Você está na página 1de 11

_flo

Oc"rE, ,q:undudados
do lOG E.éoalim,..1110
mais r opt1l ardo Brasil:
78.1% d,1$ p..-ssoastêm
o h:ibi!o J..- w nsumi-lo
{~up,eranJ,, até o arroz.
rom76.1%, ..- v f,•11âo.com
60%). l.!ais d<' i biJ hão
dept'SS0.1s. nomundo. 10-
m.1mcafr todosos dias.
Amamos .-s:.a b<'bida pelo
chei ro,• pl'lo gosto.mas
também pela se nsação
qu.-efa prod uz: você fi -
ni ma isa k•rtat" disposto,
s.-mse cansar. porvárias
horas apos toma ru ma
xic.ar:i.,\l'xplicaç;lo estã
nacafl'ina.a ,ubstã ncia
at i\•a pr,•sen1<• no café.
Ela pt"n,•tranocérebroe
w ronectaaosrcreptores
d.-adenosma.impedindo
aaçãodt:sse n,•u ro!r.ms- padrão",umconjuntodc
miss or inibitório - e neuroq uim icosdacafeí- remédio ou placeho. e os
regiõescercbrais quc ê na",esnrvem os autores,
nos deixaudo!ig.idões mêdicostambêmnão(dai
acionadoquandoesta- Ou seja:boa pane do que
Mas p,1r1<.•dessc,:.,íei10. o-duplo"do nome). lsso
mosdescansando.sem sentimos após tomar café
na wrJade,nãoé bem o sóéreveladoaotérmino
pe nsarem nada. Normal; nâo écausado J)t'labebida
qut· par~-ce st:r da experiência, para não
Caaçãoestimulanteda emsi.maspelaexpec-
Jssofo1 J,..mons1rado cafeína. Mas ram hêm comprometer os resulta-
numestudol!1 publkado tati vaquetemosdela. dos. Masoefeitoplacebo
houve uma descoberta Efeitoplacebo.
emJunhopord,• n11stas Ctãopodl'rosoque-,mes-
surpreendente.O café Elefaiparteda nat u-
desete univers1daJ,..se mo com todo l'S.Se çuida-
aumemavaaa tividaclt'dO rez.ahuma na.etambêm
instin,i,õesde[)('sq uisa do, e!e acaba influi ndo
girooccipitalmêdio,ârea está na raiz.da medicina
dePortugal eda Espanha Em202.J,cientis1asdi•
ligada ao processamento moderna.Para que um
Eles r.-unintm u111grupo na111arquesesanalisaram
visuaJ, edarede('xecu- med icamento sejacon-
dt'47voluntãrios, que 186estudos. com 15.765
tiva cent ral .envolvida siderndoefica1.. eledevl'
passaram por exa mes pacientes.que haviam
naa1cnção. na memória demonsn-a rq ueCsu pe-
der<'Slo011ãncia magne11 ca med ido a eficácia de re-
enoraciocínio.Sóq uea rior ao placebo - ouseja,
doeert'broant,·se dt>pois médios e tratame1110s
dg ua - queco nti n ha85 os pacit•ntes <IU<' o to•
detomJraf~-ou 100 mi
mg de caft'i na.amesma eontra diversasdoença~®-
de.âguaqu('nlemist ur.ida maram dcvcmmr lhora r
qua nt·idadedocafe-1.in ho Todos obedeceram ao
rnmca(cina.Osc1em1~- mais doque aque lesq ue
servido - não provocava es qu em a d u p lo-cego.
l.bcons1a1.aram que 1amo engo!í ram co mpri midos
essesefeitos.-1ssoapon1:a Os pesq uisadores com -
Ulafequ.iruoaàgua ca- fa lsos.Sâooscs1udosdo
para umasensaç5o ima- pararam v.i ri os est'udos
fi.'inad.iredunJmaauvi- t1po "duplo-, rgo".emque
gi n;iria (... ) quenào pare- diferentes sobre as ITil'S-
dade da ·n·dc de modo os vo1t1mã rios não sa-
cedcpcnderdos.,feitos mas doenças, e com isso
ben1 S<'est:io recebendo
conseguiram calcu lar a
iníluência d<" drmffllos
cxtcmos. 1\.XI f.armaeoló-
bom trmJ10,ICTCdi1assrm
mmosnacura.Jjquando

o-•-
possam influir. de fomv,
concma.emdomps.

