, não autoriza a coligação de espécies contratuais.

002. (QUADRIX/CODHAB-DF/ANALISTA/DIREITO E LEGISLAÇÃO/2018) Acerca do direito


das obrigações, de contratos e de responsabilidade civil, julgue o item a seguir.
A proposta deixa de ser obrigatória se, antes dela, ou simultaneamente a ela, chegar ao conhe-
cimento da outra parte a retratação do proponente.

003. (QUADRIX/CODHAB-DF/ANALISTA/DIREITO E LEGISLAÇÃO/2018) Considerando as


normas referentes aos bens, aos negócios jurídicos e aos contratos, julgue o item.
A oblação, que, em regra, não depende de forma especial, é manifestação de vontade que dá
início à formação do contrato.

004. (CESPE/TCE-RN/ASSESSOR TÉCNICO JURÍDICO/CARGO 2/2015) Acerca da prescri-


ção, do negócio jurídico, das obrigações e dos contratos, julgue o item subsequente.
No âmbito contratual, admite-se a existência de direitos secundários os quais perduram mes-
mo depois do adimplemento da obrigação principal.

005. (FAUEL/PREFEITURA DE ASSIS CHATEAUBRIAND – PR/ADVOGADO/2020) A respeito


dos contratos, assinale a alternativa INCORRETA, conforme o Código Civil de 2002.
a) A proposta de contrato obriga o proponente, se o contrário não resultar dos termos dela, da
natureza do negócio, ou das circunstâncias do caso.
b) O adquirente decai do direito de obter a redibição ou abatimento no preço no prazo de trinta
dias se a coisa for móvel, e de um ano se for imóvel, contado da entrega efetiva; se já estava
na posse, o prazo conta-se da alienação, reduzido à metade.
c) Se for aleatório o contrato, por serem objeto dele coisas futuras, tomando o adquirente a
si o risco de virem a existir em qualquer quantidade, terá também direito o alienante a todo o
preço, ainda que de sua parte não tiver concorrido culpa, desde que a coisa venha a existir em
quantidade inferior à esperada.
d) O contrato preliminar, exceto quanto à forma, deve conter todos os requisitos essenciais ao
contrato a ser celebrado.

006. (IPEFAE/PREFEITURA DE SÃO JOÃO DA BOA VISTA – SP/PROCURADOR/2020) De


acordo com o Código Civil “os contratos civis e empresariais presumem-se paritários e simétri-
cos até a presença de elementos concretos que justifiquem o afastamento dessa presunção,
ressalvados os regimes jurídicos previstos em leis especiais, garantido também que”:
a) As partes negociantes poderão estabelecer parâmetros objetivos para a interpretação das
cláusulas negociais e de seus pressupostos de revisão ou de resolução.

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Teoria Contratual: Parte Geral – Parte I
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b) A alocação de riscos definida pelas partes não será necessariamente respeitada.


c) A revisão contratual passa a ser a regra, podendo ser realizada de forma ilimitada.
d) Os princípios da probidade e da boa-fé devem ser seguidos pelos contratantes apenas na
conclusão do contrato.

007. (INSTITUTO AOCP/PREFEITURA DE BETIM – MG/ANALISTA JURÍDICO/2020) No que


diz respeito à temática dos contratos, assinale a alternativa correta.
a) Os contratos entre ausentes tornam-se perfeitos desde que a aceitação é expedida, ainda
que ela não chegue no prazo convencionado.
b) O adquirente decai do direito de obter a redibição ou abatimento no preço no prazo de trinta
dias se a coisa for móvel, e de um ano se for imóvel, contado da entrega efetiva; se já estava
na posse, o prazo conta-se da alienação, reduzido à metade.
c) Quando o vício redibitório, por sua natureza, só puder ser conhecido mais tarde, o prazo con-
tar-se-á do momento em que dele tiver ciência, até o prazo máximo de 90 (noventa) dias, em se
tratando de bens móveis; e de um ano, para os imóveis.
d) É vedado as partes, ainda que por cláusula expressa, diminuir ou excluir a responsabilidade
pela evicção.
e) Pode ser objeto de contrato a herança de pessoa viva.

008. (METROCAPITAL SOLUÇÕES/PREFEITURA DE CONCHAS – SP/PROCURADOR JURÍ-


DICO/2019) No que se refere aos efeitos do princípio “nemo venire contra factum propria”,
assinale a alternativa correta:
a) Foram contemplados pelo Código Civil brasileiro de 2002 na forma de cláusulas específicas,
mas não o foram do mesmo modo pelo Código de 1916.
b) Podem ser identificados no Código Civil brasileiro de 2002 e no Código Civil de 1916 por
meio de interpretação de algumas regras específicas, entre outras reguladoras dos contratos
e dos negócios jurídicos.
c) Não podem ser identificadas no Código Civil brasileiro de 2002, assim como também não
podiam no Código Civil de 1916.
d) Possuem reconhecimento pelo Código Civil brasileiro de 2002, mas não no Código Ci-
vil de 1916.
e) Possuem expresso reconhecimento pelo Código Civil de 2002, por meio de uma cláu-
sula geral.

009. (INSTITUTO CONSULPLAN/PREFEITURA DE SUZANO – SP/GESTOR DE CONTRA-


TOS/2019) Sobre contratos, analise as afirmativas a seguir.
I – Contrato compreende todo acordo de vontades de fundo econômico, que tem por objetivo
a aquisição, o resguardo, a transferência, a conservação ou a extinção de direitos, recebendo o
amparo do ordenamento legal.

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II – A função social preconiza que as obrigações assumidas nos contratos valem não apenas
porque as partes as assumiram voluntariamente, mas, também, porque interessa à sociedade
a tutela da situação advinda das suas consequências econômicas e sociais.
III – Antes da aceitação não há contrato, porque ainda não há consenso. Somente quando o
oblato se converte em aceitante, fazendo aderir sua vontade à do proponente, a oferta se trans-
forma em contrato. Estão corretas as afirmativas
a) I, II e III.
b) I e II, apenas.
c) I e III, apenas.
d) II e III, apenas.

010. (FAUEL/PREFEITURA DE MANDAGUARI – PR/ADVOGADO/2019) Acerca das dis-


posições gerais constantes do Código Civil a respeito dos contratos, assinale a alternativa
INCORRETA.
a) O contrato preliminar, exceto quanto à forma, deve conter todos os requisitos essenciais ao
contrato a ser celebrado.
b) Se o contrato for aleatório, por dizer respeito a coisas ou fatos futuros, cujo risco de não
virem a existir um dos contratantes assuma, terá o outro direito de receber integralmente o que
lhe foi prometido, desde que de sua parte não tenha havido dolo ou culpa, ainda que nada do
avençado venha a existir.
c) Podem as partes, por cláusula expressa, reforçar, diminuir ou excluir a responsabilidade
pela evicção.
d) A coisa recebida em virtude de contrato aleatório pode ser enjeitada por vícios ou defeitos
ocultos, que a tornem imprópria ao uso a que é destinada, ou lhe diminuam o valor.

011. (EXATUS/CÂMARA DE CANDÓI – PR/ADVOGADO/2019) Nos termos do Código Ci-


vil, com a redação dada pela Lei n. 13.874/2019, acerca dos contratos em geral, é correto
afirmar que:
a) A liberdade contratual será exercida nos limites da função social do contrato. Nas relações
contratuais privadas, prevalecerão o princípio da intervenção mínima e a excepcionalidade da
revisão contratual.
b) Nos contratos de adesão, são anuláveis as cláusulas que estipulem a renúncia antecipada
do aderente a direito resultante da natureza do negócio.
c) A herança de pessoa viva poderá ser objeto de contrato, nos casos previstos na legisla-
ção especial.
d) É ilícito às partes estipular contratos atípicos.
e) Reputar-se-á celebrado o contrato no lugar de sua execução.

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012. (CESPE/TJ-BA/CONCILIADOR/2019) Assinale a opção que indica o princípio segundo o


qual o que estiver estipulado entre as partes tem força de lei, uma vez que o contrato vincula
os envolvidos no seu devido cumprimento.
a) Princípio da função social do contrato
b) Princípio da força obrigatória do contrato
c) Princípio da boa-fé subjetiva
d) Princípio da proibição de comportamento contraditório
e) Princípio da boa-fé objetiva

013. (INSTITUTO AOCP/TJ-MG/JUIZ LEIGO/2019) Mario, por solicitação de João, apresen-


tou a este uma proposta por escrito para pintura do apartamento de João, no valor de R$
6.000,00, parcelado em três pagamentos mensais, com entrada, com prazo para aceitação
da proposta de cinco dias úteis. Passados dez dias úteis, João respondeu a Mario, também
por escrito, aceitando o valor, mas solicitando, caso fosse possível, efetuar o pagamento em
quatro parcelas mensais, com entrada. Com base no que dispõe o Código Civil Brasileiro, a
resposta de João implica
a) O aceite da proposta de Mario, obrigando este a cumprir ainda que com o parcelamento em
três pagamentos mensais, com entrada.
b) Uma resposta sem nenhum valor legal.
c) A contratação tácita do serviço.
d) Uma nova proposta, agora feita por João.

