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CURRICULARES DO
ENSINO FUNDAMENTAL
E DA EDUCAÇÃO DE
JOVENS E ADULTOS
2ª Edição
Vitória - ES
2020
Luciano Rezende
Prefeito
Sergio Sá Freitas
Vice-Prefeito
Adriana Sperandio
Secretária de Educação
ISBN: 978-65-89116-05-9
A construção de uma cidade mais justa e igualitária passa, necessariamente, pelo caminho da educação
com qualidade para todas e todos os estudantes matriculados nas Unidades de Ensino de Vitória.
Esse desafio, uma verdadeira obstinação dos educadores públicos, requer que, diariamente, o processo
ensino aprendizagem seja objeto de permanente debate e reflexão no cotidiano educacional, assim
como todas as variáveis que a ele estão associadas.
O investimento efetivo no processo ensino aprendizagem deverá ser realizado, especialmente, por meio
da implementação do Currículo Escolar que, na Rede de Ensino de Vitória, é fruto de uma produção
coletiva construída/vivenciada ao longo dos últimos anos e sistematizada nos documentos:
Apontam, de forma intencional e clara, a função precípua e específica da instituição escola na construção,
apropriação e socialização do conhecimento científico, acumulado pela humanidade, o que lhe confere
sentido social no processo de transformação coletiva. Comprometem-se com a construção de uma
cidadania consciente e ativa e com o efetivo protagonismo estudantil na medida em que debatem as
transformações sociais, as relações históricas do humano com o meio em que vivemos, a produção e
distribuição de bens e serviços e a convivência com a diversidade e a sustentabilidade como marcas
do mundo contemporâneo por uma educação pública de qualidade, o que, em Vitória, é fortalecido com
a criação do Observatório CAQ-VIX que, por meio de ferramenta computacional, subsidia estimativas
e análises do Custo-Aluno Qualidade (CAQ) na educação pública municipal de Vitória-ES a partir do
“Padrão de Qualidade de Referência (PQR)” com parâmetros próprios do município de Vitória-ES,
sustentado nos princípios de equidade e justiça social.
Nesse sentido, algumas novas tarefas passam a integrar a dinâmica educacional, não porque a escola
seja a única instituição responsável pela educação, mas por ser aquela que desenvolve uma prática
educativa dialogada, intencional, planejada e sistematizada durante um período contínuo e extenso em
diferentes tempos da vida. Assim, por considerarmos o impacto positivo para o alcance da melhoria da
qualidade do ensino público municipal e ampliação das oportunidades de aprendizagem oferecidas aos
estudantes das Unidades de Ensino de Vitória, convidamos os profissionais da educação: docentes,
técnicos e administrativos, a priorizarem, em suas rotinas de trabalho, o estudo, aplicação e debate
das Diretrizes Curriculares, bem como das Políticas Educacionais do Município e demais documentos
orientadores que apoiam o processo de implementação das Diretrizes Curriculares, a saber:
O processo de implementação das Diretrizes Curriculares, bem como das Políticas Educacionais e
Documentos Orientadores pactuados e publicados neste ciclo de gestão da educação, implicam, no
âmbito escolar, a adoção de algumas medidas, quais sejam:
D Revisão e adequação do Projeto Político Pedagógico - PPP a ser coordenada em cada Unidade
de Ensino pelo Diretor, com o apoio dos Pedagogos e Coordenadores Escolares.
D Estudos aprofundados dos documentos elaborados a serem coordenados pelos Pedagogos com
apoio do Diretor, sob a orientação das Gerências da Seme Central.
D Revisão e atualização dos Planos de Ensino, assim como ressignificação dos processos
avaliativos da aprendizagem.
D Apresentação dos Documentos Curriculares, bem como das Políticas e Documentos Orientadores,
junto a todos os membros que compõem o Conselho de Escola, além de ampla divulgação para a
Comunidade Escolar.
Por fim, é preciso reconhecer e ressaltar a singularidade dos novos tempos e dos desafios que se
colocam na gestão dos processos educacionais, especialmente nas situações que requerem tomada de
medidas urgentes e inovadoras que passam, inclusive, pela reinvenção do ser, agir e estar na sociedade,
demandando serviços e atendimentos especialmente na área social, como por exemplo, na situação de
saúde pública provocada pela pandemia vivenciada durante o ano de 2020, que impôs a todos nós o
replanejamento e a reconstrução das ações previstas.
Mesmo diante de tempos de tanta incerteza, afirmamos com convicção que a educação – crítica,
consciente, cientifica e humana será o principal motor de reconstrução e reorganização da realidade
social e educacional. Dessa forma, as experiências vivenciadas podem ser consideradas como pontos
de partida, como possibilidades e perspectivas dos percursos que podemos trilhar com os movimentos
da Educação Municipal de Vitória. Percursos que estão respaldados em premissas fundamentais e que
nos apoiam nesses novos tempos de gestão dos processos educacionais, tais como:
D Foco na aprendizagem: como ação prioritária e contínua assegurada por meio da atuação docente,
pela organização dos conteúdos e pelas escolhas didáticas e metodológicas necessárias ao aprendizado de
todos os estudantes.
D Equidade: princípio que considera a diversidade de estudantes e seus contextos de vida, contribuindo
na definição de estratégias pedagógicas que favoreçam o acesso ao conhecimento, como o uso de materiais
digitais e impressos, de plataformas com conteúdos pedagógicos e outros instrumentos necessários aos
diferentes públicos, como o Portal e a Plataforma Municipal AprendeVix.
D Colaboração: processo em que a união de forças entre família e escola, entre Seme Central e Unidades
de Ensino, é fundamental para a superação dos desafios e alcance dos objetivos.
D Inovação e Gestão baseada em evidências: uma exigência atemporal que pressupõe o uso de
diferentes abordagens, porém, reconhecendo e respeitando as políticas educacionais municipais, o acervo
de informações disponíveis no Sistema de Gestão Escolar – SGE, bem como as produções acadêmicas
locais, nacionais e internacionais.
D Ética e transparência: como valores institucionais que orientam e fundamentam a gestão pública, para
fortalecer relações de confiança no desenvolvimento de ações mais exitosas para a melhoria da educação
municipal.
1 Referências históricas da rede municipal de ensino de Vitória: o que temos consolidado no campo do currículo........16
2 Por que é necessário elaborar um documento com as diretrizes curriculares para todo o município?...........................18
3 Bases legais do currículo: conceitos, limites e possibilidades.............................................................................................19
4 O que deve fundamentar um documento curricular? Discutindo e aprofundando conceitos............................................21
4.1 Currículo: tópicos da história e tendências teóricas..............................................................................................................23
4.2 Currículo como campo de produção de conhecimento, possibilidades, intersecções e experiências: possíveis diálogos
entre as perspectivas teóricas contemporâneas.........................................................................................................................25
4.3 Educação e sentidos da escola.............................................................................................................................................30
4.4 Sujeitos da aprendizagem, desenvolvimento humano e práticas de mediação....................................................................33
4.5 Aula como evento dialógico...................................................................................................................................................38
4.6 Espaços tempos de aprendizagem.......................................................................................................................................41
4.7 Avaliação da aprendizagem e planejamento de ensino........................................................................................................47
5 Os temas da diversidade e as modalidades da educação básica..........................................................................................52
5.1 A relação entre a base comum nacional e a parte diversificada e as modalidades da educação básica.............................52
5.2 A organização do currículo escolar a partir das áreas de conhecimento e sua interseção com as temáticas da
diversidade................................................................................................................................................................................56
6 Direitos de aprendizagem...........................................................................................................................................................61
6.1 Por que assumir esse conceito no documento de diretrizes curriculares da rede municipal de Vitória?..............................61
6.2 O trabalho com objetivos de aprendizagem na rede de ensino de Vitória: uma experiência em movimento.......................64
7 Referências..................................................................................................................................................................................66
1 Área de Linguages......................................................................................................................................................................71
Caracterização: conceitos e princípios........................................................................................................................................71
Articulação com os temas da diversidade...................................................................................................................................73
Objetivos gerais...........................................................................................................................................................................74
Perspectivas teórico-metodológicas............................................................................................................................................75
Referências.................................................................................................................................................................................78
1.1 Arte............................................................................................................................................................................................79
Objetivos de Aprendizagem para o Componente Arte: Ensino Fundamental.............................................................................90
Objetivos de Aprendizagem para o Componente Arte: Educação de Jovens e Adultos.............................................................93
1.2 Educação Física.......................................................................................................................................................................95
Objetivos de Aprendizagem para o Componente Educação Física: Ensino Fundamental.......................................................101
Objetivos de Aprendizagem para o Componente Educação Física: Educação de Jovens e Adultos.......................................106
1.3 Língua Portuguesa.................................................................................................................................................................108
Objetivos de Aprendizagem para o Componente Língua Portuguesa: Ensino Fundamental...................................................129
Objetivos de Aprendizagem para o Componente Língua Portuguesa: Educação de Jovens e Adultos...................................134
1.4 Língua Inglesa........................................................................................................................................................................137
Objetivos de Aprendizagem para o Componente Língua Inglesa: Ensino Fundamental..........................................................150
Objetivos de Aprendizagem para o Componente Língua Inglesa: Educação de Jovens e Adultos..........................................152
1.5 Língua Brasileira de Sinais - Libras......................................................................................................................................153
Objetivos de Aprendizagem para o Componente Libras: Ensino Fundamental .......................................................................163
Objetivos de Aprendizagem para o Componente Libras: Educação de Jovens e Adultos .......................................................165
2 Área de Matemática...................................................................................................................................................................166
Caracterização: conceitos e princípios......................................................................................................................................166
Articulação com os temas da diversidade.................................................................................................................................167
Objetivos gerais.........................................................................................................................................................................168
Eixos organizadores do ensino.................................................................................................................................................169
Perspectivas teórico-metodológicas..........................................................................................................................................171
Práticas avaliativas....................................................................................................................................................................180
Referências...............................................................................................................................................................................183
Objetivos de Aprendizagem para o Componente Matemática: Ensino Fundamental...............................................................186
Objetivos de Aprendizagem para o Componente Matemática: Educação de Jovens e Adultos...............................................201
PARTE III – EDUCAÇÃO: INOVAÇÃO SOCIAL E TECNOLÓGICA POR UMA VIDA SUSTENTÁVEL.....................................314
CONSIDERAÇÕES FINAIS...........................................................................................................................................................341
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¹ Os documentos orientadores da política de educação no Município de Vitória constituem um marco político, resultado do esforço coletivo para uma
educação pública acolhedora da diversidade humana, contemplando os princípios de direito e equidade. Ao considerar o grande coletivo feminino que
compõe o quadro de profissionais presentes nas unidades de ensino deste Município e, diante do reconhecimento a este estimado público, optou-se
por tratar no gênero feminino toda escrita referente ao quadro do magistério. Ressaltamos que essa decisão se deu a partir das reflexões durante os
caminhos percorridos em experiências vivenciadas ao contemplarmos e reconhecermos as questões de gênero e suas implicações educacionais,
sociais, políticas e históricas. Destacamos ainda que, em relação aos estudantes, o texto permanecerá no gênero masculino.
² Foram tomadas, neste documento, contribuições da segunda versão da Base Nacional Curricular Comum, que foi disponibilizada para consulta e
apreciação.
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Assim, considerando a necessidade de trazer todo
“Os trabalhos em grupo foram direcionados para o co-
esse referencial legal e curricular em diálogo com as nhecimento de todos os textos e para uma leitura que
experiências dos sujeitos, foram definidas as ações pudesse ser dialogada com a realidade, por meio das
de atualização das diretrizes, entre as quais se questões elaboradas. Dessa forma, questões que ainda
representam desafios, todos os grupos puderam trazer
destacam os Seminários com o Grupo Referência, para o debate para que as diretrizes curriculares da rede
os Ciclos de Diálogos Curriculares com todos os possam se efetivar como prática sistêmica”
profissionais do Ensino Fundamental e Educação (Fragmento das discussões na escola, EMEF MMM set. 2016).
de Jovens e Adultos e as formações realizadas nas
escolas com apoio da Plataforma VixEduca. O “II Seminário com o Grupo Referência”, que ocorreu
em abril de 2015, teve as mesas temáticas:
a) As áreas de Linguagens e de Ciências Humanas
no currículo da rede de ensino de Vitória, em que
foram apresentados os trabalhos: “O trabalho com
as diferentes linguagens no Ensino Fundamental:
possibilidades e desafios” e “O espaço no tempo, o
tempo no espaço: multidimensionalidades”;
b) Ciências Naturais e Matemática no Currículo
da rede de ensino de Vitória, com os seguintes
trabalhos: “Conceitos matemáticos no Ensino
Fundamental: problematizações e reflexões”
e “O Ensino das Ciências Naturais no Ensino
Fundamental: reflexões e desafios”;
c) Modalidades no Ensino Fundamental, com
os seguintes trabalhos: “Educação Especial e
Figura 2 -Folder do I Seminário Grupo Referência - Currículos
e Aprendizagens currículo: olhares reflexivos” e “A Educação de
Jovens e Adultos: concepções, políticas e práticas”;
No “I Seminário com o Grupo Referência”, em outubro d) Os temas da diversidade no currículo: desafios
de 2014, denominado Diálogos curriculares: currículos à prática pedagógica, em que foram apresentados
e aprendizagens, foram desenvolvidas as seguintes os seguintes trabalhos: “Cotidiano Escolar/
mesas temáticas: retrato social: curriculando as relações raciais”,
a) Currículo e cultura; “Educação Ambiental e produções de sentidos: os
b) Sentidos da escola e infância; usos nas práticas cotidianas”, “Educação em Direitos
c) Bases legais do currículo: conceitos, limites e Humanos: (Re)construções de valores/conceitos na
possibilidades; perspectiva de Currículos Inclusivos” e uma reflexão
d) Referências históricas da rede municipal de ensino a partir do tema sugerido nessa mesa.
de Vitória;
e) Espaços tempos de aprendizagem;
f) Avaliação e planejamento;
g) Aula como evento dialógico.
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Como dito, as mesas foram precedidas de relatos sobre as modalidades Eja e Educação Especial e
de experiências de docentes que buscaram imprimir os temas da diversidade.
ao trabalho desenvolvido uma articulação entre as
áreas do conhecimento, bem como com os temas Concluídos esses momentos, o texto foi novamente
da diversidade. Foram apresentados os seguintes sistematizado a partir da contribuição apontada pelos
relatos: “Tabuleiro da baiana”, “Uma sondagem da grupos e socializado na plataforma, para análise
constituição de sentido de número na perspectiva dos profissionais. Em seguida, houve uma última
da ligação de saberes” e “As redes sociais e o sistematização a partir das contribuições postadas
ensino de Ciências na Educação Básica”. na plataforma e, ao final desses dois momentos,
ocorreram processos de formação continuada nas
Em maio de 2015, quando os proissionais do grupo escolas para análise e aprofundamento do texto,
referência iniciaram o processo de sistematização, momento em que os profissionais, mais uma vez,
os direitos de aprendizagem, que se materializam contribuíram, apontando elementos que foram
nos objetivos de aprendizagem de cada revisitados no texto.
componente curricular, constituíram a temática
da segunda etapa do seminário. Ocorreram Assim, no processo de atualização destas
também grupos de trabalho e plenárias em que os diretrizes, buscou-se resgatar a trajetória de
participantes destacaram os elementos primordiais produção curricular da rede de ensino, trazendo
que deveriam ser observados na elaboração do as discussões ocorridas nos diferentes momentos
documento de diretriz curricular, no que tange às formativos: com os profissionais do Grupo
temáticas deste II Seminário. Referência, com todos os profissionais da rede
nos encontros intitulados Ciclos de Diálogos
Depois da realização dos dois Seminários Curriculares (2014, 2015 e 2016), nas formações
com o Grupo Referência (2014 e 2015), esses ocorridas nas escolas, nos fóruns de discussões
profissionais estiveram à frente dos Ciclos de na plataforma que resultaram em relevantes
Diálogos Curriculares, multiplicando as reflexões contribuições para o processo de sistematização
realizadas junto aos demais colegas da rede do documento. Os anos de 2017 e 2018 foram
municipal. Os debates ocorridos contribuíram dedicados à realização de análise comparativa
para a elaboração do texto que esboçou os considerando a produção nacional da BNCC -
princípios comuns do documento, bem como a Base Nacional Comum Curricular.
fundamentação sobre as áreas de conhecimento,
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PARTE I
REFERÊNCIAS HISTÓRICAS,
LEGAIS E CONCEITUAIS DO
CURRÍCULO NA REDE DE
ENSINO DE VITÓRIA
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Outra experiência de elaboração de documento do documento das Diretrizes Curriculares da
curricular foi vivenciada durante as discussões sobre Educação Infantil e do Ensino Fundamental e
a implantação do Ciclo Inicial de Aprendizagem da elaboração das Diretrizes Curriculares da
do Ensino Fundamental (CIAEF) definido pela Educação de Jovens e Adultos” (DC, PMV,
Resolução 07/2008 do Comev. De acordo com o 2011, p. 1). Em virtude de uma longa greve dos
documento (CIAEF, PMV, 2012, p. 12), “[...] sua docentes nesse ano, o trabalho não chegou a ser
produção teve início em 2009, quando a Seme executado, uma vez que previa uma metodologia
constituiu uma equipe para elaborar e sistematizar participativa, com momentos de reflexão na
um documento que pudesse subsidiar as escolas em escola. A equipe formada para conduzir o processo
relação à reorganização curricular e aos princípios chegou a elaborar um texto intitulado “Diretrizes
que fundamentam a concepção do ciclo”. Curriculares: o que temos consolidado?”, a partir
da análise dos documentos “Educação Infantil:
As formações e as produções curriculares des- um outro olhar” (EIOO, PMV, 2006), Diretrizes
tinadas ao campo da alfabetização e ao CIAEF Curriculares para o Ensino Fundamental (DCEF,
foram potencializadas a partir de 2013 com as PMV, 2004) e Proposta de Implementação da
ações previstas no Pacto Nacional pela Alfabe-
tização na Idade Certa (PNAIC), compromisso Modalidade de Educação de Jovens e Adultos no
assumido pelos governos Federal, do Distrito Fe- Município de Vitória (PIEJA, PMV, 2007).
deral, dos Estados e Municípios para assegurar
a plena alfabetização de todas as crianças até os Em 2013, a inquietação em relação à escrita
oito anos de idade, ao final do 3º ano do ensino
fundamental (BRASIL, 2014). do documento emergiu novamente com a
implementação dos Ciclos de Diálogos Curriculares
“Com a Palavra o Professor”, um movimento
A primeira versão do documento, concluída em
formativo que foi constituído com os profissionais
2010, foi objeto de estudos junto às escolas nos
da rede e que possibilitou uma escuta ampliada das
anos de 2011 e 2012, com a finalidade de promover
experiências, das expectativas e das necessidades
atualização, aprofundamento e acompanhamento
em relação a esse processo de atualização.
em alfabetização. Nesse processo, o documento
foi redimensionado de forma a possibilitar a
Foi a partir desse momento que se buscou
construção de uma concepção de ciclo de
elaborar os referenciais teórico-metodológicos que
alfabetização, resultando numa segunda versão,
fundamentariam as diretrizes do currículo no município,
que foi sistematizada pela equipe de alfabetização
de modo a construir uma referência e a garantir
da Seme, juntamente com representações dos
unidade e coerência ao trabalho docente praticado nas
docentes dos diferentes componentes curriculares
escolas e na rede, para que as experiências fossem
e dos anos iniciais do Ensino Fundamental, assim
efetivamente compartilhadas com todos os sujeitos
como pedagogas que atuavam nas instituições de
que integram este sistema de ensino.
Educação Infantil e Ensino Fundamental.
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Art. 26. Os currículos da educação infantil, do ensino Quanto à garantia de um currículo escolar aos
fundamental e do ensino médio devem ter base nacional estudantes da EJA, bem como do respeito aos
comum, a ser complementada, em cada sistema conhecimentos que trazem consigo, a LDB
de ensino e em cada estabelecimento escolar, por
uma parte diversificada, exigida pelas características
estabelece, em seu artigo 38 que os sistemas de
regionais e locais da sociedade, da cultura, da economia ensino manterão cursos que compreenderão a
e dos educandos (LDB 9394/96). base nacional comum do currículo, habilitando ao
prosseguimento de estudos.
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Figura 9 - Relato de uma sondagem da constituição de sentido de número na perspectiva da ligação de saberes – Profa.
Bernadete Verônica S. Hoffman - EMEF EVS
Teoria pode ser definida como conceitos que Os conjuntos de elementos que influenciam os
utilizamos para conceber a realidade. Os modos de conceiturar e praticar o trabalho na escola
conceitos produzidos a partir de uma teoria são chamados de Tendências Pedagógicas, que
dirigem nossa atenção para certas coisas que podem ser concebidas como “[...] determinadas
sem eles não veríamos, ou seja, os conceitos de orientações gerais à luz das quais e no seio das
uma teoria organizam e estruturam nossa forma quais se desenvolvem determinadas orientações
de compreender a realidade (SILVA, 2001). Com específicas, subsumidas pelo termo correntes”
isso, queremos afirmar que, conscientes ou não, (SAVIANI, 1983, p. 19).
todos nós fazemos opção por uma teoria que vai
influenciar a organização da prática pedagógica Há diferentes formas de agrupar essas tendências
nos seus diferentes aspectos: concepção de e correntes. De modo geral, podemos agrupá-las
infância, desenvolvimento infantil, planejamento, em teorias tradicionais - divididas nas correntes
avaliação, metodologia, sentidos e função social – tradicional, moderna, tecnicista; teorias críticas –
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em que destacamos as correntes crítico-
reprodutivistas, neomarxistas, política cultural,
pedagogia do oprimido, histórico-crítica, histórico-
cultural, entre outras; e póscríticas – constituídas
pelas correntes denominadas multiculturalismo,
pedagogia feminista, teoria queer, pós-
modernismo, pós-colonialismo, pósestruturalismo,
entre outras (SILVA, 2003).
Figura 10 - Relato:
Entre as teorias críticas, há duas correntes que O tabuleiro da
queremos destacar: a pedagogia histórico-crítica e a baiana - Professora
psicologia histórico-cultural, prevalência nos documentos Noélia Miranda –
EMEF ODL
curriculares da rede municipal de Vitória, a saber: as
Diretrizes curriculares do Ensino Fundamental (DCEF, pós-críticas, uma vez que os docentes reunidos no
PMV, 2004), o Documento orientador do ciclo inicial I Seminário e nos Ciclos de Diálogos Curriculares
de aprendizagem: reorganização dos tempos espaços apontaram a necessidade de diálogo com as diferentes
de ensino aprendizagem dos anos iniciais do Ensino correntes atuais que são objeto de debate no campo da
Fundamental (DOCIA, PMV, 2012) e o Documento de educação. As teorias pós-críticas são a crítica à tendência
implementação da modalidade EJA no município de teórica dominante consolidada durante a Idade Moderna,
Vitória (DIEJA, PMV, 2007). Essas perspectivas teóricas mais precisamente entre os finais do século XVIII, século
também se destacaram nos debates ocorridos nos XIX e meados do século XX. A partir daí surgiu o que
Ciclos de Diálogos Curriculares. Santos (1989) vai chamar de paradigma emergente,
pois, segundo o autor, é uma perspectiva que ainda
A pedagogia histórico-crítica é “[...] tributária da está em construção na atualidade. Os traços desse
concepção dialética, especificamente na versão do paradigma são: todo conhecimento é autoconhecimento;
materialismo histórico, tendo fortes afinidades, ao que se todo conhecimento é social, é autobiográfico, é relativo,
refere às suas bases, com a psicologia histórico-cultural singular, local, é complexo, ou seja, todo conhecimento
desenvolvida pela escola de Vygotsky” (SAVIANI, 2005, se constitui a partir de inter-relações e intercruzamentos
p. 36). O referencial que fundamenta essas teorias nos que se estabelecem na vida cotidiana.
fornece elementos para pensar o desenvolvimento do
psiquismo humano e a aprendizagem articulados à Silva (2001, p. 146) discute a importância tanto das
realidade social e cultural, ou seja, o desenvolvimento e teorias críticas quanto das pós-críticas para o campo
a aprendizagem como processos inter-relacionados, e do currículo. As primeiras tratam das formas de
ambos, mediatizados pela relação do ser humano com dominação reproduzidas pelo currículo na escola e as
os outros e com a realidade que o cerca. pós-críticas fornecem uma análise da “[...] dinâmica de
poder envolvida nas relações de gênero, etnia, raça
A afinidade da pedagogia histórico-crítica com a e sexualidade”, indo além das questões do campo da
psicologia histórico-cultural está no fato desta também dominação econômica, social ou de classe.
defender que
Na teoria do currículo, assim como ocorre na teoria
[...] a grande tarefa do ensino reside em transmitir para social geral, a teoria pós-critica deve se combinar
a criança aquilo que ela não é capaz de aprender por si
com a teoria crítica para nos ajudar a compreender os
só. Valora-se de forma altamente positiva a transmissão
à criança dos conteúdos historicamente produzidos processos pelos quais, através de relações de poder e
e socialmente necessários. As aprendizagens que controle, nós nos tornamos aquilo que somos. Ambas
a criança realiza sozinha não são, evidentemente, nos ensinaram, de diferentes formas, que o currículo é
descartadas nessa concepção. Mas é preciso uma questão de saber, identidade e poder.
ficar claro que tais aprendizagens não produzem
desenvolvimento, elas atuam apenas no âmbito daquilo
que já se desenvolveu na criança (DUARTE, 1998, s.p).
Considerando a importância desse referencial teórico,
essas duas perspectivas são detalhadas a seguir
Outro destaque que fazemos é em relação às teorias por meio de alguns tópicos da história do campo do
currículo.
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Nesse movimento não havia um bloco monolítico teorias que: a igualdade não é obtida através
de pensamento e diferentes correntes foram do acesso ao currículo hegemônico/dominante;
se consolidando. Interessa-nos aqui destacar o currículo corporifica e reproduz relações de
quais são as principais premissas subjacentes gênero; as identidades são construídas através
às teorias críticas de forma indistinta (em relação do currículo; questiona-se a estabilidade e a
às diferentes correntes), a saber: existem fixidez das identidades; é a partir da diferença
pressupostos sociais, políticos, econômicos e que o currículo é constituído; o currículo deve ser
culturais embutidos no currículo; a escola reproduz marcado pela ideia de relatividade e singularidade;
as relações de desigualdade social, constituindo-se é impossível dissociar questões de conhecimento,
um aparelho ideológico do Estado, preocupando- cultura e estética de questões de poder, política e
se com a reprodução do status quo; a escola interpretação.
se preocupa com o que o currículo produz, que
é a incorporação de hábitos e atitudes, ou seja, Segundo o mesmo autor, nesta perspectiva,
a reprodução da cultura dominante; o currículo currículo é um campo de luta em torno da
não é neutro, objetivo, racional e apolítico; existe significação social; é um campo de produção de
relação entre educação e sistema de produção; significados; é invenção, ou seja, uma construção
o currículo é uma política cultural, pois envolve social; deve ser compreendido a partir da análise
construção de significados e valores culturais; a das relações de poder; é resultado de um processo
escola pode produzir potencialidades, resistência, de criação e interpretação social.
emancipação e libertação; o ato de conhecer não
é isolado, exige intercomunicação; há um currículo Segundo Silva (2001), as teorias críticas nos
oculto que é produzido na escola; o currículo deve mostraram as relações de poder presentes nas
refletir as tradições culturais e epistemológicas relações econômicas, sociais e políticas, enquanto
de grupos subordinados; o currículo se expressa as pós-críticas nos mostraram que o poder está
através da consolidação de códigos de reprodução em toda parte, que é multiforme. As críticas nos
cultural, e, currículo é relação de poder (SILVA, mostraram que currículo é poder e que o saber
2001). está necessariamente ligado ao poder. O “[...]
conhecimento corporificado no currículo carrega
Dessa forma, podemos dizer que as teorias críticas as marcas indeléveis das relações sociais de
tencionam as relações entre currículo e ideologia, poder [...] o currículo reproduz – culturalmente – as
currículo e poder, currículo e política, currículo e estruturas sociais” (p.147). As teorias pós-críticas
sociedade (MOREIRA; SILVA, 1995). compreendem o currículo como uma questão
de poder, mas um poder descentrado. “O poder
não tem mais um único centro, como o Estado
“O currículo é um instrumento político e deve ser [...] ele está espalhado por toda a rede social”. A
entendido como elemento de reflexão e análise so- concepção de poder é assim ampliada para “[...]
bre os fins e objetivos da escola. Neste sentido, é
importante que a escola desenvolva seu currículo
incluir os processos de dominação centrados na
baseado na aquisição de conteúdos por meio de raça, na etnia, no gênero e na sexualidade” (p.
experiências significativas no sentido de emanci- 149).
pação do estudante como sujeito cidadão”
(Fóruns de discussões, Formação nas escolas,
EMEF IMS, mar. 2015).
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Para conseguir proporcionar o diálogo requerido,
torna-se necessário viver os sentidos dos
currículos praticados nas escolas a partir do
documento das Diretrizes Curriculares, ou seja,
quais são os usos que os sujeitos que estão na
escola fazem do currículo oficial, prescrito? É
necessário também explorar as experiências
vivenciadas nos múltiplos contextos presentes
dentro e fora da escola, num diálogo que
potencialize as diferenças, os diferentes saberes
conforme foi afirmado no grupo de trabalho durante
o Seminário. Essas considerações levaram à
discussão da necessidade de também conceber
o currículo a partir do conceito de experiência.
Figura 13 - Autonomia e solidariedade na escola - EMEF EMSG Segundo Larrosa (2002, p. 27),
[...] os conteúdos não se dão a priori. Essa é uma A experiência é o que nos passa, o que nos
construção contínua, processual e coletiva que acontece, o que nos toca [...] a possibilidade de que
envolve todos os educadores que participam algo nos aconteça ou nos toque, requer um gesto de
do Projeto. A respeito da organização curricular, interrupção, um gesto que é quase impossível nos
considera-se que a EJA abre possibilidades de tempos que correm: requer parar para pensar, parar
superação de modelos tradicionais, disciplinares e para olhar, parar para escutar, pensar mais devagar,
rígidos. A desconstrução e construção de modelos olhar mais devagar, e escutar mais devagar; parar
curriculares e metodológicos, observando as para sentir, sentir mais devagar, demorar-se nos
necessidades de contextualização frente à realidade detalhes, suspender a opinião, suspender o juízo,
do educando, promovem a ressignificação de seu suspender a vontade, suspender o automatismo
cotidiano. Essa concepção permite a abordagem da ação, cultivar a atenção e a delicadeza, abrir os
de conteúdos e práticas inter e transdisciplinares, a olhos e os ouvidos, falar sobre o que nos acontece,
utilização de metodologias dinâmicas, promovendo a aprender a lentidão, escutar aos outros, cultivar a
valorização dos saberes adquiridos em espaços de arte do encontro, calar muito, ter paciência e dar-se
educação não-formal, além do respeito à diversidade. tempo e espaço.
Essa reflexão nos remete ao que foi proposto De acordo com o autor, a experiência é diferente
pelos participantes do I Seminário e dos grupos da informação. Podemos afirmar que depois de
dos Ciclos de Diálogos Curriculares a respeito da uma viagem, ou de uma palestra, ou de uma
necessidade do diálogo com outras perspectivas visita a um museu, passamos a saber coisas que
teóricas contemporâneas do campo do currículo. antes não sabíamos ou a ter informação sobre
Nesse sentido, precisamos fazer o esforço de determinado assunto, mas nada nos tocou, nada
construir uma abordagem que, aliada à perspectiva nos atravessou, nada produziu em nós um sentido
histórico-cultural, considere o currículo também diferenciado. Alguns concebem as informações
como algo constituído a partir da complexidade que passamos a ter como conhecimento, supondo
das redes constitutivas do cotidiano escolar, dos que este “[...] se desse sob a forma de informação,
saberesfazeres tecidos no chão da escola. e como se aprender não fosse outra coisa que
não adquirir e processar informação” (p. 22). Mas,
A escola precisa ter como ponto de partida, para segundo o autor, a informação é a anti-experiência.
seu trabalho pedagógico, um documento curricular “É incapaz de experiência aquele a quem nada lhe
e esse documento precisa ser construído pelo passa, a quem nada lhe acontece, a quem nada
coletivo que forma a rede municipal garantindo lhe sucede, a quem nada o toca, nada lhe chega,
a unidade sem perder de vista as diferenças nada o afeta, a quem nada o ameaça, a quem
regionais, locais e culturais e as experiências dos/ nada ocorre” (p. 25).
as profissionais. Esse é um princípio metodológico
que também foi assegurado nesta dinâmica de
atualização das diretrizes curriculares.
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DIRETRIZES CURRICULARES DO ENSINO FUNDAMENTAL E DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS
Podemos dizer, desse modo, que Larossa (2002) observação de fatos reais. Conhecimento não é
traz a ideia de experiência como aquilo que por uma abstração, mas como já foi afirmado, é uma
nós é apropriado, incorporado, vivenciado. A produção humana. Conhecimento é experiência.
experiência é o que produz sentido de mudança em
nossas vidas. Um exemplo pode ser a professora De acordo com Larossa (2002), o saber de experiência
que ensina aos estudantes o que é evaporação e se dá na relação entre o conhecimento e a vida
como se dá esse processo considerando o ciclo humana. A experiência é uma espécie de mediação
da água na natureza, utilizando livro didático, entre ambos. O saber da experiência é o que se
figuras e textos, ou reproduzindo no quadro o adquire no modo como alguém vai respondendo ao
desenho muito conhecido: o lago, o sol, as nuvens que vai lhe acontecendo ao longo da vida e no modo
e, entre as figuras, setas indicando que a água do como vamos dando sentido ao que nos acontece.
lago no estado líquido sofre aquecimento através No saber da experiência, não se trata da verdade do
do sol, evapora, entra no estado gasoso, forma que são as coisas, mas do sentido que elas passa a
as nuvens, retoma o estado líquido em forma ter na minha existência. A experiência não é o que
de chuva diante de temperaturas aquecidas, e acontece, mas o que nos acontece. Duas pessoas,
retornam à terra. Podemos perguntar: todos os ainda que enfrentem o mesmo acontecimento, não
estudantes terão vivido a experiência em relação têm a mesma experiência.
ao conceito de evaporação? Podemos afirmar que
todos os estudantes passaram a ter conhecimento Vislumbramos, assim, a possibilidade da relação
sobre evaporação e ciclo da água na natureza? entre a pedagogia histórico-crítica, a psicologia
Pode ser que ao serem perguntados em uma histórico-cultural e as teorias pós-críticas. Essa
prova, reproduzam a exposição do docente relação também pode ser observada tanto nas
e, provavelmente, depois dessa avaliação, Diretrizes curriculares (2004) quanto na Proposta
esqueçam a informação transmitida. de implementação da modalidade EJA (2007).
Trata-se de buscar consolidar a sala de aula,
Por outro lado, se tivéssemos trabalhado o bem como outros espaços e tempos da escola ou
mesmo conteúdo colocando um lenço molhado mesmo da comunidade, como lugares de produção
em um varal feito entre as janelas da sala, levando de conhecimento. Desse modo, consideramos a
os estudantes a observarem, durante o período importância da escola como espaço de criação,
da aula, o que estava acontecendo e se, além pesquisa, inventividade e, principalmente, lugar
disso, tivéssemos ido à cozinha, pedido que os de inter-relação, onde estudantes e docentes,
estudantes colocassem a mão sobre a panela em mediatizados pela linguagem e pelas experiências
que o alimento do dia estava sendo preparado de vida que trazem consigo, produzam
no fogão e observassem a própria mão com conhecimento, traduzindo-se na perspectiva da
gotículas de água e, ao final das duas vivências aula como evento dialógico cujo aprofundamento
discutíssemos o que aconteceu, não estaríamos é feito posteriormente.
produzindo o conhecimento de outra forma? Não
estaríamos talvez fazendo com que os estudantes Assim, de forma generalizada, podemos apontar
tivessem a experiência em relação ao conceito de que as teorias pós-críticas conceituam currículo
evaporação e ciclos da água na natureza? Não como tudo que é produzido nas relações entre
estaríamos produzindo sentidos e significados em os sujeitos nas escolas. E o currículo só tem
relação a esse conteúdo de Ciências? significação quando tem sentido para o sujeito que
o pratica, daí a relação entre conhecimento e vida.
É o que Saviani (1991) chama de apropriação e
Candau e Moreira (2007), de contextualização, Silva (2001) nos afirma que, depois das teorias
ao invés de assimilação/reprodução. Trata-se críticas e pós-críticas, é impossível pensar o
de produzir, na escola, processos e práticas de currículo como algo estático, neutro, objetivo, a
mediação em que o estudante observe a relação partir de conceitos exclusivamente técnicos ou
do conteúdo estudado com fatos de sua vida racionais, ou apenas como grade curricular ou
cotidiana, ou seja, que um determinado sujeito listas de conteúdo.
chegue à formulação de um conceito a partir da
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DIRETRIZES CURRICULARES DO ENSINO FUNDAMENTAL E DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS
Na proposição do grupo que discutiu as concepções Tendo em vista dimensionar o currículo visando
de currículo no I Seminário e nos Ciclos de Diálogos ao atendimento às especificidades dos estudantes
Curriculares, bem como nos outros momentos da EJA, o Documento Orientador da Educação de
em que essa questão foi discutida, observamos Jovens e Adultos do município de Vitória (DOEJA,
que além de trabalhar o conhecimento a partir do PMV, 2008, s/p) aponta que
conceito de experiência, havia o desejo de que o
conhecimento fosse trabalhado numa perspectiva A Educação de Jovens e Adultos, em sua dimensão
progressiva e longitudinal que permitisse pensar de direito à formação continuada ao longo da vida
e de concretização do direito à educação sem
nos diferentes espaços e tempos de aprendizagem, restrição etária, aponta para discussões curriculares
nos sujeitos, nos conteúdos, nas metodologias que devem ser fundamentadas não somente pelas
de ensino e avaliação, integrando as etapas e questões gerais que as orientam, mas, sobretudo,
modalidades do Ensino Fundamental. Nessa nas especificidades que caracterizam a formação da
linha de pensamento, o Documento Orientador do juventude e da adultez, e do papel da escolarização
nessa formação. É importante lembrar que o
Ciclo de Aprendizagem (DOCA, PMV, 2012, p 28)
conteúdo ganha uma dimensão mais ampliada,
sintetiza de forma clara a concepção de currículo ou seja, são considerados conteúdo das diversas
que deve orientar o trabalho das escolas: disciplinas (Português, Matemática, História...)
articulados às dimensões (cultura, trabalho, gênero,
Currículo é como organizamos os diferentes etnia...). O currículo escolar vai além dos programas
temposespaços de ensino aprendizagem; de conteúdos e vem sendo entendido como um
como ensinamos e socializamos os diferentes conjunto de ações da escola, envolvendo todos os
conhecimentos acumulados ao longo da história seus segmentos, sob a coordenação de sua equipe
do homem; como objetivamos a interlocução entre pedagógica, num processo constante de construção
as diversas áreas do conhecimento, enfim, como e reconstrução.
concebemos a criança/infância no contexto das
interações pedagógicas. O currículo é marcado por Dessa forma, podemos observar que os diferentes
contextos culturais, sociais, históricos e políticos, documentos produzidos no município, bem como
sendo que cada criança tem seu modo de aprender,
que deve ser respeitada pela escola. Nessa
a reflexão realizada pelos/as profissionais nos
perspectiva, o currículo não se esgota num objeto diferentes momentos de construção deste texto
estático: currículo é práxis, relação, experiência, indicam a necessidade de conceber e praticar o
sistematização de conhecimentos, dentre outros. currículo para além da ideia de uma listagem de
Currículo é vida, é tudo o que se pensa sobre a escola conteúdo, mas como algo que seja experienciado
e tudo que se concretiza em prática pedagógica.
pelos estudantes e docentes nos diferentes
momentos e espaços de relação na escola.
E na proposta de implementação da EJA o currículo
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DIRETRIZES CURRICULARES DO ENSINO FUNDAMENTAL E DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS
Não podemos discutir sobre a educação, os Essas transformações têm instituído novas práticas
sentidos da escola ou a função social da escola sem e formas de relações sociais que se ajustam ao
estabelecer uma relação com o contexto social, modelo político e econômico atual. Um novo jeito
histórico e econômico. Se considerarmos o caso de ser, de estar e de se relacionar na sociedade
brasileiro, podemos dizer que, a partir do início da é garantido por meio da mudança dos sentidos,
década de 1990, temos vivido um período marcado dos significados e dos discursos, o que se constitui
por muitas transformações que se consolidaram a fundamento do projeto neoliberal, porque nenhum
partir do ideário neoliberal. No Brasil, a ausência processo de obtenção de hegemonia política
do poder público tem significado a não priorização pode dispensar uma transformação radical dos
da proteção integral da população, o que tem se significados, das categorias, dos conceitos, dos
configurado como fator de aumento da exclusão discursos por meio dos quais a “realidade” adquire
social, da miséria e da violência. sentido e pode ser nomeada (SILVA, 1996).
Instalou-se entre nós a cultura do individualismo,
Assim, por um lado houve a minimização do Estado banalização da vida, a supervalorização do capital
e a consequente redução de políticas sociais e, e da mercadoria, a fragmentação dos serviços e
por outro, ocorreram transformações no campo dos indivíduos, a naturalização e normalização
econômico, entre as quais: a reestruturação da exclusão, perda da sensibilidade e dos valores
produtiva; a mudança no perfil do trabalhador e as sociais, entre outros.
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DIRETRIZES CURRICULARES DO ENSINO FUNDAMENTAL E DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS
E qual seria a relação desse contexto com os possibilitar-lhes outros horizontes e perspectivas
sentidos da escola? Com a função da escola? de vida. Vivenciamos uma experiência desse tipo,
Com o sentido da educação na vida de nossos durante o Seminário, quando o estudante da sala
estudantes? A relação está no fato de a escola ter de progressão da EMEF Tancredo de Almeida
sido destituída de interesses para grande parte dos Neves nos mostrou que redescobriu o sentido da
estudantes, pois podemos fazer essas perguntas escola e viu nessa instituição uma possibilidade
de outra forma, como: que implicação terá a escola de transformação social e de sua própria vida. É
na vida dos estudantes? O que significa concluir o a escola e seus profissionais como um modelo,
Ensino Fundamental diante desse contexto? Qual como um caminho, como uma possibilidade,
o valor do conhecimento para nossos estudantes ao invés do crime e da violência. Nessa mesma
hoje? A escola até a década de 1980 tinha uma perspectiva, os profissionais de uma escola
função social que era possibilitar a mobilidade municipal de Ensino Fundamental nos afirmaram:
social ou o ingresso no mercado de trabalho. E
hoje? O verdadeiro sentido da escola é o de ampliar os
saberes, oportunizar e estimular a construção
de conhecimento, contribuir para a humanização
e cidadania, criar perspectivas para um futuro
promissor e uma sociedade melhor para todos.
(PROFESSORA, EMEF TAN).
Assim, queremos dizer que os estudantes precisam Os profissionais de outra escola apontam que os
compreender que o conhecimento tem sentido, estudantes também fazem relação da educação
tem relação com suas vidas e pode contribuir com a ampliação da visão de mundo e formação
para sua humanização, sua emancipação, e para cidadania, mostrando que
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Os jovens e adultos buscam a escola não somente Desenvolver o pensamento crítico, a cidadania é
para concluir seus estudos, ou resgatar um tempo finalidade da educação formal. Isso deve ocorrer
de escolarização. A escola é um lugar onde buscam
em todas as aulas em todos os espaços e tempos
conhecimentos e saberes que ampliam sua visão de
cidadãos e de mundo, como também uma formação e não deve ser um projeto pessoal, de cada um, de
mais apropriada que os ajude a responder as cada escola, mas da educação desenvolvida nas
questões que enfrentam na vida cotidiana. Além escolas municipais de Vitória. Precisamos pensar
disso, consideram a escola como um espaço de a escola como provedora de uma educação formal
lazer, de vivenciar novas experiências, de encontros significativa, assegurando experiências que
com outras pessoas (SÍNTESE DO RELATÓRIO
DAS FORMAÇÕES NAS ESCOLAS).
contribuam para a produção de conhecimentos,
considerando as diferenças, os contextos, as
Ao discutir a questão da educação como um “[...] culturas, os saberes de todos os sujeitos. Isso
direito humano, direito que se afirma independente quer dizer que precisamos conceber a educação
do limite de idade e expressa a ideia de que a como práxis social.
juventude e a adultez também são tempos de
aprendizagem”, o DIEJA (PMV, 2007, p. 5) discute A perspectiva histórico-cultural também concebe
formas de ressignificar os sentidos da escola, a educação como práxis social e política e as
mostrando que há na EJA: escolas como espaços de trocas culturais e de
apropriação do conhecimento. Nessa perspectiva
[...] uma tradição de lutas pedagógicas enraizadas teórica, bem como na teoria histórico-crítica,
na educação popular em que a experiência de
vida dos sujeitos traz conhecimento, traz memória, O trabalho educativo é o ato de produzir, direta
relações sociais e culturais, religiosidade, trabalho, e intencionalmente em cada indivíduo singular,
família, política e afetividade. Essas dimensões a humanidade que é produzida histórica e
do mundo jovem e adulto, quando incorporadas coletivamente pelo conjunto dos homens. Assim,
ao saber escolar podem potencializar a essência o objeto da educação diz respeito, de um lado, à
educativa das práticas sociais e da prática educativa identificação dos elementos culturais que precisam
escolar [...]. E EJA se apresenta, então como um ser assimilados pelos indivíduos da espécie humana
momento de humanização do sujeito, como um para que eles se tornem humanos e, de outro lado e
espaço de estimulação da autonomia, como tempo concomitantemente, à descoberta das formas mais
de aprendizagem, como movimento de vida, como adequadas para atingir esse objetivo (SAVIANI,
possibilidade de concretização de um direito. 1991, p. 21).
Assim, precisamos sistematizar parte dos A escola é espaço tempo de trabalho com
sentidos de escola para o Município de Vitória, o conhecimento culturalmente produzido e
considerando a necessidade de uma orientação sistematizado pela humanidade e o profissional da
comum como garantia do direito à educação educação, que por meio da docência desenvolve
a todos os estudantes, tendo em vista uma um trabalho de autoria criativa, é responsável
fundamentação curricular que paute as questões pela garantia da apropriação desse conhecimento
sociais, políticas e econômicas, pois currículo pelos estudantes, visando à emancipação
tem relação com a formação para a vivência da e transformação social, o que remete ao
cidadania. Desse modo, precisamos cuidar para reconhecimento da diversidade cultural. Sendo
que a formação cidadã não seja um objetivo assim, os participantes da construção deste texto
secundário, mas esteja integrada ao processo apontaram que a educação é uma prática social
de apropriação dos conhecimentos. Ensinamos que tem por finalidade, além da garantia de uma
os conteúdos, e a cidadania, onde aparece? Ela formação humana, ética e política, a apropriação
está assegurada no currículo ou é espontânea, dos conhecimentos necessários à convivência
ocasional? Existe tempo para formação da social, à compreensão da realidade, ao exercício
cidadania ou essa formação está vinculada às da cidadania que se efetiva com o direito à
experiências curriculares vivenciadas com os aprendizagem.
estudantes? O pensamento crítico é desenvolvido
no contexto das experiências pedagógicas?
Como? Por quem? Quando?
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DIRETRIZES CURRICULARES DO ENSINO FUNDAMENTAL E DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS
essa passagem, bem como a aprendizagem, e por O mesmo pode ser observado no tocante à
consequência, desenvolvimento humano. defesa da necessidade do brincar, que é uma
realidade cotidiana das crianças e também dos
Surge aí outro aspecto fundamental que é o adolescentes. É uma prática sociocultural que
conceito de mediação, que se faz necessária no possibilita a transposição de dados da realidade ao
processo de ensino aprendizagem. O/a docente mundo da fantasia, dos símbolos, estabelecendo
é o responsável por criar situações e práticas de novas interações com os objetos, com as pessoas
mediação para favorecer o desenvolvimento e e com seu próprio corpo. O brincar expressa,
aprendizagem entre os estudantes. A mediação portanto, um diálogo com o mundo, a forma
é concebida como o conjunto de situações, como a criança representa e recria a realidade
possibilidades e recursos que são criados pelo/a à sua maneira a partir de suas vivências e
docente e disponibilizados aos estudantes como experiências. Borba (2007) discute que Vygotsky
forma de garantia do direito de aprendizagem. (1987) é um dos defensores de que o brincar é um
O/a docente mediador/a é aquele que percebe e importante processo psicológico, uma atividade
compreende os processos internos vivenciados humana criadora, fonte de desenvolvimento e
pelos estudantes e lhes possibilita meios para aprendizagem, no qual a “[...] fantasia e realidade
se apropriarem de novos aprendizados, que cria interagem na produção de novas possibilidades
situações e problemas que os levem a superar de interpretação, de expressão e de ação” (p. 37).
estágios de desenvolvimento e concepções
acerca da realidade à sua volta, bem como dos Os processos de desenvolvimento e de
conceitos já construídos e a elaborar outros. aprendizagem envolvidos no brincar são também
constitutivos do processo de apropriação de
conhecimentos! A possibilidade de imaginar,
Essas práticas de mediação são constituídas de ultrapassar o já dado, de estabelecer novas
a partir da linguagem, que tem uma relação relações, de inverter a ordem, de articular o
direta com o desenvolvimento dos estudantes. passado, presente e futuro potencializa nossas
Linguagem é outro conceito fundante na possibilidades de aprender sobre o mundo em
que vivemos. [...] o brincar é um espaço de
perspectiva histórico-cultural. A proposta de
apropriação e constituição pelas crianças e
trabalho com alfabetização contida no Documento [adolescentes] de conhecimentos e habilidade no
Orientador do Ciclo Inicial de Aprendizagem (2012) âmbito da linguagem, da cognição, dos valores e
é a tradução das concepções acerca do trabalho da sociabilidade (BORBA, 2007, p. 39).
com a linguagem nesta perspectiva, ressaltando
que a aprendizagem possibilita o desenvolvimento O jogo e a brincadeira potencializam a zona de
e este, por sua vez, possibilita a aprendizagem. desenvolvimento proximal, na medida em que, ao
Significa dizer que o estudante se desenvolve brincar, “[...] a criança sempre se comporta além
aprendendo e aprende desenvolvendo-se. do comportamento habitual de sua idade, além
de seu comportamento diário [...] é como se ela
Defende ainda que pensamento e linguagem não fosse maior do que é na realidade” (VYGOTSKY,
são processos dicotômicos, mas como processos 1994, p. 117). Na brincadeira, a criança é
em estreita articulação. Porém, esses processos instigada, provocada a enfrentar realidades e
não podem ser entendidos como mera abstração, desafios, a assumir personagens, a agir como
deslocados da realidade, mas processos com se fosse verdadeiramente esse personagem,
significação social e portadores de sentidos. ou então a resolver problemas e situações. Ao
Assim, a alfabetização tem uma função social brincar, a criança também expressa sentimentos,
e cultural que não se reduz apenas à aquisição percepções, valores, concepções de mundo,
da leitura e da escrita, mas é a possibilidade do bem como os reelabora, recria e os transforma.
estudante ter acesso às diferentes linguagens Daí, podermos afirmar que o brincar é um
no sentido de ampliar o seu universo cultural, complexo processo que envolve habilidades
apropriando-se do sentido da leitura e da escrita e conhecimentos. A brincadeira pode também
para sua vida, fazendo uso consciente desse aproximar a criança do adulto e vice-versa.
mecanismo de interlocução, ou seja, de interação Vygotsky (1991, p. 156) nos mostra que:
com os outros através da linguagem.
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DIRETRIZES CURRICULARES DO ENSINO FUNDAMENTAL E DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS
[...] ainda que se possa comparar a relação Todavia, essa mudança só será possível quando
brinquedo-desenvolvimento a relação instrução- o adulto reconhecer as crianças e adolescentes
desenvolvimento, o brinquedo proporciona um
como sujeitos brincantes e se apropriar de suas
campo muito mais amplo para as mudanças quanto
a necessidades e consciência. A ação na esfera culturas como forma de compreender melhor as
imaginativa, numa situação imaginária, a criação diferentes vozes da infância e adolescência que
de propósitos voluntários e a formação de planos atravessam o cotidiano da escola.
de vida reais e impulsos volitivos aparecem ao
longo do brinquedo, fazendo do mesmo o ponto Diante do reconhecimento da criança e do
mais elevado do desenvolvimento pré-escolar. A
criança avança essencialmente através da atividade
adolescente como sujeitos de direitos, exige-se
lúdica. Somente neste sentido pode-se considerar antes de tudo uma (re)significação da concepção
o brinquedo como uma atividade condutora que de infância e de adolescência. Esse esforço de
determina a evolução da criança. (VYGOTSKY, criar novas bases de compreensão sobre esses
1991, p. 156). dois períodos não pode estar desatrelado do
modo como agimos e interagimos com as crianças
Ao ressaltar o valor do brincar é preciso ter e adolescentes no contexto da escola, ou seja, o
claro que estamos falando da brincadeira livre, trabalho pedagógico deve fortalecer a experiência
espontânea, sem objetivos e resultados pré- das crianças e adolescentes como sujeitos
determinados. Não se trata de deixar a criança históricos e produtores de cultura nos diferentes
ou adolescente brincar de forma livre todo o tempos e espaços da instituição.
tempo, mas de a escola possibilitar tempos e
espaços para que vivenciem a brincadeira de A concepção do estudante como um sujeito
forma livre. Existem formas lúdicas para trabalhar histórico e cultural torna-se proeminente quando
determinados conteúdos, como jogos de memória, nos remetemos aos estudantes da EJA pois, como
operações matemáticas, alfabeto móvel, dominó uma modalidade da educação básica, expressa
de letras, músicas e outros. Trata-se, nesse caso, um modus, ou seja, uma forma específica e
de recursos didáticos, é o uso da ludicidade na diferenciada, no que diz respeito à condução
prática pedagógica. As atividades lúdicas se da prática pedagógica, às relações docente e
diferem da brincadeira espontânea e livre. discente, bem como à concepção de sujeito
da aprendizagem. Por quê? São estudantes
Existem inúmeras possibilidades de incorporar a
ludicidade na aprendizagem, mas para que uma que trazem uma longa trajetória, histórias
atividade seja lúdica é importante que permita e experiências de vida. No Documento de
a fruição, a decisão, a escolha, as descobertas, Implementação da Eja, encontramos a definição
as perguntas, e as soluções por parte das dos sujeitos dessa modalidade citada por uma das
crianças e dos adolescentes, do contrário, será escolas da rede
compreendida apenas como mais um exercício [...]
se incorporarmos de forma mais efetiva a ludicidade
Homens e mulheres, trabalhadores/as empregados/
nas nossas práticas, estaremos potencializando as
as e desempregados/as ou em busca do primeiro
possibilidades de aprender e o investimento e o
emprego; filhos, pais e mães; moradores urbanos
prazer das crianças e dos adolescentes no processo
de periferias, favelas e vilas. São sujeitos
de conhecer. E, com certeza, descobriremos também
sociais e culturais, marginalizados nas esferas
novas formas de ensinar e de aprender com as
socioeconômicas e educacionais, que sofreram
crianças e os adolescentes! (BORBA, 2007, p. 43).
privações em determinado momento de suas vidas
no que diz respeito ao acesso à cultura letrada e aos
A implantação do Ensino Fundamental de nove bens culturais e sociais. Esta privação pode de certa
anos impõe à escola que as questões relacionadas forma comprometer uma participação mais efetiva
ao brincar passem a ser uma discussão no mundo do trabalho, da política e da cultura.
imprescindível e que deverá ser feita por todos os Invariavelmente, migram das zonas rurais, vivem
profissionais que atuam nessa etapa da educação no mundo urbano, industrializado, burocratizado e
escolarizado, e em geral, trabalham em ocupações
básica, porque há que se superar a ideia de que na não qualificadas. Trazem a marca da exclusão
Educação Infantil é momento de brincadeira e no social, mas são sujeitos do tempo presente e do
Ensino Fundamental de aprendizagem, como se o tempo futuro, formados pelas memórias que os
brincar fosse desprovido de seriedade e entendido constituem enquanto seres temporais (DIEJA,
apenas como um passatempo inócuo das crianças. PMV, 2007, p. 3–4).
36
DIRETRIZES CURRICULARES DO ENSINO FUNDAMENTAL E DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS
Outra questão fundamental a ser aprofundada,
por ter uma relação direta com o currículo a ser
praticado pelas instituições e os sentidos da
escola, é o processo de juvenilização que vem
acontecendo na EJA. Aumenta, a cada dia, o
número de adolescentes que após uma trajetória
de reprovações no Ensino Fundamental buscam
esta modalidade de forma voluntária ou são
remanejados pela própria escola. Outro dado, o
fenômeno ocorrido a partir dos anos de 1990, é a
intensificação da busca da EJA, pelos estudantes
público da Educação Especial, o que acaba por
diversificar ainda mais o grupo de sujeitos que
frequentam a modalidade. Trata-se, pois, de
efetivar um direito que foi negado em um momento
da vida desses sujeitos. Nesse sentido,
Figura 16 - Estudantes da turma de progressão de aprendizagem Devemos estar atentos em nossa práxis pedagógica
– Aprender Mais - EMEF PAN
para os seguintes apontamentos: os estudantes da
EJA não podem ser tratados como seres com menor
A educação tem, pois, para esses estudantes, o capacidade de aprendizagem, pois eles, na maioria
sentido preponderante de resgatar direitos não das vezes, apenas não tiveram a oportunidade,
o que significa o direito negado de permanecer
só no campo educacional, mas cultural, social e na escola quando crianças ou adolescentes por
também econômico, o que nos faz refletir sobre a diversos motivos; as turmas de EJA não podem ser
necessidade de um aprofundamento da questão encaradas como educação de “segunda linha” e
da formação profissional na EJA, tendo em vista menos importantes, de menor qualidade. Todas/os
que essa é uma dimensão fundamental para os as/os educandos da EJA, assim, como os demais,
têm direito de prosseguir seus estudos; as/os
estudantes que devem ser considerados como
profissionais que atuam na EJA precisam identificar-
se e comprometer-se com o trabalho, pois as/os
Munícipes que demandam atendimento de educandas/os que frequentam as aulas de EJA
escolarização nos turnos matutino e vespertino; buscam e merecem respeito.
são pessoas em situação de rua, catadoras de
material reciclado, jovens de casas lares, casas
de acolhimento e casas de semiliberdade [...]
Reconhecendo, então, que nossos estudantes
pessoas com deficiências, homossexuais, lésbicas, são sujeitos de direto, sujeitos históricos e sociais,
transexuais; sujeitos marginalizados [...]. São produtores de cultura; que a escola, entre outros o
sujeitos de direitos, trabalhadores/as que participam, que tem como sentido, a produção e a apropriação
concretamente, da garantia da sobrevivência do do conhecimento; que a educação é um fenômeno
grupo familiar ao qual pertencem e que possuem
que acontece em diferentes espaços; que a
responsabilidades sociais já determinadas, trazendo
consigo especificidades sociais, culturais e etárias professora é uma das principais mediadoras
que os/as tornam diferentes do Ensino Fundamental do processo de formação, desenvolvimento
regular (DIEJA, PMV, 2007, p. 4). e aprendizagem dos estudantes, precisamos
discutir sobre nossa compreensão de aula, que é o
Nossa responsabilidade em relação aos elemento fundante das relações entre professoras
estudantes da EJA amplia-se, pois e estudantes.
[...] são sujeitos, ainda excluídos do sistema
municipal de ensino. Em geral, apresentam um
tempo maior de escolaridade, com repetências
acumuladas e interrupções na vida escolar. Muitos
nunca foram à escola ou dela tiveram que se afastar,
quando crianças, em função da entrada precoce no
mercado de trabalho, ou mesmo por falta de escolas
(PMV/SEME, 2007, p. 4).
37
DIRETRIZES CURRICULARES DO ENSINO FUNDAMENTAL E DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS
Nos diferentes momentos de elaboração deste Como podemos observar, para Bakhtin, nós só
documento, foi pontuada a necessidade de tomamos consciência de nós mesmos na relação
superarmos a concepção de aula como um ritual com o outro
em que a tradição cultural é transmitida por aquele
que sabe (docente) a quem precisa aprender [...] eu só posso imaginar-me, por inteiro, sob o olhar
(estudantes), isto é, aula concebida a partir de do outro; pelo princípio dialógico [...] a minha palavra
está inexoravelmente contaminada pelo olhar de
uma tradição monológica: o/a docente tem a fora, do outro, que lhe dá sentido e acabamento [...]
autoridade de produzir o discurso, cabendo aos no universo bakhtiniano nenhuma voz, jamais fala
estudantes ouvir. Geraldi (2010, p. 81) aponta que, sozinha. E não fala sozinha não porque estamos,
nesse sentido, a aula é “[...] entendida como ritual vamos dizer, mecanicamente influenciados pelos
e, por isso, com gestos e fazeres predeterminados outros – eles lá, nós aqui, instâncias isoladas e
isoláveis – mas porque a natureza da linguagem
de transmissão de conhecimentos”.
é inelutavelmente dupla [...] (TEZZA, 2005, p. 211,
apud CAMPOS; SOUZA; STIEG, 2011, p. 41).
Essa metodologia e forma de relação entre o
estudante e o docente têm algumas consequências, E quais as relações dessas questões com a
como o conhecimento, que é dado como algo pronto, aula? Caso não tenhamos consciência das
acabado, imutável, algo que apenas é transmitido. E, inter-relações necessárias entre estudante e
principalmente, na forma de perceber o outro, de um docente como sujeitos que se complementam e
lado temos o docente, como ser completo, definido, se interinfluenciam, corremos o risco de produzir
acabado e de outro, o estudante, ser amorfo, um modelo de aula como um rito sem sentido
tábula rasa. Nas duas situações, ambos perdem a e artificial. Momento em que não se produzem
humanidade. Por quê? O que nos caracteriza como encontros, não se permite interação, não se
humanos é justamente a consciência da nossa estabelece a interlocução, que é a interação entre
incompletude, do inacabamento, o que nos faz ir duas pessoas ou mais através da palavra. A aula
ao encontro do outro, permitindo o diálogo. Isso é o como evento dialógico supõe a interação verbal
que permite a interação, a busca, e um processo de entre sujeitos, pressupondo o diálogo entre as
aprendizagem que é contínuo, que se estabelece professoras e estudantes, na busca da produção
sempre na relação com o outro. Nesse movimento, do conhecimento.
Eu tomo consciência de mim e me torno eu mesmo Foi apontado pelos participantes do seminário que
unicamente me revelando para o outro, através devemos considerar que a aula é vida e, portanto,
do outro e com o auxílio do outro. Os atos mais é um espaço de tensões que são constituídas
importantes, que constituem a autoconsciência, são
determinados pela relação com outra consciência
na relação entre ensino aprendizagem; é um
(com o tu) [...]. Não se trata do que ocorre dentro, discurso a ser produzido e vivenciado a partir de
mas, na fronteira entre a minha consciência e a uma abordagem que articula os conhecimentos
consciência do outro, no limiar. Todo o interior não se das diversas áreas de conhecimento. É uma
basta a si mesmo, está voltado para fora, dialogado, prática intencional que visa ao alcance dos
cada vivência interior está na fronteira, encontra-
objetivos planejados; a aula como discurso,
se com outra, e nesse encontro tenso está toda a
sua essência. É o grau supremo da sociabilidade evento dialógico, é permeada pela linguagem,
(BAKHTIN, 2003, p. 341). pois “[...] os humanos são seres de linguagem
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cuja natureza é expressa pela fala, pela palavra a relação entre conhecimento e vida – conhecimento
e essa por sua vez é social e não individual”. A como experiência - defendida anteriormente neste
linguagem é assim, “[...] uma atividade social e se texto. O conhecimento apropriado em sala de aula
contrapõe à ideia de sistema, de estrutura ou de ganha sentido e significado para o estudante e a
produto individual” (CAMPOS, SOUZA e STIEG, aula se torna um evento dialógico, momento de
2011, p. 39). Logo, a aula como um acontecimento interlocução, isto é, de interação entre sujeitos por
pressupõe o diálogo. Nesse sentido, toma-se por meio da linguagem.
base a concepção de linguagem como interação
verbal. Os profissionais ainda discutiram algumas
questões sobre a aula, como: o espaço da aula é
Em Bakhtin, o diálogo é a unidade fundamental só a sala de aula? Aula só acontece nesse espaço?
da língua, é a interação de pelo menos dois Houve a defesa de que a aula pode acontecer
enunciados, que são atos de fala. A alternância em diferentes espaços tempos. Vale lembrar que
dos sujeitos do discurso é uma das características não é o espaço que determina se a interlocução
do diálogo, que supõe: enunciar/falar, ouvir, é dialógica, mas sim o fato de estudantes e
responder, discordar, concordar, reiterar, entre docentes viverem o conhecimento a partir do
outros. No diálogo, o homem participa inteiro e conceito de experiência. O estabelecimento da
com toda a vida: com os olhos, os lábios, as mãos, dialogia pressupõe a necessidade de pensar
enfim todo o corpo e todos os atos. O diálogo as metodologias, recursos, espaços e seus
exige também uma escuta atenta. E o dialogismo usos, bem como revisitar os tempos das aulas
é o exercício do diálogo, é o princípio constitutivo e as possibilidades de articulação entre os
da linguagem (BAKHTIN, 1992) e da condição componentes curriculares. Reiteramos, assim,
do sentido no discurso que não é individual pelo que aula dialogada é metodologia, é a maneira
fato de que se constrói entre pelo menos dois que a professora conduz os trabalhos, buscando
interlocutores, que por sua vez são seres sociais interação com os estudantes, enquanto a aula
que se constituem no diálogo. como dialogismo é um princípio a ser concebido
e vivenciado.
O referido autor, ao longo de seu trabalho,
desenvolve a ideia de que o discurso não é uma Aula como dialogismo nos impõe pensar que
enunciação monológica - não é ato puramente a prática pedagógica e o sentido da escola se
individual. Bakhtin aponta que as enunciações concretizam a partir do outro, sendo assim, cabe-
são tecidas em um contexto social imediato, ou nos perguntar: quem é esse outro que frequenta
seja, sempre serão determinadas pelas “[...] a escola? Conhecemos seu nome, seu rosto,
condições reais de enunciação em questão, isto é, sua vida, sua história? Potencializamos suas
antes de tudo pela situação social mais imediata” experiências e seus saberes no processo de
(BAKHTIN, 2004, p. 112, apud CAMPOS, SOUZA produção dos conhecimentos? Reafirmamos,
e STIEG, 2011, p. 39). Assim, a aula como evento, assim, que a relação dialógica pressupõe o outro.
como acontecimento, como situação social Segundo Geraldi (2005, p. 17),
concreta que envolve muitos interlocutores pode
se constituir o espaço privilegiado de dialogismo. Nós nos fazemos o que somos nas relações
dialógicas que mantemos com a alteridade. Sem
o outro, não há vozes. Sem o outro, não há ecos.
Na aula como acontecimento, há uma inversão O sujeito e o outro. Relações dialógicas que não
das relações que são estabelecidas, pois o se dão no vazio: são relações sócio-históricas,
diálogo proporciona a experiência da produção do sobrecarregadas das condições de seu exercício,
conhecimento, que passa a ser vivenciado pelos estando os interlocutores, condicionados pelo
sujeitos que tencionam, questionam, produzem caráter destes encontros, que não obstantes
suas determinações, são lugares e tempos de
arguições em direção aos conhecimentos que
construção de novas condições. Sujeição e criação
são postos. Nessa perspectiva, o conhecimento concomitantes, por que a dialogia se dá sobre
que está sendo trabalhado como herança cultural o estável e sobre o instável da relação com a
pode fornecer respostas para os questionamentos alteridade. É por isso que somos, numa voz, muitas
que emergem da interação entre os sujeitos. Por isso, vozes.
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Alteridade é o reconhecimento do outro textos, que fala a partir de sua posição no mundo
como legitimamente outro, diferente de mim. e dos contextos de produção do enunciado.
Alguém constituído com histórias, culturas, Aula, nessa perspectiva, pressupõe o olhar
posicionamentos, princípios e valores. Esse cuidadoso com as particularidades dos sujeitos,
reconhecimento do outro é o que nos move a ouvi- suas subjetividades, suas vivências, histórias,
lo. Sem o reconhecimento do outro como alguém emoções. A esse respeito, profissionais de uma
diferente de mim, não há diálogo. A aula como escola apontam que a aula pode produzir no
evento dialógico pressupõe, antes de qualquer estudante atitudes responsivas em relação ao
coisa, o reconhecimento do estudante como outro, que é vivenciado na sala de aula, pois passa a
como sujeito interlocutivo - capaz de interação sentir-se como membro, como parte principal
pela linguagem. Para Bakhtin (2003), a interação do processo de ensino aprendizagem, e não um
entre o falante (locutor) e o ouvinte (interlocutor), mero coadjuvante.
é constituída por meio dos signos linguísticos. As
palavras funcionam como elos entre os sujeitos Dentro dessa perspectiva, a sala de aula passa
interlocutores e surgem carregadas de valores a ser entendida como lugar de interação e de
construção de conhecimento. Portanto, não
constituídos social e culturalmente. seria mais vista, apenas, como o lugar onde os
alunos se reúnem para receber informações, mas
Pensar a aula como evento dialógico nos impõe onde as experiências, as vivências e os novos
o grande desafio de pensar que o trabalho conhecimentos se confrontariam. Sobre isso,
por meio da linguagem não é uma atribuição Geraldi (1997, p.21) afirma: “[...] desloca-se a
noção de processo de ensino como transmissão,
apenas da professora responsável por trabalhar
concebendo-se a sala de aula como lugar de
o componente curricular Língua Portuguesa. O interação verbal e por isso mesmo de diálogo entre
trabalho com a linguagem, em uma dimensão os sujeitos, [...]” (RODRIGUES, 2007, p. 9).
discursiva, deve ser compromisso de todos. A
produção da linguagem, seja na forma oral ou Ao encontro da aula como evento dialógico,
escrita, é uma atividade implícita em todas as destacamos, com Bakhtin, o caráter polifônico da
áreas de conhecimento, sendo materializada linguagem, tendo em vista a necessidade de a
por meio do texto, que passa a ser visto como aula apresentar-se como
elemento articulador.
Algo que deveria ser socialmente desejável por
Segundo Brait (2016, p. 16, grifos da autora), todos nós, mostrando que todos nós deveríamos ser
polifônicos, e isto incluiria uma postura política de
o texto é concebido “[...] como uma dimensão aceitar todas as vozes como vozes equivalentes e,
linguística atualizada por um sujeito coletivo ou consequentemente, “renunciar aos nossos hábitos
individual, que se caracteriza como enunciado monológicos”, considerando que ‘à categoria de
concreto, situado, pertencente a um contexto, monológico estão associados os conceitos de
a uma cultura, em diálogo com interlocutores monologismo, autoritarismo e acabamento que
“nega a existência da outra consciência isônoma
presentes, passados e futuros [...]”. Assim, a aula
e responsiva, de outro eu (tu) isônomo’ (BAKHTIN,
como evento dialógico pressupõe também uma 2003, p. 348)
concepção diferenciada de texto. Não se trata
de escrever por escrever, de falar por falar, mas Defender a aula como evento dialógico é
de imprimir sentido e significação naquilo que se também reconhecer uma relação com a
escreve. Teoria históricocultural, porque a linguagem e
a interação verbal aliadas ao pensamento, à
Nesse contexto, é relevante trazermos o conceito memória, percepção, imaginação, entre outras
de autoria. Para Faraco (2005, p. 39), o autor é funções psicológicas próprias aos humanos, são
quem dá forma ao conteúdo. Logo, “[...] ele não fundamentos dessa perspectiva. Todas essas
apenas registra passivamente os eventos da vida funções são desenvolvidas por meio da utilização
[...], mas, a partir de uma certa posição axiológica de instrumentos adquiridos culturalmente e na
recorta-os e reorganiza-os esteticamente”. inter-relação com outros homens e com o mundo.
O estudante, nessa concepção, passa a ser
concebido como sujeito autor de seus próprios
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A organização dos espaços tempos não é uma quê na semana seguinte, os dois docentes não
prática neutra, mas uma construção social que invertem seus horários, de modo a compensar a
expressa as relações sociais que nela são troca que houve? Por que a aula cronometrada em
desenvolvidas. O tempo, que não concebemos em cinquenta minutos tem prevalência sobre a aula
separado dos usos dos espaços, é um elemento geminada? São consideradas as necessidades
que precisa ser conceituado. De modo amplo, de aprendizagem dos estudantes ao organizar os
o tempo se relaciona com a própria história da horários de aula?
humanidade. A fala e a escrita como atividades
humanas são responsáveis por instituir a ideia do É importante destacar que na maioria dos relatórios
tempo, pois, permitiram que os conhecimentos, as dos encontros de formação apresentados pelas
culturas, os saberes, fossem transmitidos de uma escolas, o tempo inflexível de cinquenta minutos
geração a outra. Com a evolução da História, foi colocado como o maior desafio ao trabalho dos
docentes. Estamos aqui defendendo que os tempos
[...] a invenção do relógio mecânico foi um marco, da escola devem favorecer a aprendizagem. Esta
uma vez que surge como o indicador do tempo, é, pois, uma reflexão que deverá ser aprofundada.
representado através de uma produção contínua de
símbolos. Fomos habituados ao tempo metrificado
fornecido por ele, o qual assumiu uma função de Na EJA, por exemplo, o tempo é uma questão
coordenação e integração das atividades humanas. central, e busca-se incorporar nesta modalidade,
Esta ideia de tempo, que funciona como um símbolo
social a regular as ações humanas, é resultado de [...] a ideia do direito à educação básica, sem
um longo processo de aprendizagem e constituinte interrupção, na perspectiva de romper com a
de um processo civilizador (MARQUES, 2012, p. 1). concepção que fragmenta o tempo de formação e
o tempo de trabalho. Todos os tempos da vida são
É inegável a importância do tempo instituído pelo também tempos do educando [...]. Pensar o tempo
relógio, pois ele possibilita nossa organização no na EJA vai além de definir uma medida. Pressupõe
pensar que os sujeitos jovens e adultos estão
que diz respeito aos nossos horários de trabalho,
enredados em várias temporalidades circunscritas à
estudos, lazer, descanso e outros. Contudo, o vida e não à escola. São os tempos do trabalho, das
tempo cronometrado tem sido outro elemento relações familiares, do cuidado com a saúde do filho,
prejudicial à organização da escola e do processo do lazer, de ir à igreja, do pagode, da afetividade,
ensino aprendizagem. Muitas vezes, cometemos etc. Destaca-se que o tempo do trabalho firma-se
uma violência ao pôr fim a uma calorosa discussão como ordenador dos outros tempos da vida desses
sujeitos. A partir dele é que os sujeitos articulam os
na aula de Geografia porque o tempo de nossa outros tempos, inclusive o tempo da escola (PIEJA,
aula chegou ao fim, e o docente precisa ceder o PMV, 2007, p. 16-17).
espaço porque está na hora da aula de Ciências.