54
pro$,sc>brc ns tmtativas osvoluntil.rlosnloeram
1ktr.1t:irc--~uma.Resul- Informados de que o es·
t 1J<1: ~'X, eh. rfk.icia dos tudo era duplo-cego, o A e:xpresdo "placebo"
meJiomentos podia 5n' cfrito placcbo era espc· vem do latim plac,re, e
atribuiJ:1.11,"fatorncon- cialmente Intenso: como significa "a1radar". •t
tam:iis", rcladonadosh ni~m $1biaquepodia um efeito psicolôsico ou
e.,..J,c,ct:ttivasdop.lCit'nle. estar recebendo pflu· fisiológico benéfico, de
Eícitopl.l<'t'bo. lasfals.as,todostinham uma intervenção médica
E a intl•nsidade dis- maior esperança. que: carece de atividade
so variava, Quando os A medicina convive espedflca para a condi-
estudosn-uniam\'Ol.un- comoefeitoplaccbo,ese ção a ser tratada", defi-
t.irios mais jovens, ou utilizadc\e,hil.séculos. ne a neuroloeista Karm
mais mulheres do que Massór«entemcnteco- Muflana, que é pesqul-
homens. o pla~bo fica- meçou a e:nxrrgar como DA EFICÁCIA DOS s.adora da Universidade
va m;i.is forte, Por outro rle: funciona. E chegou TRATAMENTOS PODE SER Estadual da Carolina do
lado, quando o <"Studo a uma conclusão sur- Norte eautoradee:mdos
testava o tr.l.t3.mento d<" prrrndrnte: o p\acrbo
ATRIBU(OA A "FATORES sobreoefeitopiacebo.
um a doença crónica, o não é meramrnte psico- CONTEXTUAIS", LIGADOS A O primeiro a invnti-
r fr itoera mais fraco- lógico. Ele desencadeia gHo de forma cientifica
EXPECTATIVA 00 PACIENTE. foi o médico britânico
t2h'\'Z porque os i»-ci<"n- processos fisiológicos
tes, que já sofriam com quercalmcntealtcramo John Hayganh, que em
aqude problema h.i um corpo - e talvez também 1799 iesolveu fazer uma
exp<-riincia.Estavana
moda utilizar ponteiras
demetal,caríssimas,que
supostamente seriam
capazes de tirar as do-
enças do corpo. Eram
os "extratores Perldns",
recomendados por mé-
dicos sérios da época.
Haygarth não acre-
ditava naquilo, e teve
uma sacada: construiu
ponteiras idênticas às
/ Perkins, só que feitas
' de madeira, e começou
atestar.Oresuhadofoi
que ambas "funciona-
ram· da mesma forma,
com os pacientes rela-
tando a mesma melhora.
Haygarth escreveu um
livro sobre o caso - que
classificou com a ex-
pressão "efeito placebo".
Décadas mais tarde. o

;,~~
.
;;.,_.:,. .
médico am<"ricano Aus-
tin Flint deu o próximo
passo.Eletcveaseguintr:
ideia: e se um grupo de
-....·· pacientes tomasse um
remédio falso, placebo.
enquanto outro recebese:
um medicamento tradi-
cional? Em 1863, flint
fez o te-ste, comparando
1
1
O organismo roogo como um todo - e podo alterar os ; :~: :nªge-
dozanos do protelnae. l11ao fo1 damonstrado por um e 1 •s
nhoao,fo1toem2020porsatelnstltulçõesdepssquiseaema ·