014. (VUNESP/ESEF – SP/PROCURADOR JURÍDICO/2019) Considere as seguintes


situações:
(I) João é um famoso estilista e foi contratado pela marca ER para o desenho da coleção de inver-
no. Apesar de constar expressamente no contrato a cláusula de exclusividade, a marca ER vendeu
os modelos para outra empresa antes mesmo de realizar o pagamento dos serviços prestrados;
(II) Letícia, residente em Jundiaí, anunciou a venda de seu sofá e sua geladeira na internet,
e José, residente em Campinas, interessado na compra, foi até a casa de Letícia, que, antes
mesmo de receber a oferta de preço por José, se recusou, sem motivos, a vender os móveis;
(III) Carolina ofereceu carona gratuitamente à sua amiga Camila para a faculdade; no trajeto,
sofreram um acidente por culpa grave de Carolina, e Camila foi internada por dez dias.
De acordo com a doutrina majoritária, assinale a alternativa que corresponde às possíveis res-
ponsabilidades da marca ER, de Letícia e de Carolina, respectivamente.
a) Contratual, extracontratual, e pós-contratual.
b) Pré-contratual pré-contratual e extracontratual.
c) Extraconatratual, não há responsabilidade e não há responsabilidade.
d) Pós-contratual, não há responsabilidade e pré-contratual.
e) Contratual pré-contratual e extracontratual.

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015. (VUNESP/CÂMARA DE MAUÁ – SP/PROCURADOR LEGISLATIVO/2019) Eduardo cele-


brou compromisso de compra e venda com uma cooperativa, na década de 90, para aquisição
de um imóvel no empreendimento Z, e iniciou o pagamento das prestações mensais ajustadas
entre as partes. Em 1998, foi contemplado em assembleia de cooperados e ingressou na pos-
se do imóvel, dando continuidade aos pagamentos das prestações. Com a quitação integral
em 2002, a cooperativa, no entanto, recursou-se a outorgar a escritura definitiva, ao argumento
de que havia saldo residual pendente, embora não tenha demonstrado a origem da dívida. A
cooperativa também alegou a existência de hipoteca gravando o terreno em que se assenta
o empreendimento, muito embora as unidades estejam individualizadas em matrícula. Consi-
derando o tempo decorrido desde a posse do imóvel, a quitação integral e a relação jurídica
existente entre as partes, é correto afirmar que
a) A cooperativa pode cobrar o saldo residual, decorrente do custeio das despesas adminis-
trativas com a construção do empreendimento, porque a cobrança é corolário do princípio da
boa fé objetiva.
b) Eduardo faz jus à outorga da escritura definitiva, pois, ao exigir saldo residual após a declaração
de quitação, a cooperativa agiu em comportamento contraditório (venire contra factum proprium)
e frustou a legítima expectativa do adquirente, de que não haveria cobrança de saldo residual.
c) Há impedimento para outorga da escritura definitiva do imóvel, porque o terreno em que foi
construído o imóvel está hipotecado e, dessa forma, o proprietário da coisa dada em garantia
perde seu jus disponendi, em razão da aderência da garantia real.
d) Mesmo com a quitação integral, Eduardo terá direito à escritura definitiva no momento em
que a cooperativa comprovar a liberação do gravame.
e) Eduardo terá direito à outorga da escritura definitiva quando comprovar o pagamento do
saldo residual e o levantamento da hipoteca que recai sobre o terreno.

016. (IBFC/EMDEC/ADVOGADO JR/2019) Os contratos em geral são tratados pelo Código Civil
Brasileiro. Sobre o assunto, analise as afirmativas abaixo e dê valores de Verdadeiro (V) ou Falso (F).

 (  ) Os princípios de probidade e boa-fé devem ser resguardados tão somente durante a
execução do contrato.
(  ) Nos contratos de adesão, são nulas as cláusulas que estipulem a renúncia antecipada
do aderente a direito resultante da natureza do negócio.
(  ) Não pode ser objeto de contrato a herança de pessoa viva.

Assinale a alternativa que apresenta a sequência correta de cima para baixo.


a) V, V, V
b) V, V, F
c) F, F, V
d) F, V, V

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017. (CESPE/TCE-RO/AUDITOR DE CONTROLE EXTERNO/DIREITO/2019) Acerca da pres-


crição, da decadência e dos efeitos na cobrança das prestações devidas pelo devedor em
relação a quem seja credor e ao direito de resolução da relação contratual que não tenha por
objeto bem público móvel ou imóvel, julgue os itens a seguir, com base no Código Civil e no
entendimento do STJ.
I – É facultado ao credor diante do inadimplemento do devedor, escolher entre exigir o cumpri-
mento da prestação ou exigir a resolução do contrato, cabendo, em qualquer das hipóteses, a
respectiva indenização.
II – Excepcionalmente admite-se a cumulação dos pedidos de cumprimento da prestação e de
resolução do contrato e, escolhida a via do cumprimento, é possível recurso à via da resolução
depois de transitada em julgado a sentença de procedência exarada na primeira ação.
III – Como não há prazo em lei estabelecido para o exercício do direito à resolução da relação
contratual, tal exercício é ilimitado no tempo, na medida em que esse instrumento, enquanto
fonte de obrigações que vincula as partes, tem caráter transitório: nasce com a finalidade de
se extinguir preferencialmente com o adimplemento das prestações que encerra.
IV – Se o pedido de resolução da relação contratual se funda no inadimplemento de determi-
nada parcela, a prescrição da pretensão de exigir o respectivo pagamento prejudica, em con-
sequência, o direito de exigir a extinção da relação contratual com base na mesma causa, ante
a ausência do elemento objetivo que dá suporte fático ao pleito.
Assinale a opção correta
a) Apenas o item I está certo.
b) Apenas o item II está certo.
c) Apenas os itens I e IV estão certos.
d) Apenas os itens II e III estão certos.
e) Apenas os itens III e IV estão certos.

018. (VUNESP/UNIFAI/PROCURADOR JURÍDICO/2019) Assinale a alternativa que está de


acordo com as previsões do Código Civil sobre formação de contratos.
a) Pode revogar-se a oferta pública pela mesma via de sua divulgação, ainda que não haja pre-
visão a respeito na oferta realizada.
b) Reputar-se-á celebrado o contrato no local de domicílio do aceitante.
c) A aceitação fora do prazo, com adições, restrições, ou modificações, importará nova proposta.
d) Se o proponente se houver comprometido a esperar resposta, os contratos entre ausentes
tornam-se perfeitos desde que a aceitação à proposta é expedida.
e) Considera-se inexistente a aceitação, se depois dela chegar ao proponente a retratação do
aceitante.

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019. (FCC/TJ-MA/OFICIAL DE JUSTIÇA/2019) Em relação às disposições gerais dos contra-


tos, é correto afirmar:
a) Se o contrato for aleatório, por dizer respeito a coisas ou fatos futuros, cujo risco de não
virem a existir um dos contratantes assuma, terá o outro direito de receber integralmente o que
lhe foi prometido, desde que de sua parte não tenha havido dolo ou culpa, ainda que nada do
avençado venha a existir.
b) A aceitação do contrato fora do prazo, com adições, restrições ou modificações, não impor-
tará nova proposta.
c) Caracterizando-se vício redibitório em um contrato, o alienante, conhecendo ou não o vício
ou defeito da coisa, restituirá o que recebeu com perdas e danos.
d) Nos contratos onerosos, o alienante responde pela evicção; esta garantia não subsiste se a
aquisição foi realizada em hasta pública.
e) Nos contratos de adesão, são válidas as cláusulas que estipulem a renúncia do aderen-
te a direito resultante da natureza do negócio, desde que previamente informado dessa cir-
cunstância.

020. (FCC/SANASA CAMPINAS/ANALISTA ADMINISTRATIVO/SERVIÇOS JURÍDICOS/


2019) Natália, proprietária de edícula construída nos fundos de um posto de combustível, onde
trabalha, celebrou contrato de locação com Manoel, por prazo determinado. Neste contrato,
constou como obrigação ao locatário proceder à transferência da titularidade da conta de água
para seu nome, sem, no entanto, mencionar expressamente quem seria o responsável pelo seu
pagamento.
Passados dois anos da celebração do contrato, Natália ajuizou ação de rescisão contratual c/c
cobrança, em razão do atraso no pagamento das contas de água e da prestação do aluguel.
Manoel, em sua defesa, alegou que a despesa é dívida propter rem e, portanto, de responsa-
bilidade do locador, que é o proprietário do imóvel, devendo repassar o valor ao locatário, por
ocasião da cobrança do aluguel.
No caso apresentado, é correto afirmar que
a) A dívida é de natureza propter rem, e, por isso, somente o proprietário é por ela responsável.
b) O contrato de locação não foi prorrogado, e, portanto, não podem ser exigidos do locatário
os valores referentes ao consumo posterior ao prazo determinado para a locação.
c) O débito relativo ao fornecimento de água é de natureza pessoal, e, assim, pode ser exigido
do consumidor que utilizou o serviço.
d) O proprietário nunca será responsável pelas dívidas do imóvel, enquanto este estiver aluga-
do para terceiros.
e) Ao locatário incumbe realizar diretamente ao locador o pagamento dos valores de tarifas
de serviços prestados por concessionárias de serviço público, já que ele – locador − é o único
responsável por tal pagamento perante a concessionária.

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021. (VUNESP/PREFEITURA DE CERQUILHO – SP/PROCURADOR JURÍDICO/2019) “A possibili-


dade de se considerar suprimida uma obrigação contratual, na hipótese em que o não exercício
do direito correspondente, pelo credor, gere no devedor a justa expectativa de que esse não
exercício se prorrogará no tempo”.
Qual é o instituto a que se refere a citação?
a) Supressio.
b) Prescrição.
c) Impossibilidade jurídica do pedido.
d) Decadência.
e) Surrectio.

022. (FCC/SANASA CAMPINAS/PROCURADOR JURÍDICO/2019) Sobre contratos, é INCOR-


RETO afirmar:
a) Nos de execução continuada, se a prestação de uma das partes se tornar excessivamente
onerosa, em virtude de acontecimentos extraordinários e imprevisíveis, poderá o devedor pedir
a resolução do contrato.
b) A exceção de contrato não cumprido aplica-se a todos os contratos.
c) Os benéficos devem ser interpretados de forma restrita.
d) É proibido o que tem por objeto herança de pessoa viva.
e) É possível a manifestação tácita de vontade em matéria contratual, quando não for neces-
sária que seja expressa.