A inflexibilidade, a linearidade e a rotina muitas O tempo deve ser algo que proporcione a
vezes ganham a queda de braços na organização organização, mas também potencialize ao invés
dos tempos na escola. Repetimos aqui que não de engessar. Larossa (2002), ao trabalhar o
se trata do descumprimento de horários, da conceito de experiência, já mencionado neste
organização curricular, nem muito menos tirar o texto, apontou que a velocidade do tempo é algo
tempo de um docente e de seu componente em que impede e anula a possibilidade da experiência.
favorecimento de outro. Para o autor,
A escola precisa de regras, organização e [...] a experiência é cada vez mais rara, por falta de
disciplina. Entretanto, a escola necessita ter tempo. Tudo o que se passa, passa demasiadamente
depressa, cada vez mais depressa. E com isso se
mecanismos, instrumentos, formas e, acima
reduz o estímulo fugaz e instantâneo, imediatamente
de tudo, sensibilidade para cometer pequenas substituído por outro estímulo ou por outra excitação
“transgressões” em nome das necessidades dos igualmente fugaz e efêmera. O acontecimento
estudantes e docentes, da criatividade, do prazer nos é dado na forma de choque, do estímulo, da
e da vontade de conhecer. Por que o docente sensação pura, na forma da vivência instantânea,
de Ciências que espera do lado de fora da sala pontual e fragmentada. A velocidade com que nos
são dados os acontecimentos e a obsessão pela
para começar sua aula não pode ir para a turma novidade, pelo novo, que caracteriza o mundo
para onde o docente de Geografia deveria ir? Por
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moderno, impedem a conexão significativa entre brincadeiras, os livros, os mapas, as tecnologias,
acontecimentos. Impedem também a memória, entre outros que são utilizados como recursos
já que cada acontecimento é imediatamente
didáticos, também deverão ser colocados a
substituído por outro que igualmente nos excita
por um momento, mas sem deixar qualquer serviço da potencialização do processo de ensino
vestígio. O sujeito moderno não só está informado aprendizagem. Assim como a biblioteca, o uso do
e opina, mas também é um consumidor voraz e laboratório de informática deve estar inserido na
insaciável de notícias, de novidades, um curioso dinâmica do desenvolvimento das aulas, pois se
impenitente, eternamente insatisfeito. Quer estar constitui por excelência em um espaço tempo de
permanentemente excitado e já se tornou incapaz
de silêncio. Ao sujeito do estímulo, da vivência
aprendizagem.
pontual, tudo o atravessa, tudo o excita, tudo o
agita, tudo o choca, mas nada lhe acontece. Por Conforme pontuado pelos profissionais nos
isso, a velocidade e o que ela provoca, a falta de diferentes momentos de construção deste texto,
silêncio e de memória, são também inimigas mortais os espaços como biblioteca e laboratório de
da experiência (LAROSSA, 2002, p. 23).
informática devem ser mais bem aproveitados
para a apropriação do conhecimento. Devemos
Diante do exposto, compreendemos que as
nos apropriar das tecnologias, acompanhar os
questões relacionadas aos espaços tempos são
estudantes, pesquisar novas formas de produzir
imprescindíveis no tocante à organização e gestão
conhecimento. O estudante está absolutamente
da escola, ao planejamento da prática pedagógica
ligado à tecnologia, isso é um fato. Outro desafio
e, principalmente em relação à potencialização
consiste em problematizar acerca do preconceito
do trabalho desenvolvido pelos estudantes e
que ainda existe com relação às redes sociais. Não
docentes e da prática do currículo na escola.
há como negar, há na sociedade contemporânea
Por isso, é necessária uma cuidadosa atenção
a institucionalização de uma nova cultura, que
às demandas que surgem na escola em relação
mudou inclusive a forma de as pessoas se
à ampliação ou mudança dos tempos e espaços
relacionarem – é a cultura da tecnologia, do
em favor do processo ensino aprendizagem,
virtual. Não é possível a escola desconhecer essa
dos interesses, necessidades e percursos dos
realidade.
docentes e estudantes.
Outro ponto destacado é a necessidade de rever Figura 18 - Biblioteca escolar - EMEF FLA
os modos de utilização dos espaços tempos de
A ideia de diferentes e múltiplos espaços tempos
aprendizagem, bem como os usos das novas
nos conduz também à reflexão sobre o currículo
tecnologias e das redes sociais de modo a integrá-
em rede, o que nos leva a pensar nas conexões
las ao currículo. Os usos das tecnologias não
espaciais e temporais que são produzidas nas
estão circunscritos à sala de informática apenas,
escolas. A ideia de rede parte do princípio de que
mas a todos os espaços da escola e se referem ao
tudo é complexo e é aprendido e apreendido por
uso do celular, tablets, recursos audiovisuais de
conexões. A ideia de currículo em rede traz para
modo geral. Estamos apontando, assim como as
a escola a necessidade de organizar a prática
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pedagógica a partir de eixos curriculares e de memória, a emoção, a corporeidade, as identidades
trabalhar o currículo como algo que atravessa de classe, de raça e de gênero, a concepção de
educação socioambiental, colocando assim, na
áreas de conhecimento, viabilizando propostas
centralidade desses processos os tempos da
coletivas e articuladas. vida. A articulação desses temposespaços com o
conhecimento mediado pela escola deve ser tomado
Isso pode propiciar o que a pedagogia histórico- como fundamentos/princípios dos processos de
cultural também defende ao afirmar que, ao ensinar e aprender.
criar múltiplas oportunidades de aprendizagem,
o docente está favorecendo o desenvolvimento
do estudante, tendo em vista que são processos
associados, que por sua vez, favorecerão outras
aprendizagens, sendo assim, diferentes espaços
tempos de aprendizagem são possibilidades de
propiciar práticas de mediação que favoreçam
além de múltiplas aprendizagens, a interação entre
docentes e estudantes e entre os estudantes.
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A questão dos espaços tempos de aprendizagem Como será que elas se sentem? E para aquelas que
estão se inserindo pela primeira vez em um espaço
deve ser considerada também no momento da
formal de educação? (BORBA; GOULART, 2007, p.
transição da Educação Infantil para o Ensino 52).
Fundamental. Como já destacamos, a fase de
transição e adaptação exige modificações na A dimensão do tempo é também um importante
proposta curricular, principalmente em relação aspecto a ser considerado nessa transição.
ao atendimento das crianças nas séries iniciais. Geralmente, nos anos iniciais do Ensino
Deve haver a preocupação com a formação dos Fundamental, as aulas são organizadas com
docentes, organização do material didático e duração de quatro horas diárias, com predominância
reflexões acerca das concepções de espaço- de aulas expositivas, tendo apenas vinte minutos
tempo escolar. E principalmente, é necessário de recreio. Como afirmado anteriormente, as aulas
atenção em relação ao conceito de infância, bem acontecem predominantemente na sala de aula,
como às demandas que essa fase vivida pelos com estudantes enfileirados em suas carteiras.
estudantes impõe à escola e seus profissionais.
Apesar de as crianças criarem táticas de
O cuidado na continuação do processo de sobrevivência para superarem os impactos
desenvolvimento e aprendizagem das crianças que essas práticas provocam, é necessário a
de seis anos de idade implica o conhecimento superação da divisão e hierarquização entre os
e a atenção às suas características etárias, Centros Municipais de Educação Infantil (CMEIs)
psicológicas e sociais, para que as crianças sejam e Escolas Municipais de Ensino Fundamental
respeitadas como sujeitos da aprendizagem e (EMEFs), pois, muitas vezes, são tomados como
sujeitos de direitos. Nesse sentido, a entrada das lugares cristalizados e sem nenhuma relação.
crianças de seis anos no Ensino Fundamental deve Essa concepção acaba por interferir nos espaços
significar a continuidade na relação com o processo tempos dessas instituições, afetando inclusive na
anterior vivido por elas na Educação Infantil para dinâmica dessas duas etapas da educação básica.
que elas sistematizem os conhecimentos já A mesma ressalva cabe em relação à brusca
adquiridos e os relacionem com os novos a serem ruptura entre os anos iniciais e os anos finais
vivenciados no Ensino Fundamental. do Ensino Fundamental, em que a metodologia,
relação entre docentes e estudantes, forma de
Diferentes formas de expressão como desenho, avaliar, organização curricular e organização do
pintura, dança, canto, teatro, modelagem, literatura
(prosa e poesia), entre outras, encontram-se
tempo mudam bruscamente.
presentes nos espaços de educação infantil (ainda
que muitas vezes de forma reduzida e pouco
significativa), nas casas e nos demais espaços
frequentados pelas crianças. E por que estão
presentes? Porque são formas de expressão da
vida, da realidade variada em que vivemos. Muitas
vezes, à medida que a criança avança nos anos
escolares ou séries do ensino fundamental, vê
reduzidas suas possibilidades de expressão, leitura
e produção com diferentes linguagens. Privilegia-
se nas escolas um tipo de linguagem, aquela
vinculada aos usos escolares, ou seja, a que serve
à reprodução dos conteúdos dos livros didáticos
mediante sua transmissão, repetição e avaliação. Se
antes a criança tinha possibilidades de utilizar outras
linguagens para ler e dizer coisas sobre si e sobre
o mundo, vê-se de repente cercada não apenas
pelas amarras de uma única forma de se expressar,
mas também pela unicidade e previsibilidade dos
sentidos possíveis. Que implicações isso tem para
as crianças e para a sua formação? Nesse contexto, Figura 20 - Atividade de leitura na biblioteca
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O Documento orientador do Ciclo Inicial de apropriar-se de um lugar que verdadeiramente
Aprendizagem (DOCIA, PMV, 2012, p. 21) aponta foi construído para que elas tenham acesso e
que: desenvolvimento? Na passagem dos anos iniciais
para os anos finais do Ensino Fundamental, a
[...] na educação infantil, primeira etapa da Educação organização dos tempos de aula se constituem
Básica, prioriza-se o tempoespaço de brincar e a na perspectiva da continuidade, ou seja, são
garantia do direito de aprender. No entanto, a criança
ao ingressar no ensino fundamental de nove anos
consideradas as especificidades desses sujeitos?
no ciclo inicial de aprendizagem não deixa de ser Ou apenas investimos na adaptação desse grupo
criança. Assim, é necessário que os temposespaços de estudantes, ao modelo instituído, que incide
das Escolas Municipais de Ensino Fundamental – na fragmentação do tempo em cinco aulas de
EMEF, se constituam de forma que a transição dos cinquenta minutos?
Centros Municipais de Educação Infantil - CMEI
para as EMEF seja um processo de continuidade,
na perspectiva da produção e apropriação dos Cabe ressaltar, nesse processo, a preponderância
diferentes conhecimentos, em um contexto do papel do docente como mediador nessas fases
lúdico, com os seus devidos aprofundamentos e de transição entre Educação Infantil e Ensino
sistematizações. Fundamental e anos iniciais e finais do Ensino
Fundamental. Ao docente cabe o desafio de
A Resolução 07/2010 do Conselho Nacional de proporcionar formas de interação da criança e do
Educação, em seu Artigo 29, estabelece: [...] adolescente no espaço escolar, a fim de buscar
desenvolver as potencialidades dos estudantes.
necessidade de assegurar aos alunos um percurso O/a docente deve estar atento à organização do
contínuo de aprendizagens torna imperativa a
articulação de todas as etapas da educação,
ambiente.
especialmente do Ensino Fundamental com a
Educação Infantil, dos anos iniciais e dos anos Os espaços tempos escolares devem ser
finais no interior do Ensino Fundamental, bem organizados a fim de considerar as crianças,
como do Ensino Fundamental com o Ensino Médio, adolescentes, jovens, adultos e idosos em suas
garantindo a qualidade da Educação Básica.
expectativas, necessidades e percursos. A sala de
aula deve se constituir um espaço de construção
E indica ainda: [...] coletiva, dialógica e democrática. O modo como
organizamos recursos didáticos e mobiliários e
o reconhecimento do que os alunos já aprenderam
antes da sua entrada no Ensino Fundamental e a a forma como os/as docentes interagem com os
recuperação do caráter lúdico do ensino contribuirão estudantes revelam concepções. Qual é então
para melhor qualificar a ação pedagógica junto às nossa concepção? Desejamos espaços e tempos
crianças, sobretudo nos anos iniciais dessa etapa propiciadores de aprendizagens significativas,
da escolarização (Art. 29, § 1º). vivenciadas a partir do conceito de experiência,
queremos uma escola humana, alegre, prazerosa
Dessa forma, faz-se importante perguntar: a e produtiva? Para isso, precisamos ser sensíveis
organização do tempo e do espaço escolares às demandas da infância, da adolescência e da
tem respeitado a infância? A atual organização adultez no que diz respeito aos usos dos tempos
do tempo e do espaço escolares está estruturada e espaços de aprendizagens.
para receber a criança, hoje inserida no Ensino
Fundamental aos seis anos? O espaço e o Essas questões apenas reiteram a necessidade de
tempo escolares vêm sendo organizados de repensar os tempos e espaços de aprendizagens,
modo a garantir a participação da criança no seu levando em consideração a necessidade de uma
processo formativo? A estruturação do espaço prática de planejamento rigorosa. Rigor que aqui
físico, a distribuição do tempo das aulas, as significa intencionalidade, ou seja, direcionamento
maneiras como os materiais estão dispostos e da prática, e um constante processo de avaliação
organizados auxiliam a construção da autonomia, para que seja criteriosamente replanejada sempre
da estabilidade e da segurança emocional da que se fizer necessário.
criança? Os recursos estão à disposição das
crianças para que elas possam interagir e assim
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Assim sendo, a avaliação possibilita a compreensão como processam os conhecimentos trabalhados,
dos avanços da apropriação do conhecimento tanto como compreendem as relações sociais, culturais
dos estudantes quanto dos docentes, bem como e históricas do ser no mundo, entre outras, são
das necessidades advindas do processo de ensino importantes pistas para que tanto os/as docentes
aprendizagem que vão se apresentando ao longo do quanto os estudantes possam realizar uma avaliação
processo. A maneira como elaboram o pensamento, permanente do processo ensino aprendizagem.
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Em conformidade com alguns princípios da 07/2008, a Unidade de Ensino deve organizar o
avaliação já discutidos nesta diretriz, de modo Conselho de Classe, trimestralmente, em etapas, de
especial, chamamos a atenção para os processos forma a garantir a participação de todos os estudantes
de Recuperação Paralela, ao considerar as na avaliação conjunta dos fatores que influenciam
singularidades dos sujeitos em seus diferentes diretamente o processo ensino aprendizagem, de
percursos de aprendizagem, sendo necessário, acordo com as seguintes determinações:
portanto, rever constantemente o que, como,
quando ensinar e avaliar, levando em conta as I – Na primeira etapa, adotar-se-á os Conselhos
possibilidades e potencialidades dos diversos de Turmas, garantindo a participação dos alunos
espaços tempos de aprendizagem. Em outras na avaliação do processo ensino-aprendizagem;
palavras, durante o processo de ensino
aprendizagem, precisamos ficar atentos às II - Na segunda etapa, com data prevista em
necessidades dos estudantes, desenvolvendo Calendário Letivo, o Conselho de classe reunir-
práticas de ensino e de avaliação que assegurem se-á com a participação dos professores e
a consolidação dos conhecimentos, tanto no equipe técnico-pedagógica da Unidade de Ensino
percurso quanto ao final de cada trimestre, um objetivando buscar alternativas para superação
direito que não pode ser negado, considerando as das dificuldades apresentadas pelos alunos, sendo
orientações legais e curriculares vigentes. que esses resultados deverão ser utilizados para:
Nesse contexto, refletimos também sobre a dinâmica a) Planejar as atividades diárias adequando-
-as ao interesse e necessidade dos alunos,
do Conselho de Classe, compreendendo ser esse
um relevante momento de avaliação do trabalho b) Programar e realizar atendimento diversi-
pedagógico, uma vez que se configura instância ficado, de acordo com as dificuldades iden-
colegiada balizadora das atividades desenvolvidas no tificadas,
trimestre, em que podem ser revistas as metodologias
e as intervenções necessárias à promoção da c) Planejar ações de acompanhamento sin-
gular junto ao estudante, cujo aprendizado,
aprendizagem, a partir da análise dos resultados diferencia-se substancialmente do grupo
obtidos no processo de ensino. como um todo,
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Na Resolução do CNE nº 04/2010, no Artigo 13, § II - educação superior”. A educação básica
4º, a “[...] transversalidade é entendida como uma contempla as seguintes modalidades: educação
forma de organizar o trabalho didático-pedagógico de jovens e adultos, educação especial, educação
em que temas e eixos temáticos são integrados do campo, educação indígena e educação
às disciplinas e às áreas ditas convencionais, de quilombola (BRASIL, 2010)”.
forma a estarem presentes em todas elas”.
A Educação Especial é uma modalidade de
Agora, o estudo da história da África e dos ensino que perpassa a educação, em todos os
africanos, a luta dos negros e dos povos níveis, etapas e modalidades. É oferecida na rede
indígenas no Brasil, a cultura negra e indígena regular de ensino para estudantes com deficiências,
do país e o negro e o índio na formação da transtornos globais do desenvolvimento e altas
sociedade nacional, são conteúdos programáticos habilidades/superdotação. A Educação de Jovens
obrigatórios em todos os currículos escolares em e Adultos (EJA) é uma modalidade da Educação
âmbito nacional, em especial nos componentes Básica nas etapas do Ensino Fundamental e médio,
de educação artística, literatura e história ou seja, é a garantia da oferta da educação aos
brasileiras. Isso implica considerar a história e estudantes que não cursaram essas etapas quando
cultura africana e indígena como conteúdo de todo tinham a idade estabelecida em lei para o Ensino
componente curricular. Trata-se de incluir esse Fundamental e médio (BRASIL, 1996, art. 37).
conteúdo na organização curricular e não apenas
trabalhar como uma temática, como um projeto,
esporadicamente e de forma assistemática. Para
tanto, é necessário superar o etnocentrismo que
caracterizou a seleção dos conteúdos escolares,
pois o etnocentrismo supõe o sentimento de
superioridade de uma cultura em relação a outras.
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Por sua vez, o Parecer sobre as Diretrizes Figura 30 GT - II Seminário dos diálogos curriculares – Ciências
Curriculares Nacionais para o Ensino Fundamental da natureza
de nove anos, estabelece que
Queremos enfatizar que seguir as proposições
Os conteúdos sistematizados que fazem parte das diretrizes curriculares nacionais do Ensino
do currículo são denominados componentes Fundamental acerca da organização do currículo
curriculares, os quais, por sua vez, se articulam por áreas do conhecimento, tem, em primeiro
às áreas de conhecimento, a saber: Linguagens,
Matemática, Ciências da Natureza e Ciências
lugar, uma demarcação didático-metodológica.
Humanas. As áreas de conhecimento favorecem É também o reconhecimento de que apesar
a comunicação entre os conhecimentos e saberes das áreas de conhecimento apresentarem uma
dos diferentes componentes curriculares, mas fronteira cada vez mais tênue entre si, reservam
permitem que os referenciais próprios de cada especificidades em relação ao seu objeto de
componente curricular sejam preservados (BRASIL,
estudo, seus princípios e eixos de trabalho. Mas,
2010a, p.13).
acima de tudo, queremos defender a possibilidade
de diálogo, integração entre essas diferentes
Assim, as diretrizes curriculares nacionais
áreas e formas de conhecimento, bem como
do Ensino Fundamental (BRASIL, 2010c)
sua necessária e possível inter-relação com as
estabelecem que os componentes curriculares
necessidades, especificidades e expectativas dos
obrigatórios do Ensino Fundamental serão
estudantes.
organizados em relação às áreas de conhecimento
da seguinte forma:
Essa busca pode ser observada nos relatos de
experiência feitos no decorrer do II Seminário.
I – Linguagens:
Na experiência denominada “Uma sondagem da
a) Língua Portuguesa
constituição de sentido de número na perspectiva
b) Língua materna, para populações indígenas
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da ligação de saberes”, observamos que a partir conteúdos de maneira interdisciplinar, foi possível
de um fato cotidiano que é a necessidade da desenvolver com os estudantes diferentes
merendeira contar de sala em sala, o número conteúdos e atividades: proporcionar o registro de
de estudantes que iriam merendar a cada dia, informações do contexto social e histórico do país;
surgiu uma forma de intervenção para trabalhar trabalhar o gênero textual por meio de pesquisa,
um conteúdo aparentemente estrito ao campo da receitas, compreensão da relação homem x
matemática - construção do sentido de número. alimento, aliado à sua história; tratamento da
informação; conhecimento matemático envolvendo
grandezas e medidas, tabela, noções de
quantidade; integração de saberes e experiências
em ciências e a história do homem moderno;
produzir e compreender textos orais e escritos com
finalidades voltadas para a reflexão sobre valores e
comportamentos sociais, planejando e participando
de situações de combate aos preconceitos e
atitudes discriminatórias (preconceito racial, de
gênero, entre outros) e participar de interações
orais em sala de aula, questionando, sugerindo,
argumentando e respeitando os turnos de fala
(ARAÚJO, 2015).
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necessário, pois, relacionar o conhecimento com Entre os temas citados, merece destaque a
as outras formas de saber que foram silenciadas, questão da educação ambiental, tendo em
invisibilizadas por uma forma de conhecimento vista os problemas ambientais enfrentados
normatizador, homogeneizante, buscando outras pela humanidade hoje. A educação ambiental é
formas de ensinar e aprender, ou seja, formas compreendida como um processo pedagógico
pautadas na aula como evento dialógico, em que busca formar uma população que seja
que os saberes dos estudantes, dos docentes e consciente e preocupada com o meio ambiente
o conhecimento sistematizado se entrelaçam e e com os problemas associados a ele, e que
se enredam. Conforme pontuado por Fazenda essa população tenha conhecimentos, atitudes,
(1979, p. 48-49), “[...] passa-se de uma relação habilidades, motivações e compromissos para
pedagógica baseada na transmissão do saber trabalhar individual e coletivamente para encontrar
de uma disciplina ou matéria, que se estabelece soluções para os problemas atuais e prevenção
segundo um modelo hierárquico linear, a uma de novos (UNESCO/PNUMA,1977).
relação pedagógica dialógica”.
“A interdisciplinaridade é um movimento de articula-
Ainterdisciplinaridade, entre outras definições, pode ção entre o ensinar e o aprender”
ser concebida como um processo metodológico (Síntese dos fóruns nas escolas, 2015).
de construção do conhecimento pelos estudantes
e docentes com base na interligação dos
conhecimentos e em sua relação com o contexto A Lei Municipal nº 8.695/2014, em seu artigo 3º,
de vida dos sujeitos, com sua realidade, com sua estabelece que a educação ambiental é constituída
cultura. Isso imprime dois movimentos dialéticos: a por processos permanentes de ação e reflexão
problematização da situação, pela qual se desvela individual e coletiva voltados para a construção
a realidade, e a sistematização dos conhecimentos de valores, saberes, conhecimentos, atitudes e
de forma integrada (FREIRE, 1987). Aí reside a hábitos, visando a uma melhor qualidade de vida e
possibilidade de que os conhecimentos gerados a relação sustentável entre todos os seres vivos e os
partir dos temas da diversidade se confluam com elementos que compõem o ambiente (PMV, 2014).
outras formas de conhecimento.
Diante do exposto, queremos afirmar que a
[...] a interdisciplinaridade é um movimento educação ambiental deve ser considerada um
importante de articulação entre o ensinar e o processo permanente e diretamente relacionada
aprender. Compreendida como formulação teórica a todas as áreas de conhecimento e seus
e assumida enquanto atitude tem a potencialidade
de auxiliar os educadores e as escolas na
componentes curriculares, pois se fundamenta em
ressignificação do trabalho pedagógico em termos alguns pressupostos, entre os quais destacamos:
de currículo, de métodos, de conteúdos, de avaliação a integração entre ser humano e ambiente e sua
e nas formas de organização dos ambientes para a conscientização como natureza (e não como
aprendizagem (THIESEN, 2008, s/p). parte); formação de um sujeito ecológico (capaz
de compreender o mundo e agir nele de forma
Conforme mencionado anteriormente, temas crítica); aquisição de novas posturas, novas éticas
como gênero, sexualidades, direitos humanos, que podem gerar uma cidadania planetária; valores
direitos das crianças e adolescentes, símbolos e ações que contribuam para a transformação
nacionais, educação ambiental, ética, educação do ser humano; que não aconteça de forma
para o trânsito e outros, devem ser tratados episódica no cotidiano escolar; criadora de uma
como temas transversais, ou seja, como temas nova ética, sensibilizadora e conscientizadora
que perpassam os diferentes componentes para as relações integradas ser humano/
curriculares. Não se trata, pois, de ser um trabalho sociedade/natureza objetivando o equilíbrio local
desenvolvido por alguns docentes que têm e planetário, como forma de obtenção da melhoria
afinidades com determinada temática, mas como de qualidade de todos os níveis de vida. Esses
algo contemplado no Projeto Político Pedagógico pressupostos apontam para a inter-relação entre
da instituição e no planejamento de ensino de todos os componentes curriculares do Ensino
todos docentes. Fundamental.
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Questões relacionadas com os direitos humanos norteadores da educação em direitos humanos
- que englobam temas relacionados com às na educação básica, propondo algumas ações
sexualidades, diversidade sexual, gênero, programáticas, como a inserção da educação
homofobia, preconceitos de toda e qualquer em direitos humanos nas diretrizes curriculares
natureza, são também de maior relevância dentro da educação básica, assegurando também
da escola. A ideia do respeito e da coexistência da a formação continuada das trabalhadoras da
diferença está prevista na Declaração Universal educação para lidar criticamente com esses
dos Direitos Humanos (1948), na Constituição temas; a inclusão da educação em direitos
Federal (1988), no Estatuto da Criança e do humanos nos projetos políticopedagógicos das
Adolescente (1990), na Lei de Diretrizes e Bases escolas, adotando as práticas pedagógicas
da Educação Nacional (1996), na Lei 13.185/2015 democráticas presentes no cotidiano; a resolução
que institui o Programa de Combate à Intimidação de conflitos e modos de lidar com a violência
Sistemática (Bullying) em todo o território nacional e perseguições ou intimidações, por meio de
e em outros ordenamentos legais. processos participativos e democráticos.
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- Reconhecimento da incompletude cultural: do exposto, torna-se primordial a reflexão acerca
nenhuma cultura é completa, nenhuma da ideia do direito de aprendizagem, uma vez
cultura possui uma essência imutável. As por ser essa uma opção conceitual debatida no
culturas interinfluenciam-se e transformam-se processo de atualização destas diretrizes.
mutuamente. Isso significa considerar que todos
os estudantes e profissionais da escola possuem
e produzem cultura na relação uns com os outros; “O currículo precisa [...] estar em constante
transformação e proporcionar uma apropriação
- Reconhecimento das diferenças como produto do conhecimento e não mera reprodução. Os
da história: as diferenças são constantemente conteúdos devem ter valores, significados e sentidos
produzidas e reproduzidas por meio de relações para os estudantes. Sendo assim, na construção
do currículo é relevante reconhecer as diferenças
de poder (SILVA, 1996). As diferenças culturais (culturais, de gênero, étnicas, sociais...) e garantir
não devem ser entendidas como dados ou meios que provoquem o interesse do estudante a
evidências que se manifestam naturalmente como querer aprender o saber sistematizado”
antagonismos, mas são construções histórico-
culturais que decorrem das relações de poder nas (Fórum Diálogos Curriculares do Ensino
quais os diferentes grupos sociais, particularmente Fundamental, EMEF EMSG, mar. 2015).
os subalternos, podem redescobrir e reconstruir
o valor positivo de suas culturas e experiências
específicas – ressignificandoas (SANTOS, 2003);
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6 Direitos de aprendizagem
Observamos hoje um discurso quase generaliza- o acesso dos estudantes à escola, principalmente
do na sociedade e, inclusive, entre os profissio- no Ensino Fundamental. Outros avanços se
nais da educação de que há uma crise institucio- traduzem no aumento do número de escolas,
nalizada na escola. Os problemas são inúmeros na melhoria da infraestrutura das escolas e
e se manifestam de diferentes formas: violência, com relação à qualificação dos profissionais
desinteresse dos estudantes, fracasso escolar, da educação. Então, por que o princípio da
indisciplina escolar, professoras desencantadas permanência e da qualidade da educação não
com a profissão, entre outros. acompanharam o princípio do acesso?
Alguns dados alarmantes são as taxas de distor- É com base nesses questionamentos e
ção idade e série, abandono e repetência, anal- principalmente com relação ao grande número
fabetismo, bem como a taxa de escolaridade dos de crianças que não conseguem ler e escrever -
brasileiros, o que significa que muitos estudantes mesmo frequentando o Ensino Fundamental – que
estão tendo acesso à educação, mas não estão o Ministério da Educação, por meio da Secretaria
conseguindo concluir sequer o Ensino Funda- de Educação Básica e da Coordenação do Ensino
mental. Dados apontados pelo sistema nacional Fundamental passou a usar o conceito de direito de
de avaliação da educação (Provinha Brasil, Pro- aprendizagem e desenvolvimento, inicialmente nos
va Brasil, Enem) revelam que ainda é necessário documentos voltados à questão da alfabetização,
avançar no sentido da efetivação da finalidade da como foi o caso do documento denominado
escola, que é o sucesso dos estudantes. “Elementos conceituais e metodológicos para
definição dos direitos de aprendizagem e
desenvolvimento do ciclo de alfabetização (1º,
No cenário municipal, a necessidade de 2º e 3º anos) do Ensino Fundamental” (BRASIL,
ampliarmos as possibilidades de efetivação dos
direitos pode ser observada nos resultados de 2012). Nesse documento, que foi submetido à
desempenho dos estudantes, uma vez que no consulta pública, estão propostos 30 direitos
ano de 2015 a taxa de reprovação no Ensino de aprendizagem, 20 eixos estruturantes e 256
Fundamental foi de 10,6% e de distorção idade objetivos de aprendizagem, distribuídos entre as
série de 19,1%. De acordo com dados divulgados diferentes áreas do conhecimento.
pelo Mec/Inep, na Prova Brasil de Língua
Portuguesa (2015) a média do município foi de
210,0 para os anos iniciais e 249,9 para os anos Em 2014, foi lançado outro documento numa
finais. Em Matemática (2015), o resultado foi de versão ainda preliminar intitulado “Por uma política
219,4 para anos iniciais e 254,7 anos finais. O curricular para a educação básica: contribuição ao
Índice de Desenvolvimento da Educação Básica debate da base nacional comum a partir do direito
(Ideb) observado em 2015, foi de 5,6 para os à aprendizagem e ao desenvolvimento” (PCEB,
anos iniciais e 4,3 para os anos finais, com metas
projetadas para 5,5 e 4,7 respectivamente. BRASIL, 2014). O documento faz uma reflexão
a partir das diretrizes curriculares nacionais para
toda Educação Básica, no sentido de elencar
Por outro lado, é inegável que avançamos em subsídios para a elaboração da base nacional
relação ao princípio constitucional que estabelece comum do currículo.
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As proposições explicitadas nesses documentos Nesse contexto, os direitos de aprendizagem e ao
dialogam com as “[...] demandas postas à desenvolvimento também se articulam “[...] aos
educação pelos desafios da contemporaneidade, percursos formativos percorridos pelos estudantes
bem como pela diversidade de sujeitos que ao longo da Educação Básica e são indissociáveis
frequentam as etapas [e modalidades] da das condições em que este processo ocorre,
Educação Básica e pelo resgate da grande dívida tais como a formação e o trabalho docente,
com uma boa parte da população que, ao longo infraestrutura escolar, sistema de gestão, estrutura,
dos anos, não logrou exercer o direito à Educação organização e suporte didático-pedagógico e
Básica de qualidade” (PCEB, BRASIL, 2014, p. 9). tecnológico” (PCEB, BRASIL, 2014, p. 9).
Procuram, então, balizar a reflexão sobre a escola
e a organização curricular a partir do conceito Não há como negar que a centralidade do direito
de direito de aprendizagem e desenvolvimento, à aprendizagem está na proposta curricular e a
evidenciando a necessidade de resgatar a função centralidade do currículo é o estudante. Esse é
social da escola no que tange à garantia do acesso um aspecto que temos discutido desde a primeira
ao conhecimento por todos os estudantes. parte do nosso documento, pois compreendemos
que a política curricular deve estar orientada para a
Trata-se, pois, de um conceito que tem implícita uma efetivação do direito de aprender e “[...] o currículo
conotação política, filosófica e pedagógica, uma de cada escola deverá expressar a articulação de
vez que o direito de aprendizagem se efetiva no todos os elementos que o constituem, de forma a
cumprimento da função social da escola como o lócus garantir que os direitos expressos no conjunto dos
de produção do conhecimento, de aprendizagem, instrumentos legais e normativos possam traduzir-
de formação humana. Efetiva-se por meio do se em práticas educativas” (PCEB, BRASIL,
cumprimento de nossas funções como profissionais 2014, p. 18), o que remete a alguns conceitos já
da educação, ou seja, por meio do cuidado, do zelo trabalhados, que enfatizam a ideia da experiência e
pelo sucesso de todos os estudantes. da contextualização do conhecimento. Isso, porque,
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a realidade dos estudantes, acolhendo as 1996 e 2010, 2010a). Ao anunciarmos que o
diferenças, articulando as necessidades de desenvolvimento curricular está articulado à ideia
aprendizagem às especificidades dos sujeitos, do direito, reconhecemos o papel relevante da
com foco na apropriação de conhecimentos que escola na formação dos estudantes, assumindo a
articulados a vivência dos estudantes são por responsabilidade que nos cabe na sistematização
eles ressignificados a partir das experiências dos saberes, valores e práticas, bem como na
curriculares (PCEB, BRASIL, 2014). gestão e na avaliação dos processos de ensino
aprendizagem.
O direito à aprendizagem e ao desenvolvimento
implica, assim, apropriação de atitudes e Dessa forma, podemos perguntar: Como se
instrumentos para continuar aprendendo, quer efetiva o direito de aprendizagem numa proposta
pela compreensão dos fundamentos científico- curricular? Pelo exposto nos documentos, em cada
tecnológicos dos processos produtivos, quer pelo área há um grupo de conhecimentos considerados
aprimoramento da condição humana, por meio direitos de aprendizagem, traduzidos em objetivos
da construção e formação de referências éticas, de aprendizagem a serem alcançados por todos
da sensibilidade estética e do desenvolvimento os estudantes.
da autonomia intelectual e moral (BRASIL,
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proposta. Em virtude disso, foi criado um grupo de para que os sistemas de ensino elaborem suas
trabalho com o objetivo de elaborar o instrumento propostas curriculares tendo como fundamento o
de registro de avaliação por objetivos que foi direito de aprendizagem e ao desenvolvimento.
implementado em 2017, a princípio, apenas com
as turmas do primeiro segmento. A concepção de educação como direito apresentada
na BNCC tem relação com a intencionalidade do
O breve histórico aqui apresentado revela, processo educacional. Nessa direção, os objetivos
portanto, movimentos singulares tanto no que de aprendizagem apresentados nos diferentes
tange aos Projetos Pedagógicos das Unidades de componentes curriculares que a integram materializam
Ensino citadas como à experiência do CIAEF, que as intencionalidades educacionais. Dessa forma,
serviram como referências e pontos de partida a BNCC se destaca em relação aos documentos
para o processo de atualização das Diretrizes anteriores ao apresentar direitos e objetivos de
Curriculares do Ensino Fundamental e da aprendizagem dos quais as crianças, jovens,
Educação de Jovens e Adultos, contribuindo para adolescentes e adultos devem se apropriar.
a elaboração dos objetivos de aprendizagem.
Considerando, então, o referencial teórico que
No que tange, especificamente, aos objetivos subsidiou o processo de atualização destas diretrizes
de aprendizagem para a Educação de Jovens curriculares, assim como a produção curricular
e Adultos, foi necessário, também, retomar os municipal e nacional, buscamos nos momentos
princípios formulados nos documentos municipais de diálogos curriculares e nos grupos de trabalho
que subsidiam o trabalho com a modalidade, tais com profissionais do grupo referência, elaborar
como: a identidade e especificidades dos sujeitos uma proposta de objetivos de aprendizagem para o
da EJA; a ideia de currículo integrado que abarca desenvolvimento da ação pedagógica do primeiro ao
as visões de mundo, os valores e as experiências nono ano do Ensino Fundamental e para o primeiro e
dos sujeitos; a relação com o mundo da cultura segundo segmentos da Educação de Jovens e Adultos.
e do trabalho; a interdisciplinaridade; o trabalho
com unidades conceituais que assegurem a Essa proposta foi materializada por meio de planilhas
contextualização do conhecimento; entre outros. que contemplam os eixos de ensino com os respectivos
objetivos de aprendizagem a serem iniciados (I),
Em consonância com as ações curriculares aprofundados (A) e consolidados (C) em cada
gestadas no município, a elaboração dos objetivos componente curricular, conforme pode ser visto no
de aprendizagem também é uma experiência que capítulo 8 sobre a Fundamentação teórico-metodológica
vem sendo vivenciada em âmbito nacional pelo das áreas de conhecimento, seus componentes
Documento Elementos Conceituais do Currículo curriculares e os objetivos de aprendizagem, que são
(2012) e por meio das ações do Pacto Nacional apresentados numa perspectiva longitudinal e de
pela Alfabetização na Idade Certa (2013), em progressão dos conhecimentos. Ressaltamos que,
que são elencadas ações que contribuem para a por meio dessa construção coletiva, buscamos dar
garantia dos direitos de aprendizagem com foco unidade às propostas pedagógicas das escolas, que
na alfabetização. necessariamente se relacionam com os contextos e com
as experiências dos sujeitos praticantes do currículo.
Recentemente, em 2015, com a publicização
da Base Nacional Curricular Comum (BNCC,
BRASIL, 2015), o processo de atualização das
Diretrizes Curriculares do Município de Vitória foi
corroborado pelas concepções materializadas no
documento nacional. A BNCC é uma exigência da
Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional
(LDB, BRASIL, 1996), das Diretrizes Curriculares
Nacionais Gerais da Educação Básica (DCNEB,
BRASIL, 2009) e do Plano Nacional de Educação
(PNE, BRASIL, 2014) e tem papel orientativo Figura 33 - Exposição de trabalhos dos estudantes da EMEF MB
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68
PARTE II
ÁREAS DO CONHECIMENTO,
SEUS COMPONENTES
CURRICULARES E
OBJETIVOS DE
APRENDIZAGEM
69
DIRETRIZES CURRICULARES DO ENSINO FUNDAMENTAL E DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS
Neste capítulo são apresentadas reflexões teórico- estudos e reflexões acerca dos conceitos e
metodológicas que visam subsidiar o trabalho práticas inicialmente sistematizados em textos
pedagógico a ser desenvolvido em cada Área do elaborados pelo Grupo Referência. Esses textos
Conhecimento, considerando os componentes foram discutidos e analisados pelos profissionais
curriculares que as compõem. Seu processo da rede em momentos de grupos de trabalho
de elaboração tomou como ponto de partida as com plenárias e trocas de experiências, o que
contribuições das mesas, relatos de experiência, oportunizou novas contribuições que foram
debates e grupos de trabalho realizados no II incorporadas ao longo de todo o processo de
Seminário com o Grupo Referência, em abril/ sistematização dos textos das áreas.
maio de 2015, sendo intensificado nos Ciclos de
Diálogos Curriculares, nos Fóruns de Discussões Em cada área e seus componentes curriculares,
Curriculares da Plataforma VixEduca e nas as reflexões foram tecidas considerando a
formações realizadas nas escolas com todos trajetória da rede de ensino observada nas
os profissionais do Ensino Fundamental e da experiências dos profissionais e nos referenciais
Educação de Jovens e Adultos. curriculares municipais, como a Diretriz Curricular
para o Ensino Fundamental (DCEF, PMV, 2004),
a Proposta de implementação da modalidade
Educação de Jovens e Adultos (PIEJA, PMV, 2007)
e o Documento orientador do CIAEF (CIAEF, PMV,
2012), bem como os referenciais curriculares
nacionais expressos nas Diretrizes Curriculares
Nacionais da Educação Básica (CNE – 04/2010)
e do Ensino Fundamental (CNE – 07/2010) e
a Base Nacional Curricular Comum (BNCC,
BRASIL, 2016) que, nos momentos de produção
desta diretriz, conforme já situado anteriormente,
foi amplamente divulgada, servindo como um
importante referencial na discussão das áreas.
70
DIRETRIZES CURRICULARES DO ENSINO FUNDAMENTAL E DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS
1 Área de Linguagens
71
DIRETRIZES CURRICULARES DO ENSINO FUNDAMENTAL E DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS
Estudos no campo da estética e da filosofia da criar relações, construir sentidos e conhecimen-
linguagem, que dialogam com as contribuições tos. A ampliação da experiência estética, fazendo
circular diferentes manifestações artístico-culturais,
e com as fragilidades advindas do Romantismo
é base fundamental para processo de criação, pois
e do Racionalismo, reafirmam essa forma de alarga o acervo de referências relativas às carac-
conceber a Linguagem, evidenciando que não terísticas e ao funcionamento de cada tipo de ex-
se configura apenas como comunicação ou pressão, bem como amplia a rede de significados e
expressão do pensamento, mas é interação, pois modos diferenciados de comunicabilidade e compre-
envolve processos de produção de sentidos na ensão (BORBA; GOULART, 2007, p. 53).
e pela forma como nos posicionamos no mundo
por meio dela, tendo em vista os aspectos sociais, Nessa direção, Corsino (2007, p. 60 e 61) defende
éticos, estéticos políticos, históricos, culturais, que um dos grandes objetivos do currículo de Artes
ideológicos, filosóficos que permeiam a vida é “[...] a educação estética, isto é, sensibilizar a
humana (BAKTIN, 1992). criança [o adolescente, o jovem, o adulto e o idoso]
a apreciar uma pintura, uma escultura, assistir
a um filme, ouvir uma música”. Os estudantes
devem “[...] vivenciar atividades em que possam
ver, reconhecer, sentir, experienciar, imaginar
as diversas manifestações de arte e atuar sobre
elas”. É preciso também que “[...] elaborem suas
experiências pelo fazer artístico, ampliando a sua
sensibilidade e a vivência estética”.
73
DIRETRIZES CURRICULARES DO ENSINO FUNDAMENTAL E DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS
explorados livros, poesias, músicas, autores, população brasileira em questão, que respeite o
artistas, poetas, escritores, expressões artísticas repertório cultural da população negra e o relacione
com as práticas educativas inclusivas existentes”
(plástica, visual, cênica) que retratem a cultura
(BRASIL, 2006, p. 54);
indígena, quilombola, africana (cf. Lei 10.639/2003)
e outros grupos étnicos que contribuíram para a - “[...] visualizar as diferenças e articular as práticas
constituição da cultura capixaba e nacional, bem pedagógicas a elas não somente como forma de
como temas ligados às diferenças biológicas, respeito humano, mas uma forma de promover a
diversidade ambiental, gênero, sexualidade, direitos igualdade”, de “[...] apropriar, de fato e de direito,
dos instrumentos que nos permitam perceber estas
da criança e adolescentes e direitos humanos múltiplas formas, e mais, que esta apropriação
não signifique expropriação, mas sim recriação,
reinvenção, redescoberta e que nos leve a
equacionar o nosso ser e estar no mundo em suas
múltiplas dimensões” (BRASIL, 2006, p. 54-56);
74
DIRETRIZES CURRICULARES DO ENSINO FUNDAMENTAL E DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS
possuem, dando continuidade e expandindo os de recursos de tecnologia assistiva, o direito
seus repertórios por meio da diversificação dos à comunicação plena, aos estudantes que
campos que constituem sua vida social. Nessa apresentem comprometimentos motores e de fala,
assim como aos estudantes surdos o uso da Libras,
direção, são apresentados no documento curricular
capacitando-os a comunicarem-se em diferentes
nacional, objetivos gerais que estão voltados para situações de produção textual;
a formação crítica e cidadã, uma vez que primam
pela necessidade de levar os estudantes à: - contribuir para o reconhecimento de uma
diversidade de textos, linguagens e saberes como
[...] compreender as práticas de linguagem modos legítimos de pensar, sentir e estar no mundo,
como produtos culturais, portadores de valores, bem como de produzir conhecimentos, levando os
interesses, relações de poder e perspectivas de estudantes a compreenderem o caráter situado e
mundo que estruturam a vida humana; histórico das práticas de linguagem;
75
DIRETRIZES CURRICULARES DO ENSINO FUNDAMENTAL E DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS
sobre a diversidade étnico-racial, a partir da própria
Logo, os componentes curriculares que compõem comunidade, considerando a contribuição que
a área de Linguagens trazem a potencialidade esta pode dar ao currículo” (BRASIL/MEC, 2006,
de uma abordagem curricular que ultrapassa a p. 65) e o tratamento da “[...] questão racial como
especificidade de cada componente e, dessa conteúdo inter e multidisciplinar durante todo o
forma, a não fragmentação do conhecimento. Tal ano letivo, estabelecendo um diálogo permanente
potencialidade requer pensar as linguagens sob entre o tema étnico-racial e os demais conteúdos
a ótica de sua complexidade, agregando atitudes trabalhados na escola” (BRASIL/MEC, 2006, p.
e valores que, apesar de constitutivos de cada 67);
componente, extrapolam suas fronteiras e se
imbricam tendo em vista uma visão e abordagem - o estímulo à criação de métodos didático-
a partir da integração dos conhecimentos. pedagógicos, utilizando-se de recursos
tecnológicos da informação e comunicação,
Assim, podemos refletir que a integração dos a serem inseridos no cotidiano escolar, a fim
componentes curriculares que compõem a área de de superar a distância entre estudantes que
Linguagens pode ser concebida tendo em vista a aprendem a receber informação com rapidez
possibilidade de entender as diferentes linguagens utilizando a linguagem digital e professoras que
como patrimônio cultural da humanidade, uma vez dela ainda não se apropriaram (BRASIL, 2010 a,
que trazem em si mesmas e simultaneamente, um art.13, § 3º, VII);
conjunto de conhecimentos de campos diversos,
mas que ao mesmo tempo se entrelaçam. Assim, - a utilização de recursos de tecnologia assistiva,
as abordagens metodológicas nessa área devem especialmente, a Comunicação Alternativa e
promover: Ampliada, como possibilidade de acesso ao
currículo escolar, para estudantes que apresentem
- a contextualização dos conteúdos, assegurando comprometimentos motores e de fala entre outras
que a aprendizagem seja relevante e socialmente deficiências.
significativa;
Essas pontuações reafirmam a necessidade
- o esforço de integração por parte das de metodologias que assegurem a integração
professoras de trabalhar juntas, de compartilhar curricular e a contextualização dos saberes, por
com os colegas os acertos e indagações, tendo meio dos usos dos diferentes espaços tempos
em vista o compromisso com a aprendizagem dos de aprendizagem, dos materiais didáticos e dos
estudantes; recursos tecnológicos disponíveis, de modo a
propiciar o que defendemos na primeira parte
- a promoção de práticas interdisciplinares entre deste documento, ou seja, um currículo a partir
os componentes curriculares desta e de outras do conceito de experiência, que considere as
áreas do conhecimento; singularidades e produza sentidos para os
estudantes, por meio da constituição de espaços
- o cultivo do diálogo e de relações em parceria coletivos de organização do trabalho pedagógico,
com a comunidade escolar; o que implica mobilização dos interesses e
necessidades das crianças, adolescentes, jovens
- o desenvolvimento de metodologias e estratégias e adultos.
variadas que melhor respondam às diferenças
de aprendizagem entre os estudantes e as suas Nesse contexto, algumas propostas de
demandas pessoais, sociais, econômicas e organização da ação pedagógica se revelam
culturais, considerando as especificidades da interessantes para o trabalho com as linguagens,
infância, da adolescência, dos jovens, adultos e uma vez que possibilitam, não apenas a
idosos. integração entre os componentes da área de
linguagens, como também com as demais
- a “[...] construção de ambiente escolar que áreas do conhecimento. Nery (2007) sistematiza
favoreça a formação sistemática da comunidade quatro modalidades organizativas do trabalho
76
DIRETRIZES CURRICULARES DO ENSINO FUNDAMENTAL E DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS
pedagógico que dialogam com as abordagens definido, de modo geral, pelas necessidades da
conceituais aqui defendidas e podem contribuir temática, dos conhecimentos em estudo e dos
para a ressignificação do planejamento do interesses da turma. A sequência didática pode
processo ensino aprendizagem como: atividades ser articulada de modo interdisciplinar e abordar
permanentes, sequências didáticas, projetos de temáticas que transversalizam o currículo, sem
estudo e atividades de sistematização. perder de vista os saberes necessários ao processo
de ensino aprendizagem dos conteúdos previstos
• Atividades permanentes em cada componente ou área do conhecimento.
77
DIRETRIZES CURRICULARES DO ENSINO FUNDAMENTAL E DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS
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78
DIRETRIZES CURRICULARES DO ENSINO FUNDAMENTAL E DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS
1.1 Arte
Perspectivas teórico-metodológicas e social dos alunos” (BRASIL, 1996). Essa
mudança de nomenclatura foi resultado de um
Ao longo da história, as produções no campo processo de discussões sobre a importância do
da Arte foram constituídas por experiências, ensino da Arte no Brasil e também do reflexo de
conceitos e práticas que têm integrado diferentes manifestações de arte-educadores de todo o país,
contextos sociais, com desdobramentos na por meio de instituições como Federação de Arte
instituição escolar, em que o ensino da Arte tem Educadores do Brasil (FAEB) e da Associação de
por finalidade contribuir para a formação humana Pesquisadores em Artes Plásticas (ANPAP).
e o desenvolvimento cultural dos estudantes.
Reconhecendo a relevância desse pressuposto, Outro aspecto relevante é que de acordo com
no processo de atualização destas Diretrizes, alterações introduzidas pelas Leis 10.639/2003
buscamos ampliar o diálogo com a produção do e 11.645/2008, o ensino da Arte deve contemplar
conhecimento, revisitando o referencial legal, as contribuições das diferentes culturas e etnias
histórico e conceitual do Componente Curricular para a formação do povo brasileiro, especialmente
Arte: Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN, das matrizes indígena, africana e europeia,
BRASIL, 1998), Diretrizes Curriculares para o na construção de identidades mais plurais e
Ensino Fundamental de Vitória (DCEF, PMV, solidárias. Vale ainda ressaltar que a Lei 9.394/96
2004), Diretrizes Curriculares Nacionais da passou a determinar, através de seu artigo 26,
Educação Básica (DCNEF, BRASIL, 2010) e parágrafo 6º, que a música deverá ser conteúdo
na Base Nacional Comum Curricular (BNCC, obrigatório, mas não exclusivo, do componente
BRASIL, 2016), entre outros. curricular.
79
DIRETRIZES CURRICULARES DO ENSINO FUNDAMENTAL E DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS
Não podemos deixar de dar importância às como uma pedagogia essencialmente experi-
manifestações artísticas e culturais [...], atentando mental” (DCEF, PMV, 2004, p. 64). Nesse contexto
para que os programas e métodos pedagógicos não
não havia preocupação com os conteúdos, mas em
estejam desvinculados das culturas regionais, da
realidade em que está inserido o nosso aluno, propondo “deixar-fazer”, ou seja, o foco estava na produção sem
a ampliação de conhecimento e experiências, com o necessário conhecimento da Arte. Essa abordagem
a colaboração de artistas no processo educacional foi ressignificada a partir dos anos de 1980 quando a
(PMV, 1995, s/p.). Arte passou a ser defendida por sua especificidade e
como campo de produção do conhecimento.
Entendemos a necessidade de oportunizar aos
estudantes e aos docentes momentos para Com o surgimento das teorias pós-críticas,
vivenciarem outros discursos em Arte, não observamos novos olhares para o campo da
ficando restrito aos limites dos muros escolares. Arte que contribuíram para constituição de novas
Conviver com o entorno, espalhar a palavra, concepções, dando visibilidade às conexões entre
provocar a discussão por meio da integração saber, identidade e poder (SILVA, 2007). Essas
entre as diferentes linguagens que constituem ideias, também explicitadas na primeira parte destas
o componente Arte, como a linguagem plástica, Diretrizes Curriculares, estão situadas no movimento
cênica, musical e corporal. “O que se pretende chamado de multiculturalismo e reafirmam a
com essa integração é que a professora tome necessidade de oposição a todas as formas de
como eixo de seu trabalho a linguagem que centrismo cultural, fortalecendo o reconhecimento
melhor domine [...] e estabeleça interações com do direito às diferentes culturas (SANTOS, 2003).
as demais linguagens, oportunizando aos alunos
um trabalho rico e diversificado” (PMV, 1995, s/p.). Assim, o ensino da Arte precisa se comprometer
com as crianças, com os adolescentes, com
Considerando essas marcas históricas e os aspectos os jovens e os adultos das nossas escolas,
legais que vieram modificando o ensino da Arte no contribuindo para que os sujeitos envolvidos nos
Brasil e no município de Vitória, aprofundaremos processos de ensino aprendizagem possam atribuir
algumas perspectivas teóricas, trazendo conceitos sentidos, realizar leituras cada vez mais ampliadas
e pressupostos metodológicos que contribuem para e críticas da realidade, desenvolvendo o seu próprio
o trabalho com a Educação Estética. senso estético artístico e cultural, conectado com os
tempos e com as manifestações artísticas culturais,
O ensino da Arte já foi visto como espaço sejam elas: locais, nacionais ou universais. O
para trabalhar coordenação motora ou tempo desenvolvimento estético e artístico é uma das
de entretenimento ou até descanso para os finalidades do ensino da Arte, por meio do qual os
estudantes. Além de ser apenas ensino de técnicas estudantes desenvolvem a fruição, a criatividade
como, pintura, desenho, colagem, etc e em muitos e a liberdade nas suas produções individuais
casos, para moralizar, disciplinar e trabalhar o e coletivas, uma vez que a Educação Estética,
desenho geométrico. Nessa perspectiva, o ensino conforme Castilhos e Fernandes (2007, p. 11):
da Arte pouco contribuía para o desenvolvimento
da leitura de mundo, ou seja, para o exercício de - […] oportuniza uma experiência que não é
construção de um percurso gerativo de sentido. uma simples manifestação da sensibilidade
desconectada da sociedade, mas que sintetiza um
conjunto de relações significativas e universais;
Por outro lado, observamos também, a partir
das décadas de 1950/60, conforme histórico - propicia a oportunidade de interpretar os elementos
apresentado nas Diretrizes Curriculares (DCEF, das linguagens artísticas e preparar a criança [os
PMV, 2004), a emergência de uma concepção jovens e os adultos] para romper as fronteiras da
modernista da arte com ênfase na autoexpressão, sua vida cotidiana;
fundamentada no expressionismo e na estética
- [...] busca a interação com a vasta gama de textos
idealista e romântica. Nessa forma de conceber e imagens, sons e movimentos, tanto no espaço
o ensino da Arte, “[...] a ênfase está no aluno, da escola como fora da escola, de maneira a
nos seus interesses, na sua espontaneidade e no possibilitar a apreensão e compreensão da cultura
processo da aprendizagem, o que a caracteriza na sua totalidade e a socialização do saber em arte.
80
DIRETRIZES CURRICULARES DO ENSINO FUNDAMENTAL E DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS
Nesse contexto, não podemos deixar de destacar Sabemos que a identidade cultural é construída
as dimensões apontadas pela Base Nacional em torno das evidências das “diferenças”. Se as
diferenças culturais são embaçadas, o “ego” cultural
Comum Curricular (BRASIL, 2016) que também
desaparece. Portanto, a procura por uma identidade
potencializam a experiência artística. Essas cultural e a educação multicultural não são operações
dimensões se interpenetram, de forma simultânea, em diálogo, mas um interrelacionamento complexo
contribuindo para a contextualização de saberes e dialético. Qualquer desequilíbrio reduzirá a
e das práticas artísticas nas diferentes linguagens educação multicultural a uma mera “cooptação das
e são respectivamente: “[...] “criação”, “crítica”, forças das minorias [...]” (BARBOSA, 1998, p. 80).
“estesia”, “expressão”, “fruição” e “reflexão”. Vale
ressaltar que não há nenhuma hierarquia entre As questões metodológicas foram pautadas por
elas, tampouco uma ordem para se trabalhar com Barbosa (1998), que apresentou uma abordagem
cada uma no campo pedagógico” (BRASIL, 2016, de leitura de imagens, inicialmente conhecida
p. 113). por Metodologia Triangular, depois por Proposta
Triangular e, atualmente, Abordagem Triangular
Considerando o exposto, o ensino da Arte também do Ensino das Artes e Culturais Visuais, afetando,
pode ser potencializado pelas contribuições dos de forma positiva, o ensino da Arte no Brasil.
Estudos Culturais, perspectiva que, na atualidade,
Por ser profundamente dialógica, a Abordagem
é considerada coerente com os rumos atuais do Triangular é uma teoria aberta, já que um de seus
ensino da Arte, já que potencializa “[...] o respeito principais atributos é ser uma teoria viva, não linear,
às diferenças e ao diálogo intercultural, pluriétnico não acabada e, portanto, fecunda. Ela possibilita
e plurilíngue e […] alcança a experiência e a ao arte/educador questionar e reorientar o seu
vivência artísticas como prática social” (BRASIL, trabalho, compreende-o como sujeito da história
capaz de reelaborar sua práxis (articulação entre
2016, p. 113). Esse modo de considerar as
teoria e prática) como um recriador e não como
especificidades da Arte é fundamental para mero reprodutor (AZEVEDO; ARAUJO, 2015, p.
tratarmos de uma característica inegável do 346).
nosso povo: a diversidade. Ao observamos,
no nosso cotidiano, os cabelos, pele, tons, Na rede de ensino de Vitória, essa abordagem tem
cores, vestimentas, músicas, danças, cantos, sido utilizada ao longo dos anos, uma vez que,
ritos, crenças, falares, comidas, identificamos conforme pontuado nas Diretrizes Curriculares de
a multiplicidade de elementos culturais que as 2004, as contribuições dessa autora, privilegiam
nossas crianças, jovens e adultos expressam.
[...] o conhecimento interdisciplinar e intercultural,
De acordo com Oliveira e Nolasco (2010), as tomando como base os pressupostos de que a
diferenças de identidades dos sujeitos (estudantes, cultura é uma instituição da esfera social, que as
sensibilidades artísticas são próprias de cada grupo,
professoras e a sociedade como um todo) são que o conhecimento é uma construção histórica e
fundamentais para a configuração de propostas social, e que o ensino deve incluir temas atuais e
metodológicas que vão além dos atos de fazer e relacionados com a experiência dos alunos (PMV/
pensar, abarcando a contextualização, trazendo SEME, 2004, p. 68).
os sentidos históricos e contemporâneos, de
fora e de dentro, próprios e alheios, ou seja, a Tal abordagem possibilita o acesso à Arte como
multiculturalidade e a diversidade. Defendem direito de todos, tem como principal referência as
uma proposta metodológica que parte da “[…] premissas teóricas formuladas por Paulo Freire,
experiência cotidiana plural e diversificada, dos educador brasileiro que defendia a importância,
alunos e do professor, para que eles possam no processo de ensino aprendizagem, da leitura
compreender a experiência e o contexto histórico de mundo, da conscientização crítica a partir da
das obras de arte e dos artistas, tanto as do passado realidade dos estudantes e ações para transformar
como as produzidas na contemporaneidade. E realidades sociais. Para esse autor, “[...] linguagem
ainda modificar a forma de perceber a Arte e a si e realidade se prendem dinamicamente. A
próprio através dos Estudos Culturais (OLIVEIRA; compreensão do texto a ser alcançada por sua
NOLASCO, 2010, p. 94). leitura crítica implica a percepção das relações
entre texto e contexto” (FREIRE, apud DCEF, PMV,
81
DIRETRIZES CURRICULARES DO ENSINO FUNDAMENTAL E DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS
2004, p. 67). A partir desse referencial, Barbosa
(1998), propõe estratégias para o ensino da Arte
que contemplam a apreciação, a contextualização
e o fazer artístico. Segundo a autora, essas
dimensões metodológicas
83
DIRETRIZES CURRICULARES DO ENSINO FUNDAMENTAL E DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS
A Música se constitui arte de combinar os sons,
possui valores presentes em todos os tempos
e em todos os grupos sociais, podendo ser
utilizada como um instrumento de diálogo e
aprendizado. A expressão pela música traz
elementos do universo cultural, fonte de constante
pesquisa, descoberta, seleção, organização de
formas musicais, desenvolvimento de processos
cognitivos de percepção, discriminação, escuta,
lateralidade, compasso, ritmo, socialização,
Figura 40 - Releitura musical - EMEF TI - MA disciplina, respeito, os elementos como raciocínio
lógico, memória, percepção, coordenação,
A linguagem do Teatro atravessa nosso corpo concentração, socialização, emoção, autoestima,
como um mosaico de experiências sensoriais, imaginação, criação e uma série de outros, é uma
possibilita conhecer, reconhecer, ressignificar e, forma de transmitir ideias e informações. Tanto
sobretudo, impregnar de novos sentidos a vida em o aprendizado e o produto dos conhecimentos
sociedade. Entre as muitas linguagens artísticas musicais “[…] passam pela percepção, pela
que proporcionam essa troca, a ficção perpassa experimentação, pela reprodução, pela
diferentes tempos, espaços, personagens de manipulação e pela criação de materiais sonoros
diversas realidades. O diálogo acontece por meio diversos, dos mais próximos aos mais distantes
de jogos, improvisação, atuação, que desenvolvem da cultura musical do estudante” (BRASIL, 2016,
técnicas e habilidades já presentes no sujeito p. 117).
e que, na escola, se tornam possibilidades de
experimentação do conhecimento, influenciam A Dança, pensada nestas diretrizes em toda a sua
a dinâmica da aprendizagem, bem como a sua complexidade, abarca aspectos da sensibilidade
apropriação. Nessa direção, o teatro potencializa: artística e do movimento, articulados aos seus
contextos de produção, que pressupõem o
[…] percepção estética, a imaginação, a consciência reconhecimento da diversidade de experiências
corporal, a intuição, a memória, a reflexão e a que são constitutivas dessa linguagem.
emoção. Possibilita o seu desenvolvimento integral,
tanto do ponto de vista cognitivo quanto estético,
O reconhecimento da diversidade de saberes como
afetivo, político, cultural e social, propiciando um
modos legítimos de pensar, de experienciar e de
espaço singular para a interdisciplinaridade com
fruir a dança, leva-nos a perceber o caráter social
outros componentes e áreas do currículo (BRASIL,
e político dessa prática, a partir de uma perspectiva
2016, p. 117).
ética, crítica e cidadã, possibilitando o repensar as
dualidades e os binômios, presentes nas noções
de corpo e de dança (corpo versus mente, popular
versus erudito, teoria versus prática), em favor de um
conjunto híbrido e dinâmico de práticas que possam
ser representativas da diversidade da dança em
seus mais diversos aspectos e dimensões (BRASIL/
MEC, 2016, p. 117).
[...] socializa os indivíduos, desenvolve hábitos, Ao definirmos os objetivos para o ensino da Arte
atitudes, comportamentos, modos de pensar e de dialogamos com a Base Nacional Comum Curricular
se expressar no uso da linguagem, segundo valores
(BRASIL, 2016), que concebe as linguagens como
e crenças de grupos que se frequenta ou que
pertence por herança, desde o nascimento. Trata- formas de conhecimento que articulam saberes
se do processo de socialização dos indivíduos. do corpo, da sensibilidade, da intuição, da razão e
A educação não-formal capacita os indivíduos a da emoção, que por meio de conceitos e práticas
se tornarem cidadãos do mundo, no mundo. Sua desencadeiam sentidos, contribuindo para a
finalidade é abrir janelas de conhecimento sobre o interação crítica do estudante com o universo social
mundo que circunda os indivíduos e suas relações
sociais. Seus objetivos não são dados a priori, eles
e cultural do qual ele faz parte. Nessa direção, foi
se constroem no processo interativo, gerando um pensada uma organização com foco no trabalho
processo educativo (GOHN, 2013, s/p.). com as linguagens numa visão longitudinal com
adequação a etapa de escolarização em que se
Para tanto, os docentes envolvidos nessa função encontram os estudantes.
85
DIRETRIZES CURRICULARES DO ENSINO FUNDAMENTAL E DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS
- desenvolver atitudes de cooperação, respeito,
Ainda, apoiando-nos também nas Diretrizes diálogo e valorização das diversas escolhas e
Curriculares (DCEF, PMV, 2004), pensamos possibilidades de interpretação e de criação em
em objetivos amplos para o ensino da Arte, arte que ocorrem em sala de aula e no seu entorno;
que dialogassem com os objetivos expressos - empregar vocabulário apropriado a cada
nos eixos de ensino previstos nas planilhas do linguagem para a apreciação e caracterização da
componente Arte. Esses objetivos foram definidos produção individual, dos colegas e de profissionais
para que o ensino da Arte contribua, no decorrer em arte;
do Ensino Fundamental, no desenvolvimento
integral do estudante. Ao retomar esses objetivos, - perceber a Arte como campo de conhecimento
projetamos que o ensino da Arte no decorrer do das várias culturas e sociedades para garantir o
Ensino Fundamental contribua para: respeito às diversidades (religiosa, étnica, social,
cultural, gênero).
- observar as diferentes manifestações artísticas - expressar e valorizar sua experiência pessoal,
e estéticas para que o estudante possa apreciar, imaginação, desejos, necessidades e ideias
analisar e valorizar os bens artísticos de distintos por meio das diferentes linguagens da Arte e
povos e culturas produzidos ao longo da história e manifestações da cultura.
na contemporaneidade;
Dessa forma, no transcorrer do Ensino
Fundamental, os estudantes desenvolverão
- verificar e reconhecer o ofício/produção de
capacidades estéticas e artísticas nas diversas
diferentes artistas: pintores escultores, gravadores,
linguagens da Arte (artes visuais, dança,
desenhistas, artistas gráficos, designers e outros,
música e teatro), tanto para produzir trabalhos
os espaços expositivos de arte, suas ambientações
individuais e em grupo quanto para que possam,
e propostas educativas;
progressivamente, apreciar, desfrutar, valorizar
- pesquisar, conhecer e a reconhecer fontes de e julgar os bens artísticos de distintos povos e
pesquisa e documentação de arte, valorizando culturas produzidos ao longo da história e na
a preservação, conservação e restauração de contemporaneidade (BRASIL, 1998).
acervos variados presentes na história das
diferentes culturas e etnias; Práticas avaliativas
- possibilitar a experimentação das artes em
suas modalidades artes visuais, teatro, música e De acordo com a concepção de avaliação
dança, explorando os elementos que a constituem defendida nestas diretrizes curriculares e, em
por meio da interação de materiais, instrumentos consonância com a produção curricular nacional
e procedimentos artísticos, a fim de utilizá-los (BRASIL, 2016), pontuamos que a avaliação tem
nas produções pessoais e coletivas, identificá- importante contribuição para que esse ensino se
los em outras produções e contextualizá-los concretize, pois
culturalmente;
[...] a avaliação da aprendizagem deve ser
- reconhecer e identificar a diversidade de sentidos processual, qualitativa, mediadora, cotidiana e
existentes nas produções artísticas e/ou também inclusiva, constituindo-se como parte integrante
aquelas veiculadas nas mídias e suas influências do processo de ensinar e de aprender. A avaliação
pode possibilitar o conhecimento da real situação
na vida pessoal e social; ressignificar o mundo e
de aprendizagem dos estudantes nos aspectos
as coisas do mundo poetizando-os por meio do cognitivos, sociais, afetivos e culturais e deve ter
imaginário dramático, articulando as expressões como objetivo subsidiar o planejamento das práticas
plásticas, a partir de estímulos diversos (suportes, pedagógicas [...] (ALAVARSE, 2004, p. 60).
materiais, temas e elementos plásticos);
- refletir sobre a presença da arte no mundo, tanto Dessa maneira, o processo avaliativo, incorpora
pelo sensível quanto pelo inteligível, apreciando, as funções diagnóstica e formativa, com a
identificando, relacionando e compreendendo as finalidade de acompanhar o desenvolvimento
diferentes funções da arte; dos estudantes. A avaliação é um procedimento
complexo, “[...] sensível e cognitivo que requer
86
DIRETRIZES CURRICULARES DO ENSINO FUNDAMENTAL E DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS
ainda mais cuidados por se tratar de uma área na Assim, com o objetivo de diagnosticar as
qual os produtos do aluno expressam sua cultura aprendizagens dos estudantes em diferentes
e subjetividade” (ARSLAN; IAVELBERG, 2006, p. momentos, no processo avaliativo, podemos
80). utilizar estratégias variadas que contribuam para
um olhar cuidadoso, sensível e processual das
Reafirmando, então, o compromisso com as aprendizagens realizadas pelos estudantes.
aprendizagens, compreendemos que o processo Nessa direção, podemos utilizar vários recursos
avaliativo tem como ponto de partida os e estratégias avaliativas, como a observação
conhecimentos dos estudantes que devem ser cotidiana do desenvolvimento dos trabalhos pelos
potencializados e ressignificados, considerando estudantes, o uso de pastas e/ou portfólios, diários
o conjunto de objetivos a serem iniciados, de bordo, autoavaliação, entrevistas, aferições
aprofundados e consolidados no percurso de conceituais e de termos técnicos, dentre outros.
desenvolvimento da ação pedagógica. Conforme
Arslan e Iavelberg (2006, p. 80), “[...] é preciso que Finalizando as reflexões aqui pontuadas, é imprescindível
o professor saiba quais os objetivos e conteúdos destacar que “[...] para aprender Arte é preciso vivê-la,
de ensino em Arte e que leve em conta os pensar sobre essa experiência [...]” (LARA, 2012, p. 147).
processos de construção desses saberes e das Nesse contexto, a avaliação formativa ocupa um lugar
aprendizagens [...]”, considerando “[...] os modos primordial, pois contribui para melhor conhecimento
de aprendizagem e as características pessoais de dos processos que se desenvolvem na escola e para
cada estudante, as condições de aprendizagem o engajamento das crianças, dos adolescentes, jovens
geradas pelo ensino e as aprendizagens e adultos em seu próprio processo de aprendizagem e
sucessivas” (Ibid.). avaliação, compreendendo que o ensino da Arte não
se configura um mero fazer, um exercício mecânico e
Nestas diretrizes curriculares, os objetivos de Arte, repetitivo de tarefas, mas
sistematizados na tabela que se segue, abarcam
os conceitos e as práticas em torno das diferentes […] uma experiência em que haja espaço para
linguagens e se configuram como parâmetros do pensar e emocionar-se, um trabalho de criação,
num intenso processo em que a imaginação, a
processo avaliativo, sendo a referência para o percepção, a intuição ao interagir com a arte,
planejamento de ensino. possibilita ao aluno o encontro com si mesmo, com
suas ideias, potencialidades, limites, construído
Assim, a cada ano, durante todo o processo a sua perspectiva de ver e agir no mundo que vai
de ensino aprendizagem, é preciso avaliar o gradativamente traduzindo-se na intervenção com a
matéria artística […] (Ibid., p. 140).
que os estudantes já sabem, quais objetivos
já consolidaram, quais ainda precisam ser
sistematizados e consolidados, definindo as A avaliação, desse modo, constitui-se na tomada de
estratégias de ensino e de avaliação para consciência tanto para as professoras como para os
que possam ser assegurados os direitos de estudantes, pois possibilita escolher os caminhos para
aprendizagem de todos os estudantes. aprimorar o processo de ensino aprendizagem, sem
perder de vista os resultados do trabalho que devem
Partindo da análise dos discursos docentes, “[...] estar no horizonte para se saber exatamente
Lara (2012) destaca que a professora tem onde cada um pode chegar” (Ibid., p. 153).
papel importante para intervir e assegurar a
aprendizagem dos estudantes, conhecendo como Diretrizes Curriculares do Ensino Fundamental
se apropriam dos conhecimentos, verificando os e a Base Nacional Comum Curricular
avanços e as dificuldades, o alcance dos objetivos,
as medidas necessárias e de onde deve partir, Este texto tem por objetivo uma análise inicial
criando novas oportunidades de envolvimento do componente de Arte relacionado na Base
dos estudantes, realizando experiências com as Nacional Comum Curricular (BNCC) e das
quatro linguagens da Arte e analisando a própria Diretrizes Curriculares do Ensino Fundamental e
prática, entre outras. da Educação de Jovens e Adultos do Município de
Vitória (DCEF/EJA).
87
DIRETRIZES CURRICULARES DO ENSINO FUNDAMENTAL E DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS
A proposta utilizada para esta análise se configurou em que os estudantes sejam levados a estabelecer
numa leitura comparativa dos documentos acima relações espaço-temporais e os contextos de
citados, considerando as habilidades descritas na produção do objeto de Arte, refletindo também
Base Nacional Comum Curricular e os objetivos de sobre suas influências na atualidade. Esses
aprendizagem previstos do documento curricular aspectos são imprescindíveis para o fazer artístico
da Rede Municipal de Vitória. que pressupõe uma relação dialógica dos sujeitos
com os conhecimentos produzidos no campo da
A Arte, em ambos os documentos, busca articular Arte.
o conhecimento por meio da integração entre as
linguagens, a saber, as Artes visuais, a Dança, Na BNCC, são trabalhadas as seguintes Unidades
a Música e o Teatro. Essas linguagens integram Temáticas, Artes Visuais, Dança, Música, Teatro
os saberes referentes à produção e eventos e Artes integradas, porém as habilidades não
artísticos e envolvem as práticas de criar, ler, são trabalhadas na perspectiva da progressão dos
produzir, construir, exteriorizar e refletir sobre conhecimentos. Diferentemente, nas DCEF/EJA
formas artísticas. Vale destacar que nas Diretrizes os eixos temáticos Artes Visuais, Música, Teatro
Curriculares do município há o acréscimo de um e Cultura Geral e Patrimônio, são desdobrados
eixo temático “Cultura geral e Patrimônio” que nos objetivos de aprendizagem, elaborados a
contempla o trabalho com os espaços de produção partir das especificidades de cada temática,
e circulação da arte, cultura capixaba, diversidade sendo indicado na legenda de cada objetivo o
cultural e patrimônio. grau de abordagem para cada ano. Destacamos
ainda que a Dança aparece como eixo temático
Em conformidade com os princípios metodológicos no componente curricular de Educação Física e
adotados nas DCEF/EJA, as estratégias de não em Arte como apontado na BNCC, revelando
ensino da Arte são desenvolvidas a partir de que o trabalho com esse eixo pode ser articulado
uma abordagem metodológica específica do entre os dois componentes curriculares, arte e
componente curricular que considera a fruição/ educação física, integrantes da mesma área de
observação/apreciação, a contextualização, conhecimento.
a cultura visual e o fazer artístico/produção,
numa perspectiva articuladora e progressiva, Os objetivos de aprendizagem elaborados a
compreendendo, portanto, que a cada ano os partir de cada eixo temático são trabalhados
conteúdos devem ser trabalhados de modo a de forma progressiva, distribuídos do 1° ao
assegurar o aprofundamento e a consolidação 9º ano. Em alguns momentos, os objetivos
das aprendizagens. No que tange ao trabalho com priorizam determinados conhecimentos em anos
a fruição/observação/apreciação, ressalta-se a diferentes do que foi indicado na BNCC, ou
importância de partir das vivências dos estudantes, mesmo ampliam os conhecimentos, sem que haja
tornando significativa a experiência com a arte, qualquer prejuízo ao estudante no que tange aos
ampliada pelos conhecimentos específicos das conteúdos, modificando apenas o momento em
linguagens artísticas. Na contextualização é que serão trabalhados, considerando o critério da
necessário considerar uma análise comparativa progressividade conceitual.
Referências
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DIRETRIZES CURRICULARES DO ENSINO FUNDAMENTAL E DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS
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diretrizes e bases da educação nacional, para incluir no reconhecimento, da diferença e da igualdade.
currículo oficial da rede de ensino a obrigatoriedade da SANTOS, B. de S. (Org.). Reconhecer para libertar:
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89
DIRETRIZES CURRICULARES DO ENSINO FUNDAMENTAL E DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS
I A A A A C
(figurativas).
10. Identificar, criar e construir formas Na contextualização, é ne-
plásticas e visuais bidimensionais e I A A A A A C cessário considerar uma
tridimensionais. análise comparativa em
11. Definir estruturas bidimensionais e que os estudantes são
tridimensionais: plano; profundidade/ levados a estabelecer re-
perspectiva; volume; sobreposição; contraste lações espaço-temporais
(figura-fundo); profundidade; equilíbrio; I A A A C e os contextos de pro-
simetria e assimetria - ritmo (quantidade, dução do objeto de Arte,
tamanho); técnicas e materiais, analisando refletindo também sobre
seus efeitos de sentido na obra visual. suas influências na atu-
alidade. Esses aspectos
12. Apreciar diferentes produções artísticas,
I A A A A A A A C são imprescindíveis para
reconhecendo sua inserção na História da Arte.
o fazer artístico que pres-
13. Analisar criticamente diferentes supõe uma relação dia-
produções artísticas e manifestações das I A A A A A A A C lógica dos sujeitos com
artes visuais. os conhecimentos produ-
14. Conhecer vida e obra de artistas plásticos zidos no campo da Arte.
de circulação social (local, regional, nacional I A A C A/C A/C A/C A/C A/C
e estrangeiro).
15. Utilizar vocabulário e o conhecimento
dos elementos constitutivos específicos das I A C A/C A/C A/C
artes visuais;
16. Produzir sentidos com e a partir das
diferentes imagens e objetos artísticos e I A A A A A A A A
conhecer seus contextos, relações e tensões;
17. Planejar e criar trabalhos em artes
visuais, a partir do próprio repertório
imaginário, de princípios conceituais e de I A A A C A/C A/C A/C A/C
proposições temáticas, dialogando sobre a
própria criação.