90 voluntMlo?> for,,m cotoc.idos -_ _ _


nmmm
No dl11 seguinte, os voluntários
for,,m !.ep,,rados em dois grupos.
numacablnecomUnhasbranca,e··
pn.!t,u. que se movem n.-. horlzont.-.1 Oprlmelro("grupodecontrole")
O objetivo d.-. ?>C\~o. que durou 20 encarouacab,necomonavéspera.
minutos, ('ra cau1o1r tontura e enJoo M,u o segundo recebeu um falso
Deu certo: todos relataram enes sln- tratamento, com um gadget que
tomas. Um eletn>gastrograma (com dlsparavachoqulnhosmultofracos
el.etrodos conectados ao abdõmen} napele-efollnformadodequelsso
tambémdetectouosslnal,el.étrlco, ajudarlaaevltaroenjoo.Eramentlra
ti picos de Nusea. (eleestav,1de!oligado)

Di.lmlD

:II,,.e_t
Como esperado, o plaa!bo funcio-
nou: as pessoasql.tl! haviam recebi·
doosupostot:ratamentorelataram
bem menos enjoo e tontura. AI co- ;1= ! ilº
meçou a ten:elraeta~domte, em
que os dentistas coletaram amos-
tras de sangue dos dois grupos.
w 'l____!__:_l
Mulhe~ Homens
ê
, Mulheres Home;s
platebo

m:n.m
o sangue foi colocado num espectrómetro de massa,
aparelho que bombardeia a .ilmostracom elétrons. Com
isso, asmolkuLas fic.am lonizadas{el.etrlcamente carre-
gadas). Elas adquirem cargas diferentes - e pode~ ser
separadas com fmâs. U1o1ndoes1o1 técnica, os cientistas
lsol.uam 711 proteínas do sangue.