023. (VUNESP/CÂMARA DE PIRACICABA – SP/ADVOGADO/2019) A quantidade de contra-


tos celebrados nos dias de hoje é muito expressiva. Pode-se dizer que é um instrumento jurídi-
co de grande relevância no mundo contemporâneo. O contrato é a mais comum e importante
fonte de obrigação, cuja formação depende da presença de, pelo menos, duas partes. Face ao
exposto, é correto afirmar:
a) No contrato de prestação de serviços, não se tendo estipulado, nem chegado as partes ao
acordo, fixar-se-á a retribuição segundo os índices oficiais regularmente estabelecidos para o
tempo de serviço e sua qualidade.
b) No silêncio do contrato de empreitada, a obrigação do empreiteiro de fornecer os materiais
é presumida.
c) No contrato de doação, é anulável a doação de todos os bens sem reserva de parte ou renda
suficiente para a subsistência do doador.
d) O contrato preliminar, exceto quanto à forma, deve conter todos os requisitos essenciais ao
contrato a ser celebrado.
e) No contrato de compra e venda, até a tradição, em regra, os riscos pela perda da coisa objeto
do contrato correm por conta do comprador.

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024. (VUNESP/PREFEITURA DE VALINHOS – SP/PROCURADOR/2019) Sobre as condições


gerais dos contratos, indique a alternativa correta.
a) Nos contratos de adesão, são anuláveis as cláusulas que estipulem a renúncia antecipada
do aderente a direito resultante da natureza do negócio.
b) O estipulante pode reservar-se o direito de substituir o terceiro designado no contrato, inde-
pendentemente da sua anuência e da do outro contratante.
c) O contrato preliminar, e também quanto à forma, não necessita conter todos os requisitos
essenciais ao contrato a ser celebrado.
d) As cláusulas resolutivas expressa e tácita operam de pleno direito, independentemente de
interpelação judicial.
e) Pode o adquirente demandar pela evicção, mesmo sabendo que a coisa era alheia ou litigiosa.

025. (FGV/PREFEITURA DE SALVADOR – BA/AGENTE DE TRÂNSITO E TRANSPORTE/2019)


Heleno, que tem 13 anos pretende comprar um videogame no valor de R$ 3.000,00. Para isto,
celebra contrato de compra e venda com Jorge, que tem 18 anos.
Sobre esta situação, quanto a Heleno, é correto afirmar que
a) A contratação é viável, em razão de sua plena capacidade civil.
b) A celebração do contrato apenas seria possível caso ele estivesse assistido por seus pais.
c) Ele não pode celebrar este contrato, em razão de sua incapacidade absoluta.
d) Ainda que representado por seus pais, ele não pode celebrar este contrato.
e) Após os dezesseis anos, ele pode celebrar contratos, independentemente da intervenção de
seus pais.

026. (VUNESP/CÂMARA DE MONTE ALTO – SP/PROCURADOR JURÍDICO/2019) A respeito


dos deveres anexos à boa fé objetiva e à tutela jurídica da confiança no direito contratual, as-
sinale a alternativa correta.
a) O credor que aceita receber reiteradamente o pagamento em local diverso do pactuado
perde o direito de exigir que o devedor efetue o pagamento no lugar previsto no contrato, em
virtude do venire contra factum proprium.
b) O credor que aceita receber reiteradamente o pagamento em local diverso do pactuado
perde o direito de exigir que o devedor efetue o pagamento no lugar previsto no contrato, em
virtude da supressio.
c) O credor que aceita receber reiteradamente o pagamento em local diverso do pactuado tem
direito de exigir a qualquer tempo que o devedor efetue o pagamento no lugar previsto no con-
trato, não se cogitando de supressio nem de venire contra factum proprium.
d) O credor que dá quitação da dívida sem nenhuma ressalva não tem direito de exigir comple-
mentação do pagamento por conta de correção monetária, em virtude da supressio.
e) O credor que dá quitação da dívida sem nenhuma ressalva tem direito de exigir complemen-
tação do pagamento por conta de correção monetária, porque neste caso não incide a figura
do venire contra factum proprium.

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027. (VUNESP/CÂMARA DE SERRANA – SP/PROCURADOR JURÍDICO/2019) Manuel es-


tava viajando em férias pelo Rio Grande do Sul e viu uma casa que se interessou em comprar,
em razão de seu aspecto arquitetônico histórico. Voltando para São Paulo, onde residia, Ma-
nuel enviou uma proposta, via correspondência física (carta), pelo correio, para o endereço da
casa, no dia 01.09.2018, propondo o pagamento de R$ 2.000.000,00 (dois milhões de reais).
O dono do imóvel, Joaquim, recebeu a proposta no dia 05.09.2018 e expediu uma carta, no
dia 07.09.2018, para Manuel, aceitando o preço oferecido. A proposta foi recebida por Manuel
no dia 09.09.2018. Pode-se afirmar que a data e o local da celebração do contrato são, res-
pectivamente:
a) 07.09.2018 e Rio Grande do Sul.
b) 05.09.2018 e São Paulo.
c) 09.09.2018 e São Paulo.
d) 05.09.2018 e Rio Grande do Sul.
e) 07.09.2018 e São Paulo.

028. (FUNDEP/GESTÃO DE CONCURSOS/2022/CÂMARA DE PIRAPORA-MG/ASSESSOR


JURÍDICO) Analise as seguintes proposições referentes aos contratos.
I. Contrato com pessoa a declarar é aquele que é pactuado por uma das partes em nome de
terceiro, conhecido ou não no momento da celebração.
II. O princípio da autonomia da vontade possui caráter absoluto e, assim sendo, não se limita à
ordem pública e aos bons costumes.
III. A compra e venda, quando pura, considerar-se-á obrigatória e perfeita, desde que as partes
acordarem no objeto e no preço.
IV. O Código Civil brasileiro prevê expressamente a possibilidade de ser objeto de contrato civil
a herança de pessoa viva.
Nesse contexto, pode-se afirmar:
a) Todas as afirmativas estão corretas.
b) Todas as afirmativas estão incorretas.
c) Estão corretas as afirmativas II e IV, apenas.
d) Estão incorretas as afirmativas II e IV, apenas.

029. (SELECON/2022/PREFEITURA DE SÃO GONÇALO-RJ/ANALISTA PROCESSUAL) Jairo


Dias realiza contrato de locação com Dalva Gi, tendo uma das cláusulas contratuais previsto
que o local do pagamento seria a sala comercial do locador situada no município de São Gon-
çalo. Alegando dificuldade de locomoção por residir na zona rural do município, a locatária
postula o pagamento por transferência bancária, o que foi acolhido e realizado pelo período
de dois anos. No início do terceiro ano de cumprimento do contrato, a locatária é surpreendida
com a devolução do depósito bancário realizado e obtém a informação de que o pagamento
deveria ser realizado segundo a cláusula contratual. Nos termos dos princípios aplicáveis atu-
almente aos contratos, o comportamento do locador deve ser considerado:
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a) legítimo por baseado em cláusula contratual


b) autorizado por caracterizar a autonomia absoluta da vontade
c) contraditório por confrontar a execução do contrato
d) indicado excepcionalmente para situações de crise

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GABARITO
1. E
2. C
3. C
4. C
5. c
6. a
7. b
8. b
9. a
10. d
11. a
12. b
13. d
14. e
15. b
16. d
17. c
18. c
19. a
20. c
21. a
22. b
23. d
24. b
25. a
26. b
27. e
28. d
29. c

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GABARITO COMENTADO
001. (QUADRIX/CRM-PR/ADVOGADO/2018) No que se refere às disposições sobre obriga-
ções, contratos e responsabilidade civil, julgue o item subsequente.
O ordenamento jurídico brasileiro, embora admita a formação de contratos não previstos em
lei, não autoriza a coligação de espécies contratuais.

Art. 425. É lícito às partes estipular contratos atípicos, observadas as normas gerais fixadas neste
Código.

A despeito de não haver previsão legal específica a respeito disso, é inegável que o fenômeno da
coligação contratual poderá existir, segundo a autonomia (condicionada) da vontade das partes.
Errado.

002. (QUADRIX/CODHAB-DF/ANALISTA/DIREITO E LEGISLAÇÃO/2018) Acerca do direito


das obrigações, de contratos e de responsabilidade civil, julgue o item a seguir.
A proposta deixa de ser obrigatória se, antes dela, ou simultaneamente a ela, chegar ao conhe-
cimento da outra parte a retratação do proponente.

O dispositivo em questão enumera as causas excludentes da obrigatoriedade da proposta,


considerando determinadas circunstâncias em que ela se operou, com ou sem prazo. Nas
propostas sem prazo, entre presentes, a não aceitação imediata conduz à não obrigatoriedade
da oferta, desobrigando o proponente. Entre ausentes, o elemento de desoneração situa-se no
tempo hábil para que a proposta seja recebida pelo oblato, por ele respondida e recepcionada
pelo proponente. A suficiência do tempo é juridicamente indeterminada para ser apurada o
imediatismo da aceitação. Nas propostas com prazo, cessa a obrigatoriedade, findo o prazo
assinado. Entre ausentes, tem-se atendido o prazo quando a resposta é expedida dentro do pe-
ríodo de tempo fixado. Por fim, outra circunstância impeditiva da obrigatoriedade e constante
do enunciado ocorre quando a convergência volitiva não é alcançada por retratação oportuna
do proponente, ou seja, quando a proposta é desfeita a tempo, implicando o arrependimento
daquele e a inexistência jurídica da oferta.
Certo.