90
DIRETRIZES CURRICULARES DO ENSINO FUNDAMENTAL E DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS
CONCEITOS
1º 2º 3º 4º 5º 6º 7º 8º 9º
EIXOS OBJETIVOS DE ORIENTAÇÕES
APRENDIZAGEM LEGENDA: METODOLÓGICAS
(I) Iniciar – (A) Aprofundar - (C) Consolidar
18. Posicionar e qualificar os elementos visuais Assim como na Arte
no espaço: dinâmico/estático; estabilidade/ visual, a linguagem
instabilidade; densidade de cores ou formas; peso teatral também se
visual (superior, inferior, lateral, esquerda, direita); articula por meio de uma
I A A C
semelhança (utilização de uma sequência rítmica); abordagem metodológica
contraste (criação de tensão espacial); movimento que considera a fruição,
visual (diluição, concentração, superposição); a contextualização e o
ARTES VISUAIS
91
DIRETRIZES CURRICULARES DO ENSINO FUNDAMENTAL E DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS
CONCEITOS 1º 2º 3º 4º 5º 6º 7º 8º 9º
EIXOS
I A A C A/C
para a construção de instrumentos musicais. lário, a professora
Respiração; fontes sonoras; gêneros musicais
e compositores; música vocal e instrumental;
Ocidental (autor:
44. Conhecer e utilizar instrumentos, Claude V. Palisca,
materiais, suportes de criação artísticos e
CULTURA GERAL E PATRIMÕNIO
92
DIRETRIZES CURRICULARES DO ENSINO FUNDAMENTAL E DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS
CONCEITOS
1º 2º ORIENTAÇÕES
EIXOS OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM 1º e 2º SEGMENTOS
METODOLÓGICAS
SEG. SEG.
6- Valorizar a produção artística capixaba, bem como, potencializar os autonomia dos estu-
X X dantes, oferecendo
talentos artísticos presentes na escola.
condições para que,
7- Estimular e oportunizar experiências estéticas e culturais, para
por meio da produção
desenvolver a capacidade de expressão, de interpretação e consciência
X X artística, elevem sua
artística dos estudantes começando pelo reconhecimento de sua própria
autoestima, valorizan-
cultura, para então, ampliar seu repertório cultural.
do suas produções
8- Experimentar diferentes materiais, instrumentos e procedimentos artísticos. X X artísticas e culturais.
9- Compreender, respeitar e valorizar as diferenças culturais. X X Sugerimos que a
10- Apreciar estética e artisticamente a própria produção e a dos colegas. X X
apropriação das técni-
cas seja feita de forma
11- Conhecer e valorizar os acúmulos culturais trazidos pelos estudantes. X X progressiva, contu-
12- Expressar sentimentos, ideias, opiniões e pontos de vista a partir dos do, que não iniba o
elementos das artes visuais, articulando a percepção, a imaginação, a X X gosto pela produção.
memória, a sensibilidade e a reflexão. Para que o compo-
13- Criar e construir formas plásticas e visuais bidimensionais e tridimensionais. X X nente seja valorizado
é importante que o
14- Desenvolver a linguagem corporal por meio do teatro. X X
estudante vivencie ex-
modalidades e estilos cênicos; apre-
Elementos da linguagem dramática;
X X
dramático, valorizando o trabalho coletivo e a autoria. estéticos, buscando a
17- Encenar sequências cênicas, usando músicas, imagens, narrativas fruição da obra.
TEATRO
X X
ou outros estímulos, de forma a integrar outras manifestações artísticas.
Afinal, a fruição da
18- Perceber e explorar a teatralidade e a performatividade dos gestos e obra de arte não é
X X
comportamentos do cotidiano. imediata. Exercitar
19- Explorar modalidades de improvisação e dramatização, com espaço a fruição, o senso
X X
cênico: cenário, figurino, maquiagem, iluminação, efeitos sonoros, etc. estético e a sensibi-
20- Conhecer e valorizar os grupos teatrais locais, incentivando e lidade diante da arte
desenvolvendo a linguagem teatral na perspectiva da criação de grupos X X requer conhecimento,
de teatro na escola. vivência. A utilização
da produção dos ar-
21- Reconhecer e explorar a linguagem musical (canto, gêneros musicais,
Respiração; fontes sonoras; gêneros musi-
A intenção do trabalho
25- Conhecer os elementos constitutivos da música em experiências de com a Arte na EJA é a
criação, interpretação e apreciação musical, contextualizando-os. X X de possibilitar ao es-
tudante instrumentos
26- Valorizar os repertórios musicais dos contextos locais, potencializando para que esse exerça
os talentos musicais presentes na escola e comunidade. X X
sua cidadania ativa,
27-Conhecer e utilizar instrumentos, materiais, suportes de criação desenvolvendo capa-
artísticos e sua relação com o contexto histórico social, geográfico e cidades para sentir, re-
X X conhecer e interpretar
cultural nos quais as obras foram criadas relacionando com o contexto
atual. o mundo à sua volta.
93
DIRETRIZES CURRICULARES DO ENSINO FUNDAMENTAL E DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS
CONCEITOS 1º 2º ORIENTAÇÕES
EIXOS
29- Identificar a produção e produtores artísticos de circulação social que na EJA deverão
(local, regional, nacional e mundial). X X dialogar com aqueles
CULTURA: ESPAÇOS EXPOSITIVOS E PATRIMÔNIO
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DIRETRIZES CURRICULARES DO ENSINO FUNDAMENTAL E DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS
Essas práticas fazem parte das manifestações Também, ao tratar as diversas práticas corporais
culturais dos mais diferentes grupos sociais e como elementos da cultura, a Educação Física
ocupam um espaço social relevante, já que a propicia o contato dos estudantes com diferentes
maioria desses grupos, com suas diferentes contextos culturais e históricos e evidencia
formas e dinâmicas, as têm criado, conservado, como uma determinada cultura interfere na
transmitido e transformado. ressignificação das práticas corporais. Além disso,
o ensino do esporte permite compreender como
Nesta perspectiva, o componente curricular da comportamentos e práticas corporais expressam a
Educação Física possibilita que os estudantes cultura de um grupo e os diferentes usos corporais
apreciem e desfrutem da pluralidade de práticas
corporais, compreendendo suas características e
neles presentes, com isso, os estudantes têm a
a diversidade de significados vinculados à origem oportunidade não só de compreender essas
e à inserção em diferentes épocas e contextos diferenças a partir dos conceitos, como também
socioculturais. E, na mesma linha, propõe aos a partir da própria vivência corporal, já que os
estudantes envolverem-se na preservação de diferentes usos e movimentos expressam essas
manifestações da cultura corporal de movimento
diferenças socioculturais.
e de outras épocas como forma de constituir a
memória cultural e torná-la acessível às novas
gerações[...]. Para tanto, faz-se necessário que os proce-
dimentos metodológicos utilizados na Educação
[…] algumas dessas práticas são características de Física busquem meios para garantir a vivência
determinadas regiões ou populações e constituem prática da experiência corporal. Esse pressuposto
seu patrimônio cultural, desempenhando papel
importante na constituição das identidades.
caracteriza a educação física e proporciona aos
A Educação Física tematiza essas práticas, estudantes uma experiência diferenciada no
enfatizando seu enraizamento contextual e, nos fazer escolar, podendo ser ponto de partida para
casos específicos, os movimentos de apropriação reflexão ou ser um fazer corporal que se elabora
e expansão para outras regiões e culturas. refletidamente.
Também problematiza a apropriação de muitas
práticas a partir da lógica da indústria cultural, que
as transforma em bens de consumo na lógica da De qualquer modo, as propostas de ensino e
mercadoria (PALAFOX, 2015, p. 241, 242). aprendizagem devem considerar a realidade social
e pessoal do estudante e sua percepção de si e
96
DIRETRIZES CURRICULARES DO ENSINO FUNDAMENTAL E DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS
do outro, bem como as dúvidas e necessidades competências corporais. Ou seja, ao longo do
de compreensão dessa mesma realidade. A partir planejamento das aulas, é necessário valorizar
da inclusão, pode-se constituir um ambiente as diferenças desses sujeitos ao distribuir as
de aprendizagem significativa, no qual ele atividades com ênfase nas capacidades de
tenha a possibilidade de fazer escolhas, trocar equilíbrio, força, velocidade, coordenação,
informações, estabelecer questões e construir agilidade e ritmo de forma equitativa, ou que exijam
hipóteses (BRASIL, 2002). que diferentes habilidades sejam colocadas em
prática (BRASIL, 1997, p. 59).
Nas diretrizes curriculares (PMV, 2004) é
proposto que no desenvolvimento das aulas deste Assim, compreendemos que na Educação
componente seja contemplado: Física há diversas possibilidades pedagógicas
de trabalho e possíveis interfaces entre seus
a) discussão do planejamento de aula com os eixos por entender que um mesmo objetivo pode
estudantes (conteúdo-forma e objetivos), partindo ser trabalhado sobre diferentes perspectivas
das experiências trazidas para a escola e para temáticas e ou atender diferentes objetivos gerais.
as aulas de Educação Física, e da organização e
vivência das propostas dos estudantes; b) reflexão,
construção, reconstrução e sistematização das
atividades propostas; c) avaliação das aulas, do
processo de aprendizagem construído nas aulas e
das perspectivas para as aulas seguintes.
5
Esse eixo foi incluído como referência na elaboração dos objetivos de
aprendizagem da EJA em função de suas especificidades.
98
DIRETRIZES CURRICULARES DO ENSINO FUNDAMENTAL E DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS
Práticas avaliativas reelaborar esse processo e possibilitar a superação de
dificuldades, preponderando os aspectos qualitativos
Em conformidade com a perspectiva de avaliação sobre os quantitativos, no decorrer do ano letivo.
adotada nestas Diretrizes Curriculares do Ensino
Fundamental, pautada pelo reconhecimento das Nessa perspectiva, a avaliação na Educação Física
singularidades dos sujeitos da aprendizagem, pode ser feita por meio de observações e registros
defendemos uma prática avaliativa que dialogue com (diários, fotografias, desenhos, planilhas, portfólios,
os princípios comuns deste documento, bem como provas, trabalhos, entre outros) em que o docente avalie
com as referências do campo legal. Assim, a avaliação o estudante em todos os momentos da aula, não sendo
da aprendizagem deve ser processual, qualitativa, preciso esperar o final do trimestre para realizar uma
mediadora, cotidiana, diagnóstica e inclusiva, mudança na sua prática. Além disso, os estudantes
constituindo-se parte integrante do processo de ensinar precisam conhecer desde o início da aula o que será
e aprender, possibilitando ao docente o conhecimento ensinado, como será ensinado, quando e como serão
da real situação de aprendizagem dos estudantes avaliados, participando deste processo, dando suas
e assim, subsidiando o planejamento da aula em contribuições, para que exerçam seu protagonismo.
função dos diferenciados percursos e necessidades de Deixando explícito para os estudantes que, de acordo
aprendizagem dos estudantes. com as situações e os objetivos a serem alcançados,
os instrumentos avaliativos podem ser diferenciados.
Conforme nos indica Santos et al. (2015), a construção
do conhecimento no componente curricular se dá em Faz-se necessário explicitar que as problematizações
seu intenso diálogo com referenciais da Educação ao desenvolvidas por Santos et al. (2015) acerca das
apontar outras possibilidades teóricas. Esse diálogo especificidades da avaliação na Educação Física
tem ajudado a compreender que não há uma prática se deram por meio de uma análise de pesquisa dos
avaliativa descontextualizada das perspectivas registros de uma professora do Ensino Fundamental,
pedagógicas que lhes oferecem fundamento, pois não que utilizou desenhos feitos pelos estudantes como
é o instrumento que determina a sua concepção, mas uma possibilidade de se aproximar dos sentidos
a intencionalidade do avaliador. Nessa perspectiva, atribuídos ao que foi ensinado com as experiências
Santos et al. (2015) indagam acerca do modo que a corporais, buscando assegurar a aprendizagem dos
Educação Física tem enfrentado a questão da avaliação conhecimentos que fazem parte da disciplina de
no cotidiano escolar. Educação Física.
Nesse sentido, o referido autor problematiza as práticas De acordo com as especificidades avaliativas da
avaliativas centradas em instrumentos que privilegiam Educação Física, para Santos et al. (2015, p. 208),
os conhecimentos da leitura e da escrita, que se não importa muito o instrumento utilizado, mas a
materializam por meio de testes e de trabalhos que intencionalidade pedagógica do avaliador e sua
acabam por se transformar em processos avaliativos coerência com a dimensão conceitual do componente
do componente. Para Santos e al. (2015), aqui reside curricular, pois “[...] o problema não está no modo de
um dos desafios para a avaliação na disciplina de coletar as informações, e sim no sentido da avaliação,
Educação Física, ao se adequar à lógica de avaliação que deve ser de um contínuo diagnóstico das situações
presente no universo da escola, mas ao mesmo tempo, de ensino e aprendizagem [...]”, verificando assim,
a partir deste desafio, se coloca também a possibilidade a capacidade do estudante de expressar-se por
de dialogar com professoras sobre outras perspectivas diferentes linguagens – corporal, escrita e falada –
de avaliação, fundamentadas no modo como os sujeitos sobre a sistematização dos conhecimentos relativos à
da aprendizagem se apropriam e produzem sentidos cultura de movimento.
em suas experiências com as aulas, com aquilo que
foi ensinado.
Diretrizes Curriculares do Ensino Fundamental
Assim sendo, a avaliação possibilita a compreensão e a Base Nacional Comum Curricular.
dos avanços da apropriação do conhecimento tanto
dos estudantes quanto dos docentes, bem como as O referido texto tem por objetivo uma apreciação sobre
necessidades advindas do processo de ensino e como o componente Educação Física é abordado
aprendizagem que vão se apresentando ao longo do no documento da Base Nacional Comum Curricular
processo. A maneira como elaboram o pensamento, (BNCC) e no das Diretrizes Curriculares do Ensino
como processam os conhecimentos trabalhados, como Fundamental e da Educação de Jovens e Adultos do
compreendem as relações sociais, culturais e históricas Município de Vitória.
do ser no mundo, entre outros, são importantes pistas
para que tanto os docentes quanto os estudantes A proposta utilizada para essa análise se configurou
possam realizar uma avaliação permanente do processo numa leitura comparativa dos documentos acima
de aprendizagem para identificar o aproveitamento e citados, considerando as habilidades descritas na Base
a eficácia das estratégias de ensino, tendo em vista Comum Curricular e os objetivos de aprendizagem previstos
99
DIRETRIZES CURRICULARES DO ENSINO FUNDAMENTAL E DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS
do documento curricular da Rede Municipal de Vitória. nas características dos jogos eletrônicos em função dos
avanços tecnológicos colocados por esses diferentes
Na BNCC, cada uma das práticas corporais tematizadas tipos de jogos. Nesse sentido, recomenda-se que os
compõe uma das seis unidades temáticas abordadas ao conteúdos relativos ao referido eixo sejam articulados,
longo do Ensino Fundamental: Brincadeiras e jogos, de preferência com o professor de informática a fim de
Esportes, Ginásticas, Danças, Lutas e Práticas potencializar a organização do trabalho pedagógico.
corporais de aventura. As Diretrizes Curriculares do
Ensino Fundamental/EJA Vitória estabelece nove eixos Apostamos na construção ética, política e coletiva
temáticos: Qualidade de vida, conhecimento sobre dos educadores desta rede de ensino, que defendem
o corpo, atividade física e contexto sociocultural; uma Educação Física na escola que expresse a
Jogos e brincadeiras; Dimensões históricas, sociais necessidade de que todos os conhecimentos sejam
e culturais da dança; Aspectos históricos, sociais e contextualizados para que os sujeitos de todos os
culturais da ginástica; Aspectos históricos, sociais grupos sejam contemplados com um currículo em uma
e culturais do esporte; Aspectos históricos, sociais perspectiva cultural.
e culturais das lutas; Aspectos históricos, sociais e
culturais da capoeira; Práticas culturais emergentes
e Mídias e tecnologia, sendo este último eixo incluído Referências
como referência na elaboração dos objetivos de
aprendizagem da EJA em função de suas especificidades.
100
DIRETRIZES CURRICULARES DO ENSINO FUNDAMENTAL E DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS
CONCEITOS
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM: 1º 2º 3º 4º 5º 6º 7º 8º 9º
EIXOS CONHECIMENTOS SOBRE A CULTURA LEGENDA:
ORIENTAÇÕES
METODOLÓGICAS
CORPORAL DE MOVIMENTO (I) Iniciar – (A) Aprofundar - (C) Consolidar
1- Movimentar-se considerando mudanças de O componente
velocidade, de tempo, ritmo e espaço e direção. I A A A C A/C A/C A/C A/C curricular da Educação
Física problematiza,
2- Conhecer os limites e as potencialidades do seu
QUALIDADE DE VIDA, CONHECIMENTO SOBRE O CORPO, ATIVIDADE FÍSICA E
de movimento, seus
4- Participar das atividades de forma cooperativa, e vínculos com a
na resolução de situações de tomada de decisão. I A A A C A/C A/C A/C A/C
organização da vida,
coletiva e individual.
5- Reconhecer as práticas corporais existentes na
Aqui, os estudantes
cultura local, tendo como referência as matrizes
I A A A C A/C A/C A/C A/C devem perceber
étnico-culturais dessas práticas, garantindo o
CONTEXTO SÓCIO-CULTURAL
101
DIRETRIZES CURRICULARES DO ENSINO FUNDAMENTAL E DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS
ORIENTAÇÕES
NHECIMENTOS SOBRE A CULTURA LEGENDA: PEDAGÓGICAS
CORPORAL DE MOVIMENTO (I) Iniciar – (A) Aprofundar - (C) Consolidar
19- Conhecer e vivenciar a dança como A dança é um eixo que
uma linguagem social que possibilita possibilita a interface entre os
expressão de sentimentos, ideias, I A A A A A A A C componentes da educação
emoções etc., compreendendo que a física e da arte, como
Ritmo, estilos de dança, criação, improvisação, expressividade, construção coreográfica
prática da ginástica. I A A A A A A A C
hoje como um campo de
conhecimento vasto, rico
CA, RÍTMICA, CULTURA CIRCENSE
descer etc.).
criação e transformação, pois
32- Vivenciar elementos de média é composto por um denso
complexidade de diferentes tipos de registro de saberes que
ginástica (andar, correr, saltar, equilibrar- I A C
permitem ampliar, interagir e
se, escalar, arrastar-se, rolar, rodar, mesclar a ginástica a outras
arremessar, lançar, subir, descer etc.). expressões, tendências e
33- Criar outras possibilidades de se sistematizações, e também
movimentar, observando os elementos I A A A C identificá-la e caracterizá-la
dos vários tipos de ginástica. como uma prática específica e
34- Vivenciar diferentes trajetos, singular.
explorando as noções de distância e I A A A C
tempo de percurso.
102
DIRETRIZES CURRICULARES DO ENSINO FUNDAMENTAL E DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS
CONCEITOS
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM: CONHE- 1º 2º 3º 4º 5º 6º 7º 8º 9º
EIXOS ORIENTAÇÕES
CIMENTOS SOBRE A CULTURA CORPORAL LEGENDA: PEDAGÓGICAS
DE MOVIMENTO (I) Iniciar – (A) Aprofundar - (C) Consolidar
35- Manusear e explorar diferentes materiais, A ginástica, em suas
aparelhos fixos e móveis (arco, bola, corda, fita, I A A A A A A A C diferentes modalidades:
GINÁSTICA GERAL, ACROBÁTICA, ARTÍSTICA, RÍTMICA, CULTURA CIRCENSE.
103
DIRETRIZES CURRICULARES DO ENSINO FUNDAMENTAL E DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS
ORIENTAÇÕES
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM
LEGENDA: METODOLÓGICAS
(I) Iniciar – (A) Aprofundar - (C) Consolidar
49- Praticar com autonomia, os esportes esco- - Como representação da
Gestos básicos, regras, ação tática, esporte como fenômeno social e
104
DIRETRIZES CURRICULARES DO ENSINO FUNDAMENTAL E DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS
CONCEITOS
1º 2º 3º 4º 5º 6º 7º 8º 9º
EIXOS
OBJETIVOS DE ORIENTAÇÕES
APRENDIZAGEM LEGENDA: METODOLÓGICAS
(I) Iniciar – (A) Aprofundar - (C) Consolidar
66- Identificar locais de prática e verificar
as possibilidades de realização de lutas I A A C
aprendidas na escola.
67- Participar, registrar e organizar
atividades de lutas de forma coletiva, sendo
capaz de construir novas regras e sugerir I A A C
outras formas de realização das mesmas.
105
DIRETRIZES CURRICULARES DO ENSINO FUNDAMENTAL E DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS
CONCEI-
ORIENTAÇÕES
EIXOS
1º 2º
TOS
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM 1º e 2º SEGMENTOS
SEG. SEG. METODOLÓGICAS
1 Movimentar-se considerando mudanças de velocidade, de tempo, ritmo A Educação Físi-
QUALIDADE DE VIDA, CONHECIMENTO SOBRE O CORPO, ATIVIDADE FÍSICA E CONTEXTO SÓCIO-
X X
e espaço, respeitando suas condições físicas ca deve ser en-
2 Conhecer os limites e as potencialidades do seu corpo, assimilando hábitos tendida como um
relacionados à alimentação saudável e a prática regular de atividades físicas. X X componente cur-
ricular que integra
3 Oportunizar o estudante a reflexão sobre sua história pessoal e sobre o estudante na
X X cultura corporal de
como esta é “visibilizada” em seu corpo ao longo do tempo.
movimento, ins-
4 Favorecer as possibilidades de contato corporal consigo mesmo e com
trumentalizando-o
os outros, por meio de linguagens que provoquem a expressão das ideias X X
Corporeidade; práticas corporais, diversidade, cooperação,
para usufruir de
e sentimentos pelo movimento.
práticas corporais
5 Participar das atividades de forma cooperativa, respeitando os limites e em benefício do
X X
valorizando as potencialidades dos outros. exercício crítico
6 Usufruir de instrumentos para promover a saúde, utilizando criativamente da cidadania e da
o tempo de lazer e de expressão de afetos e sentimentos, em diversos
cidadania, saúde lazer, bem-estar.
X X melhoria da Quali-
contextos de convivência. dade de vida. Por
7 Usufruir de jogos, esportes, danças, ginásticas em benefício do exercício se tratar de estu-
crítico da cidadania e da melhoria da qualidade de vida. X X dantes com ida-
des variadas que,
-CULTURAL
8 Usufruir do lazer, resgatando o prazer enquanto aspecto fundamental para a muitas vezes não
X X
saúde e melhoria da qualidade de vida. apreciam a prática
9 Ampliar a diversidade de expressão por meio da cultura corporal. X X da Educação Físi-
ca, é necessário
10 Compreender e ser capaz de analisar criticamente os valores sociais
um esforço signi-
como os padrões de beleza, as relações de gênero e étnico-raciais que X X
ficativo de todos
gerem preconceitos.
os profissionais a
11 Valorizar a cultura local, localizando a origem das práticas corporais, fim de que sejam
X X
suas transformações e diferenciais com relação a outras regiões criadas as condi-
12 Identificar primeiros socorros em situações cotidianas, adotando ções de valoriza-
X X
atitudes de autocuidado e cuidado para com os outros. ção desse campo
13 Reconhecer a importância da prática de técnicas de relaxamento, de conhecimento,
alongamento, adotando postura corporal adequada em suas atividades laborais.
X X de modo que se
tenha mais um
14 Perceber as mudanças do corpo no decorrer da vida. X X núcleo de difusão
15 Inserir as pessoas com deficiência nas práticas corporais, respeitando dessa área cultu-
X X
seus ritmos e potencializando seus movimentos. ral que, para além
16 Discutir a influência das práticas corporais na economia, no lazer, no de ser regida pela
meio ambiente, na cultura e na política. X X obrigatoriedade le-
gal, tem seu valor
17 Valorizar as práticas corporais, compreendendo a relação das na construção da
X X
habilidades motoras com a apropriação da leitura e escrita. cidadania.
18 Identificar na sua comunidade e município espaços para atividades
adaptados, cantados,
culturais dos jogos e
com/sem materiais.
Brinquedos; jogos
cos, cooperativos,
Deve-se consi-
coletivos, simbóli-
corporais e de lazer. X X
tóricos, sociais e
Abordagens his-
derar as diversi-
brincadeiras
as diferentes respostas que podem ser dadas aos estímulos sonoros. possam ampliar
Dimensões históricas, sociais e
Improvisação, Expressividade,
suas potencialida-
Construção Coreográfica
106
DIRETRIZES CURRICULARES DO ENSINO FUNDAMENTAL E DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS
CONCEI-
ORIENTAÇÕES
EIXOS
TOS
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM 1º e 2º SEGMENTOS 1º 2º
METODOLÓGICAS
SEG. SEG.
27 Identificar as diferentes formas da prática da ginástica. X X Para tanto, faz-se
28 Experimentar elementos básicos da ginástica (andar, correr, saltar, necessária uma
Ginástica geral, acrobática, artística, rítmica e outras abordagem metodo-
Aspectos históricos, sociais e culturais da ginástica
equilibrar, escalar, arrastar, rolar, rodar, lançar, subir, descer etc.), respeitando X X
suas condições físicas, na perspectiva inclusiva. lógica diferenciada
que favoreça as
29 Identificar as relações que se estabelecem entre atividades aeróbicas e possibilidades de
X X
doenças cardiovasculares. contato corporal
30 Manusear e explorar diferentes materiais, aparelhos fixos e móveis (arco, consigo mesmo e
bola, corda, fita, bancos, etc), desfrutando do prazer que os movimentos nos X X com os outros, por
oferecem. meio de linguagens
que incentivem
31 Reconhecer diferentes tipos de esportes, entendendo-os como expressão
a expressão das
da cultura humana (individuais, coletivos, de lazer, de quadra, de campo, de X X
ideias, sentimentos
rua ou outros).
e crenças pelo movi-
32 Utilizar movimentos básicos de diferentes esportes individuais e coletivos mento, considerando
(correr, saltar, lançar, arremessar, chutar e rolar), respeitando as diversidades, X X a realidade social
na perspectiva inclusiva. e pessoal, a
33 Participar do esporte contribuindo com a organização do jogo e das regras, percepção de si e
vivenciando os diferentes papéis.
X X do outro, os limites
e potencialidades do
34 Valorizar os espaços existentes para prática esportiva na sua comunidade. X X
corpo.
35 Conhecer e utilizar regras dos esportes estudados, que possibilitem a
vivência e a organização dos mesmos (relacionados ao espaço, aos materiais Assim como nos
X X demais compo-
e equipamentos, aos jogadores, ao tempo de jogo, a forma de pontuação e a
importância de uma prática segura para todos). nentes curriculares,
a Educação Física
36 Reconhecer diferentes modalidades de lutas como forma de expressão
Aspec. hist., sociais
da cultura. X X
e cult. das lutas
numa perspectiva
37 Diferenciar briga de luta. integradora dos
X X
conhecimentos, bem
38 Desenvolver reflexões sobre a violência, mídia e luta, compreendendo o como, provocando
sentido e significado da luta na sociedade. X X a reflexão sobre
temáticas como:
39 Identificar personagens e elementos históricos envolvidos com o processo preconceitos em
Aspectos históricos, sociais e
X X relação à prática de
etc.)
roda, Ritmos, Maculelê.
certas modalidades
culturais da capoeira
45 Refletir sobre os estereótipos corporais veiculados e valorizados pela mídia. X X lembrar que a
MÍDIA E
nicação
46 Conhecer e utilizar os recursos tecnológicos como forma de inclusão social. X X Educação Física
é uma linguagem
47 Refletir sobre a influência da tecnologia no esporte. X X
potencializadora
48 Estabelecer relações entre mídia e popularização do esporte, identificando do processo de
X X
seus benefícios e malefícios. apropriação da leitura
49 Compreender criticamente as marcas sociais, a emergência e as e da escrita por meio
Lazer, patrimônio público,
da alfabetização
PRÁTICAS CORPORAIS
das práticas corporais de aventura na natureza e no meio urbano, bem como, corporal.
EMERGENTES
rais urbana.
X X
as possibilidades de recriá-las e as possibilidades de serem praticadas pelas
diferentes gerações.
107
DIRETRIZES CURRICULARES DO ENSINO FUNDAMENTAL E DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS
108
DIRETRIZES CURRICULARES DO ENSINO FUNDAMENTAL E DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS
constituída pela interação verbal, um fenômeno
A linguagem como instrumento de comunicação social que se realiza por meio de enunciações e
se relaciona com a teoria da Comunicação que só pode ser explicado em relação com a situação
compreende a língua como código, ou seja, um concreta de produção.
sistema de signos que se combinam segundo
regras pré-determinas do qual o emissor se utiliza Nessa perspectiva, a língua é compreendida como
para transmitir mensagens ao receptador. Nessa uma realidade viva, mutável, inseparável de seu
orientação, “[...] o centro organizador dos fatos da conteúdo ideológico, que não pode ser analisada,
língua, o que faz dela objeto de uma ciência bem unicamente, a partir de componentes abstratos,
definida situa-se no sistema linguístico, a saber deslocados dos atos de fala, das enunciações. Em
o sistema das formas fonéticas, gramaticais e decorrência disso, para o referido autor, a ordem
lexicais da língua” (BAKHTIN, 1999, p. 77). Assim, metodológica para o estudo da língua, segundo a
essa orientação descarta toda possibilidade de qual ela evolui, deve ser:
criação individual, uma vez que “[...] a língua opõe-
se ao indivíduo enquanto norma indestrutível, 1- As formas e os tipos de interação verbal em
peremptória, que o indivíduo só pode aceitar como ligação com as condições concretas em que se
tal” (BAKHTIN, 1999, p. 78), sendo, portanto, um realiza.
sujeito determinado, assujeitado pelo sistema 2- As formas das distintas enunciações, dos atos de
(KOCH, 2003). fala isolados, em ligação estreita com a interação de
que constituem elementos, isto é, as categorias dos
O ensino, nessa perspectiva, prioriza o estudo atos de fala na vida e na criação ideológica que se
do funcionamento das unidades mínimas de prestam a uma determinação pela interação verbal.
significação dentro desse sistema (os fonemas,
3- A partir daí, exame das formas da língua na sua
os morfemas, os sintagmas e frases) para a interpretação linguística habitual (BAKHTIN, 1999,
constituição de textos. O texto, dessa maneira, p. 124).
é compreendido como “[...] simples produto da
codificação de um emissor a ser decodificado Tomando a língua como um fenômeno social,
pelo leitor/ouvinte, bastando a este, para tanto, essa concepção de linguagem, compreende o
o conhecimento do código, já que o texto, uma sujeito como “entidade psicossocial” (KOCH,
vez codificado, é totalmente explicito” (GONTIJO; 2003, p.15), portanto, também responsável pelas
SCHWARTZ, 2009, p. 73). De acordo com a produções sociais, uma vez que age no/sobre o
Diretriz de Língua Portuguesa, a concepção de contexto mediante sua relação com o outro, “[...]
língua como exteriorização do pensamento e a é um sujeito social, histórica e ideologicamente
concepção de língua como sistema de códigos situado, que se constitui na interação com o
para a transmissão de informações desconsideram outro. Eu sou na medida em que interajo com o
as dimensões discursiva e dialógica da outro” (BRANDÃO, apud KOCH, 2003, p. 15). O
linguagem, pois isolam o enunciado, produto da texto, nessa perspectiva, é compreendido como
interação verbal, do processo de enunciação, um produto da interação social que surge para
desconsiderando que a linguagem se instaura no atender a diferentes necessidades do dia-a-dia e
processo de interação entre sujeitos e que esse assume diferentes formas, conforme a exigência
processo, por sua vez, somente se constrói na da situação de produção.
linguagem e por meio dela (PMV, 2004).
O ensino, nesse contexto, deve proporcionar aos
A linguagem como interação verbal compreende estudantes a ampliação das possibilidades de
a linguagem como lugar de interação humana, interação nos mais variados contextos. Conforme
pois, “[...] por meio dela, o sujeito que fala pratica exposto nas Diretrizes Curriculares (PMV/SEME,
ações que não conseguiria levar a cabo a não 2004), um ensino voltado para o desenvolvimento
ser falando; [...] age sobre o ouvinte, constituindo de situações que levem os estudantes a fazerem
compromissos e vínculos que não preexistiam uso da língua para ter acesso à informação,
à fala” (GERALDI, 2006, p. 41). De acordo argumentar sobre seus pontos de vista,
com Bakhtin (1999), a substância da língua é apresentar suas ideias, dizer como compreendem
109
DIRETRIZES CURRICULARES DO ENSINO FUNDAMENTAL E DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS
e percebem a realidade, expressar significados,
a partir de um sistema simbólico que já utilizam Essa forma de conceber o trabalho com textos
oralmente nas suas relações cotidianas. Ampliar parte do princípio, defendido anteriormente, de
as possibilidades de interação dos estudantes que os indivíduos interagem no mundo por meio
nos mais variados contextos significa ampliar as da linguagem. Ao fazerem uso da linguagem, seja
capacidades de produção e de compreensão de por qualquer motivo, eles não utilizam palavras
variados gêneros de textos, o que pressupõe tomar isoladas, soltas e descontextualizadas. O uso da
o texto como unidade de ensino da língua, uma linguagem está voltado para as intenções que
vez que é nele que a língua se revela plenamente queremos provocar no outro por algum motivo. É
– como forma e como discurso. esse contexto de uso da linguagem que orienta os
seres humanos a fazerem escolhas dos recursos
b) O texto como unidade de ensino da expressivos de que necessitam para se fazerem
língua compreender e para serem compreendidos
(GONTIJO; SCHWARTZ, 2009).
O texto sempre foi utilizado para o ensino da
Língua Portuguesa nas diversas etapas e Sendo assim, é fundamental que na sala de
modalidades da Educação Básica. Contudo, aula sejam utilizados diversos gêneros textuais,
como dito anteriormente, o modo como o texto orais e escritos, verbais e imagéticos, para que
tem adentrado a sala de aula e as maneiras como os estudantes realizem diferentes atividades
tem sido utilizado podem partir de diferentes de leitura e de escrita, aprendendo a dialogar
concepções de língua/linguagem e variadas com eles, a fazer escolhas linguísticas e
abordagens de ensino aprendizagem. Geraldi estilísticas e estruturais para produzir efeitos
(2003a, p.135) aponta duas razões para a escolha de sentido tendo em vista o contexto de uso
do texto como unidade de ensino da língua: da linguagem. Conforme defendido na Base
Nacional Comum Curricular (BRASIL, 2016),
Considero a produção de textos (orais e escritos) é necessário que os estudantes vivenciem na
como ponto de partida (e ponto de chegada) de escola experiências com a língua que contribuam
todo o processo de ensino-aprendizagem da lín-
gua. E isto não apenas por inspiração ideológica de
para a compreensão da dinamicidade em que os
devolução do direito à palavra às classes desprivi- textos circulam na vida social, considerando os
legiadas, para delas ouvirmos a história, contida e diferentes campos de atuação, como o campo
não contada, da grande maioria que hoje ocupa os da vida cotidiana, o campo literário, o campo
bancos escolares. Sobretudo, é porque no texto que político cidadão e o campo investigativo, nos
a língua – objeto de estudos – se revela em sua
quais são utilizados textos de gêneros variados
totalidade quer enquanto conjunto de formas e de
seu reaparecimento, quer enquanto discurso que e com diferentes finalidades, considerando as
remete a uma relação intersubjetiva constituída no necessidades discursivas em cada instância de
próprio processo de enunciação marcada pela tem- uso da linguagem.
poralidade e suas dimensões.
Objetivos gerais
A aposta no trabalho com textos na escola
pressupõe mudanças nas formas de conceber os Considerando o exposto, o referido documento
sujeitos e os processos de ensino aprendizagem curricular nacional estabelece como meta do
que se desenvolvem na sala de aula, uma vez trabalho com a Língua Portuguesa ao longo da
que a professora passa a ser uma interlocutora do educação básica a de que:
texto produzido pelo educando, o texto passa a
ser analisado como um enunciado produzido por […] crianças, adolescentes, jovens e adultos
alguém num determinado contexto e o produtor aprendam a ler e desenvolvam a escuta, construindo
do texto é visto como um sujeito que tem algo a sentidos coerentes para textos orais e escritos; e a
escrever e a falar, produzindo textos adequados a
dizer a alguém. Dessa maneira, ao produzir textos situações de interação diversas, apropriando-se de
orais e escritos, os estudantes podem contar suas conhecimentos linguísticos relevantes para a vida
histórias, de suas famílias e de sua comunidade, em sociedade (BRASIL, 2016, p. 88).
expor suas formas de pensar e ver o mundo.
110
DIRETRIZES CURRICULARES DO ENSINO FUNDAMENTAL E DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS
Nessa direção, reafirmamos também o objetivo instituintes e instituídos de juízos de valor,
geral do trabalho com a Língua Portuguesa no tanto socioideológicos: preconceituosos
Ensino Fundamental, presente nas Diretrizes de (especialmente contra os negros, mulheres,
Língua Portuguesa (PMV, 2004, p. 218) que define idosos, homossexuais) ou não, quanto
a importância de “[...] ampliar o universo discursivo histórico – culturais, inclusive estéticos;
dos alunos nas diversas situações de interação
social, sobretudo nas instâncias públicas, de • valorizar a leitura e escrita como bens culturais
modo a possibilitar sua inserção efetiva no mundo que contribuem para a constituição da identidade
das linguagens e o exercício da cidadania”. pessoal e social (PMV, 2004, p. 218-219).
112
DIRETRIZES CURRICULARES DO ENSINO FUNDAMENTAL E DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS
forma como os textos se apresentam (estrutura escrita ocorra em um contexto mais informal de
composicional); sobre o modo como as palavras produção. Logo,
marcam progressão, espaço, tempo e discurso dos
personagens e narrador em uma narrativa literária
[...] escrever não é apenas um processo de
ou, em um texto instrucional, [...] sobre o modo como
transferência do discurso oral para o discurso
a palavras, desenhos e outros signos se combinam,
escrito; escrever exige a reconstrução do discurso
para indicar materiais a serem utilizados e ações a
oral para que ele se torne inteligível para os
serem cumpridas, a sequência de passos a serem
outros. Da mesma forma, ler não requer apenas
seguidos (BRASIL, 2016, p. 186).
a decodificação dos textos escritos, pois é um
processo contínuo de (re) significação, portanto,
A escolha do texto, portanto, precisa dialogar com de atribuição de sentidos aos textos produzidos por
a realidade, com os contextos dos estudantes outros, em que entram em jogo as experiências e
e com outros textos lidos, possibilitando dessa conhecimentos do escritor e os conhecimentos e
experiências do leitor (PMV, 2004, p. 211).
maneira a constituição de sentidos, pois
[...] o centro organizador da prática de alfabetização Assim sendo, o ensino da Língua Portuguesa
é a interação verbal que se desenvolve por meio do nos anos iniciais do Ensino Fundamental precisa
trabalho de produção e leitura de textos escritos e privilegiar “[...] o uso da língua (oral e escrita) em
esse trabalho pressupõe sempre um interlocutor; diferentes situações e com diversas finalidades
em outras palavras, é sempre diálogo das crianças,
sociais como condição para que os estudantes
dos jovens e adultos com eles mesmos e com as
outras pessoas” (PMV, 2004, p. 210-211). possam fazer uso da linguagem escrita na
sociedade” (PMV, 2004, p. 211).
Levando em conta essas questões, um dos
grandes desafios que se colocam para a escola, Nesse sentido, é fundamental que se desenvolvam,
indubitavelmente, é a garantia da formação de nas turmas de 4º e 5º anos, atividades voltadas
estudantes com capacidade de refletir criticamente para o aprofundamento e consolidação das
a partir da leitura e da produção de textos orais e aprendizagens de leitura, de produção de textos
escritos e da compreensão sobre o funcionamento orais e escritos, numa abordagem metodológica
do sistema de escrita da nossa língua (PMV, que busque convergências com as práticas
2004). Desse modo, é imprescindível assegurar desenvolvidas no Ciclo Inicial de Aprendizagem,
estratégias para que os estudantes se apropriem considerando as necessidades de aprendizagem
dos conhecimentos sobre o sistema de escrita dos estudantes, seus percursos de apropriação
alfabético-ortográfico. Segundo Gontijo e Schwartz dos conhecimentos e seus interesses.
(2009) a prática da alfabetização é sempre
intencional e sistemática e visa ao alcance das Tomando a perspectiva da continuidade e de
aprendizagens, devendo pois, ser contemplados progressão dos conhecimentos, cabe ressaltar
no planejamento de ensino conhecimentos sobre a importância dos jogos, das rodas de leitura,
dos momentos de produção e revisão de
[...] os sistemas de escrita, a história dos alfabetos, a textos coletivos, assim como de atividades
distinção entre desenho e escrita, o nosso alfabeto, sistematizadas e reflexivas que ajudem os
as letras do nosso alfabeto (categorização gráfica estudantes a aprofundarem seus conhecimentos
das letras, categorização funcional das letras, linguísticos. Corsino (2007, p. 61), ao discorrer
direção dos movimentos da escrita ao escrever
as letras), a organização da página escrita nos
sobre as práticas pedagógicas na área das
diversos gêneros textuais, os símbolos utilizados Linguagens destaca que
na escrita, os espaços em branco na escrita, as
relações entre letras e sons e entre sons e letras É importante que o cotidiano das crianças dos anos
(GONTIJO; SCHWARTZ, 2009, p. 16). iniciais seja pleno de atividades de produção e de
recepção de textos orais e escritos, tais como escuta
diária de leitura de textos diversos, especialmente
É importante ter em mente que o ato de escrever
de histórias e textos literários; produção de textos
não se limita a transferir o discurso falado para escritos mediada pela participação e registro de
o escrito, já que o texto escrito possui suas parceiros mais experientes; […] participação em
especificidades. Do mesmo modo, não falamos do jogos e brincadeiras com a linguagem, entre muitas
mesmo modo que escrevemos, mesmo que nossa outras possíveis.
113
DIRETRIZES CURRICULARES DO ENSINO FUNDAMENTAL E DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS
As reflexões apresentadas evidenciam, então, que advinda de contextos sociais, culturais, políticos,
nos anos inicias do Ensino Fundamental, o trabalho econômicos dos sujeitos, provocando sentidos e
com a Língua Portuguesa deve ser permeado possibilitando a compreensão da realidade social
por intervenções pedagógicas que encorajem as como um ato histórico e político. O processo de
crianças a pensar, discutir, conversar, refletir e apropriação da leitura e da escrita se dará sempre
sistematizar conhecimentos que potencializem a na perspectiva dialética quando os sujeitos
compreensão sobre a linguagem escrita nas suas envolvidos aprendem uns com os outros não
mais diversas funções e circunstâncias de uso. havendo espaço para assimetrias. A professora
valorizará os conhecimentos/saberes e fazeres de
No que se refere à alfabetização na Modalidade seus estudantes, sempre como ponto de partida
da Educação de Jovens e Adultos pode-se para a aprendizagem, ressaltando que estudantes
afirmar que há um diálogo com a abordagem jovens e adultos acumulam importantes e vastas
descrita, tendo o texto como Unidade de Ensino experiências advindas de suas relações históricas,
e a temática geradora como impulsionadora sociais e culturais e, principalmente, as relações
desse processo. Nesse contexto, cabe destacar com o Mundo do Trabalho.
as contribuições de Paulo Freire quando reafirma
que a alfabetização deve ser concebida como A crença na Educação e Aprendizagem ao longo
forma de capital privilegiado e parte de um projeto da vida, sempre a partir de experiências anteriores,
político e uma prática pedagógica que vai além do desconstrói a concepção de que estamos
domínio de habilidades específicas e de campos totalmente prontos para ensinar ou receber um
particulares de conhecimento e se transforme conhecimento, como uma transferência bancária.
numa precondição da emancipação social. É, para Diante disso, ainda na visão Freiriana, o caráter
a Educação de Jovens e Adultos a “mais elevada político e libertador será sempre o diferencial no
das prioridades” e deve oferecer “uma linguagem aprendizado da língua, privilegiando etapas de
de esperança e de transformação para os que investigação, tematização ou busca de significado
lutam por um futuro melhor” (FREIRE, 2011). social e problematização da sociedade e do
mundo.
Como já abordado, a alfabetização ganha sentido
quando o processo de apropriação da leitura e da O caráter político e libertador deve permear o
escrita supera o desenvolvimento de habilidades trabalho com a língua nas diferentes etapas da
para a aquisição ou decodificação da língua escolarização básica, particularmente, nos anos
padrão, indo além, apresentando-se como um finais do Ensino Fundamental e no segundo
projeto político no qual, segundo FREIRE (2011, segmento da Educação de Jovens e Adultos.
p. 7), Nessa etapa do desenvolvimento, os estudantes
ampliam as possibilidades de interação com
[…] homens e mulheres afirmam seu direito e sua as pessoas, participando mais criticamente
responsabilidade não apenas de ler, compreender nas situações de comunicação, o que implica o
e transformar suas experiências pessoais, mas, fortalecimento da formação para a autonomia e
também de reconstituir sua relação com a sociedade
mais ampla. Recuperação das próprias vozes de
para o protagonismo.
modo que os sujeitos possam contar suas próprias,
conferindo e criticando as histórias que lhes contam Partindo do pressuposto de que os adolescentes,
em comparação com as que viveram. os jovens e os adultos conhecem e fazem uso
de conhecimentos linguísticos e discursivos
A professora construirá uma práxis que possibilite nas interações sociais de que participam,
os estudantes uma percepção da realidade social no desenvolvimento do currículo da Língua
na qual estão inseridos por meio da linguagem, Portuguesa com os estudantes dos anos finais,
ferramenta de acesso ao vasto universo de devem ser ampliadas as experiências com a
possibilidades de intervenção no mundo. A prática linguagem, por meio de situações de ensino que
alfabetizadora na visão Freiriana deve possibilitar promovam a sistematização, o aprofundamento e
um movimento dialético entre a leitura do mundo a consolidação dos conhecimentos.
e a leitura da palavra. Essa palavra será sempre
114
DIRETRIZES CURRICULARES DO ENSINO FUNDAMENTAL E DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS
Assim, deve-se aprofundar o tratamento dos estudantes surdos, Medeiros e Gräff (2012, p. 4)
aspectos contextuais, discursivos e composicionais salientam que
dos gêneros que circulam nas esferas cotidianas,
públicas, políticocidadãs, literárias, investigativas, […] a língua de sinais (L1) e a Língua Portuguesa
entre outras, com o objetivo de aprimorar e (L2) desempenham funções diferentes na vida do
sujeito surdo. O acesso à língua de sinais surge como
potencializar as estratégias linguístico-discursivas uma possibilidade de garantir o desenvolvimento da
utilizadas pelos estudantes. Nesse aspecto, linguagem e do pensamento. A segunda língua, por
corroboramos com a Base Nacional Comum sua vez, possibilita que estes sujeitos façam valer
Curricular (BRASIL, 2016, p. 335) quando destaca seus direitos perante a sociedade ouvinte.
que os objetivos de aprendizagem propostos para
essa etapa devem assegurar a Contudo, considerando os diferentes modos de
constituição dessas duas línguas alguns aspectos
[…] continuidade ao processo de apropriação precisam ser pontuados no que tange à apropriação
da leitura, da escrita e da oralidade/sinalização, da Língua Portuguesa pelos estudantes surdos. Em
concorrendo para o desenvolvimento de habilidades
primeiro lugar, a Língua Portuguesa é uma língua
que tornem os jovens capazes de construir sentidos
coerentes para textos de diferentes gêneros orais oral/auditiva e tem natureza diferente da Libras,
e escritos e de escrever e falar com propriedade, que é uma língua visuoespacial, cujas unidades
criticidade e adequação, em situações de interação mínimas que compõem os sinais (palavras
diversas, inclusive as que usam novas tecnologias, ou expressões gestuais) são identificadas por
favorecendo a apropriação de conhecimentos que queremas. Esse aspecto traz implicações para o
podem levar para a vida em sociedade.
ensino do português escrito, pois não é possível,
conforme explica Costa e Cavalcante (2015),
Desse modo, foram previstos nesta diretriz
tomar a consciência fonológica como referência,
curricular de Língua Portuguesa objetivos de
nem tampouco o ensino das relações entre sons
aprendizagem que consideram as necessidades
e letras.
dos estudantes nesta etapa da escolarização
básica, dando continuidade e progressividade aos
Medeiros e Gräff (2012, p. 5), a esse respeito,
conhecimentos trabalhados nos anos iniciais e
pontuam que o ensino deve ser organizado
no primeiro segmento na EJA, conforme poderá
tematicamente e não gramaticalmente, com o uso
ser observado no quadro dos objetivos de
de recursos visuais que podem ser uma estratégia
aprendizagem apresentado adiante.
interessante, uma vez que “[…] o surdo tende a
fazer associações com aquilo que vê (imagem
Cabe destacar ainda que, sendo o português a
– palavra – texto escrito)”; o que reafirma a
língua oficial do Brasil, a sua apropriação constitui
necessidade de trazer o texto e seus contextos,
direito de todas as pessoas para que possam
considerando as necessidades dos aprendizes
“[...] estar em condições de intervir plenamente
da língua, numa abordagem metodológica que
na vida econômica, política, jurídica e cultural
considera assuntos relevantes para os estudantes,
do país “(COSTA; CAVALCANTE, 2015, p. 75).
facilitando a produção de significado daquilo que
Nesse caso, é necessário reafirmar que, do ponto
se aprende.
de vista curricular, o ensino da Língua Portuguesa
é obrigatório para os falantes da língua, devendo Se o aprendizado de um ouvinte passa pelos
também ser assegurado, como segunda língua6 processos de leitura e escrita, o processo realizado
, para os estudantes surdos que aprendem a pelo surdo organizar-se-á em três momentos: leitura-
modalidade escrita dessa língua. tradução- escrita. Assim, a escrita implica na leitura
e, no que se refere especificamente à educação
de surdos, há também o processo de tradução e
Sobre o ensino da Língua Portuguesa para os construção de sentidos dos textos que são lidos e
produzidos na Língua Portuguesa. Desta maneira,
leitura-escrita-tradução têm uma convergência
interativa e linguística. Esta convergência constitui a
atribuição de sentido ao texto (MEDEIROS; GRÄFF,
6
No texto de Libras também são apresentadas reflexões sobre o trabalho com
2012, p. 5).
a Língua Portuguesa junto aos estudantes surdos.
115
DIRETRIZES CURRICULARES DO ENSINO FUNDAMENTAL E DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS
A leitura, nesse contexto, se constitui uma ativida- indivíduos dialogam com as pessoas e aprendem
de imprescindível no processo de apropriação da a ter uma atitude crítica e ativa diante do mundo.
Língua Portuguesa pelos estudantes surdos que Desse modo, ler é participar do texto, relacioná-
não podem ser privados dos materiais de leitura lo com outros textos, fazer inferências, concordar
oferecidos aos estudantes falantes, para que não ou discordar e, nesse sentido, “[...] a leitura incide
se corra o risco de propor leituras de resumos sobre ‘o que se tem a dizer’ porque lendo a palavra
ou materiais adaptados que não potencializam a do outro, posso descobrir nela outras formas de
dimensão discursiva no trabalho com os textos. É pensar que, contrapostas às minhas, poderão
importante ressaltar que o aprendizado da Língua me levar à construção de novas formas, e assim
Portuguesa, no que se refere aos estudantes sucessivamente” (GERALDI, 2003a, p. 171).
surdos, deve se constituir por meio de momentos
de leitura e contextualização, sempre com a ajuda Essas atitudes produtivas na leitura, conforme
de leitores mais experientes que contribuem defendido pelo referido autor, “[...] fazem da leitura
para o acesso ao texto, utilizando estratégias uma produção de sentidos pela mobilização dos
que promovam a sua compreensão por meio da “fios” dos textos e de nossos próprios “fios” [...]”
percepção visual de palavras chave, ilustrações, (Ibid., p. 171). Assim, para que os estudantes
gráficos, etc. possam realizar a leitura na perspectiva da
produção, como processo de sentidos, é
Eixos organizadores do ensino necessário que sejam motivados a isso desde o
início da alfabetização, quando o trabalho com
Em consonância com o referencial que subsidia a leitura deve ser desenvolvido para além da
os processos de ensino aprendizagem da localização de informações e posterior transcrição.
Língua Portuguesa, o texto é a unidade da
língua que tem centralidade e deve ser tomado A atividade de leitura deve ser sempre permeada
como ponto de partida e de chegada para a por finalidades para que os estudantes possam ir
organização dos objetivos de aprendizagem do ao texto para buscar informações: “querer saber
componente curricular, em torno de três eixos: mais”; para estudar: “escutar” o texto, retirando
Leitura, Produção de textos orais e escritos dele tudo o que pode oferecer; para usar o texto
e Conhecimentos sobre o sistema de escrita/ na produção de outros textos; para desfrutar de
Análise linguística. Esses eixos reafirmam as suas palavras, imagens e sentidos, sem perguntas
dimensões metodológicas de ensino da língua e previamente formuladas, mas apenas como
devem ser trabalhados de forma articulada, de fruição (GERALDI, 2003a).
modo que os estudantes possam compreender
a língua em funcionamento, com/nos dos textos Reafirmamos, desse modo, que como “[...]
que são utilizados socialmente em suas diversas uma atividade interativa altamente complexa
esferas de circulação. de produção de sentidos, que se realiza,
evidentemente, com base nos elementos
a) O eixo Leitura linguísticos presentes na superfície textual e
na sua forma de organização” (KOCH, 2003, p.
Durante muito tempo, a leitura foi compreendida 17), ler é muito mais do que captar significados
unicamente como processo de decodificação ou compreender as ideias do texto, pois é uma
ou de localização de informações explícitas ou atividade de natureza discursiva que “[...] requer a
implícitas no texto. No entanto, consideramos mobilização de um vasto conjunto de saberes e sua
que ler não é apenas decodificar, decifrando reconstrução no interior do evento comunicativo”
palavras, ou localizando informações. É atribuir (Ibid., p. 17)
significados ao que foi lido, num processo
dialógico de construção de sentidos. Nessa Conforme destacado no texto da Base Nacional
direção, ler é também um trabalho de produção Comum Curricular (BRASIL/MEC, 2016, p. 93-94),
de textos, pois o texto é lugar de encontro de o desenvolvimento das práticas de leitura abarca
experiências e conhecimentos elaborados pelos dimensões que estão integradas às práticas de
leitores e pelos escritores. Por meio da leitura, os uso e reflexão, favorecendo:
116
DIRETRIZES CURRICULARES DO ENSINO FUNDAMENTAL E DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS
nas práticas de leitura, ampliando o seu universo
1) a compreensão dos gêneros lidos, com reflexões discursivo e as possibilidades de diálogo com o
sobre os projetos de dizer implicados (leitor e leitura mundo, com a história, com as pessoas.
previstos) e os contextos de circulação (autoria,
época, esferas, intertextualidade, interdiscurso,
ideologias, dentre outros aspectos); b) O eixo Produção de textos orais e escritos
A apropriação das relações entre fonemas e • para cada aula de prática de análise linguística,
grafemas (sons e letras) integra o processo de
alfabetização e requer por parte do professor
a professora deverá selecionar apenas
sistematização e organização de formas específicas um problema. De nada adianta querermos
de ensino para que as relações entre sons e letras enfrentar de uma vez todos os problemas que
sejam compreendidas (e não apenas memorizadas) podem ocorrer num texto produzido por nosso
pelos estudantes em condição de uso do sistema aluno;
de escrita. Dessa forma, exige a compreensão dos
modos específicos de funcionamento da língua oral
e da língua escrita e de suas relações. (PMV, 2004, • fundamentalmente, a prática de análise
p. 211-212 linguística deve se caracterizar pela retomada
do texto produzido na aula de produção
(segunda-feira, no horário proposto) para
reescrevê-lo no aspecto tomado como tema
da aula de análise;
Realizar um trabalho de análise e reflexão sobre Portanto, o objetivo principal da análise linguística
a língua significa, nessa perspectiva, “[...] tomar é a reescrita dos textos dos estudantes, buscando
como objeto de análise e reflexão o discurso – o atendimento a uma situação de produção, o
as estratégias do dizer – e a sua adequação em que não corresponde a uma “higienização do
função das condições de produção, incluindo texto do aluno” ao encontro somente de aspectos
a dimensão linguística articulada à dimensão ortográficos e gramaticais, limitando-se ao âmbito
ideológica” (PMV, 2004, p. 244). Logo, o trabalho da correção. Nesse sentido, “[...] trata-se de
com a variedade padrão da língua e também com trabalhar com o aluno o seu texto para que ele
as demais variedades linguísticas não poderá atinja seus objetivos juntos aos leitores a que se
acontecer fora das situações discursivas que foram destina” (GERALDI, 2006, p. 74). Esses momentos
apresentadas e/ou requeridas na produção de de intervenção precisam ser sistematizados
120
DIRETRIZES CURRICULARES DO ENSINO FUNDAMENTAL E DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS
pela professora. Uma possibilidade é elencar um Com as ideias construtivistas no campo do ensino
conhecimento em Língua Portuguesa ainda não da língua, novos contornos foram trilhados,
consolidado pelos estudantes para análise em cada uma vez que o aprendiz passa a ser visto como
aula. Os conhecimentos a serem considerados sujeito ativo no processo de construção dos
nas aulas práticas de análise linguística são conhecimentos. Suas conquistas e possibilidades
respectivamente: problemas de estrutura textual, são consideradas, sendo o erro analisado com
problemas de concordância, problemas de indicador dos modos como os estudantes pensam
ordem morfológica, problemas de formas verbais, e elaboram conhecimentos sobre a língua.
problemas de ordem fonológica, coesão e coerência. A avaliação, nessa abordagem conceitual, é
tomada como meio de identificar os estágios do
Reforçamos que as aulas de prática de análise desenvolvimento dos estudantes para fazê-los
linguística não podem se restringir a higienização avançar em suas aprendizagens.
do texto em seus aspectos gramaticais e
ortográficos, limitando-se apenas às correções Porém, concordamos com Esteban (2002) que
(certo X errado). As aulas de prática de análise as práticas avaliativas ancoradas nessa vertente
linguística precisam potencializar reflexões que teórica foram assumidas como um novo parâmetro
levem o estudante a perceber os conhecimentos para classificar os estudantes, mantendo, desse
sobre a língua que por ele foram consolidados modo, a perspectiva classificatória da avaliação.
ou que não foram consolidados e, que estão A produção dos estudantes não é avaliada em
implicando no processo de constituição de sentidos sua multiplicidade, pois é reduzida aos limites
no texto produzido para atender a situação de definidos pela teoria, provocando a necessidade
comunicação para a qual foi produzido. de controle do processo por meio de diagnósticos
com registros que buscam evidenciar o percurso
Práticas avaliativas evolutivo de cada um.
121
DIRETRIZES CURRICULARES DO ENSINO FUNDAMENTAL E DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS
e interlocução com os outros. Ao mesmo tempo flexibilizar os objetivos, os conteúdos, as formas de
em que empreendemos esforços para avaliar o ensinar e de avaliar, recriando e contextualizando
que os estudantes já sabem, também precisamos o currículo. Para tanto, é imprescindível saber
empreender esforços para avaliar o que eles ainda o que se ensina e qual a relevância social e
não aprenderam, rompendo com as abordagens cognitiva do conhecimento em estudo, definindo
que desconsideram seus diferentes percursos assim o que e como avaliar. Essas mudanças nas
de uso e conhecimento da própria língua, uma práticas avaliativas são acompanhadas também
vez que “[...] a conquista humana do domínio da por uma nova postura na gestão da sala de aula
[leitura] e da escrita alarga incomensuravelmente, e, em especial, nos cuidados com os percursos
no tempo e no espaço, os horizontes de nossas diferenciados de aprendizagem das crianças,
possibilidades interativas e, por isso mesmo, da adolescentes, jovens e adultos.
constituição de nossas consciências” (GERALDI,
2003b, p. 25). Considerando as especificidades e complexidades
dos objetivos a serem alcançados pelos estudantes
Nesse sentido, como podemos implementar no processo de consolidação das capacidades de
práticas avaliativas orientadas pela perspectiva leitura e de produção de textos orais e escritos,
teórica que subsidia o processo de atualização a avaliação deve acontecer diariamente, a fim
desta Diretriz Curricular? De que modo os de permitir a professora o delineamento do perfil
estudantes podem se enunciar nos instrumentos da turma e o ajuste do planejamento, de acordo
avaliativos que investigam os conhecimentos com as demandas apresentadas no decorrer do
linguísticos apropriados? E como essas processo.
enunciações contribuem para o (re) planejamento
das ações pedagógicas na sala de aula, Desse modo, o emprego de uma diversidade de
considerando as funções diagnóstica e formativa estratégias e instrumentos de registros avaliativos
da avaliação? viabilizam uma variedade de informações sobre o
trabalho pedagógico, ampliando as possibilidades
Entendemos que uma possível resposta para de análise acerca dos modos de apropriação
essas questões está na unidade de ensino da dos conhecimentos pelos estudantes. Para
língua tomada como objeto de ensino na sala tal, podemos considerar algumas estratégias
de aula. Se o texto constitui essa unidade, é em para o acompanhamento das aprendizagens
torno dele que as práticas avaliativas precisam dos estudantes: promoção de debates sobre
ser configuradas. Estamos falando, portanto, em os temas em estudo, observação diária das
repensar as práticas que dicotomizam o ensino da atividades desenvolvidas pelos estudantes
língua e o ensino da metalinguagem. De acordo (diários de classe ampliados), trabalhos em grupo,
com Geraldi (2006, p. 45), produção de textos orais e escritos, portfólios,
registros do desempenho dos estudantes durante
A opção de um ensino da língua considerando as apresentação de seminários e autoavaliação.
relações humanas que ela perpassa (concebendo
a linguagem como lugar de um processo de
interação), a partir da perspectiva de que na escola
Os portfólios e as atividades de autoavaliação,
se pode oportunizar o domínio de mais outra forma sob a mediação docente, podem se constituir
de expressão, exige que reconsideremos “o que” estratégias muito interessante no processo de
vamos ensinar, já que tal opção representa parte do avaliação dos conhecimentos sobre a língua,
“para que” ensinamos. uma vez que os estudantes são levados a
analisar suas próprias produções, refletindo sobre
É nesse sentido que apostamos na importância da os conteúdos aprendidos e sobre o que falta
entrada do texto na sala de aula. Essa entrada não aprender (LEAL, ALBUQUERQUE E MORAIS,
se constrói apenas com uma nova metodologia, 2007). Isso ajuda a visualizar o próprio percurso,
mas também com um novo conteúdo de ensino favorecendo o protagonismo dos estudantes,
que considera o reconhecimento das diferenças que poderão dialogar em função de suas
na sala de aula. Para isso, é preciso, conforme dificuldades e definir suas próprias estratégias de
explicam Leal, Albuquerque e Morais (2007), aprendizagem. Por outro lado, os diários de classe
122
DIRETRIZES CURRICULARES DO ENSINO FUNDAMENTAL E DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS
ampliados, ou seja, as anotações cotidianas a estimulação do domínio da oralidade, os
sobre os estudantes, também são muito valiosas conhecimentos sobre as letras do alfabeto,
para o acompanhamento do processo ensino a consciência fonológica, a correspondência
aprendizagem, permitindo priorizar, em cada grafema-fonema e as convenções da escrita são
etapa de ensino, os conhecimentos que precisam aspectos que se destacam, além das habilidades
ser retomados, aprofundados e consolidados. referentes à leitura, compreensão e escrita de
textos de gêneros textuais variados, conforme
Esses exemplos ajudam a elucidar a importância campos de atuação humana: vida cotidiana, vida
da avaliação no processo de ensinar e aprender. pública, práticas de estudos e pesquisa, artístico-
Como parte integrante da prática pedagógica, a literário.
avaliação não é uma ação com fim em si mesma.
Ela sustenta e organiza as situações didáticas Nos 3º, 4º e 5º anos, essas habilidades são
que constituem o trabalho pedagógico, trazendo ampliadas, com ênfase na consolidação das
indicativos importantes sobre a mediação regularidades e irregularidades ortográficas, nos
necessária com cada estudante ou grupos de usos de conhecimentos linguísticos-gramaticais
estudantes. e nas convenções da escrita. O trabalho com a
oralidade, escrita e compreensão de textos é
direcionado a outros gêneros dos campos de
Diretrizes Curriculares do Ensino Fundamental atuação humana já iniciados nos dois primeiros
de Vitória e a Base Nacional Comum Curricular anos do Ensino Fundamental, com detalhamento
das habilidades a serem desenvolvidas no trabalho
Neste texto trazemos considerações gerais a partir com cada tipo de texto.
da leitura da Base Nacional Comum Curricular
(BNCC/MEC, 2017), em especial sobre os eixos Já para os anos finais do Ensino Fundamental,
organizadores do ensino da língua, campos de as aprendizagens da Língua Portuguesa são
atuação e habilidades requeridas, em comparação aprofundadas e desenvolvidas, considerando
com as Diretrizes Curriculares da Rede de Ensino também quatro eixos: leitura, oralidade, produção
de Vitória (DCEFEJA2016). de textos, análise linguística/semiótica, inseridos,
assim como nos anos iniciais, os campos de
Para o Ensino Fundamental, do 1º ao 9º ano, atuação humana, que para essa etapa são:
(crianças dos 6 aos 14 anos) a BNCC divide artístico-literário, práticas de estudo e pesquisa,
em duas etapas: anos iniciais e anos finais. Os jornalístico-midiático e de atuação na vida pública.
anos iniciais são uma continuação da Educação As atividades de leitura, compreensão e produção
Infantil, já com um trabalho sistematizado de de textos são mais elaboradas e requerem
Língua Portuguesa, partindo da exploração de maior sistematização e atenção dos docentes
elementos lúdicos, aprofundando habilidades e dos estudantes. Nessa etapa, aprofunda-se a
da linguagem oral e escrita, já introduzidas exploração de diversos tipos de texto, sejam eles
anteriormente. A alfabetização fica nos dois impressos ou digitais.
primeiros anos do EF e, nos anos seguintes,
a consolidação e ampliação das práticas de Observa-se que tanto na BNCC como nas Diretrizes
linguagem e o fortalecimento da autonomia. Curriculares de Vitória são propostos eixos de
Nessa etapa as diferenças culturais e regionais ensino da língua que se aproximam sendo que,
são mais nítidas. Por isso, as escolas precisam no documento de Vitória, não se trata Oralidade
se adequar às vivências e à diversidade. e Escrita de modo desassociado da Produção
de Textos, o que nos remete a concepções
Nos anos iniciais do Ensino Fundamental, o diferenciadas no campo da linguagem, como
ensino da Língua Portuguesa, de acordo com também pode ser notado em alguns conceitos
a BNCC, deve ser sistematizado a partir dos específicos de cada prática de linguagem, objetos
seguintes eixos: leitura/escuta, escrita, oralidade, de conhecimento e habilidades previstas na
análise linguística/semiótica (alfabetização BNCC.
e ortografização). Nos dois primeiros anos,
123
DIRETRIZES CURRICULARES DO ENSINO FUNDAMENTAL E DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS
No que se refere aos conhecimentos sobre tecnologia. A BNCC reflete esse avanço, que se
os sistemas de escrita/análise linguística, nas manifesta, principalmente, em dois aspectos: A
Diretrizes de Vitória eles são pontuados no eixo presença de textos multimodais – popularizados
específico e também nas práticas de produção pela democratização das tecnologias digitais – e
e revisão de textos, reforçando a necessidade as questões de multiculturalismo – uma demanda
de trabalharmos esses conhecimentos de forma política da contemporaneidade.
articulada. Esse movimento também pode ser
observado na Base, porém com maior ênfase Nesse aspecto, cabe destacar que a BNCC pode
nas questões que envolvem o trabalho com os complementar o planejamento docente, uma
diferentes gêneros textuais, com habilidades vez que situa os campos de uso da linguagem,
que se referem aos conhecimentos sobre o chamando atenção para conhecimentos que
funcionamento da língua a partir dos gêneros precisam ser sistematizados no processo
textuais. ensino aprendizagem para que os estudantes
se apropriem dos modos de organização e
Nos conhecimentos necessários para o início funcionamento dos diferentes gêneros.
da alfabetização, as diretrizes de Vitória, ao
apostarem na Perspectiva Histórico Cultural, A seguir, um resumo resultante da análise
trazem elementos que reafirmam conceitos comparativa da BNCC e das DCEFEJA com a
chaves no aprendizado da leitura e da escrita, finalidade de auxiliar no planejamento pedagógico,
como a ideia de símbolo, os diferentes sistemas potencializando o desenvolvimento dos objetivos
de escrita, história da escrita e dos alfabetos, previstos no trabalho com os estudantes dos anos
importância da compreensão das relações entre iniciais e anos finais do Ensino Fundamental.
sons e letras e letras e sons, rompendo com a ideia
da decodificação/memorização e enfatizando a
necessidade de uma prática reflexiva, intencional
e sistematizada.
125
DIRETRIZES CURRICULARES DO ENSINO FUNDAMENTAL E DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS
- A seleção dos textos para leitura deve ser integradas aos campos de atuação e se mostram
realizada em um contexto, sendo necessário imprescindíveis para ler e compreender a realidade
considerar os diferentes modos de circulação e transformada pelo avanço tecnológico. Ao fim do
organização dos gêneros textuais; Ensino Fundamental, os estudantes precisam
estar capacitados a ler, compreender e criticar as
- Embora não apresente objetivos de aprendizagem produções digitais;
específicos para o trabalho com gêneros que
circulam nos meios digitais, as diretrizes elegem - Detalha, no campo da Análise Linguística e
objetivos gerais que visam a consolidação da Semiótica, a interpretação de textos a partir
desses meios e formas mais contemporâneas das imagens, links e demais recursos que os
de comunicação, além de destinar um capítulo compõem.
específico sobre os usos das tecnologias digitais
integradas ao currículo. Entre os objetivos Eixo 5
previstos no Componente Língua Portuguesa
podem ser destacados: • Sobre a produção de textos -
DCEFEJA/2016
- escutar, ler e produzir textos orais, escritos e
outros sistemas semióticos, tendendo às múltiplas - A produção de textos nas diretrizes de Vitória
demandas sociais, por meio de diferentes é “ponto de partida e de chegada” no ensino da
gêneros do discurso e considerando as diferentes língua, estando articulada aos eixos da leitura e
condições de produção dos discursos; análise linguística;
- As práticas de produção de textos (orais e
- a compreensão de gêneros diversos, escritos) devem ocorrer a partir de situações
considerando-se os efeitos de sentido provocados sociais de comunicação/interação, em que os
pelo uso de recursos de linguagem verbal e estudantes tenham o que dizer, para quem dizer,
multimodal. razões para o dizer e, a partir dessas condições
essenciais, saibam escolher e concretizar as
• Leitura/formação do leitor - BNCC/2017 estratégias do dizer. Assim, a escolha dos
gêneros textuais não pode ocorrer sem considerar
- Atenção especial à questão da escuta ativa, como a situação de comunicação (finalidades da
um comportamento necessário à interpretação produção, interlocutores, meios de circulação...);
do texto oral, especialmente nos anos iniciais do
Ensino Fundamental; - A produção de textos orais e escritos se configura
dimensão essencial no ensino da língua e na
- Prevê habilidades como aprender a selecionar formação dos estudantes, desde o 1º ano;
livros nos espaços físicos e nos meios digitais de
leitura; - São previstos objetivos de aprendizagem que
consideram, de forma mais ampla, as diferenças
- Ideia da decodificação no processo de aquisição entre discurso oral e escrito;
da fluência na leitura se presentifica nos dois
primeiros anos do E.F. - São delineados objetivos para as etapas de
planejamento, revisão/reescrita dos textos,
- Também prevê o desenvolvimento das estratégias considerando as finalidades discursivas, assim
de leitura: ideia central, inferência, relações como a necessidade de mediação nos primeiros
entre partes do texto, usos de conhecimentos anos do EF.
linguísticos/gramaticais a partir do trabalho com
os diferentes gêneros textuais selecionados em • Sobre a produção de textos - BNCC/2017
função dos campos de atuação previstos;
- Na BNCC, a capacidade de se produzir discursos
- Destaca a importância de desenvolver — orais ou escritos — adequados às situações
habilidades que aparecem constantemente é tomado como um fundamento pedagógico,
126
DIRETRIZES CURRICULARES DO ENSINO FUNDAMENTAL E DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS
tendo em vista a necessidade de formar usuários • Os conhecimentos sobre o sistema
competentes da língua. - de escrita / análise linguística -
DCEFEJA/2016
- Inclui, de forma objetiva, alguns determinantes
sociais da escrita, no momento da produção - A partir da perspectiva de que a língua deve ser
textual: os próprios campos, o gênero, a situação considerada em situações de uso, as diretrizes
de comunicação, o interlocutor, a variação buscam articulação entre os aspectos linguísticos
linguística, etc; e discursivos na definição dos objetivos de
aprendizagem;
- Frequentemente, a habilidade de produção
aparece articulada com outras práticas - São apresentados objetivos a serem iniciados,
linguísticas, especialmente as de leitura e as de aprofundados e consolidados desde o 1º ano,
análise linguística/semiótica; abrangendo conhecimentos sobre os alfabetos,
o sistema de escrita alfabético-ortográfico,
- Considera o potencial multissemiótico ou convenções e organização da escrita nos
multimodal dos textos, bem como estimula seu diferentes textos, concordância nominal e verbal,
estudo e produção, em classe. morfologia e sintaxe, variedade linguística.
BAKHTIN, Mikhail Mikhailovitch. Marxismo e filosofia da lin- MEDEIROS, Daniela; GRÄFF, Patrícia. Bilinguismo: uma pro-
guagem: problemas fundamentais do método sociológico na posta para surdos e ouvintes. REI: Revista de Educação do
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Vieira. 9. ed. São Paulo: Hucitec, 1999.
PREFEITURA MUNICIPAL DE VITÓRIA. SECRETARIA MU-
BRAIT, Beth; MELO, Rosineide. Enunciado/enunciado con- NICIPAL DE EDUCAÇÃO. Diretrizes Curriculares para o
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______. Documento Orientador do Ciclo Inicial de Apren-
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ROCHA, Gladys. O papel da revisão textual na apropriação
______. Alfabetização na Idade Certa. Currículo na pers- de habilidades textuais pela criança. In: ROCHA, Gladys;
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res nacionais da educação básica e o ciclo de alfabetização. lares de produção de texto: o sujeito-autor. Belo Horizonte:
Caderno 01. Brasília: MEC, SEB, 2015. Autêntica, 2003.
128
DIRETRIZES CURRICULARES DO ENSINO FUNDAMENTAL E DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS
CONCEITOS
EIXOS 1º 2º 3º 4º 5º 6º 7º 8º 9º ORIENTAÇÕES
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM LEGENDA: METODOLÓGICAS
(I) Iniciar – (A) Aprofundar - (C) Consolidar
1 utilizar diferentes materiais, espaços e A leitura é um eixo de ensino
I/A A C A/C A/C A/C A/C A/C A/C
tempos destinados à leitura como fruição. que transcende o componente
2 Fazer uso do acervo, bibliotecas e outras Língua Portuguesa, uma vez que
fontes (audiovisuais e fontes online) para ler, possibilita o acesso, o diálogo e a
I A A C A/C A/C A/C A/C A/C
pesquisar e utilizar informações. apropriação dos conhecimentos
produzidos nos diversos campos do
3 Compreender e fazer uso da leitura como
I A A C A/C A/C A/C A/C A/C saber. Sua abordagem vai além de
meio de acessar e produzir conhecimentos. uma visão conteudista, disciplinar,
4 Ler textos com fluência e entonação. I A C A/C A/C pois envolve as experiências
5 Utilizar diferentes linguagens a fim de realizar dos sujeitos e seus diferentes
Leitura como produção de sentidos; figuras de linguagem; gêneros textuais e suas instâncias discursivas.
I/A/C A/C A/C A/C A/C A/C A/C A/C A/C percursos.
leituras para além do código escrito.