Nas pessoas que havi•m recebido placebo, 74 proteinas


tinh•m nweis alterados. A lirt.il lnclul;i várias Ugadas ao
sismnadlgestivo, m.sumbéma\gumas reLaclonad.ilsa
fl.l\ÇÕeS mais g~lsdo corpo, como lnft.lmação, defesa
lm'unológlca e até O comportamento social
•~ ... ,
···1 ', ; .,,11__ , ,
1 :~ :t;}
um tratamento da época diferentes, realizados em Dois grupos receberam
para reumatismo (uma dois momentos distintos o medicamento: outros
solução de ópio. aplica- - o que pode distorcer dois, placebo. Além disso,
da diretamente sobre as as coisas, e não permite a distribuição dos volun-
articulações) com o que que os resultados sejam tários (quem iria tomar o
chamou de Mremédio diretamente comparados. quê) foi aleatória - daí o
placeboico· - ele usou Foi só bem depois, "randomizado" do nome.
tin tura de quássia, uma em 1944, que o p\acebo O trabalho não identi-
planta, ·muito largamente finalmente se tornaria a ficou nenhum benefício
diluida~. O resu ltado®, base dos estudos clinicos visível da patulina, que
publicado no Americon na forma atual - e traria acabou sendo descarta-
]ou rn al o/ tht Medical a medicina para a era da. Na época, o trabalho
Screnets, foi que o remé- moderna. Naquele ano, foi public ado em um
dio e o placebo tinham o Conselho Britânico de jornal médico finlandês
o mesmo efeito. Logo, o Pesquisa Médica realizou de baixo alcance, e não
tratamento era ineficaz. o primeiro "teste cego repercutiu muito.
A descoberta foi um dos randomizado", que mais O placebo só chamou
pontos altos da carreira tarde ficaria conhecido mesmo a atenção em
de Flint, que se tornaria como duplo-cego. Ele 1948, quando um estudo
presidente da Associação aconteceu na Finlândia, feito pelo Medical Rese-
Médica Americana. Mas para testar um novo an- arch Council, do governo
cle não acertou na mos- tibiótico chamado pa- inglês, usou pílulas fal-
ca lsso porque Flint usou rulina , que seria capaz sas para avaliar a eficá-
dados de expe rimentos de combater resfriad os. cia da estreptomici na ,
ou cur;i ndciris mo, mas
é ciência: o trabalho©
fo i publicado no Nrw En-
9/ond}o11rrrnl o/ Mt•dirinr,
um dos periódicos cien-
tificos m;iis respeit.idos
do mundo.
O estudo reuniu 165
1:1.1cientes com osteoartri-
tc. dos quais 6o passaram
por uma simul.içàodeci-
rurgi.1 (os M rn.iis foram
submetidos a artroscopia
ou lavagem articular, du-
as t&nicas tradicionais).
Na operação placebo,
os pacientes receberam
três incisões na pele, no
mesmo tamanho que se-
ria feito em uma cirurgia
real. "Uma solução salina
foi borrifada para simular
os sons da lavagem (a r-
ricular[, relara o esrudo.
Os pacientes foram man-
tidos na mesa de cirurgia
pelo mesmo tem po que
seria necess:irionacirur-
gia de verdade, e o pós-
-operatório tambêm fo i
idêntico ao real. ·os pa-
cientes passaram a noi te
após o procedi mento no
hospital.e foram atendi-
dos por enfermeiras que
desconheciam a atri- Foi ao mêdico e ouviu sucesso - , mas a Cen
buição do grupo [uso da um prognóstico aterro- ne estava preparando l
cirurgiaplacebo].- A falsa rizante: em dez anos, ele nova tentativa.
operação se mostrou tão estaria numa cadeira de Então Pauleti ch
eficaz quanto as cirurgias rodas, sem conseguir nem submeteu a uma ci r
tradicionais: dois anos se alimentar sozinho. Sua gia no cêrebro - fa
após o procedi mento, saúde continuou se dete- Ele não sabia, mas et
os pacientes relatavam a riorando atê que, em 201.1, va no grupo de contr1
mesma melhora. Pau!etich ficou sabendo placebo. Passou por
Um fenómeno similar, de uma empresa chama- dos os preparativos p;
mas ainda mais impres- da Ceregene, que estava o procedimento e cheB
sionante, aconteceu com desenvolvendo um novo a receber uma incis,
o americano Mike Pau- erad ica!tratamentocon- minúscula , no crãn
letich. Em 2004 , quan- tra o Parkinson: injetar no O procedimento fo i 1
do estava com 42 anos. cérebro um vírus geneti- alizado por mêdicos
ele começou a sofrer os camente modificado para Universidade Stanfor
primeiros si ntomas de carregar neururina, uma Durante dois anos, 1
Parkinson. Passou a ter substância essencial para resultados fornm mon
dificuldade para escovar os neurônios que produ- torados, nos dois grupc
os dentes e lançar bolas zem dopamina (cuja falta Em 2013, veio a noticia:
com a mesma agilidade causa o Parkinson). Ainda trata mento da Cereger
- ele er.i o técnico de um não tinha dado ceno - a novamente havia fraca:
lime de beisebol infantil empresa vinha tentan- sado. Só que Pauletic
no qual seu filho jogava. do há cinco anos, sem estava muito melhor. E!,
a {;tlsa cirurgia, no teste- souber que não está sen- pesquisadores aplicaram
Oplaceba no cérebro

.......
da Ceregene Não meJho- do tratada de verdade. Is- testes padronizados para
raram como Pauletich, so foi demonstrado pela medir o grau de ansieda-
"Milagres· como esse à primeira vez em 2022, de dos voluntários (o re- Emdo1s estudosseparados,voluntários
parte, o uso de placebo é por uma experiência da sultado foi comparado ao receberam placeboparatratardepres-
essencial para a validação Universidade de Basileia, de outro teste, feito ime- sâo ou dor crônica - e foram submeti•
de novos tratamentos. Ê na Su(ca . Primeiro os diatamente antes do es- dosavàriasrodadasdee;,i,ames.
muito d ifícil imaginar a cientistas pediram que os tudo). Como esperado, o
medicina moderna sem voluntários, 1.12 ao todo, placebo funcionou, redu-
ele Ao mesmo tempo, só e screvessem um texto ziu a ansiedade. E o pla- -
recentemente a ciênci a '' ._ =·•
relatando uma situação cebo declarado também:
começou a desvendar o na qual haviam feito al- quem sabia que estava to-
mais imponame: como
o efeito placebo age no
go ruim. O objetivo era
induzir sentimentos de
mando um remédio fake
também se acalmou - a mm
51 pessoas com depr~l.10 foram d,v,d,
organismo, afina)? ansiedade e vergonha. pílula fez 50% do efeito das em dois grupos: um recebeu an!i
Depois as pessoas foram do placebo normal ®· depre-;sivo, o outro placebo As p,1\'>0ils
O cérebro e o corpo divididas em três grupos. Isso mostra que as foramsubmetid;isaquatroexame-;de