003. (QUADRIX/CODHAB-DF/ANALISTA/DIREITO E LEGISLAÇÃO/2018) Considerando as


normas referentes aos bens, aos negócios jurídicos e aos contratos, julgue o item.
A oblação, que, em regra, não depende de forma especial, é manifestação de vontade que dá
início à formação do contrato.

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A fase de proposta, denominada fase de oferta formalizada, policitação ou oblação, constitui


a manifestação da vontade de contratar, por uma das partes, que solicita a concordância da
outra. Trata-se de uma declaração unilateral de vontade receptícia, ou seja, que só produz efei-
tos ao ser recebida pela outra parte. Conforme o art. 427 do Código Civil, a proposta vincula o
proponente, gerando o dever de celebrar o contrato definitivo, sob pena de responsabilização
pelas perdas e danos que o caso concreto demonstrar.
Certo.

004. (CESPE/TCE-RN/ASSESSOR TÉCNICO JURÍDICO/CARGO 2/2015) Acerca da prescri-


ção, do negócio jurídico, das obrigações e dos contratos, julgue o item subsequente.
No âmbito contratual, admite-se a existência de direitos secundários os quais perduram mes-
mo depois do adimplemento da obrigação principal.

Com o advento do Código Civil, o direito contratual passou por uma releitura, de modo que
foram agregados diversos deveres secundários às partes. Estes deveres são permeados pela
boa-fé objetiva, podendo ser citados, por exemplo, o dever de informação, cooperação, lealda-
de, etc. Tais deveres não se esgotam com o adimplemento da obrigação, devendo as partes
respeitá-los mesmo após esse momento. Por exemplo, eu compro uma churrascaria e, uma
semana depois, o vendedor abre outra churrascaria ao lado da que foi vendida. A obrigação
já havia sido cumprida, mas esta atitude do vendedor seria uma ofensa à boa-fé e à lealdade.
Certo.

005. (FAUEL/PREFEITURA DE ASSIS CHATEAUBRIAND – PR/ADVOGADO/2020) A respeito


dos contratos, assinale a alternativa INCORRETA, conforme o Código Civil de 2002.
a) A proposta de contrato obriga o proponente, se o contrário não resultar dos termos dela, da
natureza do negócio, ou das circunstâncias do caso.
b) O adquirente decai do direito de obter a redibição ou abatimento no preço no prazo de trinta
dias se a coisa for móvel, e de um ano se for imóvel, contado da entrega efetiva; se já estava
na posse, o prazo conta-se da alienação, reduzido à metade.
c) Se for aleatório o contrato, por serem objeto dele coisas futuras, tomando o adquirente a
si o risco de virem a existir em qualquer quantidade, terá também direito o alienante a todo o
preço, ainda que de sua parte não tiver concorrido culpa, desde que a coisa venha a existir em
quantidade inferior à esperada.
d) O contrato preliminar, exceto quanto à forma, deve conter todos os requisitos essenciais ao
contrato a ser celebrado.

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a) Certa. Art. 427. A proposta de contrato obriga o proponente, se o contrário não resultar dos
termos dela, da natureza do negócio ou das circunstâncias do caso.
b) Certa. Art. 445. O adquirente decai do direito de obter a redibição ou abatimento no preço no
prazo de trinta dias se a coisa for móvel e de um ano se for imóvel, contado da entrega efetiva.
Se já estava na posse, o prazo conta-se da alienação, reduzido à metade.
c) Errada. Art. 459. Se for aleatório, por serem objeto dele as coisas futuras, tomando o adqui-
rente para si o risco de virem a existir em qualquer quantidade, terá também direito o alienante
a todo o preço, desde que de sua parte não tiver concorrido culpa, ainda que a coisa venha a
existir em quantidade inferior à esperada.
d) Certa. Art. 462. O contrato preliminar, exceto quanto à forma, deve conter todos os requisitos
essenciais ao contrato a ser celebrado.
Letra c.

006. (IPEFAE/PREFEITURA DE SÃO JOÃO DA BOA VISTA – SP/PROCURADOR/2020) De


acordo com o Código Civil “os contratos civis e empresariais presumem-se paritários e simétri-
cos até a presença de elementos concretos que justifiquem o afastamento dessa presunção,
ressalvados os regimes jurídicos previstos em leis especiais, garantido também que”:
a) As partes negociantes poderão estabelecer parâmetros objetivos para a interpretação das
cláusulas negociais e de seus pressupostos de revisão ou de resolução.
b) A alocação de riscos definida pelas partes não será necessariamente respeitada.
c) A revisão contratual passa a ser a regra, podendo ser realizada de forma ilimitada.
d) Os princípios da probidade e da boa-fé devem ser seguidos pelos contratantes apenas na
conclusão do contrato.

A assertiva repete o inciso I do art. 421-A do CC:

As partes negociantes poderão estabelecer parâmetros objetivos para a interpretação das cláusulas
negociais e de seus pressupostos de revisão ou de resolução.

O legislador reproduziu parcialmente o Enunciado n. 23, proposto pelo Prof. André Luiz Santa Cruz
Ramos, que participou do processo de elaboração da MP n. 881, que deu origem à Lei da Liber-
dade Econômica. Ressalta-se que há outra norma parecida, no § 2º do art. 113, também do CC:

As partes poderão livremente pactuar regras de interpretação, de preenchimento de lacunas e de


integração dos negócios jurídicos diversas daquelas previstas em lei.
Letra a.

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007. (INSTITUTO AOCP/PREFEITURA DE BETIM – MG/ANALISTA JURÍDICO/2020) No que


diz respeito à temática dos contratos, assinale a alternativa correta.
a) Os contratos entre ausentes tornam-se perfeitos desde que a aceitação é expedida, ainda
que ela não chegue no prazo convencionado.
b) O adquirente decai do direito de obter a redibição ou abatimento no preço no prazo de trinta
dias se a coisa for móvel, e de um ano se for imóvel, contado da entrega efetiva; se já estava
na posse, o prazo conta-se da alienação, reduzido à metade.
c) Quando o vício redibitório, por sua natureza, só puder ser conhecido mais tarde, o prazo con-
tar-se-á do momento em que dele tiver ciência, até o prazo máximo de 90 (noventa) dias, em se
tratando de bens móveis; e de um ano, para os imóveis.
d) É vedado as partes, ainda que por cláusula expressa, diminuir ou excluir a responsabilidade
pela evicção.
e) Pode ser objeto de contrato a herança de pessoa viva.

Quando falamos de vícios redibitórios, falamos de defeitos ocultos que reduzem o valor do
bem ou tornem o seu uso impróprio. Exemplo: comprar um touro estéril para fim reprodutor. O
adquirente tem, então, duas opções. Redibir a coisa (art. 441), ou seja, devolver o bem e ser res-
tituído dos valores pagos, por meio da ação redibitória, sendo, assim, o contrato rescindido, ou
obter o abatimento do preço mediante ação estimatória, também denominada de ação quanti
minoris (art. 442 do CC). A assertiva está em harmonia com o art. 445 do CC:

O adquirente decai do direito de obter a redibição ou abatimento no preço no prazo de trinta dias se
a coisa for móvel, e de um ano se for imóvel, contado da entrega efetiva; se já estava na posse, o
prazo conta-se da alienação, reduzido à metade.
Letra b.

008. (METROCAPITAL SOLUÇÕES/PREFEITURA DE CONCHAS – SP/PROCURADOR JURÍ-


DICO/2019) No que se refere aos efeitos do princípio “nemo venire contra factum propria”,
assinale a alternativa correta:
a) Foram contemplados pelo Código Civil brasileiro de 2002 na forma de cláusulas específicas,
mas não o foram do mesmo modo pelo Código de 1916.
b) Podem ser identificados no Código Civil brasileiro de 2002 e no Código Civil de 1916 por
meio de interpretação de algumas regras específicas, entre outras reguladoras dos contratos
e dos negócios jurídicos.
c) Não podem ser identificadas no Código Civil brasileiro de 2002, assim como também não
podiam no Código Civil de 1916.
d) Possuem reconhecimento pelo Código Civil brasileiro de 2002, mas não no Código Civil de 1916.
e) Possuem expresso reconhecimento pelo Código Civil de 2002, por meio de uma cláusula geral.

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Trata-se do princípio que, traduzido do latim, significa que ninguém pode ir de encontro aos
seus próprios atos, ou seja, veda-se o comportamento contraditório e inesperado do indivíduo
que viole a boa-fé objetiva. Boa fé objetiva nada mais é do que agir com lealdade e probida-
de, sem prejudicar a outra parte do negócio. A primeira repercussão pragmática da aplicação
do princípio da boa-fé objetiva reside na consagração da vedação do comportamento con-
traditório.
Letra b.

009. (INSTITUTO CONSULPLAN/PREFEITURA DE SUZANO – SP/GESTOR DE CONTRA-


TOS/2019) Sobre contratos, analise as afirmativas a seguir.
I – Contrato compreende todo acordo de vontades de fundo econômico, que tem por objetivo
a aquisição, o resguardo, a transferência, a conservação ou a extinção de direitos, recebendo o
amparo do ordenamento legal.
II – A função social preconiza que as obrigações assumidas nos contratos valem não apenas
porque as partes as assumiram voluntariamente, mas, também, porque interessa à sociedade
a tutela da situação advinda das suas consequências econômicas e sociais.
III – Antes da aceitação não há contrato, porque ainda não há consenso. Somente quando o
oblato se converte em aceitante, fazendo aderir sua vontade à do proponente, a oferta se trans-
forma em contrato. Estão corretas as afirmativas
a) I, II e III.
b) I e II, apenas.
c) I e III, apenas.
d) II e III, apenas.