6 Identificar os diferentes textos (literários, Abarca, desse modo, a
jornalísticos, informativos, científicos, instrucionais I/A A C A/C A/C A/C A/C A/C A/Cdimensão discursiva no trabalho
e etc.) reconhecendo suas finalidades. com os textos que envolve,
7 Identificar o modo de organização, aspectos necessariamente, a produção de
composicionais e linguísticos característicos I A A C A/C A/C A/C A/C A/C sentidos, num constante processo
dos gêneros. de aprofundamento e consolidação
dos objetivos previstos neste eixo,
8 Utilizar os aspectos contextuais e elementos
tendo em vista as instâncias de
característicos dos gêneros e seus suportes I A A A A C A/C A/C A/C
circulação dos diferentes textos e
no processo de produção de sentidos do texto.
suas finalidades discursivas
9 Compreender que os diferentes textos (cultura
literária ficcional, representação ou relato das Nessa direção, consideramos
ações humanas; sustentação ou refutação necessário que, a cada ano, a
ou negociação de posição; divulgação de professora organize as situações
I A A A A A C A/C A/C
diferentes formas do saber – conhecimento de ensino - aprendizagem que
científico; informação de procedimento e contemplem gêneros textuais
regulação de comportamentos) se configuram dos diferentes domínios sociais
em função do contexto de produção. de comunicação (cultura literária
LEITURA
129
DIRETRIZES CURRICULARES DO ENSINO FUNDAMENTAL E DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS
1º 2º 3º 4º 5º 6º 7º 8º 9º
EIXOS
ORIENTAÇÕES
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM LEGENDA: METODOLÓGICAS
(I) Iniciar – (A) Aprofundar - (C) Consolidar
1 Compreender as características do A leitura, a produção de textos
discurso oral e do discurso escrito e suas I/A A A A C A/C A/C A/C orais e escritos e a análise
relações. linguística se constituem
eixos de ensino da Língua
2 Reconhecer e respeitar os diferentes Portuguesa que, conforme
Características do discurso oral e escrito; diferentes situações e uso da linguagem; elementos da produção de textos e revisão textual.
130
DIRETRIZES CURRICULARES DO ENSINO FUNDAMENTAL E DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS
CONCEITOS
EIXOS 1º 2º 3º 4º 5º 6º 7º 8º 9º ORIENTAÇÕES
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM LEGENDA: METODOLÓGICAS
(I) Iniciar – (A) Aprofundar - (C) Consolidar
5 Reescrever o texto, revisando a própria escrita, com mediação, adequando-o A escola tem o papel de contribuir
às finalidades propostas: para o desenvolvimento e a
5.1 Observando as relações entre sons e ampliação do uso dos diferentes
letras (ortografia). I/A A C A/C A/C gêneros pelos sujeitos. Nessa
direção, a escola deve oportunizar
5.2 Observando as marcas de segmentação práticas de produção de texto,
textual: espaços entre as palavras, margem, I/A A C A/C A/C desde o 1º ano, favorecendo o
paragrafação. acesso irrestrito aos diferentes
gêneros textuais, ou seja, aos textos
5.3 Observando a implicação dos sinais de
utilizados no cotidiano e às formas
pontuação na construção dos sentidos do texto. I A A C A/C A/C
relativamente estáveis (palestras,
seminários, depoimentos, júri
5.4 Observando a utilização dos sinais de simulados, relatos, recontos,
I A A C A/C A/C
acentuação. artigos, receitas e etc.).
5.5 Observando o uso de letras maiúsculas
I/A C A/C A/C Nas práticas de produção de textos
e minúsculas.
PRODUÇÃO DE TEXTOS
131
DIRETRIZES CURRICULARES DO ENSINO FUNDAMENTAL E DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS
ORIENTAÇÕES
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM LEGENDA: METODOLÓGICAS
(I) Iniciar – (A) Aprofundar - (C) Consolidar
9 Utilizar a ordem alfabética em diferentes No que diz respeito ao
Sistemas de escrita; ideia de símbolo; símbolos usados na escrita (acentuação, pontuação); consciência fonológica; relações entre sons e letras e letras e sons; segmen-
132
DIRETRIZES CURRICULARES DO ENSINO FUNDAMENTAL E DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS
CONCEITOS
1º 2º 3º 4º 5º 6º 7º 8º 9º
EIXOS
ORIENTAÇÕES
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM LEGENDA: METODOLÓGICAS
(I) Iniciar – (A) Aprofundar - (C) Consolidar
22 Compreender as flexões de gênero e de número
(substantivo, adjetivo, pronome), pessoa (pronome) e tempo,
modo, pessoa e número (verbo) e seu funcionamento nos I A A A C
textos.
I A C A/C A/C
133
DIRETRIZES CURRICULARES DO ENSINO FUNDAMENTAL E DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS
de aprendizagem da leitura e
4 Identificar o modo de organização e as características dos diferentes
X X da produção de textos. Essa
gêneros textuais.
perspectiva deve ajudá-los a
5 Utilizar elementos característicos dos gêneros textuais e seus suportes incorporar uma visão diferente
X X
no processo de produção de sentidos do texto. da palavra para continuarem
6 Antecipar conteúdos de textos a serem lidos em função do motivados a ler e a escrever
X X
reconhecimento do suporte e do gênero textual. compreendendo os discursos
7 Estabelecer relações entre imagens (fotos, ilustrações), gráficos, dos outros e interpretando
tabelas e o conteúdo do texto. X X pontos de vista. A leitura da
palavra deve instrumentalizar
8 Identificar a temática tratada nos diferentes gêneros textuais;ticos. X X os estudantes a procederem
9 Utilizar as estratégias de leitura (seleção, antecipação, realização uma leitura de mundo crítica e
de inferências e verificação), progredindo para uma leitura mais X X comprometida. Segundo Freire,
emancipatória. (1988) “Linguagem e realidade
10 Elaborar sentidos a partir de textos lidos individualmente e por outras se prendem dinamicamente.
pessoas. X X A compreensão do texto a ser
alcançada por sua leitura crítica
11 Ler textos com fluência e entonação. X X implica a percepção das relações
12 Relacionar o texto que está sendo lido a outros textos, ampliando entre o texto e o contexto”.
X X
sua compreensão.
Ler e escrever são processos
13 Avaliar criticamente os textos lidos. X X
imprescindíveis que permitem aos
14 Identificar recursos linguísticos para a construção dos sentidos do sujeitos fortalecerem suas vozes
X X
texto lido. muitas vezes adormecidas pela
LEITURA
134
DIRETRIZES CURRICULARES DO ENSINO FUNDAMENTAL E DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS
CONCEITOS
LINGUAGENS OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM 1º 2º ORIENTAÇÕES
1º e 2º SEGMENTOS SEG. SEG. METODOLÓGICAS
em vista as instâncias de
31 Usar a escrita para relações interpessoais, situações de estudo da circulação dos diferentes
X X textos e suas finalidades
vida profissional e intervenções públicas.
discursivas.
32 Expressar-se oralmente para interagir em várias situações
X X
comunicativas cotidianas.
33 Ampliar o domínio da oralidade em situações públicas que exigem No que se refere à oralidade
maior formalidade. X X
e à produção de escritos é
textos orais e escritos; finalidades da produção de textos; revisão textual.
135
DIRETRIZES CURRICULARES DO ENSINO FUNDAMENTAL E DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS
CONCEITOS
1º 2º
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM ORIENTAÇÕES
SEG. SEG.
1º e 2º SEGMENTOS METODOLÓGICAS
136
DIRETRIZES CURRICULARES DO ENSINO FUNDAMENTAL E DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS
138
DIRETRIZES CURRICULARES DO ENSINO FUNDAMENTAL E DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS
Assim, em consonância com o referencial teórico outras novas, atribuindo significados, produzindo
que subsidia o processo de atualização desta Diretriz sentidos “[...] às experiências curriculares que se
Curricular, compreendemos que as contribuições realizam na escola e classes – sentido de uma
dos estudos bakhtinianos no campo da linguagem experiência tecida coletivamente por sujeitos
são as mais apropriadas para revisitarmos os que recriam a sua própria prática na atividade”
conceitos e práticas que orientam o trabalho com a (OLIVEIRA, 2009, p. 239).
Língua Inglesa na escola, assim como exposto nas
diretrizes de 2004. Em diálogo com a psicologia Outro aspecto a considerar é que tanto no
Histórico-Cultural de Vigotski, defendemos que os ensino da língua estrangeira como no da
significados são mediadores simbólicos entre o materna é imprescindível considerar que os
sujeito e o objeto de conhecimento, reconhecendo, processos de aprendizagem ocorrem de modo
assim, o caráter social da linguagem. diferenciado, implicando planejar intervenções
pedagógicas levando em conta os diferentes
O nosso intuito é considerar a língua estrangeira percursos de aprendizagem dos estudantes, pois
não como um obstáculo ou impossibilidade, mas defendemos que em toda abordagem de ensinar é
como uma oportunidade na qual alunos e alunas,
freqüentadores/as da escola pública, têm de sair
imprescindível partir das experiências, interesses
do isolamento linguístico por meio da aquisição de e necessidades dos estudantes.
outras formas de expressão e de comunicação com/
no mundo. Numa sociedade globalizada e midiática Essa premissa básica coloca a professora como
como esta em que hoje vivemos a LE pode ser mais mediadora e orientadora do processo de educação,
um elemento a contribuir com a inserção social do
propiciando situações de aprendizagem em que
indivíduo, de modo a favorecer que ele tenha uma
atuação crítica na leitura das várias realidades que os estudantes tenham oportunidades de uso real
o cercam (PMV, 2004, p. 196). da língua. Assim, torna-se importante lembrar
que todas as atividades curriculares devem ser
Como docentes de uma língua estrangeira, o muito bem planejadas, com objetivos definidos e a
nosso papel é o de proporcionar aos estudantes avaliação deve se basear naquilo que foi proposto
condições de rearticular, criticar e politizar em sala de aula. Brown (1994, p. 74) enfatiza que
diferentes conhecimentos linguísticos e culturas, “nunca houve e provavelmente nunca existirá um
ressignificando, assim, a sua própria cultura. método para todos”, pois, “[...] a complexidade dos
Essa formação crítica, dialógica e participativa educandos em um ensino aprendizagem de uma
só pode ser realizada quando apostamos nas língua em contextos múltiplos no mundo demanda
potencialidades discursivas dos sujeitos que, uma mistura eclética de tarefas customizadas
mesmo antes de dominarem os códigos linguísticos, para um grupo particular de educandos, num local
são capazes de dialogar com os diferentes textos específico [...]” (tradução nossa).
que circulam na sociedade, produzindo sentidos e
interagindo por meio de suas experiências e das Assim, como pensar um currículo de Língua Inglesa
mediações pedagógicas qualificadas, intencionais que se comprometa com a emancipação humana?
e sistemáticas, que visam à aprendizagem dos Primeiramente, deve-se considerar a diversidade de
aspectos discursivos e formais da língua, ao contextos dos estudantes que frequentam as escolas
tomarmos o texto como unidade de ensino. da Rede Municipal de Vitória e o desafio de ensinar a
Língua Inglesa para grupos heterogêneos. A realidade
Portanto, a abordagem da Língua Inglesa deve ser nos apresenta, em turmas dos anos finais do Ensino
multicontextualizada (SACRISTÁN, 2000) a partir Fundamental, a possibilidade de haver estudantes
de temas transversais, da interdisciplinaridade, que apresentem no mínimo três níveis diferentes de
da dialogicidade e das experiências pessoais e proficiência na Língua Inglesa ou um grupo com idades
culturais dos sujeitos. Atualmente, reconhece-se a bem diferenciadas e, em outros casos, é possível
importância dos temas transversais relacionados encontrar turmas em que há as duas situações
aos Direitos Humanos como, por exemplo, descritas. Aliado a essas questões dos níveis de
questões de gênero e étnico-raciais, assim como proficiência e faixa etárias, há o fato de que muitos
outros temas que nos instigam e nos levam estudantes apresentam sentimentos de fracasso e
a refletir sobre visões hegemônicas, criando julgam, apressadamente, a Língua Inglesa como difícil.
139
DIRETRIZES CURRICULARES DO ENSINO FUNDAMENTAL E DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS
Percebemos que a resistência à língua estrangeira 2006, p. 130) e não como um sistema fechado
é proveniente da reprodução da cultura imposta de normas, apostamos em uma metodologia de
como legítima pelas classes dominantes, das ensino da Língua Inglesa na qual o texto seja
relações de poder e da possível instilação da a unidade de sentido no ensino da gramática
cultura americana ou hegemônica. As escolas, contextualizada, pois é no texto que a língua se
ao mesmo tempo, “[...] desempenham um papel realiza em suas variadas formas de expressão
significativo na preservação, senão na geração, (visuais, imagéticas), encontradas em rótulos
dessas desigualdades” (APPLE, 2008, p. 104). de embalagens, receitas, cardápios, Internet,
Entendendo o currículo como processual e jornais, revistas, boletins informativos etc. É
complexo (SACRISTÁN, 2000), as experiências em torno dos textos utilizados na comunicação
pessoais e culturais dos estudantes são postas cotidiana que podem ser organizadas situações
como condições essenciais para sua construção. de aprendizagem com atividades interativas que
“Quando os interesses dos alunos não encontram oportunizem aos estudantes ouvir, entender, falar,
algum reflexo na cultura escolar, se mostram ler e escrever.
refratários a esta sob múltiplas reações possíveis:
recusa, confronto, desmotivação, fuga, etc.” Essa abordagem de trabalho com a língua deve
(SACRISTÁN, 2000, p. 30). ser articulada em todas as etapas e modalidades
do Ensino Fundamental. Conforme previsto na
A educação como prática libertadora é uma educação legislação vigente, a obrigatoriedade do ensino
comunicadora (OLIVEIRA, 2006, p. 27). É através de uma língua estrangeira é para os estudantes
da escuta que o outro se faz de extrema importância dos anos finais do Ensino Fundamental (6º ao 9º
para uma relação dialógica, educando-educando, anos). Porém, além de assegurar o previsto em
educador-educando, educador-educador. Sem uma lei, a Rede de Ensino de Vitória oferta a Língua
escuta atenta não há reconhecimento da alteridade. Inglesa para estudantes dos anos iniciais. Esse
Na alteridade, no encontro com o outro, é que nos diferencial na configuração curricular dessa rede
transformamos no sentido do nosso interminável de ensino potencializa o ensino do Inglês, trazendo
autoconhecimento. É a abertura existencial também desdobramentos para nossas práticas
proposta por Heidegger (2008), na qual não apenas pedagógicas, pois evidencia a necessidade de
estamos vivendo o cotidiano, mas também nosso considerarmos as singularidades desses sujeitos
ser autêntico. O ser autêntico é o ser que cria, que e de seus processos de aprendizagem, assim
pensa, deixando um pouco de lado a reprodução, como suas experiências com as linguagens.
que domina nossas vidas atuais. É preciso
problematizar para abrir espaços a novas maneiras Como exposto no Documento Orientador do Ciclo
de pensar e ser no mundo. Inicial de Aprendizagem do Ensino Fundamental
(PMV, 2012, p. 43), “[...] dentre as múltiplas
Para Bakhtin (2006, p. 125), diálogo é todo o tipo linguagens que permeiam o cotidiano das práticas
de comunicação verbal, incluindo a língua escrita, sociais e culturais infantis, inserem-se dizeres da
não apenas “a comunicação em voz alta”. Para o língua estrangeira, que por sua vez integram as
autor, “a unidade real da língua que é realizada diversas leituras e produções de textos realizadas
na fala (Sprache als Rede) não é a enunciação pelas crianças.” A Língua Inglesa, desse modo,
monológica individual e isolada, mas a interação está presente no universo discursivo das crianças
de pelo menos duas enunciações, isto é, o diálogo” e sua apropriação deve ocorrer em interlocução
(BAKHTIN, 2006, p. 149). Na dialogicidade com essas experiências, através de situações de
outras motivações de vida são reveladas e nossa aprendizagem motivadoras para que as crianças
própria identidade é posta em jogo, talvez não compreendam a importância do aprendizado da
para o encontro de algo separado de nós, mas língua estrangeira. “A criança tem uma necessidade
desconhecido por nossa consciência. muito grande de concretizar o que está aprendendo,
assim, quando o inglês não tem motivos
Considerando a língua como “[...] processo de comunicativos, a criança não consegue entender
evolução ininterrupto que se realiza através da sua importância no futuro” (LIMA, 2008, p. 299).
interação verbal social dos locutores” (BAKHTIN,
140
DIRETRIZES CURRICULARES DO ENSINO FUNDAMENTAL E DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS
Com esse entendimento, é imprescindível pensar Objetivos gerais
estratégias de ensino que ajudem as crianças a
concretizarem o conhecimento sobre a língua, O ensino de língua estrangeira moderna (Língua
tais como: os jogos, as músicas e as brincadeiras, Inglesa) objetiva levar o estudante a:
fundamentais nessa fase do desenvolvimento
humano. Como as crianças são expostas ao D Reconhecer a importância da aprendizagem
aprendizado de uma língua com que têm menos da língua estrangeira para a formação humana e
contato, as experiências pedagógicas devem para a inserção nos contextos local e global;
potencializar a interação oral em sala de aula,
visando não apenas à ampliação do vocabulário, D Perceber as possibilidades de crescimento
mas ao envolvimento das crianças em situações pessoal e social que a apropriação de outro idioma
de comunicação que possibilitem o conhecimento proporciona, em especial, a língua inglesa que é
da língua inglesa de acordo com as finalidades do multicultural;
contexto discursivo, favorecendo a produção criativa.
D Compreender e valorizar o plurilinguismo, a
Além disso, é preciso saber quais conhecimentos diversidade sociocultural e a variação linguística
são necessários para o aprendizado da Língua (BRASIL, 2016, p. 130);
Inglesa e quais objetivos devem ser iniciados no
desenvolvimento da prática pedagógica com os D Refletir e valorizar a cultura e identidade
estudantes dos anos iniciais, tendo em vista o seu nacional ao se deparar com a cultura de diferentes
aprofundamento e consolidação nos anos finais, a povos que usam a língua inglesa;
fim de assegurarmos a continuidade e a progressão
dos conteúdos trabalhados, conforme tabela de D Aprender a usar a língua inglesa em diferentes
Objetivos de Aprendizagem da Língua Inglesa. atividades relevantes à sua realidade em situações
dentro e fora da sala de aula;
Para finalizar, cabe retomar que o conjunto
de reflexões aqui apresentadas destacam a D Desenvolver as habilidades de construção de
centralidade do texto em Língua Inglesa, em todas significados na interação com textos de diferentes
as etapas e modalidades do Ensino Fundamental, gêneros textuais, na compreensão auditiva, na
articulando-se o desenvolvimento da leitura, da fala, na leitura e na escrita em atividades e tarefas
escuta, da oralidade e da escrita, numa abordagem multidisciplinares, sociointerativas presenciais e
discursiva, na qual os diversos textos que utilizamos online;
em nossa vida cotidiana são concebidos como
manifestações culturais. Partindo da concepção de D Apropriar-se de recursos linguístico-discursivos
linguagem que nos orienta, reafirmamos que “[...] e culturais para compreender e produzir textos
ao interagirem por meio de textos, em linguagens orais, escritos e multimodais na língua estrangeira
variadas, os sujeitos, ao mesmo tempo em que (BRASIL, 2016, p. 130);
constroem sentidos, significam a si próprios e ao
mundo que os rodeia, construindo subjetividades D Ampliar o conhecimento gramatical, lexical,
e relações com o outro (BRASIL, 2016, p. 120)”. fonético, fonológico, semântico e pragmático que
lhe proporcionará a competência comunicativa
que o aluno já vem construindo em sua língua
materna;
141
DIRETRIZES CURRICULARES DO ENSINO FUNDAMENTAL E DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS
literárias, político-cidadãs, investigativas, assim
como as mediadas pelas tecnologias digitais.
No desenvolvimento dessas situações de
aprendizagem devem ser selecionados textos, de
variados gêneros do discurso7 , de acordo com as
temáticas em desenvolvimento e as necessidades
de aprendizagem dos estudantes, constituindo-se
a base para as atividades de escuta e compreensão
oral, de leitura, de produção oral e escrita.
142
DIRETRIZES CURRICULARES DO ENSINO FUNDAMENTAL E DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS
Essas características próprias da compreensão Estrangeira, para facilitar o engajamento discursivo
escrita também ocorrem na compreensão oral, do leitor-estudante, cabe privilegiar o conhecimento
contudo, nas interações orais, o ouvinte pode de mundo e textual que ele tem como usuário de
dialogar com o seu interlocutor, esclarecendo sua língua materna para, pouco a pouco, introduzir
dúvidas, trazendo posicionamentos e questões o conhecimento sistêmico da língua inglesa.
que potencializam a compreensão. Em algumas
circunstâncias, como a compreensão de textos Outro aspecto importante relacionado com o ensino da
orais do rádio e da televisão, a possibilidade de leitura são as suas finalidades. No dia a dia a leitura é
diálogo com o interlocutor depende de outras sempre motivada por alguma razão, algum propósito,
articulações, como os usos das tecnologias conforme exemplos de Paiva (2010, p. 130):
digitais. Assim, “[...] o processo de construção
do significado é, portanto, determinado pelo Lemos jornais para nos informar sobre o mundo em
modo como os interlocutores agem pelo discurso nossa volta; rótulos de produtos para identificar seus
realizado num determinado momento (a história) componentes e prazos de validade; lemos manuais para
poder operar equipamentos; lemos cartas e e-mails
e espaço (contextos culturais e institucionais)” para interagir com as pessoas; lemos formulários para
(BRASIL, 1998, p. 95). inserir as informações solicitadas; romances e contos
para nos distrair e nos dar prazer estético; etc.
b) O Eixo Leitura
Esses exemplos remetem a pensar como as
Reafirmando a concepção discursiva de atividades de leitura têm sido desenvolvidas em
linguagem na qual os sujeitos são vistos como sala de aula, considerando as suas funções sociais
“construtores sociais”, compreendemos que “[...] e as possibilidades de interação com o outro e com
o texto passa a ser considerado o próprio lugar os conhecimentos e favorecendo experiências de
da interação e os interlocutores, como sujeitos fruição, de pesquisa e de produção. Assim, cabe
ativos que – dialogicamente – nele se constroem destacar que a leitura de um texto não pode ser vista
e são construídos” (KOCH, 2003, p. 17). Nessa como um pretexto para avaliar as aprendizagens de
perspectiva, a compreensão de um texto abarca conhecimentos gramaticais ou para checar e treinar
uma gama de sentidos construídos na interação pronúncia em atividades de leitura em voz alta que,
autor-texto-leitor. Esses sentidos se realizam a nesse contexto, não contribuem para potencializar
partir do conjunto de saberes do sujeito leitor, dos o diálogo e as aprendizagens dos estudantes.
elementos linguísticos e de outros elementos do
próprio texto, como as ilustrações, os gráficos, as Nas situações de ensino aprendizagem, a leitura
tabelas e a forma de organização textual. precisa constituir-se processo de construção
de significados que envolve a apropriação de
De acordo com as orientações expressas na Base informações em articulação com os conhecimentos
Nacional Comum Curricular, componente curricular cotidianos, da vida, que o leitor aciona para a
Língua Inglesa, “[...] a complexidade de um texto compreensão do texto. Assim, “[...] o conhecimento
decorre da relação entre o que sua leitura requer de mundo tem um papel primordial, pois, ao ler,
de conhecimentos prévios, das características o estudante cria hipóteses sobre o significado
do texto e das atividades planejadas” (BNCC, que está construindo com base em seu pré-
BRASIL, 2016, p. 129). Desse modo, “[...] quanto conhecimento” (BRASIL, 1998, p. 90).
mais exigente for a atividade, maior será a
necessidade de lançar mão de conhecimentos de A interação com os textos, portanto, deve
mundo, de conhecimentos relativos às condições ser sempre mediada pela professora que, ao
de produção do discurso, ao tema, aos modos de planejar as atividades de leitura, deve primar pelo
organizar e construir os discursos em diferentes desenvolvimento de estratégias que ajudem os
áreas, e de conhecimentos linguístico-discursivos” estudantes a produzir sentidos. Estudos sobre o
(BNCC, BRASIL, 2016, p. 129-130). ensino da leitura em Língua Inglesa apontam duas
estratégias mais utilizadas para o desenvolvimento
Assim, no que se refere ao ensino da leitura como das capacidades de leitura: scanning e skimming,
processo de produção de sentidos, em Língua a depender do propósito da leitura.
143
DIRETRIZES CURRICULARES DO ENSINO FUNDAMENTAL E DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS
De acordo com Paiva (2010, p. 133), “[...] scanning conhecimento também engloba os elos coesivos
é uma estratégia de leitura que significa dar uma que o leitor tem de reconhecer no estabelecimento
lida rápida, folhear um livro, catálogo, manual, da referência pronominal, lexical etc, como
etc., para achar algo específico como uma data, também os conectores das partes do discurso.
um nome, um número telefônico, um conceito, Por exemplo, ao identificar que os conectores
uma definição”. Ou seja, o leitor sabe o que “mais”, em francês; “but”, em inglês e “mas”, em
está procurando e essas informações estão na espanhol, indicam uma relação semântica de
superfície textual. Sobre a estratégia skimming, a contradição entre duas partes do discurso, o leitor
autora explica que consiste em uma leitura com tem sua compreensão facilitada por entender a
vistas à compreensão das ideias e principais relação semântica, ainda que tenha dificuldades
conceitos, sendo necessário recorrer ao título, com outros elementos sistêmicos. Ao ensinar os
subtítulos, ilustrações, nome do autor, fonte do tipos de conhecimento mencionados, o docente
texto, início e final de parágrafos, sumários, deve se balizar pelos conhecimentos que o
itálicos, uma vez que “[...] envolve a exploração, estudante tem de sua língua materna e do mundo.
pelo estudante, dos aspectos afetivos, da Numa atividade de leitura, a professora deve
interação entre o escritor e o leitor” (DAVIES, apud fazer com que o aprendiz da língua estrangeira
PAIVA, 2010, p. 134). Ao desenvolver a estratégia tome consciência do que já sabe ao explorar itens
skimming “[...] o leitor está em busca do sentido lexicais cognatos.
geral do texto, muitas vezes para decidir se vai
ler todo o texto de forma mais detalhada” (PAIVA,
2010, p. 134). c) O Eixo Produção de textos orais e escritos
144
DIRETRIZES CURRICULARES DO ENSINO FUNDAMENTAL E DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS
- mais centradas no que se diz - por contar com
apoio no escrito - já que não se prevê a intervenção - identificar níveis de formalidade da fala e suas
direta do ouvinte na interação (por exemplo, uma adequações a contextos específicos;
apresentação em sala de aula);
- perceber marcadores de coesão e facilitadores da
- mais centradas no ouvinte, já que implicam a coerência típicos da linguagem oral (por exemplo,
presença de ambos os interlocutores na situação de o uso de determinadas palavras, em geral curtas,
interação próxima ou distante no espaço (por exemplo, que funcionam como apoio para o processo de
uma conversa face a face ou por telefone) (Ibid.). organização do pensamento a ser expresso
oralmente);
Em todas essas situações, observa-se a existência
do interlocutor, sendo que este pode atuar sobre - observar procedimentos de iniciar, manter e
quem fala de diferentes modos. Também é preciso finalizar a fala, bem como as formas de tomada de
considerar outras condições que incidem sobre o turno aceitas em contextos interacionais específicos
(BRASIL, 1998, p. 103).
dizer, como os espaços sociais de usos da língua,
uma vez que, “[...] o contexto externo à sala de
A relação entre os contextos de uso e o que se
aula oferece estímulo, estabelece influências,
espera que o estudante produza oralmente na
desperta motivações, […] cabendo ao professor
Língua Estrangeira remete a duas questões: uma
buscar relevância desse mundo externo em
diz respeito à clareza do objetivo da produção
relação às circunstâncias de sala de aula que se
solicitada e a outra à contextualização da tarefa
apresentam” (BRASIL, 1998, p. 101).
que deverá buscar contextos situacionais em sala
de aula semelhantes a contextos fora da sala de
Cabe destacar o papel da pronúncia e com quem os
aula. Ambas estão intimamente conectadas à
aprendizes da língua terão oportunidade de falar.
definição de metas realistas para produção oral,
A esse respeito, é importante salientar, de acordo
suas condições de exequibilidade, necessidades,
com o documento curricular, que é necessário
objetivos e características pessoais dos aprendizes.
considerar os contextos de ensino aprendizagem,
em suas diversidades social, política e geográfica
A produção de textos escritos também pode ser
e alguns conhecimentos sobre fonética/fonologia,
um desafio para os aprendizes da língua inglesa,
como a interferência, ou seja, o uso do sistema
sendo necessário considerar os diversos aspectos
fonético/fonológico da língua materna que não
que envolvem o processo de produção, tanto no
corresponde ao da língua estrangeira, gerando
que tange aos conhecimentos e experiências
incompreensões, a saber:
discursivas dos estudantes como às condições de
- fonemas existentes na língua estrangeira e não produção dos textos que se constituem elementos
existentes na língua materna (e vice-versa); motivadores para a atividade de escrita. Sobre a
atividade de produção de textos escritos e suas
- fonemas que apresentam diferente distribuição na relações com a produção oral, encontramos nos
língua estrangeira e na língua materna; Parâmetros Curriculares Nacionais (BRASIL,
- fonemas que apresentam diferentes realizações
1998, p. 98), recomendações que já apontavam
fonéticas; para a necessidade de observar:
-a relação entre ortografia e pronúncia, que não é a - que é uma interação que se estabelece em
mesma nas diferentes línguas (BRASIL, 1998, p. 102). ausência do interlocutor, diferenciando-se da
interação oral, na qual os parceiros encontram-se
O estudante de Língua Estrangeira deve ser em presença na simultaneidade da fala;
incentivado a perceber que a situação de interação
oral, em especial a face a face, não é um contínuo - […] para suprir essa ausência […] quem escreve
homogêneo e linear e que aprender a expressar- se vê obrigado a expor informações/ideias de
se oralmente em língua estrangeira implica utilizar maneira mais clara, planejada e detalhada que na
processos metacognitivos, como: situação de interação face a face, caracterizando
tal processo como aquele que precisa evitar a
- reconhecer traços supra-segmentais (entonação e
variações da tonicidade que implicam significado); ambiguidade e perseguir a clareza;
145
DIRETRIZES CURRICULARES DO ENSINO FUNDAMENTAL E DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS
- […] o conhecimento exigido do código linguístico atividades nas quais os estudantes saibam as
é de natureza diversa na situação de interação razões para escrever e quem são os leitores do
escrita - se comparada com a oral; texto, não devendo ficar restrito às professoras.
Além disso, propõem que as atividades de produção
- [...] os possíveis contextos socioculturais, sejam desenvolvidas em sala de aula com as
relevantes na constituição dos diferentes mediações necessárias durante a escrita do texto
sentidos, na escrita precisam ser recuperados por e que podem ser realizadas de várias maneiras:
quem escreve, enquanto que, no oral, ambos os individualmente, em duplas, coletivamente, com
participantes podem estabelecer as referências a ajuda da professora. Em qualquer situação é
necessárias. imprescindível que os estudantes tenham o que
dizer e saibam para quê escrever (GERALDI,
Nesse sentido, a atividade de produção de textos 2003), sendo necessário, portanto, que a
escritos deve ser antecedida de um planejamento, atividade de produção esteja articulada aos temas
tendo em vista os interlocutores e os objetivos do em estudo e às necessidades comunicativas que
texto. Nesse planejamento será necessário escolher emergem desse contexto discursivo.
a forma de dizer, ou seja, o gênero discursivo que
melhor atende à situação de comunicação e as
estratégias para concretizar o dizer, levando em d) O Eixo Conhecimentos linguísticos
conta o conhecimento de mundo e as diferentes
formas de organização do texto por meio da escrita. As experiências de ensino da língua estrangeira
têm demonstrado que ainda precisamos superar a
Durante o processo de escrita do texto, os prática centrada na visão tecnicista “[…] limitada a
estudantes também podem realizar pesquisas e explicações gramaticais ou a repetição de frases
recorrer ao uso de materiais para consulta, tais descontextualizadas” (BRASIL/MEC, 2016, p. 123).
como: dicionários, glossários construídos em sala Assumir essa perspectiva ainda se constitui desafio
de aula, guias de apoio com aspectos gramaticais pelo fato de, historicamente, as perspectivas
e composicionais e contextuais dos gêneros predominantes nos estudos gramaticais
discursivos, entre outros, tanto físicos como apresentarem a língua por meio de amostras de
virtuais. Nesse sentido, a sala de aula e os outros falas e escritas, buscando explicar seu sistema
espaços de aprendizagem devem ser ambientados interno e seu funcionamento independentemente
com recursos e materiais produzidos junto aos dos usos sociais (PAIVA; FIGUEIREDO, 2010).
estudantes, que potencializem o processo de
ensino aprendizagem da língua, servindo como Contudo, a língua é um sistema dinâmico que se
referência nos momentos de criação. transforma com o passar do tempo. Seus usos
variam dependendo do contexto, da situação de
Além da etapa de planejamento e escrita do texto, comunicação e seu ensino precisa considerar
o processo de produção também requer a etapa da esses aspectos. Assim, cabe questionar se a
revisão textual. Nessa etapa é necessário que os gramática que ensinamos, ainda fortemente ligada
estudantes avaliem se os objetivos da produção à visão tecnicista, tem contribuído para que nossos
foram atingidos. Para tanto, a revisão textual estudantes aprendam a língua de forma a poder
precisa ser uma atividade mediada pela professora, usá-la para se expressar ou para compreender
a partir de problematizações que ajudem os o outro em manifestações orais e escritas, pois
estudantes a observarem os aspectos linguísticos, “[...] alguns alunos são capazes de memorizar
composicionais e discursivos do texto a partir do as regras gramaticais, aplicá-las corretamente
contexto de produção. Desse modo, a situação de quando resolvem exercícios em listas de frases
produção e de circulação do texto deve ser bem isoladas, mas falham quando produzem textos
planejada e sistematizada com os estudantes. [...]” (PAIVA; FIGUEIREDO, 2010, p. 173).
3. Ao trabalhar com “conditionals” você pode Propomos uma avaliação que seja processo
utilizar frases que façam os alunos falarem sobre si e não fim, articulada com os objetivos e
mesmos (PAIVA; FIGUEIREDO, 2010, p. 179).
conteúdos definidos a partir das concepções
e encaminhamentos metodológicos destas
Também destacamos os jogos como potentes
Diretrizes, sem a finalidade de mensurar, mas sim
para o trabalho com os aspectos gramaticais
de acompanhar o ensino aprendizagem, de modo
em sala de aula. A seleção do que é necessário
que as adequações necessárias sejam pensadas
explicar para os estudantes também dependerá
e permitidas ao longo do caminho; que não resida
de outras condições: as temáticas e os textos em
apenas no conhecimento sistêmico, mas também
foco, os conhecimentos prévios dos estudantes
no conhecimento de mundo que o estudante traz
e os propósitos e interlocutores do trabalho
consigo e de como esse saber, associado aos
pedagógico (BRASIL, 2016).
novos, contribui para a transformação de atitudes
Não se trata, portanto, de compreender como
desses estudantes. Seja qual for o instrumento
categorizar recursos linguístico-discursivos, mas usado, ele deverá estar voltado para esse propósito,
de como usá-los nas práticas sociais. Isso implica alterando a realidade da avaliação proclamada no
em atividades de uso-reflexão-uso, assegurando cotidiano das escolas, de caráter classificatória e
oportunidades continuadas e renovadas para por punitiva, restringindo-se a constatar a apropriação
em prática a língua em contextos significativos,
do conhecimento, mensurando os resultados e
lançando mão do conjunto de recursos fonológicos,
morfológicos, lexicais ou sintáticos relevantes para atribuindo uma “sentença”: esse está na média,
as situações de comunicação, e de uma atitude aquele está abaixo da média; este está aprovado,
aberta para lidar com outros modos de fazer e dizer aquele reprovado. Conforme analisa Luckesi
(Ibid., p. 125). (1995, p. 166),
147
DIRETRIZES CURRICULARES DO ENSINO FUNDAMENTAL E DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS
Diretrizes Curriculares de Vitória e a Base
A avaliação da aprendizagem necessita, para cumprir Nacional Comum Curricular
o seu verdadeiro significado, assumir a função de
subsidiar a construção da aprendizagem bem-sucedida.
A condição necessária para que isso aconteça é de que Este texto tem por objetivo uma análise da Base
a avaliação deixe de ser utilizada como um recurso de Nacional Comum Curricular (BNCC) e das Diretrizes
autoridade, que decide sobre os destinos do educando, Curriculares do Ensino Fundamental e da Educação
e assuma o papel de auxiliar o crescimento. de Jovens e Adultos do Município de Vitória,
especificamente do componente curricular de Língua
A avaliação, como relação dialógica, concebe o Inglesa. Em relação ao componente Língua Inglesa,
conhecimento como apropriação do saber pelo cabe destacar os seguintes aspectos observados na
estudante e docente; um processo de ação- análise entre as Diretrizes Curriculares de Vitória e a
reflexão-ação, que se passa na sala de aula Base Nacional Comum Curricular (BNCC):
por meio da interação entre esses sujeitos,
carregado de significados e de compreensão. 1. No que se refere aos eixos organizadores do
Assim, ambos poderão acompanhar o percurso ensino, as Diretrizes de Vitória contemplam quatro
desenvolvido até então e identificar dificuldades, eixos: Contextos de uso da Língua e Compreensão
planejar e propor outros encaminhamentos que Oral, Leitura, Produção de Textos e Conhecimentos
busquem superá-las. Segundo Ramos (2001), Linguísticos. Na BNCC os eixos são: Oralidade,
é um desafio construir uma avaliação com Leitura, Escrita, Conhecimentos Linguísticos,
critérios de entendimento reflexivo, conectado, e Dimensão Intercultural. Observamos que os
compartilhado e autonomizador no processo objetivos/conhecimentos previstos nesses eixos
ensino aprendizagem que nos permita formar se aproximam, embora alguns deles estejam
cidadãos conscientes, críticos, criativos, localizados em eixos diferentes. Nas Diretrizes de
solidários e autônomos. Com o propósito de Vitória são previstos objetivos de aprendizagem
encarar esse desafio buscamos, em língua desde o 1º ano do Ensino Fundamental, uma
estrangeira moderna, superar a concepção de vez que na Rede de Ensino há organizações
avaliação como mero instrumento de medição curriculares que preveem o ensino da Língua
da apreensão de conteúdos a fim de que esta Inglesa desde os anos iniciais. Os objetivos são
subsidie discussões acerca das dificuldades apresentados de forma longitudinal (do 1º ao 9º
e avanços dos estudantes, a partir de suas ano), observando uma progressão no processo de
produções. aprendizagem com a ideia de Iniciar, Aprofundar
e Consolidar os conhecimentos que estão
Outro aspecto sobre avaliação no ensino de língua subjacentes a cada objetivo.
estrangeira moderna é o desenvolvimento das
capacidades comunicativas (Reading, Speaking, 2. Sobre o eixo Oralidade, cabe destacar que a
Listening e Writing). De acordo com os PCNs BNCC aborda habilidades voltadas para as interações
(BRASIL, 1998). O uso de uma língua estrangeira discursivas, a compreensão e a produção oral,
parece estar mais vinculado à leitura . Isso não enfatizando, em cada ano (6º ao 9º), as capacidades
quer dizer, contudo, que o desenvolvimento das discursivas requisitadas nas interações discursivas
aulas não possa incluir outras capacidades. com os diferentes gêneros textuais como relatos
Neste documento, está expresso que “Importa, orais, entrevistas, depoimentos, narrativas, opiniões.
sobretudo, formular e implementar objetivos Traz elementos para sistematizar as funções e usos
justificáveis socialmente, realizáveis nas da língua inglesa: classroom language, convivência
condições existentes na escola, e que garantam e colaboração em aula, negociação de sentidos,
o engajamento discursivo por meio de uma persuasão. Nas Diretrizes de Vitória, as habilidades
língua estrangeira” (p. 21). O essencial é focar desse eixo são previstas, de modo geral, nos objetivos
a avaliação em relação ao que é enfatizado nos de aprendizagem dos eixos: contextos de uso da
objetivos que se constituem, nessa perspectiva, língua/compreensão oral, leitura e produção de textos.
o ponto de partida e de chegada do processo
ensino aprendizagem. 3. No eixo Leitura, na BNCC também encontramos
elementos que podem contribuir para os objetivos
148
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previstos nas Diretrizes Curriculares de Vitória, uma vez
que nessas diretrizes são situados objetivos voltados
Referências
para o trabalho dos diferentes gêneros discursivos,
seus modos de funcionamento e circulação. Nesse APPLE, Michael W. Repensando ideologia e
contexto, na BNCC são situados os gêneros textuais currículo. In: MOREIRA,
que podem ser utilizados em cada ano, com habilidades
de leitura a serem desenvolvidas no trabalho com os A. F; SILVA, T. T. Currículo, Cultura e Sociedade.10.
gêneros, campos de atuação e aspectos tipológicos. Ed. São Paulo: Cortez, 2008.
Também são previstas habilidades voltadas para o
desenvolvimento das estratégias de leitura, assim BAKHTIN, Mikhail Mikhailovitch. Os gêneros do
como nas Diretrizes de Vitória; porém, com maior discurso. In: Estética da Criação Verbal. São
detalhamento a cada ano e com a visibilidade ao uso Paulo: Martins Fontes, 2006.
do dicionário, ambientes virtuais e aspectos linguísticos
BRASIL. MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO. Base Nacional
que favorecem a produção de sentidos na leitura.
Comum Curricular. Brasília, 2016. (Versão Preliminar)
4. Sobre o eixo Escrita da BNCC, que aborda as ______. Parâmetros Curriculares Nacionais de
práticas de produção de textos em Língua Inglesa, são Língua Estrangeira. Brasília, 1998.
descritas habilidades em cada ano, situando o trabalho de
escrita de textos de diferentes gêneros e as estratégias BROWN, H. D. Teaching by principles. Englewood
necessárias (planejamento, desenvolvimento e revisão). Cliffs, N. J.: Prentice Hall/Regents, 1994.
São apresentadas capacidades que os estudantes devem
GADOTTI, M. (1984). Educação e poder: introdução
desenvolver na produção de textos da ordem do narrar,
à Pedagogia do conflito. São Paulo: Cortez.
relacionar/listar, organizar ideias, descrever fatos e
acontecimentos, planejar, descrever, argumentar, persuadir. GERALDI, João W. Portos de Passagem. São
Paulo: Martins Fontes, 2003.
5. No eixo Conhecimentos Linguísticos, a BNCC
traz unidades sobre estudo do léxico e da gramática HEIDEGGER, Martin. Ser e Tempo. Petrópolis:
com detalhamento dos objetos de conhecimento e Vozes; Bragança Paulista: Universitária São
habilidades a serem desenvolvidas em cada ano. Francisco, 2008.
Diferentemente, as Diretrizes abordam objetivos de
aprendizagem mais amplos, cabendo à escola definir KOCH, Ingedore G. Villaça. Desvendando os
os conhecimentos específicos ano a ano, numa segredos do texto. 2. ed. São Paulo: Cortez, 2003.
abordagem de progressão dos conteúdos. Nesse LIMA, Ana Paula. Ensino de Língua Estrangeira
aspecto, a BNCC pode contribuir para o delineamento para crianças: o papel do professor. Cadernos
dos Planos de Ensino, sendo necessário ressaltar de Pedagogia. Ano 2, v.2, n. 3, jan./jul, 2008.
a importância dos aspectos linguísticos serem Disponível em: <http://www.cadernosdapedagogia.
trabalhados de forma articulada ao trabalho com a ufscar.br/index.php/cp/article/viewFile/48/41>.
leitura e com a produção de textos orais e escritos. Acesso em: 25 de agosto de 2016.
6. A Dimensão Intercultural é um eixo que potencializa/ LUCKESI, Cipriano C. Avaliação da
enriquece o currículo trazendo reflexões sobre aspectos aprendizagem escolar. São Paulo: Cortez, 1995.
relativos à interação entre culturas numa perspectiva do
reconhecimento da diversidade, abordando as unidades OLIVEIRA, Admardo Serafim. Educação: redes que
temáticas: a língua inglesa no mundo e a comunicação capturam caminhos que se abrem. Vitória: Edufes, 1996.
intercultural. Pode contribuir de forma significativa na OLIVEIRA, Inês Barbosa. Tendências recentes
configuração de práticas contextualizadas, voltadas dos estudos e das práticas curriculares.
para o respeito às diferenças e reconhecimento da Disponível em: <http://www.ia.ufrrj.br/ppgea/
importância da Língua Inglesa no mundo e para os conteudo/conteudo-2009-/1SF/Tendencias_
projetos pessoais dos estudantes. praticas_curriculares.pdf> acesso em 16 de
março de 2016.
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1º 2º 3º 4º 5º 6º 7º 8º 9º
EIXOS
ORIENTAÇÕES
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM LEGENDA: METODOLÓGICAS
(I) Iniciar – (A) Aprofundar - (C) Consolidar
1. Relacionar a língua inglesa à cultura dos povos, respeitando Esses objetivos
e valorizando a diversidade cultural e sua relação com a I A A A A A A podem
A C ser
língua e a identidade. trabalhados por meio
2. Identificar a língua inglesa em diferentes contextos de de atividades que
CONTEXTOS DE USO DA LÍNGUA E COMPREENSÃO ORAL
uso cotidiano (músicas, filmes, textos e suportes variados, I A C A/C C levem os estudantes
conversação, tecnologia e turismo) a conhecerem a
cultura de outros
oralidade; ampliação de vocabulário
Contextos de uso da língua inglesa;
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CONCEITOS
EIXOS 1º 2º 3º 4º 5º 6º 7º 8º 9º ORIENTAÇÕES
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM LEGENDA: METODOLÓGICAS
(I) Iniciar – (A) Aprofundar - (C) Consolidar
15. Ler, reconhecer e compreender o uso de recursos A leitura de
linguístico-discursivos em textos escritos na Língua Inglesa textos imagéticos
que:- organizam o cotidiano, como, calendários, convites, (ícones, símbo-
receitas, regras de brincadeiras ou jogos;- apresentam los, caricaturas,
aspectos geográficos, históricos, econômicos e culturais ilustrações, etc.)
(panfletos turísticos, propagandas, mapas, etc.);- representam pode ajudar no
I A A C A/C
a tradição oral (canções, poemas, trava-línguas, adivinhas, processo de
parlendas, etc.);- circulam na esfera literária (lendas, mitos, produção de
histórias em quadrinho, etc.);- veiculam regras e códigos de sentidos dos
conduta do cotidiano nos diferentes espaços em que atua textos.
(contratos pedagógicos, regulamentos escolares, orientações
para uma vida saudável, etc.);- dentre outros. As atividades
16. Utilizar a língua inglesa em situações de comunicação que envolvem
escritos; diferentes situações de uso da linguagem; finalidades da produção de textos; revisão
151
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1º 2º ORIENTAÇÕES
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM 1º e 2º SEGMENTOS
SEG. SEG. METODOLÓGICAS
tendo-se em mente a
2- Identificar a Língua Inglesa em diferentes contextos de uso: músicas,
X X ideia de Currículo em
CONTEXTOS DE USO DA LÍNGUA E
X X
Portuguesa de uso cotidiano dos estudantes. modalidade EJA no
município de Vitória (2007)
4- Ampliar o vocabulário de Língua Inglesa de acordo com os temas
cuta.
X X e os temas geradores de
geradores estipulados por cada unidade de ensino. cada unidade de ensino a
5- Exercitar a habilidade de escuta (Listening), visando o avanço na compreensão oral. X X serem pensados a partir
6- Compreender e participar de interações orais em língua estrangeira sobre: das Unidades Conceituais:
- atividades do dia-a-dia em aula, tais como saudações, cumprimentos, Ciência; Cultura, Trabalho
despedidas, rotinas, solicitação de esclarecimento, pedidos, etc.; e Engajamento Social;
- questões de identidade, grupos de pertencimento, relações entre grupos
X X Democracia e Poder;
Gênero e Etnia.
familiares, de amigos, relações de trabalho e
- o lugar onde se vive, espaços de circulação; dentre outros.
O tema gerador irá permear
7- Conhecer e reconhecer diferentes gêneros textuais em Língua Inglesa todo o planejamento,
Contexto de produção de textos lidos em Língua Inglesa; Finali-
pelas características gráficas, suporte, organização textual, finalidade sendo fator essencial para
X X
dades da leitura, Estratégias de leitura; Gêneros textuais.
e situação de uso. Retirálos de fontes diversas como livros, revistas, a escolha dos conteúdos
panfletos, cartões-postais, agendas, calendários, receitas, sites, etc. e respectivos contextos.
8- Identificar aspectos relacionados às condições de produção de um texto A EJA caracteriza-se
lido em Língua Inglesa: por quem foi produzido, onde, para quem e para quê. X X pela heterogeneidade
das classes, sejam
9- Fazer previsões sobre o assunto de um texto em Língua Inglesa a partir do elas seriadas ou não
X X
conhecimento prévio de mundo, sem ainda ter acesso ao texto. seriadas, portanto,
10- Localizar informações escritas em Língua Inglesa em diferentes as especificidades de
textos e suportes, como por exemplo: data, local, preço, nome do produto, X X vocabulário e conteúdos
quantidade, título, origem, etc dependerá de cada
realidade.
Leitura
organizadas dentro de um
TEXTOS
17- Revisar e reescrever o próprio texto, adequando-o às finalidades propostas, contexto discursivo que
utilizandose de diferentes recursos e de conhecimentos gramaticais. X X considere os interesses
e as experiências sócio
18- Utilizar a língua inglesa em situações de comunicação cotidiana e/ou culturais dos estudantes.
X X
expressar-se oralmente a partir dos temas geradores. O trabalho com os
19- Reconhecer e nomear as letras do alfabeto em Língua Inglesa. conhecimentos linguísticos
X X
CONHECIMENTOSLINGUÍSTICOS
deve considerar a
básicos e construção de
X X
dimensão dos sentidos,
palavras em Língua Inglesa. tendo, portanto, o texto
21- Reconhecer artigos, pronomes, substantivos e adjetivos na construção como unidade de ensino
sentidos
X X da língua.
de sentidos em um texto específico.
22- Reconhecer marcas de gênero e número, advérbios, ordem das palavras
na frase, mecanismos de coesão e de coerência, conectivos, tempos,
aspectos e modos verbais, preposições, comparativos e superlativos, X
orações relativas na construção de sentidos em um texto específico.
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que assume, no contexto da educação de surdos, a Em 1880, aconteceu o II Congresso Internacional
posição de primeira língua10 para os estudantes surdos. de Surdo-Mudo, em Milão, marco significativo na
educação dos surdos, pois, a partir desse momento,
Assim, neste texto, foram retomados aspectos o método oral, conhecido como Oralismo, ganhou
históricos da educação dos surdos, conceitos e forças, sendo difundido como a melhor forma de
pressupostos metodológicos que contribuíram educação para os surdos na época e a língua
para a definição dos objetivos de aprendizagens de sinais praticamente banida em todo o mundo.
a serem iniciados, aprofundados e consolidados Por muitos anos, a abordagem oralista não foi
com os estudantes para que, no desenvolvimento questionada, mas também não apresentou avanços
da educação bilíngue, seja contemplado o direito significativos na educação de surdos.
linguístico do estudante surdo, possibilitando o
acesso ao conhecimento, à cultura e às relações Assim, por volta da década de 1960, novas
sociais, por meio de sua língua de domínio, além de pesquisas sobre as línguas de sinais voltam
respeitar sua forma diferenciada de aprendizado. a surgir. Willian Stokoe, considerado o pai da
(ALBRES; NEVES, 2013). linguística da língua de sinais americana, foi
um desses estudiosos. Na obra Sign Language
Structure, ele afirma que a língua de sinais é uma
Contexto histórico da educação de surdos língua com todas as características da língua oral.
Argumenta que, assim como a combinação de
Ao longo da história, o modo de conceber a pessoa um certo número de sons (fonemas), é possível
surda foi marcado pela “ausência” de linguagem criar um grande número de unidades dotadas
e, consequentemente, pela ideia de que essa de significado que são as palavras. Da mesma
ausência comprometia seu desenvolvimento, forma, com a combinação de um certo número
logo, sua constituição humana (CÔRTES, 2012). de unidades mínimas na dimensão gestual
Ela era estigmatizada pela sociedade, vista como (queremas) é possível produzir um grande número
imperfeita, como estranha, objeto de curiosidades, de unidades com significados (sinais), conforme
além de ser proibida de participar dos rituais de estudos de Lacerda (1998).
celebrações das igrejas.
Com esses estudos e diante dos poucos avanços
O beneditino Pedro Ponce de Leon (1510 - 1584) do Oralismo, na década de 1970, surgiu uma
deu início ao processo de educação do surdo por nova abordagem, a Comunicação Total que tem
meio da oralização, uma vez que, ao falar, o surdo como princípio a “[…] prática de usar sinais,
poderia participar dos mesmos direitos sociais dos leitura orofacial, amplificação e alfabeto digital
ouvintes. Em 1755, o criador do método alemão para fornecer inputs lingüísticos para estudantes
denominado “Oralismo puro”, Samuel Heinicke surdos, ao passo que eles podem expressar-se
desenvolveu, na Alemanha, o método em que a nas modalidades preferidas” (STEWART, apud.
fala era considerada de grande valor. Fundou uma LACERDA, 1998 p. 46). Vale ressaltar que a
escola de oralismo puro, acreditando que o processo comunicação total foi importante, pois permitiu
de fala contribuía para o desenvolvimento do surdo. que os surdos tivessem novamente contato com a
língua de sinais, proibida, até então, pelo Oralismo.
O abade Charles Michel de L’Epée (1712-1789) Nessa direção, a comunicação total também
foi precursor na história da educação dos surdos permitiu que outras pesquisas mais aprofundadas
quando reconheceu a língua de sinais como língua se estruturassem, favorecendo o surgimento de
natural e que esta é a base comunicativa e do outra abordagem, o Bilinguismo.
pensamento dos surdos, identificando-a, por meio
de uma experiência com alguns surdos carentes e Essa nova abordagem defende a ideia de que
humildes da cidade de Paris. Procurou ensiná-los, a língua de sinais é a língua natural dos surdos,
utilizando combinações da língua de sinais e da
gramática francesa, fundando, assim, a primeira
- Considerações sobre o ensino da Língua Portuguesa (L2) para os
10
escola pública para os surdos com o nome de estudantes surdos foram contempladas no texto do componente Curricular
“Instituto para Jovens Surdos e Mudos de Paris”. Língua Portuguesa.
154
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que possibilita o acesso a uma comunicação plena, consolidando nos anos 1990, especificamente em
permitindo também um desenvolvimento cognitivo, abril de 2002, outro marco significativo de grande
social compatível com sua faixa etária. Dessa forma, importância acontece na história dos surdos
contrapõe-se ao modelo oralista porque considera brasileiros, uma das conquistas mais expressivas
a língua de sinais de fundamental importância para do movimento: torna-se oficial a Língua Brasileira
a apropriação de linguagem do surdo. E contrapõe- de Sinais, passando a ser reconhecida pela Lei nº
se também à comunicação total porque defende 10.436/2002, como a língua natural dos surdos,
a língua de sinais como uma primeira língua do como meio legal de comunicação e expressão,
surdo, desconsiderando o oralismo como forma de assim como outros recursos a ela associados,
integração social desse indivíduo. caracterizando um sistema linguístico de natureza
visual-motora, com estrutura gramatical própria
No Brasil, a história da educação dos surdos para transmissão de ideias e fatos.
começa em 1855, quando Hernest Huet,
educador francês surdo, ex-aluno do “Instituto A lei foi regulamentada pelo Decreto nº 5626/2005
para Jovens Surdos e Mudos de Paris”, vem ao que garante o ensino da Libras como primeira
Brasil a convite de Dom Pedro II, que tinha um língua, a Língua Portuguesa como segunda
neto surdo e por isso um grande interesse na língua na modalidade escrita para estudantes
educação de surdos. Nesse contexto, em 26 de surdos, a organização de escolas bilíngues
setembro 1857, fundou a primeira escola para inclusivas, profissionais específicos para atuar na
surdos no Rio de Janeiro, atualmente, “Instituto educação de surdos e ainda estabelece no seu
Nacional de Educação de Surdos” (INES). Nesse Art. 15 nos incisos I e II que o ensino da Libras
período, o instituto trabalhava com a língua de para complementar o currículo comum da base
sinais, mas após a determinação do II Congresso nacional deve ser ministrado numa abordagem
de Milão, em 1911, o instituto passou a adotar a dialógica, funcional e instrumental, com atividades
abordagem oralista. No Estado do Espírito Santo, ou complementação curricular específica na
conforme estudo realizado por Rodrigues (2014), Educação Infantil e anos iniciais do Ensino
foi possível constatar que as três abordagens Fundamental; e áreas de conhecimento, como
também têm suas marcas, sendo que “[…] a disciplinas curriculares, nos anos finais do Ensino
educação/alfabetização de crianças surdas, no Fundamental, no ensino médio e na educação
Espírito Santo, nas décadas de 1950 a 1970, tinha superior (BRASIL, 2005).
por finalidade ensinar a língua nacional, por meio
da oralização, tendo em vista o projeto político e Sobre a organização do ensino para esses
econômico do país” (RODRIGUES, 2014, p.18). estudantes, o Decreto 5626/02 denomina o que
são escolas ou classes de educação bilíngue no
O estudo de Rodrigues (2014) aponta que, seu Art. 22 no §1º : São denominadas escolas
com o objetivo de inserir a pessoa surda na ou classes de educação bilíngue aquelas em
vida econômica do País, por meio da instrução que a Libras e a modalidade escrita da Língua
escolar, o então presidente da república, Portuguesa sejam línguas de instrução utilizadas
Juscelino Kubistchek, lançou a Campanha no desenvolvimento de todo o processo
para Alfabetização do Surdo Brasileiro. Essa educativo. Paralela a essa discussão, em outubro
campanha tinha por finalidade ensinar a língua de 2009, o Governo Federal instituiu as Diretrizes
cartorial do país por meio do oralismo. No Operacionais para o Atendimento Educacional
Espírito Santo, a campanha ocorreu de forma Especializado. Em novembro de 2011, foi
simultânea em cinco cidades, sendo coordenada instituído o Decreto nº 7.611 (BRASIL, 2011), que
pela professora Álpia Couto-Lenzi, que também revogou o Decreto nº 6.571 (BRASIL, 2008) e
adotou a perspectiva do oralismo. Somente vem reforçando em seu art. 1º que, no caso dos
na década de 1970 que chega ao Brasil a estudantes surdos e com deficiência auditiva,
abordagem da Comunicação Total. serão observadas as diretrizes e princípios
dispostos no Decreto 5626/05.
Após constantes movimentos de luta da
comunidade surda, iniciados nos anos 1980 e se O documento da Política Municipal de Educação
155
DIRETRIZES CURRICULARES DO ENSINO FUNDAMENTAL E DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS
Especial (PMV/SEME, 2016) dialoga com Ampliando as proposições curriculares encontradas
essas normatizações nacionais, enfatizando a nesses documentos, compreendemos que a
importância da educação bilíngue e apontando efetivação de práticas que dialoguem cada vez
que é por meio dela que os sujeitos terão acesso mais com as necessidades e especificidades dos
aos conhecimentos produzidos em outros campos estudantes surdos, assegurando-lhes a aprendizagem
do saber. Nessa direção, garantir a apropriação da da sua língua natural11, passa, necessariamente,
Libras pela criança surda, desde os primeiros anos pela compreensão das concepções de língua, de
da Educação Infantil, bem como a aprendizagem da linguagem, de sujeito e de aprendizagem.
Língua Portuguesa escrita, como segunda língua,
em um espaço onde toda a comunidade escolar Conforme explicitado nas diretrizes de 2004,
partilhe dessas duas línguas, estabelecendo a concepção sociointeracional considera que
trocas simbólicas mais significativas, ainda o sentido é dado pela pessoa falante (ou que
constitui-se um grande desafio (RODRIGUES, sinaliza) que atribui ao seu discurso o seu próprio
2009; CÔRTES, 2012). Contudo, resgatando os significado, a partir da sua posição, classe social,
caminhos já percorridos pela educação de surdos visão de mundo, crenças, culturas entre outros
e as legislações nacionais, destacamos que, ao elementos. De acordo com os pressupostos
longo dos anos, com a implementação de políticas da teoria bakthiniana, referencial no campo da
públicas no município, foram observados avanços linguagem que subsidia a área do conhecimento, os
que contribuem para direcionar o ensino da Libras sujeitos não nascem com uma língua internalizada
de maneira mais estruturada e consolidada, como e pronta. Ao contrário, ela se constitui nas relações
estaremos propondo neste documento. sociais e leva em conta o contexto histórico-
social, situando o falante das línguas orais ou
sinalizadas nas dimensões sociais e discursivas.
Perspectivas teórico-metodológicas A esse respeito, Xavier (2012, p. 41) reafirma a
constituição social da língua de sinais, ao dizer que
Vimos que ao comunicar-se em Libras o estudante
surdo utiliza uma língua visual-espacial que assume a [...] quando algo é enunciado em língua de sinais, não
posição de primeira língua. Essa perspectiva, também se trata de uma codificação que se interpõe em uma
combinação sequenciada de configurações de mão;
explicitada nas Diretrizes Curriculares para o Ensino feitas em lugares delimitados; com posicionamentos
Fundamental (PMV, 2004) no Componente de Língua (orientação) já estabelecidos; seguindo movimentos
Estrangeira, reconhece que cadenciados e potencializados por expressões
faciais e/ou corporais. Vai muito além do processo
[…] para o indivíduo ouvinte e falante, a Libras pode de codificação e decodificação de tais informações.
ser considerada como uma língua estrangeira; no Perpassa pelos sujeitos envolvidos, as constituições
entanto, para os surdos, ela se constitui na própria históricas e sociais em que estes estão imersos.
língua materna […] (p. 190).
Bakhtin (2003, p. 283) também rejeita uma
A aprendizagem dessa língua requer um olhar concepção estruturalista da língua, a partir de
cuidadoso sobre as singularidades dos sujeitos seus componentes gramaticais. Para o autor,
surdos, conforme pontuado no Documento
Orientador do Ciclo Inicial de Aprendizagem: A língua materna – sua composição vocabular
e sua estrutura gramatical – não chega ao nosso
Em relação às crianças com surdez, é pela Libras - conhecimento a partir do dicionário e gramática,
primeira língua- que elas melhor se comunicam, sig- mas de enunciações concretas [...] as formas
nificam o mundo e realizam enunciações. Interagindo da língua e as formas típicas dos enunciados [...]
com o mundo de representações, elas tecem suas chegam à nossa experiência e à nossa consciência
próprias significações, e, assim se constituem sujeitos em conjunto e estreitamente vinculadas.
leitores e produtores de textos. Por meio da Libras, as
crianças com surdez se apropriam dos conhecimen-
tos, da Língua Portuguesa, considerada nesse sen- 11
- Segundo Quadros e Karnopp (2004, p. 30) língua natural é [...] uma
tido, segunda língua, bem como dos conhecimentos realização específica da faculdade de linguagem que se dicotomiza em um
das demais áreas do saber (PMV, 2012, p. 35). sistema abstrato de regras finitas, as quais permitem a produção de um
número ilimitado de frases. Além disso, a utilização efetiva desse sistema, com
fim social, permite a comunicação entre os seus usuários.
156
DIRETRIZES CURRICULARES DO ENSINO FUNDAMENTAL E DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS
formativa. Elas se apresentam tão complexas
e expressivas quanto às línguas orais com
organização gramatical própria. Cada país tem
sua própria língua de sinais, descaracterizando
assim, seu caráter universal.
159
DIRETRIZES CURRICULARES DO ENSINO FUNDAMENTAL E DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS
icônicos e os sinais arbitrários. Na Libras muitos Compreender e analisar a Libras pelo viés linguístico
sinais se assemelham à coisa representada, é possibilitar ao indivíduo Surdo uma educação de
qualidade, especificamente, em sua língua de sinais,
não significando assim a obrigatoriedade de
pois ao (re)conhecer sua língua é compreendê-lo
estabelecer essa relação. Podemos então dizer melhor, é acima de tudo compreender que a Libras
que os sinais icônicos fazem alusão à imagem da é a real possibilidade de interação e inserção do
coisa ou ser representado. Surdo na sociedade (LIMA; CRUZ, 2014, p. 17).
CONCEITOS
1º 2º 3º 4º 5º 6º 7º 8º 9º
EIXOS
ORIENTAÇÕES
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM LEGENDA: (I) Iniciar - (A) Aprofundar - METODOLÓGICAS
(C) Consolidar - (R) Retomar
Identidade cultural; História da língua de sinais; Usos cotidia- 1. Compreender as diferenças linguísticas Eixo 1
entre famílias constituídas de ouvintes e
ASPECTOS CULTURAIS, DE IDENTIDADE E COMPREENSÃO DO
I A A A C R/C C
contextos. O processo de intervenção
A expressão facial na linguagem de sinais; Coesão textual e uso da gramática na Libras;
163
DIRETRIZES CURRICULARES DO ENSINO FUNDAMENTAL E DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS
ORIENTAÇÕES
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM LEGENDA: (I) Iniciar - (A) Aprofundar - METODOLÓGICAS
(C) Consolidar - (R) Retomar
13. Reconhecer e utilizar a marcação Eixo 2
Leitura e produção de textos; Finalidades da leitura e da produção de textos; Datilologia; Iconicidade e arbitrariedade;
Parâmetros da Libras; Marcadores temporais e espaciais; Classificadores; A expressão facial na linguagem de sinais;
164
DIRETRIZES CURRICULARES DO ENSINO FUNDAMENTAL E DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS
CONCEITOS
1º 2º ORIENTAÇÕES
EIXOS
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM 1º e 2º SEGMENTOS
SEG. SEG METODOLÓGICAS
X X estratégias como:
de texto argumentativo/opinião. teatro; rodas de conversa; contextualização
de situações vividas; pesquisa de campo;
8. Distinguir e utilizar níveis de formalidade adequados às diversas sessão de filmes; leitura visual de imagem
X X
situações de comunicação.gestos e comportamentos do cotidiano. e símbolos; uso de tecnologia assistivas e
jogos eletrônicos;
9. Utilizar os classificadores para ampliar os sentidos dos textos. X X
Conhecer as produções científicas
10. Conhecer os sinais icônicos e arbitrários, por meio de situações relacionadas com a Língua de Sinais
contribuindo para a compreensão da
práticas.espaço cênico: cenário, figurino, maquiagem, iluminação, X X sua condição bilíngue e entendendo a
efeitos sonoros, etc. importância da Libras como língua natural
dos surdos.
11. Identificar e fazer uso de homônímos e polissemia em Libras. X X
tica na Libras;
165
DIRETRIZES CURRICULARES DO ENSINO FUNDAMENTAL E DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS
2 Área de Matemática
Matemática
Caracterização: conceitos e princípios diferentes culturas, caracterizando-se como “[...]
uma ciência exata, mas apenas na medida em
As reflexões aqui apresentadas, produzidas du- que procura deduzir conclusões seguras a partir
rante o processo de atualização das Diretrizes de premissas bem definidas” (ALBUQUERQUE et
Curriculares do Ensino Fundamental em conjunto al, 2006, p. 5). Sobre a flexibilidade desse campo
com os profissionais da rede, partem do referen- do saber, o autor explica que
cial curricular em vigência na rede de ensino, Dire-
[...] a matemática envolve simultaneamente
trizes Curriculares do Ensino Fundamental (PMV, diversas faculdades humanas que podem parecer
2004), em diálogo com os documentos curricula- incompatíveis. Por um lado envolve imaginação
res nacionais com a produção acadêmica de pes- e liberdade criativa, quer na procura de novos
quisadores da área. problemas, quer na procura de soluções. Por outro
lado estrutura-se com base na força dos raciocínios
e das demonstrações, podendo dar lugar a uma
formalização de grande beleza (ALBUQUERQUE et
al, 2006, p. 5).
167
DIRETRIZES CURRICULARES DO ENSINO FUNDAMENTAL E DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS
Isso pressupõe um trabalho com a matemática O documento de 2004, assim como vários
utilizando linguagem e metodologia adequadas, pesquisadores em Educação Matemática, afirma
de forma crítica e construtiva e, sobretudo, que que todo o ensino de Matemática deveria ter como
oportunize a todos os estudantes os mesmos fim último a resolução de situações problema
direitos de aprendizagem. Desse modo, o currículo (SANTOSWAGNER, 2008; SMOLE; DINIZ,
de Matemática deve colaborar nas respostas aos 2001). Assim sendo, a Matemática que queremos
problemas sociais, contribuindo para a discussão que nossos estudantes vivenciem nos espaços
de temas relativos à saúde, questões étnico- escolares do município de Vitória está pautada
raciais, de gênero, ambientais e outras; interagindo no que Gomez Chacón (2003, p. 65) chama de
assim com as diferentes áreas de conhecimento, visão dinâmica ou “[...] campo de criação humana
caracterizando-se potencialmente como uma área em contínua expansão, no qual se criam modelos
em que é possível produzir a transversalidade no e procedimentos que são aprimorados como
currículo. E isso deve ser percebido pelo estudante conhecimentos. A Matemática é algo aberto e
em um processo educativo que privilegie as seus resultados permanecem abertos à revisão”.
conexões. Isso não significa que esteja ausente a visão
utilitarista da técnica e do formalismo como
O ensino e aprendizagem da Matemática, de ferramentas para o desenvolvimento de outras
acordo com D’Ambrósio (1993, p. 16-19), justifica- ciências; e a visão platônica, em que o estudante é
se por ela ser útil para a vida e para o trabalho, apresentado à Matemática abstrata e bela pela sua
por ser parte integrante de nossas raízes culturais, própria natureza. Mas estas últimas devem estar
por sua própria universalidade e por sua beleza presentes para encantar e estimular os estudantes
intrínseca como construção lógica e formal. Os a buscarem um conhecimento aprofundado da
conteúdos matemáticos fornecem ferramentas disciplina, agindo como protagonistas de sua
necessárias que fundamentam sua posição própria aprendizagem em um ambiente facilitador.
política, social e cultural com criticidade. Além
disso, as questões e situações práticas vinculadas De acordo com essa visão, no processo de
aos temas da diversidade fornecem os contextos aprendizagem é necessário assegurar o
que possibilitam explorar, de modo significativo, desenvolvimento dos seguintes objetivos:
conceitos e procedimentos matemáticos. Logo,
a Matemática escolar auxilia o desenvolvimento • Identificar os conhecimentos matemáticos
de autoestima e autoconfiança dos sujeitos, como meio para compreender e transformar o
considerando-os como seres capazes de produzir mundo à sua volta;
conhecimentos e saberes em consonância com os
princípios éticos, políticos e estéticos. • Perceber o caráter de jogo intelectual,
característico da Matemática, como aspecto
que estimula o interesse, a curiosidade, o
Objetivos gerais espírito de investigação e o desenvolvimento
da capacidade para resolver problemas;
De acordo com o documento das Diretrizes
Curriculares do Ensino Fundamental de Vitória • Fazer observações sistemáticas de aspectos
(PMV, 2004, p. 262) quantitativos e qualitativos do ponto de vista do
conhecimento, estabelecendo o maior número
[…] é indispensável que o currículo de matemática possível de relações entre eles, utilizando para
seja estruturado de tal forma que a disciplina isso o conhecimento matemático (aritmético,
possa contribuir para a formação de capacidades
intelectuais, na estruturação do pensamento,
geométrico, métrico, algébrico, estatístico,
na agilização do raciocínio lógico do aluno, na combinatório, probabilístico, etc.);
sua aplicação a problemas, situações da vida e
atividades do mundo do trabalho e no apoio à • Selecionar dados, organizando-os de forma
construção de conhecimentos em outras áreas a produzir informações relevantes para
curriculares.
interpretar situações criticamente;
168
DIRETRIZES CURRICULARES DO ENSINO FUNDAMENTAL E DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS
vários significados e propriedades das operações
• Resolver situações-problema, sabendo validar fundamentais e de se ter o domínio dos seus
estratégias e resultados desenvolvendo formas algoritmos. Logo, é o eixo que tem como propósito
de raciocínio e processos, como dedução, de ensino o desenvolvimento do sentido de
indução, intuição, analogia e estimativa, número, a compreensão deles e das operações,
utilizando conceitos e procedimentos e a capacidade de resolver situações-problema
matemáticos, bem como instrumentos com cálculos exatos e aproximados, mentais e
tecnológicos disponíveis; escritos. Também se espera que o educando
possa perceber a existência de diversos tipos
• Comunicar-se matematicamente descrevendo, de números (naturais, negativos, racionais e
representando e apresentando resultados com irracionais) e seus diferentes significados. De
precisão, conjecturando com a linguagem oral acordo com Spinillo e Magina (2004, p. 21-22),
e escrita, estabelecendo relações entre elas e
diferentes representações matemáticas; O sentido de número, ou sentido numérico, pode ser
entendido como uma habilidade que permite que
o indivíduo lide de forma bem sucedida e flexível
• Estabelecer conexões entre temas com os vários recursos do cotidiano que envolve
matemáticos dos diferentes eixos e entre a matemática. É uma boa intuição sobre números,
estes e os conhecimentos de outras áreas sobre seus diferentes significados, seus usos e
curriculares; funções. Uma intenção de atribuir significado para
as situações numéricas. É algo que se desenvolve
gradualmente sem se limitar ao uso de algoritmos
• Sentir-se seguro da própria capacidade tradicionais ou a formalização própria do contexto
de construir conhecimentos matemáticos, escolar.
desenvolvendo a autoestima e a perseverança
na busca de soluções; Sendo assim, o eixo números e operações envolve o
conhecimento dos diferentes conjuntos numéricos,
• Adquirir compreensão progressiva da as operações e as suas aplicações à resolução
natureza da Matemática, dos seus processos de problemas e as relações existentes entre os
e características como ciência, e apreciar a conjuntos e suas propriedades e generalizações.
sua beleza;
b) Álgebra
• Compreender e apreciar o poder das
aplicações da Matemática, da sua relevância “O estudo da Álgebra constitui um espaço bastante
na sociedade contemporânea e do seu papel significativo para que o aluno desenvolva e exercite
histórico no progresso da civilização; sua capacidade de abstração e generalização, além
de lhe possibilitar a aquisição de uma poderosa
• Desenvolver, na medida das suas ferramenta para resolver problemas” (BRASIL, 1998,
necessidades e interesses, capacidades p. 116). Suas dimensões são Aritmética Generalizada,
matemáticas para a vida cotidiana, para o Aritmética Funcional, Equações e Estrutural.
exercício de uma cidadania plena e adquirir
uma formação profissional. Álgebra, portanto, tem por função, entre
outras, fazer generalizações perceptíveis de
regularidades, que podem levar à criação de
Eixos organizadores do ensino modelos matemáticos para situações diversas,
por meio de equações, inequações, funções,
a) Números e operações expressões, cálculos e outros. Essa capacidade
de traduzir e escrever simbolicamente situações-
No mundo atual, as atividades matemáticas problema do cotidiano, ou não, envolvendo as
requerem níveis dos mais simples aos mais mais diversas áreas do conhecimento, deve ser
complexos da capacidade de contar, comparar, desenvolvida gradativamente para se chegar
quantificar e realizar codificações diversas. ao domínio da linguagem e dos procedimentos
Também se faz necessária a compreensão dos algébricos.
169
DIRETRIZES CURRICULARES DO ENSINO FUNDAMENTAL E DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS
Sendo assim, pensamos que não há passagem como compreender o conceito de medidas e seus
do pensamento aritmético para o algébrico, mas diversos sentidos, os processos de medição e
ambos se desenvolvem de forma imbricada e a necessidade de adoção de unidades-padrão
continuada. Os procedimentos algébricos mantêm de medidas, questões de diferenciação entre
forte relação com os demais eixos da Matemática grandezas, medidas e unidades de medidas.
e também com os de outras áreas para as quais a Caracteriza-se por sua importância social devido a
Matemática é ferramenta. sua aplicabilidade e pela possibilidade de variadas
conexões com outras áreas do conhecimento,
c) Espaço e forma uma vez que, as grandezas e as medidas
estão presentes em quase todas as atividades
O pensamento geométrico surgiu da interação realizadas em nosso cotidiano. O fato é que todos
espacial dos objetos com o mundo físico,
desenvolvendo-se por meio das competências
de localização, de visualização, representação
e de construção de figuras geométricas. Esses
conceitos constituem parte importante do currículo
de Matemática, pois, por meio deles, o estudante
desenvolve um tipo especial de pensamento que
lhe permite compreender, descrever, representar
e localizar de forma organizada o mundo em que
vive.
