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Segundo a Carvalhal (2001, p. 78), essa tentativa de mudança de rota – da cultura central europeia para a
periférica – será levada a cabo por Oswald de Andrade, em 1928, no “Manifesto antropófago”, publicado na
primeira edição da Revista de Antropofagia. A seguir, transcrevemos um fragmento do texto:
A discussão apresentada ao longo desta aula deve levar você a perceber como os estudos comparados
mais recentes tendem a rejeitar a mera pesquisa de fontes e influências, baseada na busca de analogias. Isso
porque esse tipo de pesquisa, geralmente, contribui para manter o eurocentrismo, deixando de reconhecer o
valor das obras de países periféricos, tidas como imitação de uma obra anterior. Espera-se que você possa
compreender como a literatura comparada, em seus estudos contemporâneos, ao eleger a diferença como um
dado de comparação, volta-se para a investigação da originalidade de um texto em relação a outro. Com isso,
inverte-se a relação entre cultura dominadora e cultura dominada, deslocando-se a atenção do centro para a
periferia. Isso permite reconhecer o valor de uma obra não pela imitação, mas, justamente, por aquilo que tem
de original em relação a outra anterior.
LITERATURA COMPARADA E DESCOLONIZAÇÃO CULTURAL: A ANTROPOFAGIA E AS
RELEITURAS CRÍTICAS DA TRADIÇÃO
Segundo a Carvalhal (2001, p. 78), essa tentativa de mudança de rota – da cultura central europeia para a
periférica – será levada a cabo por Oswald de Andrade, em 1928, no “Manifesto antropófago”, publicado na
primeira edição da Revista de Antropofagia. A seguir, transcrevemos um fragmento do texto:
A discussão apresentada ao longo desta aula deve levar você a perceber como os estudos comparados
mais recentes tendem a rejeitar a mera pesquisa de fontes e influências, baseada na busca de analogias. Isso
porque esse tipo de pesquisa, geralmente, contribui para manter o eurocentrismo, deixando de reconhecer o
valor das obras de países periféricos, tidas como imitação de uma obra anterior. Espera-se que você possa
compreender como a literatura comparada, em seus estudos contemporâneos, ao eleger a diferença como um
dado de comparação, volta-se para a investigação da originalidade de um texto em relação a outro. Com isso,
inverte-se a relação entre cultura dominadora e cultura dominada, deslocando-se a atenção do centro para a
periferia. Isso permite reconhecer o valor de uma obra não pela imitação, mas, justamente, por aquilo que tem
de original em relação a outra anterior.
Para responder às questões de 1 a 3, leia um fragmento do “Manifesto Antropófago”, de Oswald de Andrade:
“Nunca fomos catequizados. Vivemos através de um direito sonâmbulo. Fizemos Cristo nascer na
Bahia. Ou em Belém do Pará.
Mas nunca admitimos o nascimento da lógica entre nós.
Contra o Padre Vieira. Autor do nosso primeiro empréstimo, para ganhar comissão. O rei-
analfabeto dissera-lhe: ponha isso no papel mas sem muita lábia. Fez-se o empréstimo.
Gravou-se o açúcar brasileiro. Vieira deixou o dinheiro em Portugal e nos trouxe a lábia.
O espírito recusa-se a conceber o espírito sem o corpo. O antropomorfismo. Necessidade da
vacina antropofágica. Para o equilíbrio contra as religiões de meridiano. E as inquisições exteriores.
Só podemos atender ao mundo orecular.
Tínhamos a justiça codificação da vingança. A ciência codificação da Magia. Antropofagia.
A transformação permanente do Tabu em totem.
Contra o mundo reversível e as ideias objetivadas. Cadaverizadas. O stop do pensamento que é
dinâmico. O indivíduo vítima do sistema. Fonte das injustiças clássicas. Das injustiças românticas. E o
esquecimento das conquistas interiores.
Roteiros. Roteiros. Roteiros. Roteiros. Roteiros. Roteiros. Roteiros.”
Disponível em: <http://www.ufrgs.br/cdrom/oandrade/oandrade.pdf>. Acesso em: 10 de fev. 2016.
“Nunca fomos catequizados. Vivemos através de um direito sonâmbulo. Fizemos Cristo nascer na
Bahia. Ou em Belém do Pará.
Mas nunca admitimos o nascimento da lógica entre nós.
Contra o Padre Vieira. Autor do nosso primeiro empréstimo, para ganhar comissão. O rei-
analfabeto dissera-lhe: ponha isso no papel mas sem muita lábia. Fez-se o empréstimo.
Gravou-se o açúcar brasileiro. Vieira deixou o dinheiro em Portugal e nos trouxe a lábia.
O espírito recusa-se a conceber o espírito sem o corpo. O antropomorfismo. Necessidade da
vacina antropofágica. Para o equilíbrio contra as religiões de meridiano. E as inquisições exteriores.
Só podemos atender ao mundo orecular.
Tínhamos a justiça codificação da vingança. A ciência codificação da Magia. Antropofagia.
A transformação permanente do Tabu em totem.
Contra o mundo reversível e as ideias objetivadas. Cadaverizadas. O stop do pensamento que é
dinâmico. O indivíduo vítima do sistema. Fonte das injustiças clássicas. Das injustiças românticas. E o
esquecimento das conquistas interiores.
Roteiros. Roteiros. Roteiros. Roteiros. Roteiros. Roteiros. Roteiros.”
Disponível em: <http://www.ufrgs.br/cdrom/oandrade/oandrade.pdf>. Acesso em: 10 de fev. 2016.