I – Certa. Conforme ensina Flávio Tartuce (2016, p. 593), o Código Civil não cuidou de definir os
contratos, cabendo tal tarefa, portanto, à doutrina. Assim sendo, o mesmo autor esclarece que

o contrato pode ser conceituado como sendo um negócio jurídico bilateral ou plurilateral que visa à
criação, modificação ou extinção de direitos e deveres com conteúdo patrimonial.

Verifica-se, então, que a assertiva está correta.


II – Certa. Ao tratar dos princípios que regem as relações contratuais, o doutrinador Flávio Tar-
tuce (2016, p. 615) esclarece que:

Conceitua-se o regramento em questão como um princípio de ordem pública - art. 2.035, parágrafo
único, do Código Civil -, pelo qual o contrato deve ser, necessariamente, interpretado e visualizado
de acordo com o contexto da sociedade. A palavra função social deve ser visualizada com o sentido
de finalidade coletiva, sendo efeito do princípio em questão a mitigação ou relativização da força
obrigatória das convenções (pacta sunt servanda).

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III – Certa. Para a análise desta assertiva, faz-se necessário o conhecimento quanto à fase de
proposta ou de oblação dos contratos. Segundo o Código Civil, embora a proposta vincule o
proponente, é a aceitação dela que faz surgir o contrato.
Letra a.

010. (FAUEL/PREFEITURA DE MANDAGUARI – PR/ADVOGADO/2019) Acerca das disposições


gerais constantes do Código Civil a respeito dos contratos, assinale a alternativa INCORRETA.
a) O contrato preliminar, exceto quanto à forma, deve conter todos os requisitos essenciais ao
contrato a ser celebrado.
b) Se o contrato for aleatório, por dizer respeito a coisas ou fatos futuros, cujo risco de não
virem a existir um dos contratantes assuma, terá o outro direito de receber integralmente o que
lhe foi prometido, desde que de sua parte não tenha havido dolo ou culpa, ainda que nada do
avençado venha a existir.
c) Podem as partes, por cláusula expressa, reforçar, diminuir ou excluir a responsabilidade
pela evicção.
d) A coisa recebida em virtude de contrato aleatório pode ser enjeitada por vícios ou defeitos
ocultos, que a tornem imprópria ao uso a que é destinada, ou lhe diminuam o valor.

Diz o legislador, no art. 441 do CC, que

a coisa recebida em virtude de CONTRATO COMUTATIVO pode ser enjeitada por vícios ou defeitos
ocultos, que a tornem imprópria ao uso a que é destinada, ou lhe diminuam o valor.

O adquirente, diante da presença dos vícios redibitórios, tem duas opções: redibir a coisa (art.
441); ou seja, devolver o bem e ser restituído dos valores pagos, por meio da ação redibitória,
sendo, assim, o contrato rescindido; ou obter o abatimento do preço mediante ação estimató-
ria, também denominada de ação quanti minoris (art. 442 do CC). Percebe-se que o legislador
faz referência, apenas, aos contratos comutativos. Acontece que foi editado o Enunciado n.
583 do CJF:

O art. 441 do Código Civil deve ser interpretado no sentido de abranger também os contratos alea-
tórios, desde que não abranja os elementos aleatórios do contrato.

Assim, admite-se a alegação de vícios redibitórios nesta espécie de contrato, desde que este-
jam relacionados aos seus elementos comutativos, que são predeterminados. A álea, o risco,
deve se referir, apenas, à existência da coisa.
Letra d.

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DIREITO CIVIL
Teoria Contratual: Parte Geral – Parte I
Daniel Carnacchioni

011. (EXATUS/CÂMARA DE CANDÓI – PR/ADVOGADO/2019) Nos termos do Código Ci-


vil, com a redação dada pela Lei n. 13.874/2019, acerca dos contratos em geral, é correto
afirmar que:
a) A liberdade contratual será exercida nos limites da função social do contrato. Nas relações
contratuais privadas, prevalecerão o princípio da intervenção mínima e a excepcionalidade da
revisão contratual.
b) Nos contratos de adesão, são anuláveis as cláusulas que estipulem a renúncia antecipada
do aderente a direito resultante da natureza do negócio.
c) A herança de pessoa viva poderá ser objeto de contrato, nos casos previstos na legisla-
ção especial.
d) É ilícito às partes estipular contratos atípicos.
e) Reputar-se-á celebrado o contrato no lugar de sua execução.

Diz o legislador, no art. 421 do CC que, “a liberdade contratual será exercida nos limites da
função social do contrato”. Assim, o princípio da autonomia da vontade assegura às pessoas
a liberdade de contratar, desde que respeitada a função social do contrato. Ressalta-se que,
para parte da doutrina, este princípio desdobrar-se-ia em dois: a liberdade de contratar; que
assegura a faculdade de realizar ou não um contrato determinado; e a liberdade contratual; que
permite às partes estabelecer livremente o conteúdo do contrato. De acordo com o § único,

nas relações contratuais privadas, prevalecerão o princípio da intervenção mínima e a excepcionali-


dade da revisão contratual.
Letra a.

012. (CESPE/TJ-BA/CONCILIADOR/2019) Assinale a opção que indica o princípio segundo o


qual o que estiver estipulado entre as partes tem força de lei, uma vez que o contrato vincula
os envolvidos no seu devido cumprimento.
a) Princípio da função social do contrato
b) Princípio da força obrigatória do contrato
c) Princípio da boa-fé subjetiva
d) Princípio da proibição de comportamento contraditório
e) Princípio da boa-fé objetiva

Trata-se da pacta sunt servanda, ou seja, o contrato tem força de lei entre as partes, vinculando-
-as. Este princípio tinha muita força no CC/16. Com o advento do CC/02, as coisas mudaram,
por conta do Princípio da Função Social dos Contratos (art. 421 do CC).

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DIREITO CIVIL
Teoria Contratual: Parte Geral – Parte I
Daniel Carnacchioni

E o que isso significa?

Significa que ainda permanece a pacta sunt servanda, mas, diante da leitura da cláusula rebus
sic stantibus, implícita nos contratos, o contrato tem força de lei entre as partes e vincula-as.
Porém, se as coisas assim permanecerem, diante de fatos supervenientes, que sejam imprevi-
síveis e extraordinários e que tornem a prestação extremamente onerosa para uma delas, com
extrema vantagem para a outra, o legislador traz a possibilidade de resolver o contrato (art.
478 do CC).
Letra b.

013. (INSTITUTO AOCP/TJ-MG/JUIZ LEIGO/2019) Mario, por solicitação de João, apresentou


a este uma proposta por escrito para pintura do apartamento de João, no valor de R$ 6.000,00,
parcelado em três pagamentos mensais, com entrada, com prazo para aceitação da proposta de
cinco dias úteis. Passados dez dias úteis, João respondeu a Mario, também por escrito, aceitan-
do o valor, mas solicitando, caso fosse possível, efetuar o pagamento em quatro parcelas men-
sais, com entrada. Com base no que dispõe o Código Civil Brasileiro, a resposta de João implica
a) O aceite da proposta de Mario, obrigando este a cumprir ainda que com o parcelamento em
três pagamentos mensais, com entrada.
b) Uma resposta sem nenhum valor legal.
c) A contratação tácita do serviço.
d) Uma nova proposta, agora feita por João.

Em harmonia com a previsão do art. 431 do CC.


a) Errada. Aqui, estaremos diante da hipótese narrada pelo legislador, no art. 431 do CC, que “a
aceitação fora do prazo, com adições, restrições, ou modificações, importará nova proposta”.
b) Errada. A resposta de João implica em nova proposta (art. 431 do CC).
c) Errada. A resposta de João implica em nova proposta (art. 431 do CC).
Letra d.

014. (VUNESP/ESEF – SP/PROCURADOR JURÍDICO/2019) Considere as seguintes


situações:
(I) João é um famoso estilista e foi contratado pela marca ER para o desenho da coleção de inverno.
Apesar de constar expressamente no contrato a cláusula de exclusividade, a marca ER vendeu os
modelos para outra empresa antes mesmo de realizar o pagamento dos serviços prestrados;
(II) Letícia, residente em Jundiaí, anunciou a venda de seu sofá e sua geladeira na internet,
e José, residente em Campinas, interessado na compra, foi até a casa de Letícia, que, antes
mesmo de receber a oferta de preço por José, se recusou, sem motivos, a vender os móveis;
(III) Carolina ofereceu carona gratuitamente à sua amiga Camila para a faculdade; no trajeto,
sofreram um acidente por culpa grave de Carolina, e Camila foi internada por dez dias.
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Teoria Contratual: Parte Geral – Parte I
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De acordo com a doutrina majoritária, assinale a alternativa que corresponde às possíveis res-
ponsabilidades da marca ER, de Letícia e de Carolina, respectivamente.
a) Contratual, extracontratual e pós-contratual.
b) Pré-contratual pré-contratual e extracontratual.
c) Extraconatratual, não há responsabilidade e não há responsabilidade.
d) Pós-contratual, não há responsabilidade e pré-contratual.
e) Contratual pré-contratual e extracontratual.

(I) Há, pois, um contrato entre João e a marca ER, tendo este violado a cláusula de exclusivi-
dade ao vender os modelos a outra empresa. Estamos diante da responsabilidade contratual.
(II) Estamos diante da proposta, que não traduz, ainda, um contrato. Estamos ainda na fase
pré-contratual. Todavia, acarreta força vinculante para o policitante que a promove, conforme
se verifica na redação do art. 427:

A proposta de contrato obriga o proponente, se o contrário não resultar dos termos dela, da natureza
do negócio, ou das circunstâncias do caso.