Figura 51 - Uso de material concreto no ensino da matemática
O estudo da Geometria é um campo fértil - EMEF SC
para trabalhar com situações-problema, com
noções geométricas que contribuem para a
aprendizagem de números e medidas, além de e) Tratamento da informação
Álgebra, estimulando o estudante a observar e
perceber semelhanças e diferenças e identificar É de fundamental importância, tendo em vista
regularidades. Seu estudo deve ser iniciado desde a grande quantidade de informações que se
os primeiros anos de escolaridade, assim como o apresentam no nosso cotidiano, que os estudantes
estudo dos demais eixos, para construir a base tenham acesso ao estudo relativo às noções de
que permitirá a compreensão de que a Geometria estatística e de probabilidade. O pensamento
está apoiada sobre alguns postulados, axiomas, estocástico permite o desenvolvimento do sentido
definições e teoremas, sendo que essas definições de número, exercitando o princípio aditivo e
e postulados são usados para demonstrar a multiplicativo. Evidentemente, o que se pretende
validade de cada teorema, inclusive fornece a não é o desenvolvimento de um trabalho baseado
base para a compreensão de que alguns desses na definição de termos ou de fórmulas envolvendo
objetos são aceitos sem demonstração. tais assuntos. No estudo deste eixo, a finalidade é
fazer com que o estudante construa procedimentos
É importante salientarmos, no entanto, que para coletar, organizar, comunicar dados,
pesquisas já apontam que os estudantes da utilizando tabelas, gráficos e representações, e
educação básica precisam compreender mais calcule algumas medidas estatísticas como média,
do que essa estrutura, pois a construção do mediana e moda, com o objetivo de fornecer novos
pensamento geométrico não é tão linear e simples. elementos para interpretar dados estatísticos.
Precisa de visualização, análise de propriedades, Pretende-se que o estudante compreenda que
experimentação, generalização e abstração. muitos dos acontecimentos do cotidiano são de
natureza aleatória e que se podem identificar
d) Grandezas e Medidas possíveis resultados e possibilidades acerca
deles, que lide com situações que envolvam
Propicia aos estudantes conhecer aspectos diferentes tipos de agrupamentos que possibilitem
históricos da construção do conhecimento, bem o desenvolvimento do raciocínio combinatório e a
170
DIRETRIZES CURRICULARES DO ENSINO FUNDAMENTAL E DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS
compreensão do princípio multiplicativo para sua salas de aula; a ideia de linearidade que impede a
aplicação no cálculo de probabilidades (BRASIL, percepção de campos de conceitos; ensinar cálculos
1998, p. 48-49). para depois explorá-los em situações-problema,
sem dar margem à investigação e sem relacionar
Assim sendo, com o objetivo de favorecer conteúdos com outras áreas do saber. Nesse tipo de
a atribuição de significados aos conteúdos prática, a Matemática tende a ser vista como uma
matemáticos, não podemos abrir mão da disciplina em que a memorização de procedimentos
contextualização e interdisciplinaridade, da é essencial, em detrimento da compreensão.
importância de articular Matemática com as várias
práticas e necessidades sociais, assim como as É hora de nos perguntarmos por que o estudante
inter-relações desta com outras áreas de saber passa a se sentir incapaz de aprendê-la, na
científico ou tecnológico. medida em que avança nos anos escolares? E
quais seriam as alternativas metodológicas que
apontaríamos para escapar dessa realidade?
Perspectivas teórico-metodológicas
171
DIRETRIZES CURRICULARES DO ENSINO FUNDAMENTAL E DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS
sucesso, e, principalmente, apoio. “O professor a) Resolução de situações-problema em seus
precisa ter entusiasmo e prazer em compartilhar o diversos contextos
que sabe com o aluno. Em contrapartida, o aluno
precisa desejar aprender” (SANTOS, 1997, p. 11). Tradicionalmente, a resolução de problemas tem
Sabemos que, no ambiente escolar, vários fatores sido explorada na escola como forma de aplicação
funcionam como entraves nessa proposição, mas de conhecimentos de cálculos algorítmicos ou
é preciso ter consciência da importância que a exercícios anteriormente adquiridos. Os próprios
motivação tem para que seja constantemente livros didáticos, às vezes, trazem essa atividade
buscada e despertada por todos os segmentos em sequências, após o exercício das operações.
envolvidos. O ambiente escolar deve ser Esse tipo de procedimento dispensa a criação, o
propício para que o estudante e a professora se raciocínio próprio e a investigação em Matemática,
sintam motivados intrínseca e extrinsecamente. porque ao resolver a primeira situação, o
O estudante precisa ter ação ativa em aula e estudante já sabe como resolver as subsequentes.
querer ser responsável por seu processo de Defendemos a resolução de problemas como
aprendizagem; e a professora precisa ouvi-lo para a que toma a situação matemática como ponto
compreender a sua maneira de pensar ao resolver de partida em que o estudante compreenda seu
atividades propostas para, a partir daí, mediar o significado. Essa orientação coaduna com o que
processo de aprendizagem esclarecendo ideias já diziam os Parâmetros Curriculares Nacionais
que estão confusas, a fim de que os conceitos (PCNs) em que resumem o recurso à resolução
possam ser corretamente construídos. de problemas da seguinte forma:
172
DIRETRIZES CURRICULARES DO ENSINO FUNDAMENTAL E DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS
O aluno não constrói um conceito em resposta a que passarão a fazer mais sentido para o
um problema, mas constrói um campo de conceitos estudante. Além disso, oportuniza a pesquisa,
que tomam sentido num campo de problemas.
aguça a curiosidade que leva à investigação.
Um conceito matemático se constrói articulado
com outros conceitos, por meio de uma série de Os saberes matemáticos são somente aqueles
retificações e generalizações; veiculados pelo saber hegemônico? Que tipos de
conhecimentos matemáticos são remanescentes
A resolução de problemas não é uma atividade para de outros continentes como Ásia, África e América
ser desenvolvida em paralelo ou como aplicação PréColombiana? Que saberes matemáticos foram
da aprendizagem, mas uma orientação para a
aprendizagem, pois proporciona o contexto em
usurpados desses continentes e vendidos ao
que se pode apreender conceitos, procedimentos e mundo como se fossem eurocêntricos? A pesquisa
atitudes matemáticas (BRASIL, 1998, p. 33). histórica oportuniza a leitura, a escrita e as novas
compreensões sobre o conteúdo desta área. A
Sendo assim, destacamos a importância História da Matemática pode ser um recurso para
do docente como mediador do processo de ir além de um item a mais a ser incorporado ao rol
ensino aprendizagem, cabendo a ele despertar de conteúdos, como por exemplo, a apresentação
o estudante ao mundo de possibilidades na de fatos ou biografias de matemáticos famosos
resolução dos problemas. (HOFFMAN, 2012).
173
DIRETRIZES CURRICULARES DO ENSINO FUNDAMENTAL E DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS
Cabe-nos pensar em como o computador e seus ensinar conteúdos e, ao mesmo tempo, sem deixar
ambientes virtuais, a calculadora e até o celular que se transforme em uma atividade em que se
podem se transformar em aliados no ensino utiliza o jogo pelo jogo. Pesquisas apontam a sua
e aprendizagem, dado o seu caráter lógico- importância no desenvolvimento da aprendizagem
matemático, favorecendo o desenvolvimento de conceitos, desde que se constitua uma prática
cognitivo dos estudantes, principalmente, na articulada em sequências de atividades com
medida em que permitem um trabalho que objetivos definidos (MUNIZ, 2010; BRASIL/PNAIC,
obedece a distintos ritmos de aprendizagem. O 2014). Podem ser bem explorados, utilizando-
uso dessas ferramentas pode tornar o estudante se a tecnologia de informação ou elaborados
mais autônomo, fazendo com que aprenda com a partir de material simples em que se envolve
seus próprios erros, pode permitir a interação entre o próprio estudante em sua construção. São
seus pares para que os conhecimentos de um e oportunidades de fazer conexões com as outras
do outro se agreguem e se ampliem na medida em áreas, favorecendo o raciocínio lógico matemático,
que ele reconstrói e internaliza conhecimentos, a leitura, a escrita e outros, possibilitando, assim,
conforme afirma Bianchi (2003, p. 2): o desenvolvimento de várias habilidades. “No
jogo, mediante a articulação entre o conhecido e
O computador deve ser visto como um recurso didático o imaginado, desenvolve-se o autoconhecimento
que traz uma gama enorme de possibilidades ao
processo ensino-aprendizagem de Matemática. Não se
— até onde se pode chegar — e o conhecimento
deve perder de vista que seu caráter lógico-matemático dos outros — o que se pode esperar e em que
pode ser um bom aliado do desenvolvimento circunstâncias” (BRASIL, 1997, p. 35).
cognitivo dos alunos, por permitir distintos ritmos
de aprendizagem, por constituir-se fonte de Durante o jogo, os estudantes aprendem a se
conhecimento e aprendizagem, uma ferramenta para
comunicar, a argumentar defendendo estratégias,
o desenvolvimento de habilidades, por possibilitar que
os educandos possam aprender a partir de seus erros, a lidar com ganhos e perdas, a respeitar regras
junto com outras crianças, trocando e comparando. e criar novas regras ou modificá-las, tornando-
se mais seguros e confiantes. Ao utilizarem
O acesso a calculadoras e computadores – e convenções e regras que serão empregadas no
outros tipos de tecnologias – é algo comum e processo de ensino aprendizagem, adquirem
frequente na vida cotidiana da população e nossos uma forma de compreensão que favorece
estudantes estão inseridos nesse meio. Uma sua integração no mundo social complexo e
calculadora pode ser vista como uma ferramenta proporciona as primeiras aproximações com
tecnológica motivadora na realização de tarefas, futuras teorizações, independente da idade que o
assim como o celular e o computador que também estudante tenha. Jogar é uma atividade inerente ao
podem ser instrumentos poderosos que trazem ser humano e essencial ao seu desenvolvimento.
várias possibilidades ao processo de ensino
aprendizagem da Matemática. Atividades com jogos podem ser entendidas
também como atividades de resolução de
Logo, é preciso a mudança de postura dos problemas, na medida em que o estudante utiliza
educadores resistentes a essas tecnologias, e potencializa habilidades para traçar estratégias,
quebrar a barreira entre elas e a sala de aula, buscar diferentes soluções, fazer simulações,
tornando-as algo simples, no cotidiano na vida estruturar o pensamento, criar e decidir regras,
escolar do estudante, independentemente de sua fazer análise de certo ou errado, entre outros,
idade e série, respeitando suas especificidades e desenvolvendo competências necessárias para
a diversidade cultural presente em cada indivíduo. aprendizagem, não só, mas principalmente da
Matemática. Moura (1992, p. 47) afirma que
d) Jogos e materiais manipulativos
O jogo para ensinar matemática deve cumprir o
papel de auxiliar no ensino do conteúdo, propiciar a
O maior atrativo do jogo é o seu caráter lúdico, é a aquisição de habilidades, permitir o desenvolvimento
sua não obrigatoriedade. Mas ainda é um desafio operatório do sujeito e, mais, estar perfeitamente
para o educador levar o jogo para a sala de aula localizado no processo que leva a criança do
sem deixar que se transforme em um pretexto para conhecimento primeiro ao conhecimento elaborado.
174
DIRETRIZES CURRICULARES DO ENSINO FUNDAMENTAL E DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS
Sendo assim, observamos que o jogo, como um e motivado a solucionar problemas pelo desafio e
recurso no processo educativo é de grande valia, curiosidade da situação vivenciada. Além de ser
quando utilizado de forma correta, com objetivos uma tendência que proporciona uma articulação
pré-estabelecidos e inseridos no planejamento entre os conceitos matemáticos e a realidade, a
da aula pelo docente com expectativas e modelagem matemática pode ser vista, também,
intencionalidade, configurando-se um instrumento como uma forma de valorização do pensamento
indispensável na construção de saberes, podendo crítico e reflexivo do estudante. Almeida (2003, p.
auxiliar tanto os docentes em práticas mais 2) diz que:
dinâmicas para suas aulas quanto os estudantes
que assim poderão atuar como sujeitos na Neste sentido podemos argumentar que o ensino
construção de seus conhecimentos, com mais da matemática, numa perspectiva crítica, não está
centrado em ensinar os alunos a desenvolver e
autonomia de seus saberes. criar modelos matemáticos, mas além disso, é
importante que o aluno possa interpretar e agir em
e) Modelagem matemática situações sociais estruturadas ou influenciadas por
estes modelos.
A modelagem matemática tem diversas
concepções, que giram em torno de uma D’Ambrósio (1986, p. 17), na mesma linha,
metodologia que propicie ao estudante criar um argumenta que “[...] através da modelagem
modelo de abstração e generalização, com a matemática o aluno se torna mais consciente da
finalidade de solucionar uma questão real de utilidade da matemática para resolver e analisar
uma situação-problema. Para Burak (1992, p. 6), problemas do dia a dia”.
a Modelagem Matemática pode ser concebida
como “[...] um conjunto de procedimentos cujo O respeito à diversidade cultural e às interações
objetivo é construir um paralelo para tentar sociais que podem ser estabelecidas por meio da
explicar, matematicamente, os fenômenos Matemática prepara o estudante para enfrentar
presentes no cotidiano do ser humano, ajudando-o sua realidade, por meio de uma participação ativa
a fazer predições e tomar decisões”. Já Barbosa, na sala de aula e no grupo social em que está
Caldeira e Araújo (2007, p. 31) afirmam que a inserido. Esses fatores podem ser explorados
Modelagem Matemática pode garantir “[...] um com o auxílio da modelagem, permitindo ao
ambiente de aprendizagem no qual os estudantes estudante problematizar, elaborar suas próprias
são convidados a problematizar e investigar, por perguntas, chegar a soluções e conclusões,
meio da Matemática, situações com referência na partindo da realidade que ele vivencia. Essa
realidade”. Matemática contextualizada sócio e culturalmente,
proporcionará múltiplas alternativas, levando-o
a se desenvolver na lógica, na criatividade,
no raciocínio, a aprender os conteúdos e a
construir modelos matemáticos, não só com os
recursos “formais” que os conceitos matemáticos
proporcionam, mas usando-os na compreensão
da dinâmica da realidade social, histórica e cultural
da qual faz parte.
f) Etnomatemática
175
DIRETRIZES CURRICULARES DO ENSINO FUNDAMENTAL E DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS
compreensão, aprendizagem, de acordo com a Basear-se em propostas que valorizem o contexto
realidade de diferentes sociedades e culturas; sociocultural do educando, partindo de sua
realidade, de indagações sobre ela, para a partir
descrevendo práticas matemáticas de grupos
daí definir o conteúdo a ser trabalhado, bem como o
culturais, a partir da análise das relações entre procedimento que deverá considerar a matemática
conhecimento matemático e contexto cultural. como uma das formas de leitura de mundo
É o processo de conhecer, explicar e entender (MONTEIRO; POMPEU JR., 2001, p. 38).
os diversos fazeres e saberes das pessoas em
seus contextos socioculturais. É a Matemática A matemática escolar precisa estar relacionada
desenvolvida e praticada por povos e grupos com as diferentes ações e fazeres sociais e
culturais, sejam negros, brancos, índios, culturais, mas deve haver um cuidado com a
trabalhadores, homens, mulheres, crianças forma como isto deve acontecer, pois, se estudos
e outros, numa proposta política de inclusão indicam que existe um respeito ao modo de fazer
social, pautada na ética, que visa recuperar a matemática do outro, precisamos também saber
dignidade cultural do ser humano, respeitando ao certo como abordar isso em sala de aula.
suas especificidades e as diversidades
culturais. Na sociedade em que vivemos e com as
problemáticas enfrentadas em sala de aula,
Logo, cabe à escola levá-la para a sala de aula e torna-se fundamental buscarmos propostas
trabalhar junto com a matemática que os e metodologias curriculares que venham
estudantes trazem, proporcionando situações acompanhar os avanços tecnológicos, bem como
de aprendizagem mais significativas e próximas reafirmar a escola como espaço de construção
dos educandos. D’Ambrósio (2005, p. 99), como e desenvolvimento de saberes e competências
o precursor e idealizador mundial desta corrente imprescindíveis para a constituição da cidadania.
teórica, afirma que a etnomatemática A busca e adoção de novas metodologias,
utilizando artefatos culturais e atividades práticas,
Tem seu comportamento alimentado pela aquisição permitem que a diversidade se manifeste na sala
de conhecimento, de fazer(es) e de saber(es) que de aula, proporcionando a construção por parte do
lhes permitam sobreviver e transcender, através de
maneiras, de modos, de técnicas, de artes (techné
estudante, de um conhecimento mais significativo,
ou ‘ticas’) de explicar, de conhecer, de entender, de estabelecendo uma relação mais consistente e
lidar com, de conviver com (mátema) a realidade construtiva entre teoria e prática da matemática.
natural e sociocultural (etno) na qual ele, homem,
está inserido. Concluindo, todas as práticas pedagógicas
apresentadas direcionam para intervenções
Sendo assim, a etnomatemática traz uma proposta pedagógicas no ensino de matemática no sentido
educacional de valorização da matemática de fazer que:
vivenciada pelos diferentes povos, culturas e
classes sociais, no meio em que estão inseridos, • Os estudantes aprendam por experiência que a
estimulando o desenvolvimento da criatividade, matemática faz sentido;
a partir das diferentes formas de relações
interculturais, sem inferiorizá-las. Não apenas por • Os estudantes acreditem que eles são capazes de
curiosidade histórica, mas como reconhecimento dar significado à matemática;
legítimo de saberes de povos que, ao longo dos
séculos, desenvolvem sua própria matemática • Os docentes deixem de ensinar simplesmente
de acordo com suas necessidades. Assim, são através de aulas expositivas e deixem os
necessárias ações pedagógicas que levem em estudantes atribuírem significados à Matemática
conta o contexto sociocultural dos educandos, que eles estão aprendendo.
sua realidade social, necessidades e aspirações
pessoais. A matemática presente nessas • Os estudantes entendam que a matemática
realidades não pode ser ignorada e essas ações também é composta por abstrações e, por isso, tem
devem aplicações no cotidiano. Que só tem significância
pelo conhecimento cientifico produzido.
176
DIRETRIZES CURRICULARES DO ENSINO FUNDAMENTAL E DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS
A modernização do ensino da Matemática terá de desencadeadores de bloqueios e aversão pela
ser feita não só quanto a programas, mas também disciplina (HOFFMAN, 2012).
quanto a métodos de ensino. De acordo com a
Base Nacional Comum Curricular (2016, p. 132): Moreira (1999) enumera três tipos de signos:
indicadores, icônicos e simbólicos. Nesses signos,
O ensino de Matemática visa a uma compreensão
abrangente do mundo e das práticas sociais,
o mais importante é a palavra sugerida por eles.
[...] que precisa ser sustentada pela capacidade A linguagem escrita, falada e matemática são
de argumentação, segurança para lidar com sistemas de signos simbólicos e o uso desse
problemas e desafios de origens diversas. Por isso, aparato é que vai possibilitar o desenvolvimento
é fundamental que o ensino seja contextualizado do ser criança, jovem ou adulto. Quanto mais o
e interdisciplinar, mas que, ao mesmo tempo,
indivíduo usar esses signos, mais aprimorará a sua
se persiga o desenvolvimento da capacidade de
abstrair, de perceber o que pode ser generalizado capacidade psicológica. Essa teoria levada para
para outros contextos, de usar a imaginação. a aprendizagem matemática significa possibilitar
a interação social, que conduz à construção de
Sendo assim, consideramos que algumas significados socialmente compartilhados. Isso
mudanças nesse sentido podem ser conquistadas pressupõe deixar que os estudantes expressem o
com posturas relativamente simples que que pensam, o que sabem e o que não sabem.
tentaremos sugerir a seguir. É durante esses momentos que se negociam
significados, possibilitando que os conceitos
• Interação professora/estudante/conteúdo espontâneos dos estudantes se aproximem dos
conceitos científicos; pois o aprendiz traz suas
Oportunizar que o estudante interaja com seus pares ideias e certifica-se das compreensões que
de forma cooperativa, trabalhando coletivamente construiu nos momentos de interlocução oral,
na busca de soluções para problemas propostos, validando-as ou refazendo-as; o que equivale
identificando aspectos consensuais ou não na
discussão de um assunto, respeitando o modo
a dizer que há um “intercâmbio de significados”
de pensar dos colegas e aprendendo com eles nessa interação (MOREIRA, 1999, p. 111).
(BRASIL/MEC, 1997, p. 37).
• Interdisciplinaridade
Os Parâmetros Curriculares Nacionais (BRASIL,
1997) são muito atuais quando incentivam que As atividades matemáticas no mundo atual
a sala de aula de Matemática seja um ambiente requerem, desde níveis básicos aos mais
de trocas em que se busque a solução de complexos, capacidades e competências para
problemas ou exercícios, dialogando com seus problematizar e solucionar diversas situações-
pares. Considerando que a formação do sujeito problema da vivência do indivíduo e da carreira
se estabelece na mediação da sala de aula, é no profissional que se espera alcançar. Assim, torna-
ambiente, por excelência, em que se devem criar se imprescindível a articulação da Matemática
condições propícias para que o processo ensino com seus diversos eixos, com as práticas e
e aprendizagem ocorra. É na discursividade necessidades sociais, assim como com as outras
que a matemática passa a fazer sentido para o áreas do saber científico ou tecnológico, com o
estudante, porque fará a conexão com as outras objetivo de favorecer a atribuição de significados
áreas do saber. aos conteúdos de forma contextualizada. Segundo
as Diretrizes Municipais de Educação de Vitória
Os conflitos cognitivos que surgem quando se (PMV, 2004), os processos de formação do sujeito
oportuniza a discussão em aulas de Matemática em Matemática devem dar condições ao estudante
mediadas pela professora, podem levar o de perceber sua integração com outras áreas do
estudante à metacognição, isto é, à capacidade de conhecimento, e entendê-la como uma atividade
pensar sobre o próprio pensamento. Dessa forma, social, proporcionando as condições necessárias
reestruturam-se conceitos em formação, evitando para que ele possa desenvolver estudos de
obstáculos cognitivos. Estes se constituem forma mais autônoma que lhe possibilitem maior
equívocos que podem travar aprendizagens capacidade de analisar, criticar e agir para
subsequentes e muitas vezes servir como modificar a realidade na qual está inserido.
177
DIRETRIZES CURRICULARES DO ENSINO FUNDAMENTAL E DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS
nos anos iniciais como nos anos finais, rompendo
As aulas de Matemática podem se tornar com a fragmentação do ensino, principalmente,
ambientes de crescimento em todas as áreas do no que se refere à Matemática e Língua Materna.
saber, especialmente, no que se refere à área de A elaboração de textos em aulas de matemática
linguagens. Smole & Diniz (2001) dizem que a deve ser um processo contínuo, pois ajuda na
leitura é espaço comum entre todas as disciplinas. aprendizagem matemática, ao mesmo tempo
E sabemos que o discurso geral nas escolas é em que favorece o desenvolvimento de várias
que o estudante não sabe Matemática porque não habilidades. Como exemplo, citamos a importância
compreende o que lê. Se não compreende, cabe- de levar o estudante a dar justificativas orais ou
nos perguntar o que pode ser feito para avançar escritas para a forma como solucionou um problema
nesse processo. proposto. Além de ajudar o estudante a organizar
seu pensamento, leva-o a desenvolver autonomia
Nesse sentido, as autoras destacam que “[...] ao justificar os procedimentos que empregou no
torna-se imprescindível que todas as áreas do desenvolvimento das atividades. Assim, aprende
conhecimento tomem para si a tarefa de formar a argumentar e defender ideias, desenvolvendo a
o leitor” (SMOLE & DINIZ, 2001, p. 70). Vencer sequência argumentativa. Outra ideia é a elaboração
esse desafio pode ser mais simples quando se de tarefas matemáticas, formulando questões como
elege a metodologia de resolução de problemas exercícios, problemas e outros na forma escrita.
como fio condutor do desenvolvimento de Santos (1997, p. 19) argumenta que ao fazê-lo “ele
conceitos em Matemática. Várias técnicas de atingiu um nível de conhecimento matemático mais
leitura podem ajudar na compreensão do texto elaborado e completo do que quando simplesmente
matemático, como a leitura silenciosa dirigida, a resolve as questões matemáticas propostas pela
leitura oral por um colega, a leitura oral coletiva, professora e/ou livro texto.
a leitura oral dirigida em que se selecionam as
informações relevantes, a leitura jogralizada • Ouvir o estudante
ou dramatizada e outras. Para isso, é essencial
que sejam oferecidas diferentes textos com É preciso que o docente construa um elo com o
situações-problema: rotineiros e não rotineiros; estudante para que a comunicação do saber aconteça
textos simples, textos de média complexidade; e para que compreenda suas reais necessidades
e textos desafiadores; textos no formato do livro (HOFFMAN, 2012). Quando o estudante percebe
didático; textos elaborados pelo próprio estudante, que também a professora aprende com ele, irá se
individual ou coletivamente. É essa variedade sentir mais seguro e confiante.
que vai transformar a aula de Matemática em
um ambiente alfabetizador por excelência e vai Trabalhar em uma perspectiva em que se permita
permitir que o estudante compreenda melhor a escuta, privilegiando a construção de conceitos,
qualquer texto matemático que lhe for oferecido, pressupõe repensar os espaços e tempos de
sobretudo se lembrarmos que qualquer texto, por aprendizagem. Para compreender o raciocínio do
mais simples que seja, permite a discursividade, estudante, permitindo sua socialização e o confronto
gerando novas situações, indo além da leitura deste com o de outros colegas, faz-se necessário um
sem significação. Logo, é fundamental que a processo dialógico com tempo de aula de qualidade.
professora não se torne o única leitora em aulas
de Matemática. Uma das formas de valorizar e utilizar conhe-
cimentos matemáticos trazidos pelo estudante
As práticas de leitura precisam ser intensificadas e é abrir espaços que lhe permitam expressar-se,
diversificadas nas aulas de Matemática, pois essa ou seja, falar e ser ouvido. Cabe ao docente
possui vocabulário e sistema simbólico que lhe são relacioná-los com os direitos de aprendizagem
específicos, sendo, portanto, imprescindível que esta do currículo formal sem desqualificá-los, pois
professora também tome para si a tarefa de formar o leitor. são diferentes saberes dentro de um mesmo
espaço. A fruição dessas ideias deve ser
Uma prática interdisciplinar permite que se incentivada sempre que possível, para, a partir
elaborem sequências didáticas riquíssimas, tanto daí, dialogar com o conhecimento formal.
178
DIRETRIZES CURRICULARES DO ENSINO FUNDAMENTAL E DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS
• Desenvolver o gosto pela Matemática O ensino e aprendizagem da Matemática,
inevitavelmente, acontecem de acordo com
A afetividade em relação à Matemática tem sido crenças e concepções dos docentes. A forma como
estudada, desde a década de 1980 e, hoje, esse ensino é concebido pela professora pode
estudiosos concordam que está fortemente desencadear, no estudante, a crença de que a
ligada ao desempenho dos estudantes (GOMEZ Matemática é uma disciplina difícil de ser aprendida
CHACÓN, 2003; ZANON, 2011). Todo docente, e privilégio de alguns poucos que possuem dom.
com alguma experiência de sala de aula, já Por outro lado, pode levar o aprendiz a vê-la
presenciou situações em que estudantes dizem como uma disciplina que lhe permite criar e fazer
odiar essa disciplina, enquanto outros dizem descobertas e é nessa perspectiva que esta diretriz
amá-la. O que permeia esse comportamento, aponta. Por isso, a formação do docente precisa
segundo pesquisadores, são as experiências que ser contínua, porque também ele, pode ter em sua
o indivíduo possui com a disciplina nos primeiros história de formação experiências com a disciplina
anos de escolaridade, ou até no ambiente que precisam ser ressignificadas. Hoje, há uma
extraescolar. E podem ser determinantes para preocupação de educadores e pesquisadores em
uma atitude positiva ou negativa diante dessa Educação Matemática em fazer com que a sua
disciplina. O trabalho coerente com a visão aprendizagem se torne acessível a todos dentro
dinâmica da Matemática favorecerá que todos das diferentes formas de entendê-la e vivenciá-
se sintam capazes de aprender. A utilização de la no contexto sociocultural (HOFFMAN, 2012).
atividades variadas – algumas simples, outras de Assim sendo, a formação continuada precisa
média complexidade e outras mais desafiadoras – garantir espaços em que os docentes também
em trabalhos de grupos com mediação, fará com possam rever a sua relação com a Matemática,
que todos os estudantes em diferentes níveis de bem como as suas crenças e concepções sobre
aprendizagem sejam contemplados. ela, seu ensino e sua aprendizagem.
179
DIRETRIZES CURRICULARES DO ENSINO FUNDAMENTAL E DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS
Interna, a Semana da Matemática, comemorar
o Dia da Matemática, em que atividades
diversificadas podem ser desenvolvidas, inclusive
com oficinas de jogos e curiosidades. Outra
estratégia pode ser, esporadicamente, oferecer ao
estudante oportunidades de vivência de questões
de lógica nos moldes da Olimpíada Brasileira da
Matemática das Escolas Públicas (OBMEP) e
mediar sua solução.
180
DIRETRIZES CURRICULARES DO ENSINO FUNDAMENTAL E DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS
outros atores da comunidade escolar. Para isso, que aspectos sua atuação deverá ser mais
o docente poderá fazer uso de instrumentos efetiva. Mapas conceituais em matemática podem
diversos de registros avaliativos, sempre em evidenciar problemas de escrita e de raciocínio
caráter formativo e não classificatório. Não cabe a matemático do estudante, facilitando intervenções
esta diretriz dizer qual instrumento deve ser usado, do docente. Constituem-se recurso de escrita e de
porque entendemos que mais importante do que o representação pictórica que podem ser utilizados
instrumento é a interpretação do resultado. Além com criatividade, também, de forma coletiva em
disso, em uma prática pedagógica em que o sala de aula (HOFFMAN; SANTOS-WAGNER,
docente e estudante estão em constante interação, 2011). Outros gêneros sugeridos são cartas a
a avaliação oportuniza novas aprendizagens e colegas que estiveram ausentes, explicando os
reflexões para ambos. conteúdos trabalhados ou explicitando por que não
os aprendeu; criação de escritas livres; diários;
A avaliação da aprendizagem em matemática diálogos; histórias em quadrinhos; músicas em
precisa valorizar a criatividade, a intuição, ritmos preferidos ou poesias envolvendo conceitos
os processos de raciocínio e de aquisição aprendidos. Todos esses textos podem contribuir
de conceitos, tanto quanto o formalismo e o para comunicar ao docente o que o estudante sabe
produto final. Isso pressupõe uma prática mais e o que não sabe em Matemática. E ainda podem
dinâmica, que requer um processo avaliativo mais evidenciar sentimentos em relação à disciplina,
abrangente que não se valha apenas de um único por serem escritas mais expressivas, em que o
instrumento. estudante escreve livremente.
A avaliação que se pretende neste documento é Logo, o uso de práticas pedagógicas diversificadas
aquela que considera as provas escritas ou orais se faz necessário, pois entendemos que a
como mais uma oportunidade de aprendizagem avaliação deve ser vista como uma apreciação
de todos os envolvidos no processo, e não de todo processo de aprendizagem do estudante
como único instrumento a ser utilizado. O erro e do seu desempenho, bem como do trabalho do
deve ser considerado uma evidência do que docente. Além disso, deve obedecer ao princípio
o estudante ainda não sabe para que novas da inclusão que está colocado como um desafio
práticas pedagógicas sejam estabelecidas. Se às escolas, mas perfeitamente possível quando
compreendermos que o saber matemático é se avalia o direito de aprendizagem do estudante,
adquirido por meio do processo de negociação colocando-o em relação a todos os envolvidos.
de significados que ocorre nas interações sociais
entre estudante/estudante e docente/estudante,
por que não pensar em formas de avaliar em que Diretrizes Curriculares do Ensino Fundamental
o estudante se expresse de formas diferentes? e a Base Nacional Comum Curricular
Por que privilegiar provas escritas solitárias?
Quem é que não vivenciou o fato de pegar uma Este texto apresenta uma primeira análise
prova escrita e não reconhecer o estudante nela? comparativa da área de Matemática referente aos
O que pode causar o baixo desempenho de um documentos da Base Nacional Comum Curricular
estudante brilhante em sala de aula? Santos (1997) (BNCC) e as Diretrizes Curriculares do Ensino
argumenta que nem sempre aquele estudante que Fundamental e da Educação de Jovens e Adultos
acerta, sabe o conteúdo, bem como aquele que do Município de Vitória (DCEFEJA).
erra, o desconhece.
A metodologia utilizada consistiu na leitura dos
Santos (1997) recomenda também o uso da escrita documentos supracitados e na comparação entre
como forma de avaliação em moldes diferentes do as habilidades citadas na BNCC e os objetivos
que tradicionalmente a escola faz. Uma dessas presentes na DC.
formas de escrita são os mapas conceituais.
Utilizados com frequência na sala de aula, Os documentos apontam o conhecimento
acompanhados de textos explicativos, ajudarão matemático como necessário, por ter grande
o planejamento da professora e mostrarão em aplicação na sociedade contemporânea,
181
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contribuindo para a formação de cidadãos 2° ano
críticos. Além disso, ambos articulam os diversos
campos da área (Aritmética, Álgebra, Geometria, Obs.: Todos os objetivos são contemplados.
Estatística e Probabilidade).
3° ano
Em relação aos aspectos teórico-metodológicos
a BNCC apresenta como estratégia para • Representar graficamente frações;
aprendizagem de matemática a resolução de
problemas, de investigação, de desenvolvimento • Reconhecer figuras congruentes;
de projetos e de modelagem. As DC apontam
como metodologia de ensino para o favorecimento 4º ano
de conexões entre os campos conceituais da
área e com outras áreas de conhecimento a • Reconhecer semelhanças e diferenças entre
resolução de situações-problema, o recurso à poliedros (prisma, pirâmides e outros);
história da matemática, o recurso às tecnologias
da comunicação, o recurso aos jogos e materiais • Identificar figuras simétricas;
manipulativos, a modelagem matemática e a
etnomatemática. 5º ano
A BNCC propõe cinco unidades temáticas, a • Resolver e elaborar problemas que envolvam
citar: números, álgebra, geometria, grandezas variação de proporcionalidade direta ou
e medidas e probabilidade e estatística. inversa entre duas grandezas, incluindo
As DC consideram cinco eixos organizadores escalas em plantas e mapas;
do ensino, a saber: números e operações,
álgebra, espaço e forma, grandezas e • Construir um espaço amostral e identificar as
medidas e tratamento da informação. possibilidades de sucesso de um evento, por
Ressaltamos que os eixos organizadores das meio de desenhos, esquemas e tabelas.
DC estão inseridos nas unidades temáticas da
BNCC, visto que, essas unidades temáticas 6º ano
abarcam a totalidade de conceitos presentes
na matemática. • Resolver e elaborar problemas que envolvam
as ideias de múltiplo e de divisor.
Finalizando essa análise, destacamos que os
referidos documentos não se contradizem apesar 7º ano
de priorizarem em determinados momentos
particularidades do conhecimento matemático e/ • Realizar transformações de polígonos
ou estratégias e metodologias de ensino. representados no plano cartesiano,
decorrentes da multiplicação das coordenadas
Abaixo, destacaremos alguns pontos relevantes de seus vértices por um número inteiro.
para que o professor os considere ao desenvolver
os objetivos previstos para suas respectivas • Reconhecer e construir figuras obtidas por
turmas. simetrias de translação, rotação e reflexão,
usando instrumentos de desenho ou softwares
Objetivos não contemplados nas DCEFEJA de geometria dinâmica e vincular esse estudo
a representações planas de obras de arte,
1º ano elementos arquitetônicos, entre outros.
• Descrever, por escrito e por meio de um • Descrever, por escrito e por meio de um
fluxograma, um algoritmo para a construção fluxograma, um algoritmo para a construção
de um polígono regular (como quadrado e de um polígono regular cuja medida do lado é
triângulo equilátero), conhecida a medida de conhecida, utilizando régua e compasso, como
seu lado. também softwares.
184
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SANTOS, V. M. P. dos. Metacognitive awareness ZANON, T. X. D. Formação continuada de
of prospective elementary teachers in a professores que ensinam matemática: o que
mathematics content course and a look at pensam e sentem sobre ensino, aprendizagem e
their knowledge, beliefs and metacognitive avaliação. 2011. 300f. Dissertação (Mestrado em
awareness about fractions. 1993. Tese (Doctoral Educação) – Programa de Pós-Graduação.
of Philosophy) – Department of Curriculum and
Instruction (Mathematics Education) in the School
of Education, Indiana University. Publicado por
Associação de Professores de Matemática,
Coleção Teses. Lisboa: APM, 1996.
185
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186
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CONCEITOS
EIXOS OBJETIVOS DE 1º 2º 3º 4º 5º 6º 7º 8º 9º
APRENDIZAGEM LEGENDA:
(I) Iniciar – (A) Aprofundar - (C) Consolidar
1.11 Reconhecer o valor posicional dos É importante realizar a composição e
algarismos na composição da escrita decomposição dos números nas suas
numérica. I A C A/C A/C A/C diversas ordens e de variadas maneiras,
como, por exemplo: 645 = 600 + 40 + 5
ou 6 x 100 + 4 x 10 + 5 x 1
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OBJETIVOS DE 1º 2º 3º 4º 5º 6º 7º 8º 9º ORIENTAÇÕES
EIXOS
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CONCEITOS
EIXOS OBJETIVOS DE 1º 2º 3º 4º 5º 6º 7º 8º 9º ORIENTAÇÕES
APRENDIZAGEM LEGENDA: METODOLÓGICAS
(I) Iniciar – (A) Aprofundar - (C) Consolidar
1.37 Representar graficamente frações
(frações de quantidade, fração do I A C
inteiro, na reta numérica).
1.38 Ler e representar números
racionais na forma decimal e fracionária. I /A A/C C
189
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OBJETIVOS DE 1º 2º 3º 4º 5º 6º 7º 8º 9º ORIENTAÇÕES
EIXOS
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CONCEITOS
EIXOS OBJETIVOS DE 1º 2º 3º 4º 5º 6º 7º 8º 9º ORIENTAÇÕES
APRENDIZAGEM LEGENDA: METODOLÓGICAS
(I) Iniciar – (A) Aprofundar - (C) Consolidar
1.60 Identificar o conjunto dos Construção de √2 com régua e compasso
números reais como sendo a (justificativa geométrica da existência do
união dos conjuntos numéricos I/A/C número). Utilizar Teorema de Pitágoras para
dos racionais e dos irracionais. encontrar outras raízes.
191
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OBJETIVOS DE 1º 2º 3º 4º 5º 6º 7º 8º 9º ORIENTAÇÕES
EIXOS
por meio de equações, inequações são necessárias para preparar o estudante para
e sistemas de equações de 1o o estudo das equações do 2º grau, a ser tratado
grau. posteriormente. O uso de novas tecnologias
I A/C C
favorece o entendimento das representações
das soluções, mas há alternativas interessantes
no desenho em papel quadriculado.
2.11 Representar
geometricamente, no plano
cartesiano, as soluções de um
sistema de equações de 1º grau I A/C C
com 2 incógnitas.
2.15 Resolver e elaborar Esse trabalho pode ser relacionado com razões
problemas que envolvam variação conhecidas como velocidade e densidade
de proporcionalidade direta ou demográfica.
inversa entre duas grandezas, I/A/C
incluindo escalas em plantas e
mapas.
192
DIRETRIZES CURRICULARES DO ENSINO FUNDAMENTAL E DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS
CONCEITOS
EIXOS OBJETIVOS DE 1º 2º 3º 4º 5º 6º 7º 8º 9º ORIENTAÇÕES
APRENDIZAGEM LEGENDA: METODOLÓGICAS
(I) Iniciar – (A) Aprofundar - (C) Consolidar
2.16 Resolver e elaborar
problemas envolvendo a partilha
de uma quantidade em partes I A/C A/C A/C
desiguais.
193
DIRETRIZES CURRICULARES DO ENSINO FUNDAMENTAL E DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS
OBJETIVOS DE 1º 2º 3º 4º 5º 6º 7º 8º 9º ORIENTAÇÕES
EIXOS
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DIRETRIZES CURRICULARES DO ENSINO FUNDAMENTAL E DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS
CONCEITOS
EIXOS OBJETIVOS DE 1º 2º 3º 4º 5º 6º 7º 8º 9º ORIENTAÇÕES
APRENDIZAGEM LEGENDA: METODOLÓGICAS
(I) Iniciar – (A) Aprofundar - (C) Consolidar
3.14 Reconhecer as condições
necessárias e suficientes para
obter triângulos semelhantes e
utilizar a Semelhança de triângulos
I A/C
para estabelecer: as relações
métricas no triângulo retângulo e
as razões trigonométricas.
3.22 Identificar figuras simétricas Explorar que a simetria faz parte do mundo
que nos rodeia e que além da reflexão também
podem ser trabalhados a rotação (movimento
I A A C C C ao redor de um ponto-centro de rotação) e
translação (movimento realizado de um ponto
ao outro). Em cada ação realizada observar os
elementos que mudam ou não na figura.
3.23 Identificar a simetria em
figuras planas.
I A/C C
195
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OBJETIVOS DE 1º 2º 3º 4º 5º 6º 7º 8º 9º ORIENTAÇÕES
EIXOS
3.29 Reconhecer que a soma das Fazer experiências com papel retirando, os
medidas dos ângulos internos de vértices do triângulo, justapondo as três peças
um triângulo é 180° e a condição para observar a soma dos três ângulos do
de existência do triângulo quanto triângulo. Fazer experiências com pedaços
à medida dos lados e dos ângulos. I A A/C C de barbante ou de canudos para verificar
a existência do triângulo. Deixar que os
estudantes testem e descubram as medidas
possíveis ou não para se obter um triângulo.
3.30 Utilizar os conceitos de altura Uma das relações a ser trabalhada é a relação
e mediana para resolução de entre as medidas dos lados (teorema de
situações-problema. I/A C Pitágoras) sem recair necessariamente em uma
equação do 2º grau.
196
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CONCEITOS
EIXOS OBJETIVOS DE 1º 2º 3º 4º 5º 6º 7º 8º 9º ORIENTAÇÕES
APRENDIZAGEM LEGENDA: METODOLÓGICAS
(I) Iniciar – (A) Aprofundar - (C) Consolidar
4.1 Estimar a medida de
grandezas utilizando unidades de I A A A C
medida convencionais ou não.
4.2 Resolver situações-problema, No trabalho com este eixo podem ser utilizadas
utilizando instrumentos de medidas não convencionais, porém não
medida (convencionais e não se deve descartar a contextualização com
convencionais) de comprimento. situações problema que permitam ao estudante
identificar grandezas mensuráveis no seu
cotidiano. É importante considerar o trabalho
com as unidades de medidas mais usuais:
Comprimento: mm - cm – m – km, Massa: mg – g
– kg. É necessário refletir com os estudantes os
diferentes resultados obtidos com medidas não
I A A A A A/C A/C
padronizadas e a necessidade de padronização.
Tempo, massa, comprimento, capacidade, volume, temperatura, sistema monetário
sistema métrico decimal (mm, cm, I A/C A/C A/C A/C forma fracionária e decimal, já é uma justificativa
m, km). para a ampliação do conjunto numérico para os
números racionais.
4.4 Compreender o conceito de O trabalho com perímetro e área deve contemplar
perímetro. os diferentes conjuntos numéricos trabalhados
em cada ano. Um bom momento para tratar
sobre perímetro é quando trabalhamos com a
operação de adição, bem como o trabalho com
I A A/C A/C A/C A/C área é potencializado quando o inserimos no
trabalho com a multiplicação. As situações que
envolvem comprimento devem incluir cálculo
do perímetro de figuras planas poligonais,
bem como iniciar obtenção experimental do
comprimento da circunferência.
4.5 Resolver situações-problema
que envolvem a grandeza
comprimento e as relações entre I/A A A/C A/C A/C A/C
as unidades usuais de medida
dessa grandeza (mm, cm, m, km).
4.6 Resolver e elaborar situações- A retomada do tema se justifica a cada ano pela
problema que envolvem o conceito ampliação dos campos numéricos.
de perímetro inclusive em figuras I A A/C A/C A/C A/C
planas.
197
DIRETRIZES CURRICULARES DO ENSINO FUNDAMENTAL E DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS
OBJETIVOS DE 1º 2º 3º 4º 5º 6º 7º 8º 9º ORIENTAÇÕES
EIXOS
4.12 Resolver situações-problema O foco deve ser o cálculo do volume dos prismas
que envolvem a grandeza retangulares. O cálculo do volume oportuniza
4- GRANDEZAS E MEDIDAS
198
DIRETRIZES CURRICULARES DO ENSINO FUNDAMENTAL E DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS
CONCEITOS
EIXOS OBJETIVOS DE 1º 2º 3º 4º 5º 6º 7º 8º 9º ORIENTAÇÕES
APRENDIZAGEM LEGENDA: METODOLÓGICAS
(I) Iniciar – (A) Aprofundar - (C) Consolidar
4.19 Reconhecer grandezas
compostas, determinadas pela
razão ou pelo produto de duas
outras: velocidade (m/s; km/h), I A A
aceleração (m/s2), densidade (g/
cm3; pessoas/km2) e potência
(Kwh).
4.20 Resolver situações problema Para o trabalho com temperatura, além do termômetro,
que envolvem a grandeza é necessário contextualizar com informações a
temperatura. partir de diferentes mídias que envolvam situações
relativas a temperatura, como nevascas, calor
excessivo, variações ao longo de um determinado
período etc. Focar na variação de temperatura
4- GRANDEZAS E MEDIDAS
I A A A/C A/C
considerando o termômetro como uma reta numérica,
trabalhar situações-problema envolvendo variação
de temperatura, trabalhar com outras unidades de
medida de temperatura (Celsius, Farenheit), propor
um trabalho articulado com ciências (estados da água).
199
DIRETRIZES CURRICULARES DO ENSINO FUNDAMENTAL E DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS
OBJETIVOS DE 1º 2º 3º 4º 5º 6º 7º 8º 9º ORIENTAÇÕES
EIXOS
5.5 Elaborar questões para coletar Desenvolver semanalmente atividades que envolvam
dados quantitativos e qualitativos. tabelas e gráficos cujos dados contemplem os vários
conjuntos numéricos.
I A A A/C A/C A/C A/C A/C A/C
5.8 Ler, interpretar e construir A construção dos gráficos deve ser incentivada até
diferentes tipos de tabelas mesmo utilizando procedimentos não convencionais
(simples e de dupla entrada) e (construir gráficos de setores utilizando tampinhas de
gráficos (barras, colunas, linhas, garrafa pet, pratos de festa de papelão, gráficos de
setores, histogramas, polígonos I A A A/C A/C A/C A/C barras utilizando caixinhas de fósforo, etc.). A leitura,
de frequência e pictóricos). interpretação e construção das tabelas e gráficos
devem ser contempladas dentro dos demais conceitos
trabalhados.
5.9 Resolver problemas, Construir a árvore de possibilidades. Utilizar
envolvendo noções de I A A A/C A/C A/C A/C material manipulativo para experimentos e
probabilidade e possibilidade. verificação da ocorrência de um evento.
200
DIRETRIZES CURRICULARES DO ENSINO FUNDAMENTAL E DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS
LINGUAGENS
CONCEITOS
1º 2º
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM ORIENTAÇÕES
SEG SEG
1º e 2º SEGMENTOS METODOLÓGICAS
1 Compreender a História dos Números como criação da O ensino da Matemática na EJA deve pautar-
humanidade em diferentes espaços tempos. X X se na perspectiva de que essa ciência é viva,
dinâmica, produto histórico, social e cultural. O
2 Relacionar a História dos Números com os usos que se faz do conhecimento matemático acumulado construiu-
sistema numérico usual. X
se a partir da solução de problemas atendendo
às necessidades do homem ao longo do seu
3 Reconhecer os diversos tipos de números e seus respectivos
processo de transformação e desenvolvimento,
usos no contexto diário (números de apartamentos em edifícios,
X X durante a história da humanidade. Trabalhar a
números de telefone, código postal, números de linhas de ônibus,
Matemática na EJA partindo desse princípio,
receitas, classificação, CPF, RG etc.). assegura aos sujeitos excluídos da educação
4 Comunicar- se matematicamente, identificando, interpretando e formal uma visão diferenciada dessa ciência
tão importante para a humanidade e para a
História dos números, sistema de numeração decimal, funções sociais dos números, quantificação, registros e agrupamentos, operações e
X X
utilizando diferentes linguagens e códigos.
vida cotidiana. O saber Matemático torna-se
5 Valorizar a matemática como instrumento para interpretar cada vez mais necessário no mundo atual, em
informações sobre o mundo, reconhecendo sua importância em X X que se generalizam tecnologias e meios de
nossa cultura. informação baseados em dados quantitativos e
6 Utilizar estratégias para quantificar: contagem, estimativa, espaciais em diferentes representações. Além
X disso, a complexidade do mundo do trabalho
emparelhamento e sistema, comparação entre agrupamentos etc.
e da vida cotidiana exige da escola, cada vez
7 Utilizar a contagem como recurso, em escalas ascendentes e mais, a formação de pessoas que saibam
descendentes de um em um, de dois em dois, de cinco e cinco, X fazer perguntas, que assimilem rapidamente
problemas dos campos aditivo e multiplicativo, números naturais e decimais.
10 Interpretar e registrar quantidades por meio do Sistema de pedagógica conceitos, procedimentos e atitudes
X
Numeração Decimal desenvolvidos em meio às vivências dos
11 Compreender os números naturais. X estudantes e seus contextos. A Matemática deve
ser instrumento de investigação e conhecimento
12 Utilizar estratégias para quantificar: contagem, estimativa, da realidade da cultura e da sociedade, presente
emparelhamento e sistema, comparação entre agrupamentos etc. X X
nas diversas situações na vida das pessoas,
13 Utiliza os conhecimentos matemáticos com o auxílio dos sem se restringir à aplicação de problemas
recursos tecnológicos. X X práticos do cotidiano, devendo ser um meio
que permite produzir, interpretar, comunicar e
14 Compreender a função do zero e da vírgula na organização do interagir conhecimentos de diversas áreas.
X
sistema de numeração decimal (indo-arábico).
Algumas estratégias podem ser sugeridas:
15 Compreender o valor posicional dos algarismos na composição
X
da escrita numérica. - Levantamento de dados pessoais, endereços,
16 Relacionar a denominação do número a sua respectiva códigos postais, números de telefone, para
X
representação simbólica. reconhecimento das várias funções dos
17 Compreender e empregar os termos unidade, dezena, centena números;
e milhar para identificar os respectivos agrupamentos. X
201
DIRETRIZES CURRICULARES DO ENSINO FUNDAMENTAL E DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS
LINGUAGENS Objetivos de Aprendizagem para o Componente Matemática: Educação de Jovens e Adultos
CONCEITOS
1º 2º
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM ORIENTAÇÕES
1º e 2º SEGMENTOS SEG SEG METODOLÓGICAS
pirâmides e outros). X X
ângulos, representação do espaço.
202
DIRETRIZES CURRICULARES DO ENSINO FUNDAMENTAL E DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS
LINGUAGENS
CONCEITOS
1º 2º
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM ORIENTAÇÕES
1º e 2º SEGMENTOS SEG SEG METODOLÓGICAS
X X
de capacidade e de volume.
66 Resolver situações problema que envolvam as grandezas comprimento, massa,
X X
capacidade, volume e as relações entre as unidades de medida dessas grandezas.
Grandezas e Medidas
X
mios; Função do 1º Grau; Função do 2º Grau
203
DIRETRIZES CURRICULARES DO ENSINO FUNDAMENTAL E DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS
Ciências da Natureza
[...] uma atividade humana, sócio historicamente Essas reflexões convergem para uma
determinada, submetida a pressões internas e abordagem conceitual de Educação Científica
204
DIRETRIZES CURRICULARES DO ENSINO FUNDAMENTAL E DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS
que estabelece uma articulação entre Ciência, é imprescindível a organização dos objetivos
Tecnologia, Sociedade e Ambiente (CTSA), de aprendizagem respeitando sempre suas
que se apresenta como uma nova proposta nos potencialidades, necessidades e seus percursos
currículos do ensino de Ciências (RICARDO, de aprendizagem.
2007), configurando um campo teórico que tem
como fundamento a problematização das tensões Nessa perspectiva de articulação entre CTSA
que o desenvolvimento técnico-científico, em é fundamental que os conteúdos não sejam
âmbito local e global, tem produzido e a reflexão trabalhados sem que se leve em consideração os
sobre a importância da participação social nessas anseios, a vivência, os desafios, as dúvidas e as
discussões. expectativas dos sujeitos envolvidos no processo.
A educação científica assume um caráter
No âmbito da educação formal, a CTSA tem como dialógico em que os envolvidos se distanciam da
princípios: realidade para, problematizando-a, inserir-se nela
criticamente.
- A elaboração de relações entre o mundo natural
e cultural, de modo a potencializar a função social Articulação com os temas da diversidade
da área, para que os estudantes possam tomar
decisões mais qualificadas sobre a ciência e a O conhecimento científico representa uma
tecnologia e agirem, possivelmente, como agentes importante instância cultural, talvez a categoria
transformadores de seu cotidiano (sociedade); cultural mais expressiva na contemporaneidade,
uma vez que consegue influenciar uma amplitude
- O inter-relacionamento entre os aspectos sociais, de instituições e dimensões humanas em nossa
políticos, econômicos e éticos abordados por meio sociedade. Em virtude disso, seus pressupostos
da historicidade da produção do conhecimento foram orientadores na valorização de determinados
científico, de modo a auxiliar na formação de saberes, além do mais por meio da sua ideia de
sujeitos críticos; leis gerais, que deram ordem e estabilidade ao
mundo, instituiu um modelo padrão de homens e
- Estratégias pedagógicas que possibilitem ao mulheres. Em virtude disso, a pluralidade humana
estudante tornar-se observador e pesquisador foi invisibilizada ou subalternizada, de modo que a
do meio em que vive, potencializando os saberes diferença foi percebida pela perspectiva do déficit.
políticos, socioambientais e culturais;
Importante destacar que, mesmo com o atual
- O ensino por meio de práticas investigativas, de avanço científico e tecnológico a humanidade
forma que o estudante possa buscar respostas não conseguiu superar esses obstáculos que, por
aos problemas apresentados no seu cotidiano vezes, tornam-se a gênese dos crimes cometidos
socioambiental, e o docente seja um mediador contra a vida - sejam eles de ordem política,
neste processo; étnica, religiosa, social, sexual –, sendo assim,
a dificuldade de nos reconhecermos como iguais
- O respeito à diversidade popular como uma forma em direitos na pluralidade que nos constitui, ainda,
de saber cultural, dialogando com os saberes do é um grande desafio.
conhecimento científico;
Nesse sentido, a educação científica em conjunto
- As relações interdisciplinares e contextuais com os temas transversais pode proporcionar
associadas, no sentido de permitir aos estudantes um rompimento com a imagem monolítica das
o estabelecimento de um diálogo entre Ciências da Natureza, por meio de um processo
diferentes saberes de modo a potencializar sua que humanize o outro, valorizando as marcas da
aprendizagem; diversidade humana, resgatando as experiências
tradicionais, bem como as diferentes formas
- A acessibilidade e adequação dos conhecimentos de ler o mundo e se inserir na história coletiva.
científicos de acordo com os níveis e modalidades Assim, uma educação científica fundada no
de ensino. Quanto aos estudantes com deficiência reconhecimento do outro de suas diferenças
205
DIRETRIZES CURRICULARES DO ENSINO FUNDAMENTAL E DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS
culturais, étnicas, religiosas, de gênero, classe eixos temáticos, propiciando aos estudantes
social e etária tem como objetivo proporcionar o acesso a conhecimentos científicos essenciais
resgate da pluralidade de experiências, valores e para a compreensão das dinâmicas da natureza
saberes que auxiliem na formação cultural numa em escala local e planetária. Pensar a Educação
dimensão crítica de aprendizagem. Ambiental como temática de todos os eixos,
pressupõe ampliar nossas concepções acerca de
Assim, o caráter e especificidade desta área, sociedades sustentáveis que não se restringem
tendem a contribuir muito no trabalho com os apenas ao ambiente natural, mas socioambiental,
temas da diversidade, principalmente no que voltadas para o respeito aos direitos humanos,
se relaciona com a valorização dos saberes inclusão social, valorização da sócio biodiversidade,
populares acerca da realidade e no entendimento integridade dos ecossistemas, justiça econômica,
do mundo como uma realidade complexa e equidade social, étnica, racial e de gênero,
multifacetada. Destacamos que, em todas as promovendo o diálogo para a convivência e a paz.
sociedades e em diferentes momentos históricos,
povos, comunidades tradicionais, grupos sociais
criaram teorias para explicar fatos vivenciados, Objetivos gerais
fenômenos naturais e sua relação com a
diversidade socioambiental, entretanto, o modelo O ensino das Ciências da Natureza no Ensino
hegemônico de Ciência invisibiliza, desperdiça Fundamental deve oferecer condições para que os
ou não reconhece esses saberes, quando não os estudantes possam desenvolver a compreensão
inferioriza ou rejeita absolutamente. Isso se deve conceitual e procedimental da ciência, de seus processos
a uma forma de ensino de ciências fragmentado e produtos que abarcam as dimensões sociocultural,
e desconectado da realidade, que segundo ambiental, política, econômica e tecnológica.
Mortimer (1998, p. 114), “[...] tem reforçado a visão
da ciência como algo estático, como um conjunto Sendo assim, visamos alcançar os seguintes objetivos:
de verdades imutáveis, de estruturas conceituais
congeladas no tempo”. Isto se explica pela “falta • Proporcionar aos (às) estudantes o
de diálogo [...] entre a linguagem científica e a entendimento dos conhecimentos científicos,
linguagem cotidiana, entre a realidade criada pela mostrando como tais conhecimentos são
ciência, e a realidade da vida cotidiana, entre a produzidos no campo da ciência, a partir de
teoria científica e a prática dos fenômenos, entre seus processos e ações peculiares.
os princípios científicos e os contextos sociais
e tecnológicos em que eles se materializam” • Favorecer o desenvolvimento das capacidades
(MORTIMER, 1998, p. 115). de leitura e compreensão de textos científicos,
para que os estudantes possam se apropriar
Em virtude disso, é relevante reconhecer que no do vocabulário da ciência, percebendo as
caso do município de Vitória, há muitos grupos relações existentes entre as informações,
sociais que detêm uma forma de saber secular, conceitos e práticas.
que vem sendo passado de geração em geração.
São as paneleiras, os pescadores, os congueiros, • Assegurar que os estudantes identifiquem e
os sambistas, artistas, artesãos ambientalistas, os tenham acesso a fontes válidas de informações
diferentes movimentos sociais, como de mulheres, científicas e tecnológicas, aprendendo a
negros, entre outros. Esses grupos e todo o utilizá-las em diversos contextos.
conhecimento que possuem podem e devem estar
na escola, contribuindo de forma significativa para • Promover o desenvolvimento de capacidades
o estabelecimento da relação entre conhecimento básicas na produção do conhecimento
científico e popular. científico, como, as capacidades de estabelecer
relações e implicações entre argumentos e
Além disso, as Ciências da Natureza, assim evidências, de seriar, organizar e classificar
como as outras áreas de conhecimento, podem, informações, de elaborar perguntas, levantar
promover a educação ambiental em todos os hipóteses e planejar modos de investigação.
206
DIRETRIZES CURRICULARES DO ENSINO FUNDAMENTAL E DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS
• Incentivar os estudantes a se tornarem observadores, Objetivos específicos
pesquisadores, levando à democratização do
conhecimento científico (PMV, 2004, s/p). Para que os estudantes tenham assegurada a
compreensão sociocultural, política e econômica
• Produzir conhecimentos científicos por meio dos processos e produção do conhecimento
da reflexão, do diálogo e da problematização científico, bem como das relações entre ciência,
de questões do cotidiano para compreendê- sociedade, tecnologia e meio ambiente, é
los, desenvolvendo atitudes de melhoria da imprescindível:
‘qualidade de vida’ (PMV, 2004, s/p).
• Desenvolver situações de aprendizagem
• Fortalecer a cidadania por meio de relações que possibilitem o entendimento de que
humanistas voltadas para a inclusão social, a o conhecimento produzido é resultado da
igualdade, respeito aos direitos humanos, as criação humana, influenciada pelos contextos
dimensões ambientais, sociais e culturais e históricos, sociais, culturais e econômicos.
economia local, como fomento às sociedades
sustentáveis, promovendo diálogo para a • Desenvolver situações de aprendizagem
convivência e a paz (lei nº 9795/99- Política que sensibilizam o entendimento de que o
Nacional de Educação Ambiental). saber científico é provisório, uma parte da
produção cultural humana, histórico, portanto
• Reconhecer e valorizar os saberes populares sujeito a alterações em virtude das mudanças
advindos de toda a comunidade, estabelecendo temporais e ideológicas.
relações com o conhecimento científico.
• Favorecer experiências que levem os
• Promover uma educação científica fundada no estudantes a interagir com o meio ambiente,
reconhecimento do outro, em suas identidades e com todas as formas de vida, por meio de
diferenças sociais, econômicas, culturais, étnicas, uma postura ética, de respeito ao outro e à
religiosas, de gênero, considerando ainda todas natureza (PMV, 2004, s/p).
as formas de inclusão, que possibilitem viver
numa sociedade pluralista e heterogênea. • Promover reflexões sobre o papel e o
progresso das ciências e das tecnologias
• Promover o cuidado com os seres vivos e a na vida cotidiana, conhecendo seus
integridade dos ecossistemas, a valorização diversos modos de aplicação na sociedade
da sócio biodiversidade e o fortalecimento das e assumindo postura crítica de modo a
organizações de cidadania local e planetária. identificar benefícios e malefícios decorrentes
das inovações científicas e tecnológicas.
• Compreender a natureza como um todo
dinâmico, e o ser humano, em sociedade, • Formular questões, diagnosticar e propor
como agente de transformações do mundo em soluções para problemas contextuais a partir
que vive, com relação essencial com os demais de elementos das Ciências da Natureza,
seres vivos e outros componentes do ambiente, colocando em prática conhecimentos
como fomento às sociedades sustentáveis. desenvolvidos no aprendizado escolar.
12
A inclusão desse eixo como referência na elaboração dos objetivos
de aprendizagem da Educação de Jovens e Adultos (EJA) deu-se em
função de suas especificidades.
208
DIRETRIZES CURRICULARES DO ENSINO FUNDAMENTAL E DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS
terremotos e o distanciamento entre os continentes;
o estudo das rochas, dos fósseis, da atmosfera,
movimentação do ar, da água cobrindo cerca
de 75% da superfície terrestre, os fenômenos
dos quais a água participa como intemperismo,
erosão, assoreamento, dissolução de substâncias
e manutenção da vida. Todos esses assuntos são
fundamentais para a organização da superfície
terrestre em litosfera, biosfera, hidrosfera e
atmosfera. A compreensão desses domínios,
bem como as inter-relações entre eles, ajuda a
construir a ideia da dinamicidade do planeta Terra.
210
DIRETRIZES CURRICULARES DO ENSINO FUNDAMENTAL E DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS
conteúdos de Tecnologia e Sociedade. Estão
estreitamente ligados aos demais eixos temáticos
de Ciências Naturais, Meio Ambiente, Saúde, Ética,
Pluralidade Cultural e Trabalho e Consumo.
211
DIRETRIZES CURRICULARES DO ENSINO FUNDAMENTAL E DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS
[...] trazer a linguagem cotidiana para a sala de aula, das Ciências da Natureza, embora às vezes
através da voz do aluno ou da aluna, não com o ob- a ela se assemelhe. De alguma forma essas
jetivo de destruí-la através da linguagem cientifica,
mais “poderosa”, mas para mostrar que essas duas
explicações aguçam e satisfazem as curiosidades
formas de conhecer o mundo são complementares, dos estudantes e fornecem respostas às suas
abre a possibilidade de que o aluno ou aluna enten- indagações, tornando-se o ponto de partida para
dem que qualquer forma de conhecimento é dinâmi- a construção da compreensão dos fenômenos
naturais. Para que eles/elas sintam
necessidade de buscar informações e
reconstruí-las ou ampliá-las, é preciso
que os conteúdos a serem trabalhados
se apresentem como um problema a ser
resolvido.
212
DIRETRIZES CURRICULARES DO ENSINO FUNDAMENTAL E DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS
desenvolvimento permitir. Nos anos finais, os parques e praças da cidade, etc. Entretanto, não
conceitos apresentados nesse período devem podemos esquecer a importância de conhecer
sem aprofundados, além do mais torna-se previamente as características dos espaços
relevante que novos conhecimentos sobre a de ensino para melhor aliar seus recursos aos
ciência sejam apresentados, de modo que os conteúdos trabalhados em sala de aula, construindo
estudantes possam ampliar seu repertório cultural significativamente uma educação científica.
sobre temas desta área de conhecimento.
214
DIRETRIZES CURRICULARES DO ENSINO FUNDAMENTAL E DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS
A professora de Ciências sendo conhecedora das são trabalhados numa perspectiva de progressão
relações entre Ciência, Tecnologia, Sociedade e dos conhecimentos havendo a necessidade,
Ambiente, deverá trabalhar com observações, por parte da equipe docente, no momento do
investigações, experimentos, debatendo os fatos planejamento, de articular os objetivos previstos
e as ideias e levando o estudante a organizar para cada ano, contemplando todos os eixos
as informações por meio de desenhos, tabelas, temáticos.
esquemas e textos, e ainda propor e solucionar
problemas. Com relação aos eixos temáticos da Área de
Ciências da Natureza nas DCEFEJA (2016),
Nessa perspectiva, os recursos avaliativos vão há uma diferença em relação a BNCC, com o
além de provas formais (escritas), a avaliação acréscimo, em nosso documento, de um eixo a
também pode ser feita por meio de atividades mais que contempla a relação entre “Tecnologia
que permitam inferir aprendizagem, como: e Sociedade” em que a palavra “tecnologia”
aparece mais de oito vezes, indicando uma
- Confecção de diários de bordo; abordagem com as questões da atualidade
de forma sistemática, assegurando a estreita
- Produção de relatórios de observação de relação da área de ciências com o universo da
atividades investigativas e de aulas de campo; pesquisa e da tecnologia, importantes conexões
para os estudantes se imaginarem cientistas/
- Leitura e compreensão de textos científicos; pesquisadores com o uso de ferramentas
tecnológicas, utilizadas nas experimentações
- Atividades de pesquisas escritas e orais; realizadas nos laboratórios ou não, assim como
em salas ambiente ou nos diferentes espaços
- Trabalhos em grupos; tempos de aprendizagem da escola. Os objetivos
de aprendizagem decorrentes da inclusão do
- Seminários; quarto eixo temático estão distribuídos do 1° ao
9º ano sendo que em alguns momentos priorizam
- Mostras científicas e expositivas. determinados conhecimentos em anos diferentes
do que foi indicado na BNCC, sem que haja
Ao avaliar o estudante, o docente deverá qualquer prejuízo ao estudante no que tange aos
observar a construção do conhecimento científico, conteúdos, modificando apenas o momento em
a capacidade investigativa e suas atitudes que serão trabalhados, considerando o critério da
necessárias à realização da atividade em que está progressividade conceitual.
envolvido, potencializando sua aprendizagem.
Conforme descrito nas Orientações Metodológicas
Diretrizes Curriculares do Ensino Fundamental da Área de Ciências e também nos objetivos
e a Base Nacional Comum Curricular de aprendizagem, o ensino de Ciências prima
pela adoção de estratégias de ensino voltadas
Este texto tem por objetivo uma análise inicial para a investigação e experimentações, na
do componente de Ciências relacionado aos tentativa de superar a ciência de papel e lápis.
documentos da Base Nacional Comum Curricular Em análise comparativa realizada entre a BNCC
(BNCC) e das Diretrizes Curriculares do Ensino e a DCEFEJA, pontualmente em relação aos
Fundamental e da Educação de Jovens e Adultos objetivos de aprendizagem e às habilidades,
do Município de Vitória (DCEFEJA). identificamos alguns aspectos para que a equipe
docente considere ao desenvolver os objetivos
Nas diretrizes curriculares do Ensino Fundamental previstos para suas respectivas turmas:
e EJA, assim como na BNCC, os eixos temáticos
são trabalhados ao longo do processo formativo 1º ano:
que se estende do 1º ao 9º ano, o que representa • As habilidades da BNCC foram contempladas
um avanço no currículo do município, uma vez nas DCEFEJA.
que os objetivos de aprendizagem das DCEFEJA
215
DIRETRIZES CURRICULARES DO ENSINO FUNDAMENTAL E DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS
2º ano: temperatura, calor, sensação térmica.
• Efeitos da radiação solar sobre superfícies como:
água, areia, superfícies escuras, claras e metálicas. 8º ano:
• Processos adaptativos e evolutivos de plantas
• Propriedades dos materiais que os objetos são e animais.
feitos (flexibilidade, dureza e transparência).
• Diferentes usinas produtoras de eletricidade e
• Prevenção de acidentes domésticos com os impactos ambientais.
objetos cortantes e inflamáveis, produtos de
limpeza e medicamentos. • Construção de circuitos elétricos com pilhas,
comparando aos circuitos residenciais;
3º ano: transformação de energia nos equipamentos
• Passagem da luz através de objetos elétricos residenciais; gasto de energia em eletrodo-
transparentes, espelhos e objetos opacos. mésticos e hábitos de consumo responsável.
4º ano: 9º ano:
• Calendários nas diferentes culturas. • Etapas de formação de uma estrela, destacando o sol.
• Localização dos pontos cardeais com uma • Condições de viabilidade do ser humano viver
vara (gnômon) e com a bússola. fora da Terra.
CHASSOT, Attico. Alfabetização científica: uma VITÓRIA. Lei nº 8695, de 05 de agosto de 2014.
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Edição. São Paulo: Paz e Terra, 2002, p. 7 Educação de Vitória-ES, 2008.
HAYDT, Regina Cazaux. Avaliação do processo YUNES, Lucia. O museu e a escola. 2011.
ensinoaprendizagem. São Paulo: Ática, 1998. Disponível em: http://ebookbrowse.com/cnfcp-
________. Avaliação do processo ensino- museu-escola-lucia-yunes-pdf-d64742449. Acesso
aprendizagem escolar. 13º Ed. São Paulo: em: 30 maio. 2015.
217
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astronômicas na História da
de qualquer tipo de alimento, identificando I A A A/C humanidade. A observação
a importância dessa energia para a vida e atenta do céu é uma atividade
o ambiente. proposta como ponto de
3 - Identificar o Sol como estrela e associar partida para abordagem do
estrelas a outros planetas e a galáxias, eixo temático “A Terra e o
I A A A A/C
analisando modelos de Universo e de sua Universo”. Essa atividade ajuda
origem. a desenvolver a metodologia
4 - Efetuar simulações ou representações científica, sendo uma maneira
do tamanho, distância, movimento relativos interessante de promover a
dos Planetas e do Sol, assim como de I/A C iniciação à Ciência, começando
sua localização na Galáxia e como esses por uma observação atenta
elementos influenciam na existência de vida. de fenômenos, acompanhada
5 - Compreender que diferentes culturas de registros simples, para
formulam cosmovisões distintas, então fazer perguntas, refletir e
identificando as diferentes leituras do céu construir modelos explicativos.
I A/C
e de suas constelações e formulação de Diante disso, propomos
distintas explicações sobre a origem da uma viagem pelo espaço,
Terra, do Sol e do Sistema Solar. começando da superfície da
6 - Observar as posições do sol em Terra, da visão que temos do
diversos horários do dia e relacioná- Universo a partir deste ponto
las com diferentes luminosidades, de vista. Continuando nossa
I A A/C
sombras e temperaturas, descrevendo as viagem, vamos nos afastando,
TERRA E UNIVERSO
218
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CONCEITOS
OBJETIVOS DE 1º 2º 3º 4º 5º 6º 7º 8º 9º ORIENTAÇÕES
EIXOS
APRENDIZAGEM LEGENDA: METODOLÓGICAS
(I) Iniciar – (A) Aprofundar - (C) Consolidar
16 - Compreender que a observação do É importante lembrar também
UNIVERSO, SISTEMA SOLAR, ESTRUTURA E CONSTITUIÇÃO DO PLANETA, SOLOS AGRÍCOLAS E URBANOS, POLUIÇÃO DOS SOLOS, O ESTUDO DAS ROCHAS, DOS FÓSSEIS, DA ATMOSFERA, MOVIMENTAÇÃO
219
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I/A/C
feromônios ou em que diferentes espécies diversas manifestações
interagem para o processo reprodutivo, como a de vida nos mais
polinização. diferentes ambientes
39 - Comparar diferentes animais com relação visitados.
à alimentação, locomoção, reprodução e ao I A A A C
habitat. A partir da observação
40 - Relacionar os ambientes aos comportamentos sensível, a professora
ou estruturas adaptativas de plantas e animais poderá propor registros
I A C como desenhos,
como: formas de locomoção ou fixação, obtenção
de alimentos, reprodução, defesa e abrigo. esquemas, fotografias,
41- Identificar as principais verminoses humanas, maquetes, com vistas
bem como seus agentes causadores, medidas I A A C à cientificidade e não
preventivas e tratamentos disponíveis. à teoria desvinculada
42 - Reconhecer a importância histórica e atual de sentidos. Esse olhar
da água e do solo para a manutenção da vida na atento que caminha para
Terra, compreendendo a dependência dos seres I A A A C a iniciação científica deve
vivos pela água, bem como sua utilidade no dia priorizar as interações
a dia. dos seres vivos com os
ambientes, ressaltando
43 - Reconhecer a importância da água para a vida,
a corresponsabilidade
identificando seus diferentes usos (na alimentação,
de cada sujeito com a
higiene, dentre outras possibilidades), suas fontes,
I A A A A A A C manutenção do equilíbrio
seu processamento e os prejuízos causados pelo
da vida como um todo.
seu desperdício, incentivando práticas de consumo
consciente na sociedade.
220
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CONCEITOS
OBJETIVOS DE 1º 2º 3º 4º 5º 6º 7º 8º 9º ORIENTAÇÕES
EIXOS
APRENDIZAGEM LEGENDA: METODOLÓGICAS
(I) Iniciar – (A) Aprofundar - (C) Consolidar
46 - Identificar os níveis tróficos dos seres vivos, e A perspectiva de
sua relação na transferência de matéria e energia I A C trabalho que se
numa teia alimentar. propõe não coloca
o ser humano
47 – Identificar as relações ecológicas entre os seres
I A C como superior aos
vivos em diversos ecossistemas e biomas brasileiros.
demais seres vivos,
48 - Reconhecer diferentes ecossistemas aquáticos e mas como um ser
terrestres, identificando as espécies que são nativas I A A A A A C integrado ao seu
e suas características. meio, estabelecendo
Ambiente, Ecologia, Seres Vivos, Recursos Naturais, Biodiversidade, Fotossíntese, Produção de energia, Saneamento
relações entre a
49 - Caracterizar um ambiente nativo em que houve biodiversidade e
ação humana, identificando os impactos no ambiente I A A/C fatores ambientais
modificado. com vistas às
50 – Relacionar a Fotossíntese, à respiração celular atitudes de cuidado
e à combustão nos ciclos do carbono e do oxigênio que precisamos
para compreender o papel da vegetação na vida I A A/C desenvolver e
humana e animal e discutir o impacto ambiental do internalizar
desmatamento e das queimadas.
51- Fazer associações sobre as mudanças do meio
ambiente relacionadas à ação do homem e os aspectos I A A A C
social, cultural e econômico.
básico, Degradação ambiental, Sustentabilidade
221
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CONCEITOS
OBJETIVOS DE 1º 2º 3º 4º 5º 6º 7º 8º 9º ORIENTAÇÕES
EIXOS
APRENDIZAGEM LEGENDA: METODOLÓGICAS
(I) Iniciar – (A) Aprofundar - (C) Consolidar
77 – Relacionar os sentidos às funções de interação A perspectiva de
dos seres humanos com o ambiente. I A A A/C trabalho que se
propõe não coloca
78 – Reconhecer os sentidos do olfato, do paladar, o ser humano
da visão, do tato, da audição, relacionando as I/A/C como superior aos
sensações aos estímulos. demais seres vivos,
mas, como um ser
79 – Experimentar e descrever movimentos e ritmos integrado ao seu
do corpo humano, como ritmo da respiração, das meio, estabelecendo
Ambiente, Ecologia, Seres Vivos, Recursos Naturais, Biodiversidade, Fotossíntese, Produção de energia, Saneamento
aspectos específicos
84 - Compreender a função do Sistema Locomotor de dos fenômenos e da
como ele é formado e quais os cuidados necessários biodiversidade.