I·._
O efeito placebo vem da O primeiro não recebeu causas do efeito placebo eletroencefalograma(umantesdeco
crença no tra tamento. nada. O segundo tomou podem ser mais comple- meçar,etrêsdu ranteoestudo)
Mas, ao mes mo te mpo, um falso calmante O ter- xas do que parecem. Uma
a coisa não é tão sim- ceiro também - só que foi possibilidade, levantada
ples - porque o placebo informado disso, e sabia em artigos recentes, é . Elm!llllll
Naspes'>Oasemqueoplill:ebofunoonou.
pode fu ncionar mesmo se que estava recebendo que ele surja de asso- eleativouregiõescerebraisdiferentesda,
afetadaspel~Jntidepressivos.Estimulou
for descoberto, e a pessoa placebo. Em seguida, os ciações subconscientes
bem mais o córtex pré•frontal (respon
sávelpelasfunçõesmaisavançadasdo
cérebro,comooraciocínio)

10
Reuniu56pessoascomosteoartritedo

.=
joelho.Al9um.1sreceber.1mremédios,
outr.1s pl.1cebo - que funcionou em 47%
dos casos. Todos os voluntários foram
submetidos a ex.1mesderessondnC1a
magaé<icadocé,ebco.

·•
=
1 i f.DJB1lI1.m;J
Aspesso.1semqueoplacebofuncionou
tinhamcérebrosanatom,camented,fe-
rt'f1tes _com maior número de conexões

~~~;.º/;;,~:::~:~~~~i:;;~~~.)~~~)~;~
\ texc,nguladoposterior(PCCJ
não é apenas a expecta~
entTe a experiência de ser diz Christensen. tiva peSSoal de se curar,
tratado e a recuperação Outros vão além, e
também depende de ou-
da saúde. '"Trata-se de um co nsideram o placebo
traS coisas, como a cr;?ça
efeito contextual, ou seja,um fen ô meno ps icos-
uma resposta espontâ- social, ou seja , coletivo no progresso cient1'.1co
ou a ideia de que c01sas
nea que é impulsionada e dependente de fatores
por muitos fatores, in- culturais. ~aefeito pia- boas custam caro. _
O efeito placebo é tao
cluindo as credenciais, a cebo é a resposta psico-
integridade e a empatia lógica a todo o ritual do poderoso que funci on a
do profissional de saúde·, ato terapêutico", resume até em an im ais . "O b -
afirma Robin Christen- o médico Fabrizio Be- servamos uma resposta
sen, médico do Hospital nederti, pesq ui sador da positiva em cães, c?m .a
da Un iversidade de Co- Universidade de Turim diminuição da frequenc1a
penhague (Dinamarca) e e especialista no tema. de convulsões", diz a neu-
autor de estudos sobre Ê por isso, por exemplo, rologista Karen Mu rlana,
GENES RElACIONAOOS placebo. Ou seja: quan- que há estudos mostran- da Universidade Estadual
AO EFEITO DO PlACEBO to mais a pessoa acredi- do que pílulas coloridas da Carolina do Norte. Ela
ta que vai melhorar, por fu ncionam melhor que as chegou a essa conclusão
JÁ FORAM DESCOBERTOS. uma série de razões, mais brancas, e med icamentos analisando cães que so-
ela tem chance de con- mais caros ou conside- fr iam de epilepsia e fo-
seguir. A expecta tiva rados mais mod ern os ram submetidos a um dos
de obter um tratamen- tendem a ser reportados seguintes tratamentos(?);
to eficaz está relacio- como mais eficientes®. implante no cérebro, mo-
nada à autossugestão~, Porque o efeito placebo dificações na dieta ou um
Oefeito nocebo
Ele ê o oposto do placebo -
mas igualmente poderoso.

SC"vociac:harqueumac:oisavai
Í37.l'r mal. pode fazer mesmo. Há
ffl\1.dosmostrandoqueoefeito