A proposta é a declaração unilateral de vontade que vincula, desde logo, o proponente, sujei-
tando-o ao pagamento de perdas e danos em caso de arrependimento, haja vista a sua obriga-
toriedade. Ela não terá caráter obrigatório nas circunstâncias do art. 427. Estamos diante da
responsabilidade pré-contratual.
(III) De acordo com o art. 736 do CC, “não se subordina às normas do contrato de transporte o
feito gratuitamente, por amizade ou cortesia”. Nesta situação, estamos diante da responsabili-
dade civil aquiliana, ou seja, extracontratual.
Letra e.

015. (VUNESP/CÂMARA DE MAUÁ – SP/PROCURADOR LEGISLATIVO/2019) Eduardo cele-


brou compromisso de compra e venda com uma cooperativa, na década de 90, para aquisição
de um imóvel no empreendimento Z, e iniciou o pagamento das prestações mensais ajustadas
entre as partes. Em 1998, foi contemplado em assembleia de cooperados e ingressou na pos-
se do imóvel, dando continuidade aos pagamentos das prestações. Com a quitação integral
em 2002, a cooperativa, no entanto, recursou-se a outorgar a escritura definitiva, ao argumento
de que havia saldo residual pendente, embora não tenha demonstrado a origem da dívida. A
cooperativa também alegou a existência de hipoteca gravando o terreno em que se assenta
o empreendimento, muito embora as unidades estejam individualizadas em matrícula. Consi-
derando o tempo decorrido desde a posse do imóvel, a quitação integral e a relação jurídica
existente entre as partes, é correto afirmar que
a) A cooperativa pode cobrar o saldo residual, decorrente do custeio das despesas adminis-
trativas com a construção do empreendimento, porque a cobrança é corolário do princípio da
boa fé objetiva.

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b) Eduardo faz jus à outorga da escritura definitiva, pois, ao exigir saldo residual após a declaração
de quitação, a cooperativa agiu em comportamento contraditório (venire contra factum proprium)
e frustou a legítima expectativa do adquirente, de que não haveria cobrança de saldo residual.
c) Há impedimento para outorga da escritura definitiva do imóvel, porque o terreno em que foi
construído o imóvel está hipotecado e, dessa forma, o proprietário da coisa dada em garantia
perde seu jus disponendi, em razão da aderência da garantia real.
d) Mesmo com a quitação integral, Eduardo terá direito à escritura definitiva no momento em
que a cooperativa comprovar a liberação do gravame.
e) Eduardo terá direito à outorga da escritura definitiva quando comprovar o pagamento do
saldo residual e o levantamento da hipoteca que recai sobre o terreno.

Aplica-se, no caso comentado, o entendimento já firmado pelo Superior Tribunal de Justiça, na


Súmula n. 308. Vejamos.

SÚMULA N. 308
A hipoteca firmada entre a construtora e o agente financeiro, anterior ou posterior à cele-
bração da promessa de compra e venda, não tem eficácia perante os adquirentes do
imóvel.

Embora a Súmula n. 308 diga respeito ao instituto da hipoteca, o objetivo central do enunciado
é proteger o comprador de boa-fé que cumpriu o contrato e quitou os valores negociados. Nes-
se sentido, o colegiado entendeu que as diferenças entre hipoteca e alienação fiduciária não
são suficientes para impedir a aplicação do enunciado nos casos de alienação.
Letra b.

016. (IBFC/EMDEC/ADVOGADO JR/2019) Os contratos em geral são tratados pelo Código


Civil Brasileiro. Sobre o assunto, analise as afirmativas abaixo e dê valores de Verdadeiro (V)
ou Falso (F).

 (  ) Os princípios de probidade e boa-fé devem ser resguardados tão somente durante a
execução do contrato.
(  ) Nos contratos de adesão, são nulas as cláusulas que estipulem a renúncia antecipada
do aderente a direito resultante da natureza do negócio.
(  ) Não pode ser objeto de contrato a herança de pessoa viva.

Assinale a alternativa que apresenta a sequência correta de cima para baixo.


a) V, V, V
b) V, V, F
c) F, F, V
d) F, V, V

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O Código Civil prevê uma série de normas gerais que devem reger as relações contratuais. So-
bre elas, é preciso analisar as assertivas:
(F) Os princípios de probidade e boa-fé devem ser resguardados tão somente durante a execu-
ção do contrato. Conforme determina o art. 422:

Art. 422. Os contratantes são obrigados a guardar, assim na conclusão do contrato, como em sua
execução, os princípios de probidade e boa-fé.

Portanto, observa-se que este dever não se limita ao momento de execução do contrato, logo,
a afirmativa está incorreta.
(V) Nos contratos de adesão, são nulas as cláusulas que estipulam a renúncia antecipada do
aderente a direito resultante da natureza do negócio. Os contratos de adesão são aqueles ela-
borados por uma das partes, sem a participação da outra. Sobre eles, o art. 424 estabelece que:

Art. 424. Nos contratos de adesão, são nulas as cláusulas que estipulem a renúncia antecipada do
aderente a direito resultante da natureza do negócio.

Assim sendo, está correta a assertiva.


(V) Não pode ser objeto de contrato a herança de pessoa viva. A afirmativa está correta, nos
termos do art. 426: “Art. 426. Não pode ser objeto de contrato a herança de pessoa viva”.
Letra d.

017. (CESPE/TCE-RO/AUDITOR DE CONTROLE EXTERNO/DIREITO/2019) Acerca da pres-


crição, da decadência e dos efeitos na cobrança das prestações devidas pelo devedor em
relação a quem seja credor e ao direito de resolução da relação contratual que não tenha por
objeto bem público móvel ou imóvel, julgue os itens a seguir, com base no Código Civil e no
entendimento do STJ.
I – É facultado ao credor diante do inadimplemento do devedor, escolher entre exigir o cumpri-
mento da prestação ou exigir a resolução do contrato, cabendo, em qualquer das hipóteses, a
respectiva indenização.
II – Excepcionalmente admite-se a cumulação dos pedidos de cumprimento da prestação e de
resolução do contrato e, escolhida a via do cumprimento, é possível recurso à via da resolução
depois de transitada em julgado a sentença de procedência exarada na primeira ação.
III – Como não há prazo em lei estabelecido para o exercício do direito à resolução da relação
contratual, tal exercício é ilimitado no tempo, na medida em que esse instrumento, enquanto
fonte de obrigações que vincula as partes, tem caráter transitório: nasce com a finalidade de
se extinguir preferencialmente com o adimplemento das prestações que encerra.

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IV – Se o pedido de resolução da relação contratual se funda no inadimplemento de determi-


nada parcela, a prescrição da pretensão de exigir o respectivo pagamento prejudica, em con-
sequência, o direito de exigir a extinção da relação contratual com base na mesma causa, ante
a ausência do elemento objetivo que dá suporte fático ao pleito.
Assinale a opção correta
a) Apenas o item I está certo.
b) Apenas o item II está certo.
c) Apenas os itens I e IV estão certos.
d) Apenas os itens II e III estão certos.
e) Apenas os itens III e IV estão certos.

Art. 475. A parte lesada pelo inadimplemento pode pedir a resolução do contrato, se não pre-
ferir exigir-lhe o cumprimento, cabendo, em qualquer dos casos, indenização por perdas e da-
nos. Segundo o entendimento do Superior Tribunal de Justiça (STJ), em regra, admite-se a
cumulação dos pedidos de cumprimento da prestação e resolução do contrato, mas, escolhida
a via do cumprimento, não se dá recurso à via da resolução depois de transitada em julgado
a sentença de procedência exarada na primeira ação (electa uma via non datur recursos ad
alterum). Vejamos:

RECURSO ESPECIAL. AÇÃO DE RESCISÃO CONTRATUAL C/C REINTEGRAÇÃO DE POSSE


E INDENIZAÇÃO POR PERDAS E DANOS. AUSÊNCIA DE PREQUESTIONAMENTO. SÚM.
282/STF. FUNDAMENTO NÃO IMPUGNADO. SÚM. 283/STF. CONTRATO DE COMPRA E
VENDA DE IMÓVEIS. INADIMPLEMENTO. AÇÃO MONITÓRIA JULGADA PROCEDENTE.
TRÂNSITO EM JULGADO. PRESCRIÇÃO DA PRETENSÃO EXECUTÓRIA. AUSÊNCIA
DO ELEMENTO OBJETIVO QUE SUSTENTA O PEDIDO DE RESOLUÇÃO DO CONTRATO.
IMPROCEDÊNCIA DO PEDIDO. JULGAMENTO: CPC/73.

Letra c.

018. (VUNESP/UNIFAI/PROCURADOR JURÍDICO/2019) Assinale a alternativa que está de


acordo com as previsões do Código Civil sobre formação de contratos.
a) Pode revogar-se a oferta pública pela mesma via de sua divulgação, ainda que não haja pre-
visão a respeito na oferta realizada.
b) Reputar-se-á celebrado o contrato no local de domicílio do aceitante.
c) A aceitação fora do prazo, com adições, restrições, ou modificações, importará nova proposta.
d) Se o proponente se houver comprometido a esperar resposta, os contratos entre ausentes
tornam-se perfeitos desde que a aceitação à proposta é expedida.
e) Considera-se inexistente a aceitação, se depois dela chegar ao proponente a retratação do
aceitante.

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Trata-se do art. 431 do CC: “A aceitação fora do prazo, com adições, restrições, ou modifica-
ções, importará nova proposta”. Feita a proposta, o destinatário pode querer negociar. Aconte-
ce que isso não configura aceitação, mas caracteriza nova proposta, invertendo-se os papéis.
O proponente passa à condição de oblata e a oblata, à de proponente.
Letra c.