I A A A C
com a postura do corpo para evitar problemas de
saúde. Nesse trabalho a
85 – Localizar os órgãos internos do corpo humano professora precisa
reconhecendo as relações entre as funções. I A A/C
decidir inicialmente o
86 – Compreender que a vida de todos os seres que será investigado
vivos é iniciada a partir de uma célula e que está e estabelecer
relacionada aos diversos níveis de organização de I A/C questões com
um organismo. intenções de ensino
definidas. Como é o
87 – Identificar as funções dos diferentes níveis de caso de uma aula de
I/A/C
organização que formam um organismo. campo em parques
88 – Conhecer a função dos cromossomos, bem e ecossistemas
como a distinção dos tipos de divisão celular: mitose I/A/C
da região, onde o
e meiose, relacionando a manutenção da vida. estudante poderá
conhecer formas e
89 – Relacionar os processos de respiração, funções do corpo
circulação, digestão e excreção com a nutrição do I A/C dos seres vivos, bem
organismo humano. como os hábitos e
90 – Caracterizar os grupos alimentares, identificando hábitats, suas formas
os benefícios de uma alimentação equilibrada para a de sobrevivência
I/A C
manutenção da saúde do organismo. e reprodução, sua
relação com outros
91 – Investigar a influência da alimentação com a seres vivos e sua
produção de hormônios e a regulação e o equilíbrio I/A/C interação com o
do organismo. ambiente em que
92 – Comparar diferentes tipos de alimentos usados vivem.
por seres humanos e outros animais, identificando
I A/C
alimentos adequados à manutenção da vida e a uma
dieta saudável.
93 – Entender que hábitos alimentares mudam ao
I A A/C
longo da história.
223
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CONCEITOS
EIXOS OBJETIVOS DE 1º 2º 3º 4º 5º 6º 7º 8º 9º ORIENTAÇÕES
APRENDIZAGEM LEGENDA: METODOLÓGICAS
(I) Iniciar – (A) Aprofundar - (C) Consolidar
109 - Compreender as mudanças físicas, fisiológicas
e comportamentais ocorridas na puberdade e suas
implicações no processo de desenvolvimento I A A A A C
humano.
110 - Compreender o processo de reprodução
humana, bem como, os órgãos do sistema genital,
descrevendo os métodos contraceptivos, as I A C
vantagens e desvantagens de cada um deles e os
problemas gerados pela gravidez não programada.
SER HUMANO E SAÚDE
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I A A A/C diferenças se
às formas de desenvolvimento tecnológico,
a p r e s e n t a m
considerando a sustentabilidade.
como habilidades
131 - Conhecer os cuidados básicos para evitar os importantes para
riscos de choque elétrico e os perigos de sobrecarga e I A A/C todos que se propõem
de curto-circuito. à iniciação científica.
TECNOLOGIA E SOCIEDADE
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CONCEITOS
OBJETIVOS DE 1º 2º 3º 4º 5º 6º 7º 8º 9º ORIENTAÇÕES
EIXOS
APRENDIZAGEM LEGENDA: METODOLÓGICAS
(I) Iniciar – (A) Aprofundar - (C) Consolidar
143 – Identificar e descrever transformações que
ocorrem em materiais que fazem parte do dia a dia
como o aparecimento de ferrugem, apodrecimento I A A A A A C
de um fruto, o derretimento de gelo, etc.
144 – Observar, testar e registrar, a partir de múltiplas
linguagens (desenhos, esquemas, imagens, tabelas,
gráficos), modificações nos materiais quando I A A A A A C
expostos a diferentes condições, como aquecimento,
resfriamento, luz, umidade.
Física e química aplicadas, sustentabilidade, matéria, energia e transformações da matéria/energia, biotecnologia,
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ambientais.
espaciais e da manipulação
161 – Reconhecer o efeito estufa e sua genética, mas sim seu
importância para a vida na Terra e discutir o aspecto histórico que revela a
impacto do uso de combustíveis fósseis pelos sucessão e o aperfeiçoamento
meios de transporte e indústria na ampliação I A A C de formas de fabricação e
nociva do efeito estufa e outros impactos seus resultados, do ponto
ambientais. de vista prático é tão antigo
quanto a própria humanidade.
162 - Relacionar as diferentes formas de Não se trata de ensinar as
instrumentos tecnológicos, iniciação ao conhecimento científico
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CONCEITOS
LINGUAGENS
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM ORIENTAÇÕES
1º e 2º SEGMENTOS 8º 9º METODOLÓGICAS
1 Compreender a Ciência como um processo de produção de conhecimento e uma O ensino das Ciências da
atividade humana, histórica, associada a aspectos de ordem social, econômica, X Natureza na Educação de
política e cultural. Jovens e Adultos pode ganhar
2 Conhecer relações de interdependência entre os seres vivos e a importância da um sentido diferente por se
conservação dos ambientes, percebendo-se como integrante desse meio. X tratar de sujeitos que possuem
histórias de vida e de inserção
3 Discutir sobre as bases do desenvolvimento sustentável, identificando práticas na sociedade, principalmente,
irresponsáveis por parte dos cidadãos e dos gestores dos recursos naturais e suas X por estarem envolvidos com
consequências para o ambiente. o mundo do trabalho. Diante
4 Reconhecer como a ciência e a tecnologia afetam as sociedades, as culturas, o disso, os estudantes devem
ser motivados a refletir sobre
Física e química aplicadas, sustentabilidade, matéria, energia e transformações da matéria/energia, biotecnologia,
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DIRETRIZES CURRICULARES DO ENSINO FUNDAMENTAL E DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM 1º 2º
ORIENTAÇÕES
1º e 2º SEGMENTOS METODOLÓGICAS
SEG SEG
25 Relacionar o correto destino de lixo e esgoto, bem como o tratamento de água, Como na EJA, trabalha-
com a prevenção de doenças (verminoses e diarreias). X se com a concepção de
Currículo em Movimento, os
26 Compreender o processo de reprodução humana, identificando os órgãos do sistema eixos podem se articular e se
genital, descrevendo os métodos contraceptivos, as vantagens e desvantagens de X integrar.
cada um deles e os problemas gerados pela gravidez não programada.
TERRA E UNIVERSO – VIDA E AMBIENTE – SER HUMANO E SAÚDE – TECNOLOGIA E SOCIEDADE CIDADANIA E QUALIDADE DE VIDA
27 Identificar alguns ciclos da Natureza no espaço e no tempo (dia e noite, estações - Podem ser realizadas
do ano) estabelecendo relação com os ritmos dos seres vivos. X saídas pedagógicas:
Ciência, Cultura, Trabalho Engajamento Social, Democracia Poder Gênero e Etnia, Sustentabilidade, Saúde, Energia, Consumo
230
DIRETRIZES CURRICULARES DO ENSINO FUNDAMENTAL E DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS
CONCEITOS
LINGUAGENS
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM 1º 2º
ORIENTAÇÕES
1º e 2º SEGMENTOS METODOLÓGICAS
SEG SEG
50 Comparar ciclos vitais de alguns grupos de seres vivos. X
53 Conhecer a composição química da água, os estados físicos e as mudanças, assim como sua
utilização em cada um destes estados. X
54 Identificar a produção de lixo como um grande problema que ameaça a vida na Terra, que atrai
X
animais que transmitem doenças, polui o solo, a água, o ar.
55 Compreender os processos de recuperação e degradação de ambientes por ocupação urbana
desordenada, industrialização, desmatamento, inundação para construção de barragem ou X
mineração, pesando custos ambientais e benefícios sociais e valorizando a qualidade de vida.
56 Reconhecer o processo de alimentação como forma de obtenção de nutrientes (materiais e
energia) para o funcionamento e Crescimento do corpo. X
57 Identificar os agentes poluidores do ar, água e solo de seu bairro e município e como impactam
X
na vida dos seres vivos, sugerindo formas de prevenir seus efeitos.
58 Reconhecer a importância da fotossíntese no fluxo de matéria e energia nos ecossistemas. X
59 Reconhecer a diversidade dos seres vivos, seus respectivos ciclos, as relações existentes
X X
entre os fatores bióticos e abióticos.
60 Identificar as relações ecológicas entre os seres vivos em diversos ecossistemas e biomas
X
brasileiros.
61 Ampliar o debate sobre relações de gênero, de etnia, de afetividade e sexualidade. X
231
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organizações sociais, linguagens e múltiplos vida, considerando as significativas formas de
olhares que estão presentes na sociedade, relação com a natureza, entre eles e com o
considerado suas historicidades e relações lugar, em diferentes escalas espaciais.
espaçotemporais.
• Desenvolver propostas de ensino que
• O reconhecimento de todas as formas de vida promovam o conhecimento das diferentes
como igualmente importantes. manifestações religiosas, do Brasil e do
mundo, como elemento cultural, numa
perspectiva epistemológica, de modo a
Objetivos Gerais reconhecê-las como legítimas e ricas em suas
diversas formas de expressão e historicamente
Como vimos, no desenvolvimento curricular da construídas.
área das Ciências Humanas é imprescindível
desenvolver conhecimentos que possibilitem • Organizar situações de aprendizagem que
a compreensão histórica, a compreensão da contribuam para a análise das interações
temporalidade e da espacialidade, da diversidade que ocorrem entre cultura e natureza na
cultural, religiosa, étnica, de gênero, cor e raça, organização dos espaços geográficos e
na perspectiva dos Direitos Humanos e da históricos, envolvendo a cidade e o campo.
interculturalidade, da valorização e acolhimento
das diferenças, de acordo com as especifidades • Oportunizar reflexões críticas sobre
de cada componente curricular, numa perspectiva comportamentos machistas, sexistas,
interdisciplinar que considere os contextos e as misóginos, homofóbicos, lesbofóbicos,
experiências vivenciadas pelos estudantes nas bifóbicos, handifóbicos ,
14
transfóbicos
diferentes etapas da Educação Básica. Desse entre outros, na escola, para o combate do
modo, destacam-se como objetivos gerais para o preconceito e discriminação de gênero.
trabalho pedagógico a ser desenvolvido na área:
• Oportunizar reflexões críticas sobre os
• Contribuir para a formação de uma consciência processos de exclusão/inclusão promovidos
histórica e espacial, necessária nos processos pelas sociedades, considerando o cuidado
de transformação social cuja base é o trabalho com o planeta Terra e o respeito aos Direitos
humano. Humanos.
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Articulação com os temas da diversidade assumiu diferentes formas e concepções que
se relacionavam com o contexto histórico vivido.
Considerando a especificidade desta área, Assim, práticas de expropriação da liberdade, de
observamos que seus componentes se perseguição religiosa, de cerceamento de direitos
constituem instâncias privilegiadas para trabalhar políticos individuais e coletivos transversalizaram
as temáticas da diversidade, tendo em vista seus toda a história da humanidade.
objetos de estudo que são as dinâmicas sociais,
culturais, históricas, temporais e espaciais. De Embora tradicionalmente consideremos como
modo especial, destacamos a Lei 10639/2003, marcos dos direitos humanos a Revolução
que estabelece os conteúdos referentes à história Francesa e a Declaração Universal promulgada
e cultura afro-brasileira e dos povos indígenas na metade do século XX, a temática perpassa
brasileiros a serem ministrados no âmbito de diferentes temporalidades e territorialidades, na
todo o currículo escolar, sendo que a história e luta pela afirmação da dignidade humana nos
cultura africana e indígena são conteúdo a serem diferentes povos.
ministrados obrigatoriamente no componente de
História. A educação em Direitos Humanos vai além
de uma aprendizagem cognitiva, incluindo o
Entre os princípios comuns que deverão desenvolvimento social e emocional de quem
ser observados em todas as áreas está a se envolve no processo ensino aprendizagem
incompletude cultural, ou seja, toda cultura passa (UNESCO, 2006). A educação, nesse
por transformações e nenhuma é completa, elas entendimento, deve ocorrer na comunidade
se interinfluenciam. Essa é uma ideia fundamental escolar em interação com a comunidade local
nesta área, e se constitui por assim dizer um dos tendo como referência as Diretrizes Curriculares.
objetivos de seus componentes, que é o de analisar No campo legal destacamos a LDB 9394/96, o
como as diversas culturas se entrecruzam e Plano Nacional de Educação em Direitos Humanos
produzem formas de ser e estar no mundo. Assim, (2007) e a Resolução do CNE/CP nº 01/2012
em busca de uma perspectiva emancipatória, que estabelecem as diretrizes nacionais para a
transformadora e crítica elencamos como temas educação em direitos humanos, assim como, a
integradores da área de Ciências Humanas: Portaria 045/2013 da Seme que busca avanços
Direitos Humanos, Territorialidades, Trabalho/ na efetivação de uma educação para o respeito,
Tecnologia e Ambiente/Sustentabilidade. valorização e acolhimento às diversidades
presentes e expressas nas relações com a vida e
Os temas contribuem para a definição dos com escola.
objetivos de aprendizagem a serem desenvolvidos
em cada componente curricular, sendo importante Consideramos que a escola é um espaço
destacar que a sua proposição visa ampliar as imprescindível para oportunizar a desconstrução
possibilidades de integração curricular e, desse de preconceitos e discriminação envolvendo as
modo, podem ser desdobrados em diferentes relações de gênero, étnico-raciais, diversidade
temáticas. As seguir são apresentadas algumas sexual e religiosa para a promoção da equidade
contribuições para a compreensão dos temas e e da transformação da sociedade a partir dos
dos conceitos que eles abarcam. conhecimentos científicos e das relações sociais.
Fruto da luta pelo reconhecimento da dignidade Historicamente, os seres humanos têm buscado
humana desde as primeiras civilizações, a temática respostas para perguntas sobre a sua própria
de direitos humanos nos auxilia na compreensão existência e a criação do universo, bem como,
e superação das diferentes formas de exclusão o sentido da vida e da morte. Nessa busca,
em diferentes tempos e espaços. Convertido o humano criou formas de comunicação e
como forma de luta contra as desigualdades, linguagem e produziu os mais variados tipos de
identificamos que a construção desse conceito conhecimentos.
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discriminação religiosa, e apostamos num currículo
que contemple a rica e bela diversidade religiosa
presente na história da humanidade, contribuindo
para a construção de caminhos que possibilitem o
processo de superação. Um currículo que contribua
para a construção de formas de (com)vivência, que
(re)conheça as diferenças e assegure o respeito
à história, ao desenvolvimento, à identidade, à
memória, à religiosidade e à crença de cada pessoa,
grupo social, povo, etnia e cultura, na perspectiva
da garantia da liberdade religiosa como um direito
humano.
b) Relações de gênero
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Nesse sentido, as perspectivas críticas de convencionais sobre a expressão de sexualidade,
currículo, segundo Silva (2003), tornaram-se tomando como referência o padrão heterossexual.
crescentemente questionadas por ignorarem
o papel do gênero e da raça no processo de Portanto, no espaço escolar, há todo um
produção e reprodução da desigualdade. Esse investimento institucional na produção de ‘sujeitos
questionamento, de modo especial, partiu da normais’, mediante a utilização de inúmeras
teorização feminista, que aponta uma enorme técnicas e saberes que disciplinam a utilização do
desproporcionalidade entre homens e mulheres, tempo, do espaço, do movimento. Enfim, o que
relativa aos recursos materiais e simbólicos na observamos, frequentemente, consiste em um
sociedade e que essa repartição desigual estende- processo contínuo que visa à produção de corpos
se à educação e ao currículo. e mentes dóceis, coerentes com as normas
sociais (LOURO, 1997). Entre os problemas
A teorização feminista que ressaltamos neste apresentados, destacam-se as discriminações
texto, refere-se ao fato de que o conhecimento e violações de direitos contra lésbicas, gays,
não é nunca neutro, ou seja, não se separa quem bissexuais, travestis, transsexuais (LGBTT)
conhece daquilo que é conhecido. Dependendo presentes e invisibilizados nos currículos e nos
do lugar que ocupamos na vida e na sociedade, espaços escolares por motivo de preconceito.
conhecemos certas coisas e outras não. Assim, Tais fatores contribuem significativamente para
os conhecimentos das pessoas em situação o aumento da reprovação, evasão escolar e
de desvantagem social seriam muito mais negação do direito à aprendizagem.
significativos epistemologicamente falando,
porque refletem as experiências de quem conhece, Como pensar em currículo, sem dialogar com histórias,
integrando sujeito e objeto, numa estreita relação. memórias e experiências daqueles que se apresentam
cotidianamente nos tempos e espaços escolares
Conforme destaca Louro (1997), a escola é um para desempenhar importantes papéis sociais como
lócus importante para o debate com a temática estudantes e trabalhadores da educação? É na escola
em questão uma vez que, inserida nesse que se concretiza a experiência da educação como
processo histórico, a instituição escolar tem direito de todos, considerando a diversidade humana
ocupado um espaço estratégico nos processos presente nas Unidades de Ensino.
de normatização do sujeito no contexto das
sociedades contemporâneas. Nesse sentido, torna-se imprescindível considerar a
diferença como elemento disparador na construção
Ao analisarmos a questão de gênero historicamente de relações sociais que reconheçam a dignidade
identificaremos em diferentes sociedades (da humana e a igualdade de direitos. Muitas são as
antiguidade aos tempos atuais) a marca da vozes, na comunidade escolar, que são silenciadas
desigualdade de gênero, bem como da presença diante da experiência da opressão e da negação
de práticas não binárias em relação ao gênero, de direitos em um espaço com potência para a
buscando também evidenciar sociedades libertação do ser humano, pela via do conhecimento.
matriarcais, seus contextos históricos e territórios.
É possível perceber que historicamente a
c) Diversidade Sexual educação produz e reproduz modos de ser e estar
meninos e meninas, considerando os padrões
Ensinar e aprender sobre sexualidades na escola instituídos nos diversos segmentos sociais, dentre
tem sido um grande desafio uma vez que tal estes as igrejas, a mídia e as famílias. É por esse
temática comparece quase sempre nos conteúdos motivo que a sexualidade sempre foi tratada na
curriculares do campo da biologia, fato que escola e na sociedade sob vigilância, permeada
impossibilita em grande parte a ampliação do olhar por ideias de naturalização, tendo como referência
para complexidades, dúvidas e tensionamentos a heterossexualidade, além de pensamentos que
sobre a diversidade de expressões e modos partem do pressuposto de associação do órgão
de vivenciar a sexualidade. Assim, desvelam- genital ao gênero como uma trajetória esperada e
se alguns problemas, dentre estes, os saberes única na constituição do indivíduo.
236
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Desse modo, é possível perceber que a crítica a por mulheres e homens, sejam estas psicológicas,
tais pensamentos sobre a sexualidade, surge a físicas, ao patrimônio e/ou simbólicas. Para o
partir dos estudos de gênero e das contribuições filósofo Enrique Dussel (apud OLIVEIRA, 2009),
dos movimentos feministas, bem como outros é o outro, com suas diferenças, que me faz entrar
movimentos sociais engajados na luta por direitos em confronto com meus valores e crenças e me
políticos e sociais de populações estigmatizadas e faz perceber minha incompletude humana. O
vítimas da ausência de políticas públicas e direitos outro, com suas diferenças é que me faz crescer.
sociais.
É importante salientar, contudo, que a inserção
Pode-se afirmar que até nos anos sessenta e dos debates de gênero e diversidade no currículo
setenta os olhares para as questões de gênero escolar se dá de modo transversal e interdisciplinar,
e sexualidade ainda estavam vinculados aos não cabendo apenas em momentos estanques,
pressupostos do essencialismo, corrente como projetos, datas comemorativas, devendo
que compreende o desenvolvimento humano se constituir fio condutor que agrega e constrói
associado à natureza. Entretanto, a partir dos anos modos de perceber o outro. Pensar na tecitura
oitenta, com a força dos movimentos feministas do currículo escolar, acolhedor da singularidade
e outros movimentos sociais que compreendem humana, considerando os modos de existência
o desenvolvimento humano a partir da relação como homens e mulheres, torna-se imprescin-
com o outro, com a cultura e com as experiências dível atentar para as diretrizes apontadas nos
vivenciadas, foi possível observar uma crescente documentos que trazem conquistas para se
importância ao papel do gênero na produção da pensar na educação para todos.
desigualdade, conforme explica Silva (2003).
d) Diversidade Étnico-racial
Jimena Furlani (2011) considera que além da
condição econômica, os modos de ser e estar Precisamos problematizar as relações étnico-
na sociedade vão se constituindo também por raciais no currículo escolar, uma vez que a escola
pertencimentos de gênero, sexualidade, raça, é uma significativa instituição educacional, social
etnia e tantos outros que nos tornam sujeitos de e cultural, sendo responsável pelo processo de
múltiplas identidades. Para a autora, tais questões socialização dos sujeitos que a ela recorrem,
precisam ser consideradas nos currículos a exemplo das crianças, adolescentes, jovens,
escolares. Entretanto, Furlani (2011) orienta que adultos e idosos. Acreditamos assim, que é através
é preciso atentar para as escolhas teóricas na das relações étnico-raciais que estabelecemos
constituição de caminhos a serem percorridos relações com as diversidades de pessoas de
no currículo para as questões de gênero e diferentes matrizes culturais. Esse contato com
sexualidade e, considera as contribuições das os diversos grupos, poderá contribuir para que a
teorias pós-críticas como possibilitadoras da escola seja o primeiro espaço de vivências das
crítica ao modelo do sujeito centrado, autônomo e tensões, aprendizagem e convivências raciais. As
universal. Para a autora, a possibilidade de indagar relações estabelecidas entre crianças brancas,
e questionar a padronização da sexualidade e de negras, indígenas, ciganas, dentre outros grupos
gênero é o elemento que permite potencializar étnicos numa sala de aula pode acontecer de
aspectos políticos, filosóficos e pedagógicos modo tenso, ou seja, excluindo, possibilitando o
para a concretização de uma escola para todos racismo e outras diversas formas de violências.
tendo como referência as diferenças culturais, Essas questões nos provoca a reflexão: A escola
identitárias, religiosas, étnicas e tantas outras. tem sido espaço de inclusão ou exclusão? Tem
sido espaço de respeito às diversidades ou de
Esse importante caminho pode e deve ser violências?
incorporado ao currículo, como instrumento
metodológico para o acolhimento à diversidade Partindo do princípio do significativo papel
sexual presente na escola, bem como, na dos educadores na inclusão social, cultural e
possibilidade de enfrentamento às diversas no combate as diversas formas de violências,
manifestações de machismos e violências sofridas precisamos problematizar: Como os estudantes
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e professoras do Ensino Fundamental lidam com aos negros e negras, compreender a África no
as diversidades étnico-raciais e o racismo no seu contexto histórico, geográfico e cultural em
ambiente escolar? De que forma temos garantido toda a sua dimensão possibilita a desconstrução
o estudo dos povos e comunidades tradicionais? da noção primária de que, naquele continente (do
qual não sabemos sequer os nomes dos países),
Segundo os dados do Relatório do 1º Encontro só existe miséria, fome, doenças endêmicas,
Regional dos Povos e Comunidades Tradicionais, guerras “tribais” e atraso.
em 2008 havia cerca de 4,5 milhões de pessoas
integrando comunidades tradicionais no Brasil, A riqueza cultural, étnica, linguística, artística,
ocupando aproximadamente 25% do território intelectual, bem como as nuances de uma
nacional (apud SILVA; SOUZA, 2009, p. 129). São história tão complexa e significativa para nós
considerados povos ou comunidades tradicionais brasileiros são deixados de lado, priorizando a
os Povos Indígenas, Quilombolas, Seringueiros, Europa ou Estados Unidos. Segundo Munanga
Castanheiros, Quebradeiras de coco-de-babaçu, (2010), não foram os africanos que negaram suas
Comunidades de Fundo de Pasto, Catadoras de próprias histórias, mas sim os ocidentais, por
mangaba, Faxinalenses, Pescadores Artesanais, questões ideológicas e preconceituosas. Para o
Marisqueiras, Ribeirinhos, Varjeiros, Caiçaras, referido antropólogo, essas ações contribuíram
Povos de terreiro, Praieiros, Sertanejos, para a alienação da personalidade coletiva do
Jangadeiros, Ciganos, Pomeranos, Açorianos, próprio africano. O Ocidente, por influência do
Campeiros, Vazanteiros, Pantaneiros, Geraizeiros, pensamento hegeliano, não acreditou que a África
Veredeiros, Caatingueiros, Retireiros do Araguaia, pudesse ser objeto de estudo historiográfico. Por
entre outros. isso, inventou novas ciências capazes de aprender
as “sociedades primitivas africanas”. Daí surgiram
Essas comunidades nos sinalizam duas “ciências como a etnografia, etnolinguística e a
importantes questões socioculturais. A primeira etnofilosofia”. Acreditamos assim, que o estudo
diz respeito aos territórios, que são considerados da história e da cultura afro e indígena, além de
um importante espaço para a reprodução cultural, atender as legislações vigentes, é uma proposta
social e econômica desses povos. São nesses para ressignificar essa pauta.
territórios, usados como espaços permanentes ou
temporários, que simbolicamente são impressas É importante ressaltar que a África é considerada
as memórias e as histórias, ressignificando o berço da humanidade, isto é, o continente onde
as culturas que compõem as identidades e surgiram os primeiros ancestrais das mulheres
resistências das pessoas que vivem nessas e dos homens que habitam nossa galáxia. É
comunidades tradicionais. Outro fator marcante importante que os estudantes saibam que somos
é o desenvolvimento sustentável, é comum o todos afrodescendentes, apesar dessa origem
uso de recursos naturais, com a preocupação comum ser muito longínqua, pois há cerca de 100
de manter os recursos para as novas gerações. mil anos que nossos ancestrais homo sapiens
São comunidades marcadas pela economia de sapiens saíram da África para povoar outros
subsistência. É importante essa pauta no currículo continentes. É necessário problematizar também
da escola, pois o processo de desenvolvimento com os estudantes as origens dos africanos que
tem ameaçado a continuidade de várias dessas foram trazidos e escravizados no Brasil.
comunidades, que começam a se unir para
garantir seus direitos ao território e a preservação Nesse sentido, precisamos construir uma escola
dos recursos. antirracista, que respeite todas as formas de
expressões étnico-raciais e culturais, contribuindo
Nesse contexto, a escola precisa avançar nas relações e formações das crianças,
nos debates, estudos e problematização das adolescentes, jovens, adultos e idosos para
diversidades étnico-raciais. Conhecer a história combater os preconceitos e a discriminação dos
e cultura afro e indígena, acreditamos que é quais são vítimas e criar uma estrutura social
essencial para entender o que é o Brasil no igualitária.
contexto das relações globais. No que diz respeito
238
DIRETRIZES CURRICULARES DO ENSINO FUNDAMENTAL E DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS
Territorialidade(s) [...] como um campo de forças, uma teia ou rede
de relações sociais que, a par de sua complexidade
interna, define, ao mesmo tempo, um limite, uma
Todo conceito tem temporalidade, sofre mudanças alteridade: a diferença entre “nós” (o grupo, os
e possui particularidades e o conceito de membros da coletividade ou comunidade, os
territorialidade não é diferente. Para uma melhor insiders) e os “outros” (os de fora, os estranhos, os
compreensão é necessário conhecer/analisar outsiders) (SOUZA, 2008, p. 86).
o conceito de território, anterior ao conceito de
territorialidade. Desse modo, os territórios se fundam nas relações
sociais, de conflito e de poder que se projetam
A tradição epistemológica do conceito de território e operam em substratos materiais ou espaços
nas ciências humanas, sobretudo, na Ciência concretos delimitados, e para além da noção
Política e na Geografia esteve fundamentada do território como espaço concreto, podem ser
na ideia do território como “um espaço definido constituídos e dissolvidos de modo relativamente
e delimitado por e a partir de relações de poder” rápido (ao invés de escala temporal de séculos
(SOUZA, 2008, p. 78). A Ciência Política quase ou décadas, apenas meses, semanas ou dias)
sempre advogando sobre o poder e a Geografia podendo ser estáveis ou instáveis, e ter uma
sobre o espaço social, e em grande medida, existência permanente ou periódica, apesar do
dominadas por uma orientação em direção ao substrato espacial continuar o mesmo (SOUZA,
Estado - Nação. 2008).
Notadamente, a palavra território no discurso Podemos considerar como exemplo, o que Souza
científico normalmente inspirou pensar no (2008) chama de “territorialidades flexíveis”, como
“território nacional”, nos grandes espaços, na os territórios da prostituição (que são apropriados
pátria, nas guerras, bem como no Estado – gestor por grupos apenas a noite, e dividem espaços
por excelência do território nacional. Contudo, de específicos da cidade com outros grupos e setores
acordo com Souza (2008), sua compreensão não da economia em horário diurno), dos camelôs
deve ser reduzida somente a essa escala e nem (que ocupam espaços públicos e disputam
associada apenas ao Estado, pois se manifesta interesses com o setor formal), das organizações
em diversas escalas, das mais acanhadas (ruas, criminosas (que se organizam em redes
bairros, vilas) à internacional (área dos países complexas disputando influência econômica/
membros da OPEP, da OTAN, etc.). mercado consumidor e contrastam com outras
redes superpostas no espaço concreto), dos
No âmbito da Geografia Política o conceito de grupos sociais específicos que ocupam áreas
território surge como espaço concreto com suas públicas para o comércio e afirmação de sua
características geoecológicas e de produção, cultura (nordestinos, afrodescendentes e outros
construídas e apropriadas por um grupo social, migrantes) que se contrastam com o espaço
que nele estabelecem ligações afetivas e de concreto da cidade.
identidade entre as pessoas e os atributos
desse espaço concreto (natureza, patrimônio Assim, a abordagem geográfica no estudo dos
arquitetônico, paisagem). territórios, ainda que privilegie a dimensão
política do Estado – Nação e os microterritórios de
Para Souza (2008) as considerações de Ratzel resistência presentes no cotidiano das cidades e
sobre o território se vinculam aos atributos do do campo deve considerar toda a complexidade
solo pátrio, essencialmente fixado no referencial com que se constroem as relações de poder,
político do Estado, tratando especificamente das bem como as representações dos diferentes
territorialidades produzidas pelo Estado - Nação. grupos culturais, visíveis e invisibilizados, que
No entanto, outras formas de se abordar as produzem territorialidades, sobretudo nos
territorialidades, sem isolar as dimensões política espaços urbanos.
e cultural da sociedade é flexibilizando a visão de
território, Finalmente, cabe então mencionar a relevância
de considerar os conceitos de território e
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territorialidade como eixo integrador da área das Trabalho e tecnologia
Ciências Humanas dado o caráter sócio-político-
econômico dos mesmos que, na modernidade, Afirmamos que não é possível continuar
tende a uma segregação ou exclusão social e que pensando – principalmente se tratando do Ensino
discutindo-os no campo do currículo, podem gerar Fundamental – que a escola estabeleça como
transformações nas articulações de participação atividade prioritária para a sua ação a preparação
da gestão territorial. Os grupos e/ou classes exclusiva para competirem no mercado de
sociais segregam-se cada vez mais, produzindo trabalho, em uma sociedade marcada pela
lugares específicos para tipos específicos de dinâmica excludente do capitalismo. Afirmamos
convivência, tornando o espaço cada vez mais ainda que é possível e necessário construir outros
fragmentado. Não há mais um território, e sim, espaços de produção da existência material e
múltiplos territórios que se articulam em malhas, imaterial, não fundados na destruição da natureza,
redes e nós, e os dois conceitos abordados aqui, no individualismo e na competição. É quando se
tornam-se ferramentas para compreensão das produzem outras formas de conhecimento através
relações de poder que se projetam no espaço em da ciência e tecnologia.
todos os níveis e escalas possíveis. Entre esses
múltiplos territórios chamamos atenção para: O desafio de pensar a relação do mundo do
trabalho e da tecnologia deve perpassar todo o
a) Territórios políticos – referem-se às relações currículo, pois isso está intimamente relacionado
entre espaço e poder que dizem respeito às relações à forma como os estudantes interagem e intervêm
espaciais que se estabelecem no Estado-Nação. O no meio ambiente, entendido aqui como o
território é visto como espaço delimitado e controlado, espaço de vivência entre seres humanos e não
através do qual se exerce um determinado poder (não humanos, numa totalidade viva. O senso de
exclusivamente relacionado ao poder do Estado). Aqui responsabilidade e de preservação humana,
se estabelecem as fronteiras oficiais e não oficiais relacionado à consciência e ao respeito dos
como demarcação de território. limites e possibilidades impostos pelas condições
físicas e biológicas do planeta, constitui a ética do
b) Territórios culturais – o conteúdo cultural tempo presente, a ética do cuidado, que supera
delimita o território a partir da teia de representações a visão de uso utilitarista da natureza, ampliando
e subjetividades que se enraízam nesse território as possibilidades dos fazeres da ciência e da
instituindo-lhe uma identidade. É preciso potencializar tecnologia.
os estudos do território em suas perspectivas culturais
considerando a dimensão simbólica, imaginária, É urgente a necessidade de nos interrogarmos
das imagens e representações das territorialidades sobre a possibilidade de pensar a produção da
produzidas pelos diferentes grupos sociais nos espaços existência e da qualidade de vida saudável sem
onde vivem. que sejam destruídos os outros seres da natureza.
Isso inclui investirmos na promoção de uma nova
c) Territórios étnicos – referem-se aos territórios de ação cultural que gere mudanças dos hábitos
luta de povos indígenas, quilombolas, ciganos, dentre indevidos, já incorporados à prática cotidiana, e
outros, que se relacionam com o espaço diferentemente que vêm colocando em risco a nossa existência
do povo ocidental, o que confere território específico a enquanto espécie humana.
essas comunidades, com seus limites legítimos, que
nem sempre são reconhecidos, com sua territorialidade. Um grande desafio para a implantação de um
modelo de educação que pretenda se construir
d) Territórios de exclusão – o território tem papel de forma autônoma e crítica em relação a
importante no conflito entre capital e trabalho que cria/ esse processo advém da constatação de
produz desigualdades socioeconômicas que cria por que, ao longo da história da humanidade, o
sua vez, segregação espacial/territorial e também, desenvolvimento científico e tecnológico não
consequentemente, um território negligenciado pelo representou, necessariamente, um avanço social
Poder Público. para a humanidade. Os desdobramentos desse
processo nem sempre representaram benefícios
240
DIRETRIZES CURRICULARES DO ENSINO FUNDAMENTAL E DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS
coletivos. Torna-se difícil compreender como Ambiente e sustentabilidade
esse conhecimento decorrente dos benefícios
oriundos de avanços científicos e tecnológicos O eixo temático propõe que as ações educativas
que poderiam, aparentemente, nos colocar em potencializadas pelas professoras desta rede de
melhores condições sociais, tem, em muitos ensino estejam fundamentadas e comprometidas
aspectos, ampliado os processos de exclusão para a formação de sujeitos capazes de
social. Isto se explica porque, ressignificar suas inter-relações com o ambiente,
na perspectiva de mudança não apenas de
[…] em geral, a tecnologia é reduzida apenas ao valores, mas de atitudes e comportamentos diante
seu aspecto técnico. A identificação dos aspectos das questões ambientais cotidianas. Vislumbram-
organizacionais e culturais da tecnologia permite
compreender como ela é dependente dos sistemas
se processos de ensino aprendizagem que
sócio-políticos e dos valores e das ideologias da movimentem os estudantes a pensar-agir sobre
cultura em que se insere. É com esse entendimento uma nova sociedade, fomentada por princípios
que o cidadão passa a perceber as interferências ecologicamente prudentes, economicamente
que a tecnologia tem em sua vida e como ele pode viáveis, socialmente justos e culturalmente
interferir nessa atividade (MORTIMER; SANTOS,
diversos.
2002, p. 9).
15
Para Ignacy Sachs “[...] o ecodesenvolvimento define-se como o
desenvolvimento social desejável, economicamente viável e ecologicamente
16
Publicação do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente, com
prudente”. versão em Português com o título “Nosso Futuro Comum” (1988).
242
DIRETRIZES CURRICULARES DO ENSINO FUNDAMENTAL E DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS
Refletir sobre a complexidade ambiental abre um necessidade do conhecimento das experiências e
estimulante espaço para compreender a gestação trajetórias de vida de nossos estudantes. Quem
de novos atores sociais que se mobilizam para
são eles? Qual as relações que estabelecem em
a apropriação da natureza, para um processo
educativo articulado e compromissado com a seu espaço de vida, familiar, social, de estudo,
sustentabilidade e a participação, apoiado numa de trabalho? Que conhecimentos têm sobre
lógica que privilegia o diálogo e a interdependência determinados assuntos ou temáticas? Como
de diferentes áreas de saber. Mas também questiona saber mediar a superação de seus conhecimentos
valores e premissas que norteiam as práticas com a construção de novos conhecimentos se não
sociais, isto implicando uma mudança na forma de
pensar, uma transformação no conhecimento e nas
os conhecemos? Nossos estudantes não chegam
práticas educativas (JACOBI, 2005, p. 98). à escola como uma folha de caderno em branco,
não vão à escola como uma parte de si mesmos,
Portanto, a direção apontada para as professoras e sim, como uma pessoa, um todo. De acordo com
é no sentido de aprofundar a reflexão sobre a a versão preliminar da Base Nacional Comum
problemática ambiental nos espaços escolares, Curricular (BRASIL, 2016),
mediando práticas pedagógicas que estimulem o
[...] é importante a valorização e a problematização
protagonismo dos sujeitos educativos no processo
de vivências e experiências que os/as estudantes
de compreensão das intrínsecas relações entre trazem para a escola, por meio do lúdico, de trocas, da
sociedade e ambiente, bem como atitudes e escuta e de falas sensíveis, nos diversos ambientes
valores que mobilizem esforços para a luta, educativos (bibliotecas, pátio, praças, parques,
resistência e ruptura com as práticas sociopolíticas museus, arquivos, dentre outros), privilegiando
e econômicas que contribuem para os crescentes o trabalho de campo, entrevistas, observação;
desenvolvendo análises e argumentações;
agravos ambientais, que intensificam a crise potencializando descobertas; estimulando o
socioambiental contemporânea. pensamento criativo e crítico, a capacidade de fazer
perguntas e de avaliar respostas; e enfatizando
Abordagens metodológicas a pesquisa como procedimento próprio da área
(BRASIL, 2016, p. 296).
Segundo Cavalcanti (2002), a escola é o lugar onde
diferentes culturas, diferentes saberes cotidianos Dentre as alternativas metodológicas citadas,
e científicos estão presentes. Essa diversidade, destacamos a importância da pesquisa em
conforme também exposto na caracterização da Ciências Humanas que deve ser desenvolvida de
área, deve ser o ponto de partida na configuração forma progressiva com os estudantes do Ensino
das metodologias de ensino para a área das Fundamental, através dos procedimentos de
Humanas, sendo este um grande desafio investigação em diferentes fontes documentais,
representado pela escolha de procedimentos que observações e registros, coleta de dados,
considerem as inúmeras diferenças existentes entrevistas, depoimentos, estabelecimento de
nas salas de aula. comparações.
246
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DIRETRIZES CURRICULARES DO ENSINO FUNDAMENTAL E DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS
4.1 Geografia
Caracterização: conceitos e princípios dos Estados – Nações. As grandes navegações
permitiram a ampliação do horizonte geográfico
As diretrizes aqui propostas resultam do trabalho e a comprovação da esfericidade terrestre,
realizado pelos profissionais que atuam no consequentemente formou-se um vasto acervo
Ensino Fundamental e na modalidade Educação de conhecimentos cartográficos, climáticos,
de Jovens e Adultos (EJA) da rede municipal de oceanográficos, astronômicos, geológicos entre
ensino de Vitória. É importante ressaltar que no outros.
processo de sistematização foram consideradas
as discussões realizadas pelos profissionais no Muitas descobertas científicas dessas áreas
decorrer dos Ciclos de Diálogos Curriculares tiveram implicações relevantes na constituição da
que tomaram como referência as Diretrizes Geografia. Nos dois séculos posteriores (XVIII e
Curriculares vigentes (PMV, 2004), além de XIX), caracterizados pelo capitalismo industrial,
acompanhar as produções, ainda preliminares, da as relações de trabalho, de um modo geral, já
Base Nacional Comum Curricular (2015/2016). não eram mais entre o servo e o senhor. Na nova
sociedade contratual, trabalhadores livres vendiam
Cabe destacar ainda que os conceitos produzidos sua energia física e mental por um salário. Para
nesse campo do saber, que elabora suas consolidar o seu poder de influência, a burguesia
próprias leituras e proposições de entendimento passou a defender a tese da escolarização em
do mundo, vão sendo ressignificados de acordo massa, objetivando instrumentalizar a mão-de-
com matrizes teóricas diversas. Nos enunciados obra de conhecimentos elementares necessários
e nas análises da ciência geográfica, pautados ao êxito da acumulação capitalista. O domínio de
nas grandes categorias de espaço e tempo, são noções básicas da escrita e da leitura, de História
produzidos e utilizados conceitos, como, espaço e de Geografia e das operações matemáticas bem
geográfico, lugar, território, natureza, paisagem, como o fortalecimento da identidade nacional era
região, ambiente, entre outros. Esses conceitos, prioritário nesse momento histórico, a fim de que
que articulam diversos sentidos de fenômenos essa classe social atingisse suas metas.
naturais, culturais, sociais, econômicos e políticos,
visam construir entendimentos possíveis sobre Esses dois fatores tornaram-se fundamentais na
o mundo. Por esta razão não cabe fixá-los em institucionalização da Geografia, no século XIX,
definições únicas, mas conhecer suas formulações em escolas e universidades. Assim, orientada
e construí-los a partir da observação e da análise por concepções ideológicas patrióticas e
(BRASIL, 2016). nacionalistas, essa Geografia Tradicional, assim
denominada, teve, no plano filosófico, influências
a) A ciência geográfica e o ensino da Geografia: mais evidentes do Idealismo e do Positivismo.
um olhar sobre suas produções Que princípios, segundo a ótica positivista,
deveriam orientar a produção do saber? Como
Conforme contextualizado nas Diretrizes tais paradigmas repercutiram no conhecimento
Curriculares do Ensino Fundamental (PMV/ geográfico? Lowy (1996, p. 17), sintetiza em três
SEME, 2004), intensas mudanças econômicas, as proposições básicas dessa vertente filosófica,
políticas e sociais emergiram na Europa, entre que são:
os séculos XIII e XVIII, provocando o colapso do
sistema feudal. As principais atividades produtivas 1. A sociedade é regida por leis naturais, isto é,
e a maioria da força de trabalho centraram-se leis invariáveis, independentes da vontade e da
nas zonas urbanas e o território fragmentado em ação humana; na vida social, reina uma harmonia
pequenos feudos foi unificado, com a formação natural.
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2. A sociedade pode, portanto, ser b) A crise de um saber e a busca de novos rumos
epistemologicamente assimilada pela natureza
[...] e ser estudada pelos mesmos métodos [...] A fase histórica posterior à Segunda Guerra Mundial
e processos empregados pelas ciências da trouxe complexas e profundas transformações
natureza. políticas, socioeconômicas e culturais para o
mundo. O capitalismo consolidou-se em sua
3. As ciências da sociedade, assim como as etapa monopolista. O liberalismo econômico foi
da natureza, devem limitar-se à observação e substituído pelo modelo do Estado de Bem-Estar
à explicação causal dos fenômenos de forma Social, com maior presença do intervencionismo
objetiva, neutra, livre de julgamentos de valor ou estatal na economia. O “socialismo real” se
ideologias, descartando previamente todas as expandiu, provocando uma disputa hegemônica,
pré-noções e preconceitos. caracterizada pela chamada Guerra Fria, em que
ambos procuravam aumentar suas esferas de
A Geografia, de um modo geral, não ficou imune influência política e ideológica. Um novo surto
a esses pressupostos teórico-metodológicos. industrial ocorreu, acompanhado por um intenso
O determinismo geográfico, por exemplo, tem processo de urbanização, inclusive em países
grandes semelhanças com o primeiro princípio, capitalistas periféricos como o Brasil.
omitindo a condição do indivíduo como ser social.
Nessa perspectiva, há uma naturalização do ser Perante essa nova realidade mundial intricada
humano e de suas relações. Ele é subjugado e dinâmica, a Geografia Tradicional, com seus
pelas forças do meio, sendo incapaz de paradigmas empíricos e descritivos, suas análises
autonomia e de reação. Opera-se, desse modo, destituídas de um enfoque totalizador, entrou em
uma transposição mecanicista dos métodos crise. Já não atendia aos propósitos daqueles
das ciências naturais para o âmbito da análise geógrafos empenhados em construir uma ciência
geográfica. comprometida com os interesses dos dominados
econômica e politicamente. Guiada geralmente
Santos (1986) ressalta os comprometimentos por orientações utilitaristas voltadas para a
político-ideológicos da Geografia Tradicional consecução de objetivos práticos, carecia de um
com as estratégias expansionistas de países instrumental teórico metodológico que fosse capaz
europeus, na conquista de novas terras e na de investigar, em sua essência, as contradições
subjugação de seus povos e a despeito dos e os fenômenos postos por esse novo contexto
equívocos e deficiências epistemológicas, a histórico-social. Estabelecendo uma dicotomia
vertente tradicional da Geografia deixou um entre as categorias espaço e tempo, perdeu de
legado importante de contribuições. Moraes vista o seu objeto de estudo, uma vez que as
(1987, p. 91-92), destaca três colaborações de suas atenções se voltaram cada vez mais para os
grande valor para o pensamento geográfico em aspectos particulares do real, descuidando-se das
geral: interdependências desses com a totalidade global
(PMV, 2004).
Em primeiro lugar a Geografia Tradicional deixou
uma ciência elaborada, um corpo de conheci-
mentos sistematizados, com relativa unidade in-
c) A Geografia Crítica e a renovação do saber
terna e indiscutível continuidade nas discussões. geográfico: novos horizontes e desafios
Deixou fundamentos, que mesmo criticáveis,
delimitaram um campo geral de investigações, A crise das concepções tradicionais na Geografia
articulando uma disciplina autônoma [...]. Em despertou em seus profissionais a necessidade
segundo lugar, a Geografia Tradicional elaborou
de avaliar criticamente os seus paradigmas
um rico acervo empírico, fruto de um trabalho
exaustivo de levantamento de realidades locais científicos e filosóficos. Buscaram, dessa forma,
[...]. E, finalmente, o pensamento tradicional da redefinir outros caminhos para a Geografia,
Geografia elaborou alguns conceitos (como ter- refletindo acerca de sua razão de existir como
ritório, ambiente, região, habitat, área etc.) que ramo do conhecimento, de sua função social.
merecem ser rediscutidos. Como um desdobramento desse processo de
escolha e decisão, emergiu um amplo movimento
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renovador, a chamada “Geografia Crítica ou A Geografia é uma ciência comprometida em tornar
Radical”, fundamentada nos pressupostos do o mundo compreensível, explicável e passível
materialismo dialético. Esse movimento rompe de transformações pelas sociedades a partir
com os comprometimentos político-ideológicos e da análise e possível compreensão do espaço
com o aparente caráter neutro e dissimulador da geográfico. O seu ensino, por conseguinte, deve
Geografia Tradicional. levar os estudantes a compreenderem melhor a
realidade na qual estão inseridos, possibilitando
Sobre essas concepções, Yves Lacoste (1988), que nela interfiram de maneira consciente e
na obra clássica A Geografia – isso serve, em propositiva, uma vez que
primeiro lugar, para fazer a guerra, argumenta
que a Geografia se ramificou em duas formas: a Os acontecimentos sociais, científicos e
“Geografia dos Estados-Maiores” e a “Geografia tecnológicos dos últimos tempos têm transformado
dos Professores”, sendo que o espaço geográfico global e local. Apesar de esses
acontecimentos incluírem significativos avanços
para a humanidade, percebe-se, ainda, nesse início
A primeira é de grande proveito para os estrategistas
de século XXI, expressivas desigualdades sociais
militares e exploradores na concretização dos
e econômicas presentes entre as populações
interesses imperialistas europeus e norte-
mundiais. Essas constatações têm exigido que os
americanos, no controle do planejamento estatal
profissionais da educação repensem sua ação na
pelas classes dominantes e na efetivação de
escola, compreendida como lugar específico de
vantagens para as multinacionais e os grandes
formação das pessoas (PMV, 2004, p. 142).
conglomerados financeiros. A segunda é
configurada num discurso abstrato, descritivo e
cansativo, dissimulador ideológico e político dos Contudo, é possível observar que as práticas,
benefícios que os poderosos conquistam por às vezes, se afastam do discurso dos docentes,
meio do controle da organização e produção do caracterizando a fragmentação entre a teoria
espaço. Ao se configurar como um saber maçante, estudada e a prática vivida. Outras vezes,
simplista e aparentemente inútil, a “Geografia dos
Professores” torna-se um instrumento de grande
as práticas se tornam reflexivas e produzem
serventia para a perpetuação do status quo (PMV, conquistas de novos momentos de aprendizagem
2004, p. 141). e, consequentemente, de novas sistematizações
teóricas do saber pedagógico.
A Geografia ensinada nas escolas teve seu
currículo relacionado historicamente a três Na distinção entre as práticas docentes
concepções teóricas em três diferentes tempos. reconhecidas como passíveis de superação e
Durante 40 anos (a partir de 1930), a Geografia aquelas consideradas desejáveis, o grupo de
Tradicional de caráter positivista e funcionalista, Geografia concorda com Cavalcanti (2003, p. 195)
imprimiu nos currículos escolares paradigmas que,
empíricos e descritivos, com análises destituídas
de um enfoque totalizador. Ao longo dos anos Para haver um ensino de Geografia com bases
críticas, é necessário que haja um professor que
de 1980, houve uma ruptura com as questões
exerça o papel de mediador desse processo, com
teórico-metodológicas e epistemológicas em um determinado tipo de mediação – que requer
relação a Geografia Tradicional, que resultou domínio de conteúdo, pensamento autônomo para
em novos conteúdos advindos do debate com o formular sua proposta de trabalho, sensibilidade
marxismo, surgindo a Geografia Crítica. E uma para dirigir o processo em todas as etapas e nos
terceira concepção (a partir de meados de 1990), diferentes momentos para o aluno.
que não intencionou romper com a segunda, mas
buscou o aprofundamento das concepções e das Praticando a mediação assim descrita, o docente
formulações dos novos currículos escolares e oportunizará o estreitamento das relações das
também estreitou as relações com a pedagogia. especificidades da Geografia escolar com aquelas
produzidas pelas outras áreas de saber, ampliando
d) A Geografia que se ensina e a Geografia e aprofundando condições de aproximação entre
necessária: pressupostos e desejos o cotidiano do estudante e a sistematização de
suas aprendizagens.
250
DIRETRIZES CURRICULARES DO ENSINO FUNDAMENTAL E DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS
A concepção de docência na atualidade inclui
exigir dos profissionais da educação habilidade e • o trabalho de construção de conceitos básicos
capacidade de pensar o espaço a partir do seu sobre as questões socioambientais, estimulando
lugar de vivência, mas ampliando o seu olhar a compreensão da produção social em
investigativo para além do horizonte, para descobrir consonância com a sustentabilidade do planeta
o mundo. Sua mediação entre o conhecimento, o Terra;
espaço vivido e o ser aprendente exige dele uma
metodologia de trabalho que permita ao estudante • o desenvolvimento do respeito e da
construir e exercer sua cidadania. convivência com as diferenças existentes
entre as pessoas, desconstruindo quaisquer
Para garantir a construção de uma prática tipos de discriminação, favorecendo o
pedagógica voltada para a formação global do exercício do multiculturalismo e a inserção de
educando, o grupo apoiou-se na filosofia sócio- educandos com necessidades educacionais
histórica, concebendo o estudante como sujeito especiais no meio escolar;
possuidor de uma história de vida. Por isso, é
importante considerar os conhecimentos prévios • a pesquisa e a prática de diferentes formas de
dos estudantes para que suas aprendizagens ação docente que possibilitem a concretização
sejam contextualizadas, permitindo-lhes não de uma sociedade mais justa e democrática.
apenas perceber as questões socioculturais e a
dinâmica da natureza, mas também compreendê- Esses pressupostos devem estar presentes em
las, sabendo efetuar uma forma singular de todas as etapas da escolaridade, objetivando
pensar sobre a proposta de ações coletivas das mostrar ao estudante que cidadania é também
sociedades em relação ao espaço geográfico. o sentimento de pertencer a uma realidade na
qual a cultura é natureza e a natureza é cultura
De acordo com as Diretrizes Municipais de 2004, – constantemente em transformação, produzindo-
as condições de vivência do estudante precisam se e reproduzindo-se.
ser consideradas para valorização dos saberes
que ele traz de suas experiências na Geografia No dizer de Santos (1987, p. 75), essa
de sua comunidade. O estudante dos tempos intencionalidade de ensino é expressa no conceito
atuais difere daquele projetado nos cursos de de espaço geográfico, visto por ele como um
formação de professoras e, até mesmo, daquele “conjunto indissociável de sistema de objetos
que um dia cada professora foi em sua história de (redes técnicas, prédios, ruas) e de sistemas
vida. Ele se insere numa sociedade constituída de ações (organização do trabalho, produção,
por impactantes processos de informação e circulação, consumo de mercadorias, relações
comunicação, que trabalham com linguagens familiares cotidianas) que procura revelar as
rápidas, segmentos curtos de ideias e interações práticas sociais dos diferentes grupos que nele
superficiais. produzem, lutam, sonham, vivem e fazem a vida
caminhar.“
Considerando, assim, a Geografia professada e
desejada pelos docentes da área, os pressupostos No ensino da Geografia, portanto, docentes
metodológicos que orientam essa proposta apontam e estudantes deverão procurar trabalhar com
para: o entendimento de que sociedade e natureza
constituem a base material ou física com a qual
• a vivência escolar voltada para o o espaço geográfico é construído e organizado,
desenvolvimento da cidadania; com desigualdades e contradições, a partir das
relações sociais e das relações de produção, onde
• a valorização do espírito crítico e questionador o estudante-cidadão se reconheça como agente
do estudante; social capaz de agir e intervir na Geografia do seu
lugar de vivência, cujas consequências podem
• o aproveitamento do conhecimento prévio do fazer diferença no contexto global.
estudante;
251
DIRETRIZES CURRICULARES DO ENSINO FUNDAMENTAL E DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS
e) Para ensinar Geografia: práticas docentes e
recursos educativos As representações dos saberes geográficos por
meio dos mapas, gráficos, tabelas e desenhos,
É fundamental para o ensino da Geografia entre outras expressões da linguagem geográfica,
que a professora crie e planeje situações nas perdem seu valor de ensino aprendizagem quando
quais os estudantes possam conhecer e utilizar considerados apenas para ilustração, reprodução
procedimentos como a observação, a descrição, e identificação de dados, sem a correspondente
a experimentação, a analogia e a síntese, análise e utilização crítica e operatória. A escola
considerando a especificidade e a contextualização deve criar, portanto, oportunidades para que os
dos processos, questões, fenômenos, fatos e estudantes construam conhecimentos sobre e
conceitos geográficos. O estudantes precisam com essa linguagem em dois sentidos: como
aprender a analisar, a explicar, a compreender pessoas que representam e codificam o espaço e
e também a representar processos geográficos como leitores das informações expressas através
presentes no espaço e realizadores dos diferentes dela. Isso não significa que os procedimentos
tipos de paisagens e territórios. tenham um fim em si mesmo. Observar, descrever,
experimentar e comparar fatos e fenômenos
Para tanto, é preciso considerar as formas e os por meio de representações cartográficas são
meios que auxiliem o docente no alcance desses ações que permitem construir noções espaciais,
propósitos. A cartografia é um conhecimento favorecem compreensões geográficas, estimulam
que vem se desenvolvendo desde a pré-história a identificação de problemas e a elaboração de
até os dias de hoje, sintetizando informações e soluções que a Geografia, como ciência, produz.
expressando situações — sempre envolvendo
ideias de produção e organização do espaço. O estudo do meio ou trabalho de campo constitui
outra alternativa metodológica de caráter
A linguagem cartográfica ocupa um lugar de interdisciplinar bastante específica do ensino de
importância, desde o início da escolaridade, Geografia, que coloca estudantes e professoras
contribuindo para que os estudantes venham não em contato direto com determinada realidade,
só a compreender e a utilizar uma ferramenta possibilitando abordagem das questões ambientais,
básica de leitura do mundo, os mapas, mas sociais, políticas, econômicas, culturais, entre
também a desenvolver capacidades relativas à outras. Essa alternativa metodológica propicia uma
representação do espaço. investigação aprofundada da complexidade do meio
pesquisado, porém demanda orientação planejada
As formas mais usuais de se trabalhar com a para efetivação do diálogo entre estudantes e
linguagem cartográfica na escola ainda são professoras com o espaço geográfico. O estudo
situações nas quais os estudantes têm de do meio deve ser realizado nas diferentes etapas
colorir mapas, copiá-los, escrever os nomes e modalidades de ensino, principalmente nos anos
de rios ou cidades, memorizar as informações iniciais do Ensino Fundamental pois possibilita a
neles representadas. Contudo, esse tratamento concretização do processo ensino aprendizagem e
metodológico não garante que eles construam estimula o olhar investigativo das crianças.
os conhecimentos necessários. Para que isso
se concretize, é preciso partir da ideia de que a Nesse tipo de trabalho os estudantes e as professoras
linguagem cartográfica é um sistema de símbolos devem se inserir no espaço investigado como
que envolve proporcionalidade, uso de signos sujeitos sociais e participativos no que se refere à
ordenados, técnicas de projeção e de análise construção do meio pesquisado. Como atividade de
das representações. A leitura de representações pesquisa, o estudo do meio deve ter seus resultados
cartográficas também pretende atender a diversas registrados sistematicamente para serem validados
necessidades, das mais cotidianas (chegar a um como documentação. Esses registros podem ser
lugar que não se conhece, entender o trajeto dos maquetes, mapas, plantas, croquis, fotografias,
mananciais, por exemplo) às mais específicas desenhos, gráficos e tabelas, relatórios, textos
(como delimitar áreas de plantio, compreender literários, entre outros, constituindo-se inclusive,
zonas de influência do clima). como avaliação da atividade.
252
DIRETRIZES CURRICULARES DO ENSINO FUNDAMENTAL E DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS
em slides, ou filmes, em obras paradidáticas etc.)
Em relação aos recursos de ensino, cabe destacar tão somente um apoio ou complemento para a
algumas reflexões sobre os usos do livro didático. relação ensino e aprendizagem que visa a integrar
A depender do modo de utilização, esse recurso criticamente o educando ao mundo.
pode propiciar a cristalização de atividades que
enfatizam apenas a reprodução das definições Outra abordagem das questões geográficas na
de processos da dinâmica da natureza e da escola, compatível com a proposta curricular, inclui
sociedade, como se essa abordagem, por si só, o uso dos meios de comunicação de massa e as
se constituísse em apropriação de conhecimento novas tecnologias de informação. Os cuidados
geográfico. Como é um dos recursos didáticos com essa utilização também incluem a formação
mais utilizados nas salas de aulas, é necessário de atitudes e o desenvolvimento de procedimentos,
o entendimento dos aspectos culturais e políticos preferencialmente trabalhados numa perspectiva
que revelarão os valores/posturas das correntes interdisciplinar e sem a limitação tecnicista da
teóricas-metodológicas defendidas por suas/eus Geografia quantitativa17 e da Geografia tradicional.
autoras/es.
A utilização das novas tecnologias da informação
A esse respeito Pontuschka; Paganelli; Cacete como meras fornecedoras de dados e de
(2007, p. 340) fazem uma advertência: “O informações acaba por produzir procedimentos
professor, ao escolher um livro didático, não desvinculados do raciocínio geográfico e muito
pode fazê-lo de forma aleatória, pois alguma próximos da modernidade competitiva, em que
reflexão necessita ser realizada se o mestre se percebe a ausência de ética e de criticidade.
tiver consciência de que o alvo é, no presente As vantagens do uso do computador, disponível
caso, o aprendizado geográfico”. Por isso, na escola ou, às vezes, na casa dos estudantes,
insiste-se na importância e cuidado no momento se esvaem na manipulação da máquina ou
da escolha do livro didático, considerando a no domínio de seus recursos, perdendo-se as
proposta teórica metodológica, projeto gráfico- possibilidades de aprendizagens integradas
editorial, os pressupostos e objetivos da coleção entre a tecnologia e a Geografia, na leitura e na
e sua consonância com as Diretrizes Curriculares intervenção sobre o mundo. Nesse aspecto, o
do Município, uma organização que promova livro didático e o computador contribuem como
diálogo entre outros componentes e/ou áreas do aparatos que fornecem o material informativo,
conhecimento, numa perspectiva interdisciplinar, mas precisam ser trabalhados de maneira criativa,
textos e atividades que possibilitam conexões crítica e interativa.
com a realidade geográfica local, mapas legíveis,
com títulos, escalas e legendas adequadas, Essas alternativas metodológicas têm em sua
ilustrações/paisagens nítidas e contextualizadas, essência a aplicação dos princípios da pesquisa
gráficos e tabelas com informações atualizadas observados o caráter da problematização, da
e acessíveis, articulação das relações coleta e análise de dados, da formulação de
espaçotemporais que possibilitem compreender reflexões, de julgamentos e de sínteses. Os
a construção histórica do espaço geográfico, equipamentos que permitem essas práticas
conhecimentos trabalhados de forma articulada não podem ser priorizados pela metodologia de
com as temáticas das diversidades, que discuta aprendizagem, apenas pelo seu simples domínio e
as diferenças políticas, econômicas, sociais e uso. São as formas de usar suas possibilidades de
culturais de povos e países, sem discriminar ou comunicação e de informação que se constituem
tratar negativamente os que não seguem o padrão
hegemônico de conduta da Sociedade Ocidental,
evitando assim, visões distorcidas da realidade e
a veiculação de ideologias antropocêntricas.
17
Para os autores filiados a esta corrente, o temário geográfico poderia ser explica-
Segundo Vesentini (1989, p. 167), ao invés de do totalmente com o uso de métodos matemáticos. Todas as questões aí tratadas
aceitar a “ditadura do livro didático”, a boa professora – as relações e inter-relações de fenômenos de elementos, as variações locais da
paisagem, a ação da natureza sobre os homens - seriam passíveis de ser expressa
deve ver nele (assim como em textos alternativos, em termos numéricos (MORAES, 1987, p. 102-103).
253
DIRETRIZES CURRICULARES DO ENSINO FUNDAMENTAL E DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS
alternativas didáticas. Assim, projetar um filme, mais humanizado será possível construindo-se um
acessar a internet, capturar um texto, assistir a conhecimento voltado para o exercício da cidadania,
um programa televisivo, escrever um texto no no qual o estudante e o docente percebem e aceitam
computador são ações que se tornam educativas o outro, reconhecendo as diferenças existentes
pela intencionalidade pedagógica do ensinar e do como possibilidades de enriquecimento das relações
aprender, não porque são práticas do nosso tempo. interpessoais e na produção do espaço geográfico.
255
DIRETRIZES CURRICULARES DO ENSINO FUNDAMENTAL E DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS
Para sabermos Geografia, precisamos ser d) Globalização, as territorialidades em rede:
alfabetizados na leitura dos lugares, sejam populações em movimento, fluxos de produção
eles próximos ou distantes de nós. Isso passa, de capital e de poder.
necessariamente pelo uso de globos e mapas. Mas
Geografia é mais do que isso. É ir além de globos e
mapas; é ter conhecimento sobre os locais e saber Destacamos como um dos objetivos de
os porquês de objetos e de grupos sociais estarem aprendizagem previstos dentro desse eixo:
neste ou naquele lugar [...]. Conhecer Geografia Compreender a relação entre os meios de
é compreender que nossas ações decorrem de transporte e comunicação, os movimentos
construções políticas, coletivas e históricas.
populacionais e os fluxos de capital e poder e
a organização nos/dos espaços de vivência.
c) O cotidiano em diferentes espaços tempos: Segundo Oliva (apud CARLOS, 1999, p. 47),
a dinâmica da natureza e das sociedades, nas
relações de trabalho/consumo, produtoras de Na sociedade moderna global há várias produções
diferentes paisagens. e nos territórios que lidam com global, há mais
produção ainda, mais resultado de toda ordem.
Nesse eixo são propostos objetivos de aprendizagem Um resultado perverso que afeta a educação é a
produção da ignorância moderna, a desqualificação
que permitem ao/à estudante: Identificar posições,
do homem em seu lugar. Do dia para noite, de
lugares e fenômenos no espaço a partir da trabalhador qualificado ele se transforma em
compreensão da orientação corporal até a leitura e trabalhador desqualificado. Que desenvolvimento
interpretação competente de mapas e outras formas de é esse que nos faz regredir, pois o saber fazer de
representação espacial em diferentes escalas, dentre ontem de nada serve, e o sujeito melhor seria, o
outros conhecimentos. Segundo Santos (1991, p. 37), objeto em que nos transformaram – nada mais sabe
fazer e entender?
A paisagem é o resultado de uma acumulação
de tempos. Para cada lugar, cada porção Esse eixo deve provocar análises dos proces-
do espaço, essa acumulação é diferente: os sos relativos à globalização, com as implicações
objetos não mudam no mesmo lapso de tempo, na reorganização dos fluxos de produção de
na mesma velocidade ou na mesma direção capital e de poder no espaço geográfico mundial
[...]. A paisagem assim no espaço, altera-se
continuadamente para poder acompanhar
e com os desdobramentos no cotidiano local.
as transformações da sociedade. A forma é Assim, torna-se preciso enfatizar as tensões
alterada, renovada, suprimida para dar lugar decorrentes dessa rede de interconexões,
a uma outra forma às necessidades novas da gerando simultaneamente consensos e
estrutura social. dissensos, nas dimensões local e global.
256
DIRETRIZES CURRICULARES DO ENSINO FUNDAMENTAL E DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS
e) A cidadania planetária: a sustentabilidade do destacar a perspectiva de que a avaliação
sistema Terra e a convivência das diferenças e seja tomada, especialmente por professoras
da diversidade cultural nas sociedades. e estudantes, como um processo a serviço da
aprendizagem, nunca algo para puni-los, e sim
Observar e descrever as características do/s para servir de acompanhamento das trajetórias
ambiente/s em que vive, diferenciando ambientes de escolarização de cada estudante (ESTEBAN,
preservados e ambientes degredados é um dos 2012).
objetivos de aprendizagem previstos nesse
eixo de estudo. Com esse eixo, o conhecimento Assim, a produção de registros sistemáticos
geográfico deve desvelar aos estudantes as forças sobre as atividades propostas e realizadas
presentes na natureza, no desenrolar do tempo pelos sujeitos de aprendizagem, nos diferentes
geológico, capazes de produzir transformações momentos de seu percurso formativo, se coloca
na constituição dos diversos elementos naturais e como estratégia importante e que deve/pode
sua organização nas paisagens. Deve, também, considerar: os objetivos de aprendizagens
estabelecer relações entre a transformação do propostos para o ensino da geografia nesta diretriz,
espaço urbano e sua dinâmica espacial de forma a escuta de seus interesses e necessidades em
a modificar a paisagem e as formas como as relação ao espaço, tempo e relações sociais,
sociedades organizam-se espacialmente. observação das manifestações, das expressões
e representações relacionais e de ocupação dos
É preciso trabalhar o entendimento de como espaços e territórios, ampliação dos conceitos do
as relações entre a natureza e a sociedade componente de geografia, registro dos progressos
permitem produções de condições mais dignas e dificuldades individuais e coletivos, resolução de
ou menos dignas de vida. Das reflexões sobre desafios propostos nas brincadeiras, nos jogos e
o relacionamento entre natureza/sociedade e nas interações sociais.
sociedade/sociedade será possível analisar/
compreender como se produzem a riqueza e a Desde o início do percurso formativo, os registros
pobreza das pessoas em seus lugares de vivência. do desenvolvimento cognitivo, socioemocional
e motor poderão ser realizados mediante o
acompanhamento e a observação de rodas
de conversa, entrevistas, diálogos informais,
registros fotográficos das atividades, desenhos,
croquis, testes orais e escritos, mostra de
trabalhos, cadernos de anotações, experimentos
e relatos, pesquisas, criação e apresentação de
maquetes, painéis, cartazes, dramatizações,
entre outras possibilidades. Em todo o percurso
formativo o processo avaliativo leva em conta
o contexto histórico e sociocultural em que
o sujeito da aprendizagem está inserido, as
Figura 67 - Exploração do entorno da escola - EMEF VSP vivências e experiências que agregam na prática
educativa e as possibilidades de apropriação de
Avaliação conhecimentos geográficos.
Pretende-se que a avaliação da aprendizagem seja Para tanto, propomos, ainda, como estratégias:
diagnóstica, processual, contínua e cumulativa, realização de atividades de leitura, escrita
que seja reavaliada durante todo o processo e reescrita, aulas dialógicas, exercícios de
de aprendizagem, participativa, em conselhos reelaboração de conteúdos e objetivos, partindo,
de classe e em outras formas que envolvam é claro, das vivências e práticas no percurso
a comunidade escolar e de caráter descritivo, formativo, considerando conceitos geográficos já
no sentido de garantir o diálogo entre aspectos apropriados pelos estudantes; análise, por meio
qualitativos e quantitativos. Com isso, devemos de questionamentos e intervenções tendo em
257
DIRETRIZES CURRICULARES DO ENSINO FUNDAMENTAL E DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS
vista a mudança de atitude frente aos problemas (2018) identifica nos anos iniciais do Ensino
levantados, fazendo com que o estudante seja Fundamental, a Geografia trabalha com as
capaz de interagir e transformar a realidade; noções de temporalidade, espacialidade,
a flexibilização de tempos espaços e currículo diversidade, na perspectiva dos direitos
ao/à estudante com dificuldade de aprendizagem humanos, da interculturalidade e da valorização
e ou deficiência, a fim de que ele/a possa se das diferenças. O ensino nos anos finais da
organizar diante da elaboração e apropriação etapa tem o compromisso de dar continuidade à
do conhecimento, respeitadas as subjetividades, compreensão dessas noções, aprofundando os
diversidades e as especificidades de cada um/a; questionamentos sobre os modos de organizar
retomada dos objetivos, conceitos, conteúdos e a sociedade, sobre pessoas, culturas e grupos
estratégias sempre que necessário. humanos, relações de produção e de poder, a
transformação de si mesmos/as e do mundo.
As escalas regional e mundial da vida social e
Diretrizes Curriculares do Ensino Fundamental as participações potencializadas pela tecnologia
e a Base Nacional Comum Curricular. digital trazem novos desafios de compreensão
e de atuação nos mundos econômico, cultural,
O referido texto tem por objetivo analisar o documento ambiental e político.
da Base Nacional Comum Curricular (BNCC),
relacionando-a com as Diretrizes Curriculares do
Ensino Fundamental e da Educação de Jovens e
Adultos do Município de Vitória, especificamente do As Diretrizes Curriculares da PMV, em sua meto-
componente curricular de geografia. A metodologia dologia defende o estudo da geografia como prin-
utilizada para este trabalho se configurou numa cípio pedagógico de envolver os estudantes, para
análise comparativa dos documentos acima citados, que reconheçam/percebam na relação entre os
considerando as diferentes categorias, habilidades seres humanos e a natureza através do trabalho,
descritas na Base Comum Curricular, e os objetivos que o espaço sofre alterações e constituindo-se
de aprendizagem previstos do documento curricular como geográfico, com uma dada organização.
da Rede Municipal de Vitória.
Em cada eixo encontramos os objetivos de apren-
Observamos que a BNCC no componente curricular dizagens, organizados de maneira não linear,
de geografia, nos provoca a pensar as diferentes contextualizados com os eixos e temas integra-
formas de refletir a produção do espaço, a partir de dores, relacionados com os objetivos da área
suas abordagens informativas, descritivas, filosóficas das ciências humanas. Observamos também o
e políticas. Há nesse aspecto, a recomendação de reconhecimento das diversidades, e das contradi-
que o currículo de Geografia esteja ligado a área de ções, que emergem na sociedade capitalista, ma-
ciências humanas, sendo articulado essa conexão terializadas nos diferentes territórios. Já a BNCC
por meio da interdisciplinaridade. apresenta Unidade Temática ao longo do percus-
so escolar com os seguintes temas:1) O sujeito
Portela (2018) afirma que frente a um cenário em que a e seu lugar no mundo, conexões e escalas; 2)
Geografia foi agregada a uma área, toda a sua estrutura Mundo do trabalho; 3) Formas de representação
curricular deverá compartilhar de outras estruturas e pensamento espacial; 4) Natureza, ambientes e
vinculadas às Ciências Humanas. Isso significa que qualidade de vida que estão garantidos dos anos
a Geografia terá que, em conjunto com a História, no iniciais aos anos finais do Ensino fundamental.
Ensino Fundamental, Filosofia e Sociologia, no Ensino
Médio, garantir ações interdisciplinares com outros Partindo dos temas integradores “direitos huma-
componentes curriculares, tais como Linguagens, nos - territorialidades - trabalho e tecnologia - am-
Matemática e Ciências da Natureza. Sem dúvidas, biente e sustentabilidade”, as Diretrizes Curricu-
essa perspectiva afeta, não apenas a educação lares do Municipio de Vitória, definiu como eixos:
básica, mas causa implicações diversas, dentre elas, 1) O lugar como espaço de vivência das socie-
a formação inicial de professores. dades: cenários de riqueza e de pobreza das po-
Ao analisar o documento da BNCC Portela
258
DIRETRIZES CURRICULARES DO ENSINO FUNDAMENTAL E DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS
no ensino brasileiro: efetividade ou ideologia.
pulações; 2) A geografia como saber para leitura São Paulo: Loyola, 1979.
do mundo e para escrita da vida;3) O cotidiano
em diferentes espaços tempos; 4) Globalização, LACOSTE, Yves. A Geografia – isso serve, em
as territorialidades em rede: populações em movi- primeiro lugar, para fazer a guerra. 3.ed. São
mento, fluxos de produção de capital e de poder; Paulo: Papirus, 1988.
5) A cidadania planetária: a sustentabilidade do
sistema terra e a convivência das diferenças e da LOWY, Michael. As aventuras de Karl Marx
diversidade cultural nas sociedades. contra o Barão de Münchhausen: marxismo e
positivismo na sociedade do conhecimento. 5. ed.
Embora com as diferenças existentes entre os São Paulo: Cortez,1996.
eixos das Diretrizes Municipais com as Unidades
Conceituais da BNCC, observamos inúmeras pro- MARTINS, P.L. & JUNQUEIRA, S.R.A. (Org.)
ximidades entre os objetivos de aprendizagem Conhecimento local e conhecimento universal,
definidos no município e as habilidades da base diversidade, mídias e tecnologias da educação.
nacional. Concluímos, que embora com maior am- Curitiba: Champagnat, 2004. p.145-162.
plitude dos conceitos que subsidiam o ensino de
geografia, afirmamos na perspectiva do direito à MORAES, A. C. R. Geografia, pequena história
aprendizagem que há muitos pontos de encontro crítica. São Paulo: Hucitec, 1987.
entre os dois documentos, sendo resguardada com
muita rigorosidade, as especifidades territoriais. OLIVA, J.T. Ensino de geografia: um retrato
desnecessário. In: CARLOS, A. F. A. (Org.). A
geografia na sala de aula. São Paulo: Contexto,
Referências 1999, p. 34-49.
CONCEITOS
GRADORES
OBJETIVOS DE 1º 2º 3º 4º 5º 6º 7º 8º 9º ORIENTAÇÕES
APRENDIZAGEM LEGENDA: (I) Iniciar – (A) Aprofundar - METODOLÓGICAS
(C) Consolidar - (R) Retomar
O trabalho com os objetivos ao
Eixo 1: O LUGAR COMO ESPAÇO DE VIVÊNCIA DAS SOCIEDADES: lado elencados e relacionados
CENÁRIOS DE RIQUEZA E DE POBREZA DAS POPULAÇÕES. ao tema citado deve favorecer
Conhecer e valorizar os diferentes espaços de vida e convivência como resultado que o estudante conheça e
das diferentes organizações dadas por diferentes grupos sociais. compare seus espaços de
vida e convivência observando
1.Reconhecer seu corpo como espaço de características sociais, materiais
vida, sua casa como espaço de convívio e culturais para construir
Espaço Geográfico – Lugar -Território- Paisagem – Sociedade – Trabalho - Cultura - Tecnologia - Natureza - Cartografia
I/A/C
familiar, a rua da sua casa e da escola gradativamente sua identidade,
como espaços de convívio social. a identidade de sua família, da
DIREITOS HUMANOS – TERRITORIALIDADES – TRABALHO/TECNOLOGIA AMBIENTE/SUSTENTABILIDADE
260
DIRETRIZES CURRICULARES DO ENSINO FUNDAMENTAL E DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS
CONCEITOS
GRADORES
OBJETIVOS DE 1º 2º 3º 4º 5º 6º 7º 8º 9º ORIENTAÇÕES
APRENDIZAGEM LEGENDA: (I) Iniciar - (A) Aprofundar - METODOLÓGICAS
(C) Consolidar - (R) Retomar
13. Compreender a saúde, educação e Atividades que propiciem o
moradia como direitos de todas as pesso- I A A A A R/A A A A autoconhecimento do corpo,
as. o relato de como sua família
organiza sua casa, que
14. Identificar espaços e/ou lugares como
identifique como as pessoas se
patrimônios naturais e/ou culturais dos
organizam na rua de sua casa
bairros da escola, de sua casa, de Vitória e
e da escola, na identificação
do Espírito Santo, relacionando seus usos I A A R/A A A C
do patrimônio natural e/ou
e organizações à existência de grupos ét-
cultural de sua comunidade,
nicos específicos e ao potencial turístico
bairro, município e estado,
dos mesmos.