noccl>o (tenno runhado em 1961
pelo mêdic:o americano Walter
Kennedy)écapazdedesencadear
náuseas. dor de estômago, dor
decabe(aecoceiraspeloc:orpo ·
aind.iqueoremédiooutrata-
mentonfotenha,biologicamen1e,
euc poder. "O noc:,,,bo se deve
àansied.ldeantecipatória.Por
exemplo, se disserem que a sua
dor ir.i piorar nos próximos mi-
nuun.a AJa aMiedade aumentar.i
evocéperc:ebi:rimaisdor".diz
FabrizioBenedetd,pesquisador
da Univenidade de Turim e autor
de ~dos a respeito. Num deles.
os pacientes eram Informados de
que a injeçioque iriam rcccber
~dolorida.Era mentira.Mas
·, aln.ieciodollporcaw.adisso@.
'\ · No.ano p;wado, um t5tudo@ da
i\, ffamint Medical School mostrou
" qiaconocd,otarn~mafoiaas
'• ndnudaCovid:35%dasP"SOU
f que~mpw::dio(durante
: mtcmtdlnko1dalvaclnu)
· relataramefrito1a,bterals.
do fenõmeno. Em 2002,
cientistas da Universi-
dade da Califôrnia (Los
Angeles) estudaram pa-
cientes que sofria m de
depressão, uma doença
cujo rratamento é espe-
cialmente sujeito ao efeito
placebo - 25% a 60% dos
pacientes, dependendo
do teste, melhoram após
recebe r compri midos
falsos@. Os pesquisa-
dores queriam entender
as razões disso. Reuniram
51 voluntários, e deram
antidepressivos para al-
guns deles ao longo de
oito semanas (os demais
tomaram placebo). To-
dos foram submetidos a
exames de elerroencefa-
lograma antes e depois
do rratarnento@,
Como esperado, o pia-
cebo funcio nou: 43,7%
das pessoas que haviam
sido tratadas com ele me-
lhoraram da depressão (o
que fo i medido usando
testes pad ronizados).
Nas ou tras, não houve
efe ito. Aí ve io a parte
novo remédio antiepilé- placebo é mais claro. Nos mais in teressante. Os
tico. Em cada um dos anos 1990, cienti stas a ciclosporina} passou a cientistas compararam
três tes1e s, hou ve um americanos mostraram ter o mesmo efeito imu- os cérebros desses dois
·grupo de conrro/e", for- que era possível associar nossupressor do remé- subgrupos: de quem ti-
mado por cães que tam- um determinado cheiro à dio. Efeito placebo puro. nha respondido, e quem
bém ti nha m epilepsia, morfina, e depois conse- E, mais do que isso, sub- não tinha respondido, ao
mas receberam placebo. guir o mesmo efeito desse consciente (os ratos não placebo. Nas pessoas em
O falso rratamento teve analgésico simplesmente tinham como saber que que ele fizera efeito, havia
eficácia de 2 6 % a 46%. expondo os camundongos a ciclosporina desliga o maior atividade de cer-
Segundo Muii ana, isso àquele odor®. sistema imunológico). tas regiões cerebrais [veja
ta mbém pode estar rela- Aí os cientistas dan i- no in/ográfico da pcig.31].
Em 2005, um grupo de
·ionado a outrns fatores, cientistas alemães bolou ficaram propositalmente E elas não eram as mes-
orno a melhora natu ral uma experiência® para a amígdala, o hipotálamo mas regiões estimuladas
a epilepsia (que as vezes tenta r identificar o me- ou o córtex insular de pelos antidepressivos.
:omece) ou a um maior canismo cerebral envol- out ros ratos, que en- O estudo mostrou, pela
Jidado dos tu tores com vido no efeito pl acebo. tão fo ram submetidos primeira vez, que o place-
, cães que estavam sen- Eles injetara m ciclospo- ao mesmo processo de bo provoca uma ação real