019. (FCC/TJ-MA/OFICIAL DE JUSTIÇA/2019) Em relação às disposições gerais dos contra-


tos, é correto afirmar:
a) Se o contrato for aleatório, por dizer respeito a coisas ou fatos futuros, cujo risco de não
virem a existir um dos contratantes assuma, terá o outro direito de receber integralmente o que
lhe foi prometido, desde que de sua parte não tenha havido dolo ou culpa, ainda que nada do
avençado venha a existir.
b) A aceitação do contrato fora do prazo, com adições, restrições ou modificações, não impor-
tará nova proposta.
c) Caracterizando-se vício redibitório em um contrato, o alienante, conhecendo ou não o vício
ou defeito da coisa, restituirá o que recebeu com perdas e danos.
d) Nos contratos onerosos, o alienante responde pela evicção; esta garantia não subsiste se a
aquisição foi realizada em hasta pública.
e) Nos contratos de adesão, são válidas as cláusulas que estipulem a renúncia do aderen-
te a direito resultante da natureza do negócio, desde que previamente informado dessa cir-
cunstância.

A alternativa A está correta, frente ao que estabelece o artigo 458 do Código Civil. Vejamos:

Art. 458. Se o contrato for aleatório, por dizer respeito a coisas ou fatos futuros, cujo risco de não virem a
existir um dos contratantes assuma, terá o outro direito de receber integralmente o que lhe foi prometido,
desde que de sua parte não tenha havido dolo ou culpa, ainda que nada do avençado venha a existir.

Sobre o tema, trata a doutrina:

Contrato aleatório é o contrato oneroso sujeito a evento futuro e incerto, pelo qual ambos os contra-
tantes submetem-se a uma álea (sorte ou incerteza de fortuna), onde as probabilidades de perda ou
de lucro são concomitantes e dependentes de casualidade ou de fatores contingentes. O dispositivo
trata do risco sobre a existência da coisa, retratando a emptio spei (venda da esperança, a probabi-
lidade de a coisa existir), caso em que o alienante terá direito a todo o preço da coisa que venha a
não existir, como sucede no exemplo clássico da venda de colheita futura, independente de a safra
existir ou não, assumindo o comprador o risco da completa frustração da safra (inexistência), salvo
se o risco cumprir-se por dolo ou culpa do vendedor.
Letra a.

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020. (FCC/SANASA CAMPINAS/ANALISTA ADMINISTRATIVO/SERVIÇOS JURÍDI-


COS/2019) Natália, proprietária de edícula construída nos fundos de um posto de combustível,
onde trabalha, celebrou contrato de locação com Manoel, por prazo determinado. Neste con-
trato, constou como obrigação ao locatário proceder à transferência da titularidade da conta
de água para seu nome, sem, no entanto, mencionar expressamente quem seria o responsável
pelo seu pagamento.
Passados dois anos da celebração do contrato, Natália ajuizou ação de rescisão contratual c/c
cobrança, em razão do atraso no pagamento das contas de água e da prestação do aluguel.
Manoel, em sua defesa, alegou que a despesa é dívida propter rem e, portanto, de responsa-
bilidade do locador, que é o proprietário do imóvel, devendo repassar o valor ao locatário, por
ocasião da cobrança do aluguel.
No caso apresentado, é correto afirmar que
a) A dívida é de natureza propter rem, e, por isso, somente o proprietário é por ela responsável.
b) O contrato de locação não foi prorrogado, e, portanto, não podem ser exigidos do locatário
os valores referentes ao consumo posterior ao prazo determinado para a locação.
c) O débito relativo ao fornecimento de água é de natureza pessoal, e, assim, pode ser exigido
do consumidor que utilizou o serviço.
d) O proprietário nunca será responsável pelas dívidas do imóvel, enquanto este estiver aluga-
do para terceiros.
e) Ao locatário incumbe realizar diretamente ao locador o pagamento dos valores de tarifas
de serviços prestados por concessionárias de serviço público, já que ele – locador − é o único
responsável por tal pagamento perante a concessionária.

A alternativa C está correta, pois o artigo 23 da Lei de Locações (Lei n. 8.245/91) assim dispõe
expressamente:

Art. 23. O locatário é obrigado a:


VIII – pagar as despesas de telefone e de consumo de força, luz e gás, água e esgoto.

Ademais, conforme pacifica jurisprudência do STJ, o débito relativo ao serviço de fornecimento


de água e energia elétrica é de natureza pessoal, não se vinculando à titularidade do imóvel
(propter rem). Assim, pode ser exigido do consumidor que utilizou o serviço.
Letra c.

021. (VUNESP/PREFEITURA DE CERQUILHO – SP/PROCURADOR JURÍDICO/2019) “A possibili-


dade de se considerar suprimida uma obrigação contratual, na hipótese em que o não exercício
do direito correspondente, pelo credor, gere no devedor a justa expectativa de que esse não
exercício se prorrogará no tempo”.

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Qual é o instituto a que se refere a citação?


a) Supressio.
b) Prescrição.
c) Impossibilidade jurídica do pedido.
d) Decadência.
e) Surrectio.

A supressio significa a perda de um direito pelo seu não exercício ou de uma posição jurídica por
razoável lapso temporal. É o caso do enunciado da questão, que trata do instituto. O art. 330 do
CC traz um exemplo dela (“o pagamento reiteradamente feito em outro local faz presumir renúncia
do credor relativamente ao previsto no contrato”). Supressio e surrectio são duas faces da mesma
moeda. Assim, do mesmo modo que o credor perde um direito em favor do devedor, pela supres-
sio o devedor ganha um direito a seu favor, direito este que, até então, não existia juridicamente.
Letra a.

022. (FCC/SANASA CAMPINAS/PROCURADOR JURÍDICO/2019) Sobre contratos, é INCOR-


RETO afirmar:
a) Nos de execução continuada, se a prestação de uma das partes se tornar excessivamente
onerosa, em virtude de acontecimentos extraordinários e imprevisíveis, poderá o devedor pedir
a resolução do contrato.
b) A exceção de contrato não cumprido aplica-se a todos os contratos.
c) Os benéficos devem ser interpretados de forma restrita.
d) É proibido o que tem por objeto herança de pessoa viva.
e) É possível a manifestação tácita de vontade em matéria contratual, quando não for neces-
sária que seja expressa.

A exceção de contrato não cumprido não se aplica a todos os contratos, mas, apenas, aos
contratos bilaterais. É nesse sentido que está o art. 476 do CC, “nos contratos bilaterais, ne-
nhum dos contratantes, antes de cumprida a sua obrigação, pode exigir o implemento da do
outro”. É uma defesa oponível pelo contratante demandado (denominado excipiente) contra o
outro, que é inadimplente. O demandado recusa-se a cumprir a sua obrigação, alegando, em
sua defesa, que aquele que reclama não cumpriu a sua obrigação no contrato. Se um deles
não cumprir, o outro tem direito de opor-lhe, em defesa, esta exceção, mas desde que a lei ou
o próprio contrato não determine a quem competirá a obrigação em primeiro lugar. Percebam
que o excipiente não discute a existência das obrigações bilaterais. Caracteriza-se por ser um
fato impeditivo do exercício do direito da parte que, sem cumprir sua obrigação, não poderá
exigir o cumprimento da obrigação pelo outro.
Letra b.
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023. (VUNESP/CÂMARA DE PIRACICABA – SP/ADVOGADO/2019) A quantidade de contra-


tos celebrados nos dias de hoje é muito expressiva. Pode-se dizer que é um instrumento jurídi-
co de grande relevância no mundo contemporâneo. O contrato é a mais comum e importante
fonte de obrigação, cuja formação depende da presença de, pelo menos, duas partes. Face ao
exposto, é correto afirmar:
a) No contrato de prestação de serviços, não se tendo estipulado, nem chegado as partes ao
acordo, fixar-se-á a retribuição segundo os índices oficiais regularmente estabelecidos para o
tempo de serviço e sua qualidade.
b) No silêncio do contrato de empreitada, a obrigação do empreiteiro de fornecer os materiais
é presumida.
c) No contrato de doação, é anulável a doação de todos os bens sem reserva de parte ou renda
suficiente para a subsistência do doador.
d) O contrato preliminar, exceto quanto à forma, deve conter todos os requisitos essenciais ao
contrato a ser celebrado.
e) No contrato de compra e venda, até a tradição, em regra, os riscos pela perda da coisa objeto
do contrato correm por conta do comprador.

O contrato preliminar, exceto quanto à forma, deve conter todos os requisitos essenciais ao
contrato a ser celebrado.

Código Civil: Art. 462. O contrato preliminar, exceto quanto à forma, deve conter todos os requisitos
essenciais ao contrato a ser celebrado. O contrato preliminar, exceto quanto à forma, deve conter
todos os requisitos essenciais ao contrato a ser celebrado.
Letra d.

024. (VUNESP/PREFEITURA DE VALINHOS – SP/PROCURADOR/2019) Sobre as condições


gerais dos contratos, indique a alternativa correta.
a) Nos contratos de adesão, são anuláveis as cláusulas que estipulem a renúncia antecipada
do aderente a direito resultante da natureza do negócio.
b) O estipulante pode reservar-se o direito de substituir o terceiro designado no contrato, inde-
pendentemente da sua anuência e da do outro contratante.
c) O contrato preliminar, e também quanto à forma, não necessita conter todos os requisitos
essenciais ao contrato a ser celebrado.
d) As cláusulas resolutivas expressa e tácita operam de pleno direito, independentemente de
interpelação judicial.
e) Pode o adquirente demandar pela evicção, mesmo sabendo que a coisa era alheia ou litigiosa.