Espaço Geográfico – Lugar -Território- Paisagem – Sociedade – Trabalho - Cultura - Tecnologia - Natureza - Cartografia
261
DIRETRIZES CURRICULARES DO ENSINO FUNDAMENTAL E DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS
CONCEITOS
GRADORES
OBJETIVOS DE 1º 2º 3º 4º 5º 6º 7º 8º 9º ORIENTAÇÕES
APRENDIZAGEM LEGENDA: (I) Iniciar - (A) Aprofundar - METODOLÓGICAS
(C) Consolidar - (R) Retomar
O trabalho com os objetivos
Eixo 2: A GEOGRAFIA COMO SABER PARA LEITURA DO MUNDO E PARA ESCRITA ao lado elencados e relacio-
DA VIDA nados ao tema citado deve
Identificar posições, lugares e fenômenos no espaço a partir da compreensão da favorecer que o estudante
se eduque para sua autono-
orientação corporal até a leitura e interpretação competente de mapas e outras formas
mia no que se refere a sua
de representação espacial em diferentes escalas. capacidade de visualização
1. Localizar no espaço a posição do corpo e de da organização espacial, por
Espaço Geográfico – Lugar -Território- Paisagem – Sociedade – Trabalho - Cultura - Tecnologia - Natureza - Cartografia
262
DIRETRIZES CURRICULARES DO ENSINO FUNDAMENTAL E DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS
CONCEITOS
GRADORES
OBJETIVOS DE 1º 2º 3º 4º 5º 6º 7º 8º 9º ORIENTAÇÕES
APRENDIZAGEM LEGENDA: (I) Iniciar - (A) Aprofundar - METODOLÓGICAS
(C) Consolidar - (R) Retomar
14. Representar parte ou partes da sua Importante é observar que
casa onde mais gosta de estar, aplicando a cartografia não é mais
I/A/C R
as noções de relações espaciais e utilizan- um conteúdo no ensino da
do linguagem cartográfica. Geografia que deve ser
15. Desenhar a fachada de sua casa e dos trabalhado e concluído, porque
vizinhos da esquerda e da direita, aplican- ela perpassa conteúdos e
do as noções de relações espaciais e utili- I/A/C R tempos escolares e deve fazer
Espaço Geográfico – Lugar -Território- Paisagem – Sociedade – Trabalho - Cultura - Tecnologia - Natureza - Cartografia
263
DIRETRIZES CURRICULARES DO ENSINO FUNDAMENTAL E DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS
CONCEITOS
GRADORES
OBJETIVOS DE 1º 2º 3º 4º 5º 6º 7º 8º 9º ORIENTAÇÕES
APRENDIZAGEM LEGENDA: (I) Iniciar - (A) Aprofundar - METODOLÓGICAS
(C) Consolidar - (R) Retomar
28. Analisar em mapas temáticos a Nova Os objetivos aqui propostos
Ordem ou Desordem Mundial referencian- possibilitarão ao estudante
I A
do-se na lógica da globalização e fragmen- identificar o próprio corpo como
tação. referencial de localização,
29. Pesquisar e representar (croquis, ma- orientação e deslocamento
pas, imagens, desenhos, entre outros) as espacial e poderão ser
áreas de exclusão em regiões de conflitos I A A C desenvolvidos através de
em Vitória, ES, no Brasil e no mundo. trabalho interdisciplinar com
Matemática, Arte e Educação
30. Identificar e analisar limites e fronteiras Física. Jogos e brincadeiras
Espaço Geográfico – Lugar -Território- Paisagem – Sociedade – Trabalho - Cultura - Tecnologia - Natureza - Cartografia
264
DIRETRIZES CURRICULARES DO ENSINO FUNDAMENTAL E DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS
CONCEITOS
GRADORES
OBJETIVOS DE 1º 2º 3º 4º 5º 6º 7º 8º 9º ORIENTAÇÕES
APRENDIZAGEM LEGENDA: (I) Iniciar - (A) Aprofundar - METODOLÓGICAS
(C) Consolidar - (R) Retomar
2. Descrever características físicas de sua O trabalho com os objetivos
casa (grande, pequena, nº de pavimentos, elencados e relacionados ao
I/A C
nº de cômodos), estabelecendo compara- tema citado deve favorecer
ções com outras residências. que o estudante compreenda
3. Citar elementos naturais empregados as relações entre sociedade
na construção de sua moradia e da sua e natureza e os processos e
escola e reconhecer elementos naturais I/A/C ações realizados nos espaços,
existentes dentro das mesmas como o Sol, principalmente no que diz
claridade, o ar e o vento. respeito ao trabalho como
mediador dessa relação
4. Pesquisar e relatar os tipos de trabalho
Espaço Geográfico – Lugar -Território- Paisagem – Sociedade – Trabalho - Cultura - Tecnologia - Natureza - Cartografia
I A/C
ve os trabalhos não remunerados) e pelos sofre alterações e constitui-se
profissionais da escola. como espaço geográfico, com
6. Descrever o entorno de sua moradia uma dada organização. Os
(o que vê de sua casa) e da sua escola, estudantes devem perceber que
identificando elementos naturais (inclusi- I A/C isso se dá em qualquer espaço
ve relevo, vegetação e fontes de água) e onde o ser humano esteja,
culturais desde a sua casa, sua rua,
7. Pesquisar e relatar transformações da sua escola, seu bairro, cidade,
paisagem ocorridas no local de sua mora- estado, país até o mundo todo.
dia e de sua escola, e melhorias de infraes- Portanto, é essencial que elas/
trutura (calçada cidadã, iluminação públi- eles comecem a construir essa
I A A C percepção a partir de espaços
ca, lixeiras, rampas de acesso, corrimões
de escadas, guarda-corpo, contenção de próximos para poderem ampliar
encosta e sustentação de rochas, coleta essa relação em diferentes
seletiva do lixo, entre outras). escalas espaciais.
8. Descrever características físicas da es-
cola e reconhecer que cada parte da mes-
I/A/C
ma é equipada de acordo com as funções
que desempenha.
9. Descrever características físicas natu-
rais do bairro da escola comparando-as
com as de sua moradia (relevo plano/ele- I/A/C
vado, próximo ou não do mar, vegetação
original, fonte/córrego de água).
10. Relacionar as características físicas
naturais dos bairros da escola e de sua
moradia aos aspectos socioculturais de I/A/C
suas comunidades.
11. Descrever as transformações espaciais
e sociais ocorridas nos bairros da escola e
de sua casa em diferentes tempos, a partir I/A/C
de relatos orais de pessoas idosas da co-
munidade.
12. Identificar a/as função/ões socioeconô-
mica dos bairros da escola e de sua casa
I/A/C
(comercial, residencial, industrial, turístico,
entre outros).
13. Compreender a interdependência so-
cioeconômica entre os espaços urbanos e
rurais, reconhecendo, inclusive, que parte
da produção e abastecimento de alimen- I A A C R/C
tos para a merenda escolar é realizada por
trabalhadores da agricultura familiar (mu-
lheres, homens e crianças).
265
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CONCEITOS
GRADORES
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APRENDIZAGEM LEGENDA: (I) Iniciar - (A) Aprofundar - METODOLÓGICAS
(C) Consolidar - (R) Retomar
14. Descrever características físicas natu- Aqui, é importante que entendam
rais da cidade de Vitória (relevo, condição I/A/C R/A C não apenas os elementos
insular, vegetação, hidrografia e clima). físicos espaciais (relevo, clima,
vegetação e hidrografia) em
15. Interpretar a organização do espaço suas definições, mas até
geográfico de Vitória reconhecendo as di- que ponto esses elementos
ferenças socioeconômicas identificadas no I/A C R/C
interferiram na ocupação e
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(C) Consolidar - (R) Retomar
27- Identificar e localizar territórios de segre- Entrevistas com diferentes
gação socioeconômica, religiosa, étnica, de profissionais que tragam
gênero e de orientação sexual nos espaços I A C suas experiências para
em escalas local, nacional e mundial. reflexão das diferentes
atividades que os seres
28. Identificar a dimensão econômica tecnoló- humanos desenvolvem
gica, científica e cultural da presença africana também podem acontecer.
na formação do território e da população do I A C
Brasil. É interessante a utilização de
recursos visuais (imagens,
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(C) Consolidar - (R) Retomar
4. Identificar as contribuições e os impac- Compreender a relação entre
tos dos meios de transporte na vida das I A/C R diferentes espaços e os
pessoas e na organização do espaço. meios e vias de transporte e
comunicação, entendendo os
5. Compreender os meios de comunicação fluxos de circulação de pessoas,
na organização espacial. I A A C
informações e mercadorias.
6. Conhecer e utilizar meios digitais de lo-
calização (Google Earth, geoweb). I A A A C R/A C Poderão ser realizadas
diferentes atividades como a
7. Reconhecer que o acesso aos meios de construção de uma linha do
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APRENDIZAGEM LEGENDA: (I) Iniciar - (A) Aprofundar - METODOLÓGICAS
(C) Consolidar - (R) Retomar
O trabalho com os objetivos
Eixo 5: A CIDADANIA PLANETÁRIA: A SUSTENTABILIDADE DO SISTEMA TERRA ao lado elencados e
E A CONVIVÊNCIA DAS DIFERENÇAS E DA DIVERSIDADE CULTURAL NAS relacionados ao tema
SOCIEDADES. citado deve favorecer que
o estudante perceba que
Observar e descrever as características do/s ambiente/s em que vive, diferenciando
as questões ambientais
ambientes preservados e ambientes degredados. não se referem apenas aos
Espaço Geográfico – Lugar -Território- Paisagem – Sociedade – Trabalho - Cultura - Tecnologia - Natureza - Cartografia
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OBJETIVOS DE 1º 2º 3º 4º 5º 6º 7º 8º 9º ORIENTAÇÕES
APRENDIZAGEM LEGENDA: (I) Iniciar - (A) Aprofundar - METODOLÓGICAS
(C) Consolidar - (R) Retomar
12. Relacionar crescimento urbano e rural Outra atividade interessante
às transformações na natureza. I A C R R é propor uma conversa com
profissionais da comunidade
13. Reconhecer as diferentes formas de sobre esses impactos e seus
relacionamento com a natureza de dife- reflexos no nosso cotidiano.
I A/C R R É importante analisarmos
rentes grupos sociais, como indígenas e
Espaço Geográfico – Lugar -Território- Paisagem – Sociedade – Trabalho - Cultura - Tecnologia - Natureza - Cartografia
270
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CEITOS
TEMAS
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM 1º 2º ORIENTAÇÕES
EIXOS
CON-
1º e 2º SEGMENTOS SEG SEG METODOLÓGICAS
1 Conhecer seu espaço de vivência, tanto o espaço natural quanto social, cultural X Estes objetivos poderão ser
e econômico trabalhados por meio de
2 Valorizar o patrimônio sociocultural e respeitar a sociodiversidade, X atividades que instiguem os
reconhecendo-os como direitos dos povos e indivíduos e elementos de estudantes a conhecerem
fortalecimento da democracia. e valorizarem seu bairro,
3 Analisar a reciprocidade social e natural no processo histórico da construção X cidade e estado. Podem ser
do seu espaço de vida. usados mapas temáticos,
vídeos, debates, reportagens,
4 Reconhecer regras (direitos e deveres) pertinentes ao espaço e ao patrimônio públicos. X
documentários, relatos de
5 Valorizar os elementos humanos construtores do espaço. X moradores, pesquisas na
6 Reconhecer os diversos elementos de identidade cultural em diferentes X biblioteca e informática,
escalas geográficas. leitura de imagens, textos e
O lugar como espaço de vivência das sociedades: cenários de riqueza e de pobreza das populações
271
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CEITOS
TEMAS
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM 1º 2º ORIENTAÇÕES
EIXOS
CON-
rosa-dos-ventos).
33 Conhecer os avanços dos direitos sociais no Brasil e no mundo. X
272
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CONCEITOS
ORIENTAÇÕES
TEMAS
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM 1º 2º
EIXOS METODOLÓGI-
1º e 2º SEGMENTOS SEG SEG
CAS
53 Descrever as transformações espaciais e sociais ocorridas nos bairros da escola e de sua casa em X
diferentes tempos, a partir de relatos orais de pessoas idosas da comunidade.
O lugar como espaço de vivência das sociedades: cenários de riqueza e de pobreza das populações.
61 Perceber a importância das redes e movimentos sociais como uma forma de luta social. X
brasileira e mundial.
72 Conceituar os termos migração, imigração e emigração dentro das diversas territorialidades: país, X
estado, município, etc.
73 Reconhecer as motivações dos deslocamentos populacionais brasileiros e mundiais e os reflexos X
Globalização, as territorialidades em rede:
na organização espacial.
74 Compreender as políticas demográficas adotadas no Brasil e nos diferentes países. X
77 Conhecer as leis básicas que orientam a vida cotidiana (Código Civil, Código do Consumidor, Leis X X
de Trânsito, Constituição Federal etc.).
78 Compreender as diversidades culturais no mundo Globalizado, atentando para as desigualdades X
sociais.
79 Problematizar as questões raciais, políticas, religiosas e de gênero analisando suas repercussões X
em escala local, nacional e mundial.
80 Conhecer os principais movimentos realizados pela população no espaço (emigração, imigração, X
êxodo rural, movimento pendular, migrações forçadas, entre outros).
81 Conhecer as leis básicas que orientam os deslocamentos espaciais de pessoas e mercadorias e X
da comunicação entre as pessoas (leis de trânsito, circulação em rodovias, concessão de canais de
comunicação, Constituição Federal, etc. – a garantia do direito de ir e vir), comparando com outros
sistemas mundiais.
273
DIRETRIZES CURRICULARES DO ENSINO FUNDAMENTAL E DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS
84 Valorizar a necessidade legal do uso da terra por parte dos povos indígenas, afrodes- X
cendentes e posseiros.
85 Analisar a violência no campo como elemento dialético na disputa do espaço rural. X
X
nhecendo a importância de suas diretrizes na construção de sociedades sustentáveis.
96 Conhecer a condição socioambiental da cidade de Vitória citando situações específi- X
cas que demandam ações de recuperação/preservação e outras que já ocorrem.
97 Ler e interpretar documentos que discutem os impactos negativos da globalização X
econômica na paisagem natural e cultural, propondo alternativas de uso sustentável do
Planeta Terra.
98 Identificar e caracterizar questões socioambientais presentes nos espaços rural e ur- X
bano de ordem natural (alagamento, erosão, enchente, assoreamentos, queimadas, des-
lizamentos de terra, entre outros) e de ordem social (pessoas em situação de rua, aban-
dono de crianças, movimentos sociais de pessoas sem terras para plantar, prostituição
infantil, violência doméstica, mortalidade de jovens negros e/ou indígenas, entre outros).
99 Entender que a globalização não é unilateral mas plurilateral trazendo consequências X
planetárias a exemplo do aquecimento global.
101 Desmistificar o preconceito capitalista na visão cultural árabe- islâmica como elemen- X
to social nocivo à sociedade humana separando-se o radicalismo religioso fundamentalis-
ta dentro do mundo árabe mais macro.
102 Conhecer a condição socioambiental do Espírito Santo citando situações específicas X
que demandam ações de recuperação /preservação e outras que já ocorrem.
103 Identificar e compreender o que é natureza e que o ser humano faz parte da mesma. X
274
DIRETRIZES CURRICULARES DO ENSINO FUNDAMENTAL E DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS
4.2 História
Caracterização: conceitos e princípios se constitui um dos principais eixos do ensino
da História, e as temáticas a ela referentes são
O presente texto, produzido no processo de importantes para destaques acerca das diferenças
atualização das Diretrizes Curriculares do Ensino culturais e étnicas, incentivando o respeito às
Fundamental (2014-2016), tem como objetivo diversidades” (PMV, 2004, p. 161).
subsidiar nossas práticas pedagógicas na
construção permanente do currículo de História, Após essa etapa, no texto de 2004 foram
um dos componentes que compõem a Área aprofundadas as discussões sobre currículo, as
das Ciências Humanas. Reconhecendo que diretrizes nacionais em vigor, além de aprofundar
nossa rede traz em sua trajetória um acúmulo reflexões acerca da História Cultural, optando
considerável nessas discussões, optamos por por essa perspectiva de História, devido “[...]
retomar as diretrizes curriculares vigentes na às diversas possibilidades de integração das
rede de ensino (PMV, 2004) como ponto de concepções de História marxista e historionovista
partida neste processo de atualização curricular (sem perder de vista seus conflitos)” (PMV,
que dialoga, também, com as experiências e os 2004, p. 170). Conforme explica Barros (2011), a
saberes produzidos pelos profissionais atuantes História Cultural é uma modalidade historiográfica
nas escolas de Ensino Fundamental e na que se ocupa da “alteridade”, situandose na
Educação de Jovens e Adultos da rede de ensino. base dos trabalhos de inúmeros historiadores
culturais, como por exemplo, Carlo Ginzburg
No documento de 2004, é possível identificar que, defendendo uma perspectiva de inspiração
elementos que orientaram a sua construção. antropológica, aposta na importância de atuarmos
Inicialmente são apresentados aspectos historiograficamente nos momentos em que
históricos do ensino de História na sociedade culturas distintas são confrontadas. Já Michel de
ocidental com a contextualização do seu papel Certeau e Pierre Bourdieu salientam a importância
político em cada momento histórico. Um aspecto dos aspectos discursivos e simbólicos da vida
interessante concentra-se no fato que questões sociocultural, instigando-nos a refletir sobre uma
identitárias e outras relacionadas à formação do noção mais ampla de cultura, em que as linguagens
cidadão estiveram presentes desde o início deste e as práticas discursivas são constitutivas da vida
processo, embora em diferentes conjunturas e social.
perspectivas políticas.
Considerando esse referencial teórico, o
Como esquema conceitual que fundamentou a documento de 2004 aponta alguns aspectos
proposta de 2004, definiu-se: Identidade, Cultura e fundamentais para a construção da proposta
Cidadania e na busca de ressignificar a linearidade curricular: as noções de espaço tempo; a dimensão
presente no ensino de História, refletindo sobre local; o sentimento de pertença; as relações entre
este componente no tempo presente, foram sociedade e trabalho e as relações entre memória
elencados os seguintes temas: Etnia, Meio e ensino de História. Esses elementos conceituais
Ambiente, Gênero e Ética. Vale destacar que, do currículo de História se constituíram a base
neste momento, os educadores da rede optaram para as indagações de caráter metodológico
por uma perspectiva de História temática. Cada apresentadas no documento: Ensinar História
tema elencado foi discutido no documento, com por quê (origens)? Ensinar História para quê
objetivo de trazer elementos para as professoras (finalidades)? Ensinar História como (processo)?
pensarem o ensino da História articulado com os
temas propostos, uma vez que, “[...] hoje, em todo Por fim o texto apresenta objetivos gerais do ensino
o mundo “globalizado”, a vida cotidiana coletiva de História e reflexões acerca da necessidade
275
DIRETRIZES CURRICULARES DO ENSINO FUNDAMENTAL E DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS
de repensar a seleção dos conteúdos e as ensino da História ao considerar o meio
formas de avaliação, propondo a ruptura com o ambiente histórico e o patrimônio vivo;
monopólio do livro didático como única fonte da
prática docente que passa a ser concebido como • O espaço historicamente construído e,
um apoio bibliográfico, um recurso didático a ser portanto, inserido no processo do ensino da
apropriado e ressignificado de acordo com os História em suas múltiplas temporalidades;
contextos e as necessidades do processo ensino
aprendizagem. Nesse sentido, o documento das • As questões concernentes à memória
Diretrizes Curriculares aponta que o debate entre (individual e coletiva, fragmentada e
o ensino de História praticado e aquele idealizado, reconstruída, singular e plural), ressaltando a
que privilegie como eixo a dimensão local e a importância da consolidação de paradigmas
formação dos sujeitos de direitos, portanto, deve identitários;
observar:
• A formação de uma consciência histórica,
• A compreensão de que somos sujeitos necessária nos processos de transformação
historicamente construídos e portadores de direitos; social, cuja base é o trabalho humano. (PMV,
2004, p. 174- 175)
• A dimensão ética de todo processo
educacional; Tecidas essas considerações sobre a abordagem de
ensino de História defendida no documento de 2004,
• A percepção de que a história e seu ensino precisamos nos indagar se nossas experiências
são objetos de si mesmos, sem perder de pedagógicas dialogam com esse referencial teórico,
vista a articulação teoria/ prática, destacando ou seja, como temos praticado o currículo de História
as etapas e as ferramentas do processo ao longo desses anos? Estamos reafirmando os
investigativo; pressupostos teóricos e metodológicos propostos
no documento? Reconhecendo a relevância das
• O eixo na dimensão local em consonância discussões apresentadas nas Diretrizes de 2004,
com os mais recentes debates que envolvem compreendemos que ainda se faz necessário
a História como ciência e sua função social; superar a ideia da existência de uma história
universal, hegemônica, buscando a ampliação das
• A interlocução das demais ciências sociais vivências e das significações sociais de nossas
com o ensino da História, e com os demais crianças, adolescentes, jovens e adultos como
saberes escolares; forma de contribuir para seus processos formativos,
possibilitando-lhes o exercício da cidadania e o
• Algumas concepções como rupturas e respeito às singularidades étnico-raciais e culturais,
continuidades, semelhanças e diferenças, a liberdade de pensamento, de opções pessoais,
passado e presente, proximidade e distância, sociais, políticas e religiosas, dentre outras.
antigo e moderno, urbano e rural, que, para
além de suas dicotomias aparentes, ampliam Conforme pontuado na versão preliminar da Base
noções como representações e processo; Nacional Comum Curricular (2016), o ensino de História
• O reconhecimento das diferentes linguagens, [...] tem por objetivo viabilizar a compreensão e pro-
textos e múltiplos olhares que estão presentes blematização, pelos estudantes e pelas estudantes,
dos processos de constituição e transformação de
em nossa sociedade, (res)significando a valores, saberes e fazeres, em diferentes tempos e
noção de documento, considerando os espaços, de pessoas e coletividades. Deve contem-
procedimentos do historiador no trato com a plar o direito de todos e todas ao entendimento das
História; múltiplas temporalidades vivenciadas pelas socie-
dades, bem como a tomada de consciência de que
as sociedades têm histórias diversas, que podem
• A educação patrimonial (e seus estágios
ser abordadas a partir de diferentes pontos de vista
de observação, registro, exploração e (BRASIL, 2016, p. 154).
apropriação) como uma das estratégias do
276
DIRETRIZES CURRICULARES DO ENSINO FUNDAMENTAL E DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS
Desse modo, espera-se que no processo ensino história pessoal e de seu grupo é parte integrante
aprendizagem de História o desenvolvimento de histórias coletivas.
curricular esteja voltado “[...] para a consciência de
si e do outro, de modo que as identidades sociais Partindo de situações individuais e do grupo local é
possam, compreensivamente, se constituir na possível ampliar a discussão sobre as instituições
relação com outras, dadas em diferentes tempos políticas e sociais que organizam a sociedade. A
e espaços sociais, e com elas conviver” (BRASIL, compreensão das relações dos indivíduos e grupos
2016, p. 155). Passado, presente e futuro, é essencial para o entendimento de outras formas
bem como suas representações, expectativas de organização coletiva e dos movimentos sociais.
e interseções, se fundem numa dinâmica que
possibilita aos estudantes refletir sobre as Nessa proposta o conhecimento de várias
relações sociais, políticas, econômicas e culturais, culturas, sociedades e a valorização do patrimônio
constituindo-se sujeitos históricos, situados no sóciocultural, além do respeito à diversidade
tempo e no espaço. Nessa perspectiva “[...] o social, são essenciais para a constituição plena do
ensino da História proporcionará ferramentas para cidadão. A História não se reduz ao acúmulo de
a construção de uma compreensão do mundo e informações, implicando, sobretudo, a capacidade
do desenvolvimento de uma consciência histórica” de conhecimento crítica, reflexiva e de respeito ao
(PMV, 2004, p. 170). outro. Desse modo, o ensino de História, como
constituinte da área das Ciências Humanas,
Perspectivas teórico-metodológicas deve subsidiar o conhecimento de ferramentas
analíticas próprias que propiciem o situar, o
Pensar a construção do conhecimento histórico comparar e analisar acontecimentos em uma
inserido no campo das Ciências Humanas nos multiplicidade de tempos.
exige articular a relação entre saber histórico
acadêmico e saber histórico escolar, sem Para que essas ferramentas sejam utilizadas
dicotomizá-los. A associação entre cotidiano em uma perspectiva transformadora, o conceito
e a história de vida dos estudantes permite a de tempo histórico é essencial para os alunos
articulação entre história individual e história refletirem e compreenderem os diversos
coletiva, problematizando essa relação. processos históricos em sua dimensão temporal.
Esse conceito não pode ser restringido às noções
A História, portanto, não pode desconsiderar de cronologia e marcações de tempo. Noções de
a realidade dos estudantes, e muito menos passado, presente, futuro, e durações, conjuntura
desprezar qualquer experiência histórica por ele e longa duração são fundamentais na busca de
vivida ou transmitida. Hobsbawn (1995), no livro um conhecimento histórico que não se configura
Era dos extremos: o breve século XX (1914-1991), na mera reprodução de um conhecimento já
afirma que o reconhecimento da experiência dos produzido e acabado.
estudantes é um ponto de partida para permitir
maior capacidade analítica e reflexiva destes, Outro aspecto relevante concentra-se na
desconstruindo a perspectiva de memorização, construção de saberes que promovem a ação de
tão presente em nossas escolas. identificar e analisar diferentes fontes históricas,
trabalhando com as informações de diferentes
Devemos ressaltar que ao valorizarmos fontes – registros escritos (livros, jornais e
a experiência pessoal e os problemas do outros documentos), visuais (fotografia, cinema,
presente, não estamos de maneira nenhuma televisão, etc.), orais, entre outros. Nesse contexto,
desconsiderando os direitos de aprendizagem a pesquisa constitui-se um princípio fundamental
que perpassam a compreensão de diferentes nos processos de apropriação dos conhecimentos
sociedades, nos diferentes espaços e tempos históricos, sendo relevante ressaltar que esse
históricos, mas que, a partir de suas vivências e do recurso metodológico é essencial para que os
grupo social, os estudantes podem compreender estudantes reconheçam a história como uma
sua inserção social em várias dimensões cultural, forma científica de perceber o fenômeno social em
econômica, social. Podem perceber como sua sua dimensão espaço temporal.
277
DIRETRIZES CURRICULARES DO ENSINO FUNDAMENTAL E DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS
No que tange à dinâmica da mídia e de outros espaço tempo, quanto à dimensão político-
núcleos de produção cultural, encontramos na cidadã. Os diálogos interdisciplinares, os usos
Base Nacional Comum Curricular (BRASIL, 2016, de diferentes linguagens e as relações entre
p. 156) elementos que contribuem para pensar os presente, passado e futuro ganham força e, nesse
seus usos no processo ensino aprendizagem e que sentido, é necessário pensar na “[…] incorporação
chamam a atenção para o papel do componente de novos recursos de pesquisa, a consulta a
curricular História no desenvolvimento das fontes e documentos que circulam em esferas
“[...] capacidades de problematizar questões mais ampliadas, inclusive em ambientes virtuais
identitárias, tematizadas pelas redes sociais, pela [...]” (BRASIL, 2016, p. 461).
TV, pelo cinema, pelo rádio e por toda a série de
meios, potencializados ou inventados no seio da Esses são alguns apontamentos metodológicos
revolução tecnológica do seculo XX [...]”. que contribuem para pensarmos o como ensinar,
considerando os contextos e as necessidades
Considerando ainda as etapas do Ensino de aprendizagem dos estudantes como
Fundamental, é relevante destacar que no condições fundamentais para assegurarmos
trabalho com estudantes dos anos iniciais a que os conhecimentos construídos ao longo da
ênfase conceitual e metodológica deve estar no história humana adentrem pela escola e sejam
desenvolvimento das noções fundamentais do efetivamente apropriados pelos estudantes, num
processo de produção dos saberes históricos. processo dialógico de produção de saberes, em
Desse modo, são aspectos a serem contemplados que a aula é concebida, conforme pontuado na
no desenvolvimento curricular nessa etapa do primeira parte destas diretrizes curriculares, como
Ensino Fundamental: os usos e a compreensão um acontecimento vivenciado pelos sujeitos que
da importância das fontes e dos documentos, as tencionam e produzem arguições em direção
noções de tempo, o sentimento de pertença, a aos conhecimentos trabalhados, compreendidos,
ideia de permanências e mudanças, a construção nesse contexto, como herança cultural que pode
da consciência político-cidadã. fornecer respostas para os questionamentos que
emergem do processo de interação.
Desse modo, assim como previsto na Base
Nacional Comum Curricular (BRASIL, 2016, p. 298), Objetivos gerais
nesta diretriz curricular para o ensino de História
compreendemos que o trabalho com os anos iniciais • O desenvolvimento curricular do componente
História deve possibilitar que os estudantes
[...] começa por sensibilizar o/a estudante para a re- sejam capazes de:
lação entre vida coletiva e memória, em um percur-
so que articula a família, a escola e sua comunida-
de imediata, até alcançar a cidade e seus espaços • Perceber criticamente os vínculos entre vida
públicos. Em seguida, propõe-se uma iniciação a cotidiana, História Local e História Global;
História como forma específica de compreensão da
experiência humana, e de como ela permite articular • Resgatar a memória local por meio de seus
e comparar diferentes espaçostempo, em diferentes
lugares de memória: museus, escritos,
sociedades e culturas.
monumentos, festas, comemorações,
tradições, religião, etc;
Nos anos finais do Ensino Fundamental,
conforme previsto nos objetivos de aprendizagem
• Compreender o trabalho como atividade
do componente curricular, o campo de visão
humana fundamental;
da História nos diferentes espaços e tempos
vai se ampliando, com o desenvolvimento de
• Analisar as relações entre história de vida e
conhecimentos históricos de maior complexidade,
História, compreendendo-se como sujeito da
exigindo outras capacidades de compreensão
história;
e de ampliação do conhecimento de mundo.
As análises abarcam situações de caráter mais
• Estabelecer as relações e diferenças entre
macro, tanto no que se refere à dimensão do
memória e História;
278
DIRETRIZES CURRICULARES DO ENSINO FUNDAMENTAL E DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS
mundial;
• Compreender os processos sociais pelos
quais se constituem a “identidade” de • Identificar e analisar as lutas políticas e
pessoas, grupos, nações, entre outros; sociais em nível local, nacional e mundial,
reconhecendo os processos históricos de
• Compreender que a construção das produção e manutenção de diferenças e
memórias, das culturas e das identidades são privilégios;
fundamentos para a constituição da cidadania;
• Desenvolver uma visão crítica da “identidade
• Compreender noções de “tempo histórico”, cultural” brasileira como possibilidade de
“fato histórico” e “sujeito histórico”; construir alternativas para a superação da
exclusão, da opressão e dos preconceitos;
• Compreender a importância das diferentes
fontes históricas; • Compreender os efeitos (positivos e negativos)
do uso de recursos tecnológicos e dos meios
• Estabelecer relações entre o presente de comunicação sobre a organização social
histórico, os acontecimentos e os processos e a vida cotidiana nos tempos de hoje e em
históricos; comparação com épocas anteriores;
283
DIRETRIZES CURRICULARES DO ENSINO FUNDAMENTAL E DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS
deve contemplar em seu projeto educacional, a âmbito das Ciências Humanas, em especial, no
vontade, a intenção de ser escola que trabalhe os componente História, contribui para a ruptura dos
ideais da cidadania. Portanto, ações isoladas, de modelos tradicionais de ensino em que aprender
uma ou outra área (ou grupo), talvez não tenham História consiste em memorizar nomes e fatos,
força de mobilização para iniciar, realizar e dar numa abordagem mecânica de transmissão
autonomia a uma escola cidadã. Necessitamos, dos conhecimentos na qual o processo de
todos nós, ter consciência do que realmente aprendizagem se reduz à respostas de perguntas
significa o exercício à cidadania. Cidadania é a previamente formuladas, consideradas como
coragem de compartilhar dos esforços em instituir verdades históricas incontestáveis. Com as
uma sociedade livre, justa e solidária como trata a novas abordagens de ensino da História, iniciadas
Constituição Federal. no processo de redemocratização do nosso país,
começamos a observar algumas mudanças voltadas
Assim, são previstos nesse eixo objetivos voltados para uma abordagem mais crítica, fundada em
para a compreensão e valorização dos diferentes metodologias de ensino que preconizam a participação
grupos humanos, o reconhecimento dos deveres e ativa dos estudantes no desenvolvimento das aulas,
dos direitos humanos e a necessidade de combater buscando romper com a ideia de um conhecimento
as formas de discriminação, a identificação histórico congelado, descontextualizado, único,
de problemas sociais e as possibilidades de inquestionável e sem vínculos com o tempo presente
superação, a compreensão dos diferentes tipos de e os contextos atuais.
democracia e dos fatores políticos que interferem
na organização das sociedades, dentre outros, De acordo com Almeida Filho e Omuro (2009), o
que devem ser trabalhados de forma articulada engajamento dos estudantes no desenvolvimento
ao estudo dos fatos e contextos históricos, de de projetos de pesquisa amplia as possibilidades
forma que os estudantes sejam capazes de fazer de inclusão e de diálogo com os saberes que
leitura crítica da realidade social, política, cultural pode ser iniciado, por exemplo, a partir do estudo
e econômica de nossas sociedades, em diferentes da história local, que, nesse contexto, tem uma
momentos da história humana, desenvolvendo importância singular, uma vez que “conhecer o
compromissos com a transformação do mundo lugar onde se vive e se constrói a história é uma
em que vivem. das formas de construir a escola cidadã”. Para os
autores,
e) Linguagens e procedimentos de pesquisa
A Nova História ampliou as fontes, abriu espaço
O trabalho com procedimentos de pesquisa para os documentos materiais, para os fragmentos,
para o que não foi escrito nos textos oficiais
articulados às diferentes formas de linguagens em linguagem culta, para as lembranças não
exerce uma função primordial no ensino do rigorosamente cronológicas, para os depoimentos
componente História, pois possibilita a leitura das pessoas comuns. Algumas possibilidades foram
de diversas fontes (orais, escritas, visuais, abertas, mas a escola ainda parece presa aos livros
audiovisuais, etc.) que ampliam as possibilidades didáticos, às aulas expositivas, aos questionários,
aos métodos convencionais de ensino que se
de produção de sentidos para os conhecimentos.
transformam em imposição de histórias oficiais,
Nessa direção, nem sempre significativas para os alunos (ALMEIDA
FILHO; OMURO, 2009, p. 3).
A articulação da História com os componentes
curriculares da Área de Linguagens tem um
importante papel [...], ao permitir que as diferentes
Assim, quando defendemos o trabalho com as
fontes sejam lidas como documentos históricos diferentes linguagens e com a pesquisa, estamos
mas, também, incorporando a essa leitura aspectos reafirmando a necessidade de ampliar os recursos
linguísticos, estéticos, afetivos, que permitam a pedagógicos e as alternativas metodológicas,
produção de sentidos para os conhecimentos e com o estudo do meio - incluindo os arredores da
informações acessados (BRASIL, 2016, p. 461).
escola, o acesso à museus, memorial, arquivos,
praças, bairros, bibliotecas, monumentos, placas
Essa forma de conceber o processo de comemorativas, etc. Nessa perspectiva de
apropriação dos conhecimentos produzidos no trabalho com a História, as fontes orais, os textos
284
DIRETRIZES CURRICULARES DO ENSINO FUNDAMENTAL E DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS
literários, as obras de arte, os objetos pessoais, as perspectiva classificatória. E, como quase sempre
fotografias, os documentos oficiais, dentre outras avaliar representa uma obrigação, um dever a
fontes, permitem revisitar o passado, realizando mais a ser realizado, acaba sendo um mecanismo
comparações num movimento de produção sem fundamento, sem valor, - apesar do valor, nota
sentidos e de apropriação de conhecimentos que lhe é atribuída - perdendo sua contribuição
no qual as memórias se constituem elementos maior que é acompanhar o desenvolvimento
essenciais para a constituição das identidades das aprendizagens, verificando se os objetivos
individuais e coletivas. propostos foram alcançados.
Além disso, conforme objetivos de aprendizagem Com relação aos tipos de avaliação que estão
propostos nesse eixo, é por meio da pesquisa sendo utilizados no ensino de História, assim como
que os estudantes podem aprender a identificar em outras disciplinas do currículo, é importante ter
situações e problemas a serem investigados; claro quando e como usá-los de forma coerente
elaborar questionamentos a partir das incertezas, com as premissas e os objetivos estabelecidos
das dúvidas e curiosidades; levantar hipóteses no planejamento. É necessário um conhecimento
a partir da observação do tempo presente e dos de cada um deles e utilizá-los em momentos
conhecimentos de mundo; identificar e selecionar diferentes do processo de ensino, entendendo-os
fontes na busca de informações; organizar dados como auxiliares das observações que se fazem
coletados por meio de diferentes formas de no dia-a-dia do estudante, aquelas que dependem
registros; interpretar os dados, comparar, analisar, do olhar da professora, do perceber o outro, que
expor opiniões e conclusões acerca das questões no caso é o estudante, nos detalhes cotidianos.
em estudo. Deve-se realizar a avaliação diagnóstica não só
no ensino da História, mas em qualquer disciplina.
Esse eixo visa, portanto, valorizar as experiências
dos estudantes, relacionando o que se aprende na Os procedimentos e critérios avaliativos devem,
escola com a vida, por meio de uma metodologia portanto, ser organizados com extremo cuidado,
que aposte na pesquisa como ponto de partida para que, através deles, a professora possa
para a produção do conhecimento, possibilitando reconhecer se os conhecimentos necessários
que os estudantes se movimentem na busca pelo para o alcance dos objetivos foram apropriados
saber, aprofundando conhecimentos de acordo pelos estudantes. Quando a avaliação dá a
com seus interesses e necessidades. oportunidade de conhecer as necessidades de
aprendizagem dos estudantes, analisar as causas
Práticas Avaliativas dessas necessidades e adequar as atividades
diárias para que os resultados obtidos sejam os
Considerando os princípios explicitados na parte mais próximos possíveis dos objetivos propostos,
comum destas diretrizes curriculares, a avaliação é pode-se considerá-la sem dúvida, como parte
entendida como elemento fundamental do processo integrante do processo ensino aprendizagem e
ensino aprendizagem, em que professoras e não um fim em si mesma.
estudantes podem revisitar os conhecimentos
trabalhados, analisando as potencialidades e A consciência histórica tem como função
necessidades de aprendizagem. Essa forma de específica ajudar a compreender a realidade
conceber a avaliação reflete no significado do passada para compreender realidade presente e
planejamento, que se configura, portanto, numa a construção desta consciência histórica se faz,
ação comprometida com os diferentes percursos em grande parte, dentro das aulas de História, e
de produção do conhecimento na sala de aula. para isso, a professora deve estar atenta, pois ao
considerar a avaliação como o fim do processo
Contudo, reconhecemos a necessidade de ensino aprendizagem, compromete a construção
superarmos ainda as abordagens mais tradicio- dessa consciência, à medida que esta ficaria à
nais de avaliação, que podem ser observadas mercê de influências vindas de outros pontos,
em práticas que enfatizam os resultados e como por exemplo os meios de comunicação,
procedimentos que acabam reforçando a que nem sempre trazem uma visão livre de
285
DIRETRIZES CURRICULARES DO ENSINO FUNDAMENTAL E DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS
preconceitos. No ensino de História, quando a procedimentos, valores e atitudes). Assim, ser
avaliação for entendida como integrante de uma competente significa ser capaz de, ao se defrontar
prática metodológica que busque significado no com um problema, ativar e utilizar o conhecimento
saber produzido em sala de aula, pode-se afirmar construído”. Analisando o componente História,
que as crianças, os adolescentes, os jovens e notamos que a BNCC dá ênfase na apresentação
os adultos estarão sendo respeitados em suas dos objetivos de conhecimento de história como
singularidades e em suas experiências, ampliando cronologia destacando uma concepção como
as possibilidades de acesso aos conhecimentos sucessão cronológica de acontecimentos de
historicamente construídos. um tempo linear que é evidenciado no texto
(MARLEBA, p. 2017).
Diretrizes Curriculares do Ensino Fundamental
e a Base Nacional Comum Curricular Já no documento das Diretrizes Curriculares
de Vitória, a perspectiva de um currículo por
O referido texto tem por objetivo uma análise da competência foi amplamente desconstruída nas
Base Nacional Comum Curricular (BNCC) e das diferentes plenárias de construção coletiva do
Diretrizes Curriculares do Ensino Fundamental e texto que está em vigor. Educadores, pedagogas
da Educação de Jovens e Adultos do Município de e equipe técnica da Secretaria Municipal de
Vitória, especificamente do componente curricular Educação, cientes da perspectiva liberal,
de história. pragmatista e tecnicista que este pressuposto
carrega, optaram por marcar o princípio do
A metodologia utilizada para este trabalho direito à aprendizagem, reconhecendo uma
se configurou numa análise comparativa dos temporalidade que transpõe o ano letivo e rompe
documentos acima citados, considerando as com linearidades e hierarquias de saberes.
diferentes categorias, habilidades, descritas
na Base Comum Curricular e os objetivos de
aprendizagem, previstos do documento curricular Ao analisarmos o documento, identificamos
da Rede Municipal de Vitória. nas competências específicas de história
para o Ensino Fundamental, a marca
Importante ressaltar que o contexto de produção da linearidade espaço temporal. Como
do documento nacional foi afetado diretamente exemplos citamos a descrição abaixo do
por disputas do campo político e ideológico em Documento Nacional que define como
que debates do campo dos direitos humanos, competência: “[...] colocar em sequência,
bem como a presença de temas relacionados a no tempo e no espaço, acontecimentos
ancestralidade da formação do povo brasileiro, em históricos e processos de transformação
especial a cultura africana e afrobrasileira, muito e manutenção das estruturas sociais,
presente na Diretrizes Curriculares do Município políticas, econômicas e culturais, bem
de Vitória, apresentaram dificuldades em estar como criticar os significados das lógicas
contempladas no Documento nacional. de organização cronológica.” As Diretrizes
Curriculares da PMV, em sua metodologia
Malerba (2017) afirma que o documento assenta defende o estudo da história como forma
sua base na LDB, segundo a qual “na educação de contribuir na formação crítica dos
formal, os resultados das aprendizagens precisam estudantes, por meio de pesquisas e
se expressar e se apresentar como sendo a estudos, estabelecendo relações entre a
possibilidade de utilizar o conhecimento em vida cotidiana e as estruturas mais amplas
situações que requerem aplicá-lo para tomar da sociedade. Dessa forma, o ensino de
decisões pertinentes. A esse conhecimento História parte do princípio pedagógico
mobilizado, operado e aplicado em situação se dá de envolver os estudantes, para refletir
o nome de competência”. No âmbito da BNCC, a sobre suas práticas cotidianas, dentro dos
noção de competência é utilizada “[...] no sentido contextos de convivência à sociedade,
da mobilização e aplicação dos conhecimentos tanto nacional quanto mundial.
escolares, entendidos de forma ampla (conceitos,
286
DIRETRIZES CURRICULARES DO ENSINO FUNDAMENTAL E DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS
287
DIRETRIZES CURRICULARES DO ENSINO FUNDAMENTAL E DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS
ALMEIDA FILHO, Orlando José. OMURO, Selma MALERBA, Jurandir. Uma análise da Base
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algumas reflexões em torno da história local. 2017.
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MORIN, Edgar. Saberes locais e saberes
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BARROS, José D’Assunção. A Nova História Lisboa: Edições 70, 1991.
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em: <http://periodicos.unesc.net/criaredu/article/
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288
DIRETRIZES CURRICULARES DO ENSINO FUNDAMENTAL E DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS
CONCEITOS
GRADORES
OBJETIVOS DE 1º 2º 3º 4º 5º 6º 7º 8º 9º ORIENTAÇÕES
APRENDIZAGEM LEGENDA: METODOLÓGICAS
(I) Iniciar – (A) Aprofundar - (C) Consolidar
O estudo da História tem
1. CONHECIMENTOS HISTÓRICOS: HISTÓRIA LOCAL muito a contribuir para a
formação crítica de nossos
1. Conhecer a história do próprio nome, estudantes na medida em que
identificando-o por completo (nome e I/A/C articula pesquisas e estudos,
sobrenome). estabelecendo as relações entre
a vida cotidiana e as estruturas
2. Identificar tempo e espaço do seu
mais amplas da sociedade.
DIREITOS HUMANOS – TERRITORIALIDADES – TRABALHO E TECNOLOGIA – AMBIENTE E SUSTENTABILIDADE
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DIRETRIZES CURRICULARES DO ENSINO FUNDAMENTAL E DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS
CONCEITOS
GRADORES
OBJETIVOS DE 1º 2º 3º 4º 5º 6º 7º 8º 9º ORIENTAÇÕES
APRENDIZAGEM LEGENDA: METODOLÓGICAS
(I) Iniciar – (A) Aprofundar - (C) Consolidar
13. Conhecer e diferenciar o patrimônio natural e Ensinar História, nessa
histórico da cidade de Vitória. I A A C perspectiva, requer res-
significação das práticas
14. Conhecer o patrimônio natural e histórico do pedagógicas, superação
estado do Espírito Santo, estabelecendo relações da ideia de ensino como
de proximidade e distanciamento com a História I A/C C
mera transmissão de in-
do Brasil. formações, abordagem
significativa e contextua-
15. Reconhecer a rua como espaço público, rico
lizada dos conhecimen-
de possibilidades de encontros, lazer, realizações I A C tos históricos, promover
de manifestações populares, culturais e políticas.
o desenvolvimento do
16. Identificar manifestações culturais e grupos pensamento histórico nos
estudantes, consolidar a
DIREITOS HUMANOS – TERRITORIALIDADES – TRABALHO E TECNOLOGIA – AMBIENTE E SUSTENTABILIDADE
290
DIRETRIZES CURRICULARES DO ENSINO FUNDAMENTAL E DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS
CONCEITOS
GRADORES
OBJETIVOS DE 1º 2º 3º 4º 5º 6º 7º 8º 9º ORIENTAÇÕES
APRENDIZAGEM LEGENDA: METODOLÓGICAS
(I) Iniciar – (A) Aprofundar - (C) Consolidar
26. Comparar a época atual da cidade de Vitória • Conhecimentos
com outras épocas e contextos históricos, reco- I A/C Históricos:
nhecendo permanências e mudanças. História Local
291
DIRETRIZES CURRICULARES DO ENSINO FUNDAMENTAL E DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS
CONCEITOS
GRADORES
OBJETIVOS DE 1º 2º 3º 4º 5º 6º 7º 8º 9º ORIENTAÇÕES
APRENDIZAGEM LEGENDA: METODOLÓGICAS
(I) Iniciar – (A) Aprofundar - (C) Consolidar
11- Reconhecer a expansão ultramarina como Então, diante da
parte da reformulação das ideias proporcionada necessidade de ampliar
pelo Renascimento europeu, por meio do estudo I/A A/C as possibilidades de
das inflexões ocorridas no campo das Artes e da conhecimentos de nossos
Ciência. estudantes, inicialmente
é necessário valorizar
12- Conhecer e compreender o contexto econô-
a história local, o que
mico de Portugal, às vésperas da Conquista, por
I A/C não significa partir do
meio do estudo das investidas portuguesas pelo
mais simples ao mais
Atlântico e sua incursão pela costa da África.
complexo, mas trabalhar
13- Conhecer e compreender o contexto político com os conceitos históricos
da África subsaariana, às vésperas da Conquista, de forma articulada:
DIREITOS HUMANOS – TERRITORIALIDADES – TRABALHO E TECNOLOGIA – AMBIENTE E SUSTENTABILIDADE
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DIRETRIZES CURRICULARES DO ENSINO FUNDAMENTAL E DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS
INTEGRADORES
CONCEITOS
TEMAS OBJETIVOS DE 1º 2º 3º 4º 5º 6º 7º 8º 9º ORIENTAÇÕES
APRENDIZAGEM LEGENDA: METODOLÓGICAS
(I) Iniciar – (A) Aprofundar - (C) Consolidar
21- Conhecer e compreender os sentidos, os • Realização de
significados e as representações da escravidão jogos e brincadeiras
no Brasil (séculos XVI-XIX), no espaço urbano, relacionados à cultura
relacionando-a às diferentes atividades I A C (africana, indígena e
econômicas e às diversas relações de poder, outras que integram a
por meio do estudo das formas de trabalho e de constituição da matriz
sociabilidades presentes nas cidades brasileiras. brasileira) observando
a necessidade de
22- Conhecer o papel da Escravidão de africanos
cooperação para o bem
e indígenas no Estado do Grão-Pará e Maranhão,
estar social;
relacionando-a às formas de exploração
I A/C
econômica e às relações políticas construídas,
• Confecção de
por meio do estudo da economia extrativa, entre
autorretrato, utilizando
os séculos XVII e XVIII.
materiais diversos;
DIREITOS HUMANOS – TERRITORIALIDADES – TRABALHO E TECNOLOGIA – AMBIENTE E SUSTENTABILIDADE
293
DIRETRIZES CURRICULARES DO ENSINO FUNDAMENTAL E DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS
CONCEITOS
OBJETIVOS DE 1º 2º 3º 4º 5º 6º 7º 8º 9º ORIENTAÇÕES
TEMAS
nas Américas ao longo do século XIX, levando I/A/C de História, como constituinte
em conta a especificidade do caso brasileiro. da área das Ciências
Humanas, deve subsidiar o
36- Identificar os principais aspectos sociais,
Sociedade – escravidão – Cultura – Colonização – Etnia – Tempo histórico – Diversidade
conhecimento de ferramentas
econômico e políticos dos Estados de Bem- I/A/C analíticas próprias que
Estar Social.
propiciem o situar , o comparar
37- Compreender aspectos da República e analisar acontecimentos em
Romana e o papel do direito na organização I/A/C uma multiplicidade de
do Estado. tempos. Esses pressupostos
38- Conhecer o processo de formação do contribuem para que nossos
Império Romano. estudantes sejam
I/A/C
capazes de estabelecer
relações cada vez mais
39- Compreender a desestruturação do amplas e complexas e refletir
Império Romano e a formação do mundo sobre
I/A/C
medieval na Europa. suas práticas cotidianas,
dentro dos contextos de
40– Identificar as principais especificidades convivência social mais geral,
constitutivas dos sistemas parlamentaristas tanto nacional quanto mundial
e presidencialistas comparando suas I A/C
. Para esse estudo também
aplicabilidades republicanas e monárquicas. elencamos outras
sugestões metodológicas que
41– Identificar o surgimento dos principais podem ser desenvolvidas com
sistemas de governo destacando sua relação os estudantes:
com a formação e consolidação do Estado I A C
como instituição política. • Articulação dos fatos
42- Conhecer e compreender a crise da históricos locais, nacionais
Economia Gomífera, no início do século XX, e mundiais por meio da
por meio do estudo das formas de exploração utilização de diferentes
I A/C
do trabalho nos seringais e da expansão do linguagens e procedimentos
colonialismo europeu pelo leste da Ásia. de pesquisa;
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INTEGRADORES
CONCEITOS
TEMAS OBJETIVOS DE 1º 2º 3º 4º 5º 6º 7º 8º 9º ORIENTAÇÕES
APRENDIZAGEM LEGENDA: METODOLÓGICAS
(I) Iniciar – (A) Aprofundar - (C) Consolidar
45- Conhecer e compreender a conformação de • Acesso a narrativas
uma noção de Brasil e de brasileiros, emergida (filmes, fotos, músicas,
da atuação política de setores médios urbanos e depoimentos, etc) que
das políticas culturais do Estado Novo, por meio I A/C abordem a organização
do estudo do Modernismo (Semana de Arte Mo- grupal entre diferentes
derna), Teatro Experimental do Negro e da políti- povos, complementando
ca de estado para a cultura. a atividade através de
representações
46- Conhecer e compreender o Golpe de Estado
artísticas produzidas
de 1930, relacionando-o à emergência de novas
pelos estudantes;
elites e ao contexto político da República Velha,
I A/C
por meio do estudo da chamada política dos go-
• Leitura de diversas
vernadores e da Revolução Constitucionalista de
fontes para relacionar as
1932.
atitudes de dominação
DIREITOS HUMANOS – TERRITORIALIDADES – TRABALHO E TECNOLOGIA – AMBIENTE E SUSTENTABILIDADE
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CONCEITOS
OBJETIVOS DE 1º 2º 3º 4º 5º 6º 7º 8º 9º ORIENTAÇÕES
TEMAS
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INTEGRADORES
CONCEITOS
TEMAS OBJETIVOS DE 1º 2º 3º 4º 5º 6º 7º 8º 9º ORIENTAÇÕES
APRENDIZAGEM LEGENDA: METODOLÓGICAS
(I) Iniciar – (A) Aprofundar - (C) Consolidar
Assim, evidenciamos
4. CONHECIMENTOS SOBRE A DIMENSÃO POLÍTICO-CIDADÃ a importância
do trabalho com
1. Compreender a constituição dos diferentes grupos
procedimentos de
humanos, valorizando a diversidade (étnico-racial e in- I A A A C pesquisa articulados
dígena, de gênero, sociocultural).
às diferentes formas
2. Reconhecer e discutir princípios dos direitos hu- de linguagens por
manos e civis dos brasileiros, posicionando-se sobre envolver
modos de tratamento, estereótipos, preconceitos e ati- I A A A A A A A C saberes das diversas
tudes discriminatórias em diferentes temporalidades. disciplinas, entre
outros ganhos
DIREITOS HUMANOS – TERRITORIALIDADES – TRABALHO E TECNOLOGIA – AMBIENTE E SUSTENTABILIDADE
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CONCEITOS
OBJETIVOS DE 1º 2º 3º 4º 5º 6º 7º 8º 9º ORIENTAÇÕES
TEMAS
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INTEGRADORES
CONCEITOS
TEMAS OBJETIVOS DE 1º 2º 3º 4º 5º 6º 7º 8º 9º ORIENTAÇÕES
APRENDIZAGEM LEGENDA: METODOLÓGICAS
(I) Iniciar – (A) Aprofundar - (C) Consolidar
24. Compreender o princípio da laicidade como
uma característica do estado brasileiro e das
instituições públicas que o constituem, refletindo I A A C
sobre a liberdade religiosa e a diversidade das
crenças.
25. Conceituar historicamente a participação po-
lítica no Brasil contemporâneo, estabelecendo
nexos com as lutas pela participação política e I A A/C
pela ampliação dos direitos políticos e sociais ao
longo do século XX.
26. Conceituar historicamente cidadania no Bra-
sil contemporâneo, estabelecendo nexos com as
lutas pela ampliação e consolidação de direitos e
DIREITOS HUMANOS – TERRITORIALIDADES – TRABALHO E TECNOLOGIA – AMBIENTE E SUSTENTABILIDADE
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CONCEITOS
OBJETIVOS DE 1º 2º 3º 4º 5º 6º 7º 8º 9º ORIENTAÇÕES
TEMAS
Tempo/História. I A A A A C
I A A A A/C
político.
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INTEGRADORES
CONCEITOS
TEMAS OBJETIVOS DE 1º 2º 3º 4º 5º 6º 7º 8º 9º ORIENTAÇÕES
APRENDIZAGEM LEGENDA: METODOLÓGICAS
(I) Iniciar – (A) Aprofundar - (C) Consolidar
12. Conhecer e discutir, considerando as
categorias etnocentrismo e alteridade, obras
Sociedade – escravidão – Cultura – Colonização – Etnia – Tempo histórico – Diversidade
DIREITOS HUMANOS – TERRITORIALIDADES – TRABALHO E TECNOLOGIA – AMBIENTE E
301
DIRETRIZES CURRICULARES DO ENSINO FUNDAMENTAL E DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS
Objetivos de Aprendizagem para o Componente História Educação de Jovens e Adultos
TEMAS
1º 2º ORIENTAÇÕES
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM 1º e 2º SEGMENTOS SEG SEG METODOLÓGICAS
1 Identificar diferentes fontes históricas, tais como documentos pessoais, X O ensino das Ciências
fotografias, narrativas orais, iconográficas e materiais áudio-visuais. Humanas na Educação
Procedimentos de Pesquisa em estudos históricos: o reconhecimento dos
302
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TEMAS
1º 2º ORIENTAÇÕES
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM 1º e 2º SEGMENTOS SEG SEG METODOLÓGICAS
303
DIRETRIZES CURRICULARES DO ENSINO FUNDAMENTAL E DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS
1º 2º ORIENTAÇÕES
OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM 1º e 2º SEGMENTOS SEG SEG METODOLÓGICAS
46 Reconhecer os nexos entre o processo de interdependência e as
transformações ocorridas na Europa, focando as categorias de etnocentrismo X
e alteridade, obras literárias e iconográficas, analisando os olhares dos
europeus sobre o Brasil nos diferentes contextos históricos.
47 Compreender o processo de escravidão africana implantada no Brasil
colonial e no Espírito Santo, relacionando-as com as atuais desigualdades X
nas questões étnico-raciais.
48 Conceituar historicamente cidadania na atualidade, relacionando-a com as X
lutas pela garantia dos direitos ao longo do século XX.
49 Conceituar capitalismo, socialismo, estado/Estado, governo e classe social.
X
50 Identificar origens dos processos de desigualdade entre as classes sociais, X X
bem como, as formas de Estado que legitimam esta desigualdade.
51 Conhecer/reconhecer os atores históricos protagonistas da resistência à X
escravização imposta pelos colonizadores europeus: Chico Prego, Eliziário,
João Bananeira, João da Viúva, Zacimba Gaba, entre outros.
52 Reconhecer as influências religiosas, políticas, de hábitos e costumes
das etnias formadoras do povo brasileiro na construção e caracterização da X X
identidade social da cidade de Vitória.
53 Relacionar os diferentes tempos históricos vividos na cidade de Vitória, X
identificando permanências e mudanças no processo de urbanização.
54 Relacionar os diferentes tempos históricos vividos no Espírito Santo,
identificando permanências e mudanças, continuidades e rupturas, em seus X X
processos de urbanização, organização social e práticas culturais.
55 Identificar fotografias, pinturas, gravuras como fontes iconográficas que X
registram determinados acontecimentos históricos do ES.
56 Conhecer o patrimônio natural e histórico do Espírito Santo. X
304
DIRETRIZES CURRICULARES DO ENSINO FUNDAMENTAL E DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS
São decorrentes de posturas produzidas pela A Lei 9.475/97 alterou o art. 33 da Lei de Diretrizes e
falsa percepção de que somente existe uma única Bases da Educação Nacional - LDB n.º 9.394, de 20
verdade, cujo domínio pertence a determinado de dezembro de 1996, estabelecendo que a disciplina
grupo, etnia ou cultura. Assim, crenças religiosas de ensino religioso é de matrícula facultativa, e
podem justificar a produção de ‘cegueiras’, parte integrante do currículo das escolas públicas
endossando concepções e práticas opressivas e de Ensino Fundamental, assegurando o respeito
exploradoras, subvertendo sentidos e alienando à diversidade cultural religiosa do Brasil, vedadas
pessoas em favor de interesses particulares, em quaisquer formas de proselitismo.
detrimento dos interesses compartilhados (BNCC,
2016 p. 169). § 1º Os sistemas de ensino regulamentarão os
procedimentos para a definição dos conteúdos de
ensino religioso e estabelecerão as normas para
Os princípios constitucionais e legais obrigam os a habilitação e admissão dos professores. § 2º Os
educadores todos a se pautarem pelo respeito às sistemas de ensino ouvirão entidade civil, constituída
diferenças religiosas, à liberdade de consciência, pelas diferentes denominações religiosas, para a
de crença, de expressão, de culto, reconhecida a definição dos conteúdos do ensino religioso.
igualdade e dignidade de toda pessoa humana...
Nesse sentido, a escola tem como função social Nessa perspectiva, a BNCC cita a Resolução
propiciar espaços de reflexão e liberdade que CEB/CNE nº 2/1998, que instituiu as Diretrizes
promovam práticas pedagógicas capazes de Curriculares Nacionais para o Ensino
gerar o respeito e o conviver entre os diferentes e
as diferenças. Para tanto, no tocante à disciplina
de Ensino Religioso, é importante disponibilizar 18
O proselitismo religioso se caracteriza pela difusão de um
os conhecimentos da diversidade dos fenômenos
conjunto de ideias, práticas e doutrinas que se autorreferen-
religiosos, dos fenômenos não religiosos, tendo ciam como verdade.
305
DIRETRIZES CURRICULARES DO ENSINO FUNDAMENTAL E DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS
Fundamental, conferindo à disciplina uma das Nesse sentido, o Prof. Dr. Sérgio Junqueira
áreas de conhecimento da Base Comum Nacional. (2016), no 2º Encontro de Professores de Ensino
Essa determinação foi ratificada pelas Resoluções Religioso, levou-nos a refletir sobre sentido de
CNE/CEB n° 4/2010 e nº 7/2010, que mantiveram cada disciplina inserida no componente curricular.
o Ensino Religioso como uma das cinco áreas de Da mesma forma, é preciso analisar: por que o
conhecimento do Ensino Fundamental de nove anos. Ensino Religioso na escola? Qual o seu papel?
Qual o objeto de estudo do Ensino Religioso?
Embora apresentado como uma área específica,
o Ensino Religioso na Base Nacional Comum Considerando o caráter não proselitista, o
Curricular articula-se de modo especial à área de Ensino Religioso passou a ter como principal
Ciências Humanas. Essa articulação se deve à característica a mudança do campo doutrinário
relação de proximidade com os estudos da História, para a abordagem da diversidade religiosa. A
Geografia, Sociologia e Filosofia, fortalecendo o escola não é lugar de devoção e sim de cultura,
caráter interdisciplinar. Nessa direção, o Ensino estuda a religião como fenômeno que impacta
Religioso nas Diretrizes Curriculares do Ensino as relações sociais, com caráter epistemológico
Fundamental deste Município, também integra a na perspectiva histórica, antropológica, filosófica,
área de Ciências Humanas. social e política, destituído do proselitismo.
Para o Fórum Nacional Permanente de Ensino [...] aquilo que para as igrejas é objeto de fé, para
Religioso - FONAPER, entidade civil responsável a escola é objeto de estudo. Isto supõe a distinção
entre fé/crença e religião, entre o ato subjetivo de
pela elaboração dos PCNER, esse marco está crer e o fato objetivo que o expressa. Essa condição
relacionado a mobilização da sociedade brasileira implica a superação da identificação entre religião
que envolveu educadores, representantes e igreja, salientando sua função social e o seu
de entidades civis, religiosas, educacionais, potencial de humanização das culturas. Por isso,
governamentais e não governamentais de o Ensino Religioso na escola pública não pode
ser concebido, de maneira nenhuma, como uma
diferentes setores de atuação.
espécie de licitação para as Igrejas (neste caso é
melhor não fazer nada). A instituição escolar deve
Os Parâmetros Curriculares Nacionais para reivindicar a título pleno a competência sobre essa
o Ensino Religioso - PCNER modificaram o matéria (COSTELLA, 2004, p. 105-106).
caráter dessa disciplina que deixa de ter o viés
confessional, assegurando uma identidade Passos (2007) nos diz que o pensamento mais
pedagógica que tem como pressuposto a avançado de Ensino Religioso pressupõe estar
formação do cidadão. substancialmente embasado numa tradição
cientifica; numa referência explicativa e valorativa,
À escola compete prover os educandos de que, vá além do senso comum e de interesses
oportunidades de se tornarem capazes de individuais e de grupos. Trata-se de possibilitar
entender os momentos específicos das diversas aos estudantes uma articulação dos seus mundos,
culturas, cujo substrato religioso colabora no inclusive o religioso, com as referências colocadas
aprofundamento para autêntica cidadania. E, pelo acúmulo de conhecimento oferecido pelas
como nenhum conhecimento teórico sozinho diversas ciências.
explica completamente o processo humano,
é o diálogo entre eles que possibilita construir Objetiva-se assim, que a partir das experiências
explicações e referenciais, que escapam do uso com o Ensino Religioso, ao longo do processo
ideológico, doutrinal ou catequético (FONAPER, de ensino aprendizagem, os estudantes possam
1997, p. 2). vivenciar experiências reflexivas acerca de diversas
tradições religiosas, considerando a perspectiva
Porém, a formação da cidadania, no que dos direitos humanos, o questionamento dos
diz respeito às questões sociais, políticas, processos excludentes, e que encaminhem
econômicas, entre outras questões vinculadas a vivências fundamentadas no conhecer, respeitar e
ética, atravessa todas as disciplinas e precisa ser conviver com as diferenças.
trabalhada por todas professoras.
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DIRETRIZES CURRICULARES DO ENSINO FUNDAMENTAL E DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS
De acordo com a Lei e Diretrizes e Base da nas escolas. Assim, ao mesmo tempo que elas
Educação – LDB 9394/96, a formação religiosa é não devem direcionar as questões religiosas,
de responsabilidade da família, assim, não cabe elas também não devem negar suas diferentes
às instituições educacionais vincular suas práticas expressões presentes na vida dos estudantes.
pedagógicas a preceitos ou a determinada prática Nesse contexto, a equipe pedagógica tem
religiosa. Isso não significa que os espaços potencialidade de elaborar práticas coletivas
educativos são indiferentes diante da realidade da comprometidas com os princípios éticos.
comunidade escolar em suas diferenças culturais/
religiosas que fazem parte da vida. As diferenças A Festa Junina, por exemplo, precisa ser analisada
fazem parte da vida social, da comunidade em suas origens, na suas manifestações no
escolar, sendo assim, precisam ser visibilizadas território brasileiro e na sua constituição como um
na sua condição. patrimônio cultural da humanidade. Mesmo com
as marcas históricas vinculadas à religiosidade,
Nessa perspectiva, compreende-se que nos essas festas não tem o objetivo de constituir
espaços escolares não há lugar para o proselitismo, experiências de fé/devoção e sim na produção
a discriminação e o preconceito às diferentes cultural e na estética de um povo. Em busca de
manifestações religiosas, como também não é alternativas às complexidades da religiosidade,
lugar para qualquer forma de dogmatização a uma muitas escolas mudam o nome, passam a
determinada manifestação religiosa. No entanto, designá-la como “festa na roça”, “festa cultural”,
é preciso analisar as práticas pedagógicas que “festa caipira”, dentre outras denominações. As
acontecem no cotidiano das escolas que se escolas precisam pensar o sentido que a festa
manifestam nas rezas/orações, nas cantigas junina tem para aquela comunidade, considerando
religiosas; nas datas comemorativas de cunho sua identidade cultural (JUNQUEIRA, 2016).
religioso; nas normas morais fundamentadas na
religião; na invisibilização e/ou discriminação às Compreende-se que não há uma negação por tudo
religiões de matrizes africanas; e, entre outros que diz respeito à comemoração, pois algumas
modos de conceber a transcendência na tradução datas fazem parte das propostas pedagógicas
do cristianismo como modelo único e correto de com abrangência significativa à realidade da
ser religioso. comunidade escolar, bem como sua articulação
com o Projeto Político Pedagógico.
Muitas atividades são trabalhadas a partir das
datas comemorativas de cunho histórico/religioso. Se por um lado, não podemos negar a influência
Nesse sentido, é preciso pensar: Qual o sentido do calendário cristão nas práticas escolares (natal,
pedagógico dessas práticas no cotidiano das páscoa, festa junina, carnaval etc.), por outro lado,
estas atividades transformadas em motivações
escolas? O que é significativo no processo de pedagógicas, não podem subverter a função laica
aprendizagem dos estudantes nas referidas datas da escola e nem mesmo transformar determinadas
comemorativas? práticas culturais (dança, música, brincadeiras etc.)
em mecanismos de doutrinação religiosa ou de
Além do enfoque religioso, que em geral se intolerância religiosa (PMV, UM OUTRO OLHAR,
2006).
traduz no Cristianismo, é preciso analisar em que
medida essas datas estão articuladas a questões
pedagógicas na problematização da propagação Entende-se que não há uma negação da cultura
do consumo e na preservação do patrimônio religiosa presente na vida dos estudantes,
cultural. Em que medida, as representações do transformando a escola numa redoma em relação
Papai Noel nas festas natalinas, dos coelhos a tudo que tem caráter religioso. Ao contrário, cabe
e dos ovos de chocolate e entre tantas outras a escola dialogar e investigar, a partir da realidade
práticas trazem reflexões sustentáveis à vida? dos estudantes, as curiosidades e as ideias pré-
concebidas do outro, na perspectiva da identidade
A partir das diferentes realidades trazidas e e da diferença.
enunciadas pelos estudantes, algumas atividades
com viés Cristão, estão sendo ressignificadas Entende-se que o papel das instituições
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DIRETRIZES CURRICULARES DO ENSINO FUNDAMENTAL E DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS
educacionais, bem como o papel do Estado não espaços de aprendizagem que sejam capazes
é o de se manifestar em princípios baseadas na de superar as desigualdades étnico-religiosas,
fé. Então, poderíamos perguntar: Como deve ser a apologia, a imposição de doutrinas e dogmas
a atuação da professora diante das curiosidades que favoreçam determinados grupos religiosos; e,
que os estudantes trazem em relação as ao mesmo tempo, produzir práticas pedagógicas
manifestações religiosas presentes na sociedade? que valorizem as diferenças, a identidade, a
autonomia, a liberdade de pensamento e a criação
É muito comum os estudantes argumentarem sobre de novos valores.
as manifestações que presenciam no dia a dia,
como as oferendas na Umbanda; a sacralização Essa prática é possível quando a sala de aula
da vaca no Hinduísmo; a divindade indígena ligada e os diferentes espaços de aprendizagem se
às forças da natureza, a santidade dos mártires tornam locais propícios para as indagações;
no catolicismo, a crença na reencarnação na visão para os diálogos abertos; para potencialização
espiritualistas, entre outras práticas que são vistas das curiosidades, análise das identidades e das
sob a ótica do preconceito. diferenças, apropriação de saberes e metodologias
diferenciadas. Nessa perspectiva, as práticas
Nesses acontecimentos, as experiências pedagógicas desenvolvidas na disciplina de
acontecem de maneira dialógica na perspectiva Ensino Religioso poderão ser referenciadas nos
investigativa do conhecimento histórico, social e objetivos de aprendizagem que foram elaborados
antropológico sem atribuir juízos de valor a uma a partir dos seguintes eixos temáticos: Identidades
determinada prática em detrimento de outra. Isso e Diferenças; Conhecimento do fenômenos
significa que é importante a professora conversar religiosos/não religiosos; e as Ideias práticas
com os estudantes sobre as diferenças sem religiosas/não religiosas.
determinar práticas religiosas como certas ou
erradas, como inferiores ou superiores, como Os objetivos aqui propostos não esgotam as
sagradas ou profanas. possibilidades de articulação dos conhecimentos
produzidos nesse campo do saber, mas se
Eixos temáticos constituem como importante referência na ação
docente, contribuindo para as práticas de ensino
Sendo parte integrante das diretrizes curriculares, e de avaliação da aprendizagem.
o Ensino Religioso é compreendido como
conhecimento que abrange a dimensão religiosa e a) Identidades e Diferenças
não-religiosa, que se caracteriza tanto pelo âmbito
das culturas e tradições religiosas manifestas nas Aborda o caráter subjetivo e singular do
crenças indígenas, africanas, afro-brasileiras, humano, a partir do estudo da corporeidade,
judaico, cristã, islâmica, espíritas, hindus, alteridade, dignidade, imanência-transcendência,
chinesas, japonesas, semitas, movimentos religiosidade, subjetividade, territorialidade,
místicos, esotéricos, sincréticos, entre muitos relações interculturais e bem-viver.
outros, quanto pelos conhecimentos não religiosos
que se caracterizam no ateísmo, agnosticismo, Nesse eixo o “eu” estabelece relações com a
niilismo, materialismo, ceticismo, entre outros. natureza e com a sociedade mediadas pelo
corpo, pelas linguagens e pelas especificidades
Para tanto, é importante proporcionar histórico-sociais.
conhecimentos sobre os elementos que compõem
esses fenômenos, a partir das experiências vividas A partir desse reconhecimento, a pessoa se vê no
pelos estudantes, considerando a dimensão da mundo como dependente do outro e das relações
liberdade religiosa com a busca da compreensão em comunidade, que são estabelecidas no
do questionamento existencial. coletivo familiar, no escolar, na instância religiosa
e comunitária e no meio ambiente. Experiências
Ao assumir essa perspectiva, o Ensino Religioso pedagógicas voltadas ao autoconhecimento,
poderá produzir conhecimentos nos diferentes a autoestima, a identidade, a história de cada
308
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sujeito, em articulação com o outro no conviver, literaturas, valores e princípios religiosos. Incluem-
podem fazer parte das atividades desenvolvidas se ainda, as convicções, filosofias e perspectivas
nas aulas em utilização das diferentes linguagens: seculares da vida.
artística, corporal, cênica, musical e oral/escrita.
A partir desse eixo torna-se importante a
Na relação com o outro, como membros da compreensão da dimensão mitológica das
convivência familiar e das organizações sociais; primeiras civilizações, compreendendo o que
na coexistência de diferentes corporeidades, é mitologia por meio da leitura das narrativas
identidades, crenças, práticas, costumes, heroicas como expressão da explicação do cosmo
sentimentos, desejos, opções, sonhos, humano.
carências, medos, fragilidades e potencialidades,
os estudantes poderão estar em constante Essa ideia mítica também está articulada aos
contato com as identidades e as diferenças, rituais de passagem que faziam e fazem parte da
potencializando o conviver. vida dos povos desde as comunidades primitivas,
nos diferentes espaços e tempos da história da
Essas diferentes culturas são marcadas pelo humanidade. Os rituais podem ser analisados
conjunto de princípios éticos, de história, tradições a partir das cerimônias de formatura, dos ritos
religiosas, símbolos sóciofamiliares e comunitários religiosos do batismo para os cristãos, como
que integram, identificam e diferenciam as pessoas também nos rituais da cura e purificação para os
em suas culturas, relacionadas ao respeito e ao povos indígenas.
cuidado com a vida.
Nos rituais da morte, tema que tanto afeta os
Nessa relação com a vida, torna-se imprescindível estudantes, as diferentes tradições religiosas
o reconhecimento e a valorização do “eu” e do e a filosofia explicam a passagem da vida para
“outro”, independente do segmento religioso, a morte, ou apenas, pela morte para adquirir
do não segmento, ou ainda, dos que adotam o uma nova vida. A crença na sobrevivência
pensamento ateísta e agnóstico. espiritual, proporcionou a criação de explicações
e ritos religiosos para este momento o qual,
É importante compreender que os conhecimentos, certamente, todos passarão. Assim, interpreta
os preceitos éticos e morais transmitidos nos a realidade última do ser humano de maneiras
textos sagrados orais e escritos influenciam as diversas, estando entre elas a ancestralidade; a
escolhas das pessoas, as relações socioculturais reencarnação; a ressurreição e o nada, que se
e a organização das sociedades, em diferentes traduz na negação da vida além da morte.
tempos, lugares e espaços.
A partir desse repertório, os diálogos sobre os
Ao mesmo tempo, é importante analisar que as rituais do nosso cotidiano e os rituais sagrados
crenças e ideologias religiosas podem determinar são (re)significados.
ou orientar valores, atitudes e comportamentos,
contribuindo com a superação dos processos A utilização dos símbolos tem permitido a
de exclusão e desigualdades e, por vezes, com humanidade a levar à outras gerações os
a sua reprodução quando utiliza dos preceitos conhecimentos acumulados no decorrer do
religiosos para fins particulares ou para práticas tempo. Desse modo, contribui para a preservação
que fragilizam a dignidade humana. dos valores básicos para que a cultura se eternize.