J !"ratados - ai nda que
cond icionamento. E isso no cérebro humano - e
rina , um medica mento
m pJacebo, Cientistas imunossupressor, em ra- imped iu o surgimento do ela é diferente da gerada
Universidade de Wis- tos - e condicionaram os efeito placebo - indican- por remédios de verdade.
do que essas três regiões Trabalhos mais recen•
1sin, que também pu- animais aassociar aquilo a
são essenciais para a tes foram confirmando
:aram um estudo so- um líquido doce, que eles
formação dele. e aprofu nda ndo essas
o p/acebo em cães@. podiam beber logo após a
Estudos em humanos descobertas. Em 2016,
'.ma mesma ressalva. injeção. Deu certo: ma is
também encont rara m um grupo de pesquisa-
:m ra tos, o efe it o tarde, só o líq uido (se m indíc ios neurol ógicos dores da Universidade
Northwestern resolveu
investigar os mecanis-
mos cerebrais rela cio-
nados ao placebo em
pacientes com osteoar-
trite no joelho - sim, a
mesma doença que ins-
pirou "cirurgias p\acebo".
O esrudo@regisrrou que.
entre os voluntirios que
ingeriram placebo, 47%
se sentiram melhor. Nor-
mal . O interessante foi :
exames de ressonância
magnét ica mostraram
que essas pessoas ti nham
cérebros anatomicamen-
te diferentes, com maior
quantidade de conexões
em trêsáreas fvrjanoin-
/09ráfico da pág. 31].
Em 2008, cientistas
suec os e ncontraram
o prime iro indicio de
que a propensão pes-

-
soal ao efeito placebo
tem bas e genética@.
10 8 vo luntári os que
sofria m de fobia social
tivera m o DNA anali-
sad o e fiz eram tomo-
grafia do cérebro. Uns
foram tratados com
antidepressivos. outros
com pílu las de açúcar.
Os cientistas descobri- do intestino irritável, o listras verticais , que
ram que as pessoas que placebo funciona melhor se deslocavam na ho-
tomaram placebo e res- se o paciente tiver certa rizonta l [veja no info -
ponderam a ele tinham mutação no gene COMT, 9ráfico da pá9. 28). lsso
mu1ações no gene TPH2 ligado ao processamento provoca náuseas porque
e na região genét ica da dopamina. confunde o cérebro.
5-HTTL PR - relacio- É por isso que o place- A imagem que chega pe-
nadas à produção e eli- bo funciona em parte das los olhos sugere que o
minação de serotonina pessoas. mas não em to- corpo está em movimen-
no cérebro. das. Ele é genérico. E fi- to; mas os sinais vindos
De lá para cá foram siológico também: altera do sistema vestibular, no
identificados 11 genes. os níveis de 74 proteínas ouvido interno, apontam
ligados à serotonina, à do sangue, que atuam que o corpo está para-
dopam ina e aos recepto- sobre diversos órgãos. do. Essa discrepância
res opioides e endocana- Essa foi a conclusão provoca tontura e enioo
binoides do cérebro. que de um estudo bastante - é por causa dela que
infl uenciam a res posta engenhoso@, realizado os capacetes de realida- O GRAU DE EFICÁCIA DO
ao placebo®. Prova - em 2020 por um grupo de virtual podem causar
velme nt e há ou tr os, de sete universidades esses sintomas.
PLACEBO NO TRATAMENTO
relacionados a diversas e ins t ituições alem ãs. No segundo dia da ex- DA DEPRESSÃO CHEGA
doenças. Um esrudo da Nov enta participan- periência, antes de enca-
Universidade Harvard@
A ESSE PATAMAR.
tes foram colocados, rar novamente a ~cabine