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DIREITO CIVIL
Teoria Contratual: Parte Geral – Parte I
Daniel Carnacchioni

O estipulante pode reservar-se o direito de substituir o terceiro designado no contrato,


independentemente da sua anuência e da do outro contratante. É a alternativa correta a ser
assinalada. No caso da estipulação em favor de terceiro, o estipulante poderá reservar-se o
direito de substituir o terceiro designado no contrato, sem a necessidade da anuência deste e
da do outro contratante. É o que prevê o artigo 438 do Código Civil.
Letra b.

025. (FGV/PREFEITURA DE SALVADOR – BA/AGENTE DE TRÂNSITO E TRANSPORTE/2019)


Heleno, que tem 13 anos pretende comprar um videogame no valor de R$ 3.000,00. Para isto,
celebra contrato de compra e venda com Jorge, que tem 18 anos.
Sobre esta situação, quanto a Heleno, é correto afirmar que
a) A contratação é viável, em razão de sua plena capacidade civil.
b) A celebração do contrato apenas seria possível caso ele estivesse assistido por seus pais.
c) Ele não pode celebrar este contrato, em razão de sua incapacidade absoluta.
d) Ainda que representado por seus pais, ele não pode celebrar este contrato.
e) Após os dezesseis anos, ele pode celebrar contratos, independentemente da intervenção de
seus pais.

Art. 3 São absolutamente incapazes de exercer pessoalmente os atos da vida civil os menores de
16 (dezesseis) anos. [...]
Art. 166. É nulo o negócio jurídico quando:
I – celebrado por pessoa absolutamente incapaz.
Letra c.

026. (VUNESP/CÂMARA DE MONTE ALTO – SP/PROCURADOR JURÍDICO/2019) A respeito


dos deveres anexos à boa fé objetiva e à tutela jurídica da confiança no direito contratual,
assinale a alternativa correta.
a) O credor que aceita receber reiteradamente o pagamento em local diverso do pactuado
perde o direito de exigir que o devedor efetue o pagamento no lugar previsto no contrato, em
virtude do venire contra factum proprium.
b) O credor que aceita receber reiteradamente o pagamento em local diverso do pactuado
perde o direito de exigir que o devedor efetue o pagamento no lugar previsto no contrato, em
virtude da supressio.
c) O credor que aceita receber reiteradamente o pagamento em local diverso do pactuado tem
direito de exigir a qualquer tempo que o devedor efetue o pagamento no lugar previsto no con-
trato, não se cogitando de supressio nem de venire contra factum proprium.

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DIREITO CIVIL
Teoria Contratual: Parte Geral – Parte I
Daniel Carnacchioni

d) O credor que dá quitação da dívida sem nenhuma ressalva não tem direito de exigir comple-
mentação do pagamento por conta de correção monetária, em virtude da supressio.
e) O credor que dá quitação da dívida sem nenhuma ressalva tem direito de exigir complemen-
tação do pagamento por conta de correção monetária, porque neste caso não incide a figura
do venire contra factum proprium.

Supressio e surrectio são faces da mesma moeda. Supressio significa supressão, ou seja, a
renúncia tácita de um direito ou de uma posição jurídica pelo seu não exercício com o passar
do tempo. É o caso da assertiva, em que o credor perde o direito de exigir que o devedor efetue
o pagamento no lugar previsto no contrato. Do mesmo modo que o credor perde um direito, o
devedor ganha outro a seu favor por meio da surrectio, que até então não existia juridicamente,
mas que surgiu dos costumes. Vejamos o art. 330 do CC:

O pagamento reiteradamente feito em outro local faz presumir renúncia do credor relativamente ao
previsto no contrato.
Letra b.

027. (VUNESP/CÂMARA DE SERRANA – SP/PROCURADOR JURÍDICO/2019) Manuel estava


viajando em férias pelo Rio Grande do Sul e viu uma casa que se interessou em comprar, em
razão de seu aspecto arquitetônico histórico. Voltando para São Paulo, onde residia, Manuel en-
viou uma proposta, via correspondência física (carta), pelo correio, para o endereço da casa, no
dia 01.09.2018, propondo o pagamento de R$ 2.000.000,00 (dois milhões de reais). O dono do
imóvel, Joaquim, recebeu a proposta no dia 05.09.2018 e expediu uma carta, no dia 07.09.2018,
para Manuel, aceitando o preço oferecido. A proposta foi recebida por Manuel no dia 09.09.2018.
Pode-se afirmar que a data e o local da celebração do contrato são, respectivamente:
a) 07.09.2018 e Rio Grande do Sul.
b) 05.09.2018 e São Paulo.
c) 09.09.2018 e São Paulo.
d) 05.09.2018 e Rio Grande do Sul.
e) 07.09.2018 e São Paulo.

Em harmonia com os art. 434 e 435 do Código Civil.


Letra e.

028. (FUNDEP/GESTÃO DE CONCURSOS/2022/CÂMARA DE PIRAPORA-MG/ASSESSOR


JURÍDICO) Analise as seguintes proposições referentes aos contratos.
I. Contrato com pessoa a declarar é aquele que é pactuado por uma das partes em nome de
terceiro, conhecido ou não no momento da celebração.
II. O princípio da autonomia da vontade possui caráter absoluto e, assim sendo, não se limita à
ordem pública e aos bons costumes.

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Teoria Contratual: Parte Geral – Parte I
Daniel Carnacchioni

III. A compra e venda, quando pura, considerar-se-á obrigatória e perfeita, desde que as partes
acordarem no objeto e no preço.
IV. O Código Civil brasileiro prevê expressamente a possibilidade de ser objeto de contrato civil
a herança de pessoa viva.
Nesse contexto, pode-se afirmar:
a) Todas as afirmativas estão corretas.
b) Todas as afirmativas estão incorretas.
c) Estão corretas as afirmativas II e IV, apenas.
d) Estão incorretas as afirmativas II e IV, apenas.

I) Correta

Art. 467. No momento da conclusão do contrato, pode uma das partes reservar-se a faculdade de
indicar a pessoa que deve adquirir os direitos e assumir as obrigações dele decorrentes.
Art. 468. Essa indicação deve ser comunicada à outra parte no prazo de 5 dias da conclusão do
contrato, se outro não tiver sido estipulado.
Ou seja, no contrato com pessoa a declarar, uma das partes reserva para si o direito de ser substitu-
ída no polo contratual por um 3º a ser indicado por ela. O prazo para indicar é de 5 dias, salvo pacto
diverso.

II) Incorreta. Princípio da autonomia da vontade afirma que as partes têm liberdade de contra-
tar e liberdade contratual. Contudo ele não é absoluto, há limites:
• (i) função social é um limite:

Art. 421. A liberdade contratual será exercida nos limites da função social do contrato.

• (ii) as normas de ordem pública devem ser respeitadas

III) Correta.

Art. 482. A compra e venda, quando pura, considerar-se-á obrigatória e perfeita, desde que as partes
acordarem no objeto e no preço.

IV) Incorreta, haja vista a Vedação ao pacto de corvina/pacto sucessório

Art. 426. Não pode ser objeto de contrato a herança de pessoa viva.
Letra d.

029. (SELECON/2022/PREFEITURA DE SÃO GONÇALO-RJ/ANALISTA PROCESSUAL) Jairo


Dias realiza contrato de locação com Dalva Gi, tendo uma das cláusulas contratuais previsto

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Teoria Contratual: Parte Geral – Parte I
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que o local do pagamento seria a sala comercial do locador situada no município de São Gon-
çalo. Alegando dificuldade de locomoção por residir na zona rural do município, a locatária
postula o pagamento por transferência bancária, o que foi acolhido e realizado pelo período
de dois anos. No início do terceiro ano de cumprimento do contrato, a locatária é surpreendida
com a devolução do depósito bancário realizado e obtém a informação de que o pagamento
deveria ser realizado segundo a cláusula contratual. Nos termos dos princípios aplicáveis atu-
almente aos contratos, o comportamento do locador deve ser considerado:
a) legítimo por baseado em cláusula contratual
b) autorizado por caracterizar a autonomia absoluta da vontade
c) contraditório por confrontar a execução do contrato
d) indicado excepcionalmente para situações de crise

CC, Art. 330. O pagamento reiteradamente feito em outro local faz presumir renúncia do credor re-
lativamente ao previsto no contrato.

Assim, a supressio é como se fosse a renúncia tácita a um direito pelo seu não-exercício ao
longo do tempo. Ou seja, a supressio significa que o credor de uma relação jurídica não exer-
ceu seu direito por longo tempo, de forma que isso gerou a justa expectativa no devedor de
que o credor continuaria sem exigir esse direito, podendo-se considerar, portanto, que aquela
obrigação contratual deixou de existir.
Alguns autores apontam o art. 330 do CC como sendo um exemplo de supressio que foi posi-
tivado na lei.
A configuração da supressio exige 3 requisitos:
• inércia do titular do direito subjetivo;
• decurso de tempo capaz de gerar a expectativa de que esse direito não mais seria exer-
cido e;
• deslealdade em decorrência de seu exercício posterior, com reflexos no equilíbrio da
relação contratual.
Letra c.

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Daniel Carnacchioni
Juiz do TJDFT (titular da 2ª Vara da Fazenda Pública e atualmente juiz assistente da Presidência do TJ-
DFT). Pós-graduado, mestre em Direito e doutorando em Direito Civil. Autor de obras jurídicas, em especial,
do Manual de Direito Civil pela editora JusPodivm. Professor da Fundação Escola Superior do MPDFT.
Palestrante sobre temas do Direito Civil.

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