Esses símbolos são formados de uma variedade
b) Conhecimento dos fenômenos religiosos/ de objetos concretos ou abstratos que são
não religiosos carregados de valores, significados e sentidos
para o povo que o concebe. Esses conhecimentos
Contempla os aspectos que estruturam as culturas articulados a realidade dos estudantes, podem
e tradições/movimentos religiosos, a partir dos ser elaborados com o estudo dos símbolos das
mitos, ritos, símbolos, ideias de divindades, diversas manifestações religiosas e não religiosas,
crenças, textos orais e escritos, doutrinas, como os símbolos contidos no uniforme, no time de
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futebol, na banda de rock, nos partidos políticos, também como os princípios éticos contribuem
nas bandeiras, dentre outros. para a erradicação de discursos e práticas
de violência por motivações religiosas. Numa
No que diz respeito à divindade, a história da perspectiva interdisciplinar, a escola possibilita a
humanidade constituiu a ideia de sobrenatural, pesquisa de diferentes narrativas culturais com
como um ser mitológico, que possui poderes vistas a problematizar os processos de exclusão,
especiais e é visto como superior. Muitas vezes, xenofobias e desigualdades, estimulados por
sua imagem é semelhante à imagem humana ou crenças, ideologias religiosas ou filosofias de vida.
de outro ser, sendo cultuado como santo, divino
ou sagrado, e, em muitos casos, é caracterizado Ao mesmo tempo, os estudantes também são
como imortal. A divindade só é reconhecida desafiados a conhecerem o papel e atuação dos
por adesão da fé/crença e não pela explicação líderes/grupos religiosos e de outras lideranças,
racional e/ou científica. na política, na saúde, na educação, nos projetos
e nos movimentos sociais fundamentados em
Os textos sagrados são um elo de comunicação princípios éticos que fomentam para o cuidado
entre os seguidores e a perpetuação dos e a preservação da vida, na perspectiva dos
ensinamentos das diferentes manifestações direitos humanos e da Terra enquanto experiência
religiosas. Apresenta objetivo de criar unidade e existencial construída na coletividade.
identidade dos seguidores, de modo a consolidar
os ensinamentos por meio dos sermões, história, O que se opõe ao descuido e ao descaso é o
doutrinas e orações. cuidado. Cuidar é mais do que um ato; é uma
atitude. Portanto, abrange mais que um momento
de atenção, de zelo e de desvelo. Representa
Até hoje, algumas culturas, como as indígenas, uma atitude de ocupação, preocupação, de
se utilizam da oralidade, como mecanismo de responsabilização e de envolvimento afetivo com o
transmissão das tradições religiosas. Desse modo, outro (BOFF, 1999, p. 33).
é por meio da oralidade que os ensinamentos são
revividos nos diferentes rituais. O cuidado faz parte da natureza e da constituição
do ser humano... Sem o cuidado, ele deixa de
O Ensino Religioso também trata das questões ser humano. Se não receber cuidado desde o
filosóficas, que trazem entre outros objetos, a razão nascimento, o ser humano desestrutura-se, definha,
como base para compreender o mundo; e também perde sentido e morre. Se, ao largo da vida, não
as perspectivas seculares da vida, ou seja, outras fizer com cuidado tudo que empreender, acabará
formas de conhecimento que não se caracterizam por prejudicar a si mesmo e por destruir o que
pelas explicações religiosas, independe dos estiver a sua volta. O cuidado deve ser entendido
moldes do divino, mas que se compõem do na linha da essência humana (BOFF, 1999).
cotidiano, da história, dos acontecimentos e das
informações. E nesse cuidado com o mundo, os estudantes são
possibilitados a (re)conhecer espaços e territórios
c) Ideias práticas religiosas/não religiosas sagrados de diferentes tradições e movimentos
religiosos, em suas práticas, símbolos, expressões,
Aborda as experiências e as manifestações princípios e valores, incluindo crenças e devoções
religiosas nos espaços e territórios; as práticas populares, respeitando suas singularidades.
celebrativas, simbólicas, rituais, artísticas,
espirituais; a atuação das lideranças religiosas e O território habitado pelos estudantes é um
suas relações com a cultura, política, economia, excelente laboratório para esse estudo. Nossas
saúde, ciência, tecnologias, meio ambiente, cidades estão repletas de elementos culturais que
questões de gênero, entre outros. se concretizam nos monumentos, nos templos e
nas manifestações religiosas.
O Ensino Religioso analisa como as doutrinas
religiosas fundamentam a manutenção de cosmo- Questões mais abrangentes referentes à
visões e a transmissão de seus ensinamentos. E existência humana e às situações limites que
310
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integram a vida, são articuladas às questões
socioambientais, geopolíticas, culturais, religiosas,
de gênero e sexualidade, e, são potencializadas
na perspectiva dos direitos humanos.
Referências
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Perceber-se como pessoa dependente de outras Identificar valores humanos que contribuem ao bem- Ao iniciar os estu-
pessoas e das relações que se estabelecem no contexto viver e à convivência coletiva, presentes nas filosofias dos do Ensino Reli-
familiar, escolar, cultural, comunitário e ambiental. de vida, tradições e movimentos religiosos. gioso nas Diretrizes
Reconhecer um conjunto de lembranças e Identificar valores humanos que estabelecem relações Curriculares, bus-
símbolos familiares e comunitários que auxiliam de pertencimento com organizações sociais onde ca-se na efetivação
na compreensão respeitosa da trajetória das coexistem diferentes corporeidades, identidades, dos objetivos de
pessoas nos distintos grupos de pertencimento. crenças, práticas, costumes e orientações. aprendizagem do
Reconhecer que o “eu” estabelece relações de Analisar a influência de sentimentos, lembranças, componente orga-
pertencimento com a natureza e com a sociedade memórias, símbolos, valores, saberes e crenças para a nizar uma metodo-
reconhecendo-se como membro de um núcleo de construção da identidade pessoal e coletiva. logia de forma arti-
convivência. culada, agrupando
as etapas do Ensino
Reconhecer que o “eu” estabelece relações de Perceber distintas orientações existentes nas diferentes
Fundamental em
pertencimento com organizações sociais, onde culturas e tradições religiosas nacionais e mundiais,
blocos, envolvendo
coexistem diferentes corporeidades, identidades, referentes ao respeito e ao cuidado com a vida, com a
primeiramente os
crenças, práticas, costumes e orientações. natureza, com o corpo e com a saúde.
objetivos elencados
Compreender que tanto o “outro” quanto o “eu” Estabelecer relações de como os preceitos ético- para anos iniciais e
Valores, ética, religião, cultura, sociedade, religiosidade, fé, doutrina, diversidade, alteridade.
IDENTIDADES E DIFERENÇA
possuem sentimentos, lembranças, memórias, morais transmitidos nos textos das tradições religiosas posteriormente, em
símbolos, valores, saberes e crenças que se orais e escritas influenciam as escolhas das pessoas, progressividade,
constituem como referências para a construção as relações socioculturais e a organização das aqueles abordados
da identidade pessoal e coletiva. sociedades, em diferentes tempos, lugares e espaços. para os anos finais.
Destacam-se nesse
Perceber distintas orientações existentes nas Conhecer e respeitar os alimentos considerados contexto também
diferentes culturas e tradições religiosas locais, sagrados pelas culturas, tradições e expressões aspectos fundamen-
referentes à valorização e ao cuidado com a vida, religiosas, compreendendo os diferentes sentidos e tais de transversa-
com a natureza, com o corpo e com a saúde. valores que assumem em cada contexto social do lidade desses ob-
mundo. jetivos com outras
Compreender como os preceitos ético-morais Problematizar as determinações de tradições temáticas entre as
transmitidos nos textos sagrados orais e escritos religiosas, a utilização de seus preceitos que atentam quais pontuamos:
influenciam as escolhas das pessoas, as relações à dignidade humana e impedem o reconhecimento das Direitos Humanos e
socioculturais e a organização das sociedades, diversidades na sociedade. Cidadania, Culturas
em diferentes tempos, lugares e espaços. Indígenas e Africa-
Conhecer e respeitar os alimentos considerados Problematizar processos de exclusão, xenofobias e nas, Sustentabili-
sagrados pelas culturas, tradições e expressões desigualdades, estimulados por crenças, ideologias dade e Educação
religiosas, compreendendo os diferentes religiosas ou filosofias de vida. Ambiental. Portanto,
sentidos e valores que assumem em cada o estudo do Ensino
contexto dentro do nosso município e estado. Religioso requer
Perceber aspectos que identifiquem propósitos Entender os aspectos da ética de algumas religiões uma metodologia de
de valorização da vida e construção da e filosofias de vida, reconhecendo o outro nas suas aula como evento
cidadania nos textos sagrados orais e escritos, diferenças demonstrando atitudes de respeito. dialógico e contex-
tradições religiosas e filosofias de vida. tual, com rodas de
conversas a partir
Compreender que as narrativas sagradas Conceituar rito, símbolo e mito, estabelecendo relações das experiências e
CONHECIMENTOS DOS FENÔMENOS RELIGIOSOS/ NÃO
surgiram dos mitos e história dos povos. entre eles. práticas dos estu-
Identificar os diferentes nomes, sentidos Analisar as explicações relacionadas à natureza humana dantes. Estes de-
e significados atribuídos às divindades na e ambiental em mitos que tratam da origem da vida, em vem entender como
diversidade cultural religiosa. diferentes perspectivas religiosas e não religiosas. são constituídos os
Reconhecer que a memória dos acontecimentos Entender que os locais sagrados se constituem como grupos sociais, suas
sagrados é cultivada através de mitos, práticas espaços de expressão utilizados pelas diferentes culturas e suas rela-
e símbolos nas diferentes tradições, que podem tradições religiosas, bem como estes se relacionam ções com a religiosi-
RELIGIOSOS
ser transmitidos por meio da cultura oral e escrita. com o mundo. dade.
Perceber a presença de símbolos e crenças Perceber a presença de símbolos e crenças nas
nas manifestações locais constituintes da manifestações nacionais e mundiais constituintes da
diversidade cultural. diversidade cultural.
Identificar explicações relacionadas à natureza Reconhecer as concepções de morte em culturas e
humana e ambiental em mitos que tratam da tradições religiosas, bem como seus respectivos ritos
origem da vida, em diferentes perspectivas mortuários ou fúnebres.
religiosas e não religiosas.
Entender que as tradições e manifestações Entender que para tradições e movimentos religiosos
religiosas dão sentido a vida. a morte é geradora de sentido para a vida e produtora
de culturas.
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CONCEITOS
EIXOS OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM OBJETIVOS DE APRENDIZAGEM ORIENTAÇÕES
ANOS INICIAIS/1ºSEGMENTO ANOS FINAIS/2º SEGMENTO METODOLÓGICAS
Conhecer as principais datas religiosas, Reconhecer os diálogos inter-religiosos e interculturais É importante também a
festas e comemorações realizadas no como fundamentos para uma convivência ética e respeitosa. vivência e experiência
Conhecimentos dos fenômenos religiosos/ não religiosos
313
PARTE III
EDUCAÇÃO: INOVAÇÃO SOCIAL
E TECNOLÓGICA POR UMA
VIDA SUSTENTÁVEL
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315
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Contexto Histórico tecnologia ao ensino a fim de qualificá-lo. Tendo
em vista a promoção da inclusão digital com o
O desenvolvimento da Informática Educativa uso das tecnologias como ferramentas didáticas,
no Brasil teve início na década de 1970 com a o programa foi passando por adequações ao
discussão sobre o uso de computadores para o longo dos anos. Recentemente, no ano de 2017,
ensino da Física, sendo intensificado a partir do o Ministério da Educação iniciou a implementação
ano de 1975 com os usos do Projeto Logo20, de do Programa de Inovação Educação Conectada
Seymour Papert, inicialmente, pela Universidade que prevê a conexão em alta velocidade de todas
Estadual de Campinas, que criou o Núcleo as escolas públicas do país, desenvolvendo ações
de Informática aplicada à Educação. No final a partir de quatro dimensões: visão, formação,
dessa década, foi criada a Secretaria Especial recursos educacionais digitais e infraestrutura para
de Informática (SEI), responsável pelo domínio fomentar o uso pedagógico de tecnologias digitais
político da informática no Brasil e pela criação de na Educação Básica.
uma Comissão Especial de Educação, visando
gerar normas, subsídios e diretrizes para a área de Na Rede Municipal de Ensino de Vitória, a
informática na educação (VALENTE,1999). Entre partir do ano de 1989, iniciaram-se os primeiros
as ações dessa secretaria, destaca-se o projeto movimentos em torno dos usos da Informática
Educação com computador (Educom), com metas Educativa, com o Programa Nacional PronInfe
voltadas para o desenvolvimento de pesquisas que se efetivou por meio do Projeto Laboratório
sobre o uso educacional da informática e seus Ensino-Aprendizagem (LEA). No período de 1997
impactos no processo ensino aprendizagem, a 2001, passou a ser desenvolvido o Projeto “A
conforme explica Tavares (2001). informática nas Escolas Públicas Municipais de
Vitória” (InfoVit), tendo em vista a ampliação dos
A partir da década de 1980, intensificaram-se laboratórios de informática existentes em duas
as ações de formação técnica e docente, como escolas e a implementação em outras trinta. Além
o projeto FORMAR (1987), com o objetivo de disso, o projeto previa a aquisição de softwares
provocar a reflexão da professora “[...] sobre a integrados às áreas curriculares e a formação
sua forma de atuar em sala de aula e propiciar- de profissionais, entre outras metas (MUGRÁBI,
lhe condições de mudanças em sua prática 2005).
pedagógica, na forma de compreender e conceber
o processo ensino-aprendizagem, levando-o A partir de 2001, foi instituído no município de Vitória
a assumir uma nova postura como educador” o Programa Educação Ampliada, que desenvolveu
(MORAES, 1997, p. 37). Nesse contexto, projetos voltados para a informática educativa
destacou-se também o Programa Nacional de nas escolas municipais, como a implantação de
Informática Educativa21 (Proninfe, 1989), que teve laboratórios em escolas do ensino fundamental
como principal proposta incentivar a capacitação que ainda não haviam sido contempladas, além
contínua e permanente de professoras, técnicos de cursos de formação. Nesse período, um
e pesquisadores no domínio da tecnologia dos desafios para a implantação da informática
educativa, buscando desenvolver estratégias de educativa nas escolas foi a identificação de um
ensino e novos métodos de aprendizagem. profissional referência para o trabalho no laboratório
de informática.
Nos anos 1990, o Ministério da Educação
criou o Programa Nacional de Informática na Como a função era exercida, em alguns casos,
Educação (Proinfo), com o propósito de que o uso por professoras e, em outros, por estagiários com
pedagógico da informática nas redes públicas de
ensino fosse, de fato, incluído no planejamento da
professora e da escola como um todo, aliando a
21
Programa do Governo Federal que visava à formação continuada de
professoras, técnicos e pesquisadores no domínio da tecnologia da Informática
Educativa. No Espírito Santo, a implantação se deu a partir do convênio com
20
Logo é uma linguagem de programação (software) que permite que a criança a Secretaria Estadual de Educação, tendo como uma das principais ações, a
desenvolva seu próprio conhecimento. instalação dos Centros de Informática Educativa.
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formação técnica, foi realizada pela Secretaria Para ampliar as possibilidades de interação
de Educação, no ano de 2005, a seleção de 55 entre os educadores da rede, a partir de 2011,
professoras para atuação nos laboratórios de passou a ser utilizada uma Plataforma Moodle,
informática em escolas da rede municipal, a fim a VixEduca, que foi customizada para fins de
de que o trabalho fosse estruturado de forma formação do magistério. Nesse ambiente virtual
a atender as necessidades dos estudantes são desenvolvidas diversas atividades formativas
(LOURENÇO, 2008, p.74). No mesmo ano, foi coordenadas pelas equipes da gestão central
criado o cargo de Professor de Informática no da Secretaria de Educação e das Unidades de
quadro permanente do magistério municipal, Ensino, potencializando os encontros presenciais
regulamentado pela Lei nº 6.443/2005 e, no ano com atividades variadas de estudos e práticas ou
seguinte, houve realização do concurso público, totalmente on-line por meio da exploração das
em janeiro de 2006. Nas atribuições inerentes ferramentas disponíveis, tais como: chat, fórum,
ao cargo, destaca-se, conforme Decreto nº 13. glossário, tarefa.
615 (PMV, 2007, p. 6), a responsabilidade por
“planejar, ministrar, acompanhar e avaliar as Atualmente, no âmbito dos Programas Federais,
atividades pedagógicas desenvolvidas com os a Rede Municipal de Ensino de Vitória participa
alunos, em parceria com os demais profissionais do Programa Federal de Inovação Educação
da Unidade de Ensino e comunidade escolar, Conectada, inscrevendo-se, sobretudo, nas ações
quando necessário, em consonância com o que estão voltadas para a instrumentalização
projeto político pedagógico”. e usos das tecnologias digitais/redes de
conectividade nas diversas dimensões propostas
A partir desse período, iniciou-se a utilização pelo Programa.
de ferramentas livres, baseadas na filosofia dos
Softwares Livres ou de Código Aberto como o No âmbito municipal, a Secretaria de Educação,
Projeto VixLinux, que inclui o uso de um sistema reconhecendo a importância de potencializar os
operacional com aplicativos, como o Gcompris, processos inovadores ancorados nos diversos
o Chidsplay, o TuxPaint, o Audacity, o Kdenlive, usos das tecnologias, assegura no Planejamento
o GIMP, entre outros. Foi também aberto o Plurianual (PPA 2018-2021) o Programa
Núcleo de Tecnologia Educacional (NTE), Inovações Educacionais que tem por objetivo
conhecido como Laboratório de Formação em realizar ações de inovações educacionais, de
Tecnologias Educacionais (LAFOTE), destinado ordem pedagógica, de gestão e de tecnologias, de
ao aprofundamento de estudos sobre os usos forma a potencializar a qualidade do processo de
pedagógicos das Tecnologias da Informação e ensino e aprendizagem e de execução do Projeto
Comunicação (TIC), assim como o conhecimento Político Pedagógico das unidades de ensino, do
do sistema operacional em uso e seus aplicativos, planejamento da Secretaria de Educação e da
e efetuada a revitalização dos laboratórios política educacional.
de informática e a migração para o sistema
operacional Ubuntu/Edubuntu. Em atenção aos desafios dos novos tempos,
busca, também, atualizar e ressignificar projetos
Nesse cenário, a implementação dos laboratórios previstos no PPA, como o Conexão Escola, o Fab-
de informática nas escolas da rede de Vitória Lab - Laboratório de Aprendizagem e Inovação e o
visou ampliar o acesso a computadores e criar Projeto das Salas Ambientes, intensificando ações
condições para a compreensão, por parte do corpo de formação docente e inaugurando, no ano de
docente, de que os recursos tecnológicos e os 2020, uma nova fase na gestão dos processos
meios de comunicação (mídias) são importantes educativos com a implementação da Plataforma
ferramentas pedagógicas que auxiliam no AprendeVix, que possibilita acesso a novos
processo de apropriação do conhecimento e recursos digitais disponibilizados no G Suíte, tais
na formação de todos os sujeitos envolvidos, como: classroom, drive, jamboard, formulários,
considerando os diversos espaços tempos de documentos, chat, podcasts, hangouts, youtube,
aprendizagem. planilhas e apresentações.
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Referências conceituais e metodológicas a melhor forma de ensinar é aquela que propicia aos
alunos o desenvolvimento de competências para
lidar com as características da sociedade atual,
A expressão Tecnologia Educacional tem sido que enfatiza a autonomia do aluno para a busca
utilizada para designar as mais diversas tecnologias de novas compreensões, por meio da produção de
utilizadas nas escolas de maneira educativa, não se ideias e de ações criativas e colaborativas (PRADO,
referindo apenas a computadores ou internet, uma 2005, p. 4).
vez que a tecnologia se faz presente, por exemplo,
em todos os materiais que usamos, nas cadeiras Assim, em meio às tecnologias disponíveis
em que nos sentamos, no data show, no celular, e presentes na vida de nossos estudantes,
TV, DVD, nos equipamentos multimídias e tantos entendemos que as tecnologias digitais configuram-
outros aparatos. Segundo Moran (2000, p. 58): se ferramentas pedagógicas que favorecem a
articulação entre as áreas do conhecimento,
Uma mudança qualitativa no processo de ensino/ potencializando a interdisciplinaridade e
aprendizagem acontece quando conseguimos contribuindo na superação da fragmentação
integrar dentro de uma visão inovadora todas as do conhecimento por meio da interligação dos
tecnologias: as telemáticas, as audiovisuais, as
textuais, as orais, musicais, lúdicas e corporais.
conhecimentos em sua relação com o contexto
Passamos muito rapidamente do livro para a de vida dos sujeitos, com sua realidade, com sua
televisão e vídeo e destes para o computador cultura, conforme explicitado nestas Diretrizes
e a Internet, sem aprender e explorar todas as Curriculares. Pensar o processo educativo em
possibilidades de cada meio. uma perspectiva interdisciplinar é, desse modo,
“[...] aprofundar a compreensão da relação entre
A evolução nesta área é crescente e acelerada teoria e prática, contribuir para uma formação mais
requerendo atualizações permanentes por parte crítica, criativa e responsável e colocar a escola
de todos os profissionais, em especial, os que se e educadores diante de novos desafios tanto no
dedicam aos estudos e práticas em tecnologia plano ontológico quanto no plano epistemológico”
a serviço da educação. Nesse cenário, cabe (THIESEN, 2008, p. 51).
destacar as Tecnologias da Informação e da
Comunicação22 (TIC) que permitem a existência O desenvolvimento das atividades pedagógicas
e o funcionamento das mídias, com mudanças com usos das tecnologias pode, então, contribuir
significativas nas formas de relações sociais e, para que os estudantes estabeleçam sentidos
consequentemente, no desenvolvimento humano. entre os conhecimentos aprendidos na escola
As mídias vêm sendo incorporadas no meio e a sua utilização na vida, sendo necessário
educacional, inicialmente por meio de programas pensar formas de organização dessas atividades.
de informática educativa, como no caso da rede de Uma das opções interessantes é o trabalho com
ensino de Vitória, que tiveram por objetivo aliar a projetos didáticos, que favorece o aprofundamento
tecnologia ao ensino a fim de qualificá-lo. No atual dos conhecimentos estudados, contribuindo para
contexto, com a abordagem do ensino híbrido e maior interface entre as áreas, já que a professora
das metodologias ativas, essas possibilidades lança mão de diferentes recursos e metodologias
são ampliadas tendo em vista a implementação de ensino, como aulas dialogadas, pesquisas
da Plataforma AprendeVix ao articular os usos orientadas, grupos de trabalho, softwares,
das tecnologias aos processos pedagógicos mídias, atividades exploratórias, atividades de
desenvolvidos nas escolas. sistematização e atividades de avaliação, sem
perder de vista a articulação constante entre as
O uso dos diferentes recursos tecnológicos torna- estratégias de ensino.
se um trabalho a ser desenvolvido tanto pelas
professoras de informática quanto pelas demais O investimento na promoção de situações de
professoras da escola, para potencialização do ensino e aprendizagem centradas em aprender
currículo e, portanto, para o processo ensino
aprendizagem, no sentido de contribuir com a
consolidação dos conhecimentos, uma vez que 22
Tecnologias da Informação e da Comunicação (TIC) formam uma estrutura
que permite a criação das mídias digitais interativas com mudanças no modelo
comunicacional atual.
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ativamente por meio do planejamento de situações Metodologias Ativas e Ensino Híbrido
com problemas reais, desafios relevantes, jogos,
diferentes atividades e momentos de leitura, O Ensino Híbrido é um dos modos de expressão
combinando tempos individuais e coletivos e das Metodologias Ativas, principalmente pela
projetos de vida pressupõe a adoção de novas possibilidade de agregar os usos de ambientes
posturas pedagógicas frente à organização das virtuais aos percursos de aprendizagem dos
atividades e dos espaços tempos de aprendizagem. estudantes. A utilização de jogos e games na
escola, por exemplo, é uma experiência que exige
quebra de alguns paradigmas, potencializando
práticas, abordagens e estratégias diversificadas,
aplicativos, ambientes virtuais e tantas
outras ferramentas que contribuem para uma
aprendizagem mais ativa.
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de aprendizagem ativa, instigando o estudante a acessado de modo virtual quanto os espaços
recuperar, aplicar e ampliar o conteúdo aprendido de aprendizagem na escola) são articulados
com os usos ativos das tecnologias digitais e e planejados com intencionalidade a partir de
redes de conectividade. objetivos de aprendizagem.
Um exemplo que ilustra essa experiência foi o Os locais visitados e fotografados pelos estudantes
trabalho que teve como objetivo discutir o uso do já eram conhecidos por eles. No entanto, o percurso
celular e de outras tecnologias em sala de aula fotográfico favoreceu outros olhares sobre esses
como recurso didático no processo de ensino locais e suas histórias, sendo possível observar
aprendizagem, uma vez que esse recurso, na o encantamento deles ao produzirem as imagens
atualidade, não é usado apenas como forma de fotográficas com a escolha do melhor ângulo, luz
comunicação verbal, pois devido às características e efeitos de filtro em aplicativos.
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Pontos turísticos da capital capixaba foram aprendizagem que assegurem o desenvolvimento
identificados no Google Maps e registrados por e as aprendizagens dos estudantes. Conceituada
fotos pelos estudantes, identificando também neste documento como “[…] o conjunto de
as ruas por onde passaram e onde estavam situações, possibilidades e recursos que são
localizados os estabelecimentos demarcados. criados pelo docente e disponibilizados aos
Algumas dessas localidades eram cotidianas para estudantes como forma de garantia do direito
os estudantes, mas a presença da professora no de aprendizagem” (SEME/PMV, 2016, p. 34), a
percurso fotográfico levou ao compartilhamento mediação pedagógica deve contribuir, portanto,
de conhecimento com o grupo. Alguns estudantes
também aproveitaram para fazer o registro dessa […] para o desenvolvimento de uma atitude crítica
experiência em vídeos. em relação ao conteúdo e a multiplicidade de ofertas
midiáticas e digitais, [preservando] seu compromisso
de estimular a reflexão e a análise aprofundada e,
Após os registros fotográficos, eles foram ao mesmo tempo, valendo-se desses recursos
convidados a compartilhar as imagens e discutir como meios para promover a aprendizagem, a
sobre a experiência. Muitas fotos e vídeos foram comunicação e o compartilhamento de significados
feitos, sobrecarregando a memória dos celulares, o entre professores e estudantes (BRASIL/MEC,
2016, p. 329).
que gerou um desconforto para alguns estudantes
no meio do percurso fotográfico. Ao retornar, foi
explicado sobre formas de compartilhamento de Com esse objetivo, as propostas de trabalho
imagens e aplicativos gratuitos para esse fim. com recursos midiáticos e digitais vem sendo
Durante o diálogo, surgiu o assunto “segurança na pensadas e utilizadas de diferentes maneiras
internet” ao serem divulgadas as fotos em modo pelas professoras, reafirmando os pressupostos
público. das diretrizes curriculares nacionais e municipais
e promovendo a reconfiguração das práticas
A internet e os aplicativos que a circundam são pedagógicas protagonizadas com/pelos
ferramentas de comunicação e entretenimento e, estudantes, como foi possível observar a partir dos
assim sendo, possibilitam que o usuário obtenha estudos realizados sobre a Cultura Digital e os usos
informações relevantes de diversas áreas. Os das Metodologias Ativas no curso23 ofertado na
estudantes que participaram desse trabalho Plataforma VixEduca pela Gerência de Formação
tiveram a oportunidade de aliar ferramentas que e Desenvolvimento em Educação no ano de 2020.
eles usam no dia a dia em atividades escolares.
Alguns relataram que compartilharam o assunto A partir das atividades desenvolvidas e das
com suas famílias, mostrando empolgação com os avaliações registradas nesse curso, as professoras
novos recursos a que tiveram acesso. A partir da trouxeram desafios e possibilidades no trabalho
análise dos resultados desse percurso fotográfico com as tecnologias digitais, reafirmando que “em
foi possível concluir que meio ao que estamos vivendo, as Metodologias
Ativas se tornaram mais importantes e
[...] todo o processo de ensino, desde a exibição necessárias”. Elas “[...] abrem um leque de ações
do mapa ao compartilhamento das imagens, empreendedoras que são de imediata utilização
proporcionou aos estudantes um tempo rico de na escola. Fazer planejamentos observando os
aprendizagem e ensino em que eles puderam diversos tipos de aprendizagem e inteligência e o
dividir o conhecimento que tinham acerca dos
planejamento por estações [...], entender que há a
recursos dos aplicativos, dos aparelhos eletrônicos,
computadores e smartphones, da área no entorno da necessidade de se mudar e modernizar a prática
escola, informações históricas culturais e familiares diária é um grande passo”24.
de cada ponto assinalado no mapa, com os seus
colegas de sala e com os profissionais da educação
que acompanharam esse trabalho (ANTONIO, et. 23
Curso com 80 horas, totalmente on-line, intitulado Metodologias Ativas
al, 2018, p. 9). e a Cultura Digital na Educação, com oferta inicial de 530 vagas ofertadas,
prioritariamente, para professoras das áreas do conhecimento e da informática
educativa da Rede de Educação de Vitória.
Na apresentação deste breve relato, a mediação 24
Trechos de avaliações do curso feitas pelas professoras participantes,
docente também é um elemento a ser destacado coletados em Formulário Google aplicado pela Gerência de Formação e
Desenvolvimento em Educação (2020). Essas avaliações são realizadas sem
para que sejam efetivadas situações de a identificação das cursistas.
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DIRETRIZES CURRICULARES DO ENSINO FUNDAMENTAL E DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS
Para as professoras, os recursos tecnológicos e metodologias digitais em minhas aulas”.
digitais aliados às metodologias ativas favorecem:
“Já estava fazendo um ensaio com o modelo
• “um olhar muito mais amplo sobre as híbrido. Agora, tendo mais informações, a coragem
possibilidades de utilizar a internet nas aulas para colocar em prática aumenta.”
por meio de vídeos, aplicativos, espaços na
nuvem etc.”; “Terei muito mais interesse em realizar cursos
online em plataformas diversas, planejar aulas
• “novos horizontes para criar aulas mais mais dinâmicas e atraentes para os alunos, que
integradas com a tecnologia [...]”; são bem antenados no assunto e beneficiar aquele
público diverso de alunos que aprende em ritmo e
• “os usos dos recursos do laboratório de forma diferente da grande maioria.”
informática, da tecnologia móvel e as estações
nas aulas, para envolver mais os estudantes “Nossas aulas serão mais interessantes, poderei
nas produções individuais e coletivas da ensinar meus alunos toda forma de pesquisa,
turma e, também, para compor a produção da fazer atividades nas plataformas. Será uma nova
avaliação do trabalho realizado”; forma de ensino.”
• “situações de ensino e aprendizagem mais “Agora já consigo visualizar uma aula teórica e
ativas e colaborativas por meio da aula prática em tecnologias que realmente funciona.
invertida, mapas mentais e jogos”; Utilizando o Google Drive e o Classroom.
Produzindo com os alunos uma nuvem de
• “uma aprendizagem equilibrada, baseando-a palavras, um mapa mental.”
em três movimentos principais: individual,
grupal e orientado, levando o aluno a ser Nesse contexto, o ano de 2020, constitui um
realmente o “protagonista” nesse processo, marco nos usos das tecnologias digitais na Rede
[...] a colocar a mão na massa e a produzir”; de Ensino de Vitória, conforme indica o tema do
Calendário Escolar “Educação: Inovação Social e
• “[...] maior autonomia e envolvimento por parte Tecnológica por uma Vida Sustentável”, proposto
dos alunos”. na perspectiva de fortalecer as práticas educativas
na Educação Infantil, Ensino Fundamental e na
Durante as experiências formativas pôde ser Educação de Jovens e Adultos, em tempos de
constatada a importância do investimento nas constantes transformações sociais, culturais e
inovações pedagógicas, uma vez que elas tecnológicas, enfatizando a necessária busca
possibilitam “intensificar e ampliar a proposta por estratégias que respondam aos desafios da
de ensino híbrido no contexto da sala de aula contemporaneidade (PMV/SEME, Portaria Nº
e da escola”. Nesse sentido, o conhecimento 031/2019).
das ferramentas e seus modos de utilização
são fundamentais para as professoras, como Tais desafios, intensificados em função dos novos
evidenciado nos trechos a seguir: contextos provocados pela expansão da Covid-19,
fizeram que muitos processos fossem acelerados,
“Então, de certa forma eu já aplicava o estudo como a criação das contas institucionais para
híbrido em sala, mas não com tanta propriedade. servidoras e estudantes da rede de ensino (@aluno.
Com o andamento do curso, isso nos fará termos edu.vitoria.es.gov.br, @prof.edu.vitoria.es.gov.
ainda mais autonomia e certeza do que estamos br @edu.vitoria.es.gov.br) e a implementação
aprendendo, para, então, mediarmos o ensino da AprendeVix, a Plataforma Digital da Rede de
para com os protagonistas da educação, ou seja, Ensino de Vitória, criada, especialmente, para
os nossos alunos.” ampliar as práticas educacionais por meio de
interações com diversos ambientes virtuais de
“Utilizarei as ferramentas com mais consciência do aprendizagem, incluindo algumas plataformas de
porquê, para quê e como devo aplicar os recursos uso temporário como a Aprimora.
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DIRETRIZES CURRICULARES DO ENSINO FUNDAMENTAL E DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS
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DIRETRIZES CURRICULARES DO ENSINO FUNDAMENTAL E DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS
Como resultado dos processos formativos para a garantia da democratização da informação e do
implementação da Plataforma AprendeVix, também conhecimento por meio do acesso à leitura. Essa
foram criados ambientes que potencializam o ação educacional da Rede de Bibliotecas de Vitória
acesso à leitura por meio do Aplicativo Google visa ao desenvolvimento intelectual e cultural dos
Sites como a “Biblioteca Virtual da Rede de estudantes, redimensionado as possibilidades de
Ensino de Vitória”, uma importante ferramenta interação por meio da leitura e oportunizando uma
de apoio à inclusão digital que contribui para a nova forma de trabalho nas bibliotecas escolares.
Esses são alguns exemplos de práticas com a Plataforma AprendeVix e das apropriações/usos
cultura digital que evidenciam os processos que das Metodologias Ativas. Tais processos, em
se constituem no movimento de ressignificação desenvolvimento na rede de ensino, são essenciais
das práticas pedagógicas em contextos nos para assegurar o direito à aprendizagem, conforme
quais os usos das tecnologias digitais puderam previsto nos objetivos a seguir.
ser intensificados a partir da implementação da
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DIRETRIZES CURRICULARES DO ENSINO FUNDAMENTAL E DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS
Objetivos gerais
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DIRETRIZES CURRICULARES DO ENSINO FUNDAMENTAL E DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS
Eixos de trabalho e objetivos de aprendizagem As mídias e suas tecnologias, Pesquisa, produção e
autoria e Redes Sociais.
Em consonância com a abordagem de
organização do trabalho pedagógico delineada No primeiro eixo, intitulado As mídias e suas
nos diversos componentes que compõem as áreas tecnologias, são propostos objetivos de
do conhecimento, compreendemos que, no que aprendizagem voltados para o conhecimento da
tange aos usos das mídias e suas tecnologias, há própria tecnologia, ou seja, a tecnologia é parte
um conjunto de conhecimentos e procedimentos integrante da aprendizagem e os estudantes
que devem ser sistematizados e objetivados aprendem sobre conteúdos procedimentais
no desenvolvimento da ação educativa. Esses de usos das mídias, softwares educativos e
conhecimentos foram organizados a partir de suas ferramentas: aprender sobre e como usar
três eixos temáticos que são interdependentes e as tecnologias como recurso no processo de
que transversalizam o trabalho com os saberes aprendizagem e de produção de conhecimentos.
produzidos nas diversas áreas do conhecimento:
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DIRETRIZES CURRICULARES DO ENSINO FUNDAMENTAL E DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS
O eixo da Pesquisa, produção e autoria contempla Conforme afirma Caryl Emerson (1996, p. 113)
objetivos de aprendizagem que se organizam apud Sobral (2012),
em torno das possibilidades de criação para que
os estudantes possam desenvolver estudos e “[...] criar não é meramente inventar, mas antes
capacidades ligadas ao campo da problematização desenvolver uma consciência ficcional de tal
maneira que esta seja suficientemente autônoma
e da investigação, com experiências pedagógicas para ter vida própria, entrar em suas próprias
que valorizem a dimensão da autoria no processo relações sujeito-sujeito”.
de apropriação dos conhecimentos, nas quais
os estudantes são concebidos como sujeitos Nessa direção, os objetivos propostos neste eixo
singulares, com subjetividades, vivências, histórias visam a ações de protagonismo que tenham
e emoções que enriquecem e potencializam o como referência as ferramentas tecnológicas em
currículo, rompendo, portanto, com as propostas todo seu potencial criativo e inovador para que os
metodológicas que levam a mera recepção e estudantes possam aprender e produzir através
passividade diante dos aparatos tecnológicos. e com o uso dos diversos recursos tecnológicos.
Desenvolver mudanças de atitudes, contribuindo na condução das ações que requerem a utilização das mídias
digitais e sociais, com responsabilidade pessoal e social.
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DIRETRIZES CURRICULARES DO ENSINO FUNDAMENTAL E DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS
O terceiro eixo, intitulado Redes Sociais, tem redes sociais que, cada vez mais cedo, passam
como foco o desenvolvimento de capacidades, a fazer parte do cotidiano dos estudantes,
valores e atitudes que contribuam para ampliar as tornando-se uma potente ferramenta para auxiliar
possibilidades de comunicação, compartilhamento o processo ensino aprendizagem.
de informações e conhecimentos, envolvendo as
Redes sociais
Objetivos Considerações metodo-
lógicas
Compreender que as redes sociais são estruturas que promovem a comunicação de grupo. Usando os recursos
tecnológicos, os estudantes
Conhecer as redes sociais disponíveis como: Whatsapp, Facebook, Instagram, Messenger, Youtube, Snap- devem ser orientados a se
chat, Twitter, LinkedIn, entre outras, escolhendo a que mais se adequa ao seu perfil. conectar com os outros e
Distinguir as redes de relacionamento (profissional e política) com objetivo de fazer uso adequado das com o mundo, por meio
mesmas, de acordo com seu perfil e interesse. de aulas interativas,
pesquisas, debates,
Utilizar as redes sociais como meio de divulgação de notícias, texto de opinião e imagens de interesse da seminários, trabalhos em
turma ou comunidade escolar. grupos constituídos por
estudantes de escolas
Utilizar as redes sociais para retratar fatos da rotina escolar, inserindo fotos e relatos, criando um acervo diferentes (até de países e
para a memória histórica da escola (Instagran, Facebook, Blog e etc.) culturas diferentes), contato
(chat, troca de e-mails,
Compreender as potencialidades das redes sociais, para além da divulgação de textos, fotos e vídeos, troca de arquivos, etc.) com
utilizando-as para a criação de grupos de estudos, para o esclarecimento de dúvidas, propostas de leituras pessoas relacionadas com
complementares, assim como a participação em fóruns de discussão, enquetes e formulários sobre temas algum tema em discussão.
trabalhados em aula. Essas são apenas algumas
atividades que podem ser
Conceber as redes sociais como canal de acesso à informação e de interação com o mundo.
desenvolvidas por meio do
Refletir sobre os usos das redes sociais (exposição de informações pessoais/ uso excessivo) e suas consequências. uso das redes sociais na
escola.
Trazer para da escola elementos de sua realidade externa, por meio de celulares, net/notebooks, tablets e
outros recursos eletrônicos que lhes permitam manter a conexão com os outros e com o mundo.
Compartilhar aulas, pesquisas, debates, seminários, trabalhos em grupo entre estudantes da mesma escola
e de escolas diferentes, até mesmo de municípios, estados, países e com culturas diversas.
A epígrafe nos remete à ideia de uma ética mais efetivas, eficientes, sustentáveis e justas ao
coletiva pautada no altruísmo, na fraternidade e enfrentarmos as questões cotidianas, gerando
na colaboração entre as pessoas. Refere-se a benefícios para a coletividade e projetando
um modo de viver que se opõe ao individualismo soluções conjuntas para melhorar a vida na
e faz parte da filosofia humanista de origem sociedade e no/do planeta.
africana representada por meio da palavra
Ubuntu, utilizada nas línguas zulu e xhosa, na Tais pressupostos subjazem o texto da Portaria
África do Sul, e sintetizada no provérbio: “Umuntu Seme Nº 031/2019 que estabeleceu Diretrizes Gerais
Ngumuntu Ngabantu“, que significa “Uma pessoa para a elaboração do Calendário Escolar de 2020,
é uma pessoa por causa das outras pessoas“. instituindo-o como o ano da Educação: Inovação
Social e Tecnológica por uma Vida Sustentável.
Considerando os contextos atuais e os inúmeros
desafios identificados em dados de violência e Nessa direção, reafirmamos que o conhecimento só
conflitos cotidianos registrados nos ambientes tem sentido na relação com a vida, o que pressupõe
escolares, essa filosofia de origem africana um processo humanizador e transformador no
nos convida a repensar as relações sociais, qual a escola se constitua o lugar do encontro, da
as visões de mundo, os valores, os processos interação, da socialização, da partilha, do diálogo,
educativos junto às crianças, adolescentes, da convivência cidadã e participativa. Um espaço
jovens, adultos e idosos da rede de ensino, onde os estudantes possam consolidar sua
assumindo a responsabilidade pela inclusão e natureza social, afetiva, histórica e cultural. Assim,
pela transformação social e contribuindo para o ao discorrermos sobre a Educação e os sentidos
processo de construção de uma Cultura de Paz26. da escola neste documento curricular, retomamos
o conceito de experiência a fim de resgatar a
Nessa perspectiva, é fundamental revisitarmos os função social da escola, o reencantamento pelo
sentidos da escola reconhecendo-a como espaço saber, especialmente pelo saber compartilhado e
de formação das novas gerações em diálogo com construído a muitas mãos.
os novos tempos e em conexão com questões
sociais e culturais contextualizadas, inclusive Isso pressupõe a aposta numa concepção de
na perspectiva intergeracional. É necessário, currículo mais abrangente e que contemple um
também, enfatizarmos a inovação a partir do conjunto de atividades, para além do que está
uso de metodologias e estratégias que atendam prescrito, ampliando o olhar para todos os fatores
às necessidades sociais na busca de soluções que afetam, direta e indiretamente, a produção do
conhecimento para integrar os saberes produzidos
26
De acordo com definição dada pela Unesco, o termo Cultura de Paz significa historicamente aos saberes e experiências dos
o comprometimento de promover e vivenciar o respeito à vida e à dignidade
de cada pessoa, sem discriminação ou preconceito, a rejeição de qualquer
estudantes, uma vez que, conforme explicitado neste
forma de violência, o compartilhar de tempo e recursos com generosidade a documento curricular, as atividades do currículo não
fim de terminar com a exclusão, a injustiça e a opressão política e econômica,
desenvolver a liberdade de expressão e diversidade cultural através do diálogo
podem estar desassociadas da totalidade social,
e da compreensão do pluralismo, manter um consumo responsável respeitando pois também envolvem a construção de significados
todas as formas de vida e contribuir para o desenvolvimento da comunidade,
área, país e planeta (https://bibliaspa.org/cultura-de-paz/). e valores culturais expressos nas vivências
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cotidianas de todos os sujeitos envolvidos no de valores de ética e de cidadania. A Cultura de
processo educativo, uma vez que somos pessoas Paz, nesse contexto, apresenta-se como uma
por causa das outras pessoas. proposta inovadora e sensível, voltada para o
desenvolvimento da comunicação não violenta, da
Nessas vivências, estudantes e educadores colaboração, da criatividade, do pensamento crítico,
também são afetados por situações de conflito que da resolubilidade e da resiliência, potencializando
emergem nas relações sociais dentro da escola, as relações pedagógicas em projetos coletivos e
tanto as que se iniciam no interior da instituição compartilhados que objetivam o bem comum.
como as que são reflexos do cotidiano extraescolar
dos sujeitos, configurando a escola como uma
comunidade específica, com sua organização 2.1 A trajetória na Educação de Vitória
política, social e cultural (LIMA; JUNIOR, 2015).
Na Rede de Ensino de Vitória, conscientes da
Na mesma direção, Jares (2008) nos lembra que as necessidade de práticas educativas voltadas para a
relações humanas estão interligadas a modelos de construção da Cultura de Paz no ambiente escolar,
convivência singulares com valores próprios, formas buscamos conhecer experiências exitosas que nos
de organização, normas para enfrentamento de trouxessem elementos para pensar a viabilidade
conflitos, formas linguísticas, modos de expressar da implementação dessas práticas no município.
sentimentos, expectativas sociais e educativas, Uma referência foi o Projeto “Reconstruir o Viver”
maneiras de exercer o cuidado entre outros desenvolvido pela 1ª Vara da Infância e da Juventude
aspectos, uma vez que não há possibilidade de viver de Vila Velha, que vinha multiplicando técnicas de
sem conviver. Do mesmo modo que são construídos justiça restaurativa e métodos pacíficos de solução
modelos de convivência, também podem ser de conflitos nas escolas daquele município.
construídas as aprendizagens da convivência, sendo
essa uma das funções dos processos educativos. Esse projeto, realizado inicialmente como piloto,
Contudo, é necessário “[...] nos interrogarmos sobre teve suas ações ampliadas e se constituiu Programa
o tipo de convivência na qual aspiramos viver e para “Reconstruir o Viver” em 03/07/2018, por meio do
qual pretendemos educar, conscientes de que, em Ato Normativo Conjunto nº 28/2018, publicado no
ambos os desafios, jogamos boa parte de nosso Diário da Justiça Eletrônico, que instituiu a Central
futuro” (JARES, 2008, p. 16). da Justiça Restaurativa nos Juizados da Infância
e da Juventude do Poder Judiciário do Espírito
Para o autor, a educação para a convivência é uma Santo. Com o objetivo de multiplicar técnicas de
questão prioritária para o exercício da cidadania. A justiça restaurativa e métodos pacíficos de solução
família, o sistema educacional, o grupo de iguais, os de conflitos, o Programa chegou a outras redes de
meios de comunicação, os espaços e instrumentos ensino, entre elas, à rede de ensino de Vitória,
de lazer, o contexto político, econômico e cultural são que consolidou, na Portaria Seme nº 048/2017,
marcos que incidem nesse processo, assim como as Diretrizes para o Calendário Escolar de 2018
as metas e estratégias educativas, que precisam e o instituiu como o ano da “Valorização da Vida e
considerar conteúdos de natureza bem distintas Cultura de Paz no Cotidiano Escolar”.
implicados na convivência, como os de natureza
humana (respeito à vida, dignidade, felicidade, Em 11 de dezembro de 2019 mais uma etapa
esperança, entre outros), os conteúdos de relação foi realizada com a assinatura do Acordo de
(ternura, respeito, não-violência, aceitação da Cooperação entre a PMV e o Tribunal de Justiça do
diversidade, solidariedade, igualdade e equidade, Estado do Espírito Santo (TJES) para consolidar
por exemplo) e os conteúdos de cidadania (justiça as práticas restaurativas (comunicação não
social, laicismo, direitos humanos). violenta, círculos de construção de paz, mediação
escolar e comunitária) como ferramentas a serem
Esses pressupostos convergem para a adoção de utilizadas pelos setores da administração pública
uma perspectiva pedagógica pautada na busca e parceiros, com o apoio do Poder Judiciário do
pelo diálogo, pela ação cooperativa, por soluções ES, por meio do “Programa Reconstruir o Viver”,
e encaminhamentos firmados na construção em âmbito estadual.
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DIRETRIZES CURRICULARES DO ENSINO FUNDAMENTAL E DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS
Figura 74: Assinatura do Acordo de Cooperação entre a PMV e o Tribunal de Justiça do Estado do Espírito Santo
(TJES), 2019.
Nesse percurso, a Secretaria de Educação de Vitória equipes técnicas de secretarias (SEME, SEMAS,
investiu esforços na multiplicação de agentes para o SEMUS, SEMCID E SENSU).
desenvolvimento das práticas restaurativas, visando
a sua aplicação em vivências nos Centros Municipais Conforme dados apresentados em relatórios de
de Educação Infantil - CMEI e nas Escolas Municipais gestão da Secretaria de Educação (2018-2020),
de Ensino Fundamental - EMEF, envolvendo toda foram certificados, pelo TJES, 88 Facilitadores de
a comunidade escolar. Como ação prevista no Círculos e ainda estão em processo de formação
Planejamento Plurianual (PPA 2018/2021), por 07 instrutores e 58 Facilitadores. Durante esse
meio do Projeto Diálogos do Ser para Conviver, período, esses agentes da paz promoveram
desenvolveu um conjunto de atividades voltadas para várias vivências, de forma presencial e virtual,
o assessoramento pedagógico e para a formação totalizando 150 círculos de construção de paz
em mediação de conflitos que inclui princípios da que atingiram 1800 estudantes, 223 familiares
Comunicação Não Violenta – CNV e formação de e 194 profissionais da Educação. Esse conjunto
Facilitadores de Círculos de Construção de Paz, de ações reúne elementos que integrarão o
envolvendo diretoras, pedagogas, professoras, e Plano Municipal de Práticas Restaurativas, como
coordenadoras de turno, além de profissionais das promoção de ação de política pública.
Figuras 75 e 76: Círculos de Diálogos com crianças/estudantes da Rede de Ensino, Dez. 2019.
333
DIRETRIZES CURRICULARES DO ENSINO FUNDAMENTAL E DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS
A dimensão da política pública se fortalece com a Concebida como uma abordagem crítica aos
criação da Comissão de Práticas Restaurativas da modelos de relacionamento hierárquicos, como
Secretaria de Educação, conforme Portaria Seme o Retributivo, que potencializam posturas
Nº 036, de 10 de dezembro de 2020, que estabelece autoritárias ancoradas em elementos de controle,
competências e diretrizes para o desenvolvimento subjugação e punição, a Justiça Restaurativa
das ações de implementação da cultura de paz busca a compreensão das motivações que
no sistema de ensino, em consonância com a geraram o conflito e a ressocialização harmoniosa
Lei Nº 9695/2020, de 20 de outubro de 2020, da por meio do diálogo e da reconciliação dos
Câmara Municipal de Vitória, que dispõe sobre sentimentos (JUNIOR; LIMA, 2015).
as práticas restaurativas no ambiente escolar da
Rede Municipal de Ensino de Vitória. 2.2 Justiça Restaurativa
O propósito é buscar a promoção de uma Cultura de Com origem no campo do Direito, no ocidente, a
Paz no ambiente escolar com o desenvolvimento e o Justiça Restaurativa vem ampliando sua influência
fortalecimento de valores, atitudes e comportamentos em vários setores sociais para construir interações
fundamentados no respeito à vida, na promoção e saudáveis entre vizinhos, em processos judiciais
na prática da não-violência por meio da educação, para a infância e a juventude e em programas
do diálogo e da cooperação, assegurando processos penitenciários de reintegração, por exemplo.
que potencializam o desenvolvimento de atitudes de Na área da Educação, de acordo com Evans e
interesse e respeito pelo outro, bem como estimular Vaandering (2018), desde 1990, ocorrem práticas
o desenvolvimento de atitudes cooperativas na circulares para fortalecimento das comunidades
ressignificação de conflitos contribuindo com escolares, além de programas de acolhimento
o diálogo como elemento para melhoria das a estudantes suspensos e como respostas a
capacidades comunicativas, sobretudo, a escuta, comportamentos desafiadores. Os primeiros
que impactam a indisciplina, baixa autoestima, projetos com adaptações do modelo jurídico para
repetência e evasão, gerando insucesso escolar. o contexto escolar de que se tem registro, segundo
as autoras, foram encontrados na Austrália, na
Nesse sentido, é fundamental reconhecermos Nova Zelândia, no Canadá, nos Estados Unidos e
que a aprendizagem dessas atitudes faz parte na Grã- Bretanha.
da formação para a vida e, portanto, do currículo
escolar, compondo o repertório de experiências Aplicada, inicialmente, como estratégia para tratar
para a construção de valores sociais nas problemas de comportamento e resolver conflitos
relações com os estudantes. Então, como ajudá- e danos, a Justiça Restaurativa no Brasil, prevista
los a escolherem ou adotarem estratégias que na Resolução Nº 225, de 31 de maio de 2016,
sustentem relações de boa convivência? Com do Conselho Nacional de Justiça – CNJ, sofreu
que lentes enxergamos as situações de conflito e mudanças ao chegar nas escolas, oferecendo
como ressignificá-las no processo educativo? respostas mais consistentes aos anseios por
soluções inovadoras e efetivas para as situações
As práticas restaurativas, nesse contexto, têm se de violência, de intolerância e de indiferença que
constituído estratégias de promoção e criação da afetam os relacionamentos. Nesse percurso,
cultura de paz em diversas instituições sociais, chegou a incorporar diferentes terminologias como
entre elas, as educacionais, possibilitando que práticas restaurativas, disciplina restaurativa,
as crianças, jovens, adultos e idosos vivenciem e abordagens restaurativas, entre outros.
pratiquem a cultura de paz e o diálogo. A utilização
de técnicas alternativas para desenvolver uma Desse modo, o conhecimento produzido sobre
nova abordagem e propiciar uma mudança de a Justiça Restaurativa emerge da prática e se
postura diante dos conflitos, favorecendo a apresenta sempre associado a ela. Esse é um
conversão das diferenças em formas criativas de fator importante e que contribui para esse novo
resolução do problema do cotidiano escolar é o enfoque, uma vez que substitui a noção de
desafio a ser superado, como têm afirmado os culpa pela de responsabilidade, perseguições
estudos sobre a Justiça Restaurativa. por encontros, imposições por diálogos, castigos
334
DIRETRIZES CURRICULARES DO ENSINO FUNDAMENTAL E DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS
por reparação de danos, sendo considerado não de novos relacionamentos. Assim, a partir dos
apenas modelo de Justiça, mas modelo mental pressupostos apresentados por esses autores,
que permite repensar o conjunto das políticas podemos sintetizar algumas características
relacionadas à promoção da paz social (www. marcantes da Justiça Restaurativa, tais como:
escolamaispaz.org.br).
• Prima pelo desenvolvimento de valores, sendo
Com o compromisso de criar ambientes fundamental a responsabilidade individual e
educacionais justos e equitativos, a Justiça coletiva de todas as pessoas envolvidas direta
Restaurativa na Educação torna-se uma e indiretamente nas situações vivenciadas.
responsabilidade compartilhada, podendo ser
definida, de acordo com Evans e Vaandering • Reconhece conflitos, crises e problemas
(2018, p. 16), como “[...] facilitação de comunidades como situações que geram oportunidades
de aprendizado que nutrem a capacidade das de aprendizagem e possibilidades de
pessoas de se engajarem mutuamente e com transformação dos relacionamentos.
seu ambiente de modo a amparar e respeitar a
dignidade e valor inerentes a todos”. • Cuida das necessidades de todos os
envolvidos e da comunidade, considerando
Pelo fato de a Justiça Restaurativa ser fundada as consequências das situações de violência
em valores, como humildade, responsabilidade, e suas implicações futuras.
honestidade, solidariedade, empoderamento,
interconexão, empatia e esperança, esse 2.3 Círculos de Construção de Paz
paradigma pacificador contribui para transformar
as situações de conflito em oportunidades de
aprendizagem, em relações de cooperação e de
construção coletiva do bem comum. Desse modo,
o resgate desses valores é condição essencial
para a implementação de práticas fundadas nos
princípios da Justiça Restaurativa na perspectiva
da educação para a convivência e para a
construção da Cultura de Paz. Conforme explicam
Jayme e Araújo (2018, p. 9),
335
DIRETRIZES CURRICULARES DO ENSINO FUNDAMENTAL E DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS
Entre as metodologias mais difundidas na desse modo, não apenas como uma prática
implementação das práticas restaurativas estão restaurativa, mas também como um processo de
os Círculos de Construção de Paz delineados por aprendizagem que visa à construção da convivência
Kay Pranis (2010). Por meio de uma abordagem na perspectiva da Cultura de Paz. Reunindo, como
inspirada nas formas de diálogos e na cultura afirma Pranis (2010), a sabedoria comunitária e
de comunidades aborígenes e em culturas o valor contemporâneo do respeito pelos dons,
ancestrais, a autora apresenta os pressupostos necessidades e diferenças individuais, os Círculos
filosóficos e modos de aplicabilidade dos diversos nos convidam a desenvolver o respeito pela
tipos de Círculos de acordo com seus propósitos. presença e pela dignidade de cada participante, por
Para a autora, “[...] essa antiga tradição se mescla meio da escuta ativa e empática e da valorização
aos conceitos contemporâneos de democracia e das contribuições de todas as pessoas.
inclusão, próprios de uma complexa sociedade
multicultural” (PRANIS, 2010, p. 15). Como uma Eles podem ser desenvolvidos com diferentes
forma de congregar pessoas, essa metodologia propósitos, como contribuir para a tomada de
pode contribuir para o fortalecimento de vínculos decisões, buscar acordos, tratar de experiências
nos relacionamentos e na solução de problemas que resultaram em danos para alguém ou para
coletivos, pois combinam de forma harmônica o a coletividade, apresentar alternativas para o
antigo e o novo, evocando o melhor das pessoas trabalho de equipe, celebrar, partilhar, aprender
e ensinando a conviver com as diferenças. uns com os outros. Estão alicerçados em sete
pressupostos centrais sobre a natureza humana
Realizados em contextos variados, os Círculos que foram concebidos com base em tradições
propiciam espaços tempos em que diferentes culturais, assim descritos por Boyes-Watson e
visões são expostas, ressurgindo como Pranis (2011, p. 22-28):
uma alternativa aos modelos competitivos,
hierarquizados e autoritários de relação entre
as pessoas nos quais a dominação, o poder e o • Dentro de cada um de nós está o
controle estão quase sempre presentes, gerando verdadeiro eu: bom, sábio e poderoso.
conflitos e variadas formas de violência. Assim, de • O mundo está profundamente
acordo com Pranis (2010, p. 18), interconectado.
A filosofia subjacente aos Círculos reconhece • Todos os seres humanos têm um
que todos precisam de ajuda e que, ajudando os profundo desejo de estarem em bons
outros, estamos ao mesmo tempo, ajudando a nós relacionamentos.
mesmos. Os participantes do Círculo se beneficiam
da sabedoria coletiva de todos. Seus integrantes • Todos os seres humanos têm dons:
não estão divididos em provedores e recebedores. cada um é necessário pelo dom que
Os Círculos recebem o aporte da experiência de traz.
vida e sabedoria do conjunto de participantes,
gerando assim uma nova compreensão do problema • Tudo de que precisamos para fazer
e possibilidades inéditas de solução. mudanças positivas já está aqui.
• Seres humanos são holísticos.
Nesse contexto, os Círculos de Construção de
Paz se caracterizam como uma metodologia que, • Nós precisamos de práticas para criar
além de facilitar a comunicação entre as pessoas, hábitos a partir do eu verdadeiro.
apresenta-se como uma potente alternativa
na ressignificação de conflitos e na facilitação
de diálogos para o fortalecimento de vínculos Baseados nesses pressupostos, os Círculos são
entre os mais variados grupos de convivência, organizados por um Facilitador com a contribuição
preservando a simplicidade e a profundidade nas de um Co-Facilitador e vivenciados de forma
relações (www.escolamaispaz.org.br). intencional para promover o engajamento
e apoiar os participantes a se expressarem
No ambiente escolar, podem ser concebidos, em conectividade com seus valores, com os
saberes e experiências individuais e coletivas. A
336
DIRETRIZES CURRICULARES DO ENSINO FUNDAMENTAL E DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS
responsabilidade do Facilitador do Círculo é ajudar com a construção de relacionamentos antes de
cada participante a criar ambiente seguro para a discutirem os assuntos centrais, sendo essa uma
sua conversa e monitorar a qualidade do espaço estratégia importante e extremamente intencional
durante o tempo que o círculo estiver acontecendo. para retardar o diálogo sobre assuntos delicados,
Quanto mais fizerem uso das práticas circulares, considerando o tempo que o grupo precisa para
mais as instituições e comunidades poderão, experimentar afinidades.
progressivamente, amadurecer um autêntico
modelo de democracia interna, promovendo Ao tomarmos as práticas circulares de diálogos
experiências dialógicas valiosas. de construção de paz como uma força expressiva
para o compartilhamento de experiências afetivas
Assim, os Círculos são planejados de acordo com de escuta e de diálogo, os processos formativos
a temática sobre a qual o grupo tem interesse com os estudantes ganham novos sentidos. Por
em dialogar. No entanto, é necessário, de acordo meio dessas práticas, temos a oportunidade de
com o Guia de Práticas Circulares no Coração da olhar nos olhos, de ser e estar presente, de ouvir
Esperança (Boyes-Watson e Pranis (2011), seguir e de expressar ideias, sentimentos, histórias.
a seguinte organização:
Em convergência com as diferentes linguagens, as
práticas circulares apresentam possibilidades para
D Cerimônia de abertura: atividade ampliar o repertório de estratégias discursivas
para acolher os participantes. junto aos estudantes, profissionais e famílias,
D Check in: como os participantes trazendo a dimensão simbólica e lúdica para
estão chegando. os processos formativos, numa abordagem
segura e inovadora que possibilita a expressão
D Objeto da palavra: objeto que garante de sentimentos, como medo, raiva, tristeza,
o poder da fala para todos. alegria, tranquilidade, confiança, amorosidade e
D Construção de valores: “Todo ser esperança, constituindo um conjunto de emoções
Humano é bom sábio e poderoso”. Esse e valores que desempenham papel importante nas
é um dos pressupostos dos círculos. aprendizagens e desenvolvimento pleno do sujeito.
Todos os participantes expressam os
valores importantes para sua vida. Contudo, para que os procedimentos restaurativos
ocorram de forma efetiva e para que essa
D Construção de diretrizes
conexão seja ampliada nas relações cotidianas,
(combinados): acordos necessários
é importante promover interações acolhedoras,
para que o diálogo seja seguro e
alicerçadas numa forma de comunicação que
acolhedor.
considere a igualdade entre as pessoas e o diálogo
D Perguntas disparadoras: elaboradas respeitoso, o compartilhamento de poderes e
pelo Facilitador a partir de temas que o responsabilidades, rompendo, assim, com as
grupo elegeu para dialogar. formas violentas de comunicação, bem como com
D Check out: como os participantes as práticas punitivas.
estão saindo do círculo.
Nas relações entre as pessoas podem ocorrer
D Cerimônia de encerramento: momentos em que a comunicação é caracterizada
atividade de despedida. por usos de gestos, entonação ou palavras
que expressam julgamentos e acusações, por
exemplo, levando à desconexão das necessidades
A estrutura e os elementos dos Círculos de e sentimentos e causando o afastamento daquilo
Construção de Paz podem ser combinados com que realmente importa: a possibilidade de construir
outras formas de diálogos e atividades, a depender relacionamentos afetuosos. Dessa maneira, a
dos objetivos que se quer atingir. Entretanto, é Comunicação Não Violenta pode se tornar uma
necessário considerar que os Círculos se diferem poderosa ferramenta para difundir e incorporar a
de outros processos, pois estão comprometidos Cultura de Paz nas relações humanas.
337
DIRETRIZES CURRICULARES DO ENSINO FUNDAMENTAL E DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS
2.4 Comunicação Não Violenta - CNV somos levados a desenvolver a capacidade de
compartilhar soluções positivas para os conflitos,
Também reconhecida em alguns contextos atuando de maneira eficaz em diversas situações
como Comunicação Compassiva, Comunicação e ambientes de relacionamento. Em organizações
Não Violenta é o termo usado pelo psicólogo e instituições como escolas, por exemplo, a
americano Marshall Rosenberg (Fundador do CNV pode contribuir para o fortalecimento de
CNVC – Center for Non Violent Communication e vínculos, servindo como um guia no processo
sistematizador da CNV nos anos de 1970/1980 nos de redescoberta coletiva da compaixão humana.
EUA) para identificar uma abordagem específica Para que se possa, contudo, colocar em prática os
de comunicação baseada em habilidades de pressupostos da CNV, aprendendo a expressar-
linguagem que fortalecem a capacidade de se com honestidade e a receber com empatia, é
continuarmos humanos, mesmo em condições importante considerar quatro componentes:
adversas (ROSENBERG, 2006).
As ações concretas que estamos observando e que
afetam nosso bem-estar; Como nos sentimos em
O autor acredita que é da natureza humana “[...] relação ao que estamos observando; As necessida-
gostar de dar e receber de forma compassiva” des, valores, desejos etc. que estão gerando nossos
(ROSENBERG, 2006, p. 20). Contudo, em sentimentos; As ações concretas que pedimos para
determinadas circunstâncias essa característica é enriquecer nossa vida (ROSENBERG, 2006, p. 25).
preservada e em outras não. Assim, buscando a
compreensão dos fatores que afetam a capacidade Esses quatro componentes podem ser
de nos mantermos compassivos, ele defende o desenvolvidos a partir de algumas recomendações.
papel fundamental da linguagem, encontrando Na interação inicial, em que se manifestam as
no uso das palavras elementos que contribuem observações sobre as ações, é fundamental
para instaurar uma perspectiva diferenciada de evitar julgamentos ou opiniões e se concentrar na
interação entre as pessoas, pautada na vivência situação. As observações devem ser precisas, sem
de valores como honestidade e empatia. generalizações que transformem um acontecimento
momentâneo em uma realidade fixa e definitiva. O
A CNV nos ajuda a reformular a maneira pela qual segundo componente é um convite à identificação
nos expressamos e ouvimos os outros. Nossas dos próprios sentimentos em relação à situação
palavras, em vez de serem reações repetitivas e observada ou causados pelas atitudes de outra
automáticas, tornam-se respostas conscientes, fir-
memente baseadas na consciência do que estamos
pessoa, o que possibilita o reconhecimento e a
percebendo, sentindo e desejando. Somos levados manifestação das necessidades geradas por esses
a nos expressar com honestidade e clareza, ao sentimentos, assim como das ações concretas que
mesmo tempo que damos aos outros uma atenção podem suprir essas necessidades e enriquecer
respeitosa e empática (ROSENBERG, 2006, p. 22). nossas vidas.
Fazendo uso de algumas estratégias discursivas, Com essa proposta, a CNV contribui para uma
a CNV ensina a observar cuidadosamente os mudança de paradigma nas relações humanas,
comportamentos e as condições que afetam a transformando a dominação em parceria e
capacidade de nos mantermos compassivos, rompendo com a necessidade de definir se é
substituindo velhos padrões de defesa, recuo certo ou errado, se é bom ou mau, quem ganha
ou ataque por um novo enfoque que promove ou quem perde. Sentimentos de culpa, medo e
o respeito, a atenção e a conexão com o vergonha são substituídos por atitudes amorosas,
outro. Por meio dessa abordagem, é possível compreensivas, criativas e colaborativas. Como
perceber, de maneira empática, os sentimentos um convite para criar soluções juntos,
e as necessidades das pessoas, sem fazer
diagnósticos e julgamentos e descobrindo, como “[...] a não-violência não é uma estratégia que se
explica o autor, a profundidade de nossa própria possa utilizar hoje e descartar amanhã, nem é algo
compaixão. que nos torne dóceis ou facilmente influenciáveis.
Trata-se, isto sim, de inculcar atitudes positivas em
lugar das atitudes negativas que nos dominam”
Ao conhecer, aprender e praticar a CNV (ARUN GANDHI, in: ROSENBERG, 2006, p. 16).
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DIRETRIZES CURRICULARES DO ENSINO FUNDAMENTAL E DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS
Desse modo, na perspectiva das práticas uma vida sustentável e cidadã. Cuidando das
restaurativas, a CNV é uma alternativa inovadora relações, cuidamos das aprendizagens e do
que possibilita enxergar a vida e as relações desenvolvimento humano. Cuidando da felicidade
humanas com as lentes da empatia e da compaixão. de cada um, cuidamos da felicidade de todos.
No contexto educacional, seus pressupostos e Ubuntu!
estratégias podem ser assumidos nas relações
cotidianas e nas interações dialógicas da sala de
aula e fora dela, contribuindo para o protagonismo
das crianças, adolescentes, jovens, adultos e
idosos a partir de um processo que promove a
compreensão da realidade como uma construção
humana, assim como das possibilidades de
reconstrução dessa realidade. Referências
A CNV, nesse sentido, pode ajudar os estudantes
a compreenderem seus contextos de vida e BOYES-WATSON, Carolyn; PRANIS, Kay. No
suas necessidades e a se conectarem com seu Coração da Esperança - Guia de Práticas
potencial de transformação. O espaço escolar, Circulares: o uso de círculos de construção da
como catalisador dessa conexão, deve colocar paz para desenvolver a inteligência emocional,
os estudantes no centro do processo educativo promover a cura e construir relacionamentos
para que se reconheçam como agentes com saudáveis. Centro de Justiça Restaurativa da
possibilidades de escolha e de atuação no mundo. Suffolk University. Tradução: Fátima de Bastiani.
Porto Alegre: Tribunal de Justiça do Estado do Rio
Nessa perspectiva, tais pressupostos vão ao Grande do Sul, Departamento de Artes Gráficas,
encontro do que defendemos nesta Diretriz 2011, 280 p.
Curricular, pois no capítulo que discorre sobre
os sujeitos da aprendizagem, desenvolvimento DOMINGUES, Joelza Ester. “Ubuntu”, o que a
humano e práticas de mediação, reafirmamos a África tem a nos ensinar. Blog Ensinar História,
perspectiva Histórico-Cultural como base para a 2015. Disponível em: Acesso em: https://
compreensão dos processos de aprendizagem e ensinarhistoriajoelza.com.br/ubuntu-o-que-a-
desenvolvimento, partindo do pressuposto de que africa-tem-a-nos-ensinar/. Acesso em: 25 out. 2020.
todas as atividades que os estudantes realizam
em suas diversas situações de vida incidem sobre ESCOLA MAIS PAZ. Círculos em Movimentos.
sua formação psíquica e se constituem fatores de Círculos de Paz. Disponível em: https://www.
humanização. escolamaispaz.org.br/circulosemmovimento/
circulos-de-paz/. Acesso em: 12 nov. 2020.
Portanto, a interação com as pessoas, com a
cultura, com as linguagens, com o conhecimento é ESTADO DO ESPÍRITO SANTO. PODER
fundamental na formação humana, sendo a escola JUDICIÁRIO. TRIBUNAL DE JUSTIÇA. Ato
um privilegiado espaço tempo de aprendizagens e Normativo Conjunto nº 028, de 03 de julho de
desenvolvimento das emoções, da consciência, 2018. Instala a Central de Justiça Restaurativa no
dos valores de vida e de convivência. âmbito dos Juízos da Infância e da Juventude e torna
estadual o Programa Reconstruir o Viver. 2018.
Considerando esses pontos de convergência,
podemos construir uma ponte metodológica com EVANS, Katherine; VAANDERING, Dorothy.
as práticas restaurativas, com os Círculos de Justiça restaurativa na educação: promover
Construção de Paz e a CNV buscando, no diálogo, responsabilidade, cura e esperança nas escolas.
na criatividade, na abertura, na valorização das São Paulo: Palas Athena, 2018.
singularidades e das diversidades, por meio
do fortalecimento dos processos educativos, JARES, Xesús R. Pedagogia da Convivência.
caminhos que contribuam para formação para São Paulo: Palas Athena, 2008.
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JAYME, Fernando Gonzaga; ARAÚJO, Mayara __________. Portaria Seme nº 036, de 16
de Carvalho. Justiça Restaurativa na Escola: de dezembro 2020. Institui a Comissão para
Formando Cidadãos por meio do diálogo e da implementação de Práticas Restaurativas que
convivência participativa. Núcleo para Orientação visa adotar as técnicas de Justiça Restaurativa
e Solução de conflitos escolares. Comissão com base na Resolução 225, de 31 de maio de
da Justiça e Práticas Restaurativas do Fórum 2016, do Conselho Nacional de Justiça – CNJ,
Permanente do Sistema de Atendimento para a resolução dos conflitos ocorridos dentro do
Socioeducativo de Belo Horizonte. Projeto Ciranda- ambiente escolar. Diário Oficial do Município de
UFMG, 2018. Disponível em: https://ciranda. Vitória. Estado do Espírito Santo. Edição n. 1570,
direito.ufmg.br/wp-content/uploads/2018/08/ 2020.
cartilha-nos-versao-final.pdf. Acesso em: 30 out.
2020. ROSENBERG, Marshall B. Comunicação não-
violenta: técnicas para aprimorar relacionamentos
JUNIOR, Elston Américo; LIMA, Cezar Bueno pessoais e profissionais. São Paulo: Ágora, 2006.
de. Justiça restaurativa e educação: mediação
reconciliatória para os conflitos escolares.
Educere - XII Congresso Nacional de Educação.
Grupo de Trabalho Educação e Direitos Humanos.
Agência Financiadora: Fundação Araucária, 2015.
Disponível em: https://educere.bruc.com.br/
arquivo/pdf2015/18552_9181.pdf. Acesso em: 12
nov. 2020.
340
DIRETRIZES CURRICULARES DO ENSINO FUNDAMENTAL E DA EDUCAÇÃO DE JOVENS E ADULTOS
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O currículo é muito mais do que um caminho traçado De modo especial, há uma expectativa com relação
a ser seguido... Ao entrarmos nesse campo, estamos aos usos desse documento como uma importante
lidando com uma construção que é trajetória, referência no planejamento escolar, sistematizado
viagem, percurso de quem aprende! Currículo é por meio do Projeto Político Pedagógico, do Plano
nossa vida, território, texto, discurso, documento de Ação, dos Planos de Ensino, dos Guias de
de identidade (SILVA, 2003). O currículo pode ser Aprendizagem, das sequências de atividades,
todas essas coisas, no entanto, ele é também aquilo dos projetos interdisciplinares, das Atividades
que dele fazemos com nossas práticas cotidianas, Curriculares Complementares (ACC), das Atividades
nossas concepções, valores, para ver que ele não Curriculares Diversificadas (ACD), dos Planos de
se restringe às estreitas perspectivas conceituais Trabalhos da educação especial e da informática
ligadas ao tradicionalismo pedagógico. educativa, dentre outras formas de organização e
sistematização do trabalho pedagógico.
É importante ressaltar que o documento das
Diretrizes Curriculares do Ensino Fundamental Esperamos que esse documento impacte a escola,
e Educação de Jovens e Adultos (2020) chega o currículo precisa sinalizar aquilo que para nós
em sua versão final e mesmo assim, continua hoje é mais desafiante e não para consolidar
um texto inacabado, no sentido de que sempre o fracasso. Assim, tornase fundamental que o
será atualizado à cada nova leitura, provocando desenvolvimento curricular leve em consideração
importantes reflexões e análises que levam vida os múltiplos contextos vividos, permitindo que todos
e movimento ao que está escrito. Mesmo que os envolvidos no processo de ensinar e aprender
este documento tenha sido construído por mais se questionem e busquem novas possibilidades
de 80 professores do Grupo Referência e com a de implementação. Estamos preparados para
contribuição de outros quase três mil professores essa construção coletiva? Como implementar
da rede ensino de Vitória, sempre vai apresentar esse documento? Se houver consenso que seja
a necessidade de contextualização... Mesmo em torno daquilo que cria e amplia as redes de
porque procuramos potencializar as conversações conhecimentos de nossos estudantes. Um dos
e os diálogos. Queremos escutar, não queremos desafios apontados pela escola, hoje, consiste na
apenas transmitir conhecimentos, queremos construção da autonomia por parte dos estudantes,
gente que discorde, pense, que re-invente a que precisam desempenhar um papel ativo em seu
escola. As Diretrizes Curriculares podem ser uma processo de aprender.
base para a transformação. Estamos num mundo
que precisamos de transformação... e o currículo Nessa perspectiva, a avaliação formativa,
não é a consolidação do que está dado, instituído, leva o estudante a comprometer-se com o
mas sim instrumento de transformação social. acompanhamento dos seus avanços e das suas
necessidades de aprendizagem, contribuindo para
Sabemos que temos muito trabalho pela frente, a percepção de que a implementação do currículo
no entanto, no processo de implementação das leva em consideração a progressividade dos
diretrizes, várias iniciativas significativas vem conhecimentos materializados nos objetivos de
sendo desenvolvidas, são práticas educativas aprendizagem, a serem consolidados no percurso
realizadas pelos docentes em movimento, pelos de sua escolarização, do 1º ao 9º ano. Para tanto, é
profissionais da secretaria de educação e por necessário que o estudante conheça os objetivos a
gestores escolares que entendem que o direito à serem alcançados assim como os critérios a serem
educação será realmente pleno quando for uma avaliados. Nesse sentido, a avaliação torna-se uma
construção coletiva! Muitas dessas produções importante ferramenta que propicia responsabilidade
podem ser compartilhadas nos cadernos aos estudantes, tanto no acompanhamento de
pedagógicos online, nas trocas de experiências nas sua aprendizagem quanto na construção de sua
formações continuadas e nas reuniões de trabalho. autonomia.
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