apontou que, em pesso- um de cada vez, numa do vômito", metade dos
as qu e têm síndrome cab ine com grand es voluntários recebeu um
o tratamento: um
;et que liberava des- social [vtja no infogrd-
Em 1957, num caso@ haviam diminuído muito.
as elétricas de baixa
Jico]. O placebo não age que se tomaria célebre,
apenas sobre a mente. Dez dias depois, ele te-
isidade no pulso. Os o psicólogo Bruno Klo-- alta do hospital. Mas,
tistas disseram que Tamb~m pode influen- pfer, da Universidade da
ciar, de forma concreta, nos meses seguintes, o Sr.
o iria ajudar a evitar o corpo, Califórnia (Los Angeles), Wright começou a ficar
isca . Era mentira: o acompanhou um paciente preocupado depois de
-i:; um sistema neu- identificado apenas como
:lhinho nem estava ler artigos, na imprensa,
robiológico de autor- ·sr. Wright·. Ele estava
o. Todos os partki- regulação•, acredita o dizendo que o Krebiozen
~s tiwram amostras morrendo de câncer nos havia fracassado cm tes-
biólogo Ted Kaptchuk , nódulos linfáticos, e já
n,gue colhidas ames diretor do programa de tes clínicos. Ele tornou
,ois da experiência. esgotara as opções de a piorar e voltou ao hos-
estudos sobre placcbo da tratamento disponíveis
pessoas submeti- Universidade Harvard. ~a pital. Onde os médicos,
o gadget placebo, na época. Com uma ex- num gesto de compaixão
cérebro está sempre am- ceção: uma nova droga
:oteinns estavam plificando ou diminuindo e ousadia, resolveram en-
níveis mais altos antitumoral, chamada ganá-lo: disseram ao Sr.
sensações, percepções e Krebiozen . Três dias
.tis baixos. E a coi- sintomas. E o contexto da Wright que a fannac~-
)em além do si ste- após receber a primeira tica havia desenvolvido
cura o estimula a reduzir injeção, o Sr. Wright es-
gestivo, envolvido os sintomas•, diz. Acredi- uma nova versão do re-
1mente na náusea: tava irreconhecível. Ele, médio, que seria testada
tar na cura é tão impor- que antes mal conseguia
!m havia alterações tante qu anto a própria nele. Mentira. A injeção
·otein as ligadas ao respirar, agora perambu- não continha remédio
cura - especia lmente em lava pelo quano contando
na imunol ógico e situações muito graves nenhum, nem mesmo o
> comportamento piadas. Exames indica- tal Krebiozcn.
ou doenças incu ráveis. ram que seus tumores O Sr. Wright nova-
mente melhorou, até
mais do que na primei-
ra vez, e teve alta. Viveu
saudável por vários me-
ses até que, novamente,
se deparou com notícias
sobre o malogro do re-
médio (que de fato era
ineficaz). Desta vez, a fé
do Sr. Wright não resis-
tiu - e ele teve uma piora
fulminante , morrendo
poucos dias depois. So-
breviveria mais tempo se
continuasse acreditando
no remédio? Não dâ para
saber. Talvez não. Mas é
fato que, sem o efeito
placebo, o Sr. Wright ja-
mais teria se levantado
da cama e tido alta do
hospital pela primeira
vez. Sucumbiria logo
de cara.
Conforme a ciência co-
meça a decifrar o enigma
do placebo, duas coisas
vão ficando mais claras.
O poder, às vezes surpre-
endente, da esperança.
E a importância de per-
manecer humilde, com
os olhos bem abertos,
ante os mistérios do
corpo humano. O

DIZll••••o JOH su•••3s

Você também pode gostar